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Voz e trabalho: estudo dos condicionantes das mudangas a partir do discurso de docentes' Voice and work: a study of determinants of changes through teachers’ discourse ‘Mariana P. Bi -Mestre em Foncaudlio|ogia.Fonoaudi6loga da Secretaria da Edu~ casio da Prefeitura do Munie’pio de Mogi das Cruzes-SP. Enderego: Rua Lagamay, 31, Via Santa Catarina, CEP 04373-020, Sio Paulo, SP, Bras E-mail: fga.marianapbagmall.com Susana P. P. Giannini DDoutora em Ciéncias, Fonoaudi6 oga do Hospital do Servidor Pb co Municipal eda Divisio de Educagso e Reablitagao dos Dist bios da Comunicagao - DERDIC/PUC-SP. Docente da PUC-Cogeae. Endereco: Av. Nhandu 334, Sadde, CEP 0409-000, Sdo Paulo, SP, Bras E-mail: ppgiannini@gmal.com Renata Paparelli Doutora em Psicologia Social edo Trabalhador.Docente da Facul~ dade de Ciéncias Humanas eda Sade da PUC-SP. Endereco: Rua Monte Alegre, 984, sala T-52, Perdizes, CEP o50:4- 901, Séo Paulo, SP, ras E-mail: rpapare uol.com.br Leslie P. Ferreira Doutora em Distirbios da Comunicagéo Kumana. Professora Ti- ‘ular do Departamento de Fundamentos da foncaudiolagia e da Fisioterapia da PUC-SP {Enderego: Rua Jesuino Bandeira, 73, Via Romana, CEP oso48-080, So Paulo, SP, Bras E-mail: esiepfpucsp.be ‘Trabalho realizado no Programa de fstudos Pés-Craduados em Fonoaudioiogia, Pontificia Universidade Catdlica de Sao Paulo (PUC-SP), SP, Basi. Contou com o apoio fnanceito da Coorde= nagio de Aperfelcoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) 966 Side Soc. S50 Pau Resumo O objetivo deste estudo é analisar, a partir da mani: festacao de piora ou melhora de capacidade para o trabalho, os aspectos condicionantes de mudancas na relacao entre trabalho e voz, segundo o discurso de docentes da rede municipal de ensino de Sao Paw. lo, Participaram as professoras que, em comparacao com pesquisa anterior, apresentaram maior diferen- ca tanto para piora (Grupo A) como para melhora (Grupo B) nos resultados do Indice de Capacidade para o Trabalho. Elas foram convidadas a discutir quais aspectos poderiam explicara melhora ou piora desses resultados, em um contexto de grupo focal Os relatos foram transcritos e analisados qualita: tivamente, segundo a recorréncia dos enunciados Constatou-se que 0 grupo A apresentou condicao mais adoecida e maior necessidade de falar sobre as dificuldades no trabalho. 0 Grupo B apresentou mais forca para enfrentar os problemas referentes ao trabalho, inclusive propostas criativas.A favor do Grupo B, também foram registradas melhores rela: cdesnno trabalho quanto ao apoio social e autonomia Palavras-chave: Voz; Satide do Trabalhador; Docentes. 10) 10, 90/500 1930009 Abstract This study aims to analyze, by means of manifesta: tion of worsening or improvement in work ability, the aspects conditioning changes in the relation between work and voice, according to the discour se of teachers working at the municipal education network of So Paulo, Brazil. The participants were female teachers who, when comparing with a pre vious r had greater differen of worsening (Group A) and improvement (Group B) in the results of the Work Ability Index. They invited to discuss which aspects could explain the improvement or worsening in these results, in a fo cus group context. The reports were transcribed and qualitatively analyzed, according to the recurrence of utterances. We found out that group A showed a worse health status and it had a greaterneed to talk about difficulties at work. Group B showed more strength to face problems related to work, including creative proposals. In favor of Group B, better work relationships were also registered concerning social support and autonomy. Keywords: Voice; Occupational Health; Teachers e both in terms are Introdugado Um dos principais agravos a satide do professor € 0 distarbio de voz, ¢ as publicacées cientificas nessa rea tém apresentado um perfil consistente e cres- cente ao longo dos anos, quando comparado ao de outros profissionais da voz (Dragone e col., 2010), Dados de pesquisas nacionais ¢ internacionais apon- tam, ainda, os problemas de voz como fatorrelevante de afastamentos e readaptacdes de professores em diferentes redes de ensino (Paschoalino, 2008). Esses dados justificam-se pelo fato de professo- res constitufrem a categoria profissional em maior niimero, € expostos a demanda vocal excessiva esforco vocal propiciado pela competicdo com os ambientes ruidosos das escolas, presenca de fatores alérgenos, iluminacdo ou tamanho da sala inadequa- dos, entre outros (Ferreira ¢ col., 2007). Mais recentemente, os aspectos de organizacto do trabalho também foram considerados potenciais para interferirna producdo vocal dos trabalhadores jornada prolongada: sobrecarga, acimulo de ativida- des ou de funcées: falta de autonomia, entre outros (Servilha e Ruela, 2010, Bassi ¢ col., 2011). Além dos aspectos referentes ao ambiente, 8 organizacdo do trabalho ou as caracterfsticas biolégicas dos individuos, hé questdes subjetivas, como as percepcdes e as construcdes de sentido de professores sobre sua voz, que também devem ser consideradas quando se pretende entender a com- plexa multifatoriedade relacionada ao distarbio de vor (Giannini e Passos, 2006). Dessa forma, aos poucos tem se deixado de lado a visao de que os problemas de vor sao apenas de responsabilidade do trabalhador. Junto a diversos setores e diferentes profissionais, tem-se realizado discussdes que, inclusive, culminaram com a ela- boracdo do documento denominado Distérbio de Voz Relacionado ao Trabalho (DVRT), em andlise junto ao Ministério da Sade para ser publicado como mais um protocolo a ser incluido no Sistema de Informacao de Agravos de Notificacao (SINAN) (Ferreira e Bernardi, 201) Entende-se por DVRT qualquer alteracao vocal diretamente relacionada ao uso da voz durante a atividade profissional que diminua, comprometa ou impeca aatuacdo e/ou a comunicacao dotrabalhador (CEREST, 2006). Sai Soc. Si Palo, v.23, 13, 966-978, 204 967 Um estudo caso-controle trouxe importante con- tribuicdo a discussao desse distarbio, ao confirmar a associacao dos aspectos de estresse no trabalho e reducdo da capacidade para o trabalho ao distérbio de voz em professoras da rede municipal de Sao Paulo (Giannini, 2010). 0 conceito de capacidade para o trabalho diz respeito a capacidade que o trabalhador tem para executar seu trabalho em funcao das exigencias desse trabalho, de seu estado de satide e de suas capacidades fisicas e mentais (Tuomi e col., 2005). Na presente pesquisa, para critério de selecao de sujeitos, partiuse dos achados desse estudo (Gia ninni, 2010) em que houve aplicacao do instrumento denominado Indice de Capacidade para 0 Trabalho (ICT). Procedeu-se & realizacao de uma nova apli: cacao desse instrumento exclusivamente no grupo que havia apresentado anteriormente diminufda capacidade para trabalho, Essa nova aplicacao teve como objetivo identificar grupos de melhora e piora da capacidade para o trabalho das professoras e en- trevistar ambos os grupos para saber informacées referentes as mudancas sobre trabalho, sade e voz O objetivo desta pesquisa, portanto, é analisar,a partir de manifestacdo de piora ou melhora de capa cidade para o trabalho, os aspectos condicionantes de mudaneas na relacdo entre trabalho e voz, no discurso de docentes da rede municipal de Sao Paulo, Método Este estudo de tipo observacional analitico compa rativo considerou para comparacao os resultados da tese de Giannini (2010). A pesquisa contou com duas etapas. Etapa das coletas Na primeira etapa, foram convidadas a participar as 85 professoras que no perfodo de 2007 a 2009 (coleta 1) compareceram ao Hospital do Servidor Pablico Municipal e receberam diagnéstico de dis- ttérbio de vor (definido como presenca de alteracdo na qualidade de voz em avaliacdo perceptivoauditiva 968 Sade Soc S50 Pa 3. .966-978, 204 © presenca de lesao, alteracao irritativa, estrutural ‘ou de coaptacao de pregas vocais). Na época da pes- quisa, todas preencheram os instrumentos Condicao de Producdio Vocal do Professor (CPV-P} ICT, tendo apresentado indices baixos ou moderados (escore entre 7€36) ¢ foram encaminhadas para Programa de Satide Vocal do Hospital. Responderam a essa convocacdo 52 educadoras ‘que, a0 comparecerem ao Hospital, assinaram Termo de Consentimento Livre ¢ Esclarecido (TCLE) para participar desta pesquisa e novamente responderam os instrumentos CPV-P e ICT (coleta 2). Os dados desses instrumentos foram digitados duas vezes ¢ validados (validate) no programa Epi Info versio 6.04. A andlise descritiva do CPV-P caracterizou as professoras quanto & idade, estado civil, escola- ridade, tempo de profissao, tipo de vinculo e carga hordria semanal, Apés comparacao entre os dois momentos da coleta do ICT, foram constituidos dois grupos de professoras: as que apresentaram menores resul: tados no segundo momento de aplicacao do ICT, ou seja, piora na capacidade para o trabalho (Grupo A= total de24 sujeitos); eas que apresentaram maiores resultados na segunda aplicacio do ICT, fato que evidenciou melhora na capacidade para o trabalho (Grupo B = total de 28 sujeitos) A Tabela 1 apresenta a descricao quanto a pon tuacdo obtida pelas professoras no fndice de Capa cidade para 0 Trabalho (ICT), nos dois perfodos de aplicacao do instrumento Tabela | - Numero de sujeitos segundo coletas em ambas classificacdes do indice de Capacidade para 0 Trabalho, em dois momentos, com diferenca minima de dois anos (n=52) Bala 4 6 2b Moderada 3 's ee) Total a 2 3 1s Etapa do grupo focal Na segunda etapa, as professoras foram convida- das a participar de um Grupo Focal. As primeiras professoras de cada grupo, em relacdo aos piores ou melhores resultados, foram contatadas por telefone €, caso nao pudessem, o convite era realizado para a proxima da lista, até completar um total de seis sujeitos em cada grupo. No dia da realizacao do Grupo Focal (descrito abaixo) compareceram ape nas trés professoras do Grupo B. Acredita-se que, como eram professoras que compunham 0 grupo que obteve resultados melhores de comparacao entre os dois momentos, nao houve demanda para participacdo de uma discussao sobre questdes de vor, ao contrario do que aconteceu com 0 Grupo A, no qual compareceram cinco professoras, Todas as professoras que compareceram na segunda etapa da pesquisa assinaram novo TCLE. Foi escolhido o procedimento de grupo focal (GF) por ser uma técnica de pesquisa qualitativa e por res ponder ao objetivo da pesquisa ao coletar, a partir do didlogo edo debate com e entre as professoras, informa: des acerca de mudancas sobre trabalho, satide e voz Decidiu-se pela realizacdo de um tinico encontro para cada grupo (Grupo A e Grupo B), que tiveram duracdo em torno de 1h3o e aconteceram nas de- pendéncias do hospital, em uma sala reservada ¢ organizada antecipadamente. ‘Uma fonoaudidloga do hospital com experiéncia no manejo de grupos ficou responsavel por conduzir a discussao e coube pesquisadora auxiliar nos re- gistros das sequencias de fala, para ser usado como um dispositivo facilitador durante a transcricdo. Quanto aos disparadores, foram organizadas duas questées norteadoras: “Fale sobre a relacao do seu trabalho e da sua voz nos dltimos dois anos" e “Fale sobre a relacao entre satide em geral e voz, nos Giltimos dois anos”. Essas questdes buscaram ampliar os conhecimentos relativos ao cotidiano ¢ as condicdes de trabalho e de satide das professoras para elucidar as mudancas positivas e negativas ao longo desse tempo. Foram utilizados para a gravacdo dos relatos, dois computadores portéteis, com captadores dos préprios equipamentos. 0 material dos encontros foi pela prépria pesquisadora, na ordem lite- ral, com o objetivo de abrir possibilidade de retornar aos dados posteriormente, para analisé-los a partir denovos inaights e de novas leituras. As professoras foram identificadas pela letra $ seguida de numera- cdo de 1.a5, para o grupo Ae de 6 a8 para o grupo B, em conformidade com os procedimentos éticos. Para categorizacdo considerou-se uma proposta que organiza a andlise de contetido tematica em pré-andlise (fase de leitura flutuante, constituica do corpus e reformulacao de hipéteses e objetivos) ¢ exploracao do material (andlise do texto siste- maticamente em funcao das categorias formadas anteriormente) (Minayo, 2007). Para o material transcrito, foram realizadas duas classes de categorizacdo em eixos tematicos, segundo a recorréncia dos enunciados. A primeira organizou os relatos em dois grupos - satide e traba- Iho - subdivididos em subtemas, a saber: Satide: “Ewainto que ela esta, assim, meio roca’; “Eu convivo com a dor’; “Mas ele nao incluiu como doenga do trabalho’. ‘Trabalho: "A gente comecowa ter desentendimen- to", “Eu tenho que aguentar 0 pancaddo’; “Cabe a gente decidir 0 que quer’. Apesquisa foi aprovada pelo Comité de Etica em Pesquisa da PUC-SP sob n® 493/2011 trans Resultados e discussdo Para a apresentacdo dos resultados e da discussao, foram selecionados recortes do discurso das profes- soras, independentemente do niimero de sujeitos integrantes de cada grupo. Para facilitara compreen- sao do leitor, os dados sao apresentados e simulta- neamente discutidos com base na literatura atual. Categorizacao da amostra Dados referentes idade, estado civil, escolaridade tempo de profissao, tipo de vinculo e carga hordria semanal sao apresentados no quadro 1. Todos esses aspectos foram diferentes entre as professoras de cada grupo, porém as diferencas ocorreram de forma semelhante entre os grupos Ae B. Side Sor. So Paulo, 23,3, p.966-978 2 Quadro | - Breve histérico das professoras segundo idade, estado civil, tempo de profisséo, carga horéria se~ manal e tipo de inculo ‘Sujet (1-43 anos menteve estado civil de caada, tem a\ anos de tempo de profesio, continua com uma carga horiia de ia 30 horas semanals, pemanece como professora com classe definida Sujeto 2 (52) 57 anos manteve estado civ de separada, tem 30 anos de tempo de profssdo, antes tinka uma carga hovéria de mals de 4 horas semanals, eva professora com classe defnida, hoje estéreadaptada defnitwamente Sujito 3 (53) - 48 anos manteve estado evil de casada, tem 20 anos de tempo de profssie, antes tinka uma carga hordvia Semanal de 3a 4o horas, aumento para mas de 4 horas semanais, permanece como professora com classe defida, Sujeito (Si) 54 anes, mudou estado cv para separada, tem 27 anos de tempo de profssio, permanece com uma carga hordvia Semanal de 3a 4o horas, mantém cargo de professora com caste defini, Sujeito (Ss) ~ 4 anos, manteve estado civil de casada, tem 3 anos de tempo de profssao, mantém cargo de professora com clase definida, antes tina uma carga hordia semanal de mas de 4 horas, porém est de icenga médica devido a0 aquadeo de adoecimentopsquico Sujeito 6 ($6) 46 anos, manteve estado civ de separada, em 22 anos de tempo de profsio, antes inka uma carga horéia semanal de i a20 horas, hoje ndo|eciona,devide a mudanca de cargo para coordenadora pedagécica. Sujeto 7 (57) 27 anos, manteve estado civil de sotena, tem 7 anos de tempo de profssio, antes tinha uma carga horéria semanal de mals de a0 horas, aumentou para 2 a 39 horas, mantém cargo de professora com clasee defini. cary Sujeto & (58) - 47 anos, manteve estado civil de vlva, tem 23 anos de tempo de profsdo, antes tinha uma carga horara semanal de até o horas, aumentou para mais de 4: horas semanals, mantém cargo de professora com casse defnida Eixo satide-doenca Os relatos deste eixo referiram-se quanto aos as pectos vocais, explanacao de outros sintomas e reflexdes sobre doencas relacionadas ao trabalho (Quadro 2), Cabe lembrar que todas essas professoras, em pesquisa anterior (Giannini, 2010), tiveram distr bio de voz diagnosticado, foram convocadas e pas saram a integrar grupos terapéuticos do Programa de Vor do Hospital. 0 objetivo desse tratamento em grupo é levar 0 paciente a identificar os aspectos relacionados a0 set cotidiano que interferer no desempenho vocal, desenvolver a capacidade de perceber como sua voz esta sendo produzida e criar recursos para conse: guir um resultado vocal eficiente e sem esforco Constitui-se ainda em espaco importante de reflexao e de trocas de experiéncias, pois retinem pessoas que compartilham mesmas condicdes de ambiente e organizacao de trabalho (Giannini e col., 2007). Foi constatado que as oito professoras que par: ticiparam da presente pesquisa obtiveram melhora vocal ao terem participado do referido Programa, Foram relatados aspectos como melhora da quali: dade vocal, desaparecimento de nédulos vocais, di minuicao de episédios de rouquidao e afastamentos, 970 Side So. Sio Paul, «23,13, 966-978, 204 bem como a possibilidade de permanecer em sala de aula quando existia a probabilidade de readaptacao por vor, Dois aspectos condicionantes podem justificar a melhora relatada pelas integrantes desta pesquisa:o fato dea intervencao ter sido feita em grupo; eo foco nao ter sido apenas a voz, mas sim, as condicdes de sua producao considerando os aspectos do ambiente e da organizacao do trabalho. Com relacdo ao primeiro aspecto, pesquisa recen- te concluiu que o trabalho em grupo, inicialmente constitu(do para auxiliar na reducao de filas de espera ¢ agilizar a demanda dos atendimentos, € realizado, atualmente, como uma forma potente de intervencao, pelo compartilhamento que o grupo oferece (Souza e col., 2011) Outro estudo recente que analisou a experién- cia em grupo de trés programas de Satide Vocal do Professor destacou o fato de o professor se sentir mais valorizado ao participar das acdes e que tal procedimento parece ter contribufdo para diminuir ‘ontimero de licencas médicas por alteractes na voz (Ferreira e col, 2010). Pizolato e colaboradores (2012) implementaram um programa educacional de voz em grupo para pro: fessores e conclufram que a proposta foi relevante Quadro 2 - Processo Satide-Doenca Grr $= Beu no fguel mais rouca, Dai, acho que eu Figueira duas vezes mas por gripe, bem pouco, soube lider coma situasde € pessou rdpdo « rouguidao $6 -Aqueles exercicios que a gente fazia de relaxamento, né, com bolinha, massagem no outro. Eu comecel a assar com as eriangas [.Atd0 relacionamento deles com os coleges ‘melhorou, vocéacredita? Si Mas, 6 que voce fica. por tratar na psiguiatria, por vocé se preocupar com seu bem- estar, voc# fica malvista dentro da unidade e fica desaereditada. [Fem eral eu tenho muita dor no corpo, $8- ive problema de hipotireidisme, ‘agora eu tenho um nédulo, que pode evolulr pro belo, ne Fstou cuidando de outras partes, estou cuidando do dtero, orque ew estou 82 Tudo isso ela (53) aadquirt no trabatho, Tinka que ser considerado, como no meu case, doenca do trabalho. |... Depots dla ameaca eu fiquel com mailto medo de volter $2 Bom, eu, realmente o tratamento foi muito bom. Lu Al dete de fama ‘entdo, realmente, em questo de saide eu estou me cuidando bastante cntendew 87 Assim sade, consigo ime alimentar melhor. indo é mais aquela coreera, de comer em 15 minutos, Entdo ji tem um tempo melhor arma melhor. Depols disso, nunca mais tive disfonia. S3~ Fo cuidado com 1 saide) Que a gente comeca cuidar 6 dos outros e esquece-se da gente, Porque eu sou assim. ass, eu convivo com a dor. [Leu adguirt bursiee, tenho rinopati, tendinite. SA primelra vez que aconteceu eu im aqui, também no pronto-socorro orque eu fui atendida pelo pronto-socorre dlaqul. Mas ele ndo Inclulu (Como doenga do trabalho), s6 deu como depress 33 Dow aula no estado e ha prefeitura, de manhae A tarde, né?£ fundamental LE continue com muita dor na garganta Todo dia parece que tem dols espinhos cravades um de «ada lado 38 fd estava quase indo pra readaptagao, al eu ‘consegui com vocds fazer © grupo, né? AT depois gue eu fiz methorou bastante, Desse tempo raed eu nao tirel ‘mais nenhuma license por causa de vor. sé que também eu tenbo refluxo,né? [1 Besse ano ele piorou, ‘4 = Vamos procurar 0 médico certo que é 0 psiquiatra, né? Av eu ims aqui, av eu comecet a tomar 0 remédio. Me sjudou muito a dormir! Pra ficar menos tensa. [cu estou com uma artrose nos dos lados ta aca, nos dois joethos ea bursite que eu tenho que cuidar. Su = Feu comecei a tomar uns remédios pra dormir ‘eantidepressive.E iso ressecou demals as pregas vocals € me desestabillzou. 35 Eu estow afstada com problema de depresdo. |. Fo que aconteceu fo! que eu peguel una sal, assim, alin do que eu pod 3 = Assim eu senti muita methora quando eu vim ra cd fazer 0 trabatho ‘om voz, eu tinka um édulo nas cordas vocals e sumiu, nu sinto que ela esta, assim, meio rouca. Eu acho que tem uma tigagdo com a depress Side Sox io Paul, para a melhoria da qualidade de vida no trabalho dos profissionais participantes, constituindo im- portantes espacos de reflexdo e de mudancas das relacdes entre trabalho e satide do professor (Silvério ecol., 2008). Quanto ao segundo aspecto (foco do Programa para além dos aspectos vocais), pesquisa (Penteado, 2007) aponta a importancia de reviséo das acdes fonoaudiologicas para ampliacao dos seus objetivos, de maneira a englobar questdes referentes a aspec- tos de organizacao do trabalho, de subjetividade e de qualidade de vida de professores. Da mesma forma, outros autores (Giannini e Passos, 2006) acrescentam que se nao houver abordagem voltada para transformacdes das condicdes e organizacdo do trabalho, a eficdcia da acdo fonoaudiolégica seré mais limitada. No entanto, se todas as professoras referiram me Thora na época da terapia, metade delas, por ocasiao desta pesquisa, relatou queixa de voz mais recente © apontou relacao com quadro de depressao, efeito de ressecamento das pregas vocais por ingestao de remédio para depressao, intensa demanda vocal e presenca de refluxo laringo-faringeo, aspectos esses, segundo elas, diferentes daqueles que as trouxeram anteriormente ao servico de Fonoaudiologia do Hospital. 0 distarbio de voz esté sendo entendido aqui como um sintoma de um complexo quadro global, como resultado de mailtiplas determinacées que in- teragem entre si, configurando uma teia. Essas con: figuracdes devem ser analisadas em sua complexi- dade, uma vez que envolvem, no minimo, dimensdes subjetiva, organica e sociocultural, além de terem um caréter dinamico, Nessa direcdo, entende-se, com Canguilhem (2000), que as circunstancias externas longe de comparecerem como causas univocas € deterministas, configuram-se mais como ocasiio propicia para a instalacdo do agravo. Desse modo pode-se compreender porque durante um period de vulnerabilidade pessoal, os fatores de desgaste aos quais uma professora sempre esteve exposta podem, em determinado momento, interferir elevar a0 aparecimento de um sintoma. ‘Ao serem contatadas por telefone para participar da pesquisa, algumas das professoras referiram que precisavam voltar para o tratamento de voz 772 Side So, Sio Paulo, v.23, n3. 7966-918, 201 mas estavam procrastinando e o contato da pes- quisadora foi um incentivo para procurarem os cuidados adequados. Tal fato vaina mesma direcao de outras pesquisas que constataram a dificuldade dos professores de priorizar cuidados para os seus problemas vocais (Penteado, 2007: Luchesi ¢ col., 2009: Medeiros e col., 2011) No grupo focal foram mencionados diferentes aspectos que permeiam o processo de cuidado vocal, como a pressao sofrida pela direcao e por colegas para nao sair da unidade, a prioridade em tratar ou- tros problemas de satide, além da dedicacao do cui- dado ao outro em detrimento da sua propria sade. Outro estudo (Ferreira e col., 2010) também levantow a dificuldade de adesao por parte do pro- fessor a programas de bem-estar vocal em grupo, em particular os desenvolvidos na Prefeitura Municipal de Sao Paulo (PMSP), no Servico Social da Indstria -Regional Sao Paulo (SESI-SP) ¢ no Sindicato dos Professores de Sao Paulo (SINPRO-SP). Além disso, a auséncia do professor para ir a uma consulta mé- a pode exigir reorganizacao da escola para cobrir esas faltas, situacdo associada a desgaste com os colegas e diretoria. A negacao € uma forma de nao enfrentar essas situacdes (Medeiros, 2012), Da mesma forma, observou-se que os docentes nao percebem quando os seus prdprios limites se esgotam, configurando-se numa situacdo de sério risco sobrea sua autoestima e protecdo de sua satide (Noronha e col., 2008), ‘Ainda que existam dificuldades que atravessam o proceso de cuidado vocal, é importante ressaltar que muitos relatos, de ambos os grupos, aponta- ram para transformacdes tanto relacionadas aos habitos vocais das professoras desde a realizacao dos grupos vocais, quanto em relacdo a um melhor autocuidado, Observou-se assim a possibilidade de tornarem-se agentes da sua satide, em especial em relacao as questdes da voz Estudo recente (Gama e col., 2012) mostrow adesao as orientacdes fonoaudiolégicas de docen- tes apés a alta do tratamento vocal e as principais medidas realizadas foram hidratacao, cuidados ali- ‘mentares, controle de abusos vocais e realizacdo de aquecimento vocal e de exercicios vocais, mudancas essas também relatadas na presente pesquisa Segundo relato das professores, o fato de ser multiplicadora de cuidados vocais parece ter sido um aspecto condicionante para expl da capacidade para 0 trabalho. As professoras do grupo B mostraram que para além da apropriacdo do tratamento para a superacdo de seus problemas vocais, foi possivel compartilhar técnicas ou conhe cimentos com outros colegas ¢ utilizé-los de forma a contribuir também para uma interacdo mais sau: davel com os alunos. ra melhora ‘Ao buscar refletir sobre o principio da integra- lidade do Sistema Unico de Sadde (SUS), estudo evidenciou a importancia de articular as acdes de educacdo em satide como elemento produtor de um saber coletivo que traduz no in mia e emancipacdo para o cuidar de si, da famflia e do seu entorno (Machado e col., 2007). Para além dos sintomas de voz, houve destaque nos relatos do grupo A de doencas musculoesque- léticas e de intenso sofrimento psfquico, quadros esses que também apareceram em outras pesquisas sobre as principais causas de adoecimento entre professores (Paschoalino, 2008) Estudo de Paparelli (2009) descreveu que os anos 1990 foram marcados pela implementacao de politi cas neoliberais, que tiveram diversas repercussdes no campo da educacdo escolar. Dentro dessa légica, valores como autonomia, participacéo, democra- tizacao foram assimilados e reinterpretados por diferentes administracées pablicas, substantivados em procedimentos normativos que modificaram substancialmente o trabalho escolar e implicaram em processos de precarizacao do trabalho docente, Outros aspectos referentes & organizacdo do tra balho, como estrutura rigida e inflexivel por parte da equipe dirigente, marcada ainda pela escassez de possibilidade de interlocucao e por intensa sobrecarga e desgaste, tém sido registrados. Tais caracteristicas do trabalho docente, associadas as mudancas politico-educacionais constantes (Assun- cao e Oliveira, 2009), favorecem o adoecimento do professor e propiciam manifestacies de estresse ¢ outras alteracdes ps{quicas (Paparelli e col., 2007) ividuo sua autono- Eixo Trabalho 0 Quadro 3 apresenta a categorizacdo do trabalho quanto as relacdes na escola, ao ambiente ffsico da escola e as condicdes de trabalho e relatos que apon: tam para quando o professor comeca a ser dono de sie a se apropriar de autocuidados. ‘Ambos os grupos expuseram relatos de convi- vencia com violéncia, indisciplina, inadequacao do ambiente fisico, falta de apoio e de parceria com as familias dos alunos. Entretanto, a dificuldade de relacionamento e falta de apoio dos colegas ¢ da direcdo da escola parece ter sido um aspecto condi- cionante para explicar a piora da capacidade para o trabalho, aparecendo de forma unanime e intensa nos relatos dos integrantes do grupo A. Num contexto em que o professor nao tem con- trole sobre a turma e os alunos parecem indispostos com 0 aprendizado, o trabalho do professor nao se realiza, perdendo sentido e passando a gerar intenso desgaste mental (Paparelli, 2009). Odesgastemental ocorre principalmente quando oprofissional ndo encontra apoio social para resistir contra pressdes que burocratizam, tecnificam arti- ficialmente e esvaziam o sentido de suas atividades {(Seligmann-Silva, 201) Associado a esse contexto, as professoras do grupo A fazem referénciaa falta de autonomia para desenvolver o trabalho, geradora de uma condicao de intensa fragilidade, Importante lembrar que o desgaste humano no trabalho, em sentido amplo, tende a ser mais grave em situacdes de maiorvulne- rabilidade humana (Seligmann-Silva, 2011). As falas das professoras remetem uma critica a ideia de docéncia como sacrificio, sacerdécio ou vocacdo, presente na prépria historia do magistério no Brasil conforme descritona literatura (Paparell 2009). Além disso, a distancia entre 0 idealismo e as condicdes de trabalho que encontram reflete a falta de politica educacional e continuidade admi- nistrativa, uma vez que a atuacdo do professor € dependente da organizacdo da escola e do contexto social-politico-econémico (Giannini e Passos, 2006) Nesta pesquisa, as professoras do grupo A tam- bém fizeram referencia a presenca de situacdes de ameacae violencia vivenciadas no ambiente escolar a falta de politicas que as respaldem, fato que au- menta a sensacao de vulnerabilidade. Em pesquisa realizada com professores, os trans- tornosmentais foram significativamente associados a experiéncia com a violéncia e piores condicées ambientais e organizacionais, pouca margem de ee Quadro 3 - Trabalho Zsa a ne mays 'S'= Eu um da, eu pastel multe mal | Sé- Eu me afore do extedo no seria, fel evada (chore) Eme | e transfer cargo de assaram pelo piguatra Ex diretora_| coordenadora pra prefitara eomeru a me trata como se eu 1m trabatho um pouce, osseum cachore. Fu ndo fea | ¢,exigenuite de mim, sé queé rmanctenzo do grape devez, por | um trabalho que eu tenbo mew 412) Porgue eles fazer uma pressio | tempa que eu aga as cols no muito grende dentro da unidade (..) | meu tempo, ne] tanbe Ex tamblm moro ne barre onde eu | autonomia, sim, Grapasa Deus trabalho, Evoe8 core oreo até de ser | a diego de minha esta € emeagada, uma dred bem aberta ni? 52 Eo bartho gente ensundecdor (| Parque néstomos ‘bois andares 0 nivel um embeix eo nlvel des em cima 0 nel um quando no estd em reve, etd © nivel do © ne dois va pro Interoale liga esa rio pro pati ra fcer som nos fants de vida ‘Que atrapalha ema! um que nao tem condi de dar aula er Se Mo trabalho eu se que em colsa que eu tenho gue ontregar logan E tem loa gue posse segura om pouguisba (ache (ue essa coeas eu coneegu! sla ura organizade na ibe vl, nol Poraue procure dar uma turcultuede, ne Ente cae 8 gente decidir 0 gue quer. que prtende fezer Sr Fre readaptaram na preeture | Sp Fu acho que eu tenho Se Mao pide gi assim die, 5) Porque da veres, ‘minha sala guando eu viesse fazer | mutas vezes pelo corer, eu tratamento Fol um infora te grande, | fle eu no vou aguentar. as gue ma das consultas gue ee passel | colegas“ escola te conhece om odoutar equ, ew nde conseguia | tem mais de dez anes, vod tem {lar com oe detanto que eu chorwea. | apoio pra ss". A coordanasio eu ape diese deu apoio er causa de uma ameaca de aluna. | autonomia|.\¢spolitcas. | eu dpercebo que d me dd um | fatavam 20 minutos pra [Ls 1 sof ise no ano passed woe® | os polities. ted essa flsofa, | canseo,né.|Do.ano passado | acabar a aula i propunhe fica essim perdida.eu ni potiair | todo manda fala educagéo | prac eu tenho as duasturmas | uma atvidade.ndo dave, raescela enquantse meninoque | no sel gu. Poe td a le fandarmental edo ex falo | eu fea nervosa re ameazou nds sia (Nae que | responsabilidad de tudo no | mite [Pela aguelaprvcaparso | Ents comeceie controlar posse preudiarogestarodretor. | professor. A fami id nda fae | de que aprenden Eno fica | aansedads 14 fono Ales evam a frente Enea eles ndo vse | mais nade éntaoo profesor — | incesantemente explicande dex | me incentivou a procurar unirum aluno,penalizar um aluro. | gue do responstvel Ea gente | vezes a mesma cols, falando nt2 | picterapla fu acho gue (1 com 150 ature técom uma | impotentena verdede Fmaito | Aiforsa também me ajuda muito erdade muito mater, resumido nosso trabalho, {oo Bea fome a decedo de exonerar um cargo também. SS" Ola. ew tive ror exes S8-Voré chamaa familia, a | S3- Como ¢que pode ter essa nova problemas. mas ndo fol com a {familia se arma, vem pra cima | et que o profesor tam gue taro: Aretora no, fol com uma profssora | de voce... fase salaque | 25 anos trabathadoe mas aided, substtuta Ele tinka gue fcar com | eu pegul ese ano euchorai | [..]Porgue a pesoa com 20 anos dentro de wma saa de aula ia 8 acabou. 4 tenho multe medo dso Sy 0 trabalho me atau malt, Por cause da metedolopia que diretora se ropés a colar em detrimento do gue tu gcredito. um exceso de assédo moral 58 que nde tem come falar S54 drs formu area sala sb com alunes problemas ¢ endo del conta. [..] Pedi aude pra coordenasde ed aad pr dregs, mas els sim: “nde, ne tm nada io, term nada no”. Teve a prinira rerio de coordenao, fall pros professors expus toda a situagie mas €complicads,porgue cada ums ala ass ah cada am com seus Droblemas'. Yodo tem apoia. [1] Al ol quando, asin, eu comecel ame “entre ma, comece a tremer até hoje ou estow assim, quando eu alo da situagdo da escola 58 A tarde, oda guint setae Feta, ex tenho que aguentar 6 enced. Eur cart abert ora. nto vo jj arrame uma etvidade, um desenbe, voc8 ‘tom gue mudar seu planciamento esse da Tes hors. jd tom «que dar wma cosa eferencada Porque os alunes fam naguele Pique cles quer daagar ainda [Lc 1éstou também, tentando me crgenizar pera o ane que vem pedir safastamento de um cargo.(.) Ft raciso de tempo pra mim. 94 Said So. Sho Paul, 23,13, 966-978 204 autonomia, criatividade e tempo no preparo das aulas (Gasparini e col., 2006). Avioléncia pode ser evidente, presente em situa: cdes de ameaca ou humilhacdo, que se materializam em condicdes ambientais de trabalho que atacam a dignidade humana. Em outras vezes, porém, pode ser sutil, uma violéncia psicologica que se infiltra por meio da imposicdo dos discursos (Seligman: “Silva, 2010) Nesta pesquisa, duas professoras relataram que passaram por situacées de violencia, mais ou menos explicitas, vividas em ambiente de trabalho © 05 respaldos legais para os respectivos problemas tiveram diferentes desfechos. Essa discussao teve importante lugar no Grupo A, pois a professora Sz esta readaptada definitivamente por problemas psfquiicos ¢ houve comprovacdo do nexo causal com o trabalho, apés ter sido ameacada por um aluno en: quanto estava na escola, Por outro lado a professora Ss relatou situagdes crénicas de violencia e desgaste vivenciados durante o trabalho que a levou ao afas- tamento recente do trabalho por licenca médica, ¢ nesse caso relata que foi diagnosticada com depres: sao, sem a constatacao da relacao com o trabalho. Nesse sentido, tanto o distarbio de voz, quanto o desgaste mental apresentam dificuldade para o estabelecimento de nexo causal com o trabalho, por serem agravos com caracterfsticas difusas ¢ complexas, nao lineares (Ribeiro, 2001) Da mesma forma, a maneira como esse sintoma € recebido na clinica tem diferentes impactos para © paciente, daf a urgencia do reconhecimento do disturbio de voz como um agravo relacionado ao trabalho, que daria subsfdios aos responsaveis pela determinacao de processos de cuidado que envol- ve questdes de satide e trabalho. Afinal de contas, enquanto na avaliacao pericial o distarbio de voz permanecer classificado no grupo de doencas respi- ratorias, como laringite aguda e nao for reconhecido como doenca relacionada ao trabalho, nao serao formalizadas ¢ oficializadas acdes de promocao, pre- vencao ede tratamento efetivo para oquadro de ado- ecimento vocal de docentes (Ildefonso e col., 2009). Por outro lado, as professoras que registraram ‘melhora quanto & capacidade para o trabalho, re- lataram formas de enfrentamento dos problemas relacionados ao trabalho que envolveram decisdes pessoais, como exoneraciio e mudanca de cargo. além do investimento maior em lazer e no cuidado com a sade, tomando para si a autonomia dos cui- dados de si. € importante destacar que esse mesmo grupo relatou que atualmente sente que possui autonomia e existe apoio por parte dos colegas eda direcdo na escola, Pode-se enfatizar que é possivel assumir o direito de ser dono de si ao reencontrar o sentido da (relconstrucao solidaria da satide e do trabalho (Seligmann-Silva, 2011) importante que o fonoaudislogo em suas inter- vencdes considere que o professor nao deixa de ser ‘um profissional do cuidado, pois é afetado pelas re- lacdes didrias estabelecidas em seu trabalho. Dessa maneira, a Fonoaudiologia é um ponto nesta rede de cuidados, que deve implicar-se de formaa criar acées de empoderamento nesta teia de relagdes na qual 0 professor esta envolvido (Lefevre ¢ Lefevre, 2004). Oconceito de empoderamento esta sendo enten- dido a partir das teorias critico-social e pos-estru- turalista, sendo as primeiras especialmente ate para apontar formas de intervencao coletivas © as ‘iltimas, importantes para evidenciar processos que relacionam a subjetividade individual a questdes de satide publica (Carvalho e Gastaldo, 2008), Eoportuno também, dentro dessa légica, que se- jam propiciados espacos de superviso, assim como existe na pratica dos profissionais da satde, para © professor refletir sobre sua pratica profissional € para visualizar cuidar como um processo que “possui uma dimensio essencial e complexa tanto nna experiéncia de quem cuida quanto de quem recebe © cuidado” (Espirito Santo e col., 2000, p. 27) Pode-se considerar finalmente que este estudo reitera a importancia de se levar em conta as ques- t5es de ambiente e organizacdo de trabalho durante © tratamento fonoaudiol6gico para o distGrbio de vor de professores e que o sintoma vocal possa set entendido para além do problema organico, visando a integralidade do cuidado. Concluséo Na anéllise dos dois grupos (registro de piora e de melhora da capacidade para o trabalho, na compara- ao entre a aplicacao do Indice de Capacidade para oTrabatho em dois momentos) foi possivel registrar ee pelo relato das professoras que as que pioraram estavam em condicao mais adoecida (no apenas em relacio a voz) e com mais necessidade para falar sobre o trabalho, contar sobre o que fazem, sucessos e frustracdes. O grupo das professoras que melho- raram apresentou mais poténcia para enfrentar os problemas referentes ao trabalho, inclusive com propostas criativas. A favor desse grupo também foram registradas melhores relacdes no trabalho quanto ao apoio social e autonomia. Colaboragao dos autores rae Gianni i participaram da concepcao do projeto, da coleta de dados, da andlise e interpreta- cao dos resultados, da redacdo do artigo e correcdo da verso final. Ferreira e Paparelli participaram da concepcao do projeto, da andlise e interpretacdo dos resultados, da redacao do artigo e correcao da versio final. Referéncias ASSUNCAO, A. A.: OLIVEIRA, DA. Intensificacéio do trabalho e satide dos professores. Educacao & Sociedade, Campinas, v. 30, n. 107, p. 349-372, 2009. BASSI, |.et al. Caracterfsticas clinicas, sociodemograficas e ocupacionais de professoras com disfonia. Disturbios da Comunicacao, Sao Paulo, v. 23, n. 2, p.173:180, 2011. Dispontvel em: , Acesso em: 13 jan. 2013, CANGUILHEM, G. O normal eo patoldgico. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitaria, 2000. CARVALHG, S. R.: GASTALDO, D. Promocao & satide e empoderamento: uma reflexao a partir das perspectivas critico-social pés-estruturalista. Ciéncia & Satide Coletiva, Rio de Janeiro, v.13, p. 2029-2040, 2008. Suplemento 2, CEREST- CENTRO DE REFERENCIA DE SAUDE DO TRABALHADOR. Secretaria de Estado de Satide de Sao Paulo. Disturbios da voz relacionados ao trabalho. 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