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Légica e Dissonancia Sociedade de Trabalho: Lei, Ciénci Disciplina e Resisténcia Operaria Marie. Stella Martins Bresciani Wepto. de Histéria do IFCH/UNICAMP) RESUMO- ABSTRACT Néste artigo. a Autora envereda através das brechas da _construgtio Yégica que pretende explicar n so- cledade moderna a partir do pres- suposto que liga indissoluvelmente 8 condicio humana a atividade do trabalho. A dissondncia fica a cargo das vozes © atos dos trabalhado- Fes... In this article; the Autor makes her wey through the chinks in the Jogical ‘construction wich aims at explaining modern society from the assumption that the human condi- tion is inextricable linked to the activity of work. The voices and acts of workers are at dissonance ‘with the assumption. .. Este’ texto tem por objetivo perseguir alguinas pistas da forma: go do imagindrio das sociedades modernas que se auto-representam estruturadas sobre 0 pressuposto de que o trabalho constitui a base da vida humana, de que os homens decidiram através de um pacto comum fundar a sociedade ¢ sue instancia reguladora — 0 estado — para assegurarem o pleno exerefeio dessa atividade © a proprie- dade: dos frutos dela decorrentes. Assim’ procedendo, procuro abrir brechas numa representagdo fechada sobre si mesma, onde o prin: cfpio instituinte se apresenta também como finalidade a ser atingida, E que nos induz a aceitar uma tinica logica férrea comandando a existéncia do homem sempre atado ao trabalho, dado que prisioneiro desse principio que o transcends. Procuro mostrar como a 1opao set. 1985 /fev. de trabatho se impés soberana no mundo moderno’a partir da afir- magio dos valores ligados a atividade de comerciantes, proprietérios fundiérios © fabricantes, sob o énus da destruigiio de valores cultu- rais anteriores que nao coincidiam com a inteneao burguesa de ola- borar a narrativa da epopéia humana fundada na nocao da conquista progressive da natureza pelo homem por meio de um também pro- gressivo proceso de aperfeigoamento teenolégico. Ora, a forca dessa representagio € tio grand: que’ nos impede de pensar a histéria fora dos marcos desse processo de apropriagao da natureza que finca no Amago da sociedade, como seu principio explicativo, a atividade produtiva. Dai 0 proceso de producao_ se apresentar como uma seqiiéncie ldgica de etapas, fases ov estiigios, subordinados & determinaglo bésica de busca de maior produtivid: de ou de utilizagio dtime dos fatores de produgio. Daf ainda, a narrativa histérica nas diferentes versdes das diversas ciéneias hu- manas s¢ elaborar em torno de um confronto — do homem oom a natureza agressiva e éyara — e de uma luta — a'svieigao de todos 20 imperative do trabalho, Daf finalmente termos como resultado dessa scqi@ncia imperativamente ordenada uma situagao paradoxal: a climinacdo do homem desse proceso. Da coopetacéo. simples a0 flaxo continuo fordiano ou & sua versio mais aperfeigoada da auto- magfo eletrénica, assistimos o inexordvel expurgo do subjetivo e ins- tvel fator humano.(o trabalho). Essa seqiiéncia logica permite uma outra leitura paralela: a progressiva perda da autodeterminacio do produzir pelo trabalhador na razio direta da apropriacto do saber produzir pelo supervisor, pelo patric, pelos técnicos; no final do percurso 0 artesdo que o capital reunira com seus pares na fase de eooperagio simples surge transformado no operério fabril cujs qua- lificagao € medida pelo seu condi¢ionamento para acionar maquinas. Desa maneira aparece consumada @ dolorosa separagio ‘entre con- cepgao e exccucto, entre idéia ¢ produsao, entre arte ¢ técnica ou ainda como diz Mumford, entre a subjetividade e a objetividade do hhomem. A férrea légica desse proceso faz com que na coopersciio simples pareca estar jd em germe, a grande indristria mecanizada. ‘A concepsfio difusionista-eyolucionista ou de vasos| comunican- tes tio bem express por Engels na parte introdutéria de seu livro A situagao da classe trabalhadora na Inglaterra parece freqiiente- mente chegar até nds intocada. Também a grande descoberta de Marx" — de que @ mais valia relative ou 6 aumento de produtivi- dade scontece quando uma mesma quantidade de trabalho cria uma quantidade maior de produtos, — concentra nossa atengSo mos ma quinismos © isso porque, por mais que se organize © reorganize 0 process de trabalho, esse procedimento fem um limite, enquanto © progresso técnico tem maostrado ser portador de um génio criativo incansdvel. Aliés a forga simbélica da méquina é tio grande que a partir. de sua exist@ncia empitica datamos o momento da sujeicto real do traballto 20 capital, vale dizer, do inicio do modo de produ- do capitalista. A visio portentosa da maquina define toda nossa época Age of Machinery e realmente hoje em dia nossa inteligén- cia © nossas habilidades sdo medidas em. fungéo da, nossa capaci- dade de condicionamento @ elas. Flas nos destumbram no cotidiano no pela quantidade de roupa que levam para nés mas por efetua rem operagées matemiiticas que levariamos dias (?) para realizar. Saber utilizar cssas méquinas, desde 0 casual rel6gio de pulso, tor- mouse nosso desafio maior. As mdquinas também. se tornaram im- prescindivels pare © construsio de nossas fantasins « ninguém por tmanece indiferente aos filmes que através de cfeitos especiais simu: Yam nossa projecdo futura’ de viver nas estrelas. Parece que acabei eaindo no lugar comum... ‘Como romper essa representagfio acabada? Proponho percorrer alguns caminhos que permitam, mesmo & custa de uma fragmen- tada trajetdria final, © aparecimento de yozes dissonantes envere- dando no mecanismo dessa engrenagem légica. Fagamos uma incur- so as origens pouco edificantes da instituigio basilar do mundo contemporanes, a fébrica. Detenhamo-nos per um momento nos mar cos iniciais do. pensamento cientifico sobre a producao assinalando ‘stia {ntima solidariedade ao discurso’ repressivo da lei. Tentemos vis- Tumbrar a instrumentalizagdo da palavra ¢ do pensamento a partir da definigéo de um objetivo tinico para as atividades do homem: a ctiag&o de hons eo acéimulo de riquezas de forma a num futuro indeterminado atingir o reino da abundancia supcrando definitive mente o constrangedot reino da necessidade. Deixemos que a voz do trabathador, ou ses ecos, fale da dolorosa sujeigiio a0 infindével tempo do patio e da perde da auto determinacdo: na atividade de produvir; que fale de sua resistencia, de sues Tutas e de como foi fnsuportével para o “mundo civilizado” conviver com fragmentos de uma cultura sobre a qual nfo tinkia alcance. Mas talvez seja melhor ‘ar nos indagando sobre a nossa condicao humana atual nesse mundo, fabtieado por nés. 1 © MUNDO MECANIZADO “Assim, at maguinas do tempo (o relégio) abrem caminko para a sociadade das méqutinas” (Jaques Atta’ — Histoires du temps) “Se nos pedissem para caracterizar essa nossa époea com um finico epiteto, serlamas tentados a chaméla ... @ Era Mecdnica”. - (Carlyle — Signs of the times) 2 “O advento da era maguinista provoco grandes perturbacbes no eomportamento dos homens... O caos penetrou nas cidades!. (Le Corbusier’ — A Carta de Atenas) “O homem tornouse um exitado neste mundo mecanico”. (Lewis Mumford — Arte © técnica) A sociedade contemporiinea vive um grande paradoxe: o cres- cente desconforto do homem em meio 2 um mundo de artefatos criados por ele mesmo. Até parece que assistimos a vinganga dos deuses & ousadia prometeica de pretender dar aos homens — atra- vés do uso do. fogo — a possihilidade de escender a condicéo divi na de criador de coisas, libertando-o da modesta © subserviente si- tagio de mero’ reprodutor dos fratos da natuteza, ou seja, daquilo que jé enconirou disposto sobre a terra, E com eerteza essa rebeldia constitui algo: profundo ¢ especificamiente humano: a negagio de passar pela tetra sem deixar marcas, sem criar um mundo comum entre os homens que permaneea pera elém da transitévia c limitada vida humana, Para Hannah Arendt’ uma pensadora que dedicou a maior parte de seu trabatho 2 reflex4o sobre a condi¢ao humaria, a inten- 80 de perenidade foi primeizo concretizada pelos homens em insti- tuigdes capazes de assegurar a nica qualidade propriamente) huma- na. A condicge de transpor a esfera do privado onde tém lugar as atividades ligadas as sobrevivéncias biolégicas ¢ aparecer numa outre dimensio, 0 espaco pablico. Aqui, as atividades, ou seja o discurso, expressam a condi¢ao humana da pluralidade indiscernivel no. do- minio da mera sobrevivéncia. Aqui o homem biolgico desdobrase © tom lugar a condioao de se viver num mundo de homens no plural ©. espago piiblico € 0 meio onde se realiza essa sogunda natu: zeza humana, a vida em comum, a existéncia politica. E importante enfatizar agora! um argumento gue serd estratégico para’ se pensar © proceso de trabalho: para Hannah Arendt as atividedes relacio- nadas & sobrevivéncia do homem péem homens labutando lado a Jado ¢ nfo se relacionando entre si,, mesmo quando essas atividades ultrapassam o dabor dos campos ¢ constroem por meio do trabalho artesenal artefatos que criam coisas diferenciadas da matureza. As: sim, para os antigos, preservar 0 espaco que assegura a existéncia politica — a vida em comum — consiste om claborar ¢ manter 0 lugar onde a palavra ¢ a aco tém efetividade. Nao causa espanto dessa mancira a preocupagio de Hannah ao verque Hoje os homens considetam o discurso da ciéncia como a forma mais elevada da -palavra. Ora, so a palayra constitui aquilo 10 . que permite dos homens manterem relagSes entte sie constituir um mundo em comum, ainda que fique claro ser uma minotia a parti- cipar desse mundo, como entender essa primazia dada ao discurso da ciéncia, a um discutso que mesmo dentro do circulo restrito dos iniciados nfio tem correspondéncia na linguagem dus palavras? Para ela, 2 impossibilidade de traduzir em fala cursiva o discurso. mate- mifitico-conceitttal da ciéncia indica’ a incapacidade humana de com- preender que faz, de falar sobre aquilo que somos capazes de ‘Acredito ser semelhante 0 desconcerto de Lewis Mumford’ a0 afirmar que “a organizacio mecfnica e 0 automatismo tém vindo a deslocar o homem do centro do palco ¢ @ reduzi-to a uma mera som- bra da maquina criada por ele”, Esse total divércio entre o homem © seus arlefatos provem dessa aposta humana na perenidade das coisas, ctiadas por ele, naquilo que por ser exterior ao homem tem condigées de permanccer para além de sia instéivel subjetividade € transitéria existéncia fisica, ‘A supervalorizagiio do mundo das coisas — a intengéo huma- na de atingir perenidade através da objetivagao de suas idéias em artefatos — levou Mumford a expor a condicdo esquizofrénica do homem pés Segunda Guerra, ainda atOnito com a utilizagzo. morti- fera ¢ irracional da mais sofisticada descoberta cientifica (a mais alta expresso do conhecimento), © fracionamento do. dtomo: “Ordem externa: caos interno. Progresso externor regress20 interna. Ractonalismo externo: irracionalidude interna, Nesta ct villeagtio mestnica, impescoal, superdisciplinada, to orgulhosa de sua objetividade, @ espontaneitade surge quase sempre sob @ forma de alos erintnosos e a crttividade encontra como principal salda a destruicdo. Se isto parcce wim exagero, & devido unica mute ilueo de seguranca. Abram bem os olhos ¢ observer 2 nossa valial® ‘Néo por acaso Mumford lanca mio de um atgumento que beita © senso comum. Para o cidadio médio, a visio espetactlar © apo- calfptica da explosio atOmica expressa de maneira inrefutdvel a dis- tnoia que se estabeleceu entre o homem ¢ as suas idéias; 8 separa- gio entre arte e técnica; entre meios € fins, ou seja, 0 fato da técnica ndo mais se estruturar em vista de uma finalidade almejada pelo idealizador de um objeto, mas tendo escapado das m&os do homem ganhar autonomia ¢ desenyolverse numa lIdgica propria, para além dos fins aimejados. Voltando ao nosso. argumento: o privilegiamento do discurso da citncia em detrimento da ‘primeira forma de discurso — a fala po- i litica — diz de maneira irrefutdvel a primazia que » construgio de coisas ganhou frente a edificagdo de instituigdes. Subjugar a pala- vra livre obrigando-a a trilhar 0 estreito sendeiro da palavra (¢ do Pensamento) itil parece ser 0 ponto de partida para que o discurso clentffico tenha atingido a dimensio atual de verdade objetiva por- que completamente descomprometide com a instavel subjetividade humana. Assim, a primitive intengao de criar um mundo menos. tran- sitério do que » curta existéncia fisica do homem, portanto um mundo objetivo exterior a ele, consumase agora na situagio limite de um mundo objetivo que 20 invés de acolher © homem, expulsa-o como ser inatil, como tinico: fator instével, dat complicador, dentre 98 fatores ponderiveis © totalmente previstveis desse artefato. que: s° tornou o mando dos homens. Um mundo cuja preciso técnica nfo tolera a frégil criatura divina, o homem, em nome do qual ele ori= ginalmente se estrutura. Paradoxaimente; um mundo onde o avango da técnica produziu um novo tipo de ambiente ¢ uma vida alta- mente organizada que deveria vir de encontro ao intuito humano de buscar a perfeigdo © de organizer um espago ordenado ¢ previsivel. Se para Saint-Simon, no inicio do séeulo passado, a construgo de uma nova sociedade sob a inspiracdo dos principios newtonianos €¢ de um Conselho composto por fisicos, quimicos, fisiologistas, lite- tatos, pintores © miisicos era um. sonho, para Mumford vive-se j4 coneretizagio desse sonho, ou melhor dizendo, dessa fantasmagoria mecanica. £ por isso que hoje no nos defrontarmos com o processo de apropriagéo ¢ transformagéio de natureza pelo Homem, vale dizer as atividades produtoras em principio destinadas’ a cobrir as necessi- dades humanas. para a sobtevivéncia, somos prisioneiros dessa 16gi- ca férrea que, a partir do primeito impulso de dominio do homem sobre a natureza, deslocou progressivamente a ele ¢ as sttas) habili- dades yerdadeiramente astuciosas, e em seu lugar colocou coisas mais estdveis ¢ duradouras, os seus artefatos.. Ora, nesse momento o desconforto do homem em meio a um mundo de coisas criadas por ele genha uma nova dimensio: 0 des- Prezo moderno por tudo o que nao € dtil, por tudo aquilo que nio sirva as ngcessidades humanas supostamente desembocou na situ 90 paradoxal de tornar 0 homem mesmo na inutilidade maior. Se- fo vejamos. A era moderna, ou a imposigao do capitalismo, ou ain- da, os homens que pensaram a estruturado da sociedade burguesa em seus momentos inieiais, atribuiram ao trabalho — a atividede produtiva — a peculiar caracteristica de princfpio constitutive da 12 existéncia social. Pela primeira vez © trabalho safe da restrita esfera do dominio privado, onde sua potencialidade se via limitada pelas também limitadas necessidades humanas ¢ surgia como poténcia ex. tremamente positiva, criadora de riquezas, ou seja, de bens que ex- cedem.a mera reproducdo de vida humana. Essa representacao do trabalho fez dele num primeiro momen- to a razio dos homens se constitufrem em sociedade, com Locke para preservar seus frutos, pata Jogo num segundo. momento, defi- nélo. como poténcia ilimitads criadora de riquezas, com Smith e a divisio do trabalho. Num terceiro momento, com Marx em espe- cial, 0 mesmo trabalho potencializado pela sua condigéo coletiva € pela introdugdo da maquina se torna o simbolo da aposta humena numa possivel superagéo do reino da necessidade, 0 que liberaria © homem para outras atividades que niio as que objetivam a mera reproducdo da espécie. Nesse momento, o mundo dos homens jé passara a significar sociedade de trabafho © nela lugar algum havia para aqueles que se mantivessem fora do trabalho. Assim, a esfera piiblica que no mundo entigo acolhera # pale- yra'e as instityiedes politicas ressurge de seu eclipse medieval trans- mutada em mercado de bens ¢ de trabalho. Nao que a palavra poli- tica permaneca emudecida; porém, como. diz Hannah Arendt, desde que @ preocupasio individual com a propriedade privada se vit al- gada & preocupacdo piblica, a sociedade assumia o disfarce de uma organizagio de proprietérios que ‘ac invés de ce arrogarem) acesso & esfera priblica em virtude de sua riqueza, exigiram dela protegao para o actimulo de mais riqueza® A redescoberta da\ politica se dé a partir da intencd de estabelecer um lugar fixo para a definicao de normas ¢ regras minimas de convivéncia entre homens proprie- térios © trabalhadores num mundo em constante movimento. Contu- do a riqueza tem a peculiar caracteristica de nao ter a estabilidade requerida pata assegutar = permanéncia do mundo comum entre os homens. Nas palavras de Hannah: “S6 quando so transformou em capital, com @ funcdo nice de gerar mais capital é que a proprie- dade privada igualou ou emulou a permanéncia inerente ao mundo compartilhado por todos”. E preciso deixar bem claro contudo que essa permanéncia é a de um processo © niio aquela de uma estrutura estével ¢ que também. o mundo comum € de outra natureza j4 que a propriedade do capital se mantém estritamente privada. Comum 6 0 govern que deve proteger os proprietdrios uns contra os outros. Dessa maneira, a esfera publica se torna fancao da. esfera privada ¢ a esfera privada se torna a Gnice, preocupagdo comum entre os homens. A distingfo entre as esferas privada ¢ ptblica se extingue © ambas submergem no social." 13 2 & INSTRUMENTALIZACAO: DA PALAVRA “(...) with @ countenance of solemn sorrow, adjusting the cap of judgement on his head (...) His, Lordshig then. deeply affected by the melancholy part of his office, which he is now about to fulfill, embraces this galden opportimity tc da most exemplary goad — He addresses, in the mast pathetic terms, the conselences of the trembling criminals (...) shows them how just and necessary it is, that there should be laws to remove out Of society those, who instead of contributing their honest industry to the public good and welfere, have exerted every art, that the blackest willainy oan suggest, 10 destroy both (...)". (Martin Madan — Thoughts on Executive Justice, 1785) “Um home tem sempre de viver do seu trabalho, ¢ 0 saldrio que recebe tem, pelo menos, de ser suificiente para o manter. Tem mesmo, na maior parte dos casos, de ir um pouco além disso, de outro modo ser-lhe-ta imposstvel manter uma Jomilia e a raga de tais teabalhadores nfo perduraria para além da primeire geragio.” (Adam Smith — Riquesa das Nagdes, 1776) As teflexies de Martin Madan sobre’a atividade da antoridade judiciatia ‘no Século XVIII expressam a instrumentalizagao da pala- yea no discurso. da lei eda sua aplicagio, Seu relato descreve o jul. gamento, a condenagio © a execugiio de criminosos como atos pi Dlicos encenados de forma a assumirem a dimensao de um espeté- culo exemplar." A, Smith go definir os princfpios da economia po- Mtica buscava entre outras coisas conyencer seus contempotaneos da necessidade de libertar todas as alividades ligadas 4 produgao, das amarras das leis do estado e dos estatutos das corporagées, para que 2s diversas utilizagGes do capital ¢ do trabalho, seguindo seu curso natural, lograssem atingir uma igualdade perfeita.!# © discurso politico, jé normative, se desdobra ¢ dele surge um diseurso especifico sobre a produgio da riqueza com a funcéo muito definida de nortear € complementar as “utilizagdes do tra. balho © do capital”. Deve mesmo expresséJas de forma coerente definindo um tinico disourso capaz de apreendélas em sua multi. plicidade. A Iinguagem da economia politica precisou encontrar um denominador comum para atividades to diverses como es que aten- dem as diferentes necessidades do: homem. Dessa mancira, as mil- tiplas atividades profissionais ou os diferentes oficios sé” primeiro compartimentados na nocao de trabalho em geral, somatéria de di- ferentes trabalhos concretos, para depois se tornarem meramente tra- balho, uma forma abstrata que sintetiza a total desqualificagao da diversidade ¢ institui como fonte do valor essa poténcia indiscrimi- nada, a fora de traballio. A instrumentalizaciio da palavra expressa 14 em dois discursos normativos — o da lei para os que resistissem @ entrar na sociedade do trabalho ou transgredissem suas regtas © © da economia politica para estruturar num ‘inico. eixo os mutéveis e diversificados procedimentos de trabalho — adquiriu a condicfo de arma cficaz no combete as lutas dos trabalhadores ingleses, de finais do Séc. XVIII ¢ inicio do XIX, submetidos & r{gida discipline do: trabalho assalariado. Retirava a atividade produtiva do dominio pri- vado jogando-, no movimento do mercado para que 14 atingisse a pretendida harmonia natural da oferta e da procuta; procurava otf mizar essa atividade subdividindo em etapas os varios momentos do processo de fabricacao, j que sex pressuposto afirmava uma fina- lidade Gnica para todos os tipos de trabalho: 0 bem comum. Contu- do a intima relacio existente hoje em dia entre técnica e ciéncia no acontecew espontancamente. Maxine Berg" em trabalho recente mostrou como a unigo entre cigncia e técnica sc deu em meio 20 conflituado processo de impo- sigdo da maquina no sistema de fabrica na primeira metade do Sé- culo XIX. Dentre as varias estratégias de formagao do trabalhador fabril, o chamado movimento cientifico buscou unir e economia po- Iitica em sua versio mais popular ¢ 0 extenso submundo da ciéacia popular, Os Institstos de Mecdnica concretizaram a intengao de minimizar os efeitos funestos da introducio da maquina e dos mo- vimentos rotineiros inerentes ao. processo de trabalho fragmentado, que jé no entender de Smith poderia enular o pater criatiyo do tra- bathador. A opinifio de que “em nossas oficinas © manufaturas acharemos omens que pouco melhor séo do que partes das mAquinas circun- dantes” parece traduzir uma visdo mitica do artesdo, visto essa aliés que chegou até nés. Mumford chega a atribuir a separagio entre arte © técnica, entre 0 saber e o fazer, 0 esmagamento progressivo da. subjetividade frente a0 avango implacéyel do dominio da raziio objetivada em méquinas agressivas, 20 proprio homem. Essa separa: glo seria responsdvel pela aniquilacao daquilo que é especifica: mente humano, pelo caos reinante no mundo onde as méquinas se fornaram autOmatas € os homens servis ¢ mecanizados, condiciona- dos pelos objetos, formalizados, desumanizados — desligados dos seus valores. © propésites hist6ricos.* O ponto de partida dessa, con cepco do homem, parte subjetividade — emogSes, sentimentos, ex: pressados livremente na arte — ¢ parte objetividade — domfnio da natureza expresso. na técnica que aumenta o poder ¢ a eficiéncia mecfnica dos Grgios naturais do homem, parece se esbogar com slareza no momento em que a técnica surgi materializada na mé- quina, & nitida a filiacio de Mumford a uma tradigao de critica & supervalorizacdo da maquina ¢ da tecnologia que remonta ao final do Séc. XVIII € infcio do XIX, momento em que inémeros autores is manifestaram-se temerosos perante os maleficios da méquina, con- siderando antinatural a petda de controle pelo homem do processo de fabricagdo. As ferramentas, que nas palavres de Marx represen tavam as extensbes inorganicas de nosso corpo orginico, assumem uma dimensio diabélica quando arrancadas das maos humanas ¢ li- gadas a mecanismos que Ihes imprimem movimento auténomo.” Mesmo os. mais otimistas, em relacdo ao sistema de fabrica, compartilhavam com os pessimistas, 0 recefo quanto aos efeitos no- civos da introdixeio da méquina. E significativo que a imagem da méquina tenha sintetizado todos os temores ¢ expectativas inerentes & produgo fabril. Sobre cla recaiu uma avaliagdo contraditéria que bem expressava o desconcerto dos homens em meio a um mundo onde tudo e todos’ movimentavam-se constantemente, onde os pon- tos de referéncia desmoronavam com rapidez. Simbolo do progresso mas também do medo © de impoténcia, 2 maquina foi responsabi- lizada pela desqualificagio do trabalho, pelo embrutecimento do homem, pela instabilidade do mercado de trabalho, pelo rebaixa- mento da remunetagio. do trabalho, pela concentrag&o promiscua © perigosa de grandes aglomerados humanos nes cidades.. Mes também 2 cla foi atribuida a potencializarao sem: limites da forca produtiva do homem, a producao em grande escala e conseqliente barateamento dos produtos manufaturados, a forca disciplinadora para a multido de pobres ainda incompletamente moralizados, e enfim, a condicéo de alavanca mégica do progresso cientifico... Sobre la recafram tantas expectativas e maldicdes que no infcio do Século XIX ela se tornara na Inglaterre uma questo) polémica de ambito nacional. ‘Questo complicada nao resta divida, porque The Age of Machinery, como a chamou Carlyle, trazia em suas entranhas The Condition of The English Question ou como ficou mais conhecida a questo social em meio'a qual iria surgir delineada com bectante nitides a figura do proletirio — essa figura derivada do homem trabalhador (work. ing man ou working poor) que no decorrer do século se forma como um dos grupos fundamentais da sociedade. Os Institutos de Mecanica pensaram compatibilizat 0 homem trabalhador com 0 novo modo de fabricagso evitando que cle per desse de vista a “inteligéncia do processo produtivo”. Tanto na sua yersdo. de iniciativa dos proprios artesdos, como na versio dos pa- tr6es, os Institutos acabaram por fazer surgir uma figura interme- digria de trabelhador qualificado: “Um engenheiro é um mediador entre o filésofo (pensador) €-0 trabelhador mecanico € como o intér- prete entre dois estrangciros, ele deve compreender a linguagem de ambos... Dai a necessidade absoluta de possuir tanto 0. conheci- mento pritico como v teérico”-* Contudo, nao esteve ausente dos objetivos desse “movimento. cientifico” a intencio de moralizar o pobre trabalhador por meio da instrugdo, entendida como difusto 16 de conhecimentos dttis. Compatibilizar homem e maquina significou também principalmente encontrar uma estratégia repressiva para evitar a sistemdtica quebra das méquinas, Um homem da época Benjamin Heywood) expressou sua preocupacéo com essa “‘popula- sao densa e fervilhante” dizende estar “persuadide de que o melhor método para obviar os riscos inerentes a0 estado em que estava a sociedade era difundir conhecimento sélido e atil, o que garantiria ivulgago daqueles principios que sempre foram os mais seguros da conduta pessoal ¢ a mais segura garantia-da ordem puiblice’ # interessante notar que nem o pensamento critica de Marx e de Engels conseguiu escapar completamente da armadilha da relacio entre cifncia.¢ técnica. Embora tenham denunciado yeementemente as expresses empiricas do conhecimento burgués, a divisfio do tra- balho © a maquina, como instrumentos de opressao social pola bur guesia para seu préprio proveito, ambos partilhsram com os homens instrufdos da época 2 aposte na poténcia produtiva humana Itherada pela. particular ordenacdo burguesa do proceso de fabricacao. Tal como varios pensadores utdpicos, eles pensaram ser possfvel reorien- tar essa poténcia de forma a se tornar um beneficio. para a maioria dos homens. Acho importante onfatizar que a intima rélagGo entre cincia ¢ técnica se estabeleceuem meio @ penosa reducdo do homem pobre a trabalhador fabril e forgou a definigo do espago da fébrica como dominio da técnica, neutro porque despolitizado.'S “Os Institutos de Mecanica ensinardo aos homens tanto. as citacias fisicas como as morals. Eles desenvolverao uma disposigao Para questionae tudo até as iiltimas consagitencias (...) Os tra baltiadores podem nao se interessar pelas curiosas pesquisas do aedloge ow polas elaboradas classificagées do botdnico, mas cere femente into everiguar por aue de todae as classes dai sociedade Joram eles levados & pobrera ¢ @ doenca’™ Esse trecho 6 parte de um texto publicado em 1825 sem o nome do autor, Hodgskin que, participando ativamente como conferencista em sessdes' para um piiblico de trabalhadores, foi um dos que deu corpo a uma “economia politica popular”. Criticos radicais da forma como a riqueza ere extrafde do trabatho do operdrio ¢ o saber pro- duzir transferido das mfos hébeis do artesao para as engrenagens da méquiya, esses economistas politicos populares afirmayam ser a cién- cig ¢ a invengio parte da heranga. do trabalhador. Professando a opi- nigo de que deveria existir uma distribuicao mais equitativa do co- nhecimento cientifico, aconselhavam ao trabalhador conheser os prin- cfpios cientificas a fim de estarem preparados para o dia em que teriam 0 controle da produgao. Colocando-se no ponto de vista dos trabalhadores, suas opiniGes coincidiam com as contides em algumas 17 circulates cartistas que reclamavam para _o operétio os beneficios do conhecimento cientifico. Essas sociedades’ radicais de orientacdo ‘owenista, cartiste ou religiosa chegaram a constituir um sétio desa fio. ao movimento burgués dos Institutos de Mectnica levando os pa tiGes 2 modificarem suas proprias instituigdes cientificas. Uma mis- tura de filantropia e de economia politica foi a base da criagao. dos Ticeus que deveriam oferecer eduicacao. elementar e recreago baratas aos trabalhadores. A experiéncia dos Institutos de Mecanica desen- volveu-se de infcio no Ambito restrito das localidades, chegando po- sém a adquirir’ dimensdo nacional através da Associagio Britfinica para o Progresso da Ciéncia2” Os Institutos de Mecfinica consistiram em armas poderosas para que se estabelecesse a vinculacdo entre eiéncia e tecnologia, para que se impusesse # concep¢éo de. processo ¢ de disciplina de trabalho dos Patrées. sobre os trabalhadores e, mais ainda, para aprisionar a cién- ia ao projeto burgués de desenvolvimento econémico ¢ tecnolégico. A economia politica ganhava uma aliada importante na’ “economia doméstica da fabrica”: Dessa _matieira ndo| causa esttanheza que tenha prevalecido a representacdo do lugar em que se desenvolvem as atividades do tra- balho como dominio da ciéncia e da técnica, espago despolitizado onde tudo converge na busca da otimizacto dos meics instrumentals da producio.** Tudo o que fosse estranho # essa intencao basica fot estigmatizado, como obstdculo, como interferéncia indevida. Alids, as colocagies de Frederick Taylor nos Fundamentos de Administragto Clentifica?* publicado em 1911, so bem a expresso dessa luta con- tinua para transformar o espaco da fabrica em puro dominic da técnice compatibilizando’o capital e 0 trabalho. Colocando-se de um ponto de vista que pretende eqiiidistante de patrées e empregados, faponta © crro em quie esas’ duas categorias tém incorrido ao consi- derarem seus interesses especificos antagénicos e demonstra que seus ‘objetivos séo comuns: 0 méximo de prosperidade para cada parte enyolvida. Seu postulado principal — “provar que a melhor admi- nistragZo € uma yerdadeira ciéncia, regida por normas ¢ leis clara- mente definidas (...) aplicdveis a todas as espécies de atividades humanas; na dircofio de nossos lares, na geréncin de nossas fazendas, na administragao de nossas. casas comerciais, grandes e pequenas, na administractio de igrejes, de institutos filantrépicos, de universidades e de servicos piblicos”, fatia sorrir ironicamente certos autores ort ticos do Século XTX. Dickens e Carlyle" anteciparam em seus escritos. a fantasme- goria de um mundo inteiramente previstvel dado ser plena a sua con- tabilizagao. Embora fosse a fabrica © “fato mais concreto” produ- zido pelo “Inventive Genius of England”, idéntica concepgio tomara conta de tode a sociedade; tudo se tornara quantificével, mecaniza- 18 vel, calculdvel; os homens haviam aprendido a avaliar 0 mundo por meio dos dados estatfsticos perdendo a sensibilidade do conheci- mento visual. Nao mais os homens deviam ser levados em conside- zago, mas tao-somonte os produtos de seu trabalho. Ndo catisa espanto, portanto, que tudo 0 que escapasse a essa_previsibilidade fosse identificado como ameaga, ¢ todos os que resistissem a essa convivéncia cafssem sob 0 peso da lei ¢ da punigdo As suas atividades anti-sociais. Efiminar, extrair da sociedade todo aquele que trafsse as regras firmadas com © pacto social. A eliminagio fisica, comum nos. Séculos RVI, XVII ¢ infcio do XIX, 6 comeca a ser questionada na década de 1770, por filantropos, como o quaker John Howard, que propoe inverter o sentido da punicaio: no mais eliminar o criminoso, mas. recuperé-lo. para a soviedace.* Como n&o poderia deixar de ser, 0 trabalho aliado a0 confinamento solitério e ao siléncio total foi con- siderado estratégico para educar 0 corpo enquanto a severa discipli- na catcerérie ¢ as preleges religiosas se encarregavam de iluminar a mente do prisioneico. O sistema penitencidrio se instala em varios paises europeus ¢ nos Estados Unidos na primeira metade do Século XIX recothendo ligGes varias vezes seculares das casas do trabalho, casas de correchio € “hospitais”.* A prdética de recolhimenta dos homens pobres encontrados fora do trabalho data na Europa do Século XVIL O grande fechamento telatado por Michel Foucault nos capftulos iniciais da Historia da Toucura®” mostra quo insuportavel foi para 2 sociedade burguesa em formagao 4 presenca de homens que. por s6 terem a propriedade do préprio corpo ¢ nao trabalharem, viam-se impossibilitados de’ so- breviver sem lanicar mao do produto do trabalho de outros, fosse através do rouho, da mendicfncia ou na melhor das hipdteses da caridade. Velhos, loucos, doentes, vagabundos, camponeses expulsos da ters, ctiminosos © até jovens bem nascidos mas com comporta- mento condendvel eram retirados da sociedade e recolhidos para essas instituigdes que, alvo das atengdes de filantropos, politicos e empreendedores industriais, mereceram intimeros projetos para. trans- formé-las em oficinas que provesscm com 0 produto do trabalho dos internes sta prdpria manutengao. Aliviar a carga paroquial na ma- nutengio dos pobres representou uma das. facetas da constituicao casas correcionais; a outra parece ter sido a crenca no poder inerente & atividade do trabalho para internalizar nos homens as regras de convivio civilizado ou, nas palavras dos homens letrados dos Séculos XVIT © XVII, para tornar o homem pobre um ser ple- namente moralizado. Esses projetos tornavam efetivas a aposta burguesa na projectio futura de um mundo intejramente regulado pela atividade do tra- balho. Sch © acobertamento dessa crenga, na Inglaterra’ da segunda 19 metade do Século XVIII, determinadas categorias de prisionciros mantidos em casas de corrego eram constrangidos ao trabalho a fim de. aprenderem “the lessons of industry”. Foi também comum os Proprietirios de certos tipos de indGstria distribuirem servicos a pri sioneiros com a explicita intencdo de obter mio-de-obra barata. Os fabricantes de tecidos, de corda, de tijolos e de velas’fizeram largo uso desse trabalhador, e em, alguns casos, como na fabricacio de tecides de li, chegaram a deponder bastante deles para o preparo de matérie-prima. A contratecao de servicos externos a fabrica servit, segundo Sidney Pollard,** para ensinar os patroes a administrar um sistema de produgio com base numa extensa divisio do trabalho. Porém a curta duracao das penas tornow dificil 2 utilizagao sistemé- tica dos encarcerados ¢ levou os patrées a voltarem sua atengéo para © uso mais extensivo do trabalho livre. Ngo existe exagero algum na afirmago de que as casas de cor reso ott casas de trabalho foram o protétipo das fabricas em muitas regiGes da Europa. Os Colledges of Industry do quaker Jobn Beller, a Bristol “Mint” dos comerciantes dessa cidade e as “‘workhouses” propostas por John Locke foram algumas das experiéncias que no Século XVI procuraram transformar vagabundos em trabalhadores, buscando ac mesmo tempo reduzir a carga paroquial com a caridade. As Rasp House de Rotterdan e de Amsterdan, instituidas nos Pafses Baixos nos anos de 1550, tiveram o mesmo intuito de confinar a horda de vagabundos das cidades e dos campos, homens que haviam sido expulsos de suas terras durante a guerra com a Espanha. Tam- bém em Flandres, a Maison de Force iniciou suas atividades ne. dé- cada de 1770 recolhendo vagabundos ¢ pequenos ladrdes de estrada que perturbavam os proprietarios de terra logo apés a Guerra dos Sete ‘Anos, E bastante significative portanto que entre os anes 1753 € 1771, nove imensas casas de trabalho tenham sido construidas por iniviativa de grandes proprietétios fundiérios o fabricantes de tecidos ingleses ¢ tenham recehido a denominagfio de House of Industry. Num momento de descontentamento pela alta taxa de manutencio dos pobres da regifio de Suffolk, essas instituigoes representaram a mais bem-sucedida tentativa para explorar o trabalho dos pobres recolhidos a cada uma delas, cujo mimero chegou a exceder a casa dos 500. Flas foram mesmo as instituigdes modelares que inspira: ram a estruturacdo do sistema penitenciério ¢ a moderna fabrica in- dustrial. Contudo, 2 Europa foi apenas parte de ume preocupacio ampla que incluit também no campo das préticas de confinamento das pessoas incapazes para o trabalho, desocupados ocasionais ¢ dos que se recusavam a trabalhar as experiéncias norte-americanas. Ainda nesse sentido importa sublinhar a simultancidade dessas dua: instituigdes de seqitestro ‘do homem pobre — a priso ¢ a fébrica, — 24 ‘

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