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Volume Especial - Bem-estar Animal ISSN 1517-6770

O modelo dos “Cinco Domínios” do bem-estar animal aplicado


em sistemas intensivos de produção de bovinos, suínos e aves
Janaina da Silva Braga, Fernanda Macitelli, Victor Abreu e Lima & Taciana Diesel
¹Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal,
14884-900, SP, Brasil.
²Instituto de Ciências Agrárias e Tecnológicas, Universidade Federal do Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.
³Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de Santa Catarina, Chapecó, 89815-630, SC, Brasil.
4
Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal, Departamento de Zootecnia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veteriná-
rias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal 14884-900, SP, Brasil.

Abstract. The Five Domains model of animal welfare applied in intensive animal production systems. A demand for
intensive production systems is a global reality with a tendency to grow in the coming decades. However, these systems
have limitations in terms of care as physical, behavioral and psychological needs of animals, which can lead to the impov-
erishment of their welfare. Although animal welfare has already been widely defined, its evaluation within animal pro-
duction still poorly applied. Among the forms of evaluation of animal welfare, we can consider the “Five Domains” model,
proposed initially by Mellor & Reid (1994). This model is a systematic method that includes four physical or functional do-
mains (Nutrition, Environment, Health and Behavior) and a mental domain (Mental or Affective State). This article begins
briefly describing the features of the “Five Domains” model. In order to illustrate the possible interactions between the
five animal welfare domains, three recognizable situations that affect the welfare of production animals are presented:
reduced space allowance at beef feedlot, painful handling of piglets and transport of broilers. In this context, although it is
not possible to describe all the intervening factors and their possible combinations that potentially affect animal welfare,
we believe that the examples presented showed an integrated view on the risks of compromising the welfare of animals
in intensive production systems.

Keyword: high density on transport, reduced space allowance at feedlot, tail docking, teeth clipping.

Resumo. A demanda por sistemas intensivos de produção é uma realidade mundial com tendência de crescimento nas
próximas décadas. No entanto, esses sistemas apresentam limitações em atender as necessidades físicas, comporta-
mentais e psicológicas dos animais, o que pode acarretar no empobrecimento do bem-estar dos mesmos. Apesar do
bem-estar animal já ser amplamente definido, sua avaliação dentro da produção animal ainda é pouco aplicada. Dentre
suas formas de avaliação, o modelo dos “Cinco Domínios”, proposto por Mellor & Reid (1994), atua como um método
sistemático que inclui quatro domínios físicos ou funcionais (Nutrição, Ambiente, Saúde e Comportamento) e um domínio
mental (Estado Mental ou Afetivo). Este artigo descreve sucintamente as características do modelo “Cinco Domínios” e
exemplifica as possíveis interações entre os domínios em três situações reconhecidamente críticas para bem-estar dos
animais de produção: restrição de espaço no confinamento de bovinos, procedimentos dolorosos no manejo de leitões
e alta densidade no carregamento e transporte de frangos de corte. Nesse contexto, apesar de não ser possível incluir
todos os fatores intervenientes nessa dinâmica, os exemplos apresentados mostram uma visão integrada sobre os riscos
de comprometimento do bem-estar dos animais em sistemas intensivos de produção.

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Palavras-chave: alta densidade no transporte, caudectomia, corte de dente, restrição de espaço em confinamento.

Introdução noses e de doenças transmitidas por alimentos.

Após a segunda guerra mundial, a cres- Adicionalmente, o bem-estar de animais


cente demanda por proteína de origem animal de produção está diretamente relacionado à qua-
aliada às pressões econômicas incentivaram as lidade dos produtos de origem animal (Blokhuis
cadeias produtivas de carne a adotarem sistemas et al., 2003 e 2008; De Passillé & Rushen, 2005;
intensivos, resultando em aumento da produti- Vanhonacker et al., 2009), principalmente nas
vidade e redução do espaço utilizado (Vanho- sociedades onde sustentabilidade e ética são o
nacker et al., 2009). São inegáveis os benefícios centro das discussões políticas e públicas sobre
econômicos advindos desses sistemas e, a de- os sistemas de produção (Vermeir & Verbeke,
manda para os mesmos se tornarem ainda mais 2006). É notório que o bem-estar animal vem
eficientes e sustentáveis continuará crescente se tornando cada vez mais importante dentro
nas próximas décadas (Garnett et al., 2013). do cenário da produção animal e, para que este
possa ser discutido e avaliado, é necessária uma
As análises econômicas, principalmente
definição clara, além de métodos objetivos, va-
as que envolvem a lucratividade, são o foco dos
lidados cientificamente. A definição mais aceita,
sistemas produtivos, mas raramente levam em
proposta por Broom (1986), considera que bem-
consideração o quanto se deixa de ganhar em
-estar animal é o estado de um indivíduo em re-
sistemas onde os animais enfrentam dificuldades
lação as suas tentativas em se adaptar ao meio
para se adaptar a ambientes que não atendem
em que vive. Expandindo essa definição, a Oie
às suas necessidades físicas, comportamentais
(2013) afirma que bem-estar animal é como um
e psicológicas (Fraser, 1983). As tentativas de
animal responde às condições em que vive, sen-
adaptar-se continuamente a um ambiente de-
do considerado alto grau de bem-estar quando
safiador resultam em alto custo biológico para o
está bem nutrido, saudável, confortável, seguro,
animal, e risco de comprometimento dos índices
capaz de expressar seu comportamento natural,
produtivos. Assim, os possíveis conflitos entre os
e se não estiver sentindo dor, medo ou angústia.
sistemas produtivos e as necessidades dos ani-
Isso implica em nutrição, sanidade e ambiente
mais podem ser minimizados pelos benefícios
adequados, tratamento veterinário, boas práti-
econômicos advindos da melhoria no bem-estar
cas de manejo e abate humanitário.
dos animais, como por exemplo redução da taxa
de morbidade e mortalidade, melhoria do status Os protocolos de avaliação de bem-estar
de saúde com maior resistência a doenças, me- animal normalmente utilizam medidas padroni-
nor uso de medicamentos, menor risco de zoo- zadas e objetivas para os critérios de avaliação,

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incluindo nutrição, sanidade, ambiente, expres- portamento natural, a biologia e a ecologia da


são de comportamentos naturais e sentimentos espécie em questão, além da respectiva relação
(Welfare Quality®, 2009; Awin, 2015ab), prima- com o ambiente social e físico sob avaliação. O
riamente baseadas nos animais e no ambiente e organismo funciona como uma entidade dinâmi-
depois integradas em um modelo geral de avalia- ca e integrada, ou seja, à medida que as funções
ção. Nesse contexto, o modelo dos “Cinco Domí- ou estados internos do corpo, circunstâncias ex-
nios” do bem-estar animal, proposto por Mellor ternas e estados mentais se relacionam, inevita-
& Reid (1994), apresenta-se como um método velmente ocorrem interações entre os domínios,
sistemático, estruturado e abrangente de avalia- que podem ser caracterizadas como relações de
ção o bem-estar dos animais. Esse modelo fun- causa e efeito.
ciona como uma ferramenta de avaliação e ge-
Cada avaliação do estado geral de bem-
renciamento de bem-estar animal e não deve ser
-estar dos animais dentro desse modelo pode ser
considerado como uma representação fidedigna
considerada hipotética na medida em que as in-
da relação entre estrutura e função do organismo
ferências são feitas (Mellor, 2017). Entretanto,
animal, tampouco como uma definição de bem-
todas elas devem ser baseadas no conhecimento
-estar animal. O modelo considera quatro domí-
científico, incluindo principalmente as áreas da
nios que contemplam os estados internos ou fí-
fisiologia, neurofisiologia, neurociência afetiva e
sico-funcionais do animal, sendo eles “Nutrição”
etologia. Um dos principais benefícios dessa abor-
(Domínio 1), “Ambiente” (Domínio 2), “Saúde”
dagem é que ela permite separar claramente os
(Domínio 3) e “Comportamento” (Domínio 4). O
impactos físicos e/ou funcionais (Domínios 1 a 4)
comprometimento dos domínios físicos (Domí-
dos estados mentais ou afetivos dos animais (Do-
nios 1 a 4) é usado para inferir cautelosamente
mínio 5) que, em última instância, determinam o
quaisquer experiências afetivas associadas ao
status de bem-estar do animal (Figura 1). Ainda,
domínio “Mental” (Domínio 5). Recentemente,
essa abordagem destaca a importância dos ani-
esse modelo foi atualizado com a inclusão dos
mais experimentarem estados mentais positivos,
estados mentais positivos (Mellor & Beausoleil,
considerando-os como elementos importantes
2015; Mellor, 2016; Mellor, 2017).
na definição do status de bem-estar dos animais.
As principais características do mode- Destaca-se que os animais de produção são ca-
lo apresentadas na Figura 1 são amplamente pazes de experimentar conscientemente estados
descritas na literatura científica, mas destaca-se mentais negativos e positivos, associados às li-
que em algumas espécies essas características mitações ou aos atendimentos das necessidades
podem ser inapropriadas. Dessa maneira, os físicas e/ou funcionais, respectivamente (Mellor
usuários do modelo são encorajados a incluir ou et al., 2009). Para informações mais detalhadas
excluir fatores, levando em consideração o com- desse modelo e suas aplicações em diferentes

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Figura 1. Modelo “Cinco Domínios” do bem-estar animal, adaptado de Mellor & Beausoleil (2015).

contextos, ver Beausoleil et al. (2012) e Beauso- nos, b) procedimentos dolorosos no manejo de
leil & Mellor (2015). leitões e, c) alta densidade no carregamento e
transporte de aves.
De maneira geral, o uso de estados men-
tais positivos ainda é limitado no cenário da Aplicação do modelo “Cinco Domínios” para
produção animal. Assim, os modelos que serão avaliação do bem-estar de bovinos em confi-
discutidos a seguir, seguem a estrutura inicial namento com redução do espaço disponível
por animal
apresentado por Mellor & Reid (1994), e apre-
sentam três situações reconhecidamente limi- O Brasil é detentor de posição de desta-
tantes para bem-estar dos animais de produção: que no cenário global de produção e exportação
a) restrição de espaço no confinamento de bovi- de carne bovina, onde tem sido notória a cres-

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cente intensificação da bovinocultura de corte, ser, 2007; Phillips, 2008).


principalmente pela utilização de confinamen-
Transferir animais para o ambiente de
tos para a terminação de bovinos (Rasmussen et
confinamento implica na imposição de diversos
al., 2014). De acordo com Millen et al. (2009),
fatores ambientais como: mudança na dieta e no
o confinamento de bovinos de corte minimiza
regime alimentar, reagrupamento social, maior
os efeitos da baixa disponibilidade de forragem
exposição aos patógenos, bem como exposição a
no período seco do ano, da pressão sobre os re-
condições climáticas extremas (Fell et al., 1998;
cursos naturais (Pelletier et al., 2010), da com-
Mader, 2003). Esses fatores estimulam a ativação
petição das culturas de grãos por área de terras
de mecanismos adaptativos, em busca da manu-
agrícolas (Rasmussen et al., 2014), além de ser
tenção da homeostase (Mormède et al., 2007),
uma das estratégias para aumentar a produtivi-
ocasionando mudanças comportamentais, me-
dade por área, atendendo à crescente demanda
tabólicas e endócrinas que podem ser vistas ao
externa por carne bovina de qualidade (Oliveira
longo do tempo de confinamento. Como descri-
& Millen, 2014).
to por Veissier & Boissy (2007), essa situação, se
Confinar, de acordo com a premissa bási- persistente, estabelece-se em posição oposta à
ca dessa atividade, implica na redução do espa- definição operacional de alto grau de bem-es-
ço disponível por animal e na dependência total tar animal proposta por Broom (1986), uma vez
do homem para se alimentar. Apesar dos confi- que as muitas falhas nas tentativas em adaptar-
namentos no Brasil apresentarem ciclos curtos, -se ao ambiente de restrição de espaço implicam
entre 70 e 90 dias (Millen et al., 2009), estudos em elevados custos biológicos para o animal, o
recentes têm demonstrado que a redução no es- que pode ser evidenciado pela redução do ganho
paço disponível em confinamento ao ar livre em de peso vivo, da taxa de ingestão e da eficiência
condições brasileiras (Macitelli, 2015), similar- alimentar (Ingvartsen & Andersen, 1993; Fisher
mente aos confinamentos “indoor” americanos et al., 1997; Fell et al., 1999; Hickey et al., 2003;
e canadenses (Fisher et al., 1997; Hickey et al., Gupta et al., 2007; Macitelli, 2015).
2003; Gupta et al., 2007), implicam em poten-
ciais impactos negativos sobre o bem-estar dos Considerando o modelo dos “Cinco
animais, quando comparados aos sistemas de Domínios” do bem-estar animal, proposto por
produção de bovinos mantidos em pastagens Mellor & Reid (1994), a redução do espaço dis-
(Lee et al., 2013). Esse fato ocorre, possivelmen- ponível por animal em uma baia de confinamen-
te, devido ao fato dos sistemas intensivos serem to pode, inicialmente, ser considerada como um
muito diferentes do ambiente no qual o bovino desafio ambiental, ou seja, compromete o Domí-
foi evolutivamente preparado e adaptado para nio 2 – Ambiente, que por sua vez tem ação so-
viver (Rushen & De Passilé, 1992; Broom & Fra- bre os demais domínios (Figura 2).

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Figura 2. Aplicação do modelo “Cinco Domínios”, proposto por Mellor & Reid (1994) para a avaliação do impacto da res-
trição de espaço em confinamento sobre o bem-estar de bovinos, baseando-se na literatura científica.

De acordo com Paranhos Da Costa ser responsável por hierarquias de dominância


(2000), ambiente pode ser definido como o espa- instáveis, caracterizadas por baixo nível de pre-
ço constituído por um meio físico e psicológico, visibilidade e de controle social para os animais,
preparado para o exercício das atividades do ani- resultando em fonte adicional de estresse físico e
mal que nele vive. Assim, o ambiente dos bovinos psicológico (Sapolsky, 2005).
mantidos em regime de confinamento é notoria-
mente desafiador. Bovinos alojados sob restrição Com o passar dos dias em confinamen-
de espaço também apresentam comprometi- to, os animais serão fonte de pressão física nas
mento do Domínio 4 - Comportamento, devido baias, devido a sua movimentação, e de excesso
ao estresse social que resulta no aumento da de umidade (lama), devido ao acúmulo de urina
competição e das interações agressivas entre os e fezes, principalmente nas áreas próximas ao
membros do grupo (Fraser, 1980; Kondo et al., cocho e ao bebedouro (Mader, 2008). A decli-
1989; Fisher et al., 1997; Lindberg, 2001). Isso vidade da baia, a condição do solo, bem como
acontece porque os bovinos são animais gregá- a quantidade de chuva são fatores reconhecidos
rios com ricos padrões de organização social que como capazes de minimizar ou maximizar a for-
têm sua expressão limitada, parcial ou totalmen- mação de lama dentro das baias de confinamen-
te, dentro do ambiente de confinamento. Assim, to (Grandin, 2016). A formação de lama poten-
a restrição de espaço em confinamento pode cializa o efeito negativo da restrição de espaço,

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afetando ainda mais o Domínio 2 - Ambiente. condição de exposição crônica do casco a um


ambiente úmido que compromete a barreira de
Quando o acúmulo de lama na baia de
proteção epitelial interdigital, predispondo a le-
confinamento atinge entre 11 e 20 cm de profun-
sões e podridão nos cascos (Stokka et al., 2001).
didade (condição considerada como moderada),
Existem ainda outros problemas de saúde que
ocorre uma redução entre 8 e 15% da taxa de
podem estar associados à redução da disponibili-
ingestão (Sweeten et al., 2014) e em casos mais
dade de espaço aos bovinos e, consequentemen-
severos, entre 30 e 60 cm de profundidade (con-
te, piores condições ambientais, tais como pneu-
dição severa), ocorre uma redução entre 15 e
monia e enfisema pulmonar (Macitelli, 2015).
30% da taxa de ingestão, respectivamente (NRC,
Krawczel et al. (2012) destacaram que muitos
1986), ou seja, a presença de lama pode afetar
dos problemas de saúde dos bovinos confinados
também o Domínio 1 - Nutrição. Considerando
surgem devido à baixa imunidade em resposta
que bovinos não gostam de deitar-se em lugares
ao estresse exercido pela restrição de espaço.
sujos e, se tiverem a oportunidade, irão esco-
lher os locais mais secos para fazer isso (Fisher Ressalta-se ainda que nas épocas mais
et al., 2003), a formação de lama também afeta quentes, o excesso de lama limita a habilidade do
o Domínio 4 – Comportamento, sendo esperada animal em dissipar calor e oferece área potencial
maior competição entre os animais para acesso para a reprodução de moscas hematófagas, com
às áreas mais secas e, dependendo da restrição, efeitos sobre os Domínios 1 - Nutrição, Domínio
acesso privilegiado dos dominantes. Adicional- 3 - Saúde e Domínio 4 - Comportamento, uma vez
mente, sob restrição de espaço, observa-se redu- que, as moscas picam os animais causando dor e
ção no tempo de permanência deitado (Fisher et perda de sangue, e evocam os comportamentos
al., 1997; Napolitano et al., 2004; Gygax et al., dos animais de levantar os membros, balançar a
2007). Deitar é um comportamento de manuten- cauda e sacudir a cabeça, ambos contribuindo
ção extremamente importante para o descanso e para o estresse térmico por calor, podendo redu-
a ruminação dos bovinos. Quase 90% da ativida- zir a taxa de ingestão e o ganho de peso (Catan-
de de ruminação é realizada quando os animais gui et al., 1997; Campbell et al., 2001).
estão deitados, já que nessa posição ocorre um
Como brevemente apresentado, é evi-
aumento da pressão abdominal, que facilita a ru-
dente que as tentativas do organismo animal em
minação tornando-a mais eficiente (Segabinazzi
adaptar-se ao ambiente do confinamento com
et al., 2014).
reduzida disponibilidade de espaço provocam
Pode-se afirmar que o excesso de lama várias alterações fisiológicas a médio e longo pra-
nas baias afeta diretamente o Domínio 3 - Saú- zo, que podem caracterizar o estresse crônico.
de, uma vez que torna o piso escorregadio para Sob situações de estresse crônico, os níveis de
os animais caminharem, bem como oferece a glicocorticóides circulantes são constantemente

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elevados, resultando em alterações que podem rie de pontos críticos relacionados ao bem-estar
afetar diretamente a saúde e o desempenho, dos animais. Entre eles as condições do manejo
incluindo catabolismo proteico, hiperglicemia, pré-abate, especialmente durante o transpor-
atrofia do tecido linfóide, redução do número de te, o alojamento das matrizes gestantes, a falta
linfócitos e anticorpos, ocasionando falhas no sis- de enriquecimento ambiental nas instalações, o
tema imunológico e lesões aos tecidos e órgãos, desmame precoce dos leitões e os procedimen-
com redução do ganho de peso e alterações tos potencialmente dolorosos de rotina como a
psicológicas como apatia (Matteri et al., 2000; caudectomia e o desgaste ou cortes dos dentes,
Tsigos & Chrousos, 2002; Carrol & Forsberg, aos quais os leitões são submetidos entre o pri-
2007). meiro e o terceiro dia de vida.

Conforme apresentado, o comprometi- Destaca-se que a ocorrência da cau-


mento dos quatro domínios físicos/funcionais, dofagia aumentou com a intensificação dos sis-
afeta o Domínio 5 – Estado Mental, onde os ani- temas de produção e pode ser considerada um
mais experimentam sentimentos negativos como dos problemas comportamentais mais comuns
dor, medo, ansiedade, frustração e desesperança na suinocultura (Nannoni et al., 2014). A limita-
por não poderem se retirar do ambiente ou te- ção, parcial ou total, dos suínos expressarem seu
rem oportunidades para fazerem escolhas. comportamento natural de explorar o ambiente
tem sido relacionada com a ocorrência de cau-
Aplicação do modelo “Cinco Domínios” para dofagia entre os animais, que redirecionam esse
avaliação do bem-estar de leitões submetidos comportamento exploratório para a cauda dos
à caudectomia e ao corte ou desgaste dos demais membros do grupo, mordendo-as até
dentes provocar ferimentos. De acordo com uma aná-
Nas últimas décadas o Brasil se consoli- lise de fatores de risco ligados à ocorrência de
dou como um dos grandes produtores e expor- caudofagia, Scollo et al. (2013) relataram que o
tadores mundiais de carne suína e abateu cerca risco é maior em baias com alta densidade, quan-
de 10,62 milhões de animais apenas no segun- do os animais não possuem acesso facilitado à
do trimestre de 2017 (Ibge, 2017). Essa posição água e quando não há renovação do ar dentro do
de destaque reflete os altos índices produtivos galpão de alojamento.
alcançados devido às melhorias no potencial Apesar de comum na fase de creche, a
genético, na sanidade e na alimentação dos ani- caudofagia também ocorre na fase de termina-
mais. Adicionalmente, o setor passa por acelera- ção e tem sido associada com a maior ocorrên-
do processo de automatização nos sistemas de cia de abscessos na coluna vertebral, problemas
alojamento, distribuição da alimentação e am- locomotores, pulmonares e renais, o que resulta
biência, ao mesmo tempo que enfrenta uma sé- em condenações parciais ou totais das carcaças e

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das vísceras dos animais após o abate (Kritas & de já ter sido banida de algumas granjas, ainda
Morrison, 2007), perdas econômicas para todo pode ser considerada rotineira e utilizada para
o setor (Zonderland et al., 2010) e comprome- contornar as implicações da baixa disponibilida-
timento do bem-estar dos animais (Hunter et de de alimento para os leitões. Normalmente, o
al., 2001, Sandercock et al., 2016). Nesse con- desgaste remove de 2 a 4 milímetros dos den-
texto, a única medida preventiva, amplamente tes, sendo realizado com pedra porosa rotativa
recomendada por técnicos e utilizada em muitas (desgastador ou desbastador), que pode ser aco-
granjas, é a caudectomia que consiste na am- plada ao dispositivo de resfriamento com o uso
putação do terço final da cauda dos leitões, por de  àgua. Já o corte dos dentes é realizado com
meio de esmagamento, corte seguido (ou não) alicate e consiste no corte na base do terço su-
por cauterização (Hunter et al., 2001). Mas seus perior do dente ou bem próximo à gengiva. Ape-
benefícios ainda são controversos, pois surtos de sar dos benefícios esperados, a prática do corte
caudofagia podem atingir até 60% dos animais, dos dentes também possui eficácia controversa
mesmo quando eles são submetidos à caudecto- sobre a redução das lesões no aparelho mamá-
mia (Temple et al., 2011). rio das matrizes e na melhoria do desempenho
dos leitões (Estienne et al., 2001; Selegatto et
Ademais, uma alta ocorrência de lesões
al., 2003; Souza et al., 2004; Koller, 2006). Des-
no aparelho mamário das porcas e na pele dos
de 2001, a legislação da União Europeia proíbe a
leitões, ocasionada por brigas durante a disputa
prática do desgaste ou corte dos dentes dos lei-
por leite materno, tem sido descrita nos siste-
tões como manejo de rotina, deixando a critério
mas intensivos de produção. Isso pode ocorrer
do Médico Veterinário indicar sua necessidade
como resultado do aumento do número de lei-
somente quando houver indícios de ferimentos
tões por leitegada, que vem ocorrendo nas últi-
nos tetos das matrizes, protegendo assim a saú-
mas décadas, sem que o aumento de produção
de e o bem-estar animal (Ec, 2001).
de leite das porcas ocorresse na mesma propor-
ção (Le Dividich, 2005; Eliasson & Isberg, 2011). Considerando o modelo dos “Cinco
Em concordância com essa teoria, Gallois et al. Domínios” do bem-estar animal, proposto por
(2005) reportaram que a frequência e a gravida- Mellor & Reid (1994), a submissão do leitão à
de das lesões no aparelho mamário foram maio- caudectomia e ao desgaste ou corte dos dentes
res nos tetos menos produtivos das matrizes. A (Figura 3) podem ser considerados um desafio à
incidência de lesões faciais nos leitões também é saúde dos animais (Domínio 3 – Saúde). A cau-
maior em leitegadas numerosas, em decorrência
dectomia ocasiona um processo inflamatório
de maior disputa pelos tetos (Fraser, 1975).
que pode durar até 41dias após o procedimen-
Assim, o desgaste ou corte dos dentes to (Kent et al., 2000; Sutherland et al., 2008,
dos leitões é uma prática de manejo que, apesar 2011). Por sua vez, o corte ou desgaste dos den-

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Figura 3. Aplicação do modelo “Cinco Domínios”, proposto por Mellor & Reid (1994) para a avaliação do impacto dos
procedimentos de caudectomia e desgaste ou corte dos dentes sobre o bem-estar de leitões, baseando-se na literatura
científica.

tes são fatores de risco para a exposição da ca- ticas de dor neuropática relatadas em humanos,
vidade pulpar, que resulta em gengivites, cáries, conhecida como dor “fantasma”, gerando sensa-
inflamações da polpa dentária e abscessos (Sele- ção de dor crônica nesses animais (Nannoni et
gatto et al., 2003; Koller, 2006). Tanto a caudec- al., 2014; Giminiani et al., 2017a).
tomia quanto o desgaste ou corte dos dentes dos
Destaca-se que a sensação de dor pode
leitões geralmente são realizados sem anestesia
alterar o comportamento dos animais (Domínio
e/ou analgesia, o que resulta em dor aguda, que 4 - Comportamento), resultando no aumento
pode se tornar crônica, dependendo das inter- da vocalização durante a realização dos procedi-
corrências após os procedimentos (Nannoni et mentos (Giminiani et al., 2017b). Leitões que fo-
al., 2014; Sutherland, 2015; Ison et al., 2016). ram submetidos ao corte da cauda e dos dentes​​
Sandercock et al. (2016) comprovaram que há foram observados sozinhos com maior frequên-
formação de neuromas traumáticos, em decor- cia durante os três primeiros dias após o procedi-
rência dos processos de reparação dos nervos mento e durante todo o período de amamenta-
periféricos lesionados, até quatro meses após ção (Zhou et al., 2013). Considerando que nessa
a caudectomia em leitões. Adicionalmente, há fase é comum os leitões se aglomerarem para
evidências de hipersensibilidade periférica da re- manter a temperatura corporal, esse comporta-
gião lesionada, o que se assemelha a caracterís- mento de isolamento poderia tornar os animais

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ainda mais susceptíveis a hipotermia, compro- Noonan et al. (1994), a contenção do leitão para
metendo seu conforto térmico e, em casos mais realização dos procedimentos de caudectomia e
graves, sua sobrevivência. corte dos dentes é estressante por si só. De fato,
procedimentos dolorosos onde os animais preci-
Ainda, leitões submetidos à caudecto-
sam ser contidos fazem com que, além da sensa-
mia e ao corte dos dentes apresentaram menor
ção de dor, eles experimentem sensações de des-
frequência de comportamentos exploratórios e
conforto, medo, desconfiança e falta de senso de
de investigação do ambiente durante os períodos
controle sobre a própria vida. Adicionalmente, a
de creche e de crescimento (Zhou et al., 2013).
vivência dessas sensações pode levar o animal a
Essa modificação de comportamento poderia di-
estados de apatia e isolamento, afetando direta-
ficultar a localização de recursos, como água e
mente o Domínio 5 - Estado Mental.
alimento, em novo ambiente. Adicionalmente,
animais que experimentam a sensação de dor Diante do exposto, fica claro que a rea-
reduzem a ingestão de alimentos e água, ocasio- lização da caudectomia e do desgaste ou corte
nando sensações de fome e sede, que ao longo dos dentes não resolve as causas que levam à
do tempo poderão resultar em casos de desnu- ocorrência da caudofagia e das lesões na pele
trição (Domínio 1 – Nutrição). De fato, apesar de dos leitões ou no aparelho mamário das matri-
não terem avaliado o consumo dos animais, al- zes, apenas amenizam os efeitos desses compor-
guns estudos mostraram menor ganho de peso tamentos. Além disso, parece pouco coerente
em suínos que passaram por caudectomia, nas submeter um animal a um procedimento que
primeiras 24 a 48 horas (Marchant-Forde et al., lhe causa dor aguda e pode, inclusive, lhe causar
2009) e até 70 dias (Zhou et al. 2013) após o pro- dor e desconforto crônico, como forma de evi-
cedimento. Existe ainda outra maneira pela qual tar uma possível dor no futuro em decorrência
a caudectomia tem o potencial de afetar o com- da caudofagia e de lesões na pele, por exemplo.
portamento dos animais, que é através do uso Nesse contexto, existe uma lacuna no que se re-
da cauda como um mecanismo de comunicação fere a alternativas verdadeiramente eficientes
entre os membros do grupo, tornando-os impos- para resolver esses problemas, os quais têm con-
sibilitados de comunicar-se por essa via (Houpt, sequências negativas ao longo da vida dos ani-
2005). Portanto, o corte da cauda impede os ani- mais, comprometendo seu bem-estar. Portanto,
mais de apresentarem este comportamento na- são necessárias estratégias de mitigação dessas
tural da espécie (Nannoni et al., 2014). consequências sobre os animais e alternativas e
Conforme apresentado, todos os 4 do- práticas de gestão que eliminem a necessidade
mínios físicos afetados por esses procedimentos de executar esses procedimentos dolorosos. O
dolorosos em leitões resultam no comprometi- enriquecimento ambiental com palha nas baias
mento do Domínio 5 - Estado mental. Segundo de terminação (Scollo et al., 2013), boa venti-

Revista Brasileira de Zoociências 19(2): 204-226. 2018


Os “Cinco Domínios” do bem-estar animal em sistemas intensivos de produção .215

lação e espaço duplo nos comedouros (Hunter integração”. No caso da avicultura, os contratos
et al., 2001) por exemplo, foram eficientes para geralmente dividem obrigações sendo os avicul-
diminuir a caudofagia em suínos. Além disso, o tores responsáveis pelos custos do aviário, da
uso de analgesia e anestesia local pode reduzir mão-de-obra e dos equipamentos e a empresa
acentuadamente a dor durante e após a realiza- integradora responsável pelo fornecimento dos
ção dos procedimentos dolorosos (Sutherland, animais, ração, medicamentos, assistência técni-
2011, 2015). ca e, em alguns casos, pelo transporte das aves
ao frigorífico (Zaluski & Marques, 2015). Todas
Aplicação do modelo “Cinco Domínios” para
as etapas da criação de frangos (desde o nasci-
avaliação do bem-estar de frangos de corte
mento até o abate) exigem boa logística e bom
submetidos ao carregamento e transporte
planejamento.
para o abate em caixas com alta densidade
Do ponto de vista econômico, o transpor-
O abate de frangos de corte no Brasil
te faz parte da gestão estratégica e representa
aumentou nos últimos anos e já ultrapassou a
60% dos custos logísticos, sendo diretamente
marca de cinco bilhões de aves abatidas anual-
afetada pelo planejamento dos carregamentos,
mente, posicionando o país entre os três maiores
programação dos veículos, roteirização, audito-
produtores mundiais (IBGE, 2017). Grande dispo-
ria de fretes e gerenciamento de avarias (Fleu-
nibilidade de área para construção de instalações
ry, 2002). Adicionalmente, o período do dia em
e produção de grãos, solo fértil, clima favorável
que as aves são transportadas, as condições das
e inovação das empresas envolvidas no proces-
estradas, o tempo de transporte e de espera no
so foram fatores que contribuíram para o cresci-
frigorífico para o abate bem como o número de
mento do setor nos últimos dez anos (Oliveira &
aves nas caixas são fatores reconhecidamente ca-
Nääs, 2012).
pazes de afetar a mortalidade das aves (Vieira et
O processo de produção de frangos é al., 2013). Apesar disso, como estratégia errônea
extremamente complexo e, na maior parte do para reduzir os custos com a logística, observa-se
país, ocorre em sistema de integração. Segundo em algumas situações o aumento do número de
a Lei nº 13.288 de 16 de maio de 2016 (Brasil, aves nas caixas (alta densidade), comprometen-
2016), integração é definida como a “relação do o bem-estar animal.
contratual entre produtores integrados e inte- Para definir alta densidade no transpor-
gradores que visa planejar e realizar a produ- te das aves serão considerados os valores que
ção e a industrialização ou comercialização de ultrapassam o definido pela legislação europeia,
matéria-prima, bens intermediários ou bens de relativa à proteção dos animais durante o
consumo final, com responsabilidades e obriga- transporte (Ec, 2005), já que o Brasil não dispõe
ções recíprocas estabelecidas em contratos de de nenhuma legislação específica sobre esse as-

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216. Braga et al

sunto. A legislação europeia determina um espa- cada como um desafio ambiental (Domínio 2 –
çamento entre 180 e 200 cm2/kg para aves com Ambiente), provocando aumento da temperatu-
peso vivo menor que 1,6 kg; 160 cm2/kg para aves ra local e corporal da aves, resultando em maior
com peso vivo entre 1,6 e 3,0 kg; 115 cm2/kg para estresse calórico (Delezie et al., 2007). Uma ave
aves entre 3,0 e 5,0 kg e 105 cm2/kg para aves produz cerca de 10 a 15 watts de calor com per-
com mais de 5,0 kg de peso vivo. Apesar desses da de 10,5 g de água por hora, assim, quanto
valores definidos, é sabido que os mesmos po- maior o número de aves juntas em espaço redu-
dem variar em função do estado físico das aves zido, maior o incremento de calor e de umidade
e das condições climáticas, por exemplo. Para (Mitchell & Kettlewell, 1998). A ave, por ser
a presente abordagem, essas variações serão homeotérmica, em condições de mudança da
desconsideradas, em função da complexidade e temperatura ambiental, tentará regular sua tem-
especificidades de seus efeitos, dificultando sua peratura corporal. Para isso ocorrerão algumas
inclusão no modelo geral proposto. alterações fisiológicas e comportamentais, que
podem afetar o Domínio 3 - Saúde e Domínio 4 -
Considerando o modelo dos “Cinco
Comportamento.
Domínios” do bem-estar animal, proposto por
Mellor & Reid (1994), a alta densidade das cai- Nessas condições, a ave irá eriçar as pe-
xas transportadoras de frangos de corte para nas e tentará expor a maior área de superfície
abate (Figura 4) pode ser, inicialmente, classifi- corporal abrindo as asas. Concomitantemente

Figura 4. Aplicação do modelo “Cinco Domínios”, proposto por Mellor & Reid (1994) para a avaliação do impacto da alta
densidade de aves nas caixas transportadoras, baseando-se na literatura científica.

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Os “Cinco Domínios” do bem-estar animal em sistemas intensivos de produção .217

ocorrerá aumento da frequência respiratória, fa- pode levar o animal à desidratação (Vanderhas-
cilmente visualizada por meio da taxa de ofega- selt et al., 2013). Além disso, a permanência pro-
ção, que por sua vez poderá provocar alteração longada das aves nessas condições de restrição
do equilíbrio ácido-base, gerando uma alcalose de espaço impossibilita a execução de compor-
respiratória, devido ao estresse calórico (Borges tamentos específicos, como os de manutenção,
et al., 2003). A exposição das aves por 15 minu- gerando estados emocionais negativos, como
tos a uma temperatura ambiental de 42°C já é frustração (Domínio 5 - Estado mental) (Vester-
suficiente para afetar o metabolismo proteico gaard et al., 1997).
de frangos em crescimento, provocando redução
Com o passar das horas confinadas nes-
significativa dos aminoácidos livres circulantes
se ambiente, as aves sentirão necessidade de
no plasma, proteínas totais e da concentração da
ingerir alimento. Segundo Rui et al. (2011), aves
enzima alcalina fosfatase, além da elevação das
em condições normais se alimentam a cada 4
concentrações de certos grupos de aminoácidos
horas, sendo assim, períodos prolongados sem
no fígado, albumina, glicose, ácido úrico, ácidos
acesso a alimento (Domínio 1 - Nutrição) alteram
graxos livres no plasma, lactato desidrogenase e
o comportamento das aves que passam a fre-
creatina quinase (Ostrowski-Meissner, 1981). O
quentar mais os bebedouros, ingerem mais água
aumento da temperatura está diretamente rela-
e podem iniciar o consumo de cama do aviário
cionado com o aumento da síntese da proteína
(Domínio 4 - Comportamento). Casos extremos
de choque térmico, responsável por proteger as
de privação de alimento podem levar a estados
células em situações de estresse (Delezie et al.,
mentais negativos caracterizados pela fome e
2007).
frustração (De Jong et al., 2002). Todavia a reti-
Na granja, o aumento da temperatura rada da ração para o transporte é fundamental,
também promoveria uma elevação no consumo pois evita problemas de contaminação no frigo-
de água e a ingestão da bebida fria auxiliaria na rífico durante o abate, que pode ocorrer devido
redução da taxa respiratória, na perda de calor à presença de alimento no trato gastrointestinal
e no reestabelecimento da homeostase (Bor- (Northcutt et al., 1997). Neste caso é importan-
ges et al., 2003). Entretanto, dentro das caixas, te seguir a recomendação brasileira, a qual esta-
as aves não possuem acesso a água (Domínio 1 belece que o jejum para o abate não deve ultra-
- Nutrição) e o espaço interno é restrito, impossi- passar um total de 12 horas (Rosa et al., 2013).
bilitando que as aves estendam as asas (Domínio Dentro do contexto apresentado,
4 - Comportamento), fatores que irão dificultar todos os 4 domínios físicos afetados pela alta
o processo de perda de calor. A impossibilidade densidade no carregamento e no transporte de
de beber água promoverá um estado de descon- aves resultam no comprometimento do Domínio
forto causando sede e, com o passar do tempo, 5 - Estado Mental e, quando não resolvidos a

Revista Brasileira de Zoociências 19(2): 204-226. 2018


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