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Digitalizado com CamScanner myn O& Sma no EC re A questio central da minha pesquisa teve origem em minha prética docente. Meu trabalho nao objetivava ser um trabalho em Historia da Giéncia © © que eu queria, na época, era pesquisar situagdes em que fosse possivel utilizar a Histéria da Fisica num curso do ensino médio e de que forma esse uso poderia ser frutifero. A abordagem histérica sempre me pareceu tornar 0 contetido mais interessante para o aluno, possibilitando uma discussao critica acerca do papel e do poder da Ciéncia ao aproximar e relacionar 0 conteido desta Ciéncia com o de outras atividades humanas. Além disso, conhe- cer a historia do que se ensina parecia-me essencial para o professor que poderia por isso detectar melhor as barreiras enfrentadas pelos alunos na aprendizagem. O uso da Hist6ria da Ciéncia no ensino e na forma- sao do professor teria 0 condao de transformar o discurso cientifico frio, dissertativo, impessoal e estético, num discurso narrativo, sequen- ciado, passivel de inter-relagdes. A historia dos conceitos e contetidos Parecia-me transformar produto em processo, traduzindo o discurso formal e hermético da Ciéncia em discurso Passivel de identificagao, de reconhecimento, de intervencao e, portanto, de aprendizagem. Encarar a Ciéncia como um produto acabado confere a0 conheci- cientifico uma falsa simplicidade que se revela uma _barreira a qualquer construgao, uma vez que contribui paraa formacdo de atitude ingénua frente a Ciéncia. Ao encararmos os contetidos de Ciéncia como Obvios, as diversas redes de construgao edificadas para dar supor- te a teorias sofisticadas apresentam-se como algo natural e, portanto, de compreensao imediata (ROBILOTTA, 1988). Assim, 0 conhecimento cientifico, construgao sofisticada e gradual da mente humana, sex tomado como algo passivel de mera transmissdo, de revelaga como conhecimento a ser elaborado, Essa atitude mostra-se cl. nociva a qualquer tentativa de se aproximar da Ciéncia. A introdugao da dimensao hist6rica ido cientit i assim, a capacidade de tornar o conteiido mais interessant ir trazé. iS Passa a 10 € Nao laramente é Toca Para n inais-Perto do-universo cognitive nao s6 do aluno, mas do proprio hi “omer, que antes de conhecer cientificamente » constroi historicamente que conhece. : Ry “ee Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Nao somente como ferramenta para o professor, mas também p . stéric ciona ati «4 estudante, a abordagem hist6riea funciona como uma tradyes i 9 discurso hermético e formal da Ciéncia, num discurso passive] de in NW 40 e, por isso mesmo, passivel de ser praticagy en. tigagao, de interveng 0, am 0s esquemas cognitivos rumo a uma compreens mais completa e profunda da realidade. © que fizemos em nossa pesquisa foi checar em sala de aula Como og estudantes usam dados provenientes da abordagem histérica, que “he eles atribuem a Historia ¢ que papel as informagoes fornecidas por ess, abordagem desempenham no processo de construgao de conhecimento, se jr quanto se reestrutut : A pesquisa Em 1990, juntamente com o Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciéncias da FEUSP, sob a orientagao da Profa. Dra. Anna Maria Pessoa de Carvalho, iniciou uma ampla pesquisa sobre tematicas relacionadas ao contetido “calor e temperatura”. Com a colaborago de professores de algumas escolas de Sao Paulo, elaboramos um curso de segundo grau no contetido calor e temperatura, levando em conta varios resultados e processos desenvolvidos na pes quisa em ensino de Ciéncias. Unidos por uma postura sécio construtivstt frente ao conhecimento, utilizamos 0 que obtivera até entao nas pe quisas sobre, entre outros temas, o estudo das ideias prévias dos est” dantes, do contetido e da estrutura dos livros didaticos, da resolugio problemas ¢ do uso da Historia da Ciéncia. O curso, depois de estruturado, seria ministrado por quatro profes sores de escolas diferentes, e a partir das aulas acompanhadas cialmente ¢ gravadas, investigariamos as possibilidades de se 0% Historia da Ciéncia em sala de aula e de que forma esse uso contribuls Para as construgdes dos estudantes, __ Levar a informagao hist6rica para sala de aula poderi varias maneiras: por meio de aulas expositivas, sessoes de thos de pesquisa bibliografica, leituras, realizagao dos exPe classicos. Optamos por utilizar principalmente a Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner AtHistéra e a Filosofia da Ciencia no Ensino de Ciencias atividade cientifica (por exemplo, a aleatoriedade/arbitrariedade de certas opgdes) que nos parecia também uma forma de aproximar 0 discurso do aluno ao discurso do cientista. Aterceira atividade (tipo reconstrugao), ainda buscando uma com- patibilizagao do discurso cientifico com o discurso do aluno, conside- rando 0 primeiro como de possivel entendimento e o segundo como de possivel evolugao, escolhemos um trecho curto das conferéncias de Black (MAGIE, 1935, p. 134-35), no qual ele declarava a necessidade de se diferenciar calor de temperatura. Neste texto, pode-se perceber que, apesar de denunciar a confusao existente entre tais conceitos e de expli- citar a necessidade de diferencia-los, 0 proprio Black confundia-os, em nivel de linguagem. Explorar o fato de estarmos inevitavelmente atrela- dos as limitagdes desta linguagem seria, certamente, de grande riqueza. Se reconhecida e discutida de forma ampla e integrada numa visao cons- trutivista do conhecimento, tal limitagao poderia ser usada como meca- nismo de refinamento dessa linguagem mal delineada, incipiente, comum tanto ao contexto das descobertas cientificas quanto ao contex- to de sala de aula. Ou seja, revelar-se-ia também como mola propulsora de seu proprio ultrapassamento, numa relagao inteiramente coerente com nossa postura filos6fica em relacao ao conhecimento: 0 compareci- o do ultrapassado no ultrapassante. Em alguns casos, 0 que teme- serem conceitos alternativos arraigados e, portanto, supostamente podem nao pasa de uma pace nado delimitada da con- Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner

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