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FICHA CATALOGRAF (Preparada pelo Contro de Catelogaci ina do Livzo, Si mistocles, 1905- 3. Olympio, 1978. +180 pe. Bibliogradia. - Conto: Retérien 808.81 ‘DD — 869.9300 — 801.058 Indices para eatélogo sistemético: 10 conto © © artesanato, regra do conto, Poosia tamanho, Romance e cor Crénica © conto. Cont | ites livzos de contos se acumutavam sobre a mesa desafiaren © nosso comentério. J4 ha bastante tempo que no trocdvamos idéias sobre o género que mais interesse vem despertando jovens, por ser aparentemente talvez 0 de mais facile r4 © que, sem divide, ago deisa de consti oder omocional elevado que pode exi curta, densa de contensfo ou tensio intelectual, Como se pode imaginar, haveria muita coisa a dizer e comen vista sobretudo a situacio atual Meu amigo ¢ companheito de lefturas foi quem logo se propds a abordar 0 problema do conto, para ele semelhante ao da poesia, que assenta os seus fundamentos numa palavra, no dichten = con. densare. ~-O conto, por ser prosa—dizia gle—ainda tem sobre © poema aes ‘a mais: a de (entar oferecer m [oS movimentos do coragio, O poeta, bora a condensagéo seja meta visada por ambos. —Mas nio esquega—replique! loge—qus, tal como 0 poeta, 0 iiieiramente, mas, sendo arte auténtica, 0 conto s6 pode existit com do expressi se algum fim Ihe deve ser atribuido, esse € © da literatura em geral, ou seja, 0 de reenfrentar, de seu Angulo, com consciéneia aprofundada, os problemas humanos, para significar toda uma experiéncia, dentro da qual gozamos e sofremos o mundo de todos, —Que 0 conto é sintese, no hi negar. Como sintese, ele ngo Se confunde como poema, ném com a novela, sem precisar, & evidente, divorciar-se da vida. Nenhuma arte, aliés, pode f sob pena de se isolar em supermundo particular, governado por uras relacies formais, 0 que também & condendvel, pois arte no 6 som feico técnica ou refinamento formal. EB também interesse pela realidade impura, terrestre, sangiifnea. —Eu falei em artesanato, porque hi fazer conto simplesmente contar tha es desacerto que degenera em arte an cumento, @ simples ocorréacia de efeito global, pouco com a hierarquia dos valores e dos significados da exist muitos contadores de esi6rlas que no chegam a ser cor —Felizmente, os nossos contistas atuais j4 esto plenamente conscientizados da necessidade do artesanato, ou seja, da expe- do conto, Sem ela, a outta experiéneia, a concreta, a dos objetos de prazer cotidiano, Gigamos, no se completa, literariamente falando, esti visto —Creio que, no pasado, no fomos menos atentos a seme- Thante preceptistica. Machado de Assis nunca se descurou dessa experiéncia estética. Raul Pompéia foi outro exemplo. Enfim, posso aié generalizar’ todos os que escreveram bons contos em nosso pais souberam conciliat as dua’ experiénclas, pata toorzar @ vida” Sim, de acordo. Mas 0 que quero dizer 6 que hoje talvez se tenha mais consciéncia do que Spinoza definia como amor in- telectual pelas coisas e que consiste em compreender as suas per- feigées, A tentatoctes tinkaree vas imperfeiges, pois, do contrétio, nfo che- io preserito para 0 conto, que no ‘pode ¢i- dos seus kumores, das suas impurezes, vendo dimensto moderna, instante breve, mas décisivo, tagAo da intensidade, onde quer que ela se encontre, do io do sol, do calor, ou do lado do mau ipo, do frio, sem esconder 0s movimentos do coragiio, que é de onde provém, segundo alguns, 9 fala de gosto, Que & que pode haver de mais plebeu que vm seatimento? ~-Nao vou téo longe. Mas 0 que nfio admito mais é 0 coato como preparagio ou esboco de romance. Esse crro de visio ov de técnica niio 6 mais perdoavel. Jé se disse—e nao é demais re- —Mas esse despojamento devs a da dificuldade do conto, isto é, a da sui aboragao. Des- pojar por despojar néo basta. Despojar as vezes & despic, é em- pobrecer —Nesse sentido foi que tentet aproximar 0 co Poesia facil hoje nZo se compreende mais, do. p. estético, formal ou técnico, “0 que V. quer dizer é que nem sempre a espomtaneidade dé no conto literério, © que nfo acontece no conto ort. ento sfo e vigoroso, de resto, quantas vezes desconhece 0 gosto? Nao se deixar governar pelos primeiros impulsos, refletir, amadurecer, nfo com 0 intuito de matar de tedo a espor outra norma a seguir. De modo que, na teoria do conto, nfo pode haver lugar pata a irracionalidade demasiado espontinea ou os seus desabafos. —Sim, 0 que hoje se entende por conto obedece ao rigoristio da dosagem ¢ da proporcéo, da vigilancia exercida sobre as nossas faculdades, de certo pudor diante de certas palavras (nfo se trata, 22 didtogos § 6 claro, do palavrdio quando opor solugo), do abandono dos citcuntéquies, de facilidade ow se inscreva como demasi exagerado, etc, E preciso no confundir, no com simploriedade. J4 se foi o tempo em q) maravilhosamente super —Bem. Do que dissemos, em torna do conto moderne, ou methor, da situaggo do conto no Brasil, jé se pode chegar a algu- mas conclusées, O conto continua cada vez mais short story, pata usar a expresstio de Forster, que se traduz na contensio, no espirito de sfntese, no abandono de ornamentos iniiteis e, portanto, im problema de linguagem também, de criago de um estilo, dentro dos curtos limites da narrativa, cuja ambigo € também susciter a presenga de gente real e viva € a sensagio inspirada diretamente réprias coisas. Oconto ¢ um caleidosespio e, como te hoje tantas vézes compor —Na verdade, a movimentagéo do contista se desenvolve no mes- mo plano da do romancista: ele tem & stia disposigéo @ realidade, 18 seres, as coisas, o cenétio, tudo, enfim, que 0 cerca, a sua fungao nfo sendo outra senfio a de tr oa definir uma coisa em de pretender reduziclo a alguma coisa de mais short do que pretendia Forster, convenhamos, tem os seus limites. © conto pode ser estruturado numa pégina, em duas, ttés, quatro ou dez da mesma forma, sem deixar de ser conto quando cle ainda vé um pouco além de tais limites, Ha contos de mais de dez paginas que sfo obras-primas, © nosso Machado autor de alguns deles. Uni de seus contos mais curios, “Uns bragos”, chega quase a dez péginas. 6 temfstocles tinhares Ff evidente que nfio vamos prescrever tamanho on niimero de paginas ou de palavras exato para o conto moderao. O que tentei caracterizar foi a economia de que ele cada vez mais se reveste nesse sentido, sem que isso implique em restringit a sua concepe#o a uma questo de signos on linhas. Quis referie-me sobretudo & tendéncia dominante entre os modemmos, que ja ndo eserevem contos como Flaubert 0 fazia, deixando o leitor na di- vida: nao seriam novelas os Trois Contes que comptem o livro do mesmo nome? Tamanho nao é document iz a sabedoria popular, nias, no caso de conto, que cada vez mais ciosaménte defende o: seus postulados, as suas linhas de forga mais caracteristicas, © tamanho passa a ser importante. —© tamanho s6 tem importéneia quando contribui para esta- belecer as fronteitas do géneto, Fora disso, cle néo é documento mesmo, —Seja como for, 0 conto possui a sua dimensio propria. O que 6 certo, porém, € que hoje ninguém mais escreve contos na extenso em que 0 fazia 0 mestre do Realismo. Nao que ele se servisse do conto como preparagéo para o romance. Al aspecto em que V, tocou merece alguma explanacao. Houve tam: bém quem dissesse ser 0 conto mero divertimento para o romen- cista, que dele se utilizava como nareético, repouso ou leito mental Quem verdadeito contista, tanto quento romanciste, como foi ‘© caso do Machado, confere a mesma dignidade aos dois géneros. Assim, nfo creio muito no que se diz a respeito do romancista, também contista, de se aproveitar do conto para os seus futuros romances, Machado poderia ter utilizado uma ou outra cena de seus contos nos romances, mas dando-the feigo. O apro- veitamento era mais ligado & temética do que propriamente & esiru- tura do romance, Romance e conto nfo se confundem, como tam- bém nao se misturam conto € teatro. Isso de dizer que ambos possuem as trés unidades pouco significa. Parta-se do exemplo de Pirandello, acerca de quem se chegou a dizer serem todas as suas pecas calcadas nas Novelle per un anno. © teatrblogo, como se sabe, surgiu nele mais tarde, O que ele utilizou dos contos s6 foi 22 ditogos 7 a temitiea, pois, no que se refere & técnica, a0 € claro, os géneros diferom da gua para o —Em Machado hd ainda © caso das er6xi a construggo, —Engano seu, pois as confusées persistem © € nossa obrigagao issipé-tas, ~Para mim, o importante € que todas as pessoas interessadas em fazer contos se convengam da id que esta néo pode ser Jevada a cabo sem qualquer fi qualquer preparagio, bastando a inspiragio apenas. Sem mesmo que a t6enica se terme io contisia vit seguinda natureza. Conto 6, como jé disse, tépniea, artes —Também nfo é 56. B preci a dizer. —Isso também que se entende por bom conto? B 0 que nio passa de Tinguagem carregada de significado até 0 ‘maximo posstvel, dentro das caracteristias do género? Veja o exemplo de nosso Guimaries Rosa —Guimaries Rosa, a meu ver, abusou un pouco, no seu ine teresse pela linguagem, fazgndo dela 0 centro de irradiacao de tudo. N 6 preciso ter em vista que a soma da sabedoria ma nfo esté contida em nenhuma linguagem, V. também, nao deve esquecer 0 que diz Pound e respeito da linguagem em parti- cular, de sua incapacidade de exprimir todas as formas e graus da compreenso humana, Comenta ainda o poeta: “Esta é uma dou- ‘trina amarga e pouco agradével ao paladar, Mas 240 posso omitila.” —De qualquer modo, também néo sou dos que pensam que 0 Pensamento ndo deve nada @ palavra, A expert primeira a repudiar © postulad6 de estar jd a prias ‘Nao quero, porém, discutir esse assunto, Que pensem racle os linglistas do estruturalismo, jé fanatizados nesse campo; mas no eu, Talvez seja oportuno citer 0 mesmo Pound, quando diz que climas diferentes © sangues diferentes tém necessidades 8 emiatoctes tenharee que o contista tenha alguma coisa literdria é a yguagem nas prb- EE ET dilerentes conformacécs de garganta e que todas essas coisas deixam seus tragos na linguagem ¢ a tornam mais ou menos apta para certas comunicagbes ¢ certos reyistros. —Em literatura, 4 dois caminhos divergentes: 0 do fetichismo a linguagem e © da rentincia & palavra hos podem se cruzer e a c pa encruzilhada, Nem tanto ao mar nem tanto a terra. Pois hoje ndo ha tipo de ficeo mais despojado que 0 conto, 22 didlogos §

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