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Kener RO! IBERTO GOMES CAMACHO DA LINGUISTICA z ,_ FORM A LINGUISTICA soe AL EVs Ealtor: Marcos Marcionito caps: Andéia Custédio Projeto editorial: Ings Ruvo Andrade Revisio: Karina Mota CConselho editoria: Ana Stah Zilles (Unisinos) ‘Angela Paiva Dionisio [UFPE] Carlos Alberto Faraco (UFPR] Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP] Givan Muller de Olvera (UFSC,Ipot) Henrique Monteagude (Universidade de Sanlago de Compostela Kanavilil Rajagopalan (Unicamp) areas Bagno [Un] Maria Marta Peveta Scherre(UFES] Rachel Gazolla de Andrade (PUC-SP] Roxane Rojo [UNICAMP] Salma Tannus Muchail [PUC-SP] Stella Maris Bortoni- Ricardo [Un8] ‘appa. ATALOGAGAO WA FONTE SINDICHTO NACIONAL D0 EDTORES DE LIVRO, RI ‘Camacho, Roberte Gomes Dalingustia formal inguin soil aberto Gomes Camacho ‘Sto Paulo: Prsboa, 2013, 272p:23em—Wngualgem)) Incl biblografi indice ISeN 978 85-7934-0628 1. Linguistica 2. Paradigma (Unguistia.1 Tl Séie, 3002, cop .401a1 couerer y90233 220213 onsaz Direitos reservados a Pardbola Editor ua Dr Mario Vicente, 394 Ipiranga (4270-000 So Paulo, sP abs: [11] 5061-9262 | 5061-8075 |fax11112589-9968 home page: www.parabolaeditorialcom br ‘€-mall: parabola@parabolaeditorialcombr Todos 95 dieitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser Feproduzds ou transmitida por qualquer forma e/ou qusscute mesos (cleténico ov mecdnica, Induce fotocspa © grave) ov antuneds fem qualquer sistema ou banco de dados tm permite pot ese da Pardbola Eton ds, ISBN: 978-85-7934-062.8 ‘© Roberto Gomes Camacho, 2013, '© Pardbola Editorial S80 Paulo, maio de 2013, Compromisso tedrico com natureza inerentemente social da linguagem Se, por conseguinte, quisermos compreender a linguagem na sua yerdadeira intimidade, cumprird desabusarmo-nos de “valores” preferdos, umarma.nos a olhar para o inglés « para o hotentote com © 10 desprenclimento gélido, mas cheio de interesse (Sapir, 1971: 127). 1.1. O conceito estrutural de plenitude formal © surgimento da lingufstica modema, entendida como a que se realizou a do século XIX, com posigdo imanente assumida pelos neograméticos na agiio da suudariga linguistica, teve seu apogeu com a publicagao, em 1916, Curso de linguistica geral, de Ferdinand de Saussure. Saussure, amplamente Onhecido como o pai da linguistica moderna, deu sustentagao a interpre- 40 da linguagem como um objeto sincrénico em si mesmo € por si mesmo. Sustentacdo representou, na realidade, um gesto de criagdo que propiciaria onstrucdo de um estatuto cle autonomia para a linguistica no conjunto das ia humanas, em que ele proprio se formou, definindo s lingu de relagdes de oposi¢do no interior do sistema ou lingua. O principio {2o04: 28), consistencia formal a intuigdo de que as linguas humanas s8o total oeate organizadas, como a que [é se vé em Sapir (1968). Esse linguista defende Morinelpio de que, em qualquer momento de estabilidade sincronica de um G.pema Linguistico, cle proprio, ow qualquer uma de suas varledades, vempre se encontra em um estégio de plenitude formal, o que significa, portanto, estar Sempre apto para todas as tarefas a que se destina como instrumento de intera- Gao e comunicacao, £ posstvel afirmar que tanto o estruturalismo europeu quanto o norte-amer: cano conttibuiram igualmente para a consolidagao de uma posico menos ideo- J6gieae preconceituosa sobrea linguagem. Falar numa corrente europeia e numa corrente norteamericana de estruturalismo pode parecer no mfnimo cientifica- mente comprometedor: pode parecer estranho assentar a divisio de tendéncias ientificas em bases gcogrificas, Especlalmente quando se trata das mavimen- tos cienificos de um paradigma internacionalmente tao relevante para a lingui tiea quanto foi o estruturalismo, por té-la justamente algado ao honrado posto de piloto das ciéncias humanas. O certo, todavia, é que a lingufstica nos EUA segue certos principios que a tor nam diferente da tendéncia europeia, Malmberg (1974) entende que esses prin pios estdo muito proximos dos que determinaram o aspecto da linguistica estru- tural na Europa, mas, historicamente, sio bastante independentes dessa corrente de pensamento e dela se distinguem em pontos ao importantes que acaba sendo Jegitimo falar de um tipo americano de estruturalismo (Malmberg, 1974: 196). O-europeu:tratou-de construir um aparato:te6rico para a explicagao da lin- sguagem_nas,célebres dicotomias saussurianas, Jo esteuturalismo-norteaneri ano se encarregou primariamente de um exaustivo trabalho descritivo, princi: ppalmente:como.estudo das inguas:indigenas, “uma tarefa de grande urgéncia, Segundo lari (2004: 77), que jé vinha sendo objeto de preocupagao desde a ‘écada de 1920 por parte de autores como Franz Boas e Fdward Sapit, ‘Osestuddos:descritivos reforgaram.o principio de plenitude formal,sustentan do que nenhum estagio da evolugdo representa uma forma de degeneragio da lingua (Sapiry-1969). Por essa razao, 0 compromisso com a tarefa descritiva era Proporcional, em grau de relevancia, ao compromisso de evitar a interferéncia do conhecimento acumulado com o estudo das linguas ocidentais indo-euro- elas. A orientacao subjacente a esse compromisso de que cada lingua tem sua Prépria organizacao gramatical foi, segundo Ilari (2004), reforcada pelas teses felativistas de Whort ([1957] 1997). A hipétese Sapir-Whort, formulada explicitamente por Benjamin Lee Whor! ((1987) 1997), tinha seus postulados geals desenvolvidos por Sapir, a tarefa Whorf praticamente se resumiu & busca de evidéncias empiricas com base na im fategoria de tempo da lingua hopi. ompromis tesco cm a natures nerentemente social a inguagem ‘A hipotese Sapir-Whorf defende que a lingua organiza a experiéncia de dada ‘comunidade-e, por conseguinte,-modela 0 mundo e-a realidade social. de seus fmembros. Isto significa que a lingua socialmente formada iniluencia © moda ‘como a sociedade concebe arealidade e, ao mesmo tempo, exerce uma fungao heuristicanarpercepsao:da-realidadesComo a linguagem exerce um papel ativo mo provesso de conhecimento, na medida em que suas formas predeterminam, ‘certos modos de observacio e de interpretagdo do mundo, nao existem duas Iinguas suficientemente semelhantes para serem potencialmente consideradas, ‘uma representacio da mesma realidade social. ‘Aatitude objetiva em relagdo aos fatos da linguagem assumida pela ling. tica norte-americana ¢ historicamente derivada da vertente relativista da antro- ppologia cultural, inaugurada por Malinowski. Segundo Durham (1986), 0 estudo de Malinowski realizado nas Ilhas Trobriand fez dele um inovador. A partir dele, {65 estudos sociais envolveram uma relacdo mais intima entre 0 investigador e 0 Objeto de pesquisa em funcio da participacsn direta de pesqisadar no cotidia- no social observado. No infcio do século:XX, antropélogos, como Malinowski; em contato com uma realidade diferente e ao mesmo tempo altamente complexa, reagiram contra as medidas avaliativas de seus predecessores nas ciéncias sociais, que descreviam culturas nao ocidentais justamente com a régua das culturas ocidentais. Essa ati- tude foi denunciada como uma visdo etnocéntrica que nao mais se sustentava. Fsse processo propiciou ocasiio oportuna para que se desencadeasse reago similar dos linguistas a0 modo tradicional de encarar as diferencas entre duas Iinguas ou duas variedades de uma mesma lingua. Com a insisténcia dos antro- Ologos na andlise descritiva de culturas diferentes em contomar os problemas de uma visio evolucionista vigente desde o século XIX, deixou-se de classificar algumas culturas ou mesmo linguas como se estivessem num estagio compara~ tivamente inferior, simplesmente porque nao se achavam associadas a avangos tecnologicos proprios de outras civilizagves ocidentals num estagio tecnolo- gicamente avancado. O:conceito de lingua ou cultura primitiva foi, portanto; enunciado como o, produto idieol6gico de. uma, visio-etnocénttica,,cujo,olhar Partia sempre da lente de civilizagoes tecnologicamente avancadas, © postulado fundamental da linguistica norte-americana apostava suas fichas {Ro principio de que cada sistema linguistico deveria ser descrito e analisado com ase em sua propria organizacao estrutural, sem qualquer apelo a comparagoes de Ratureza avaliativa com outros sistemas linguisticos. Esse postulado foi um resul- ado natural da posicao relativista da antropologia cultural do inicio do século. AAlém disso, os postulados de cientificidade, que caracterizaram as posi¢oes ssuimidas do outro lado do Atlantico, pela linguistica estrutural europela, em Tenhum momento, deixaram de garantir a devida equidistancia que o linguist ‘manter de seu objeto de estudos. 27 ‘A equidistincia ajudava a separar o estudo cientifico da linguagem, inau- gurado pela linguistica modema, do estudo normativo da tradicao gramatical Bemitida ao mundo ocidental pelos graméticos romanos (Weedwoood, 2003: 32-35), mas que, na realidade, remonta aos gregos ApolOnio Discolo e Dionisio Tracio. Favorecia também a tendéncia metodologica de nao se operar qualquer tipo de selec nos dados do objeto que deveslam ser investigados, o que deveria incluir tanto a linguagem comum, em seu registro falado mais informal, quanto ‘o registro escrito mais formal ¢ inclusive o literario. ‘Martinet (1972) traduz cabalmente essa preocupacao. Jé nas primeiras pagi- ‘nas de uma de suas obras mais difundidas nos cursos de Letras dos anos 1970, ‘ncontra-se uma formulagao clara desse principio, ao defender que a dificuldade de estabelecer tal distingao é equivalente 4 “de extrair da moral uma auténtica Gléncia dos costumes”. Para ilustrar a comparagao afirma que, como um estudo ientifico da linguagem humana, a linguistica € uma disciplina que “se baseia na fobscrvagio dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tals fatos, em. rome de certos principios estéticos e morais" (Martinet, 1972: 3). Recuando um pouco mais na linha do tempo, é possivel vislumbrar o mes- ‘mo tipo de preocupaciio j4 no préprio Saussure, ao se manifestar contrariamen- te ao estabelecimento de qualquer tipo de selegao no que entendia ser a matéria da linguistica. Com efeito, afirma Saussure que a matéria da linguistica deveria ser constituida por todas as manifestacdes da linguagem humana, quer se trate de povos sel- vagens ou de nacoes civlizadas, de épocas arcaicas,clssicas ou de decadéncia, considerando-se em cada periodo nao 6 a linguagem correta e a “bela lingua- gem", mas todas as formas de expressao (Saussure, [1916] 1977: 13) ssa heranca dos fundadores recebe uma atengio especial num manual pres- tigiado nos anos 1980, cujo autor se preocupa em reiterar esses,postulados Saus- surlanos, ao esbocar a dlistingao entre os objetivos da linguistica e os de uma sgramética convencional {.)contrariamente ao que ocorte com a gramética, la (a lingustca} nfo visa lima tinica lingua, mas se Interessa por fodas as linguasvivas ou morta, n30 importando que 6 ndimero de seus falantes se conte por millhoes ou por deze nas, nem o grau de desenvolvimento econbmico porventura alcangado pelas Sectecades que a falam (Lopes, 19R0: 29) Como um resultado natural da primazia absoluta da cultura greco-latina so bre 0 pensamento ocidental, em virtude do grau de desenvolvimento atingido pelo Império Romano, o latim acabou se fixando como modelo por excelencia ‘de lingua flexional, No comeco do século XVI, quando os Estados europeus co- ‘megaram a esbosar seu processo de consolidacdo, a busca de legitimaco para as {que se fitmavam encontrava no latim seus critérios de autoridade. Drocesso de atribuicio de prestigio cultural acabou gerando outros tipos a0 sertransposto para as linguas dos povos colonizadores, como o Comproisso tic com a naturezainerentemente socal da Inglés, o espanhol, o portugués, o francés, o holandlés, em relagao as linguas “ex6- ticas faladas pelos povos das terras conquistadas; algo pr6ximo ao r6tulo de bar. ‘baros que os gregos costumavam colar nos povos nao helénicos. Um forte precon- eto gerado por essa perspectiva etnocéntrica podria ter inspirado a afirmagao ide Haguenauer de que “o japonés frequentemente remedeia a auséncia de relati- I¥os culn vemprego do chamado processo de anteposig4o" (aptad Lopes, 1980: 29), ‘A abordagem descritiva de linguas sem tradigao escrita de povos indigenas da América do Norte, e mais tarde da América do Sul, forneceu evidéncias sufi- cientes de que algumas dessas linguas sto comparativamente muito mais “fle- xionais” que o proprio latim, o modelo, por definigao, desse tipo de estrutura, Sapir (1971) no poupa criticas ao modelo classificat6rio desenvolvido pela Linguistica comparativa e, principaimente, ao cardter naturalista que Schleicher (1863 apud Malmberg, 1974) a ele imprimiu. Ao discutir a origem da difusio de preconceitos desse tipo, Sapir (1971) considera que, antecipando-se a prépria perspectiva evolucionista, hé uum mito resultante do tipo de formagio humanis- ta vigente no século XIX, conforme aparece no trecho que serve de epigrafe a este capitulo: A vasta maiora dos tdricos lngusticos flava por suave linguas de certo tipo, cas vaiedades mats penamentedesenvovidseram oltim € 0 sre, ae eles tnham aprendido na meninice, Nao Tes fl dfch persuadvenrse de que tai inguis, que Ie ram fares, epresenavatn odesenvoivmen- to "mais alto, 20.qual a linguagem pode chegar,« que todos os outostpos sm simples deraus na marcha para esse "mimado” tipo flexonal. Tudo 0 Aueseconformava com os moldes do snsrt, do atim, do gego ed alemto tra acl comno indie de qvalque coisn de "epee" tudes dls diver era othado de ma vontae como qualquer coisa de fatho, on, quand tm, como uma aberragto custo, Or, qualquer asicaco que pata de valores preconcbidos ouquetusque sates esonde sentimental ava.asun poops condenardo como iets, Um lings que ns fla dopa tin de morfologa como 0 mas alto grau de desenvolvimento lngustico di idela de um zaologo que vse Yodo mundo organico conver ara a praugo do cavalo de corrda ou ds vaca Jeney (Sap 1971: 126) ingot base nesse ponto de vsta que, para Sapir, como para qualquer outto usta estruturalista.das geragScs scguintes, passowa-ser suficientemente'cla> fo-eevidente que cada tings, devidamentedotada de plenitude formal, dveria enfocada segundo a natureza de sua propria organizagao estrutural. Esse _Postulado envoive-o.abandono da posigio de que uma lingua deveria ser enfo- ‘ada mediante um padrao de reteréncia, geralmente uma lingua flexional, cujo ‘titério fundamental, de natureza extralinguistica, tem base na distribuigao de Prestigio cultural ‘Ao fazer um balanco da influéncia do estruturalismo na linguistica brasileira, (2004) ressalta que um dos saldos mais positivos foi justamente ter instau= Tinguistica formal 3 linguistca social rado a crenga de que a lingua portuguesa deveria ser tomada como objeto de Geserigho, atitude que contrariou em grande medida a longa tradicao normativa, 0s principios de pertinéncia, que mais viam a lingua como um sistema ima- nente do que ligado 4 comunidade social de seus falantes, provocaram repre- fentagdes confidveis do sistema fonoldgico e do morfol6gico, como se vé em Camara Jr. (1975). Além disso, a.adogan ele uma atitude descritiva desencadeou juma nova atitude emi telacio as variedades estigmatizadas, tornando-as objetos legitimos de anélise. ‘Aorientagao normativa conduz ao entendimento equivocado de que somen- te-a-variedade prestigiada € sistematica e regulat. Tudo quanto dela foge cons. titui formas corrompidas que sempre cumpre corrigis, Ja a orientagao descritiva permite descobrir naturalmente que as variedacles estigmatizadas nao tém wma festrutura ilégica ou ineficiente, mas € apenas diferente da organizacao disponi- velima variedade de prestigio (Ilari, 2004: 87), 1.2, Premissas para um enfoque social da linguagem Se. ¢struturalismo descritivo-teve-importancia fundamental para’ solidi cagio da linguistica como disciplina cientificaa importancia de seus postulados seestendeu para.o modo de ver as diferengas socioculturais;regularmente conse titutivas de qualquer sistemalingufstico. Aboliram-se as nodes preconcebidas de corregio e incorrecao, que eram paralcla aos conceitos de lingua desenvolvi- ddaede lingua primitivae, para seu lugar, deslocou-se o postulado de que nenhu- sma forma ou variedade lingustica € inerentemente superior a um similar seu em termoscriteriosamente lingu Levados ao extremo, esses postulados abriram caminho para novos enfoques do objeto da linguistica, um dos quais, a sociolinguistica-variacionista, impos postulado de que o bindmio variagdo-e-mudana é uma propriedade constitutl: ‘vada linguagem. Fsse novo postulado deveria er devidamente acrescentado 205 prineipios j frmados de simbolizacdo erepresentacdo da realidade,arbitraieda- de, dualidade estrutural, descontinuidade e produtividade (Lyons, 1987) Para chegar a essa visio social de linguagem, menos ecuménica que a sausst- sana, pode-se rastrear, na histona recente da sociolinguistica, o desenvolvimen- to de uma perspectiva sociol6gica de inguagem, o que demanda um retorno & formacio teérica do proprio Saussure. £ plenamente reconhecida a influéncia que Whitney exerceu sobre Saus- sure que, provavelmente, deve ter ocorrido durante a permanéncia deste na Universidade de Leipzig e Berlim, onde obteve sua formagio neogramatica (Koerner, 1991), Nos anos que Saussure passou em Paris, seu aluno que mals se tistinguiu foi Meillet, ue, por sua ver, teve como discipulo André Martinet ‘Compromisso teérico com a natureza inerentemente social a ae Be recdconaivo cn 95 ncabotpaasonnas eon Borges como ets canine oof nape nana Ban proceae ce mtg. I te gure concn na Cole Untenty deuce BI ox dota de Vcrrich e991 queconsuters ies Bins roms Conc 195) cto ego Soa Berra dunn se contexts insane por nt nha genealégica se fecha com o fato de que Labov obteve seus titulos BESS reed de Winch Pence, ws Mee Bete anim Vtyes inane, aun posse Bet iboraor ce ala vendre corsparincu sangeet SO ots eueecranidclngmnny eso Gooeecn eee cs cncreres se esas sass pa io Labov ({1972] 2008): A tinguagem 6... fato soca por excelenci,oresutado do conta sca "Be somo un on ma os ao uno das coma eve | senvolviment exstencia do grupo socal Vendy, 19211 1928-11 apt Koemer, 1991: 63; traducao minha). - sie aie: enfoque socialmente orientado, como o desenwolvido por Laboy, implica siderar um conjunto de premissas, que € frequentemente relacionado a fun- gnitiva da linguagem. Uma premissa fundamental esté contida na afirma- que todas as linguas fornecem a sens uswrios os mecanismos adequados eeitualizagao e a expresso de proposi¢des logicas, como relagdes de éncia, impticacao, conjuncao, disjuncao e outras. \¢40 entre niveis mais abstratos e mais concretos de representagio, nite 0s que se desenvolveram na tradicao gerativa, é particularmente eforcar essa premissa, considerando que as representacdes superficiais m usuérlos de diferentes varledades socioculturais teriam pouco a a Bide sibjocente de uma sentenga, determinada por suas representa- “Ateoria da linguagem tem respostas diferentes paraacmesmas questaes, prin- AA pamente no que concerne as relagoes entre linguagem, pensamento e cultura, on relagdes entre linguagem, : a c \guagem, p to e cult =ngas No-modo de representacdo do mundo. Fssa hipdtese explicativa, ©. Ao produzir uma modelagem da realidade, a estrutura linguistica ambém uma visio de mundo tal que o conhecimento de determinada ingustica formal 3 ingustica socal dvilizagdo sobre a realidade esté relacionado direta ou indiretamente & lingua {que seus membros empregam. ‘Na fase do modelo padrao da gramiética gerativa, as representacdes mais abs: tratas se confinavam com 0 escopo da estrutura profunda eas representacdes de saida, com as de estrutura-de superticie..Nessa etapa de desenvolvimento de sew prugiama de investigagao, Chomsky ji considerava que as linguas pouco se die. fenciam no nivel da estrutura profunda, em que se acham refletidas as proprie- dades bisicas do pensamento e as propriedades da gramitica universal. Isso nao implica que nao possam variar amplamente no nivel da estrutura de superficie, tuma ideia que jé estava na base teérica das gramiticas filosoficas do século XVIII ‘Como, na opiniio de Chomsky (1973), a inguistica estrutural nao lida com a nogio de niveis mais abstratos de representagao, ¢ facil deduzir que a linguistica antropol6gica nao chegou a derrubar as premissas da gramética filosética sobre a universalidade da linguagem. Nesse caso, as diferengas de visio de mundo nao passam de variagdes no nivel da estrutura superficial (Chomsky, 1973: 18-35). ‘A verdade € que nao importa por quais suportes tebricos 0 linguista enverede, © postulado de adequagao se mantém perieitamente valido: se as diferengas se situarem no nivel estrutural das linguas ou se as linguas diferirem apenas no ni vyel de manifestacao, toda forma ou variedade que se use para a expressao verbal projeta um raciocinio cabalmente [Ggico ¢ inerentemente humano. Esse pos- tulado desmascarou a crenga generalizada de que as variedades estigmatizadas, mpoem limitagdes cognitivas na forma logica dos enunciados, modo de ver que equivalia nitidamente a um preconceito social. ‘A segunda premissa consiste no postulado de que todas as linguas e varieda- des dialctais sto perfeitamente adequadas a todos 0s usos que delas fizerem os ‘membros .de uma:comunidade? © senso comum atribui certo grau de prestigio ou de estigmatizagio social, conforme a forma ou a variedade se aproxime mais ‘ou se distancie mais de um ponto de referéncia tomado como padrio ou norma. Generaliza-se a crenga de que ha correlacao entre aceitacdo social em termos do pa- rao estabelecido e graude adequagao da variedade como sistema cecomunicacao. ‘Acterceira:premissa bsica da linguagem,como.objeto.cognitivo consiste.na natureza altamente estruturada, regular e sistematica de qualquer uma de suas manifestagées. Nao é raro ouvir afirmagdes preconceituosas no senso comum, segundo as quais os falantes de variedades estigmatizadas omitem desinéncias, em qualquer lugar e a qualquer momento, Um bom exemplo esta na observagao ecente que Caetano Veloso fez na imprensa sobre o presidente Lula, comparan- o-0 a Marina Silva e Barack Obama: €€ Obama a0 mesmo tempo. Ela é meio preta, & cabocla, € ‘© Obama, ndo € analfabeta como o Lula, que néo sabe ado, grosseiro. Ea fala bem. (http//www.estado.com. /10 de novembro de 2009) ‘Compromisso teérico com a naturezainerentemente soci —_ _ Este servigo & para eu fazer. _ Este servigo € para mim fazer. ‘A-quarta premissa, que é conveniente discutir aqui, diz respeito a questoes eaquisicao. Aos 4-0u 5 anos de idade, toda crianga ja tera adquirido um siste= ma linguistico quase completo, mediante contato verbal com outros individuos, sewcontexto social, tais como membros da familia ¢ de seu grupo de pares. © grau de desenvolvimento da capacidade linguistica @ 0 mesmo para todas as ctiangas dlesprovidas de condic6es anormals, independentemente do tipo de spamento social a que elas pertencem: tangas Kikuyu normals no Quénia,indios quichua no Peru, ciangas de las se baxa em Washington, D.C, c eangas de dase media em Bevery Hil, Calta, todas parecem aprender sua lingua materna aproximadamente com ‘mesma media. Alferency,evdentemente, ¢ de que actanga hktu aren eo, aciancaquichuaaprende oquichua, a cianga de clase dla de Bevel Hills apendeo inglés padrao ea eriana de case Daina de Washington, D.C, aprende uma varedade do ings nao pao (1974 13 tradugio mi) Embora esse principio possa parecer bvio demais para um linguista, até a tada de 1960 era objeto de controvérsia e de polémica, sobretudo nos melos ueacionais. Com certa dose de desconfianga ¢ suspeisao, um linguista encara- firmages como esta: A proniincia e a articulacio, 0 vocabulrio, duragao da sentenga € 0 uso de ‘estruturas sintaticas e gramaticais de criangas desfavorecidas se assemelham & {ago da gramética do frances que Caetano Veloso parece desconhecer & 0 de qué, Rem MO NO registro culto formal, ha concordancia de numero entre os constituintes GOSN, sstiea formal 3 ngustlea socal Linguagem de crianga privilegiadas de um nivel etiio mals balxo (Raph, 1967, ‘apud Wolfram; Fasold, 1974: 14; traducao mina) Para um linguista, a interpretaco possivel dessa situagio € a de que tais crian- as simplesmente nao empregam a variedade padrao, embora a direcio arg Frentativa impressa pelo autor sugira uma equacio entre retardamento linguis- tico e deficiéncia cognitiva. 1.3.0 surgimento da sociolinguistica como modelo alternativo ‘Todos concordam que o principal marco para o surgimento da Linguistica modema e, a0 mesmo tempo, do estruturalismo, foi a publicagao do Curso de Tinguistica geral Saussure, 1916] 1977). © estruturalismo, criatura que tomou vida independente até da vontade de seu pr6prlo cxlador, surgiu do corte ope- tado por Saussure nos fendmenos heterdcltos da linguagem, ao projetar um modelo abstrato para seu estudo, abstraido dos atos de fala individuals, que tle denominou lingua, “um sistema que conhece apenas sua ordem propria” (Saussure, [1916] 1977: 31). Apesar do argumento saussuriano de-que a lingua:ésa parte social dalingua- sem, a-separacao entre sistema e-discurso, em, toda.atradigao-linguistica que se Segul-a-e35¢-ato. de ctiagio foi-ndo.6-mantidaj-mas-até-mesmo-talvez-apro- fundada, por pesquisadores, de-escolas:distintas.quanto-BloomfieldHjetmslev e-Chomsky. No-entanto,-afirma, Calvets(2002-12)pcoberto:desrazaoy-que'*as linguas nao existem semas pessoas que as falam,.c historia dle umarlingua‘ea historia cle seus alates’. Embore-Saussureidentificasze Iinguarcom-umarins- tituigdo social, o estruturalismo inaugurow tum recorte-que'se define justamente pela-recusa de levar em. conta’ 0-que a-lingua-temde social ourpelo menoso Eonceito de “social” em Saussure, limitado demas, confina-se com o de relagdes pluri-individuais (Calvet, 2002: 31). ‘Quandono final dadécada de1950, surgi Chomsky (1957) com seu Syntactic Structures, o recorte se manteve sob outra denominagao € sob nova direcao teon- a. Comeieito,o sistema linguisticoseenquadrou na moldura do.conhecimento intuitivo do falante-ouvinte, um objeto de natureza-psicologica ou cognitiva, ddenominado.eompetincia, com descarte-simultanee dos atos-de fala infinita- mente variéves.cvatiados, que, relegados ao conceito.de-desempenhosficaram destituides de qualquer importancia teorico-metodologica. Era esse 0 cenério quando, em maio de 1964, novas personagens emergiram. Reuniram-se 25 pesquisadores na Universidade da Califérnia em Los Angeles (UCLA) para uma conferéncia sobre sociolinguistica promovida por William Bright, que abriu espaco para o debate de uma grande diversidade de temas, todos ligados a relacio entre linguagem e sociedad, Participaram do encontro alguns pesquisadores, além do organizador, que se tomariam lie- ‘Compromisso teérico com a naturezainerentemente social i ————ae iam Labov, Dell Hymes, John Gumperz, John Fisher, rangas na érea, como Wil Charles Ferguson e outros. “© resultado do encontro foi a publicagao dos Prmceedings organizada por ght(1966)-com um texto introdutorio, publicado mais tarde numa coleta- ea também inaugural da nova rea entre nds com o titulo de As dimensdes da linguistica (Bright, [1966] 1974), Esse texto tratou de defini os manus no erior dos quais se fundaria a nova disciplina, 1 nao alongar muito o assunto, basta lembrar que, como nova area de os, a tarefa da sociolinguistica fol identificada, a época, com a anélise da gio de covariacao sistematica das variagOes linguistica e social, 0 que poderia aduzido pelo postulado de que, na verdade, a variagio nao € livre, mas ada a diferencas socials sistemticas (Bright ((1966) 1974). “Segundo entende Calvet (2002), o texto: de-Bright ((1966)-1974) tem hoje valor histérico de registrar que o encontro de 1964 marca 0 nascimento da cia, em oposi¢ao a gramatica gerativa de Chomsky, que estava se impon- 10 0 paradigma dominante, algo que Kuhn (1975) chamaria de “ciéncia I". Na visio de Bright ([1966] 1974), todavia, a sociolinguistica s6 pode cebida como uma abordagem anexa aos fatos de lingua em complemen- 0 4 propria linguistica formal, & sociologia e 4 antropologia, jizer, como Bright [1966] 1974), que a sociolinguistica trata da relacto de o sistematica entre lingua e sociedade é fazer uma afirmacao correta € smo tempo excessivamente simplificadora. As dltimas trés décadas assis- M a0 interesse cada vez mais crescente pelo estudo da linguagem em 50 no texto social, mas os diversos enfoques que se abrigaram sob o xétulo sociolin= guistica vem cobrindo, desde o inicio, uma grande variedade de assuntos. Uma das dreas lida com a interacdo da linguagem ou situacoes dialetais com stores socaisem grande escala,associados linguagem, como decauéncia e “Sslimllaco de linguas minontarias, desenvolvimento de blinguismo em nacoes socialmente complexas, planejamento linguistico em nacoes emergentes. tipo de enfoque, comumente denominado saciologia da linguagemn, ligado janeipalmente ao nome dedoshwa-Fishman, era, em sua criacio, umvramo das Slenias sociaisyina medidarenv que encarava os sistemas linguisticos,como:ins® Humentais em relagao as instituigoes sociais mais amplas. issa visio se alterou ©-hoje-emsvirtude. da necessidade. que.os lingulstas se impuseram.de Panag, Centica, no periodo de clncis normal, equivale&atvklade de sesolugso de Babesisentencido esse termo a patrde uh ci Mamet gerblema fem uma solute Nese sei, val Munidade lentica “adquire igualmente um citrio para a excotha de problemas que, Marge 2 28, podemosconsrar como dotados de uma solusso possi” — °°» —— “tas de politicas linguisticas. Outra rea de estudos, denominada etnagrafiasda:comunicagéo, interessa-se “do-processo.de,comunicagaoaEsse ramo de estudos fortemente ligado ao nome de Dell Hymesdesemboca hoje em outros cursos d’égua igualmente caudalosos, ‘como anilise da conversacao e a sociolinguistica interacional. {Uma terceira rea de interesse, que poclemos apropriadamente chamar de so- ciolinguistica variacionista, -tardo exame da lingua no contexto social como solugao de problemas proprios: -dateoria da linguagemeDiferentemente do modo acess6rio como Bright ((1966] 1974) enfocava a relagio da sociolinguistica com outras dreas de investigaco, para Labov ((1972] 2008), -relayau-entie-linguase:sociedade;veomo veremos no préximo capitulo, éencarada como metodologicamente-indispensavely n80 como mero recurso interdisciplinar. 0s préximos capitulos tratardo mais da sociolingufstica variacionista do que das outras abordagens, cujo aparato metodolégico foi esbocado muito ligeira~ mente aqui. As relagdes entre essas trés grandes reas serdo abandonadas agora para retornar somente no capitulo 11, sob nova diregao do olhar, que tentaré, como num corte panoramico, estender a compreensao das relagdes entre lingua e sociedade.

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