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A ORDEM DOS SIMULACROS Ao), que tinham seu estilo e seu savoirfaire caracteristicos. E 0 prazer consistia entao primordialmente em descobrir 0 “natural” no que era artificial’ conta. feito. Hoje, quando o real e o imaginario sao confundides numa-mesma tota. lidade operacional, 0 fascinio estético € ubiquo: é a_petcepcao subliminar (uma espécie de sexto sentido) da trucagem, da montagemsdocenarid, da superexposigao da realidade a iluminagao dos modelos ==-nao nals um espa go de produgao, mas uma faixa de leitura, faixa de codificagio’e decodificagao, faixa magnetizada pelos signos —, realidade estética, nao mais pela premeclita. ao e a distancia da arte, mas por sua elevagao ao segundo nivel, a segunda poténcia, por meio da antecipagao e da imanéncia do codigo. Uma espécie de par6dia nao deliberada paira sobre todas as coisas, uma espécie de simulagao tatica, de jogo indecidivel ao qual adere um enlevo estético, 0 mesmO da leitura e da regra do jogo. Travelling dos signos, da midia, da moda @ dOs modelos, do ambiente cego e brilhante dos simulacros. Ha muito a arte prefigurara essa reviravolta que 6 hoje a da vida cotidiana, Cedo a obra se duplica em si mesma como, manipulagao dos signos da arte: supra-significagao da arte, “academicismo do significante”, como diria Levi. Strauss, que a introduz verdadeiramente na forma-signo, E nesse momento que a arte entra em sua reproducdo indefinida: tudo 0 que se duplica em si MSM mesmo a realidade cotidiana e banal, cai ao mesmo tempo sob 0 signo da arte € se torna estético.O mesmo acontece com a producao, de que se pode dizer que entra hoje nessa duplicagao estética, nessa fase em que, expulsando todo contetido ¢ toda finalidade, ela se torna de alguma maneira abstrata @ 1&0 figurativa. Exprime, entao, a forma pura da Produgado, ela mesma assume, COMO a arte, valor de finalidade sem fim. A arte e a indiistria podem entao OCA Os Seus signos: a arte pode tornarse maquina reprodutora (Andy Warhol) sem cessar de ser arte, pois a maquina nao passa de signo. Ea produca0 Pode perder toda finalidade social para se confirmar © se exaltar enfim nos S8NOs prestigiosos, hiperbdlicos, OS MMe SA os grandes complexOs industriais, as torres de 400 metros de altura ou 05 mistérios em forma de nimeros 40 PNB Logo, a arte esta em toda parte, visto, que ra no aMago da realidade. A arte, desse modo, esta morta brant: pe ne a Pr6pra realidade, inteiramente impregnac’ reams P © sua Propria estruturalidade, confundius sua propria imagem. Ela sequer continua a ter tempo de funcionar com? (ea: lidade. Ela nem mesmo continua a ir aléry da ficgao; ela capta tod? sOnho antes que ele funcione como sonho. Ver * icolrénica dessesi aaa seriais, sem contrafagao, sem sublimag peticao — quem dira onde esta a realidade que simulam? Eles tampouco contituam a reprimir 0 que quer que seja (esse 6 Motive ae ai a gimulac4o Se introduz na esfera da psicose, se se Preferir): 65 fe a : cessos primanas sao nele abolidos. 0 univetso coo! da digitalidede cee ees erator © da metonimia. O principio de simulacao aproveitng. oe OO Me de real Pie tanto do princip! dade como do principio de prazer. eR © artificio se encont Nao s6 porque morreu Sua tigem esquizofrenica ‘0 possivel, imanentes a sua Fe 98 Kool Killer ou a Insurreicao pelos Signos oi na primavera de 1972 que comegou a arrebentar em Nova lorque um vagalhao de graffiti que, partindo das paredes, muros e cercas dos guetos, terminou por se apoderar do metro e dos Snibus, dos caminhées e elevadores, dos corredores e monumentos, cobrindo-os inteira- mente de grafismos rudimentares ou sofisticados cujo contetido nao é politico nem pornografico, compondo-se apenas de nomes, sobrenomes retirados de gibis underground: DUKE SPRIT SUPERKOOL KOOLKILLER ACE VIPERE SPIDER EDDIE KOLA etc., seguidos do ntimero de sua rua: EDDIE 135 WOODIE 110 SHADOW 137 etc.,ou de um ntimero em algarismos romanos, indicando filia~ ao ou dinastia: SNAKE | SNAKE II SNAKE III ete., até cinqtienta, com o aumen- to do nimero de grafiteiros que tomavam 0 nome, a designagao totémi ‘Tudo isso 6 feito com 0 Magic Marker [tinta em spray] e outros artefatos que permitem fazer inscrigdes de um metro de altura, ou mais, em toda a ex- tensao de um vagao. Os jovens entram a noite nas garagens de dnibus e de metro, vao ao interior dos veiculos e se soltam graficamente. No dia seguinte, todas as linhas cruzam Manhattan nos dois sentidos. Apa: e os desenhos (0 que 6 dificil), detém-se grafiteiros, prendemse grafiteiros, proibe-se a venda de sprays e outros artefatos — isso em nada os afeta: eles os fabricam artesanal- mente e recomegam todas as noites. am: O movimento hoje ja acabou, ao menos com essa violéncia extraordinaria Ele s6 podia ser efémero, tendo por outro lado evoluido bastante em um ano de historia. Os grafitti tornaram-se mais intelectuais, com incriveis grafismos: barrocos, ramificagoes de estilo e de escola vinculadas com os diferentes gru- pos que agiam. Sao sempre jovens negros ou porto-riquenhos que estao na origem do movimento. Os graffiti so especificos de Nova lorque. F m outras cidades com grandes minorias étnicas, encontramos intimeras paredes e muros 99 A ORDEM Dos “SIMULACROS pintados, obras im, Provisadas e ¢ Cos graffiti, mas: pou" ae itico, Oletivas de Contetido étnico:politic: aS 28 OS Nasceram depois .da Se me 970. Ofensiva selvagemi eae mudou de conterido e de ean e Mais como lugar de poder mca eda Poder terrorista da midia, dos sig A cidade © a0 mesmo tempo um ¢ homogeneizado, © da indife ena + Urbano, 6 alizado- paco neutral g » dos guetos : Segregacdo crescente ps & © espa? rerlas faixas etarias ta cotidiar a ide Pratica, cad. Tenga e da ja instante da vi >yminado- igNos, a um espagotempo dete res" "nitro das, cidad ano: um ime © reproduz ™ profundid » Pela destruig a zontal exp! les nao passam wan: de nso centro de triage ‘mics nao s6 em termos. ee 30 dos lade, por meio da ramific 7 0 simbélica das relagées sociais. >6P! tical da cidade, a imagem do “ira dimensio d; © do des, do urb; 9 Sistema g 0 do ia economia politics ad Mantelamento de toda o poder arquitetura nem © urbanism pela eco” 8 desse novo rumo tomado pe i Sao a Semiologia operac ional dela, ! ©! Driotitatiamente © lugar de Produgao e de real yrioritatie® Concentracio w ds °xploracdo industriais, E. é tole ae © &X€CUCHO do Signo como de uma sentenga de ye ie a dade das Paredes © muros vermelhos das oe “38a Cidade, ja ga inscrevia, no proprio & me 5,4 Negatividade e Wea fabrica, ¢ omo modelo de s a cl SaPareceu, mas Cede lugar na estratégia geral, ealiz igo. A Mattiz do urbano jd nao é a da aa a de trabalho) eles mesmo Ma. Eles Mercadoria, da Mente o lugar d ao 4 10,u “a de traball da forga de t scializa dade aga? Mas a q ile 4 realizagao de uma di transf Ormou-se @ mM semiurgia mate 0s, $a sidades, Mlalizado nas novas cid 4n 05 : igoes/sign * Necessidades @ das {ung if das nig defin * tealizado na base de uma syeid »5 comutaY *Ha2er, jogo, cultura a ~ termos comm 360 homogenes definido como and pess? “na se une ao Facismo, porque jogar a al em 440 gueto com bi i rat ase numa definiga' ’ loo ~ Kool KILLER OU AT ‘AQ PELOS SIGNOS URREIC nada di ifere de 5 nomogeneiza-las numa cidade nova com base numa-definigao funcional de s k Lara Ua eae de uma s6 e mesma logica: XIX; 6 o pol " nao 6 0 poligono politico-industrial que foi na. altura’do século, Tepente de mee dos signos, da midia, do codigo. Sua verdade deixou de gueto fed nana lugar geografico, a0 contrario da fabricé,ou.mesmo do Parte. Eo aisle, Sua verdade, o encarceramento na forma/signo, esta em toda Sumidos, dos i televisdio, da publicidade, o gueto dos consumidores/con- todas as tah eitores lidos de antemao, dos decodificadores codificados de 2 jrios/usados do metro, dos: animadores/animados das loras di le lazer etc. Cada : r etc. Cada espaco/tempo da vida urbana é um guelo, © todos €std0 conecte Passa Saipan entre si, A socializagao hoje, ou melhor, a dessocializacao, Producao, a. a ventilagao estrutural através dos miltiplos cédigos. A era da a da mercadoria e da forga de trabalho, equivale ainda a uma soli- 5 — é nessa socializagao, em latieda lade ae até na exploracae ; mpelo ore pri ; 5 Natia. Mas ess pelo proprio capital, que Marx funda sua perspectiva revolucio- ssa solidariedade historica desaparecet solidariedade de fabrica, indiferentes sob © signo da ymportamento inscritos de bairto e televisao ¢ Rs classe. Agora, todos sio separados em todo Ju - automdvel, sob o signo de modelos de co Tespectivo ely ha midia ou no tragado da cidade. Todos alinhados em seu 680 orque: 40 com modelos diretores. modelos de simula- individuos ; mesmos modelos. Ea era dos tria do codigo permanece fixa voda parte no tecido urbar lirio de identifica a aps Todos comutaveis como ess centtalizada o mone varidvel. Mas a geome NO, que 6 a . oo monopolio do cédigo, difuso em Podese ce verdadeira da relagao social, Nraliza @ ieee que a produgao, a esfera da pro! Mereado, 0 g acaba a relacdo historica entre a cidade e a produ¢ la mercadoria o sin ¢ sde prescindir da vila ‘operaria, produtora, espaso tempo ae a de mercado. Ha indicios dessa evolucae "eproducao, pode prescindir do urbano como espacorem™ do codigo ¢ da , porque a centralidade do codigo éa pro a n- \dugao material, se dese © para 0 pria definigao do poder Jabuta hoje essa om que jos elemen- E, porta Sica politicamente_essencial aquilo €¢ 08 num corer forma nova da lei do valor, comutabilidade total eStrinitalivatigiy funcional, cada um deles s6 vindo a ter sentido como termo een semundo o codigo. Por exemplo, 0S gralfitl ae ano, an ical nessas condigoes € Na verdade dizer a principlo Existo, Te vOlta da ide > na rua tal, vivo aqui ¢ agora”. Porém isso ainda seria apenas Calidade pron, ntidade: combater 6 anonimato eivindicando um nome uma eee serene” Tonge: ao anonimato NAO opoem nomes, “Tuma rai Eles nao desejam sair dessa combinatoria para reconquis- indetermin, entidade impossivel de qualquer maneira, mas para voltar a CAO contra o sistema — converter a indeterminacao em extermina- $40, R, éplic a, reve : a “Teversio do codigo de acordo com Sua propria | Sou ful a revo ogica, em seu 101 ~~ —=—— ee ee ——_—— A oxpe ea 'M DOS SIMULACROS Proprio terreno, e ahdo-o NO com uma vitéria diante q irreferencial, lele, porque ultrapas es f dizer GUY CRAZY CROSS 136° aa datcpat nada, e sequer 6 um nome proprio; 6 uma matricula sae orig es. Esses termos nao tin hens sunscritos uadrinhos em que estavam co como © bara ser projetados na ane. sinté » COM interjeicao, co, i de toda Hae or qua i mento radical inapreensivel van a 'S Por sua propria pobreza eet nem nit lacdo, e também nao denotam 5 aALeIG de "aco, eis como escapam ao PI esteral ignificantes Lazios, irrompem oo dissolvem por sua mera presenga. : jade, s\ COMO o gueto 6 sem intimidac sa troca cole 5 reivil tiva. O que esses a aa 1.4 Personalidade, mas a exclusividad if como s® A da gangue, da faixa etaria, grupo ou da etnia, sae! vocative ® € pela fidelidade absoluta a ae a forma gibis underground. ae a cada estrutura social, que Pe otidatie \de privada, abalando ee nomes Na abstrata e uni ; quer discurso Organizado, Inedutive toda interpretacao, a toda conot guém: nem denotacao Sighificagaio 4 arsal. Esst Sica: $8 imbdlica: Ma verdadeira carga ne go ano” S, entregues definitivamer ‘eine de eles sao como que os sejam, na? © se trocam,embora nao S 4 IS le de ninguém, se sentido, a > um ritual simbdlico e, apie rios, 4 © todos 0 signos Midiaticos e publi 0 ) mes >, NS pared Muros d; use de festa a Propdsite q te Urbano seria e momo. Mas ela nao pa: Simulacro de atrativo © de Calor, e| objeto de um, las nossas cidades, de ambiet encantamento, Fa ‘4 publicidade: sem ela ~ ao fria: ssa, em verdade, de animate et ‘4 NAO se dirige a ninguém re. gin dlc Noma nem ¢ letiva, ela nao cria rede siD a a mest ade 6 ela ™ © 4 Sustentam, a publicidade € dos © Ncionais fej ificagao, sodifice itos para ser decodi jes, des alidad es espago sem qualid: jutores proc um muro a separar a da sick © Signos. Corpos sem 6rgai rat “ChUzam o§ fluxos canalizados. Os 9 co 0 pano Oro. Eles tey ‘am © espago urk A pair? ci | $80 uel ‘4 parede, esse ou aqui ~— SOL Kinane OU A INSURREIGAO PEO: Que assume vida ice meio deles,que volta a ser territorio coletivo E eles nao se a0 gueto, eles exportam 0 gueto para todas as artérias da cida- adeiro gueto do mundo ocidental. spécie de e, inva »Ivadem a ci m a cidade branca e ela é 0 verd inrompe na cidade, uma le, os graffiti constitufam até agora ©. » vergonhosa, rept s paredes € MUrOS ‘om os Ss graffiti, é 0 dos si an 0 gueto lingiiistico que ignos. Na sinalizagao da cidad Subrr hundo — ida subr 5 Mida, dos mic mundo sexual e pornografico — a inscn ee mraneita wes e terrenos baldios.S6 haviam conquistado as 2 Parede stds & tate slogans politicos, Pre pselitis signos plenos para 0s quais pear enquanto tal Lee © a linguagem ¢é um meio tradicional. Eles nao visam ae vid m & funcionalidade dos signos endiianlo tal. Somente; aa ) de 1968 na Franca golpearam dessa y muros a uma selvagem aboligéo. AS ,de como ie idade,a uma pee suporte, Jevando as paredes & ricées © dese stantaneidade de inscrigao que equivalia a sua nhos de Nanterre eram bem esse desvio da pare Abeenes " 1 ¢ funcional do espaco, essa agao q s poderes pliblicos foram espertos © suficiente para Nao logans politicos de Jeles, Nao ha necessidade de repre saredes € muros a sua je Estocolmo: liberda- Signif icante aniimraie 2, COmpantimentagao terroris paga agA-los . nem faz Mas. n fazer repinte lassa, og ¢ er repintar as paredes ¢ muros: tratase dos ante ‘artazes que st Propria midi a que se encarregaram ¢ aoe fa oe midia de extrema esquerda, devolveu 25 F on Sabe. : le ro da contestagao 4 grafitar a0 lado desta vio publicitério. Limitada POT propria midia: metro, americana contestar spate dai, do mu ei louve igualmes ; tee superficie, interdito de vem bone, porém ite a ofensiva efemera do dé = nina, cartazes e usando os caminhos abertos pela a Klevisio a ee de Jerry Rubin e da contracultura hee Porém ape oe politico de um grande meio de comunicacae e dito, penas no nivel do contetido, e sem alterar 0 melo propria artérias urbanas e os Pele la prime era a; ra vez com os graffiti de Nova lorque, 25 | liberdade res, Moévei oo Mees foram empregados com tamanha envergadura, com tl Sra a midia foi atacada em sua é sso justamente poraue os az a sua forca-E nao Supo fey as, sobre! a, isto 6, em retudo, pela primeira vez propria 1 sel oe uu modo de produgao € difusao Ei alfiti nao tén vm. Eo vazio que | neontan mntetido, nao tem mensage uma recessao de é Por acas ; asc comer 80 8 ofensi ide letidos.O qu iva total sobre a forma set ompanhada de , Baginias er aco : em de uma espécie de intuigao revolucionaria ade que a ag no dos Jos significados politicos ma ser desmantelado. ffiti. Eles nasceram da essa Tepres- Ole gia profund Sigy hifi ‘aNtes ¢ : de que Assim, e: jue af o sistema € vulnt rey ‘Pressao ¢ aj nao funciona no nivel ¢ sravel e deve tica dos gral sclarece-se se a significagao poll tos. Sob 0 assédio d So, asm é ae fevolta s¢ = stacdes urbanas nos gue n » dese A d ira, b sdobrou: numa organizagae politica marxistareninista pura », e, de outro, nesse processo cultural Selva CoM Con E no dc ger doutrinal, de um lade gia, sem conteddo. Uns do os graffiti de fol mia regressao para 0 radicalizar no 5, sem ideol jonaria, tachal ) implicou UW! ayolta a Se Nn no nivel vel dos signos, sem objetiv Ver Rot aquel 1a verdadeira pratica revoluc Clore" That ala-se do contrario: o fracasso de 197 avis ISM > polit ic 5 tradicional, mas também obrigou 2 T° 108 (A ORDEM DOS SIMULACROS. verdadeiro terreno estratégico,o da manipulagao total dos codigos e das signi- ficagdes. Logo, nado se trata de forma alguma de uma fuga paravos signos, porém, ao contrario, um extraordinario progresso na teotia eha’pratiea nao estando esses dois termos, precisamente, dissociados aqui pela organizagao. Insurreigdo, irrupgado no urbano como lugar da reproduicaixe. do codigo — nesse nivel, nao é mais a relagao de forgas que conta, porqiie ds signos ja nd0 funcionam com base na forga, mas a partir da diferenga, sendo, portanto, esta ultima que deve ser atacada — desmantelar a rede de cédigos, as diferengas codificadas pela diferenga absoluta, incodificavel, contra a qual 0 sistema vem se chocar e se desfazer. Para isso, nao se precisam de massas organizadas nem de uma consciéncia politica clara. Basta um milhar de jovens armados de tintas em spray para baralhar a sinalética urbana, para desfazer a ordem dos signs Os graffiti recobrindo todos os mapas do metrd de Nova lorque assim como 0S checos mudavam 0 nome das ruas de Praga para desorientar os russos: trata -se da mesma guerrilha. Apesar das aparéncias, as City Walls, as paredes & Mutros pintados, nada tem que ver com os graffiti. Sao, por outro lado, anteriores a estes tiltimos, aos quais sobreviveram. A iniciativa dessas paredes e muros pintados vem de cima, € Um empreendimento de inovagao e de animagao urbana le gOes municipais. A City Walls Incorporated 6 uma organizacao fundada em 1969 “para promover 0 programa e os aspectos téc icos, das paredes e muros pintados’ Orgamento coberto pelo Departamento de As: untos Culturais da cidade de Nove lorque e por diversas fundagdes como a de David Rockfeller Sua ideologia artis tica:A alianga natural entre os edificios ¢ a pintura monument al”, Seu objetive “Oferecer arte ao povo de Nova lorque”. Ou ainda © projeto de pamnéle artisticos (bil-board-artproject) de Los Angeles: “Este Projeto foi implementa para promo” ver representacoes artisticas que empreguem 6 meio billboard no ambiente Ub no. Gragas 4 colaboragao da Foster e da Kleiser (quas grandes pee as de publ cidade), os espagos ptiblicos de colocagao de cartazes torn: fe in vitrines de arte para os pintores de Los Angeles. Eles criam um aio at oe tiram 4 arte do circulo restrito das galerias e museus” ' Claro que essas operagdes 40 confiadas a Profissionais, artistas agrupados em Nova lorque num consdreio. Nenhuma ambigitidade cai vse proprit- mente de uma politica ambiental, projeto urbano de ; cidade ganha com ele, e a arte também. Porque ne irrupgao da arte “ao ar livre”,na rua,nem a arte Softe esse dest sn cupitalo a cidade. E a cidade inteira que se torna galeria qe “ee sscobte todo um espaco de manobra na cidade. Nem yma nema mudada; a tinica coisa que fizeram foi trocar sexys ae bssaalani “Oferecer arte ao povo de Nova lorque!” Racy Privilegios. de SUPERKOOL: “HA quem nao goste disso, ¢ que fizemos 0 movimento de arte mais forte evado a efeito com subver” possivel: trat , Brande envergadura — M a cidade explode Pe com arte, 6 a arte que rede estruture a sonra a comparar esta formula CO”, 5 js Ara, Mas gostem ou nao, foros ™ Para atingir a cidade de Nova lord? 104 KOOL KILLER OU A INSURREL ‘AO PELOS SIGNOS Ai reside toda a diferenga. Certas paredes ¢ muros pintados s4g-bonitos, mas isso nao tem nada que ver. Permanecerao na historia da artepor tersabido criar espacgo nas paredes e muros cegos e nus apenas por meio, da dinha.e da cor — 0S mais bonitos sao sempre os que criam ilusao de-6hiea, que recriam uma ilusdo de espaco e de profundidade,“ampliam a atquitetura por meio da imaginagao”, segundo a formula de um dos artistas. Mas pfecisamente af esta ‘© seu limite. Essas paredes e muros fazem a arquitetura entrar no jogo mas nao afetam as regras deste. Reciclam a arquitetura no imaginario, mas lhe conser- vam © sacramento (do suporte técnico a estrutura monumental, chegando até ao seu aspecto social de classe, porque a maiora das City Walls desse tipo sao da parte branca e civilizada das cidades). Ora, a arquitetura e o urbanismo, mesmo. transfigurados pela imaginagao, nada podem mudar, por serem eles mesmos meio de massa; e até nas suas mais audaciosas concepgées, reproduzem a relacao social de massa, isto & deixam coletivamente as pessoas sem resposta. Tudo o que esta ao seu alcance € animar, participar, fazer reciclagem urbana, projetar no sentido mais amplo. Quer dizer, simulagao de troca e de valores coletivos, simulagao de jogo e de espagos nao-uncionais. 0 que fazem os territories de aventura para as crian- Gas, 0s espagos verdes, as casas de cultura, as City Walls ou as paredes e muros de contestacio, que sao os espagos verdes da palavra. Os graffiti, por sua vez, nao se importam com @ arquitetura, eles a sujam, eles a esquecem, eles a transpoem. 0 artista mural respeita a parede como respeitatia 0 quadro em seu cavalete. Os graffiti vo de uma casa a outra, de uma a outra parede dos imoveis, da parede acima da janela ou da porta, ou do vidro do mettd, ou da calgada, ele transgride, incomoda, sobrepoese (a sobreposi¢ao equivale a aboligao do suporte come plano, assim como seu ultrapassamento equivale & sua aboligao como moldura) — seu grafismo é€ igual a pervers que ignoram o limite dos sexos e a delimitagao a, a fi > polimorfa das criangas * S Zonas erdgenas. Por outro lado, 6 curioso que os graffiti voltem t das paredes e muros e dos pedagos de parede, ou dos trens do metro ou dos 6nibus, um corpo, um corpo sem fim nem comego, inteiramente erogeneizado pela escritura como 0 corpo 0 pode ser na inscrigao primiti da tatuagem. A tatuagem é feita no corpo fazendo dele, nas sociedades primitivas, associada a outros signos rituais, aquilo que ele € um material de troca simbé- lica — sem a taltuagem, assim como sem as Mascaras, 0 corpo so seria aquilo que €: desnudo e inexpressivo. Ao tatuar as paredes e muros, SUPERSE SUPERKOOL os libertam da arquitetura eos enttegam a matéria viva, ainda social, ao Corpo mével da cidade, antes de Ihes set impressa a marca funcional e institucional Chega ao fim a quadratura das paredes e muros quando todas elas S40 tatuadas como efigies arcaicas ‘Termina 0 espago/tempo repre ssivo dos transportes urbanos. quando os vagoes do metro passam como projéteis ou hidras vivas tatuadas até os olhos. Algo 4a cidade se torna tribal, parietal. anterior 4 eseritura, com emblemas bem fortes porém desprovidos de sentido — iclsao na came de signos vazios qUe nao proferem a identidade pessoal, 105 _ = Roane A ORDEM Dos sintuLac ROS Mas a inicia world orgy | C40 © a afili illing prophed 10 de grupo:*A biocyberneticss cima! rnétic; Profecia auto-reali adora. sate Te? ae ‘ssionante Ver isso ser langado sol ec ¢ vidio ‘ lominada Pelas duas torres de aye to do sistem is do poder“absolu dos cos forma 5 Etnicos nte, aftescos murais dos guetos, obras de ae e politicamet “spontaneamente que pintam eles Mesmos paredes e muros.Soc O impulso 6 10 dos gre Se de pared gels: ; selvag 5 muros a ie eles ado, t “ cuititistracao urbana, Sau eee unidade Centrados eg, ‘mas Politicos, numa mens; gem revolucionari aa ‘a, a soll i Obrimidos,a Paz mundial, a Promogao Cultural da comunidade trétio dos oa dade, raramente 5 poenela © a luta aberta Em suma, ao iy Walls, que S° am eles tam yy, i Mensagem. E, ao conttrario das City Wal sempre insta Métrica oy Surtealista, esses afrescos tem qe CeNcontramos a arte de aqui a diferenga entre de igaaiva. 2 ultrapassou a ingenuidade nente“me Nido ideol6gico mas Seat 30 ae ‘40 Seja miiltipla, do desenho ieee ov * UtOconsciente ay estilo de Douanier 7 s lutas pole asimples imagem de Epinal ilustiacao sentimental da’ eg rele 5) Seia como for g ra MaCultura que nants tem de undergour po oprimié amiculada sobre 4 fomada de conseiany ‘2 Poltica e cultural do ee outros 1 ambEM Hesse cage algumas parades o mntos so, bonitos neira um ie, *Netio estéticn Poder ser usado é de certa ios, eles lesmo Selvagens, Coletivos, andnimos, em Pictorial, Mesmo qu “OM muita ray COMO tals, & dessa Museifj 5 Nesse. Ca »We hd muito , ato P ara articular a ent ee ecorallva, bidez tomarse obra dece vale cere ‘| e,& a arte, © ge a ate rotege a0 64 lade nao pi de noe tanto, sua ican é a matica repressio Cee aa IS ofensivos, mais rad asartistice” 40 transideologicos a : © muros negros e Cece i Virtualmente uma be no et all antistica), os graffiti, qu orige™ a toda referencia, a toda vem uma mensagem nula sprio Stes duvidam do eee "Cacao pela rapida destruigac a Munic ipalid, Imagem do Ueto, No ® S40 alvo de uma Sisten e “WNe OS graffiti sic Mai by © © Sobtetudo, « ASC eles , andl? 53 foram ot odende -jal) S Significam proced o polici eto (afora a repressa' —_——- “KOO! KIER OU A or ROU A INSURREICAO PELOS SIGNOS ree so asimilados como arte — Jay Jacobs:“Uma forma paiva "Os vagdes munitaria e nao elitista do Expressionism Abstrato”. Ou.entao: Série de its wam trovejando, uM apos 0 outro, pela estagag-como yma da arte”. F Pollocks percorrendo ruidosamente os coredores da. historia pelos ee se de “artistas do graffiti” de “irrupgao da arte popular” ,criada CSc aa el ag eal dias manifestagdes importantes € carac Rossa culture anos 1970” etc. Sempre a redugao estética, que € a forma da 2Ele f@ dominante i admiracao) on interpretados (e falo aqui de interpretagoes das mais cheias de le incon termos de reivindicagao de identidade ede liberdade pessoal, inumano” Fates Sobrevivencia indestrutivel do individuo num ambiente $4, que pan ae Cunliffe no New York Times) Interpretacao humanista burgue- de, Gantitte do nosso sentimento de frustragao no anonimato da cidade gran- Teal, ew. vivi ainda: “Eles dizem [0s graffiti dizem]: EU SOU, eu existo, eu sou Mora em See Dizem: KIKI, ou DUKE, MIKE ou GINO esta vivo, val bem e€ romantismo ext lorque”. Muito bem, mas “eles” nao falam assim, 6 © Noss todos nos 5 existencial burgués que 0 faz, € 0 Ser impar e incomparavel que tem berecusitncg esse ser que é esmagado pela cidade. Os jovens negro: nao ua eis idade a defender, eles defendem de uma vez uma comunidade. CooL, ae tisa_ ao mesmo tempo a identidade burguesa @ © anonimato, SUPERS a SUPERSTRUT SNAKE SODA VIRGIN [FRIO. COCACINA?) SIOUX. exc. JTCURA?) SERPENTE SODA VIRGEM] __ 6 preciso ouvir essa litania €88a litania subversiva do anonimato,a explosdo simbélica desses nomes de Suerra No coragao da metropole branca 107

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