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Weerotar Corker do Fou ie Chia « Cale Ets Excatve Corded de Prog lo Aleta Geet oat Henig abn de Pasa Myson Dashes etn Bua de Mates cia Cees fas Camis loa Beanie do Holds (Psd, (Caos Lesa, eras Lob Carin, Flom Siting, ites Veto, Marpnds de Soman Neve Beatriz. Sarlo CENAS DA VIDA POS-MODERNA Intelectuais, arte esfdes-euleure sna Argentina adugio Séigo Alcides Edlicora UFRJ I opi © by (9 camps Cars pts ape Anion SA | Feta Gace iba pula ide | cna Tae BRS Sumario Com i pl met: a6 sesame hpi ek ag, Sl ie — Ro es Eon UE, W598 Pogues 7 ig 3h =O Tinka Capitulo L-Abundiacia epobrera 13, 00 wnat Cidade 13 Ssreiee Merce 22 Jovens 32 ates Videogames 42 Ce Maia Capital I - 0 sonho acordado 53 Eoteie rine ' Gonvaji vive 68 ic ree Paltice 83 ive Gitgto 87 Fondo «Coe ane vio (Capita I - Cults populares, vdhasenovas 99 Irv 28 106 Node ato 8s Capitulo 1V-0 lugar da ace 123 fee as 198 147 Instanatncos 127 Apt W ros vse a at Capt V- Ines 159 Valores e mercado 140 Bibliograia 183 Perguntas ‘Se mio me engano, o incomodo ¢ semelhane quele causado por declaagbes pablicas de sHelsmo e, ultimemente, também de socis- Fismo: por que nfo guatdar para si as con- viopBes sobre assuntos tho privador como Deus ¢ onder sec Rober Schwares Estas no FIM po sécuLo € na Argentina. Luzes ¢ sombras vem", como Jim Jarmusch ou Godard. Greta Garbo, Louise Brooks. Ingrid Bergman, Macia Félix, nunca foram adoles- ‘centes: sendo to jovens, sempre pareceram #6 jovens. Avdrey ‘Hepburn fo a primeira adolescente do cinerea amesicano: mais jovemn que ela, s6 as eriangas prodigio, Fran Sinatra ou Miles Davis nio foram jovens como ot Beatles. Nem Elvis Presley sacava da juventude como seu capital mais valioso: enguanto apsixonava um piblico adolescent, sus subversio era mais sexual do que javenil. Jimmy Hendrix ounca pareceu mais Jovem que 0 etemo jover, velho jovem, sdolescente conge- lado, Mick Jagger ‘AiG 0 jeans © 4 minissaia mio existiu oma moda jovem, nem um mercado que a pusesse em circulagio. Mary Quant, Lee e Levi's s8o a academia do novo design. Até 1960, os {ovens imitavom,estilizavam ou, no méximo, perodiavam que Abundincia pobreza 39 cra, simplesmente, a moda, Assim, a5 fotos de atores tem ovens, jogadores de futebol ou estudantes universitarios no fevocam, alé entio, a ieonografia de coroinhss perversos ou roqueires dispostos a tudo, © que agora é lugar-comum. Essa ‘conograia tem spenas um quarto de século. As modelos da publicidad itavam as attizes ow a classe alta; hoje, imitam ‘as modelos mais jovens. As arizes € que imitarn as modelos. Somente no caso dos homens a maturidade conserva algum ‘magnetismo sexual. Madonna € um desafio original porque ‘adota a moda retrd sem incorporar a ela clichés juvenis; com ‘ela, passou a existir uma fantasia s6 usada pelos jovens, que ‘complica o significado dos sina de adolesvéncia somados tuma moda que exibe @ acumvlagio de tayos desta clima rmetade de século Hoje a juventude 6 mais prestigioss do que nunca, como ‘convéin a culturas que passaram pela desestabilizago dos prin- ‘ipios hierdrquicos, A inféncia j4 ndo proporciona uma base aadequada para as ilusdes de felicidad, uspensto tranquiliza- dora da sexualidade ou inocEncia. A categoria de "jovem, por sua vez, garante am outro set de uses com a vantager de poder (azer & cena a sexualidade ¢, 20 mesmo tempo, desver- cillar-se mais liveerente de suas obrigagGes adultas, entre elas fs de uma definigio taxativa do sexo. Assim, a jovenuade & tum tervtécio onde todos querem viver indefinidamente. No ‘entanto, os “Jovens” expalsam desse tertério 0s impostores, {que io cumprem a8 condigses da idade e entram numa guerra {geracional banalizada pela cosmétics, a eternidade qiinqienal as cirurgias esteticas ¢ das terapias new age. ‘A cultura juvenil, como cultura universal ¢ tribal go mesmo tempo, constsi-se no marco de uma insitigto tradi- cionalmente consagrada aos jovens. que esti em crise: a escola, 40. cans oA VIDA F05-MoDERR cvjo prestigio se debilitou tanto pela queda das autoridades ttadicionais quanto pela conversio dos meios de massa no espago de uma abundncia simbilica que a escola nfo oferece. [As estratégis pora dofinir 0 permitido ¢ o proibido entraram fom crise. A permantncta, que era um trazo constitutive da autoridade, foi rompida pelo fiuir da novidade. Se & quase impossivel definie@ permitido € 0 proibido, a moral deixa de set um territério de conflitos significativos para converter-se numa elenco de envnciados banais: « autoridade perdeu seu aspecto terivel¢ itimidarério (que potencializava a rebelizo) © 56 € autoridade quando exerce a forga repressiva (como ‘costume fazer, com indesejavel frequéncia). Onde antes se podia enfrentar a proibigdo discursiva, hoje pazeoe estar 56a policia (Onde hs poucas décadas estava 2 politica, apareceram depois 05 movimentos sociais ¢ hoje avangam as neo-religives. ‘© mereado ganha relevo e corteja a juventde, depois de institu-la como protegonista da maforia de seus mitos. A es- {quina onde se encontram a hegemonia do mercado € 0 peso ‘ecadente da escola ilustra bem ums tendéncia: os “jovens” ‘passam da novela familiar de uma inflncia cada vex mais breve ‘para o folhetim hiper-realista que ple em cena a danga das rmercadorias frente sos que podem pagar por elas e também frente aqueles outros consumidores imagindrios, aqueles que sito mais pobres, aos quai perspectiva de uma vida de tra- balho ¢ sactificio néo atinge com a mesma eficécia que a seus aN6t, entre outros motivos porgue eles sabem que nao cconseguirio sequer o que seus avs conseguiram, ou porque ‘nip querem consegui¢ $6 0 que estes buscavam. ‘Consumidores efetives ou consumidores imaginsrios, ‘0 jovens encontram no mercado de mercadorias e bens sim- bélicos um depésito de objetos e discursos fast preparados Abundincia pobrece 41 especialmente. A velocidade de circulagdoe, portant, a abso lescéncia acelerada se combinam numa alegoria de juventade: ‘no mercado, as mercadrias dovem ser novas, devem ter @ estilo da mods, devem captar as mudangas mais insignificantes {do ar dos tempos. A tenovagao incessamte necessia oo met- ccado capitalista eaptura o mito da novidade permanente que também impulsiona a juventude, Nunca as necessidades do mercado estiveram afinadss tio precisamente ao imaginstio de seus constmidores. (© mercado promete uma forma do ideal de liberdadee, ra sua contraface, uma garantia de exclusic. Assim como o racismo se desnuda n entrada de algumas diseotecas, cujos porteiros sto especalistas em diferenciagdes soctis, o merca- do escolhe aqueles que estario cm condigdes de, 90 seu inte- ior, fazer suas escothas, Tadavia, como precisa ser universal, cle enuncia seu discurso como se ‘odos, nee, fossem iguais, (Os meios de comunicagdo reforgam essa idéia de igualdade ina liberdade que ¢ parte central das ideologias juvenis bem ‘pensantes, as quais desprezam as desigualdades reas a fim de ‘armar uma cultura estratficada porém ignalmente magoeti- zada pelos eixos de identdade musical que se convertem em ‘espasos para a idenidade de enperigncias, $6 muito abaixo, nas rmargens da sociedade, esse acdimulo de camadas se racha. As rchaduras, de todo modo, tem suas ponte simbélicas: 0 video ‘© a misica pop etiam a ilasBo de uma continuidade ma ‘qual as diferengas se fantasiam de escolhas que parecem indi- viduais eisenas de morivago social. Se € certo, como se disse, ‘Que se ama uma estrela pop com © mesmo amor com que se toree por um time de futebol, o caréter rans-social desses afetos wangliliza a conscigncia de seus portadores, ainda que eles mesinos, depols, diferenciem cuidadosamente € alé com

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