You are on page 1of 27
Capitulo1 Estudos da infancia: didlogos, fronteiras etensdes Maria Leticia Baro: dros® Nascirr MOnique Apareeida Voltarelli The paradoxes, ambiguities, questions and problems relating to childhood and society hayecaused different theories to emerge among researchers as well as different methods for exploring children’s life conditions. (Jens Qvortrup, 2002) Jintrodugao Apartir da segunda metade do século XX, as criangas comecaram a ocupar 0 tempo de Outros profissionais, além de pediatras, psicélogos do desenvolvimento, professores, assistentes sociais e juristas, e novas teorias comecaram a emergir: Pode-se pensar que a Declaraciio dos Direitos da Crianca (1959), a qual as singu- larizava na perspectiva dos Direitos Humanos (1948), tenha sido elemento pro- vocador desse novo espaco, mas foi a Convenco sobre os Direitos da Crianga, adotada por unanimidade pela Assembleia Geral das Nacdes Unidas, em 1989, ‘micl-impren-prografa das cianemindd 19 que impulsionou, e, 20 mesmo tempo em que reconheceu inclusive seu direito de liberdade e participacao, apontou a especificidade e determinou protecao e cui- dados especiais as criancas, o que evidenciou a ambiguidade que as envolve, isto 6, a “tensio entre diferentes concepgdes de direitos da crianca” (ROSEMBERG; MARIANO, 2010, p. 669). £ relevante apontar que, a partir da referéncia aos direitos, foi constatado que “as criangas pertencem ao mundo, nao meramente a familia\ou localidade, mas também, por bem ou por mal, as dimensées maiores e mais-¢lobalizadas do mundo”, como argumenta Qvortrup (2007, p. 45)y/0u seja, sao seres hist6ricos e sociais. Nessa linha, possivel reconhecer que decisoes econémicas, politicas ou questdes presentes nas relacdes mais amplas da'sociédade, embora sejam vistas como distantes das criangas, possuem significativa repercussio em Stias vidas, 0 que gera questionamentos sobre a ideia d@que as criangas sao résponsabilidade unicamente da esfera privada—dos lugares sociais destinadlos a ela, como escola e familia, por exemplo — para.admiti-las como sujéitos sociais. Outro ponto que mérece'destaque é a consideracao da infancia como uma catego- ria estrutural, isto é, uma “estrutura permanente em qualquer sociedade, mesmo que seus participantes sejatn regularmente repostos” (QVORTRUP, 1991, p. 12, grifo no original), o.que possibilita, por exemple, estudos sobre a desigualdade na distribuigio de poder, de recurSos e ce direif6s entre adultos e criangas, além de questées definidas a Partin das relacdes intergeracionais. Entretanto, é preciso notar que estudar a infancia como tategoria social gerational nao a torna homogénea, mas pressupde uma diversi- dade de criangas, agrupadas sob a categoria infancia, ou seja, “a infancia como categoria nio se dissolve porgufe existe uma pluralidade de infancias; ao contrério, confirma-se por meio destas” (QVORTRUP, 2010, p. 1132). Assim, as diferencas entre grupos de criancas — género, raca/etnia, classe social, idade, entre outras — vao referenciar sua ago social, considerando que “as possibilidades de a crianga exercer e desenvolver seus modos de atividade esto sujeitas as restricdes, influéncias ou oportunidades que apresenta um determinado contexto hist6rico-social” (WARTOFSKY, 2000, p. 112). opt ds sincnndl 20 © Sema bE Essas possibilidades podem ainda proporcionar elementos para compreender as intera- Ges complexas que travam com os adultos e com seus pares etarios descle muito cedo. Nessa perspectiva, estudos que retratam e acompanham as criangas em seu cotidiano fornecem novas informagées sobre suas agéncias, A infancia é uma construgao social, histérica, politica, e, dessaymaneira, um conceito em disputa, presente em uma “profusdo de discursos puiblicos competi- tivos, diferentes, opostos e/ou justapostos, cuja ambiguidade se abre a intimeras interpretacdes acerca dos seus significados [...]" (FERREIRA; TOMAS, 2017, p. 19). E este contexto complexo, brevemente apontado nos paragrafos anteriores, que dé origem aos estudos da infancia. 2 Estudos da Infancia: emergéncia do campo Diferentes saberes sobre_as criangas e a infancia-vem sendo produzidos desde o século XIX: filésofos,pédagogos e, posteriorméhte, pédiatras, juristas, psicélogos, assistentes sociais assinalama disputa entré os diversos campos do conhecimento. Com um carater marcadamente cientificista, universalizante ¢ a-histérico, muito desse conhecimento serviu para a’elaboracao de imagens da infancia que, no con- junto da sociedade, a descreve como periodo de preparacao para a vida adulta, attibuindo as Criangas cara¢tetisticas negativas em relacao aos adultos, identificadas pelo “ainda nao” ou pelo prefixo de negagio “in”, e, dessa forma, prescrevendo 0 caminho “adequado” para sua superacio. Acctitica a essa concepcao, isto é, 0 reconhecimento da infancia como categoria permanenté e das criancas como sujeitos sociais, foi tomando forma, principalmente, nas tiltimas décadas do século XX, em pafses do hemisfério Norte. A provocacao estabelecida por Hardman (1973) a respeito da possibilidade de uma Antropologia da Crianca e a entao recém-criada Sociologia da Infancia, “um novo ramo como dis- ciplina sociolégica, embora tenha— desde seu timido inicio, a cerca de uma década atras — encontrado notavel interesse” (QVORTRUP, 2002, p. 43), foram sendo mais seopate ds cfuneatindd 21 © Sema bE e mais debatidas. Nas palavras de Moran-Ellis (2016, p. 489), “um primeiro desafio para uma Sociologia da Infancia era estabelecer uma garantia teérica e empirica que localizasse a crianca como ator social, agente, e como membro da sociedade”.! Nesse contexto, o novo paradigma da infancia, sintetizado por James e Prout em, 1990, ofereceu elementos para a pesquisa sobre a infancia e as criangas;"e0 campo da Sociologia da Infancia foi se consolidando por meio da publicacao de artigos e livros, da criacdo de periddicos, do desenvolvimento de projetos de pesquisa e da formagao de uma rede internacional de socidlogosida infancia, notadamente no hemisfério Norte (QVORTRUP, 2002). Esse movimento promoveu.importan- tes avancos na compreensio conceitual da infancia como categoria geracional na estrutura social e deu visibilidade as criangas, grupo historicamente esquecido e marginalizado no ambito cientifico mais amplo. Pires (2008, p. 188) aponta que na “antropologia [..«}a infancia sempre foi con- templada nas monografias de modelo classico, poréri sempre como tema adjacente, raramente como tema principal”, 0 que foi modificad6 pelaAntropologia da Crianca, que traz & tona as significacdes que as criancas atribuem aos diversos elementos que compdem suas vidas, e que tecorre ao métod da etnografia para entender que a expe- rigncia das criangas é cultural e, portanto, s6 pode ser compreendida em contexto. Recentémente, Cohn (2013) consfatoti gue “a antropologia dedicada as criangas e as infncias se cohsolidou, e a’@Xeeléncia, a possibilidade (metodolégica, analitica, epistemolégica) e a legitimidade’de nossos estudos sao reconhecidas” (p. 223). ‘Assim como a concepcao de infancia foi se tornando mais complexa e densa na sociedadeContemporanea, também os estudos da infancia foram abrangendo outras possibilidades, constituindo um campo de pesquisa que reelabora conceitos ¢ apresenta diferentes configuracdes, em paises nos quais a pesquisa da infancia é realizada, além de ter o reconhecimento da comunidade cientifica internacional e de Tepresentar importante voz no discurso puiblico acerca das criangas (HONIG, 2009). " ‘Tradugao livre das autoras. seopet dn inenindl 2 © Sema bE Constituir um campo cientifico, contudo, é tarefa que demanda diversos com- ponentes, como se verifica a partir da leitura de Bourdieu, apresentada a seguir. 2.1 Elementos de constituicéo de um campo cientifico Em estudo recente, Voltarelli (2017) apresenta e busca problematizar o que Bourdieu denomina campo cientifico, para entender fronteiras, interlocugées e ten- ses estabelecidas entre as disciplinas que tém se engajado hos Estudos daInfancia. Ela destaca que a nocio de campo apresentada por Bourdieu (1983,2000, 2004b) tefere-se as relacGes estabelecidas no mundo social,que obedecem a leis sociais mais ou menos especificas, sendo que as relagdes de forca ¢ dominagao também se fazem presentes. De acordo com Bourdieu (2004a), o campo Ciéntifico pode ser compreendido como o “universo em que estao inseridos os agentes e as instituigdes © que produzem, reproduzem.ou difundem a ciéricia’”’(p:20). O socidlogo assinala.qué).a fim de compreénder'as condicées para a produgao de conhecimento cientifico, 6 necessario considerar os limites e as possibilidades dos agentes, assim como os aspectos historicos, politicos, econdmicos e culturais que participam da\construgio da ciéncia (BOURDIEU, 1997, 2004b). Além disso, um Campo s@configura intemamente por posicées, estratégias, disputas e interes- ses entte/agentes e novat6s, senido que cada campo possui principios proprios de ‘organizagao (BOURDIEU}1983). Sobre os novatos no campo, o autor aponta que oS requisitos de admissao a eles impostos também compdem os fatores estruturais e comandam disputas internas, as quais diferem de acordo com cada momento histérico e'contexto social (BOURDIEU, 2004a). Bourdieu (2004c, p. 52) afirma, ainda, que “é na relacdo entre os diferentes agentes que se engendra 0 campo e as relagdes de forca que o caracterizam”, ou seja, 0s campos sao relativamente estaveis e delimitados, mas é por meio dos agentes, definidos pelo volume e pela estrutura do capital especifico que possuem, que seré determinada sua estrutura e o nivel de forgas exercidas sobre a producao cientifica seopetc dn inenindl © Sema bE e a pratica dos pesquisadores. De acordo com o autor, as fronteiras das disciplinas sao protegidas por condicdes de acesso mais ou menos codificadas, restritivas e definidas, tendo em vista que, muitas vezes, podem ser contestadas por disciplinas afins (BOURDIEU; WACQUANT, 2008). Cabe destacar que os campos nao sao espacos totalmente fechados, pois podem se entrecruzar. Entretanto, as interferéncias sio limitadas pela autonomia de cada campo, que se fecha ou nao as interferéncias externas, em rélacao ao seu poder de refragiio (BOURDIEU, 2004b). Nesse caso, 0 grau de/autondmia de um campo, adquirido pouco a pouco e constantemente renovaddy é uma das caracteristi¢as que 0 diferencia, pois vai regular a influéncia de outros campos sobre ele. Destaca-se, ainda, que quanto mais novo um campo disciplinat, maior a probabilidade de sofrer influéncias externas. A autonomia vai se cofstituiftdo nas disputas, nas telagdes de forca, no peso/volume do capital dos agentes inseridos.no campo! Cada um dos campos vairdefinindo sua prépria légica)regras, regularidades, constituindo-se como espacOide jogo em potencial; para'definir o objeto cientifico especifico, bem como ingcreyér relacdes de forcase hierarquias proprias (BOURDIEU, 2004c; BOURDIEU; WACQUANT, 2008). Orestudo de um campo cientifico demanda a anilise de trés elementos: sua posicao’no interior do campo de poder e sua evolucao ao longo do.tempo;-,que se refere as Suas propriedades; a sua estrutura interna; 4 génese do habitus dos oCupantes das’posi¢es no campo; e ao funcionamento do campo (VOLTARELLI, 2017). Assimppropriedades, estrutura e funcionamento permitem compieender como umi'campo se desenvolve e se consolida no Ambito cientifico. A configtitagao de.um campo ocorre na consideragao da existéncia de praticas de investigacd; da ifistitucionalizagao de pesquisas em Ambito académico; da cons- tituigao de grupo(s) reconhecido(s) por meio de associagées cientificas, reunides, periddicos, entre outros; da légica interna de cada campo, promovida por suas leis de funcionamento (nomos); e da convicgao de que vale a pena investir na dinamica (jogo) do campo (illusio). opted sical 24 © Sema bE 2.2 De volta aos Estudos da Infancia Os Estudos da Infancia como campo cientifico interdisciplinar reiine pesquisa- dotes de diversos campos disciplinares que trabalham a partir de assercdes comuns, como: a) 0 desenvolvimento das criangas é um processo social e culfiifal; b) a infancia 6 um fendmeno social; c) a infancia é um problema abertamente politico, marcado pela distribuico desigual de recursos, provisdes e oportunidades, moldado tanto pelas forgas globais quanto locais; d) as culturas da.infaneia‘Sa0 profundamente sociais; e) as criangas crescem cercadas por crengas e tepresentacdes familiares e desconhecidas de infancias; f) a infancia tem sido diferentemente entendida, institu- cionalizada e regulamentada em diferentes sociedades e em diferentes pontos da his- téria—e experienciada de maneiras distinitas pelas criancas; g) a inféncia é um status ambiguo, mesmo dentro de um determiriado momento e lugaryh) ser uma crianca é uma experiéncia intensamente pessoal, faz parte da expetiéncia de todas as pessoas; i) estudar as criancas e a infancia também é umialatividade social, fundada em uma relago entre pesquisador e pesquisado (WOODHEAD, 2009, p. 21). E interessante notar que “a experimentagao vem depois, nao antes, do estabele- cimento de'um conjunto central de'ideias e priticas” (GAGEN, 2010, p. 214). Isto ideidis praticas vao sendo cada vez mais comuns a diferentes campos disciplinares, o.que pode provocar tanto iaior experimentacao quanto tensao em relagio aos proiotolos dos préprios campos. O entrecruzamento de campos disciplinares pos- sibilita a difusdo @o processo de consagracao de trabalhos que compartilham das mesmas pfemissas, quais sejam compreender a infancia como categoria geracional permanente na estrutura social, consideré-la um fendmeno socialmente construfdo e/ou conceber as criangas como atores sociais. Como ja apontado anteriormente, a Sociologia da Infancia? e a Antropologia da Crianga so precursoras na aproximacaio para estudar a infancia e as criancas, ® Campo com variadas linhas, tendéncias ou correntes. Ver Frones, 1994; Montandon, 1998; James; Jenks; Prout, 1998; Qvortrup, 1999; Mayall, 2002; Gaitan Muiioz, 2006; Sarmento, 2008. seopet dn inenindl 25 © Sema bE pois tiveram dificuldade em utilizar somente conceitos e pontos de vista préprios para pesquisé-las (QVORTRUP; CORSARO; HONIG, 2009). A essas disciplinas foram se somando outras, como a Geografia da Infancia, a Histéria da Infancia, a Filosofia da Infancia, por exemplo, constituindo os Childhood Studies, campo “que tem se formado por meio da interseccao de disciplinas com prinefpids préprios e interesses comuns, sem perder de vista que cada campo que os Constitui possui uma realidade especifica (um nomos particular)” (VOLTARELLI, 2017, p. 245). Diversos pesquisadores (JAMES et al., 1998; WYNESS, 2006/ WELLS,2009; ALANEN, 2012; SIROTA, 2012; SARMENTO, 2013; GAITAN MUNOZ)2014; NASCIMENTO, 2015; PUNCH, 2016) tém discutido a dificuldade da manuten- do das fronteiras disciplinares e a possibilidad@ de Comunicagao entre diversas disciplinas na pesquisa e nos estudos da infancia/Parece imtportanté destacar que a aproximacao entre pesquisadores de variadas origens académicas demonstra, por um lado, a porosidade das frontéiras quando o foco € @infancia, e, por outro, afinidades e divergéncias nas teorizacdes sobre as Criangas e 0 uso, a apropriagao e a ressignificacao dos\conceitos'do campo. Nesse sentido, os Estudos da Infancia ‘hao so homogéneos e se deserivolvem por aproximagdes e divergén- ciag nas praticas cieitificas dos agentes do campo, que se movimentam de acordo coma posse de capital cientifico na busca por autoridade Cientifica sobre objeto. As mudancas das regras ou as movimentacbes do camponao ocorrem rapidamente, sendo marcadas pelas tentativas dos atores jéilegitimados de manter o poder conquistado e pela luta dos iniciantes em provocar pequenos avangos no campo, enquanto buscam seu espaco. (PRADO; VOLTARELLI, 2018, p. 294). Dessa forttia, cabe apontar que as questdes tanto tedricas quanto metodolégicas da pesquisa com a infancia e as criancas, surgidas no desenvolvimento de diferentes projetos e investigacées, demonstram que conceitos e ideias vao dando corpo ao campo e, ao mesmo tempo, provocam debates, novas leituras e negociagdes. Além disso, reconhece-se que sao diferentes questdes de pesquisa, nos diversos paises dos hemisférios Norte e Sul. ‘micl-imprem.-prografa das cianemindd 25 rojovanat 113926 3 Desenho e debate do campo no Norte Na Europa, em 1998, a publicacdio ~ pela revista Education et Sociétés — de dois textos sobre a Sociologia da Infancia’ caracterizou sua emergéncia nos paises de lingua francesa e nos de lingua inglesa. A partir da leitura deles, constata-s@ que os pontos de origem so distintos: no caso angl6fono, uma ruptura com o conceito de crianca universal, ou seja, a infancia considerada como “uma construcao social éspecifica que tem uma cul- tura propria e merece ser considerada nos seus tracos peculiares”(MONTANDON, 2001, p. 33), €, no franc6fono, uma oposicio a sociologialda educacio, ou seja, “as mutagdes do estatuto da crianga levam os sociGlogos a redescobrin este novo ator, que perturba e atrapalha as instituigdes de socializacao tradicionais” (SIROTA, 2012, p. 4). Pesquisadores de diferentes paises européus e norte-americanos contribuiram para o debate, formulando questdes, realizando pesquisas e as trazendo para discus- so em encontros e publicagdes..Em 2010, a revista Current Sociology* publicou um dossié com o estad6\da arte da Sociologia’da Infancia em diferentes paises, incluindo artigos da Eufopa,'da Australia, da América do Norte e do Sul. Pode-se considerar esse intervalo entre uma publicagao e outra como o tempo nao s6 da emergéncia e da Constituico do, campo da Sociologia da Infancia, mas da criacdo do campo dos Estudos da Infaficia, campo mais amplo, no qual a sociologia assume um papel ceritral (SARMENTO} 2013). ‘Segundo Sirota (2012)yas referéncias conceituais parcialmente distintas, porém compartilhadas, ptincipalmente entre Sociologia e Antropologia, nos Estudos da Infancia, até mesmo partir da reivindicacio de uma socioantropologia da infancia, contribuiram para a renovacio de questdes mais classicas e para a eclosio de ques- tes mais contempordneas sobre as criancas: “o surgimento nao sé da sociologia ou antropologia da infancia, mas também desse interesse de todas as ciéncias sociais, contribui para 0 novo modo de compreender a infancia” (p. 15). » Traduzidos e publicados no Brasil em Cadernos de Pesquisa n.° 112, 2001. * Organizada por Doris Bihler-Niederberger, da Universidade de Wuppertal, Alemanha. royal ds inenndd 7 © Sema bE Tisdall e Punch (2012) tratam do alcance dos 20 anos de producao de pesquisa, desde o surgimento da “nova” Sociologia da Infancia, passando pela aproximacao de outras disciplinas e areas de pesquisa, até a criagdo de “uma area académica de interesse, muitas vezes chamada de ‘estudos da infancia”” (p. 249), dominados nesta analise pela Sociologia, Antropologia e Geografia da Infanciay@ tendo como base o mundo anglo-saxdo. Segundo as pesquisadoras, s estudos sobre a infancia tém uma histériajparticular e recente, de criar um lugar para si préprios dentro da’aeademia e de pesquisas mais gerais. (...] adotando certos mantras como teoria (a’construcao social da infancia, criangas e jovens como atores soviais) e como ‘metodologia (foco na ética, privilegiamento das “vozes"” das criancas, acolhimento da etnografia e dos microestudos). Tornou-se cada vez mais multidisciplinar, como enyolvimento (de uma ampla gama de (mas nao todas) disciplinas, émbora possivelmenteinda dominado pela Sociologiada Infancia, pela antfopologia da infancia e pela geografia das criangas, (TISDALL; PUNCH, 2012, p. 259). Um dos principais/pontos do texto é o questionamento sobre o que a pesquisa, a partir de certos principios teéricos, metodolégicos e mesmo implicacGes politicas, realizada no hemisfério Norte pode ofetecer aos estudos da infancia do Sul e mesmo a outros paises do.Norte. Tisdale Punch (2012) defendem maior consideracao sobre'teorizagdes e alternatiyas advindas desses outros lugares e argumentam que nao basta ouvir as criahgas, fotalizar sua agéncia e participacao, mas dar énfase aos “meandros, complexidades, tensdes, ambiguidades e ambivaléncias das vidas de ctiangas e jovens em ambos os contextos, Mundo Majoritario e Minoritério” (p. 259). As pesquisadords apresentam um levantamento sobre como o paradigma de James e Prout (1990) foi assumido pelo campo, trazendo um balanco dos Estu- dos da Infancia até 2012. Segundo elas, a primeira proposicao “a infancia é uma construcao cultural” foi totalmente adotada no discurso académico, assim como a segunda “a infancia é uma varidvel da anélise social”, embora apontem que esta opted sical 28 © Sema bE permanece & margem das disciplinas tradicionais.® Argumentam que a terceira pro- posigao “As relacdes sociais e as culturas das criangas so merecedoras de estudo em si mesmas” nao s6 foram totalmente adotadas, mas também [...] muitos estudos empiricos surgiram nas tiltimas décadas em revis- tas especializadas: Childhood (primeira edicao em 1993); Children & Society (desde 1987); Children’s Geographies (inicio em 2003); Children, Youth and Environments (renomeada emm’'2003) e Global Studies of Childhood (nova em 2011). Ha um mimero crescente de cursos de graduacao e pés-graduagao, multi/ou interdiseiplinares, de estudos da infancia oferecidos. Alént disso, conferéncias inter- nacionais e painéis especifi¢os em conferéncias $0 regularmente dedicados a estudos da infancia. (TISDALL; PUNCH, 2012, p. 252). As proposigdes seguintes “As criangas sao e devem ser vistaS‘como ativas na construc e determinagao de suas proptias vidas sociais, nas vidas daqueles ao seu redor e nas sociedades em.que vivem’” e “A etnografia uma metodologia particu- Jarmente titil para o estudo da infancia” tambént foramaceitas pelo meio académico, embora outras metédologias participativas possam ser consideradas nos Estudos da Infancia. Em relacao a iiltima proposicao,“Proclamar um novo paradigma da infan- cia também faz patte da reconstru¢éo da infancia na sociedade”, reconhecem que HA muitos avancos em politicas e praticas, mas ainda existem com- plexidades)em relagao a operacionalizar os direitos das criangas (HARTAS, 2008, LANSDOWN, 2010, JONES; WALKER, 2011) ereconhecer as criangas como agentes ativos em suas proprias vidas (MAYALL, 2006, JAMES, 2007). Por exemplo, pode haver tensdes entre os papéis adultos de cuidar e proteger as criancas versus os direi- tos de participagio das criangas (THOMAS, 2000; HARTAS, 2008; TISDALL; MORRISON 2012). (TISDALL; PUNCH, 2012, p. 252) > Essa questo aparece também em texto de Cohn (2013), no qual afirma que a Antropologia da Crianga demanda ainda “uma entrada no debate maior da antropologia, uma entrada que nos permita uma voz. ampliada na compreensio dos varios fentémenos sobre os quais antropdlogos se debrugam. como pesquisadores e como cidadaos” (p. 223). 12 milimpree— ropa det cecil 29 © Sema bE O artigo de Tisdall e Punch, predominantemente produzido a partir da literatura em lingua inglesa, destaca e refere o hemisfério Sul e a diversidade provocada por contextos variados, de forma a defender uma compreensio mais problematizada e diferenciada de conceitos-chave nos estudos da infancia. Accritica a predominancia da produgao anglo-saxénica e a défésa de uma interlocucao mais frequente com paises nao angléfonos estao também presentes em artigos publicados por pesquisadores de paises como Fratica, Espanha, Portugal (SIROTA, 2012; GAITAN, 2017, FERREIRA; NUNES; 2014), por exemploycomo uma questo a ser tratada e revista, porque a incluso de contribuicdes que prezam pela diversidade de perspectivas ede contextos de pesquisa menos dominiantes e talez menos padroni- zados ajudaria a relativizar 0 conheeimento quese est construindo na Europa ena América do Notte sobte a infanciae as criangas no mundo. (NUNES, 2003, p. 85-86; CARVALHO; NUNES, 2009). Esta falta de interlocuco convida-nos a refletir sobre a desigual circulagao e troca de conhecimento ¢, a0 mesmo tempopadedicar um olhar mais atento, ‘em ambos 0s Sentidos, a estas contribuigdes e as implicacdes episte- molégicas decada uma delas, (FERREIRA; NUNES, 2014, p. 118). Na Espanha,° Gaitan (2017), no texto de apresentacao da revista Sociedad e Infancias, publicagao que se propde a”apresentar a pesquisa do campo produzida em espanhol e portugués, destaca que Si hablar‘ de Estudios de Infancia es sencillamente una etiqueta, un/paraguas-bajo el que se acogen investigaciones fundamentadas endiferentes paradigmas disciplinares, 0 si se trata de un campo on autonomia conceptual y metodolégica (e incluso si una cosa u otra‘se ven como deseables) es algo que esté por ver. Hoy por hoy lo que sf puede apreciarse es que responde a una de las premisas {que se sostienen en las ciencias sociales, cual es la que sefiala que la realidad social es plural como objeto de estudio, y que a esa pluralidad conceptual corresponde una pluralidad metodolégica a la hora de investigar sobre ella. (GAITAN, 2017, p. 14). © Destaque-se o comité de investigago “Cl-17 Sociologia de la Infancia”, da Federacao Espanhola de Sociologia, como representativo da produgao em lingua espanhola e da presenga do campo no pais, a0 lado de associacdes e comités cientificos de ambito internacional. +2 mile impr gropae detcecaindd 30 © Sema bE ® Em Portugal, 0 campo da Sociologia da Infancia afigura-se nas Ciéncias da Educacao, na Antropologia Cultural e na Sociologia da Educagio (ROCHA; FERREIRA, 2015). Em 1990, iniciou-se, na Antropologia, estudos etnogréficos com foco nos mundos sociais da infancia e em suas diversas relacdes entre pares e dentro da familia. Rocha e Ferreira esclarecem que as criangas"éfam abordadas pela Sociologia de forma indireta ou como um problema social e que, somente nas Ci€ncias da Educacio, elas receberam uma abordagem sOciolégica, embora a Sociologia da Infancia ou os Estudos Sociais da:Infancia fossem constituidos posteriormente.’ Ferreira e Nunes (2014) referém qué, nos Estudos. da Infancia, nos paises luséfonos, “parece sobressair 0,campo da educacao” (p. 105). 4 Estudos da infancia no Sul No Brasil, um levantamento tealizado por Castro e Kosminsky, em 2010, com vistas a uma analise da cOntribuicao das ciénciaS Sociais para a visibilidade da infan- cia, destaca que o éstudo de Florestan Fernandes, publicado em 1961, foi pioneiro ao focalizar as criangase a producao de'culturas infantis, e que, entre as décadas de 1960 e 1980, as ctiancas aparecemem estudos sobre a desigualdade social, isto é, cont foco naS'criancas pobres.¢ emisittiacao de risco, o menor, e pesquisas realizadas nas escolas, téndo como f6¢0.0 ‘aluno. De acordo com as autoras, “as criancas no eram Vistas como Sujeitos, mas objeto de protecao, cuidado e controle, vitimizadas olinao pelas circunstdncias” (p. 213). Nas décadas de 1990 e 2000, a legislagao e os movimentos nacionais e internacionais provocaram o estudo das criancas como sujeitos dé'direitos, o que vai alterar a perspectiva das investigagdes. Nas décadas seguintes, observa-se que a Sociologia da Infancia vai sendo divulgada e apropriada como campo de conhecimento, em interface com a educacio, Ver As criancas: conceitos e identidades, organizado por Manuel Pinto e Manuel Sarmento, publi- cagao de 1997. Em 2000, foi realizado o Congresso Intemacional “Os mundos sociais e culturais da infancia”, na Universidade do Minho, em Braga, Portugal sropate dn ctuneatndd 31 © Sema bE notadamente com a educacao infantil, como revela pesquisa realizada entre 2010 e 2012 por Nascimento et al. (2013). As pesquisas com criangas, por meio da orien- taco etnogréfica, tém se constituido como uma contribuicao desta interface, nas quais se busca ouvir as vozes infantis. Outra investigacao, que versa sobre pesquisas com criancas pequenas apresentadas nas reunides* da Associaciio NaCional de Pes- quisa e na Pés-Graduacaio em Educacao (ANPED) entre 1999 e 2009, aponta que Quase todos os trabalhos (21 dos 25 analisados-— 84%) referem-se aos processos de socializacao, dando énfase asrelacdes Sociais ent adul- tos e criangas e entre as criancas. Isso posto, cofifirma-se a crescente busca dos autores pelo referencia tedrico-metodol6gico da récente rea da Sociologia da Infancia, (MARTINS FILH@,1999, p. 14), Se houve uma abrangéncia maior da\Sociologia da Infancia’Como fonte te6rico-metodolégica nos estudos com e sobre criancas,em relagao & Antropologia da Crianga, como ja se apontouneste texto, o campo esté“plenamente consolidado, com ampla representacao,nos debates nacionais ¢internacionais, em publicaces e eventos de antropologia’”, (COHN, 2013, p. 222): Mais recente, a Geografia da Infancia brasileira tem se estruturado, segundo Lopes e Suarez (2018) no escopo dos trabalhos envolvendo os estudos relacionados a infancia ¢ em Constante interface com investigadores de diferentes origens, como a prdpria Sociologia da Infancia, a Antropologia da Infancia, a Psicologia do Desenvolvimento, as recentes tradugdes da Teoria Histérico-Cultural, entre outras. (p. 496). Em relac&0,ao Brasil, cabe reconhecer, como Rosemberg (2010), que [se, em 2001,] a bibliografia brasileira que declarava uma pertenca a0 campo da sociologia da infancia ou dos estudos sociais sobre a Infancia era reduzida, 0 mesmo nao se pode dizer do momento atual. © tema tem merecido a atencao de diversas revistas académicas © No Grupo de Trabalho Educacao de Criangas de zero a seis anos - GT07. +2 mil imprene_— ropa decreed 32 © Sema bE brasileiras, de teses e dissertagoes, de coleténeas, de seminarios e eventos, de grupos de trabalho em associacdes de pés-graduacio, bem como se institucionalizou como disciplina em varios cursos de pés-graduacao stricto sensu no Brasil. (p. 689-690). Em outras palavras, 0 campo foi sendo constituido no Brasil e hi Significativa pro- duco, principalmente do ponto de vista da pesquisa com criancas em instituigdes de educacao infantil. Também podem ser encontradas etnografias realizadas a partir de suas diferentes afenas de atuacao e dos diferentes grupos que constituem ...] as inféincias $ul-americanas: indigenas, qui- lombolas, ribeirinhas, (i)migrantes, trabalhadoras, estudantes, pequenas, especiais, hospitalizadas, por exemplo. (NASCIMENTO, 2018, p. 751). ‘Admitir as criangas como sujeitos dos éstudos'contribui para o investimento e o desen- -volvimento da pesquisa e pode promoyer avangos tedricos e metodologicos para o campo. Em relagao & América,do Sulpuma pesquisa tealizada por Voltarelli (2017), com foco no desenvolvimento do campo da Sociologia da Infaricia nos paises hispano-falantes do continente, indicou a forte presenca dos Estudos da Infancia, por meio do didlogo de diversas dreas, atentas ao'paradigma proposto por James e Prout (1990). Cabe lembrar que: A América Latifia}é uma regido grande, com muitos paises e hist6rias diferentes, Embora ésses paises compartilhem uma hist6ria colonial que 0s liga’aos paises ibéricos, e a presenca de numerosos povos nativos, com caracteristicas e trajetérias particulares, a diversidade das histérias nacionais torna cada pais distinto. Assim, ¢ dificil falar dayregiao como um todo. (SZULC; COHN, 2010, p. 2). Entre‘0s nove paises hispano-falantes investigados, foi localizada maior quantidade de pesquisa'e producio’ no campo dos Estudos da Infancia na Argentina, no Chile, na Colémbia e no Peru. Sao pesquisadores advindos de diversas areas do conhecimento, que investigam e trabalham conceitos relacionados as especificidades da infancia sul-americana. °- A pesquisa (FAPESP 2013/23337-0) mapeou a producdo, considerando o perfodo de 2010 a 2013, por meio de consulta a diferentes bases de dados, de realizagao de visitas ans paises e is universi- dades, e de entrevistas com os pesquisadores. ‘-micl-impres.-grografa das cianemindd 33 rojovanat 113926 A producao argentina tem se fundamentado, principalmente, no didlogo entre a Sociologia e a Antropologia, embora sejam estabelecidas relagdes também com outros dominios do conhecimento, como a Educagio, a Histéria, 0 Trabalho Social, as Ciéncias Politicas, o Direito e a Economia. A produgao no pais apresenta tema- ticas relacionadas as metodologias investigativas socioantropol6gitas com as criancas; s politicas sociais para a infancia; ao trabalho infantil; as criancas em situacdo de rua; aos direitos das criancas; a protecao socialy& participacao infantil; a violéncia e a vulnerabilidade; a infancia indigena; eao_protagonismo infantil. Segundo Marre (2013, p. 21), Los trabajos que se han realizado durante el tiltimo-cuarto de’siglo muestran que estudiar y analizar. la nifiez desde diversas perspec- tivas disciplinares no ha,sido y no es und mada’sino un campo interdisciplinar consolidado,y profundamente vitals Para Chavez e Vergara (2017, p16), La cafencia.relativa de estudids acerca de la perspectiva de los nifos debe sePentendida en tn.eseenario mayor en que ha habido, en Chile, escaso desarrollo de enfoques que entiendan a la infancia ‘como und construccién sotiohistérica e indaguen las transforma- cianes que le atarien} Entretanto, os Estudos da Tnfancia no Chile tém provocado a realizagao de péSquisas'e discussées'tedricas.que visibilizam as criancas como atores sociais, por meio das questdes qué ulttapassam a infancia chilena, estabelecendo didlogo com autores sul-americanos.¢ internacionais. Os pesquisadores estabelecem discussdes no campo coma Sociologia da Juventude, a Psicologia, o Trabalho Social, a Historia ea Educacao, entretanto, nestas diversas dreas, nota-se que a Sociologia fundamenta a produgao. Dentre os temas de pesquisa, destacam-se as politicas para a infancia; 0s direitos das criangas; as criancas no discurso publicitario; a participacéio e 0 protagonismo infantis; os processos migratérios; as relacées intergeracionais; as relagdes familiares; 0 contexto escolar e o género. 12 milimpree— ropa det cecil 34 © Sema bE Na Colémbia, os Estudos da Infancia advém das produgdes da Educacio, da Satide, da Antropologia, da Histéria, da Sociologia, da Filosofia, da Psicologia e do Trabalho Social. Destas, a Psicologia é a érea que mais se destaca em quanti- dade de publicagées sobre a infancia, seguida pela Educacao e pela Sociologia. Essa diversidade disciplinar demonstra a constitui¢ao do campo"émdialogo com aportes da Sociologia, no qual pesquisadores vém se debrucando sobre teméticas como a cidadania, as criancas no conflito armado, as criancas ém situacao de rua, 0 direitos das criangas, a participacao e 0 protagonismo infantis, as politicas para a infancia, a situagdo da infancia na Colémbiaéo trabalho infantil. As discussdes no campo realizadas no Peru contam, fundamentalmente, com as contribuigdes da Sociologia, da Antropologia e da Educacao. A producao revela preocupacao em considerar o ponto de vista das criangas e em realizar pesquisas com a participacao delas. Dentre 0s téittas investigados, padé-se destacar o pro- tagonismo infantil, tema cujos autores tém sido teferéneia para sua discussdo nos estudos da América do Sul. Destacam-se tartibém ifivestigacdes sobre criancas trabalhadoras, criangas ¢ém situagao de rua, ¢idadania, métodos de investigacao com criancas, direitos, infancia no Peru, diseriminagao e criancas indigenas. Em relacao aos investimentos\no campo cientifico dos Estudos da Infancia, identificam-se agentes com intéresses, esforgos e investimentos a favor do desenvolvi- mento do campo, sendo que Os debates se iniciam nos anos 1990, a partir de diversos ‘campos disciplinafes @ da militéncia em direitos das criancas. Sobre a estrutura e 0 fuincionamento do'camipo nestes paises, observa-se a institucionalizacao de grupos de estudos e pesquisas da infancia nas universidades (principalmente para obtenc’o de financiamento para as investigacdes); a publicaco de trabalhos em revistas reco- nhecidas e renomadas no campo; e a participagao dos agentes em eventos cientificos, com propostas de mesas e grupos de trabalho em associacées de sociologia e de outras dreas das ciéncias humanas."° Outro ponto a ser ressaltado refere-se a luta pela °® A principal referéncia é o Conselhio Latino Americano de Ciéncias Sociais (CLACSO). seopet dn inenindl 35 © Sema bE visibilidade cientifica das criancas enquanto atores sociais e sujeitos de direitos, bem como a compreensao da infancia como categoria permanente na estrutura social. Em termos te6ricos, é possivel perceber forte presenca da literatura europeia na pesquisa sul-americana, embora nao determine a produgao no campo, pois pesqui- sadores do préprio continente sao referéncia na producao dos quatro’Baises, o que indica que ha questdes sociais da inféncia sul-americana que demandam teorizacao mais especifica. Para Szulc e Cohn (2010), s paises variam significativamente em tamianho, populaca, econo- mia e participacao no mercado global. Cada pais ¢ também diyerso internamente, enquanto as desigualdades econdmicas e sociais S40 excessivas na maioria dos paises. Sua composi¢ao'étnicadifere, assim como o niimero de Linguas faladas, seus processos migratérios as maneiras pelas quais a diversidade étnica tem sido teconhecida tanto em nivel local qitanto nacional. Essas diferengas, sem diivida, afetam a vida das criancas. (p. 2). As especificidades demiograficas, econdmicas, sociais e culturais dos paises so consideradas fatorés imipactantes nas vidas daS\criancas e configuram modos de ser criangas e de compreender a infancia.nestes lugares. Ao considerar o hemisfério Sulyconsidera-se importante referir também a Africa € aos esttidos da infancia réalizados naquele continente. Segundo Colonna (2009), "Apesar da sua relevanicia demografica e do seu papel activo a nivel familiar, sotiake e¢onémico, as’criancasdo continente africano conseguem com dificuldade espago¢e visibilidade na ptoducao cientifica” (p. 18). Ha pesqtiisas realizadas, a partir do paradigma de James e Prout (1990), em paises afticanos" (REYNOLDS, 1988; MIZEN, OFOSU-KUSI (2014); TWUN-DANSO IMOH (2016), entre outros), principalmente publicados em lingua inglesa, mas podem ser encontradas pesquisas sobre a infancia em lingua portu- guesa, sobre Mocambique (COLONNA, 2009; 2012; PASTORE, 2015; RIBEIRO, “A revista Childhood langou, em agosto de 2016, edigdo denominada "Special isue: beyond pluralizing African childhoods", com artigos sobre Zémbia, Ruanda, Africa do Sul, Etiépia e Uganda. eee pepe a 2 © SMM RZ 2016), Cabo Verde (SANTOS, 2010) e Sao Tomé e Principe (BARRA, 2011). Colonna (2009) aponta que o ntimero de investigacées cientificas voltadas ao estudo especifico da realidade das criangas africanas é ainda pequeno e que a maioria das pesquisas tém sido realizadas por nao africanos. Aeexperiéncia do colonialismo e da educacao missionéria e set iimpacto sobre os grupos de pessoas que habitavam o territério africano pode ter levado a uma “‘situacao em que distingdes claras entre o que é ‘ocidental’ e o queé ‘tradi¢ional’ podem ter se tornado turvas entre certos grupos sociais” (TWUN-DANSO IMOH, 2016, p. 459), ou seja, pode-se problematizar os conceitos local e global los contextos africanos. Pode-se discutir, como o faz Colonna (2009, p. 3), “a legitimidade de aplicar 0 conceito de ‘infancia’, assim como foi criado'em Ocidente, ao estudo de contextos culturais profundamente diferentes, quais os dos pafses africanos”. Os Estudos da Infancia, assim, requerem uma atencao que abarque.essas caracteristicas. Para visibilizar as infancias ‘do Sul, Afua Twun-Danso Imoh criou uma rede de pesquisadores, a Southern Childhoods, qué ‘visa/Teunir académicos e profissionais para participar no desenvolvi- mento de teoria, no idlogo, na troca de informacées e colaboracao sobre como se relacionam com a infancia e a vida das criancas nos diversos context0s que existem no Sul Global." 5 Algumas consideragdes E possivel considerar que a pesquisa sobre a infancia tem trazido elementos da experiéncia de.variados grupos de criangas, de sua aco social, das relacbes inter- e intfageracionais, embora pesquisadores recorram aos “mantras” algumas vezes, sob 0 risco de deixarem passar elementos singulares dos grupos de criancas investigados, ou seja, a expectativa, por exemplo, da agéncia das criancas pode ® Texto introdutério encontrado no site http://www.southernchildhoods.org/. epee © SMM RZ impedir que aspectos pouco conhecidos ou outras formas de agéncia, téo legitimas quanto qualquer outra, sejam percebidas. O breve panorama apresentado ao longo do texto oferece alguns pontos que podem ser destacados. O primeiro deles refere-se & prépria infancia, que nao é uma experiéncia universal de qualquer tipo|de duragao fixa, mas ¢ diferentemente construida, exprimindo as diferencas individu- ais relativas a insercao de género, classe, etfia e histéria. Distintas culturas, bem como as histérias individuais) constroem diferentes mundos da infancia. (FRANKLIN, 1995). Dessa maneira, investigacdes que focalizam diferentes grupos de criancas provocardo e convocarao diferentes projetos de pesquisa. Pode-se, ainda, apontar que os conceitos principais do campo talvez nao deem conta de déterminados contextos socioculturais, ou, ao menos, que-tenham de ser problematizados em relagdo a esses contextos. Essa observacao remete ao questionamento emt félacao a predominancia da pes- quisa realizada em pafses anglo-saxdes, e, ao mesmo tempo, a busca por investigades ‘menos padronizadas, mais préximas dos contextos estudados, como se vé na producio sul-americana. Isso nao significa rompet\com ou abdicar do que tem sido pesquisado, debatid6 epublicado fo Norte, mag é quase uma provocagio a interlocugao entre Sul € Norte, consideraindo os contéXtds do Sul, com destaque as tensdes dai desencadea- ayo qué’pode constituir interessante avanco do campo. Cabe apontar, também, que nao hdum Norte homogeneo ou um Sul heterogéneo, mas diferengas nos estudos da infancia e das‘Criancas nos paises onde a pesquisa é realizada. Um terceifo aspecto que se destaca é a abrangéncia que se obtém a partir da interdisciplinaridade nos Estudos da Infancia. Se, por um lado, cada disciplina deve ter clareza de suas fronteiras, ou, nas palavras de Alanen (2012, p. 421), “para fazer os estudos da infancia interdisciplinares prosperarem, precisamos ter uma Sociologia da Infancia forte, sdlidos estudos historicos da infancia, uma epee © SMM RZ Geografia da Infancia bem-sucedida, e assim por diante”, por outro, é na porosidade destas fronteiras que se estabelecem convergéncias e divergéncias. Outra interlocugio desejada é a de cada disciplina “da infancia/ das criangas” com seu campo de origem/ tradicional, como reclamam Tisdall e Punch, Cohn e outros pesquisadores. A perspectiva é de maior abrangéncia, a pattiF'do debate com a disciplina de origem — Sociologia, Antropologia, Geografia, por exemplo -, no sentido do reconhecimento da pesquisa e de sua incluso n6 debate publico ampliado. Para finalizar, cabe lembrar que os Estudos da:Infantia/incluem investiga des macrossociais sobre relacdes entre infancia e Sociedade, que-poderao gerar conhecimento, por exemplo, acerca de relagdes gerationais, de género, étnicas e de classe social; direitos das criancas, participacao e construgao da cidadania; produgo e consumo cultural das criangas; mulancas na familia €@feitos nas vidas das criangas (ALDERSON, 2013). Aléfivdisso, os Estudos da Infancia podem ser considerados, como pleiteia Woodhead (2009, p30), tim foco interdisciplinar ou um férum para andlise Cfitica) pesquisa e debaté)tendo as criancas, suas experién- cias e seus direitos como centro. Referéncias ALANEN) Leena. Disciplinarity, interdisciplinarity and childhood studies. Chil- dhood, v, 19, n. 4, p\419-422, 2012. ALDERSON, Priscilla. Childhood Real and Imagined. London, New York, Rout- ledge, 2013: BARRA, Sandra’M. Brincadeiras de criangas de S. Tomé e Principe: construcao de um estudo’em Sociologia da Infancia. Revista Angolana de Sociologia, v. 8, p. 171-187, 2011. BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. Sao Paulo: Brasiliense, 2004a. BOURDIEU, Pierre. O campo cientifico. In: ORTIZ, Renato. (Org.). Pierre Bourdieu — Sociologia, Sao Paulo: Atica, 1983, p. 122-155. (Coleco Grandes Cientistas Sociais). ‘micl-impren_-prografa das cianeaindd 39 rsjovanat 1139 BOURDIEU, Pierre. O poder simbélico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciéncia: por uma sociologia clinica do campo cientifico. Sao Paulo: UNESP, 2004b. BOURDIEU, Pierre. Para uma sociologia da ciéncia. Lisboa: Edig6es 70, 2004c. BOURDIEU, Pierre ; WACQUANT, Loic. Una invitacién a la sociologia refiexiva. Buenos Aires: Siglo XI Editores, 2008. BUHLER-NIEDERBERGER, Doris (org.) Current Sociology, v. 58in. 2, mar. 2010. CARVALHO, Rosério; NUNES, Angela. Questdes metodolégitas’e epistemoldgi- cas suscitadas pela Antropologia da Infancia. BIB/ANPOCS, n. 68, p. 77-97) 2009. CASTRO, Lucia Rabello; KOSMINSKY, Ethel. Childhood and.its Regimes of Visibility in Brazil. An Analysis of the Contribution of the Social Sciences. Current Sociology, v. 58, n. 2, p. 206-231, mar. 2010, CHAVEZ IBARRA, Paulina; VERGARA DEL SOLAR, Ana. Ser nifio y nifia en el Chile de hoy: la perspectiva de sus protagonistas acerca de la infancia, la adultez y las relaciones entre padre8.¢ hijos. Santiago-Chile;,Ceibo Ediciones, 2017. COHN, Clarice. Concépges de infancia e infaincias, Um estado da arte da Antro- pologia da Crianca no Brasil p. 223. CivitaS, v. 13, n. 2, p. 221-244, mai-ago 2013. COLLONA, Elena. “Eu é que fico confa.minha irma”: vida quotidiana das criancas na perifétia de Maputo. Tese (Dotitorado em Estudos da Crianga) ~ Universidade do Minho, 2012: COLLONA, Elena. O lugar das‘criancas nos estudos africanos: reflexdes a partir de uma investigacao com(criangas em Mocambique. Poiésis, UNISUL, Tubarao, v. 2, n. 2, p. 3423, jul,/dez. 2009. FERREIRA, Manuela; TOMAS, Catarina. A educacao de infancia em tempos de transic&o paradigmatica: Uma viagem por discursos politicos e praticas pedagégicas em Portugal. Cadernos de Educacao de Infancia, 112, p. 19-33, set/dez. 2017. ‘micl-impren-grografa das cianeaindd 40 rsjovanat 1139 ‘miol-impren-grogeata da ciaensindd 41 FERREIRA, Manuela; ROCHA, Cristina. A Sociologia da Infancia e os estudos da infancia em Portugal (1990-2012): emergéncia e o desenvolvimento. In: REIS, Magali dos; GOMES, Lisandra Ogg (orgs.). Inféincia: sociologia e sociedade. Si Paulo: LEVANA, 2015. FERREIRA, Manuela; NUNES, Angela. Estudos da Infancia, antropologia e etno- grafia: potencialidades, limites e desafios. Linhas Criticas, v. 20/n. 4, p. 103-123, janJabr. 2014. FRANKLIN, Bob (Ed.). The Handbook of Children’s Rights. Comparative Policy and Practice. Routledge, London, 1995. FRONES, Ivar. Dimensions of childhood. In: QVORTRUP, J. et al. (Eds). Childhood Matters: Social Theory, Practice and Politics. Aldershot: Avebury, 1994, GAGEN, Elizabeth A. Disciplinary domains: séarching out different ways of doing children’s research. Children’s Geographiesy8:2, p. 213-214, 2010. GAITAN MUNOZ, Lourdes. Presentacién. Sociedad'e Infancias, 1, p. 11-17, 2017. GAITAN MUNOZ, Lourdes, La niteva sociologia de la infancia. Aportaciones de una mirada distinta,Politiea y Sociedadyy. 43, n.“1, p. 9-26, 2006. HARDMAN, Charlotte. Can there be’an Anthropology of Children? Journal of the AnthropologicalSociety of Oxford, vol. TVyn. 2, p. 85-99, 1973. HARTAS, Dimitra. The right to childhoods: critical perspectives on rights, diffe- rence and)knowledge in a transient world. London: Continuum, 2008. HONIG, Michael-Sebastian, How is the Child constituted in Childhood studies? In; QVORTRUP Jens; CORSARO, William A.; HONIG, Michael-Sebastian. The Palgrave Handbook of Childhood Studies. London, Palgrave, 2009, p. 62-77. JAMES, Allison, Giving voice to children’s voices: practices and problems, pitfalls and potentials: American anthropologist, v. 109, n. 2, p. 261-272, 2007. JAMES, Allison; PROUT, Alan. Constructing and Reconstructing Childhood. Contem- porary issues in the Sociological Study of Childhood, London: Routledge Falmer, 1990. JAMES, Allison; JENKS, Chris; PROUT, Alan. Theorizing childhood. Cambridge: Polity Press, 2004 [1998]. JONES, Phil; WALKER, Gary (eds.) Children's rights in practice. London: Sage, 2011. LANSDOWN, Gerison. The realisation of children’s participation rights. In: PER- CY-SMITH, Barry; THOMAS, Nigel (eds.) A handbook of children and young people's participation. London: Routledge, 2010, p. 11-23. LOPES, Jader J. M.; SUAREZ, Mathusalam P. “E de outro planeta, ele é extrater- restre”. Revisitando os estudos em Geografia da Infancia no Brasil. Contempordnea, v. 8, n. 2 p. 495-512, jul./dez. 2018. MARRE, Diana. De infancias, nifios y nifias. Prologo. In: LLOBET, Valeria (com- piladora). Pensar la infancia desde la America Latina: umestado de la cuestién. Ciudad Auténoma de Buenos Aires: CLACSO, 2013, p. 9-25. MARTINS FILHO, Altino José. Jeitos de ser erianga: balanco de‘tima década de pesquisas com criangas apresentadas na”ANPED)\33* Reunido Anual da Anped, 2010, Caxambu/MG. Anais Eletrdnicos, CaXambi/MG: Anped, 2010. Disponivel em: http://33reuniao.anped.org,br/33encontro/app/webroov/files/file/Trabalhos%20 em%20PDF/GT07-6068--Int.pdf, Atesso em: 15 ago. 2015, MAYALL, Berry. Values/and.assumptions underpinning policies for children in England. Children’s geographies, v. 4, n. 1, p.9-18},2006. MIZEN, Phil; OFOSU-KUSI, Yaw. Agéncia como vulnerabilidade: explicando a ida das criancas para as ruas de ACta, Linhas Criticas, Brasilia, v. 20, n. 41, p. 81-101, jan./abr..2014. MONTANDON, Cléopatre. Sociologia da Infancia: balango dos trabalhos em Lin- gtia'Inglesa, Cadernos de Pesquisa, n. 112, p. 33-60, mar. 2001. MORAN-ELLIS, Jo. Building an Inter-Disciplinary Perspective on Children’s Agency: More Insightor More Noise? 3rd ISA Forum of SOCIOLOGY. Book of Abstracts, p. 488-489. Disponivel em: http://www.isa-sociology.org/uploads/files/ isa2016_forum_abstract_book.pdf. Acesso em: 4 jun. 2017. NASCIMENTO, Maria Leticia B. P. (In)visibilidade das criangas e (n)as cidades: ha criangas? Onde esto? Educagdo em Foco, v. 23, n. 3, p. 737-754, set./dez., 2018. NASCIMENTO, Maria Leticia B. P. et al. Infancia e Sociologia da Infancia: entre a invisibilidade e a voz. Relatério Cientifico. Sao Paulo: FEUSP/ CNPq, 2013. ‘micl-imprem.-prografa das cianemindd 42 rsjovanat 1139 NUNES, Angela. Brincando de ser crianca: contribuicdes da etnologia indigena brasileira 8 antropologia da infancia. Tese (Doutorado) ~ ISCTE, Portugal, 2003. PASTORE, Marina Di Napoli. “Sim! Sou crianga eu!”: dindmicas de socializacao e universos infantis em uma comunidade mocambicana. Dissertagdo (Mestrado em Terapia Ocupacional) ~ Universidade Federal de Sao Carlos, 2015. PIRES, Flavia. Pesquisando criangas e infancia: abordagens te6ricas para o estudo das (¢ com as) criangas. Cadernos de Campo, v. 17, n. 17,-p»133-151, 2008. PRADO, Renata L. C; VOLTARELLI, Monique A. Estudos sociais da infancia: discutindo a constituicéo de um campo a luz de Bourdieu. Revista Eletr6nica de Educagdo - REVEDUC, v. 12, n. 1, p. 279-297, jan./abr. 2018. PUNCH, Samantha, Cross-world and Cross-disciplinary Dialogueéa more integrated, global. Approach to childhood studies»Global Studies of Childhood, v. 6, n. 3, 2016. QVORTRUP, Jens. A tentacao da diversidade — e seus riscos. Educacdo & Socie- dade, Campinas, v. 31, n. 113)\p. 1121-1136, out/dez, 2010. QVORTRUP, Jens; CORSARO, William A.; HONIG, Michael-Sebastian. The Palgrave Handbookof Childhood Studies. London: Palgrave Macmillan, 2009. QVORTRUP, Jens. Bem-estar infantil. em uma era de globalizacao. In: SOUZA NETO, Joao’Clemente; NASCIMENTO# Maria Leticia B. P.; SAETA, Beatriz Regina Peteira. Infancia: violéncia) instituicdes e politicas publicas. Vol. 2. Sio Paulo! Expresso & Arte, 2007, p-43-61. QVORTRUP, Jens. Sociology of Childhood: Conceptual Liberation of Children. In: MOURITSEN, ., QVORTRUP, J. (Eds.) Childhood and Children’s Culture. Odense: Odense’ University Press, 2002, p. 43-78. QVORTRUP/ Jens: Introduction of sociology of childhood. International Journal of Sociology, w/17, n. 3, p. 3-37. Fall, 1987. REYNOLDS, Pamela. The Double strategy of children in South Africa. Sociological Studies of Child Development, v. 3, p. 113-38, 1988. ‘micl-impren-grografa das cianemindd 43 rsjovanat 1139 RIBEIRO, Susana M. S. P. Brinquedos e brincadeiras em contexto de rua: o papel do brinquedo nas culturas infantis em Mocambique. Dissertacao (Mestrado em Estudos da Crianca) ~ Universidade do Minho, 2016. ROSEMBERG, Fulvia. Estudos sociais sobre a infancia e direitos da crianga. Cader- nos de Pesquisa, v. 40, n. 141, p. 689-691, set./dez., 2010. ROSEMBERG, Fulvia; MARIANO, Carmem L.S. A Convencio Internacional sobre os Direitos da Crianga: debates e tenses. Cadernos de Pesquisa,wv. 40, n. 141, p. 693-728, set./dez., 2010. SANTOS. Dijanira N. V. L dos. Culturas infantis: crianga® brineando na rtia @em uma pré-escola na cidade da praia (Cabo Verde). 228 p. Dissertago (Mestrado em Educacao) ~ Universidade Estadual de Campinas, 2010. SARMENTO, Manuel Jacinto. A Sociologia da Infancia e a sociedade contempo- ranea: desafios conceituais e praxeolégicos. In; ENS, Romilda T.; GARANHANI, Marynelma C. (Org.). Sociologia da Infancia’e a formagdo de professores. Curitiba: Champagnat, 2013. p. 13-46. SIROTA, Regine. L’enfance'au regard des Sciences\sociales. AnthropoChildren, Issue 1, 2012. Disponivel em: http://popups.ulg.ac.be/AnthropoChildren/document. php?id=921 Acesso em: 28 abril 2013. SIROTA, Regine. Emergéncia de uma Sociologia da Infanci e do olliar- Cadernos’de Pesquisas n.%112, p. 7-31, mar. 2001. SZULG, Andrea; COHN, Clarice. Anthropology and Childhood in South Ame- rica:Perspectives from Braziland Argentina. AnthropoChildren, Issue 1, 2012. -volucao do objeto DispOnivel em: http;//popups.ulg.ac.be/AnthropoChildren/document. php?id=427. Acesso em: 26/abril 2013. THOMAS, Nigel. Ghildren, family and the state: decision-making and child par- ticipation. Basingstoke: Macmillan, 2000. TISDALL, E. Kay M.; PUNCH, Samantha. Not so ‘new”? Looking critically at childhood studies, Children’s Geographies, v. 10, n. 3, p. 249-264, 2012. ‘micl-impren_-grografa das cianemindd 4 rsjovanat 1139 TISDALL, E. Kay M.; MORRISON, Fiona. Children’s participation in court pro- ceedings when parents divorce or separate: legal constructions and lived experien- ces. In: FREEMAN, Michael (ed.) Law and childhood studies. Oxford: Oxford University Press, 2012, p. 156-173. TWUM-DANSO IMOH, Afua. From the singular to the plural: exploring diver- sities in contemporary childhoods in sub Saharan Africa, Childhood, v. 23, n. 3, p. 455-468, 2016. VOLTARELLI, Monique Aparecida, Estudos da inféincia na América do Sul: pes- quisa e producao na perspectiva da Sociologia da Infancia. 2017. Tese (Doutorado em Educacao) — Universidade de Sao Paulo, $a0 Paulo, 2017. WARTOFSKY, Marx. A construgao do mundo da crianca e a construcao da crianga no mundo. In KOHAN, W. O.; KENNEDY, D, (Org.) Filosofia e infancia: possi- bilidades de um encontro. Petrépolis: Vozes, 1999, p. 89-128. WELLS, Karen. Childhood inGlobal PerspectiveGambridge: Polity Press, 2009. WOODHEAD, Martin. Childhood studies: past, present and future. In: KEHILY, Mary Jane. An introduction to\childhood studies. 2" ed. London: Open University Press, 2009. WYNESS, Michael. Childhood and Sotiety: an introduction to the sociology of childhood, Basingstoke: Palgraye’Macmillan, 2006. ‘micl-impren-prografa das cianemnindd 45 rsjovanat 1139

You might also like