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LO aise y @fehay4 WU Fhsai Pans 108 an Rae SU Nora “Do ponto d natureza do entendimento antropolégico pesquinador de campo semicamaleso, que se adapea perl lagre ambulante em empatia, ato, pacigacl e eosmopoliismo, um gop, demolido por aquele que tinh fe que lito contin, Grande parte clo choque parece ter sido conseqineia da mera descaberta que Malinowski nao fra, para expresso de uma forma delicada, um sujcto ‘muito simpatico, Dizi coisas bastante desagradiveis sobre fs mativos com quem vvi, € usava palveas sgualmente desapradivels para expressar estes comentirios. Passa itund parte do seu tempo desciando estar em outro lugae F projetava uma imagem de toil intolerinca,talvez uma dis maiores intolerincias do mundo. (Hojetava também a fmager dle um homem que se consagrara a uma voeacio cctranha a ponto de se auto-saceficar por ela, mas isso otavese menos) Com tudo 50, baixouse o nivel do Sebate, concentrando-o no earite~ ou na falta de easter ~ ‘Malinowski, ¢ gnorando a questo profunda e genwina mente importnte que lizo havialevanado, isto €. seni Sragisaalqum dpo de sensibilidade extoedindsa, a umn ‘apacidade uase sbrenatural de pensar sentir e perecbor © mundo como um naivo (uma palara, que, devo logo fizer, useh aqui "no sentido estto do terme") como & possivel que antropslogos cheggiem a conhecer 3 manciea ‘eomo um natvo pensa sentee pereebe-o mundo? Aquestao {que o divi intros, com uma seredace uc talvez 36 um, fndgrafo da ativa possa apreciar totalmente, no € uma ‘questio cica. (A ideaizagio moral de pesquisadores de ‘impo é, em si mesma, puro sentimentalismo, quando nie ‘ums forma de autoparabenizarse ou uma pretensio exage- rida) A questo €epistemoldgic. Se € qu vamos insist « naminha opiniio, devemos insstir—que énecessirio que ntropélogos vejam o mundo do ponto de vst dos nativos, fondle Raremos quando nio puldermos mais aerogarnos siguma forma anicamente nossa de prosimidade psicols $a, ou algum tipo de idendificagio ranseultural com nos fos sujeitos? O que acontece com 0 verteben quando © ‘infblen desaparece? ‘Nis, cate problema pera vem sendo tema de ndimneros debates na anteopologia nos iltimos dez ou uinze anos: a vox de Malinowski, do timulo,simplesmente dramatizou a ‘questo, tomando-a um dilema humana que passou 8 ser 86 mais importante que @ profsional. Durante estes anos, a Tormulaeées do problema foram varadas: descrigdes que so vistas “de dentro” vera a que sio vistas “de fora”, Ou deserigdes “na primeira pessoa” versus aquelas "na terceira pessoa’ teorasTenomenoldgicas ver “objeuvistas", cogglvas versus "comportamentals talvez mais com ilses“émica” versus anises“tias", sta Ut ido de uma distingao linguistica entre as classificages fonémicas ou fonétieas dos sons, de acondo ‘om ss anges interna na linguagem, sendo que a fone Uc os classifica de acordo com suas propriedades atsticas propriamente dias. forma mais simples edieta de colocar A questio €, tavez, wela nos termos de uma distingdo, formulida pelo psicanaista Heinz Kohut para seu propio ./ two, entre © que ele chamou de eonceitos cla “experténcla: réxima”« da “experieneia-distante = 2 peti ‘Um conceit de “experiéncia proxima” & mais ou me: ‘os, aque que alguém uum paciente, um sueito, em nosso ‘aso informant ~ usaria naturalmente e sem esforco | para defini aquilo que seus semelhantes véem, sentem, | Pensa, imaginam ete. e que ele pepo entenderia fal mente, se autos 0 utilzassem da mesma maneira, Um |< ‘conceitade“experiéncia-distante”€aquele que especialistas ‘de qualquer tipo — um analist um pesquisador, um ean ‘alo, ot até Gm padre ot um ideologista ~ tlzam para levaracabo seus objetivosclentfces,ilbsétcos ou pritico. | ‘Amor’ € um conccito de experiénciardxima;“catexia em ‘um objeto" de experiénciadistante. "Estatifeagio scl” ‘alex para a maioria dos poros do mundo, “cligiio” (© das coisas, inclusive a do eu. A visio de antigo membro de re nha sobee a futiidade da aco siante da mortaldade ~o mundo € um paleo, ends somente poles atores, felizes em pavonear-nos, € asim por dante ~ pio faz sentido em Bal, Nao exist faz-de-conta; claro que fs aores moerem, mas peca continua, e€o que fot atuado, Indo quem atu, que realmente importa, ‘Umaver mals, ru sto se manifesta através de uma série Os balineses tém pelo menos mila civia de ulos prin pals, atribuidos, fans € absolwtos que uma pessoa usaria paradesignar uma outra (ou, ¢ fico distinc, delimicado e internamente muito complexo ‘Quando se usa uma dessas designagoes ou um cesses itulos fou, como € mais comum, varios dees) referindo-se a al cpuém, deinese este alguém como uum ponto determinado ‘uma estrurar fxa, © ocupante temporiro de um focus altura, bastante permanente © especifico. Identifiear al gum em Bali, seja0 proprio sujeto ou uma outra pessoa, Edieterminar seu lugar em um elenco conhecido de perso- hnagens — “rei, “av, “0 terceizo filo”, "brimane” ~ que inevtavelmente compoem o drama social, como se este fosse nada mais gue alguma pera—do ipode Charley's arnt ‘oa Springtime for Henry ~ exibida pelas estradas por um ‘grupo de saltimbancos. ‘0 deama no €, obviamente, uma farsa © prineipalments + ig € uma farsa de travesti, emboraneleexistam elementos UGcambas,F uma representagio da bierarquia, um teatro do 1 Stas, Infelizmente, neste ensaio, nao nos € possvel desere ‘er a caracteristcas desta representacio, embora entendé Ta seja essencil para compreender os balineses. Aqui, nos Timiaccmos a dizer que, nto em sua estrutura, como. || forma em que opera, os sistemas terminol6gicos cond ‘em a uma vsio dla pessoa humana como um representante fdequaddo de um ipo genérico, e nfo como wma eiaturs “iain com um destino especiico. Acompanhar este proces Ifo. ol fa, como os sistemas terminoldpicos tendem & “bscurecer a5 materialidades ~ biolégicas, psicoldgicas € historieas~ da exsténeia individual, pivilegando as qual ddades padronizadas do sates, exigira uma anise extensa ‘Talver um Gnico exemplo, simpliicando ainda mais a parte mais simples do pracesso, poss ser sficente paradar uma fdéia de seu funeionamento. ‘Todos os balineses recebem aqullo que poderiamos cha mar de nomes relatives 3 ordem do nascimento, Estes 0 6 ‘quatro; “o primeico, o segundo, 0 tercero ¢ 0 quarto natos. Depois disso, inkease outra vez a série, © 08 flhos que nascerem emt quinto esexto hig, serio, outa vez, cham los, espectivamente, de primeiro © segundo nats. Além ‘isso, oF nomes so dadosirespectivamente 20 destino que tenham as criangas. Assim, ceangas que morvem, mesmo 35, ‘que morrem ao nascer, entram a nomenclature, porta ‘to, em tm pais onde existers ainda alts indices de matali dc ede mortalidade infantil, 0s nomes, por s1 56s, nio dio ‘oma idéia muito confvel da ordem de nascimento vera. fica de individuos coneretos. Em tum grupo de irmaos, alguém que € chamado de primeiso-nato, pode, na realiar ‘Ge, ter naseido em primeito, quinto, ou nono lugar, OU, se ‘morreu alguna crianga, em qualquer higar satermedieio tette ests tes; ot alguém com o nome de segundo-nato pode ser, na verdide, o mais yelho. A nomenclatura da ‘ondem de nascimento ado identifica individuos como indie ‘ios, nent € esta sua intencio; o que fz é serie que ems {ods 0 easais ule procriam os nascimentos formar uma scessd circular de “primeiros’, “seguados, "terceiros" e ‘quartos", uma répliea continua em quatro estigos de uma fora imperecivel. Fiseamente, os homens aparecem e de siparecem como coiss efémeras que sio, mas, socalmente, ‘os nimeros que os representam permanecem eternamente ‘osmesmos, medica que novos “primeiro-natos” ou segun- ‘lornatos” emergem do mundo atemporal dos deuses para substituie aqueles que, 20 morrer, dissolvem-se, uma vez tnais, naquele mundo, Bu dita que todos os sistemas de tinulos e designagdes funcionam da mesma mancica: eles Fepresentam os aspectos da condigio humana que estio, Imi ligaos ao passar do tempo, como meros ingredients fr um presente eterno que 0s ilumina como as luzes em Nem mesmo a sensacio que os balineses tem de estar sempee em um paleo é assim tio vaga € inefivel. Ela & expressa com exato por um de seus conceitos de “expe rignla-préxima’” mais comuns: 0 feb. Lek ft traduzido de 7 seas, na maioia das vers incorvetamente (‘Vr ‘gonha’ € uma das tedugbes mais conbecidas), mas seu Signifcado mais aproximado € algo assim como o que cha ramos de “nervsiemo de ator". O nervosiemo de ator, como stbemos, consste naquele medo que atores seater de que, por flta de téeniea ou de autocontrote, ou talvez por um simples aeidemte, mio seam capazes de manter a uso estétic, deveande, asim, que © ator aparesa ports do papel que desempenha. Se falha a distincia estéica, 0 pblico (eo ator) perdlem de vista Hamlet ¢ em seu lua, pra desconforto geal, weer um gogurjante John Smithqpe lguém erroneamente colocou pata fazer o papel de rine peda Dinamarca. Em Bali, acontece o mesmo: o que se teme que o desempenho, em pibice, do papel para 0 qual fomos selecionados por nossa posigo citral sa tim fracas, eque a personalidade do individu ou que ads ‘cidentaischamariamos de personaldade, ji que os baline- 55 no 0 fartm, pois no acreditam nisso ~ se compa, dissolved sua identi publica etabclecida, Quando {sso acontece, como is wees acontece, sentese a proxi dade do momento com uma intensidade excruciante, «8 pessoas, subita erelutantemente, tormam-seeratiras reais, ‘mutwamente constrangidas, como se, de epente, vessem seflagrado nuas, Eo medo do faux pas, que se torna muito mais provavel devido a rtualizagio exttaoedindia da vida fotdlana, que mantém 0 intercimbio socal sobre thos Adelbradamente estrcitos, e protege o sentido teatral do eu dda ameaga destruidora implica naqucla pronimidade © tspontaneidade, que nem mesmo o eerimontal mais exacer ‘ado pode eliminar totalmente dos encontros face a face do conitano. Ww Marcocos, Oriente Média cima seco, em vez de Asia Oriental e cla imido, Extrovertid,fuido, tivo, mascul ‘no, exageradamente informal. Um tipo do beste selvagem 98 «A flmesamericanos sem ox bares € 08 vaquelros. Um outro tipo de "cus" completamente diferentes. Meu trabalho ali ‘ve comegou em meados dos anos 60, concentrou'se em tina cade de tamanho médio, aos pés da corihera de Iie cere de mas vinte aaihas 20 sul de Fez. O lugar € tntigo, hindado provavelmente no século X, planejado até tmesino antes diss. Ainda conserva os muroe 0s pores, 05 ‘minarets estetos que se elevam até as plaaformas de onde sles sto chamados para a origi, todos elementos cara tevsticos de uma ciate muculaana clissica. Felo menos 3 tistanea, lugar ébastantebonito: uma forma oval irregular profundamente branes, localzadn em wm oss onde exc ‘en leita de tim verde de fundo de mar. As montanhas, {qual sio cor de bronze ede pedra, se elevam portris deste ‘ssi Vita de pero, a cidade € menos imponente, mas mais ‘stimulant: um fbiriaco de pasagens erueas tes quartos ‘Sas guns sem sada, eeead por peéios que tm a aparén- ‘cn de muros los aia das cakadas, todo sso repleto ‘com uma varedade smplesmente surpreendente de seres Inumanos extremamente simpiticos. Arabes, besberes © ju deus allsites, bolairos soldados; pessoas que saem dos ‘sero, das mercados, ds tibos; 1605, Superticos, Por brese superpobres nascidos no local, migrates, mitagbes te feneeves, medivalistas aieracos, eer algum lugar, de ‘coq com o eenso oficial do governo para 1960, um piloto ‘de aviio,juden ¢ desempregide. Nas 3545, um eos grupos Imaisesplendidos de indvios fortes evigorosos que jamais ‘cdo ldo de Sefrou (este €0 nome da cidade) Manhattan prose quate monstona Forém, nenbuma socedade consste unicamente de ex- cénutcos anonimos ues tocam ericochetciam como bolas ‘ke ihr, eo" marroquinos eambém tm seus meios simb- licos de separae gentes mas das outeas ede identiiar 0 ‘que € que signifi ser uma pessoa. Um dos meios mais importantes ~ que nio €0 tnlco, mas que en considero © ‘mais importante e sobre o qual yostaria de falarnesteensaio "Gama forma lingustlea peculiar chamada, em arabe, de 99 fusba, A palavea deriva de uma raizwitera, mb, para “atnuigSo",“imputagio", “relagéo", “ainidade”, “correla io", “conetio",“parenteseo”, Assim, AT quer dizer "pa rente por afinidade”; nab significa “atnbuie ow imputar “muntsaba” quer dizer "uma relacio”, “uma analogs", uma ‘correspondéncla": manslh quer dizer “pertencer a, faze: do parte de", e assim por dante, com cerca de uma din de derivados, desde nassdb, (*genealogista") a€ nisbiya Ce: Ividade [sca A palivea nisha, propriamente dit, refere-se portanto a ‘um processo de combinacio morfolégica, gramatial © se ‘mintica que coasste em tansformar im substantive naga Jo que nés chamariamos de adjetivorelativo, mas que, para (6 arabes, € simplesmente um outro po de substantive, aerescentando-e i (oyna forma feminina);SefrulSefon sefruutio nauvo de Sefrou; Susiregiao do sudoeste mae- ‘oquino ~sust/homem aascido nessa regio Bent Yazea uma ribo perto de Sefrou ~ Yargiium membeo dessa tebo; Ye io povo jes como wm povo, Yabueltam tnico jude; Adlunisobsenome de uma familia importante em Se- frouiAdlunifum membro dessa familia. Este procedimento iio se limita a esta simples "etnzacio" de substantivos, mas também pode ser utilizade com uma variedade enorme de palaveas pura atrbuie relagSes de propriedadle a= pessoas. Por exemplo, ocupacio (brariseda ~ brari/mercador de seca), seita relgioss (Darqawaruma ismandade mista ~ Darquaziiuen adepto desta iemandade o¥ um estado esp ‘ual, (Alo peneo do Profeta — Alawihim deseendente do ‘zenro do Profeta, ¢, por conseguiate, também do préprio Profeta) ‘Uma vex formadas, as nighas 80 normalmente incorpo tadas aos nomes pessoais Umar AFBuhadiwiUimarda tribo ‘hada, Mubammed ALSussi Muhammed da regio Sus © este tipo de classificacao adel atrbutiva égeavada publi feamente como parte da identidade de um individu. Nao jude encontrar sequer tm caso em que um inlividuo fose 100 conhecido, ou dele se soubesse alguma coisa, mas no se Soubesse sua nisba, Na verdade, € mais provivel que os shitantes de Sefeot ignorem o padrio econdmico de um womem, sua faa eviria, seu cariter pessoal, ou onde cle vive, do que sa misha, ot seja, se ele € Suss ou Sefroul, hhuhadie of Adluni, Harari ou Dargaws. (Com eelagio a rulheres que nio sejam parentes, a nisha sera provavel nen a inica coisa que umn homem saberia delas- ou, ser mais exato, a nica coisa sobre elas que Ihe seria permi- \ido conhecer) Os "eus” que se atropelam e se acorovelam fas ruclas de Sefrou adquirem sua definigio através das ‘elagiesassociativas com a sociedad que os cecunda, rel ‘oes estas que thes so atnibuidas. Sao pessoas contextual sadas -Asinagio, no entanto, anda mais complicads isbas tomam os homens relatos seus contents, mas, como os opros contests sto relatos, s nsbas também passa 2 er reat, ¢ tudo, por assim diver, €, portato, eleva ‘uma segunda poténcia ~ relavismno a0 quadeado. Assim, om um nivel, todos os naseidos em Seow tim a mesma tuba, ou pelo menos em potencal ~ io &, todos 80 Sou Noentanto, ma propracidade, estaba, ustamen- {© porque nio disriming, no sex guna ullzada como tare de ua desigagao indvidual. 86 fora de Seftou a ‘elagio com ese contexo expeciicn passa a ser caper de ‘entiicar um indivi em particular Em Sefrou, poramo, Cle seré Alun Ala Meghrawl, Nad qualguer outa trisha deste nivel. E dentro de aca ma destaseategoras Sucede exatamente 4 mesma cols. Ha, por excmplo, doze bas cferentes Shai, Zune outa) saves das als { Sefiou lai, em suas exis, se dstinguem ene ‘Todo 0 pracesso est longe de ser regular, que nivel ou tipo denisba serd usa ou parecerd rlewante ou apropeis do (para os que as usam,é lar), dependers totalmente da sinuagio. Um conhecida men que morava em Selrou e tae ‘athava em Fez, mas crt origindeio de uma tibo Beni Yazgha 101 das proximidades ~ além disso era da subsubfracio Wulad, Ben Yair, da subracio Taghut da linhagem Mima ~ era conhecido como Sefioul por seus companbeiros de trabalho ‘em Fez, como Yazghi, por todos os no Yazghis em Sefrou, fcoino Valet por todos os outros Beni Yazyhas que por all ‘iviam, a nda ser por aqucles que vinham, eles prépsios, da fiagia Wulad Ben Yair Estes 0 chamavam de Taghuti, en {quanto que, ¢ claro, os outros poucos Taghutis 0 chamavam {le Himiwi. Em Marrocos, ss nfsbas paravam ai, mas Marro- ‘cos no € 0 limite até onde podem it. Se, por 2a, nosso. amigo visjasse para o Egito, cle se transformaria em um. ‘Maghreb, a mish formada com a palavra que, em Seabe, significa Aiea do Norte, A contextualizagio socal das pes- soas ¢difusa, ena sua maneia custosamente nio-metédica feaba sendo sistemities, Os homens nio flutuam como Cmtidades psiquica fechadas, que se destacam de seu con fextoe reccbem nomes individuais. Por mais individualisas {eat obstinados que sejam os marroquinos — ¢ na verdade fo sto, sua identidade é um atsbuto que tomam empresta- do do cenisio que os rodeia Como o tipo de bifurcagio fenomenoldgica da realidad dow javancses, com seus dentroffora € suavenosco, © 0 sistema de tialos dos balineses que absolutiza, o modo noha de olhar a pessoas como se estas fossem contomos. ‘espera de serem prccnchidos ~ nao um costume isolado ‘csim parte de um tipo de estratura que abrange toda ava social. Esta estrutur, como as de Javae Ball, também € ciel {de ser earacterizaca de forma sucinta, Mas um de seus ‘lementos principais é certamente,o ato de que existe, em. situagoes piiblicas, uma promiscuidade confusa de uma, variedade de sezes humanos que, na sua vida privada, cuidadosamente segregidos: um cosmopolitsmo exacer- bbada nas nas, um eomunalismo estto dentro decasa (1 ‘ual a famosa seyregacao das mulheres € apenas 0 exemplo ‘mais Sbvi). Bste € 0 chamado sistema mosaico de organiza ‘ho social freqientemente considerado caracteristico do Griente Médio como um todo: fragmentos de formas e cores 102 Iiercntes queso encaixados lregularmente para gerar um Jsenho global complexo, no qual a diferenga individual de ila fragmento permanece intacta. Sendo diversa mais do, ‘que qualquer outea coisa, a sociedade marroquina nio ad- thinstra sua diversidale Fxandoa em castas,isolando-a em Iribos, dividindo-a em grupos étnicos, ou cobrindo-a com Higum conceito denominadorcomum como a nacio- halide, embors todos estes sistemas tenham sido experi Imentados de forma esporidica. Gerenciam a diversidade Uistn- guindo, com uma precsio elaborada, os contextos ~ ‘pmatrimoni,adevogioreigioss e, até certo ponto, a diet, ts lise @edcagio ~ nos quais os homens sio segregados por suas diferengas; € outeos ~ 0 trabalho, a amizade, a polica © 0 comércio onde, ainda que com desconfianga | Ijonalmente, s40 unidos por elas. ara este tipo de estrutura socal, uma concepgio do eu ‘que marea a identidade pablica contextualmente € rela Nsticamente, mas o fiz em condigaes ~ tribais,cestorais, lingistias, religiosase familiares ~ que se desenvolvem nas csleras privadas ¢ estabeleeidas da vida, onde tém uma, ressonancia profunda e permanente, parece ser particu larmente apfopritda, Na verdade, parece que a prépria ‘strutura social cra esta concepedo do eu, jé que produz, Situagbes onde as pessoas interagem em termos de caego- Fins co significado € quase totalmente posieional um ugar hho mosaico plobal, que deixa de lado, como algo que deva sr encadosamente escondido em apartamentos, templos € Tenis, o contedido substantivo das categoras, ou sea, 0 que ‘as sigolficam subjetivamente como modos de vida expert Inentaos, As diseriminagdes da nisha podem ser mais Ow Inchosespeciicas, indica o local do Fagmento no mosaico tle forma aproximada ou exata, ¢ adaptarse a quase todos ‘ostipos de midangas de decunstineias. Nao postem, porém, ‘muito mais que wana dia geral, um esbogo ow contomno lo ipo e cariter dos homens a quem os nomessio atibut ls. Chamar tum homem de Sefroui é como chamiclo de 103 franeiseano; o nome o clas ele €; localiza, sem setratél. a, mas nao estabelece como FE justamente esta capacidade do sistema de mishas ~ a ‘deere um contomo no qualas pessoas podem serinseridas de acordo com caracteristeas que, supostamente, Ihe si0 Jneveates (ala, sangue, fe, proveniéncia, eoutrasmals),€20 ‘mesmo tempo minimizar o impacto que estas cartcteristicas tém na determinagio de relagbes pritcas entre essas pes soas em mereados, las, escrtérios, no campo, em cafés, banhos piblicos,eestradas ~ que otorna to essencial para a concepcio mareoquina do eu. A categorizacio do tipo tisha conduz, paradoxalmente, a um hiperindividualismo ‘as relagées piblieas, pols, 20 prover unicamente um con: tomo vazio e até mesmo mutante de quem sio 0s aores — |Ywghis, Adlunis, Buhadliwis, ou seal quem fordeixa todo lo resto, ou sei, praticamente tudo, para sex preenehido 20 | proprio processo de interacio, O que fz 0 mosaico funcio- nar € certeza de que podemos se completamente pragm’> eos, adapcives, oportunistas,e, de um modo geral ad boc fem nossasrelagdes com outros una rsposa entre raposas, tum crocodilo entre crocodilos — tanta quanto quisermos, sem nenhum risco de perder o sentido de quem somos. A iio ser na imimidade da procriasio da oragio, o “eu” fnunea esti em perigo porque somente suse coordenadas foram declaradas. v Sem tentar dar nds em umas quantas dizias de pontas ‘que, durante estes relatos apressados sobre o significado do ‘cu para cerca de noventa e nove milhdcs de pessoas, no 86 ideixeh penduradas, mas certamente desie ancla ma, re- tomemos #0 ponto principal, que € saber exaramente o que tudo isso nos diz ~ ou poderia dizer, se explicado de forma adequada- sobre “o ponto de vista dos naivos” em Jaa, em Bale no Marrocos, Ao deserever 0 uso de simbolos,estare- ‘mos também descrevendo percepeses, Sentimentes, Pon. 104 sone vista, experiéncias? Se airmativo, em que sentido? O, Wo declaramos cow {he © exatamente que aflemamos qi Ihceniler os meios semisticos através dos quais. nesses thon, as pessoas se definem ¢ si0 definidas pelas outras: | {qe entenlemos as palavas Ou que entendemos as mente?) sea responder a esta pengunta, ero ser necessirio, Jimciramente, observar que o movimento intelectual cara fevisticn, 0 etme conceptual interno de cada uma dessas Iialses, e ate de todas as anilises semelhantes ~ mesmo as the Malinowski ~ ¢ umm bordejar dialético continuo, entre 0 menor detalhe nos locals menores, ¢ a mais global das fotrtura globais, de tal forma que ambos possim ser Fhscrvados simoltaneamente. Na tentativa de descobrir 0 hijniieado do eu para os javaneses, balineses e marroqu- thos oscilamos incansavelmente entre um tipo le mindeza ‘chien que faz com que a leitura da melhor das etnograias ej ma tortura (antitesesLéseas, esquemas de categoriza (io, transformagies morfofonémieas), «earacterizagbes 80 vangentes que a ndo ser pelas mais comuns~ se tornam, tim tanto implausiveis (quietismo",“dramatismo”,“contex- Ills), Saltando continuamente de uma visio da total tke através das vias pastes que a compoem, para uma Wisio das partes através da totalidade que € a casa de sua {hinGneta evice-wersa, com uma forma de mocio intelectoal perpetua, buscamos fazer com que uma seja explicagio para Tid iso 6, claramente, a wajeria, jf bastante conhe- 1, cdo méorlo que Dilthey chamou de ctculo hermenéu-\ tico Minka tengo aqui foi mostrar que ela € tio essencial " pra inerpretagoes etogrificas como para interpretages Incr, historias, flologieas, psteanalitica, ou biblias, ft até mesmo para anotagbes informals sobre aquelas expe- ‘énciascotdianas que chamnamos de bom senso. Para acom ypanhar um jogo de besebol temos que saber o que € um Ihastio, uma bastonada, um tueno, um jogador de esquerda, tin lance de presto, uma trajetria curva penlente, ¢ um 105 ‘entra de campo fechado, ¢ também como funciona 0 jogo ‘que contém todos estes elementos. Quando, em uma expli- tation de texte, um erfteo como Leo Spiter tenta inter pretar a "Ode sobre uma urna grega” de Keats, ele se ppergunta repetidae alternativamente dss questoes: “Sobre que € este porma’” €°O que é, exatamente, que Keats vi {ou decidiu mostrarnos) desenhado na urna que ele desere- ye? ehega a0 final de uma espiral ascendente de observa {Ges gems © comentirlos espeeificos com uma letra do jpoema que interpreta como uma afemagio do triunfo da J pescepcio esttica sobre a histérica, Damesma forms, quan- ‘do um etnéigrao de significados € simbolos como ea tent tlescobrit 0 ue € uma pessoa na visio de algum grupo de hati, ele val e vem entre duas perguntas que faz a si ‘mesmo; “coma é asta maneira de vier, de um modo geral fe “quaiss20 precisamente os veiculosatcavés dos quais esta tmaneiea de viver se manifesta?” chegando 20 fim de uma spiral semelhante com a nosio de que eles consideram 0 fe como uma composicao, uma persona, ou wm ponto em tama estrutura. Nido poderemos entender o signifi Telsa nao ser asic entendamos 0 que € 0 dramatismo balins, ‘da mesma maneira que nto saberemos o que € uma luva de “panhador se nio conhesemos o jogo de beisebol, Ou nto htenderemos o que significa wma organizagio social mosai- -easem saber oque é anisba, exatamente como nio€ possivel ‘Compreendero platonismo de Keats, sem sereapaz de captat SSpara usir 4 propria formulagio de Spitce ~ "o fio do pensamento infeleeaual” contido em fragmentos de feases ide Attic", “a forma silenciosa", “noWa da pastoral fia, “silencio e tempo lento”, “ck dadela em paz", on “cantigas sem nenhum tom": Em suma, & possivel relatar subjetividades allias sem srecorrer a pretensas capacklades exteaordinarias para obl- teraro proprio egoe paraentender os sentimentos de outros Seres humanos, Poss e deseavolver capacidades notmais para extas atvdades é, obviamente, essencial, se temos fesperanga de conseguir que as pessoas tolerem nossa intr 106 1m sas vidas ou de que nos aceitem como seres com “em vale a pena conversar. No estou, em hipétese alguma, delendend a falta de sensibilidade, € espero nao ter dado sta impressio, Mas seja qual for nossa compreensio ~ Conreta ou semicorreta ~ daguilo que nossos informantes, yor assim dizer, realmente sao, esta no depende de que Tenhamos,nés mesmos, aexperiéncia ouasensagio de estar tendo aceitos, pois esta sensacio tem que ver com nossa propria biografis, ndo com a deles, Porém, a compreensio Hlepende de usa habllidade para analisar seus modos de fexpressio, aquilo que chamo de sistemas simbélicos, € 0 fctmos aeitos contabi para o desenvolvimento desta har hildade. Eatender a forma e a forca da vida interior de ‘haivos ~ pra usar, uma vex mais, esta palavra perigosa ~ ppucce-se mals com compreender o sentido de um prover- hho, captar uma alusio, entender uma piada ~ ou, como suger cima ~interpretar um poema, do que com conseguir lina comunkio de espiitos. 107

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