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O PREPARO E ENTREGA DE SERMOES John 8. Broadus Nova Edica&o. evista por Jessé Burton Weatherspoon, Doutor em Teologia e em Divindade ~1960—_ CASA PUBLICADORA BATISTA Caixa 320 — Rio TradugGo Avtorizada da Obra em Inglés “'ON THE PREPARATION AND DELIVERY OF SERMONS” feita pela Rev. Waldemar W. Wey PREFACIO A NOVA EDICAO REVISTA A primeira edigdo do livro de Broadus — O Preparo e Entrega de Sermées — apareceu em 1870. Em 1897 foi revisto pelo dr. H. C. Dargan, aluno do dr. Broadus e sucessor déle como professor catedrd- tico de Homilética em Louisville. Tal reviséio se féz em grande parte baseada nas préprias notas deixadas pelo dr. Broadus ¢ nas sugestées que apresentana em muitas conversas com o revisor. Em 1926, io ‘dr. C. 8. Gardner, sucessor do dr. Dargan, reviu a bibliografia, classifi- cando e aferindo as principais obras que tratavam do sermao. Jd que éste livra desde o seu aparecimento vinha sendo usado de modo cons- tante e crescente, e pelo fato de apds trés quartos de_século_continuar sendo_o principal manual tica_ entdo procurado, ficava ‘per- feitamente justificada @ sua reedicao. Assim, a pedido dos editéres, e com o consentimento e a generosa cooperagéo da senhora Ella Broadus Robertson, filha do dr. Broadus, resolveu-se, &@ medida que os anos exigiam, tirar esta nova edigdo, encabegada por outro professor da mesma segéo em que esta obra nas- cera. Ele aceitow a tarefa, apreciando humildemente a insigne honra de ser contado como wm dos sucessores de Broadus, Dargan e Gardner, ena firme convicgaéo de que um Broadus revista exerceria maior atracéo sdbre a nova geracio de pregadores do que wma obra totalmente nova sdbre o assunto. Poucos livros, e mesmo talvez nenhum, sdbre Homi- lética, tém apresentado o assunto de mancira tdéo compreensiva, sim- ples e nitida, e de interésse duradouro, como esta obra de Broadus. Em nada cedendo a tentagéo de impor ao estudante os seus métodos favoritos, Broadus dew o melhor de sua atengdo a principios e mé- todos provados, valendo-se das seculares e classicas obras que se re- lacionam com a arte de pregar. Justamente por isso o livra sobrevive, necessitando de revisio apenas em pontos secunddrios. Nesta edigdo Ros propusemos a conservar as carateristicas essenciais da obra do VI PREFACIO A NOVA EDICAO REVISTA dr. Broadus. Os mestres, contudo, encontraréo numerosas modifica- ¢des — condensagées, desenvolvimentos, novas formas, omissdes, in- sergdes — que néo podem ser explicadas num prefdcio. Espera-se que tais modificagdes se justifiquem por si, pois foram feitas inica- mente com o objetivo de ajudar os estudantes de nossos dias. Talvez as modificagdes mais chocantes se percebam no esbdco geral da obra. Assim, nas primeiras edigées todos os elementos ma- teriais do serméo estavam incluidos na Primeira Parte. Esta dividi- mos agora em duas partes: uma, tratando das Bases do Serméo, que inclui capitulos sébre o Texto, a Interpretagdo de Textos, o Assunto, ou Tema (Capitulo novo), a Classificagdo de Assuntos e os Elementos Gerais do Sermao; a outra, que trata dos Elementos Funcionais do Sermdo, € que inclui capitulos sdébre a Huplanagéo, a Argumentagéo, as Ilustragdes, ¢ a Aplicagéo. Enire essas duas partes, a Segunda Parte das primeiras edigdes aparece agora inserta coma os Elementos Formais, ou Regulares, do Serméo, em conformidade com a prdtica de ensino esposada pela maioria dos professéres, inclusive o préprio dr. Broadus. As partes restantes do lwro obedecem & ordem das edi- cdes anteriores. A Quinta Parte, tratando dos méiodos de preparo e enunciagie do sermdo, apresenta. um novo arranjo do seu material, tendo-se desenvolvido a tratamento dos métodos de preparo, o que julgamos propiciar aos estudanies as vantagens do sistema de notdveis pregadores modernos. Modificagées outras baseiam-se em necessidades observadas por es- tudiosos em certos periodos de tempo. O capitulo sébre a Interpreta- edo de Textos aparece um tanto resumido, esperando-se, porém, que niio desmeregam o seu valor os estudantes que néo tenham feito curso separado de Interpretagéo. Também resumimos um tanto ¢ demos novo arranjo ao capitulo que trata da Argumentagdo. Referéncias literdrias e notus ao; pé da pdgina também foram revistas, e eliminamos as que néo tinham grande valor para o estudante de nossos dias, e inserimos varias referéncias a autores modernos e escothidos. Conservou-se a excelente obra bibliografica do dr. C. S. Gardner, e se acrescentou a mesma uma lista suplementar de livros afins. Expressa-se aqui funda gratidio para com védrios editéres, por sua bondade em permitir que se fizessem citagdes de livros de elevado e reconhecido valor. Igualmente se agradecem as iniimeras e vatliosas sugestées feitas por estudantes e colegas nossos. J. B. Weatherspoon Seminario Teolégico Batista da Sul, novembro de 1943. PREFACIO A EDICAO REVISTA A primeira edigdo desta obra veio a lume no verio de 1870. Logo que saiu do prelo, o autor obteve uma saida de aiguns meses, jamais esperando ensinar Homilética em seu retérno. As circunstdncias, no entanto, forgaram-no a ocupar novamente a mesma cdtedra na refe- rida segdo — alids para éle coisa mui agraddvel e mesmo favorita. O livro obteve grande sucesso. Tornou-se mesmo em sua terra o com- péndio de Homilética de maior popularidade e aceitagio, chegando a alcangar vinte ¢ duas edigdes. Foram vendidos muitos mil exemplares. Passou também a ser adotado como manual de classe em muitos semi- ndrios teolégicos de varias denominagdes; e, nalguns dos quais néo se adotava nenhum compéndio, passou a ser recomendado para estudo e referencias. Além disso, tem esta obra conseguido vasta e wtil cir- culacéo entre os Minisivos do Evangelho em geral. Na Inglaterra, publicaram-se duas edicoes, e éle tem sido usado nag escolas missio- nadrias do Japao, em seu original em inglés, e¢ foi traduzido para seme- Thante uso nas missdes chinésas. Estd sendo preparada uma tradugdo em portugués para uso das missées protestantes no Brasil, aguardan- do-se apenas os recursos para tal empreendimento. As coisas que a seguir enumeramos estavam pedindo agora uma edigéo revista: os direitos autorais (copyright) deviam ser renovados em 1898, e isto propiciava boa oportunidade para se tirar uma nove edicéo; os esteredtipos originais estavam muito gastos; havia a neces- sidade de se corrigir alguns erros menores, de se fazer algumas adi- gdes que a@ grande experiéncia do autor tornara desejdveis & medida em que estudava a matéria e a vinha ensinando; desde a primeina edi- gdo desta obra, surgiram notdveis contribuigdes ao estudo de Homi- lética, € o autor sempre acompanhara de perto ésse progresso; e, mais que tudo, havia ainda a continua procura déste volume, a qual, de- pois de vinte e sete anos de precioso servico, exigia que algo se fizesse no sentido de té-lo sempre ao alcance dos interessados. Entende-se facilmente a relagéo déste escritor com esta presente edicdo revista. No verdéo de 1892 tornei-me professor adjunto de Hor milética do dr. Broadus no Semindrio Teolégico Batista do Sul, e tive o privilégio de ensinar com éle essa matéria até o tempo de seu mui lamentado passamenta em marco de 1895. Dividimos a tarefa de en- sino sob sua diregdio, e conforme permitia o estado de sua saide. VIIL PREFACIO A EDICAO REVISTA A medida que a swide déle foi declinando, as aulas sob minha respon- sabilidade foram aumentando cada vez mais. Naqueles anos conversdvamos freqiientemente sdbre a revisio dés- te volume. Planejava éle publicar uma edigdo revista antes de sua morte. Assim, com ésse plano, acumulara jd bastante material, a mor parte na forma de notas, outra parte em vdrios cadernos de apontamen- tos, e ainda outra em notas marginais e nas folhas em branco do livro que usou por muitos anos como compéndio de classe. Além dessas notas, havia ainda muitos pontos que discutiamos em conversa e que diziam respeito a modificagoes e melhorias a serem feitas na dita obra. No inicio do ano letivo de 1894-95, deu-me wm exemplar dum livro interfoliar a ser usado nag aulas, pedindo-me que anotasse nas pdgi- nas em branco qualquer sugest@o que me ocorresse, visando & plane- jada revisdo. Nos ultimos dias de fevereiro de 1895, apanhei o livro e the falei a respeito da revisdo. Mas, eis que dentro de trés semanas estava éle na sepultura! Como a reviséo parecesse assunto absolutamente imperativo, con- tando com inteira aprovagéo da familia do dr. Broadus, senti ser meu dever e privilégio santo efetivd-la. Se foi bem ou mal feita, isso apa- receré nas pdginas seguintes. Fizemos trés espécies de modificagées: primeira, algumas que es- tavam claramente indicadas nas notas jd mencionadas e de autoria do dr. Broadus; essas fiz sem hesitar, pois estava eu certo de que éle as faria, se estivesse viva; segunda, algumas modificagédes, ndo ano- tadas por éle, mas convencionadas em conversas com éle, ou que ra- zoavelmente sabia eu que éle as faria; terceira modificagdes a meu inteiro critério e julgamento, achando que seriam de proveito. Afir- mo que estas sio comparativamente poucas, e que nao fiz nenhuma modificagéa sem consultar pessoas da familia do autor, das quais recebi valiosa ajuda e étimas sugestées. Como a mor parte das alteragdes séo do autor, todos os melhora- mentos agora observados pertencem a éle, e o editor prazerosamente chama a si a responsabilidade de quaisquer modificagdes que nao sejam bem recebidas pelos leitores. Rogo a Deus e sinceramente desejo que éste livro, que tem sido tdo util, j4 por espaga de vinte e sete anos, em sua nova forma realize uma missiéo de continua e grande utilidade junto dqueles cujo aben- goado labor é proclamar as inescrutdveis riguezas de Cristo. E. C. Dargan Lousville, Ky., dezembro de 1897. AGRADECIMENTO Agradece-se especialmente aos seguintes editéres e autores o te- rem permitido fazermos citagées tiradas de seus livros, cujos direitos autorais estéo devidamente registrados: de Carlos Scribner’S Sons: A. E. Garvie — The Christian Preacher H. H. Farner — The Servant of the Word M. P. Noyes — Preaching the Word of God da Oxford Press Samuel McComb — Preaching in Theory and Practice de Henry Holt and Company R. 8. Woodworth — Psychology de Abingdon-Cokesbury Press D. C. Bryan — The Art of Illustrating Sermons da University of Chicago Press Ozora S. Davis — The Principles of Preaching de Willett-Clark and Company C. 8. Patton — Preperation and Delivery of Sermons de Macmillan and Company S. Parkes Cadman — Imagination and Religion PREFACIO DO AUTOR A PRIMEIRA EDICAO Esta obra se destina a ser um compéndio para classes e também a ser compulsado por ministros, mogos ou velhos, que desejarem estudar 0 assunto aqui apresentado. Como professor de Homilética jd por dez anos, o escritor desta obra tem sentido a necessidade de um manual mais completo, visto que um curso feito de porgdes de varias e diferentes obras forgosa- mente omite sempre certos assuntos importantes, e nos dao de outros assuntos um tratamentoa mui magro, deixando assim a classe em grande parte dependendo inteiramente de prelegdes. Assim foi que surgiu o desejo de preparar uma obra que, quanto possivel, fésse completa em sua série de tépicos e que também visasse apresentar o tratamento completo de principios juntamente com abunddncia de regras e sugestées praticas. Quando se lhe tornouw bastante pesada o labor de ensinar esta matéria e ainda mais outra do curso teolégico, e¢ se viu na contingén- cia de abandonar a Homilética — embora esta sempre fésse a ma- téria de sua predilegéo — o autor resolveu realizar a tarefa que plane- jara, antes que essa matéria se the diluisse na mente .* Este volume, portanto, é o resultado de instrugdes praticas, nao sendo, pois, simplesmente wma série impressa de prelegdes. Todo o material apresentado na forma de breves notas foi totalmente escrito de novo, reexaminou-se cuidadosamente a literatura sdbre a matéria, € se encheu, com um tratamento todo independente, o espago outrora ocupado pelos manuais em uso. Todos quantos queiram usar o livro como compéndio de classe de- vem notar que éle estd dividido em Segdes independentes, que, embora dispostas na ordem indicada pela natureza da matéria, podem ser da- das em qualquer outna ordem requerida pelas exigéncias do ensino. Al- guns preferem comegar com a Disposigdo, para que os estudantes logo se possam beneficiar de suas luzes no preparo de sermées ou esbocos. Outros gostam de comegar com o Estila, para exercicios gerais de com- posicéo. E outros mais preferem comegar com a Enunciagéo, ow Apre- sentacdo do serméo. O autor prefere, usando éste livro, tomar logo depois da Introdugio os trés primeiros capitulos da Primeira Parte, e depois a Segunda Parte, ¢ talvez outras porgdes antes de completar a Primeira Parte. As remissdes duma parte do livro para outra sdo 1 Tal abandono foi tempordrio, pois o requeria o estado de satide do autor, conquanto na época se tivesse como permanente. Depois de um ano, éle reassumiu a cétedra de Homilética, e a ensinou com verdadeiro entusiasmo e sucesso até 0 fim dos seus dias. XIt PREFACIO DO AUTOR A PRIMEIRA EDICAO na verdade numerosas. No planejamento da obra, ocorrem poucos casos de desvio duma distribuigdo estritamente técnica de assuntos, isso por amor da conveniéncia pratica. Assim, as matérias contidas nas partes que tratam das Ilustragées, do Sermdo Expositivo, ou da Imaginacéo, pertencem estritamenie a varias e diferentes partes da obra. Mas, pra- ticamente, melhor serd discuti-las todas ao mesmo tempo. Assim tam- bém no que respeita a parte que trata de Sermées Ocasionais, ou Es- peciais. E’ preciso que se explique por que foram introduzidos alentados capitulos na parte referente & Interpretagéo de Textos, e na referente & ArgumentacgGo, O primeiro assunto é€ da alcada da Hermenéutica, e é tratado em compéndios dessa disciplina. Incluimo-los, pelo fato de muitos leitores déste livro néo haverem estudado Hermenéutica, ¢ mes- mo porque muitos que a estudaram podem se interessar por isso € apro- veitar uma discussdo que se relaciona mais diretamente com a ativida- de da pregagéo; alguns estudantes poderdo ler rapidamente ésse capi- tulo. No século passado, no que respeita & interpretagdo do pilpito, tem havido grandes e notdveis avangos. Nao obstante, éste € um pon- to em que os nossos ministras jovens devem ser cuidadosamente aler- tados. Alguns acham que a matéria de Argumentagdo ndo deve ocupar lugar num compéndio de Homilética, ou de Retérica. Mas, a prédica e todos os mais discursos em publico devem conter boa porgdo de ar- gumentos, pois até mesmo os mais ignorantes constantemente empre- gam argumentos, € sempre se percebe a férga déles, quando bem apre- sentados. Ndo obstante, em muitos pilpitos o lugar dos argumentos é quase sempre preenchido com meras afirmativas e exortagées, e os argumentos empregados néo poucas vézes séo apresentados descuida- damente, quando nao de maneira completamente errada. Compéndios de Logica nas ensinam o ecxame critico, ¢ jamais a c th l- mento. Por isso, éste as ‘0 ser tratado em manuais de Retéri- éa, € claro. Os mui conhecidos capitulos de Whately foram aqui em- pregados livrémente, contudo com bem largas adigées, e com o fito de corrigir alguns erros notdveis. Os casos apresentados, de argumen- tos, sdo quase todos tirados da verdade religiosa. Com estas expli- cacgées, deiwa-se aos instrutores usar ou omitir a seu talante essas porgdes da obra. Inimeros ministros mogos, particularmente os de certas denomi- nagdes, nunca estudaram Homilética com professéres, hajam ou nao feito o curso académico. Em vdrios lugares tem-se tentado adaptar esta obra & necessidade désses estudantes, bem como os propésitos dum compéndio de classe. Assim escolheréa por si quais as partes a serem estudadas primeiro; devemos, no entanto, aconselhar, aqueles que ndo fizeram o curso académico, a néo deixarem a livro sem estudar o tra- tamento da Disposigéo e do Estilo, bem como o da Interpretagéo, dos Temas de Serm6ées e da Argumentagdo. PREFACIO DO AUTOR A PRIMEIRA EDICAO XIIL Aquéles que tém bastante prdatica de sermées nao raro acham in- teressante e util examinar um compéndio que trata do prepara e da enunciagéo do serm&o. Podem ser apresentados novos métodos e no- vos tépicos, e dat voliam & tona coisas esquecidas ou quigd negligen- ciadas, aclaram-se e sé definem idéias que gradativamente se forma- ram no decurso da eaperiéncia; e, onde as idéias avangadas ndo séio devidamente apreciadas, néo serdé sem proveito uma renovada reflextio sdbre tais questées. Acresce ainda que pode receber novo estimulo ésse louvdvel desejo de se obter maior progresso na prédica. Tais lei- tores deverdo lembrar que muitos assuntos praticos que para si jd se tornaram dbvios e até lugar comum sio precisamente os pontos em que o nedfito deve receber conselhos. Conquanto éste volume se apre- sente com numerosas divisées e subdivisées, feitas para melhor atender ds necessidades dos estudantes, procurou-se desde o inicio conservar o tratamento bem coeso € inteligivel. O autor ficou nesta obra devendo bastante a Aristdteles, Cicero € Quintiliano, e também a Whately e a Vinet. Estes dois viltimos (jun- tamente com Ripley) foram os seus manuais — e em certos assuntos foram feitos déles copiosos extratos. Boa parte derivou-se de Alexan- der, Shedd, Day, e Hoppin, bem como de Coquerel, de Palmer e duma grande variedade doutros escritores. Além das citagdes, hé ai nume- rosas referéncias a obras nas quais se podem achar exposigées de opinides semelhantes e mesmo consideragées adicionais sébre o as- sunto em discusséo. Tais referéncias sido feitas por serem julgadas de valor real, para que os estudantes as consultem. Ao final da Intror ducéo, aparece uma lista das principais obras que formam a Literatura Homilética, com breves notas sdbre sua natureza e valor. Cré-se que dar, num tratado, conta de obras publicadas anteriormente sébre a ma- téria, julgadas do ponto de vista do autor, é coisa apropriada e cal- culadamente vitil. Tais observagées, em se tratando de escritores con- tempordneos, ndéo devem ser levadas na conta de falta de cortesia, ca- so expressem frencamente desaprovagda em certos respeitos, bem como louvor em outros. Se fossem mais extensas, essas observacées criticas talvez féssem mais titeis. Além dessa lista geral de literatura, apare- com em notas ao pé da padgina breves referéncias a tratados e ensaios sdbre ramos particulares da Retérica ou da Homilética, isso na intro- dugéo dos respectivos tépicos. Depois de se haver estereotipado « Introdugdo, receberam-se duas obras importantes e valiosas — de Mc- Tlyaine, sdbre Elocugéo (Nova York) e de Dabney sdbre Retérica Sacra (Richmond, 1870). Aparecem, no entanto, referéncias a elas no s¢c~ gundo capitulo da 4* Parte, e sdo utilizadas nesse capitulo e noutros posteriores, Foram igualmente incorporados nesta obra, depois de es- critos de novo, dois artigos publicados pelo autor na Baptist Quarterly, 2 Assim de fato se deu nas edig6es anteriores; nesta, porém, a bibliografia apa- rece no final do volume. XIV PREFACIO DO AUTOR A PRIMEIRA EDICAO nimeros de janeiro de ‘1869 e de janeiro de 1870; ¢ alguns artigos, for- mando outras porgées déle, aparecem na Religious Herald e na Central Baptist. O autor agradece imenso a seus colegas ¢ ao seu pastor,’ pela simpatia que demonstraram por éste sew empreendimento e por suas valiosas sugestées. O Indice foi preparado pelo Rev. John U. Long, de Virginia .+ Foram tomados cuidados especiais em certos e distintos pontos do tratado, com o objetivo de apresentar sugestées bem prdticas no que se refere & prédica extempordnea, ou de improviso. Muitas obras quan- to ao preparo do sermao se limitam a instruir apenas sdbre a maneira de escrevé-lo totalmente, outros tratam da enunciagdo ou apresentagao, apenas como se em todos os casos devesse ser lido ow recitado. Hs- forgou-se aqui por tratar dos diferentes métodos, mencionando-os em conextio com og assuntos aplicdveis a todos, e aplicando-os a éste ow aiquele método em particular. Noa que respeita a muwitas questdes praticas ligadas ao preparo e & enunciagdo de sermédes, existe grande diversidade de opinido. Assim, um pregador experimentado, lendo qualquer volume sdbre o assunto, aqui e ali acharé pontos que gostaria féssem tratados de modo dife- rente. Ndo obstante, decidird consigo se a obra é de inteira utilidade ou ndo. No caso presente, seja a critica favordvel ou nao, serd sem- pre bem recebida. Nos pontos em que o autor estiver errado, preferird imensamente saber onde. Nos pontos em que os seus pontos de vista estiverem certos, poderdo éstes se tornar ainda mais wteis através da discussdo . Ninguém pode preparar uma obra sébre éste assunto sem sentir, e as vézes sem sentir profundamente, a grave responsabilidade do em- preendimento. E, por sem diwvida, tarefa mui grave e solene pregar o Evangelho, e consegiientemente coisa igualmente solene e grave bus- car insiruir ou mesmo apresentar sugestées no que respeita aos meios e métodos da prédica boa, aprecidvel e eficaz. Julho de 1870. 3 O Rev. Dr. William D. Thomas, entdéo o amado pastor da Igreja Batista de Greenville, S.C., © agora professor de Filosofia do Instituto Richmond, de Richmond, ‘irginia. 4 Posteriormente professor de Hist6ria Eclesifstica do Crozer Theological Seminary, de Upland, na Pensilvania, e j4 falecido. INDICE Prefacio 4 Nova Edigao Revista ... Prefacio 4 Edigéio Revista 7 Prefacio do Autor 4 Primeira Edigdo ................. INTRODUCAO 1. O Lugar e o Poder da Prédica................. 2. A Prédica e Suas Competidoras . Bes . 3. Coisas Essenciais 4 Prédica Eficiente ........ .. 4. Relac&io da Homilética com a Retérica .. 5. Perigos dos Estudos de Retérica ...... .......... 6. O Estudo da Homilbhaae. )) (eee: |. 1° Parte — AS BASES DO SERMAO I. O Texto 1. O Significadeidagmlérmo <>... 7 3eee. een oe 2. Vantagens deserter Um Texto 0. im os nn 38. Regras Para a Hscolha de Um Texto... .......... Il. A Interpretagdo de Textos 1. O Dever de Uma Interpretagio Cuidedosa e Exata .. .. 2. Principais Fontes de Erro na Interpretacéio de Um Texto 3. Exemplos de Textos Empregados Erréneamente . 4. Sugestdes Para o Estudo de Textos.......... Il. O Assunto 1. Relac&éo do Assunto Para com o Texto .. . 2. Enunciacéo do Assunto .. .......... om 3. O Titulo e a Proposici0 Saynene ane nennnnnnn. . 4. A Escolha de Assuntos 73a suenen imme... IV. Classificagdéo de Assuntos 1. Assuntos Doutrinarios .. 2. Assuntos Morais ........... BSE AAPEYN at 1¢ 15 16 1s 29 36 43 49 51 52 55 59 66 XVI INDICE 3. Assuntos Histéricos .. .. .. Eee ear 4. Assuntos Empiricos, ou da Experiéncia. tee ee ee ee TB V. Materiais Gerais do Serméo 1. A Produc&o Inventiva .. 2. 6... ek ee ee ee ee TT 2. Fontes de Material .. . 7 19 3. A Questéo da Originalidade ie a a rr) 4. Plagio e Empréstimo .. .. .. .. 0... 2 we ee ee ee 88 2* Parte — ELEMENTOS REGULARES, OU FORMAIS, DO SERM4O I. A Importéncia da Boa Disposigéo 1. Valores de Um Plano . Seo 93 2. Predicedos da Boa Disposigao das Partes lel tt. 96 3. O Estudo da Disposigio .. .. 2... ek we ce ee 99 I. A Introdugdo, ou Exérdio 1. Objetivos da Introdugio .. .. «2 6... we we ee ee ee 100 2. Fontes da Introdugio, ou Exérdio a 103 3. Os Predicados de Um Eom Exordio.. .. 105 Ill. A Diseussdéo, ou Tratamento 1. O Plano . : 109 2.4 Questo das Divisées - dd 3. Predicados das Divisdes .. .. .. .. 14 4. Problemas da Ordem e ‘Tratamento ‘das Divisdes .. .. 116 5. As Transigdes .. 0. 0. ee ee ee ee ee ee ee ee ee 118 IV. A Concluséo, ou Peroragéio 1. A Regra Principal: Preparo Cuidadoso .. .. .. .. .. 121 2. Principios Orientadores .. .. . ete ws ee 123 83. Métodos ou Espécies de Peroragio . eee hse: 4. Questdes Relevantes Sébre a Peroragio .. .. .. .. .. 128 V. Classificagéo dos Sermées Quanto & Forma 1. Sermées Tépicos, ou Tematicos.................. 182 2. Sermées Textuais ............ : -. 135 3. Sermées Expositivos .. .. 6... 6. eee ee ee ee ee 189 INDICE 3* Parte — OS ELEMENTOS FUNCIONAIS DO SERMAO . A Euplanagéo . A Explanagio de Textos.. . A Argumentagdo Certas Formas de Argumento .. .. . A Refutacéo .... . OArRwWNE Fwy Ill. As Ilustragées 1. Varios Empregos da Ilustragfo .. 6. 6. 6. we ee ee ee 2. Fontes de Ilustragio .. .. . 8. Cuidados no Emprégo de Tlustragées | eee eae IV. A Aplicagéo 1. Focalizando as Exigéncias da Verdade ............ 2. Sugerindo Modo e Meios . 3. A Persuasio Para Uma Resposta Vital . 4° Parte — O ESTILO DO SERMAO . Observagées Gerais Sébre o Estilo I 1. A Natureza e a Importancia do Estilo .. 2. Estilos e Estilo .. .. .. 3. Modos de Se Aprimorar o Estilo epee tee eae IS a Il. Qualidades do Estilo — A Clareza .. .. .. «20. 0. ee I. Qualidades do Estilo —O Vigor .......... IV. Qualidades do Estilo — A Elegdncia .. .. .. . V. A Imaginagaéa na Prédica 1. A Natureza da Imaginegio . 2. O Papel da Imaginacao na Prédica. Pt tet dtd Tele fall ele 3. Como Cultivar a Imaginaco .. .. 6. 6... ee ee ee ee . A Explanagio em Geral... .. .. .. 0... 0. ee ee ee A Explanacio de Assuntos .. .. 6. 2. 2. 2 ee ee ee A Importéncia do Argumento na Prédica .. .. .. .. .. . Principais Variedades de Argumento .............- | A Ordem dos Argumentos .. .. . . See eee . Conselhos Gerais Sébre a Areumentacio i 154 155 160 165 167 181 184 190 219 222 226 235 247 263 273 276 280 XvVoOL INDICE 5* Parte — METODOS DE PREPARO E ENUNCIAGAO DE SERMOES . O Preparo de Sermées . O Preparo Geral . . O Preparo Especial . : . Vantagens e Desvantagens de ‘Sermées Escritos : . Sermdes Para Funerais .. .. . soot . Sermdes Académicos e de ‘Aniversirio Spel e . Sermées de Reavivamento ........ .. . Sermées Para Criangas . 4 7 . Sermées Para Outros Grupos Especiais Te etataleseatlal slatted I 1 2 3 Il. O Preparo de Tipos Especiais de Sermées 1 2 3 4 5 Ill. Trés Métodos de Enunciagéo, ou Apresentagéa 1. Sermées Lidos .. .. .. .. wees 2. Sermdes Recitados, Declamados, ou Decorados eres 3. Sermées Extemporaneos, ou de Enunciagao Livre .. .. IV. A Apresentagéo, ou Enunciagéo, no Que Respeita & Voz 1. Observacdes Gerais Sébre a Enunciagio .. .. .. .. .. 2. A Voz e Seus Assinalados Poderes .. .. .. 3. Melhoria Geral da Voz i... 6... ee ee ee eee 4. OContréle da Voz na Prédica .. .. .... . V. A Movimentagaéo na Enunciagdo .. ......... VI. A Diregéo do Culto Piublico 1. A Leitura da Biblia... 2... 2. we. 2. Os Hinos.... .. eee 3. ‘A Oracio em Piiblico .. .. . Set talal elt led 4. O Tempo dos Cultos Publicos .. .. 7H ny a 5. Do Dec6ro no Piilpito .. 6. 6. eee ee ee ee ee ee 6. Notas Finais .. 6. 6. ee ce ee ee ee ee ee ee ee ee Bibliografia . Ee ete ee 1. Obras Sobre a Retérica em Geral . 2. Obras Sdbre Homilética .. .. . 3. Obras Sébre Assuntos Relacionados ¢ com a " Homilética Lista Suplementar de Livros .. 2. 6. 6. ee ee ee ee ee 287 289 293 297 307 355 359 363 368 370 372 373 373 374 378 380 INTRODUCAO INTRODUCAO A prédica é caracteristica do cristianismo. Nenhuma outra reli- gido jamais tomara a reuniao freqiiente e regular de massas humanas para se ouvir a instrugio religiosa e a exortacéo como parte integrante do culto divino. O judaismo tivera algo semelhante a isso no tempo dos profetas, e posteriormente na época dos leitores e discursadores da sinagoga. Mas, a prédica em si nao era coisa essencial nos exer- cicios religiosos do templo. No mundo greco-romano do primeiro século de nossa era, o filé- sofo predicador, que se valia do instrumento mais que finamente po- lido da retérica grega, era figura conhecida e familiar) mas nem a religiaéo dos judeus, nem a filosofia dos gregos imprimiram a prédica o significado que ela possui no cristianismo, em cujo seio ela constitui a funcao primaria. Anotando os sucessos da prédica crista, especial- mente os dos tltimos tempos, outras religides e seitas hao adotado a prédica em grau limitado; mas permanece como verdadeiro 0 fato de que, como servico basico da igreja em sua histéria e significado, é a prédica uma instituic&io peculiarmente crista.? I, O LUGAR E O PODER DA PREDICA No ministério de Jesus, a prédica ocupou o lugar central. Embo- ra fortemente tentado a dar primazia a outros métodos de abordar © povo, Jesus “veio pregando”. Na sinagoga de Nazaré, o Mestre Se descreveu a Si mesmo como divinamente enviedo “a pregar boas novas ao pobre... a proclamar liberdade aos cativos... a anunciar o ano aceitavel do Senhor” (Lucas 4:16-21). E os evangelhos nos apresen- tam quadros inesqueciveis do Pregador itinerante, nas sinagogas, nos montes, 4 beira-mar, indo de vile em vila, arrastando apés Si multi- ddes quase incontaveis, deixando o povo abismado e eletrizado com Suas palavras de graca e com a autoridade do Seu ensino. Jofo, es- erevendo muitos anos depois, lembrou de modo vivido a pregac&o do seu Senhor no templo por ocasifio duma das grandes festas do judais- mo. Ele nos relata que certo dia “Jesus clamou no templo, ensinan- do e dizendo...” doutra feita, no ultimo dia da festa, diz Joao que Jesus “se pds de pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem séde, venha a mim e beba” (Joo 7:28,37). A prédica de Jesus era um clamor, mui insistente por Sua compaixéo, e poderoso por sua urgéncia. O fato, tantas vézes referido por educadores modernos, de que o ministério oral de Jesus é mais constantemente apelidado de ensino que de prédica, é facilmente mal-interpretado e da base a distincdes 1 Angus — The Early Environment of Christianity, pg. 74 em diante. 2H. H. Farmer — The Servant of the Word, cap. I.

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