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Investigacao cientifica na terapia ocupacional: visdes e perspectivas dos discentes no contexto brasileiro ‘Scientific Investigation In Occupational Therapy: Visions And Perspectives Of Students In Brazilian Context Daniel M. Cezar Cruz Terapeuta ocupacional, mestrando em educagéo especial pelo Programa de Pés-Graduagao em Educagao Especial da Universidade Federal de Sao Carios. RESUMO Esta pesquisa objetivou relatar e analisar por meio de questionérios, as visdes ¢ Perspectivas dos estudantes de terapia ocupacional sobre a importancia da pesqui- sa cientifica na formaco do terapeuta ocupacional nos cursos de graduagéio brasi- leiros. participaram 261 estudantes de 20 escolas de terapia ccupacional. mediante anélise quanti-qualitativa dos dados, verificou-se que os resultados demonstraram as principais vises de pesquisa como sendo: estratégia na produgo de conheci- ‘mento 46% (121), de maior reconhecimento no meio cientifico 25% (65), de amplia- ‘go das areas de atuagao 23% (60) @ de maior reconhecimento pela populagdo 21% (55). com relagao as sugestées @ perspectivas, identificaram-se concepoées perti- nentes, tais como, aumento de 6rgéos financiadores para a realizagao de pesquisas, ‘com 31% (81), maior divulgagao da profisséio, com 28% (73), necessidade de inser- 9:40 do discente na pesquisa com docentes, com 25% (85) e de aumento dos incen- tivos institucionais, com 17% (44). os dados ilustraram a pesquisa como um principio Cientifico educativo. os resultados obtidos denotaram visdes e perspectivas signifi- cativas para a melhora da produgéio cientifica @ conseqlientemente na formagao do profissional Palavras-chave: terapia ocupacional, pesquisa, formagéo académica. ABSTRACT This research objective was to relate and analyze through questionnaire, the visions and perspectives of students of occupational therapy about the importance of scientific ‘esearch for occupational therapist formation. participated 261 students of 20 schools of occupational therapy. against quantitative and qualitative analyze of data, it was verified that the results showed the visions of research mainly as strategy on knowledge Cademas de Terapia Ocupacional da UFSCar, 2003, vol 11x" I a production 46% (121), increase of practice actuation 23% (60), more recognized by science 25% (65) and population too with 21% (55). in relation about suggestions and perspectives, pertinent conceptions were identified as amplification of institutional incentives 17% (44) and more studentship to develop research 31% (81), necessity of student participation in teacher's research 25% (65), and more professional divulgation 28% (73). the data illustrated the research as an educative and scientific principle. the results illustrated significant visions and perspectives to contribute on development of scientific production and concomitant the professional formation. Key words: occupational therapy, research, academic formation. INTRODUCKO A investigacdo cientfica na graduaco tem sido tema de importantes estudos, sobretudo na érea da educagio. As contribuigdes sdo abrangentes e alcancam desde a apren- dizagem do estudante até o exercicio e construgio de uma cidadania plena, de cidadaos partcipativos socialmente. A pesquisa é uma possibilidade de criago em detrimen- to da c6pia, capacidade real de aprendizagem (DEMO, 1999)°, Significa em outras palavras 0 caminho de for- tista (RUIZ, 1996) Assim, constata-se que a pesquisa cientfica pode repre- ago do futuro: lade de sentar, dentre muitos beneficios, uma possibi cemancipagii, isto é, da capacidade criativa e critica, do crescimento e autonomia do estudante universitario. ‘Na terapia ocupacional, é pouco freqilente a pesquisa ci- entifica. No entanto, esta atividade comega a desenvol- ver-se nas universidades como um processo gradual, que vai do ensinar a0 produzir conhecimento (EMMEL ¢ LANCMAN, 1998), Sendo a terapia ocupacional um saber da érea da saide, (que percorre uma trajet6ria de quase meio século no Bra- sil, € compreensivel que assuntos como a investigagiio cientifica, nos cursos de graduagio brasileiros, sejam inéditos ou, ao menos, escassos, pois a profissio € relati- ‘vamente nova, se comparada as demais éreas do saber, como a Filosofia, a Medicina e o Direito, por exemplo. Sio validos ¢ pertinentes estudos que abarquem esta li- nha de pesquisa. formagao do profissional deve ser sempre pauta para discusses, visto que sua importancia esté na maior compreensdo do profissional que é forma- do, da identidade e do papel que representa na sociedade ‘eno mercado de trabalho. ‘Tal mercado, apresenta-se cada vez mais exigente por inovagGes e habilidades para idemtificare solucionar pro- blemas (PFEIFER, 2000)", A discussio pela 6tica académica imprescindivel no ‘entendimento de dificuldades relacionadas & produgio . Com 0 contato estabelecido, solicitou-se via telefone, a m> e colaboragio destes estudantes, explicando-se os objeti- vos do estudo e a importincia da devolugio de todos os questionérios. Estes estudantes constituiram-se em as- sistentes de pesquisa, isto 6, definindo-se um académi- 0 responsével por cada Instituigio de Ensino Superior. (Os assistentes receberam orientagbes sobre os proce- dimentos e critérios para preenchimento e devolugao dos questionérios, ficando a cargo destes a distribu doe recolhimento do instrumento no tempo habil de 30 dias para retorno, contados a partir da data de re- cebimento. Para tanto, visando A devolugdo dos questionérios sem =——=—_$_—,_ a Peer x = ‘igen sein @ £ ‘tii aha a a Miiieooienss 2 eae Eicon gotale wh 2 oe ———— ‘A questo da produgio de conhecimento na terapia ‘ocupacional, presente na maioria das opinides, com 46% (121), tem crescido significativamente nas titimas déca- as, principalmente através da capacitagio formal de docentes em programas de pés-graduacio como mestrado © doutorado, : ‘A procura para ingresso nestes programas se deu tanto pela necessidade de formacdo para pesquisa quanto por ia de docentes mais qualificados no ensino supe- rior (LANCMAN, 1998)", O maior reconhecimento ci- entifico da profissio com 25% (65), e pela populago, com 21% (55), demonstra que os estudantes concebem a Profissio como nova e em processode construgio, como dissertou DE VITTA (1998)° acerca do terapeuta ‘ocupacional na drea de pediatria. Nesta trajet6ria de construcSo, deduz-se, sera pesquisa, um meio de expansdo também do mercado de trabalho, ois 234 (60) dos discentes concebem a investigagio cientifiea como importante na ampliagio das dreas de ‘Aluago, constituindo-se numa visio de crescimento da Profissio. Sobre a ampliagio das éreas de atuagio, DRUMMOND (20007, destaca uma questo importante ao analisar que ‘a pouca producio teérica, dificulta a definigo docampo profissional: “A legitimidade da terapia ocupacional encontra-se comumente em cheque no campo profissional talvez da dificuldade de detimitar sua propria competéncia, tor nando mais dificil a configuracao e firmeza do campo e apresentando assim, pouca visibilidade da atuagio do terapeuta ocupacional e um pequeno grau das respostas socialmente dadas. Acresce-se a isso, 0 fato de que a fal- ta de produgio te6rica na érea alimenta a indefinigao do campo profissional” (p. 3). A andlise demonstra que é preciso cada vee mais assegurar « pesquisa cientifica na terapia ocupacional, pois a invest ‘aco amplia a produgio teérica especifica da frea, permi- {indo a melhor definigao do cempo de atuaglo, o desenvol- vimento da identidade profissional, ¢ culminando na ocu- tc de novos espagos no mercado de trabalho. A pritica de pesquisa foi revalidada enquanto elemento fundamental na articulagao da relacio teoria x praca or 22% ($8), indicando que os discentes a concebem ‘io somente como um principio cientifico, mas educativo, promotor de aprendizagem, que para DEMO (1999), representa a capacidade real de aprender a aprender, isto Cademes de Terapia Ocupacional da UFSCar, 2003, vo. 11 n° 2» 6, de despertar para o senso critico, de inovar e eriar. Os discursos destacados em seguida, reforgam esta afirmagio: = "fh a oportunidade de exercitar nosso potencial cria- dor” (Quest. 06, UEP) -“Bstimula a capacidade de raciocinio” (Quest. 22, UNP). ~“Abore novos horizontes” (Quest. 183, UNIFOR). -““Amplia o questionamento sobre as coisas, tornando | pensamento eritico” (Quest. 157, UFSCat) A reflexdo sobre a importincia da pesquisa determinou uma necessidade de se debater as questées da identidade profissional, de valorizagio € reconhecimento da cate- ‘oria, de definigdo de sua especificidade e legitimidade cientificas. Nas falas dos estudantes, estas questdes fo- ais reconhiecimento, no confundindo a terapia ‘ocupacional com outras profissdes” (Quest. 109, ESEHA). - “Fundamentar a agdo da terapia ocupacional como ci- éncia” (Quest. 222, UFPE), =“. estar tomando a terapia ocupacional mais creditada ‘enquanto ciéncia’" (Quest. 94, UCB). -“\Contribuir para a definigéo de nosso objeto de estudo” (Quest. 120, UFMG). - “Um discurso tinico, construido coletivamente, € de ‘grande importincia para que alcancemos maior reconhe- cimento profissional” (Quest 131, USP). As preocupagdes estudantis em relacio & cientificidade € objeto de estudo, sio fatos discutidos por STEIN (2001), como o grande desafio aos terapeutas ‘ccupacionais, Segundo refere 0 autor, um dos embates deste século € fazer entender o significado da ocupagio ‘como conceito e sentido. (Como toda cigneia cobre ou abrange um campo de inte- resse do saber, isto 6, um objeto de estudo, & aceitével que ele seja questionado, tendo como consequéncia me- Ihor compreensio de sua natureza. Esta questio esti, em parte, relacionada & identidade do profissional. A pesquisa cientifica é um dos elementos que constituem a identidade do profissional,fazendo parte do “cinturdo te6rico” que fundamenta a pritica profissi- onal (HAGEDORN, 1999)" Assim, se esta atividade no for estimulada na formacao do profissional, a tendéncia & que a profissfo tenha seu «desenvolvimento comprometido pela caréncia de profis- sionais que se destinem a investigar e socializar seus re- sultados ¢ reflexdes. Sob outra perspectiva, DEMO (1999) enfatiza a pesqui- sa como promogio da cidadania, Este conceito tem valor nas agGes as quais se destina a investigagio. A pesquisa como promotora de cidadania, mediando as ages na comunidade foi descrita em algumas das falas, destaca- das a seguir: ~ “Legitimidade profissional e responsabilidade para a ‘comunidade” (Quest. 119, UFMG). ~“"Saber de que forma trabalhar as necessidades da soci- edade” (Quest. 81, UCG). Logo, nota-se que os resultados convergem para demons- trar que, na terapia ocupacional, a iniciagdo cientifica é comprovadamente uma estratégia de aprendizagem que contribui para ampliagio de saberes, influenciando posi- tivamente na formagao profissional (BALLARIN ¢ TOLDRA, 2001): As perspectivas ¢ sugestdes dos estudantes AAs perspectivas e sugestées para o melhor desenvolvi- mento de pesquisas no Brasil denotam, de certa forma, a situagio de cada instituigio de ensino, refletindo dificul- Cadernos de Terapia Ocupacional da URSCar, 2003, vol. 11 n° 1 0 daddes que devem ser trabalhadas particularmente em cada instituigéo. Entretanto, algumas problematicas suscita- Fam propostas que pociem ser tomadas enquanto refle- ‘xBes para todas as instituigées que oferecem o curso de terapia ocupacional no p As sugestées e perspectivas relatadas também ampliam horizontes para os profissionais, indicando que muitas| aagdes podem ser desenvolvidas para melhorar a produ- focientfica, ndo somente nos cursos de graduagao, com discentes e docentes, mas num universo maior, no qual (0s profissionaisjé atuantes podem participar contribuin- do para a atividade de pesquisa na terapia ocupacional. Na Tabela 4, a seguir, determina-se que a maioria men- ciona 0 aspecto do erescimento, ou melhor, desenvolvi- ‘mento de pesquisas no pats, relacionado com a questo do financiamento, presente em 31% (81) das respostas. [Em seguida, vém as questdes de divulgagao da profis- so, com 28% (73), evidenciando a urgéncia do aumento de eventos cientificos, publicagées e midia e 25% (65), ue propdem 0 incentivo docente na realizacio de pes- ‘quisas com discentes. TABELA 4: Perspectivas e sugestdes dos estudantes, participantes com relacio A pesquisa cientifica ie ——— x Medal a nue sn ome cenion = sca 2 ‘Stim malo nine an oe x fur ‘Sense uci ce iat ” Sacer Die nie or meno dunia 2 " Saaceme 2 ® oon = é Bomibtoontemte ESS © aumento de bolsas de pesquisa ¢ financiamentos totalizou 31% (81) das respostas. Segundo BARROS LEHFELD (2002), as pesquisas podem ser subvencio- nnadas com a implantago do Programa Institucional de Bolsas de Iniciago Cientifica- PIBIC, mediante solic tagio de bolsas pelos docentes, junto a agéncias de fo- mento a pesquisa, tas como a CAPES- Coordenagiio de Aperfeigoamento Pessoal de Nivel Superior, o CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico ¢ nda, por meio de recursos préprios de Tecnolégico, ou cada instituigao. Neste sentido, a capacitacdo formal do docente, contri- bui positivamente, pois é esperado que um docente com rmesttado e doutorado e significativa produgio cientifica tenha maior facilidade para a aprovacio de projetos ¢ solicitagio de bolsas. Porém, ainda existem dificuldades com relagio ao finan- ciamento de projetos, que interferem, sobremaneira, na realizago de pesquisas, aliadas também falta de estru- tura para desenvolvé-las (BALLARIN e TOLDRA, 2001). Os dados relacionados & importincia da pesquisa para a formagdo do terapeuta ocupacional mostraram que a pro- fissio é vista pelos préprios estudantes, como pouco co- inhecida pela populagio, Nas sugestées, percebeu-se uma pertinente proposta para a resolugio deste problema, ‘dentificada em 28% (73) das respostas: a divulgagio da profissdo nos meios de comunicagio. Sobre este achado, MACHADO (2000), contempla esta proposta, dissertando que a profissdo de terapia ‘ocupacional, pode tomar-se mais conhecida pela popu- Jago, com a atuagio dos profissionais da érea, de ma- neira educativa, através dos meios de comunicacio. ‘Considera-se, nesta pesquisa, a midia como sendo, prin- cipalmente, a rede mundial de computadores (intemet), as emissoras de rédio e de televisio e a comunicagdo escrita por meio de jomais e revistas. E preciso enfatizar que os eventos cientificos, também colocados como sugestio, tém possibilitado um incon- testével aumento da produeao cientifica, estimulando, inclusive, os estudantes a expor seus trabalhos em forma de posteres ¢ temas livres, permitindo sua publicagio por (Cadernes de Terapia Ocupacional da UFSCar, 2008, vol. 11 n° I 3 meio de ani impressos, em disquetes,e atualmente em CD-ROM, 0 que fecilta a locaizagio das publicagdes e, conseqlentemente, sua socalizagio na comunidade ci- entifca Por outro lado, os periédicos espectficos da érea eviden- ciam que € preciso estimular a pesquisa também nas ins- ‘ituigbes particulars, uma vez que os principas periédi- cos existentes sio de universidades publicas: Cadernos do GESTO- Grupo de Estudos Profundos Sobre Terapia Ocupacional, Revista de Terapia Ocupacional da USP e CCademos de Terapia Ocupacional da UFSCar,localiza- das nos estados de Minas Gerais e Sto Paulo. Os estudantes também colocaram a necessidade de se- rem inseridos nas pesquisas com docentes, representan- do 25% (65). Sob a supervisio de um docente, 0 estu- dante € iniciado com maior seguranga para questionar sua reaidade e @ teinar suas habilidades de investiga- fio, contribuindo para enriquecero processo de ensino e aprendizagem. sta inicitiva deve valida a afirmago: “o dacente pes- _quisador deve serum guia, estimulando eausiliandoo alu no iniciante no percursoaser cumprido para a realizagao dla pesquisa” (BARROS ¢ LEHFELD, 2002, p. 21). Neste aso, a atvidade de pesquisa é um benefiio para o discente, para 0 docente e num contexto maior, para a prépri instituigo, que se torna mais prestigiadae reco- como um cursode qualidade, pois de acordo com DRUMMOND (2000)', a atividade de pesquisa, de certa forma, define o locus social ocupado pelos cursos dentio de uma universidade Se for feita uma reflexto sobre a poucaatividade de pes- quisa por profissionais da érea de terapia ocupacional, poders se encontrar resposta na formagao tida por cada tum, que talvez ndo tenha despertado para a esséncia da atividade de pesquisa, impossibilitando experiéneias que estimulassem a continuidade desta prética ao egressar da Universidade, ou ainda, ao retonar a mesma, por meio da atividade de docéncia. © incentivo institucional na iniciacio cientifica do dis- cente foi destacado por 17% (44) dos sujeitos. Esta su- gestio é interessante para se refleir aideologia de cada instituigio de ensino, visto que, a questio de pesquisa std fortemente inluenciada ao perfil de profissional de satide que se deseja formar e hegemonicamente a quem cle ird servir (LOPES, 1993/1996)". Associada a esta afirmagio, torna-se necessério retomar as questdes legislativas e constitucionais, eriticadas por GAMBOA (2000)", que findam por segregar a pesquisa ‘apenas para universidades, na sua maioria piblicas, de- pendentes do repasse de verbas ¢ ainda sujeitas a cor- tes, inclusive, das agencias de financiamento. A formagao do estudante para a pesquisa foi abordada por 11% (29) dos discentes, que expuseram a urgéncia de disciplinas curriculares que os preparem para a ativi- dade de pesquisa. Ressalta-se que na academia, esta ati- vidade pode ser estimulada de diversas formas, seja di- reta, através de programas especificos de iniciagio cien- tifica, ou inditeta, por meio de disciplinas curriculares e coutras atividades que a favorecam. Pode-se perceber a falta de incentivo a iniciagdo cientit ca do discente, por exemplo, analisando-se a grade curricular de cada curso, verificando a existéncia ou nfo, de disciplinas que permitam ao estudante a aprendiza- ‘gem niio s6 de Metodologia do Trabalho Cientifico ou de Metodologia da Pesquisa, mas desde experiéncias como produgio de artigos, até a exigéncia de um Traba- Iho de Conclusio de Curso (TCC), ou monografia, que em muitas instituigdes ndo séo exigidos e ndo fazem par- teda ementa do curso, Para NAJJAR (2000)' tem se evidenciado na prética, que uma disciplina ndo € o bastante na capacitagdo do aluno para aatividade de pesquisa. Segundo a autora, &importan- te que os docentes de outras disciplinas fagam esta refle- xo, estimulando o desenvolvimento de habilidades (Cadernes de Terapia Ocupacional da UFSCar, 2003, vol. 1a 2 investigativas, desta forma, elegendo a pesquisa como ele- ‘mento fundamental no plano de ensino das disciplinas Todavia, cabe a cada insttuigdo diseutira melhor forma 4e se estimular 0 aluno para a atividade de pesquisa. ideal seria uma formagdo de terapeutas ocupacionais articuladores de novos conhecimentos, com habilidades de questionar e propor alternativas para solugzo de pro- blemas nas “aldefas”! em que se encontram. (O terapeuta ocupacional deve se direcionar para as ne- cessidades da “aldeia”, sem deixar de considerar que esta, insere-se num contexto maior, © do mundo global, ou seja, os acontecimentos que vém de fora e repercutem Tocalmente na populagio, sejam eles politicos, sociais, econémicos, epidemiol6gicos, dentre outros, constituin- do-se num grande desafio. A capacitagio dos docentes para orientar estudos tam- ‘bém foi referida em igual proporgiio por 10% (27) dos discentes. A capacitagdo docente?, 6 fundamental quan- do se pensa sobre investigagio cientifica na graduacdo. Esta sugestdo € oportuna, pois DRUMMOND (2000Y’, avalia ser importante refletir que a capacitagio docente pode consttuir-se num estimulo a produglo de conheci- ‘mento, até porque esté & uma das referéncias para se ava- liar a qualidade das Instituigdes de Ensino Superior. Corea de 6% (17) das respostas trouxeram sugestdes sin- gulares, tais como: parcerias institucionais, premiago de tabalhos como forma de incentivo a produgio cient fica e motivacio pessoal tanto dos discentes quanto do- centes para a realizago de pesquisas. A formagao de grupos de pesquisa foi uma sugestiio co- locada apenas por 3% (07), mas de grande validade como sugestio para o maior desenvolvimento das pesquisas na Grea de terapia ocupacional, Tew tina: CAKB08 C08 ne te oh core um oe is pti Estes grupos favorecem o intercémbio de informagées € realidades. A formagio de grupos de pesquisas € perti- nente para resolugdo das dificuldades de cada institui- 10, devendo estas pesquisar integradas para favorecer a superagtio de problemas (FERRARI, 19999. Evidencia-se também uma urgéncia de politicas insttucionais que estimulem a formacio de linhas e gru- bos de pesquisa (BALLARIN e TOLDRA, 2001). Ressalta-se que alguns discursos trouxeram essa pers- pectiva: ~"Maiorrelacionamento entre as faculdades” (Quest. 214, UFPR), ~ “Fazer grupos de estudo” (Quest. 36, EBMSP), ‘ormar grupos que tenham um mesmo interesse sobre doterminado assunto” (Quest. 190, IPA). A formagio destes grupos, é portanto, extremamente im- Portante na comunicagdo entre os cursos e na formaco de linhas de pesquisa que abarquem os vétios campos de atuagio em terapia ocupacional, desenvolvendo-se desta ‘manera, a possibilidade de efetivagio de um intercém- bio de conhecimentos. Pode-se sugerir arede mundial de computadores (internet) como um potente meio para se concretiza tal proposta, quebrando barreiras geogréficas e aumentando a veloci- dade da comunicagio de informagées. Por fim, questionou-se os estudantes sobre a atividade de pesquisa ser ou néo, uma habilidade essencial do {erapeuta ocupacional. O resultado foi ilustrado no Gré- fico 3, a seguir: a ‘mie aan OAMBOA. S.A pesca monies enn nds LOWGARDL Ic Pepe enaas Resirosee nese {el Onpa SP fate Anni STEER UN 2009.72 os Papi he sua oi EMME, BL, ANCA, S Qo ‘myn Ti Oopcanl a Ca or rg UF lr Use aR CCademos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 2003, vol. 11 n° I GRAFICO 3: A pesquisa como habil 4o terapeuta ccupacional Fonte: Pesquisa de campo (2003) Cerca de 80% (210) dos estudantes acreditam que & pes- quisa € uma habilidade essencial do terapeuta ‘cupacional, em oposigio a 18% (46), qe a entendem como tima habilidade néo essencial ao profissional, ou t10s 2% (5) nfo responderarn. HAGEDORN (1999)! classifica as habilidades de pes- quisa em essenciais genéricas, isto 6, seriam as habilida- des utilizadas de forma semelhante por outras profissées. A exclusividade destashabilidades na profissio caberia, quando utilizadas por um terapeuta ocupacional, em um. caso especifico. A nogio de pesquisa como habilidade essencial genérica {oj destacada pelos estudantes, nas frases = “Assim como para qualquer profissio, a pesquisa ou habilidade em pesquisa é fundamental para 0 desenvol- Vimento'e fundamentagdo da mesma” (Quest. 117, UFMG) -“"Nio 6 paraaterapia ocupacional, mas para qualquer profissional que queira estar sempre se aperfeigoando, buscando conhecimento” (Quest. 149, UFSCar). As habilidades de pesquisa envolvem a pesquisa da lite- ratura; compreensio de metodologia da pesquisa, quan- titativa e qualitativa; elaboragio de projetos de pesquisa; realizagio de entrevistas; elaboragdo de questionsios; centendimento e utilizagio do tatamento simples de da dos estatisticos por fim, produglo de artigos para revis- tas especializadas (HAGEDORN, 1999)", Hi dese considerar que ababilidade de pesquisa -seja qual for seu sistema de classificagdo,é importante para aprtica profissional, porque estimula o racioenio clinico para 0 enfientamento de problemas, permitindo que o terapeuta ‘cupacionalanalisee defina sua linha de atuago Quanto ao conceito de habilidade essencial genérica, & aceitével que tais habilidades facam-se indispenséveis 40s futures profissionais que pretendem ingressar na ati vidade de pesquisa, principalmente nas pés-graduagbes stricto sensu, onde estas habilidades so exigidas. Em suma,aatividade de pesquisa, ou pesquisa cientifica s6 tende a trazer beneficios na formaglo do profissional ‘erapeuta ocupacional.& pertinente analisar que os estu- antes reafirmaram essa necessidade por meio de suas Vises e perspectivas, que em maior ou menor gra, re- fletem dificuldades em parte semelhantes, comonas ques- tes de identidade do profissional e da caréacia de pro- gramas de iniciagdocientifica também pariculares, na maneira como cada curso incentiva a atividade de pes- guise, Estas éltimas devem serinvestigadas individualmente em sous respectivos cursos de graduagi0o, procurando tam- bbéi as parcerias, que segundo FERRARI (1999) sio oportunas para a resoluglo de problemas. Analisa-se que as propostas para maior desenvolvimen- to de pesquisas na drea foram notiveise devem ser con- sideradas enquento caminhos para solucionar alguns embates relacionados & produgio cientfica na terapia ocupacional 1 irefutavel que os cursos de terapia ocupacional no Brasil tm crescido numericamente. Ap6s 0 encerra- mento da coleta de dados, jé haviam sido cadastrados mais dois cursos pelo Ministério éa Bducagao/ INEP, perfazendo 34 cursos (BRASIL, 2002) Cademos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 2003, vol. 11 n° I ea ‘Se por um lado, ha um crescimento em quantidade, por ‘outro se faz necessério estar avaliando sua qualidade, como também do perfil de profissional que se deseja for- rar, pois este seré wma pega-chave do grande “quebra- ccabega” que iré constituira profissdo terapia ocupacional no futur. E valido ouvir o estudante de terapia ocupacional quan- do se debate a questio de formaciio, pois ele passa por todo 0 processo de educagao, presenciando os acertos e erros no ensino, desta forma, nao alijando-se o estudante deste processo, como considera DEMO (1999). ‘Sugere-se que outros estudos relacionados a formagiio do terapeuta ocupacional possam ser desenvolvidos, vis- toque favorecem e enriquecem as reflexdes sobre a qua- lidade e 0 perfil de profissional que esta se formando. ‘As questdes relacionadas a identidade do profissional, descritas pela maioria dos estudantes devem ser debati- das em profundidade, pois para SOARES (1991)19, es- tes questionamentos s6 poxlem ser solucionados a partir de muita leitura critica e de debates, deixando-se esta sugestfo a todas as instituigdes que ofertam curso de terapia ocupacional. CONSIDERAGOES FINAIS intwito deste estudo foi de relatar a opinitio discente com relagdo A pesquisa cientifica na formagio do terapeuta ocupacional, considerando-se suas visSes, pers- pectivas e sugesties. Acredita-se que 0s objetivos traga- dos foram contemplados, pois os resultados analisados, foreceram reflexdes considerdveis para a formagiio do profissional Constatou-se que os estudantes tém realizado atividades, «que de certa maneira,sio experiéncias importantes para a iniciagio cientifica, dentre elas os estégios extracurticulares, os cursos de aprimoramento, as atv dades de monitotia € as participagées em congressos, contudo so poucos os que se inserem em Programas de Iniciagdo Cientifica As quest&es da identidade profissional foram verificadas nas visdes da pesquisa cientifica como estratégia de mai- ‘or reconhecimento da profissio pela populago e meio cientifico, de maior compreensio do objeto de estudo, ¢ do aumento nio s6 na produgao de conhecimento, mas das freas de atuagio. As sugestbes e perspectivas denotaram a critica dos dis- centes na resolugdo de problemas, com pertinentes pro- posigdes, como a do aumento dos incentivos institucionais © governamentais, de capacitagio docente, da insercio ‘em pesquisas com docentes, de melhorara formaciio pro- fissional para a pesquisa e da criagZo de grupos de pes- 4uisa, constituindo-se em importantes consideragées a serem refletidas pelas ins igdes de ensino em terapia ‘cupacional no Brasil. [Neste sentido, 6 esperado que esta pesquisa possa favo- recer o pensamento reflexivo nas Insttuig6es de Ensino Superior em terapia ocupacional no Brasil com énfase na formagdo do estudante para a atividade de pesquisa REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1 BALLARIN, M.LG., TOLDRA, RC. A trajet6ria do pesquisador eda iniciagdo cientifica no curso de gradua- do em Terapia Ocupacional da PUC-Campinas. Cad. Ter, Ocup. UFSCar. Sa0 Catlos. v. 9, 0.2, p. 67-78, jul! dez., 2001 2. BARROS, A.J.P., LEHFELD, N.A.S. Projeto de pes- quisa. 13. ed. 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