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De uma questéo preliminar a todo tratamento possivel da psicose Este antigo comtém 0 mais importante do que foi apresentado fem nosso semindrio durante 05 dois primeiros trimestres do ‘ano letivo de 1955-56, flcando excluida, portano, o terceito Publicado em La Psschanalyse, vols ‘Hoe quod triginta tes per anos in ips loco stud, et Sanctac ‘Annae Genio loc, et dilectae juventa,quse-e0 me sectata et, iigenterdedico. 1. Rumo a Freud 1. Meio século de freudismo aplicado & psicose deixa seu problema ainda por repensar, ou, em outros termos, no statu guo ante. Poderfamos dizer que, antes de Freud, sua discussio nfo se destaca de um {undo tedrico que se dé como psicotogia © nio € mais que um residuo “laicizado” do que chamaremos de a longa cocco metafisica da cincia na Escola (com o E maitisculo que the € devido por nossa reveréncia), Ora, s¢ nossa ciéncia, no que conceme & physis em sua matematizagio cada vez mais pura, guarda apenas dessa cozinha tum bafio 120 discreto que podemos legitimamente nos interrogar se nfo teré havido uma substituigo de pessoa, 0 mesmo nao acontecendo com respeito & antiphysis (ou seja, ao aparelho vivo que se pretende apto a dimensionar a dita physis), cujo cheiro de fritura denuncia, sem davida alguma, a prética secular, na referida cozinha, de preparag&o de miolos, ‘Assim & que a teoria da abstragio, necesséria para dar conta do conhecimento, fixou-se numa teoria abstrata das faculdades do sujeito, que as mais radicais petigdes sensualistas nao con- seguiram tomar mais funcionais no que tange aos efeitos sub- jetivos. S38 veritas As tentativas sempre renovadas de corrigir seus resultados, mediante os variados contrapesos do aleto, devem, com efeito, continuar vas, enquanto se omite questionar se é de fato.o mesmo Sujeito que € afetado por elas. 2. Bis a questo que, nos bancos da escola (com ¢ minésculo), aprendemos a eludir de uma vez por todas, pois, mesmo admitidas as alterndncias de identidade do percipiens, sua fungo consti- tutiva da unidade do perceprum nio € discutida, Por conseguinte, a diversidade estrutural do perceprum sO afeta no percipiens uma diversidade de registro, em dltima andlise, a dos sensorium. Por dircito, essa diversidade € sempre superdvel. se 0 percipiens se mantiver & altura da realidade. E por isso que agucles a quem compete responder & pergunta levantada pela existéncia do louco nao puderam impedir-se de interpor entre cla € eles esses bancos da escola, nos quais encontraram, nessa casio, a muralha propicia com que se obrigarem. Ousamos, com efeito, por no mesmo saco, digamos assim, todas as posigdes nessa matéria, quer sejam’ mecanicistas ou dindmicas, quer a génese soja do organismo ou do psiquismo, ¢ a estrutura, da desintegragao ou do contfito, sim, todas elas, por mais engenhosas que se mosirem, na medida em que, em nome do fato manifesto de que uma alucinagio € um perceptum sem objeto, essas posigdes contentam-se em pedir 0 percipiens justificativa desse perceptum, sem que ninguém se dé conta de que, nesse pedido, um tempo € saltado: 0 de interrogar se 0 erceptum em si deixa um sentido univoco no percipiens aqui requisitado a explicé-lo. Esse tempo, no entanto, deveria parecer fegftimo a qualquer exame no prevenido da alucinagdo verbal, por nio ser cla redutivel, como veremos, nem a um sensorium particular, nem, sobretudo, a um percipiens, como aquele que Ihe daria sua unidade, De fato, é um erro tomé-la por auditiva por natureza, quando € concebivel, em ditima instancia, que nao o seja em nenhum, ‘grau (num surdo-mudo, por exemplo, ou em algum registro nio auditivo do soletrar alucinatério), mas sobretudo considerando-se que 0 ato de ouvir no é 0 mesmo, eonforme vise a coeténci: da cadeia verbal, isto 6, a sua sobredeterminagio a cada instante Is) De uma questav pretininar $89 pelo a posteriori de sua seqiiéncia, bem como a suspensio de seu valor, a cada instante, no advento de um sentido sempre pronto a uma remissio, ou conforme se acomode na fala & modulagao sonora, a uma dada finalidade de anslise acistica tonal ou fonética, ou até mesmo de poténcia musical. Esses lembretes muito abreviados bastariam para ressaltar a diferenga das subjetividades concernidas na visada do perceprum (€ quio ela & desconhecida no interrogatério dos doentes € na nosologia das “vozes") ‘Mas, poder-se-ia pretender reduzir essa diferenga a um nivel de objetivagdo no percipiens. Ora, no € nada disso, Pois & no nivel em que a “sintese” subjetiva confere seu pleno sentido a fala que o sujeito mostra todos 05 paradoxos dos quais, ele & 0 paciente nessa percepeio singular, Que esses paradoxos j4 aparegam quando € 0 outro que profere a fala, eis © que manifesta suficientemente no sujeito a possibilidade de the obedecer, na medida em que ela comanda sua escuta ¢ seu estado de alerta, pois, simplesmente por entrar nna audigdo dela, 0 sujeito sucumbe a uma sugestio da qual s6 escapa a0 reduzir 0 outro a ser apenas 0 porta-vor, de um discurso que niio € dele, ou de uma intengio que cle mantém reservada. Mais impressionante ainda, porém, é a relagio do sujeito com sua prOpria fala, onde © importante & mascarado sobretudo pelo fato puramente actistico de que ele no poderia falar sem se ouvir. Que cle ndo possa escutar-se sem se dividir tampouco é privilégio dos comportamentos da consciéncia. Os elfnicos deram ‘um melhor passo ao descobrir a alucinagiio verbal motora pela detecgdo do esbogo de movimentos fonatGrios esbogados. Mas nem por isso articularam onde reside © ponto crucial, que é que, sendo 0 sersorium indiferente na produgio de uma cadeia sig- nificante, 18) esta se impoe por si a0 sujeito em sua dimensio de vor; 28) ela assume como tal uma realidade proporcional ao tempo — perfeitamente observavel na experiéncia — que sua atribuigo subjetiva comporta: € 38) sua estrutura propria, como significanie, é determinante nessa atribuiciio que, em regra, é distributiva, isto €, com diversas ‘vozes, € colocando portanio 9 percipiens como al, pretensamente unificante, como equivoco. 540 Berio 3. llustraremos 0 que acaba de ser enunciado com um fendmeno pingado de uma de nossas apresentagées clinicas do ano de 1955-56, ou seja, 0 mesmo ano do seminirio cujo trabalho ‘evocamos aqui. Afirmamos que semethante descoberta s6 pode dar-se as custas de uma submissiio completa, ainda que advertida, as posigdes propriamente subjetivas do doente, posigdes que com demasiada freqiiéncia se forcam ao reduzi-las no didlogo a0 Processo mérbido, com isso reforgando a dificuldade em aden- {té-las devido a reticéncia provocada, nao sem fundamento, no sujeito. Tratava-se, com efeito, de um desses delfrios a dois cujo tipo ‘mostramos hi muito tempo no par mae-filha, ¢ onde o sentimento de inttusdo, desenvolvido num delirio de observagiio, era apenas © desenvolvimento da defesa propria de um bindrio afetivo, aberto, como tal, a qualquer alienacio. Foi a filha que, durante nosso exame, produziu para nés, como prova das injirias a que ambas estavam sujeitas por parte de seus vizinhos, um fato concemente ao amante da vizinha que supostamente as importunava com seus assédios, depois que resolveram por fim a uma intimidade com efa a princfpio acolhida com condescendéncia. Esse homem, portanto, parte da situagio ‘de maneira indireta,e figura alids bastante apagada nas alegagbes dda doente, havia-the dirigido, ao cruzar com ela no corredor do Prédio, 0 ofensivo termo “Porc: ‘A esse respeito, pouco inclinados a reconhecer af a retorsio de um “Porco!”, facil demais de extrapolar em nome de uma projecdo que, em semelhantes casos, representa nada mais do ‘que a do psiquiaira, the perguntamos, muito simplesmente, 0 que ela mesma poderia ter se proferido no instante anterior. Nao sem sucesso, pois ela nos admitiu com um sorriso ter de fato murmurado, ao avistar esse homem, estas palavras, as quais, a0 acreditarmos nela, nada tinham de suspeito: “Eu venho do salsicheiro...” ‘A quem visavam elas? A doente teve muita dificuldade em dizé-10, colocando-n0s no direito de ajudé-la. Por seu sentido textual, nfo poderemos negligenciar 0 fato, entre outros, de que la se separara muito subitamente do marido € da familia deste, € assim dera a um casamento reprovado pela mie um desenlace que se mantivera sem epflogo, a partir da conviegio que adquiira de que aqueles camponeses nio se propunham nada menos, para De wma questo pretninar S41 acabar com aquela imprestével moga da cidade, do que picé-la em pedacinhos, ‘Mas, ndo importa se ¢ ow ndo necessério recorrer & fantasia do corpo despedagado para compreender como a doente, prisio- neira da relagio dual, torna a responder af a uma situagdo que a ultrapassa, Para nosso objetivo atual, basta a doente haver reconhecido gue a frase era alusiva, sem que no entanto pudesse mostrar nada além de perplexidade quanto a aprender a quem dos co-presentes ou do ausente se refetia a alusto, pois assim se evidencia que o {Eu}, como sujeito da frase em estilo dircto, deixara em suspenso, de conformidade com sua chamada fungio de shifier na linguistica,' a designagto do sujeito falante, durante todo 0 tempo em que a alusfo, em sua intengio decerto conju- rat6ria, mantivera-se, por sua vez, oscilante. Essa incerteza teve fim, passada a pausa, com a aposicdo da palavra “porca”, esta por demais carregada de invectiva para acompanhar isocronica~ mente a oscilagao. E assim que o discurso vem a realizar sua intengio de rejeigdo na alucinago. No lugar em que 0 objeto indizivel € rechagado no real, uma palavra faz-se ouvir, porque, vvinda no lugar daquilo que nao tem nome, ela no pode acom- panhar a intengdo do sujeito sem dele se desligar pelo travessio da réplica: opondo sua antistrofe de depreciayao a0 praguejar da estrofe, desde entio restituida & paciente com 0 indice do [eu], € unindo-se em sua opacidade aos dardejamentos do amor, ‘quando, na falta de um significante para denominar o objeto de seu epitalamio, ele emprega a intermediagao do imaginério mais ‘cru: “Eu te como... — Chuchuzinho!” “Estés todo derretido. — gaol"? 1, Roman Jakobson tomow este termo de Jespersen, para designar as palavras {do codigo que 86 adguitem sentido através das coordenadas (atribuiglo, data, Toca de emissio) da mensagem. Referidos classificagio de Peirce, sio simbolos-index. Os pronomes pessoas so seu exemplo eminence: suas diftcu dades de aquisigio e seus deficits funcional lustram a problemstica gerada por ‘esses significanes no sujelto. (Roman Jakobsoa, Shifters, Verbal Categories, land the Russian Verb, Russian Language Project, Department of Slavic Lan fuages and Literatures, Harvard University, 1957) 2 “Je te swage... ~ Chow!” “Tu te pémes...— Rat!”. Chow (couve) € rat (go) sho também, na Tinguagem cologuial, expressdes de cariaho. © verbo ins) S82 eri 4. Esse exemplo é aqui destacado apenas para captar no ponto essencial que a fungio de irrealizagio nao é tudo no simboto. Pois, para que sua irrupgio no real seja indubitével, basta que cle se apresente, como € comum, sob a forma da cadeia rompida.* Também tocamos af no efeito que todo significante tem, uma vex percebido, de suscitar no percipiens um assentimento cons- tituido pelo despertar da duplicidade oculta do segundo pela ambigitidade manifesta do primeiro, Tudo isso, ¢ claro, pode ser tomado por efeitos de miragem, rspectiva clissica do sujeito unificador. simplesmente impressionante que essa perspectiva, reduzida cla mesma, nfo oferega sobre a alucinagio, por exemplo, sendo pontos de vista de tamanha pobreza que 0 trabalho de um louco, sem diivida tio notavel quanto se averigua ser o Presidente Schreber em suas Memérias de um doente dos nerves,’ possa, pds haver recebido desde antes de Freud a melhor acolhida dos Psiquiatras, ser considerado, mesmo depois dele, uma antologia {Ser proposta como uma introdugao a fenomenologia da psicose, endo apenas para o iniciante.* Quanto a nés, ele nos forneceu a base para uma andlise cstrutural, quando, em nosso semindrio do ano de 1955-56 sobre as estruturas freudianas nas psicoses, retomams, seguindo 0 conselho de Freud, seu ex A relacio entre 0 significante ¢ © sujeito, que essa anslise revela, encontra-se, como vemos neste exGrdio, ja no aspecto _ndmer (cae em espasmo) (ano expressa as idéias de desfalcer, estremecer (de {070 ov éxiase, por exempla), quanto de estecbuchar (come um rato numa toe). (NE) 3. Cf. 0 seminirio de 8 de feveriro de 1956, onde desenvolvemos 0 exemplo {a vocalzagao “normal” de "a paz do ancitecer” 4 Denksiirdigheiten cinee Nerverkranken, son Dr. jur. Daniel-Paul Schreber Senitsprisident beim kel. Oberlandesgericht Dresden a-D., Oswald Mutze, Leipzig. 1903, do qual preparamos uma tradueio francesa para wo de nosso ‘supe (Memrias de um doente dis nervor, wad. ¢ org. de Marilene Carone, Rio de Janeiro, Paz ¢ Terra, 1995) ‘5 Essa 6, principalmente, a opinifo expresa pela autora da waduio inglesa dessas Memérlae, publicada no ano de nosso semindio (cf. Memoirs of my "Nervous Mlnees,tadurido por Ida Macalpine e Richard Hume, Londres, W.M, Dawson & Sone), em sua inirodugao, p.25. Bla di conta, no mesino lugar, da Arajetéria do tivo, 9.6410, De uns questo preininar $43 dos fendmenos, quando, partindo da experigncia de Freud, sa- hemos a que ponto ela conduz. Mas essa partida do fendmeno, convenientemente executada, reencontraria esse ponto, como aconteceu conosco quando um primeiro estudo da parandia, trinta anos atrés, levou-nos ao limiar da psicandlise.® Em parte alguma, com efeito, a concepgio falaciosa de um processo psiquico no sentido de Jaspers, do qual o sintoma seria apenas o indie, € mals depropostado do que ne abordagom da psicose, porque em parte alguma o sintoma, s¢ soubermos é-lo, est mais claramente articulado na prépria estrutura. ‘© que nos impord definir esse processo pelos mais radicais determinantes da relagio do homem com o significante 5. Mas no € necessério ter chegado a esse ponto para sentir interesse pela variedade com que se apresentam as alucinagdes verbais nas Memérias de Schteber, nem para reconhecer ali totalmente diversas daquelas em que elas sio "clas- * classificadas segundo seu modo de implicagio no percipiens (0 grav de sua “erenga”) ou na realidade deste (a “ auditivagdo” ): ou seja, diferengas, antes, que se prendem a sua cestrutura de fala, na medida em que essa estrutura jé esté no perceptum. Considerando o simples texto das alucinagbes, uma distingio logo se estabelece para o lingilista entre fendmenos de e6digo fen6menos de mensagem. ‘Ags fendmenos de céxigo pertencem, nessa abordagem, as vozes que se servem da Grundsprache, que traduzimos como Iingua fundamental, € que Schreber descreve (S. 13-1)’ como & Tratou-se de nossa tee de doutorado em medicina,initulada Da pricese porandica em suas relaybes com a personalidade. que nosso mestre Heayer, tscrevendo nossa pessoa, julgou, com muita peninéncia, nestes temos: “Uma Andorinha ndo faz verio"; e acrescentou, a propésivo de nossa biliografa: "Se 6 senhor few tudo isto, eu me compadego.” Eu tina ldo tudo. de fo. 7. Os parteteses compreendendo aera, seguda por nimeros(respectivameate Arhigas ¢ romanos), sero empregades fest texto para remeter 3 pagina e 20 opto correspondentes das Denenwiardheizen a eto original paginag30 ‘sta reprodurida felizmente, nas margens da tradogho inglesa. (Ela € também reprodiuzida ma edicdo brasileira. (NE) $46 Berton “um alemdo um tanto arcaico, mas ainda rigorosa, que se caracteriza principalmente por uma grande riqueza de eufemis- mos”. Em outro ponto (S. 167-XIl), ele se reporta com pesar suia forma auténtica, por seus tragos de nobre distingdo ¢ implicidade” Essa parte dos fendmenos é especificada em locugdes neol6- gicas por sua forma (novas palavras compostas, mas numa composigio conforme as regras da lingua do paciente) e por seu cemprego. As alucinagées instruem 0 sujeito sobre as formas & cempregos que constituem 0 neocédigo: o sujeito thes deve, por cexemplo, anics de mais nada, a denominagéo de Grundsprache para designé-lo. Trata-se de algo bastante préximo das mensagens que 0s Jingistas chamam de auidnimas, na medida em que & 0 proprio significante (¢ nio o que ele significa) que & objeto da comuni cago, Mas essa relagdo da mensagem consigo mesma, singular porém normal, reduplica-se, aqui, por serem essas mensagens tidas como sustentadas por seres cujas relagdes elas mesmas enunciam, sob modos que se revelam muito andlogos As conexdes do significante. © termo Nervenanhang, que traduzimos por anexagio-de-nervos, ¢ que também provém dessas mensagens, ilustra essa observago, na medida em que a paixio © a agio fenire esses seres reduzem-se a esses nervos anexados ou desa~ nexados, bem como na medida em que estes, assim como os raios divinos (Gottesstraklen) de que sio homogéneos, nio passam da entificagao das palavras que sustentam (8. 130-X: 0 {que as vozes formulam como: "Nao se esquega de que a natureza dos raios € que’eles devem falat.") Relagio, aqui, do sistema com sua pr6pria constituigio de significamtc, que engrossaria 0 dossié da questo da metalingua- {gem e que, em nossa opinidio, demonstrard a impropriedade dessa ogo, caso ela pretenda definir elementos diferenciados na linguagem, Observemos, por outro lado, que estamos na presenga desses fendmenos erroneamente chamados de intuitivos, pelo fato de 0 1 “so verdadeira Mogua fundamental, isto 6, 2 expressio dos verdadeiros Sentimentos das alms na época em que ainda mio havia frases decorada, Caractrizava-se por una nabre dstingSo e simplicidade” (Memérias.. op. ct. p.l40). (NE) 908) De una quetto preliminar $48 efeito de significagtio antecipar-se, neles, a0 desenvolvimento desta. Trata-se, na verdade, de unvefeito do significante, na medida ‘em que seu grau de certeza (segundo grau: significagao de signi- ficagio) adquire um peso proporcional ao vazio enigmético que se apresenta inicialmente no lugar da propria significagio. curioso nesse caso é que, A medida mesma em que, para © sujeito, essa alta tensio do significante decresce, isto é que as alucinagGes reduzem-se a ritornelos, a cantilenas cujo vazio & imputado a seres sem inteligencia nem personalidade, até ‘mesmo francamente apagados do registro do ser, é nessa mesma medida, dizemos, que as vores se referem a Seelenauffassung, {a concepgiio-das-almas (segundo a Iingua fundamental), concep gio esta que se manifesta num catélogo de pensamentos que niio & indigno de um livro de psicologia cldssica. Catdlogo ligado, nas vores, a uma intengo pedante, 0 que nao impede o sujeito de Fazer sobre isso 08 mais pertinentes comentérios. Observemos que, nesses comentérios, a origem dos termos é sempre cuida- dosamente distinguida: por exemplo, quando o sujeito emprega a palavra fnstanz (S. nota de 30-II-Conf. notas 11 a 21-1), ele frisa numa nota: a expresso é de minha autoria. Assim & que no Ihe escapa a importincia primordial dos pensamentos-de-meméria (Erinnterungsgedanken) 1a econ psiquica, ¢ cle logo indica a prova disso no uso postico ¢ musical do refrio modulatério. Nosso paciente, que qualifica impagavelmente essa “concep- «io das almas” de "a representagio um tanto idealizada que as almas faziam da vida ¢ do pensamento humano” (S. 164-XI), acredita hayer " chegado a intuigdes sobre a esséncia do processo do pensamento ¢ do sentimento no homem de fazer inveja a muitos psicélogos” (S. 167-XI1). Concordamos com ele de bom grado tanto mais que, diferen- temente deles, esses conhecimentos, cujo alcance cle aprecia tio humoristicamente, cle no imagina extraf-los da natureza das 6, €, S€ actedita dever tirar partido deles, 6, como acabamos de indicar, a partir de uma andlise semantica!® 9. Notemes que nossa homenagem, aqui, x6 faz profongar a de Freud, 2 quem indo repugna reconhecer no prpcio deltio de Schreber uma anecipage da teori 4a libido (GW, VIM, p18), (599) 5% Beertor Mas, para retomar nosso fio, passemos aos fenémenos que oporemos aos precedentes como fenémenos de mensagem. ‘Trata-se das mensagens interrompidas, pelas quais se sustenta entre o sujeito ¢ seu interlocutor divino uma relago & qual elas dio a forma de um challenge ou de uma prova de resisténcia. ‘A vor do parceiro, com efeito, limita as mensagens em questo a. um comego de frase, cujo complemento de sentido nio apre- senta, além do mais, dificuldade para 0 sujeito, exceto por seu aspecto agastante, ofensivo e, na maioria das vezes, com uma inépcia propria a desencorajé-lo. A valentia que ele demonstra, a0 ndo faltar para com sua réplica, inclusive para desmontar as armadithas as quais ele € induzido, no ¢ 0 menos importante para nossa anélise do fendmeno. Porém vamos nos deter aqui, mais uma vez, no proprio texto do que se poderia chamar a provocagio (ou melhor, a pr6tase) alucinat6ria, Dessa estrutura, 0 sujeito nos fomece os seguintes exemplos (S. 217-XVI [Memérias... p.176)): (1) Nun will ich ‘mich (agora eu vou me...); (2) Sie sollen ndmlich... (Voce deve de fato..); (3) Das will ich mir... (Nisso eu queto...), para nos atermos estes, aos quais ele tem que retrucar com seu suplemento signi- ficativo, que nio the traz dividas, a saber: (1) render-me a0 fato de que sou idiota; (2) quanto a voct ser exposto (palavra da fingua fundamental) como renegador de Deus € afeito a uma libertinagem voluptuosa, sem falar do resto; (3) pensar bem. Podemos observar que a frase se interrompe no ponto onde termina 0 grupo de palavras que poderfamos chamar de termos- Indice, isto é, aqueles cuja fungdo no significante é designada, ‘conforme o termo empregado acims, por shifiers, ou seja, pre~ cisamente os termos que, no e6digo, indicam a posigio do sujeito a partir da propria mensagem. Depois disso, a parte propriamente léxica da frase, ou, dito de outra maneira, a que abrange as palavras que o c6digo define por seu emprego, quer se trate do cédigo comum ou do cédigo delirante, fica elidida. ‘Acaso niio nos impressiona a predominfincia da fungio do significante nessas duas ordens de fendmenos, ou nfo somos incitados a buscar 0 que hé no fundo da associagio que eles constituem: de um cédigo composto de mensagens sobre 0 cGdigo, ¢ de uma mensagem reduzida Aquilo que no cédigo indica a mensagem? De uma questa preininar 347 igiria ser transposto com o maximo cuidado para ‘um grafo," no qual tentamos, nesse mesmo ano, representar as cconexdes internas do significante na medida em que estruturam © sujeito. Pois hé af uma topologia totalmente distinta daquela que poderia levar a imaginar a exigéncia de um paralelismo imediato centre a forma dos fenémenos ¢ suas vias de condusi0 no neuro-cixo. ‘Mas essa topologia, que esté na linha inaugurada por Froud — quando ele se empenhou, depois de ter aberto com os sonhos ‘© campo do inconsciente, em descrever sua dindmica, sem se sentir ligado a preocupagio alguma de localizagao cortical —, € justamente 0 que melhor pode preparar as perguntas com que se hi de interrogar a superficie do cértex. Pois € somente apés a andlise lingtistfea do fendmeno da Jinguagem que se pode legitimamente estabelecer a relagio que ele constitui no sujeito ¢, a0 mesmo tempo, delimitar a ordem das“ maquinas” (no sentido puramente associative que tem esse termo na teoria matemiética das redes) capazes de realizar esse fendmeno. No é menos notavel que tenha sido a experiéncia freudiana que induziu 0 autor destas linhas na diregio aqui exposta. Passemos, pois, a0 que essa experiéncia acrescenta & nossa questéo. Il. Depois de Freud 1. O que nos trouxe Freud aqui? Entramos no assunto afirmando que, quanto ao problema da psicose, essa contribuigo levara & uma recafda, Ela 6 imediatamente sensivel no simplismo dos recursos invocados em concepgbes que se reduzem, todas, a este esquema fundamental; como fazer passar 0 interior para 0 exterior? O sujeito, efetivamente, pode até englobar aqui um isso opaco, pois de qualquer modo € como eu, isto é, de maneira inteiramente express na atual orientagio psicanalitica, como esse mesmo 10. Cf. ps2 Si Becrtas percipiens indestrutivel, que ele é invocado na motivagio da Psicose. Esse percipiens tem todo © poder sobre seu correlato ‘do menos inalterado — a realidade —, e 0 modelo desse poder € buscado num dado acessivel a experiéncia comum, a da projesio afetiva. Pois as teorias attais destacam-se pelo modo absolutamente acritico pelo qual esse mecanismo da projegdo € nelas utilizado. Tudo objeta a isso e, no entanto, nada o impede, ¢ ainda menos a evidéncia clinica de que no hé nada em comum entre a projegio afetiva c seus pretensos efeitos delirantes, entre o citime a infiel ¢ 0 do alco6tatra, por exemplo. Embora Freud, em sua tentativa de interpretagio do caso do Presidente Schreber, que € mal lida quando se a reduz aos ramerrdes que vieram depois, empregue a forma de uma dedugio ‘gramatical para expor as mudangas de orientagio da relagao com © outro na psicose, ou seja, os diferentes meios de negar @ proposi¢ao eu o amo, donde se segue que esse juizo negativo estrutura-se em dois tempos — primeiro, a inversdo do valor do verbo: eu o odeio, ov a inversio do género do agente ou do objeto: ndo sou eu, ou entio, ndo é ele, é ela (ou vice-versa), segundo, a permutagio dos sujeitos: ele me odeia, é a ela que ele ama, é ela que me ama —, os problemas I6gicos formalmente implicados nessa deduco niio retém a atengo de ninguém. Mais ainda, se Freud, nesse texto, afasta expressamente 0 mecanismo da projeao como insuficiente para explicar 0 pro- blema, entrando nesse momento numa elaboragio muito fonga, detathada e sutit sobre 0 recalque, mas oferecendo pedras de ‘espera para nosso problema, digamos apenas que estas continuam 4 se perfilar, invioladas, acima da poeira levantada do canteiro de obras psicanaiftico. 2. Depois disso, Freud produziu a Introdugdo ao narcisismo. Serviram-se dela para 0 mesmo fim, para um bombeamento, aspirando ¢ recalcando, ao sabor dos tempos do teorema, a libido pelo percipiens, que assim fica apto a inflar ¢ desinflar uma realidade-baltio. Freud forneceu a primeira teoria do modo pelo qual o eu se cconstitui segundo 0 outro, na nova economia subjetiva determi- nada pelo inconsciente: respondeu-se a ela aclamando nesse eu (s42] De uma questo preiminar 548 © reencontro do bom ¢ velho percipiens, resistente a tudo, © da fungao de sintese, Como nos surpreendermos com 0 fato de nio se haver tirado disso outro beneficio, no tocante & psicose, senio a promogio definitiva da nogio de perda da realidade? E isso nio 6 tudo. Em 1924, Freud escreveu um artigo incisivo, “A perda da realidade na neuruse e na psicose”. no qual chamou tengo para 0 fato de que o problema nao é 0 da perda da realidade, mas 0 expediente daquilo que vem substituf-la. Di ‘curso para surdos, j4 que 0 problema est resolvido: a loja de acess6rios esti no interior, € eles so retirados a0 sabor das necessidades. De fato, & com esse esquema que até 0 st. Katan, nos estudos ‘em que retoma tio atentamente as etapas da psicose em Schreber, guiado por sua preocupagao de desvendar a fase pré-psicética, satisfaz-se ao citar a defesa contra a tentagdo dos instintos, contra ‘a masturbagdo € a homossexualidade, no caso, para justificar 0 surgimento da fantasmagoria alucinatéria, cortina interposta pela operas do percipiens entre a tendéncia e seu est{mulo real. ‘Quanto nos teria essa simplicidade aliviado em certo momento, se a julgassemos suficiente para explicar 0 problema da criagio literdria na psicose! 3. De resto, que problema ainda haveria de criar obstéculos a0 discurso da psicandlise, quando a implicagio de uma tendéncia na realidade responde pela regressio de ambas? Que poderia fatigar esses espiritos que se conformam em que se Ihes fale de regressdo sem distinguir a regressio na estrutura, a regressio na hist6ria e a regressio no desenvolvimento. (distinguidas. por Freud, em cada ocasigo, como {Gpica, temporal ot genética)? Renunciamos anos deter aqui no inventério da confusio. Ble 6 batido para aqueles a quem formamos e no interessaria aos ‘outros. Contentar-nos-emos em propor, para sua meditagio co- mum, 0 efeito de despaisante produzido — com respeito a uma especulacao que se dedicou a girar em circulos entre desenvol- vimento € meio ambiente — pela simples mengao dos tragos que, no entanto, so 0 areabouco do edificio freudiano, quais sejam, a equivaléncia, sustentada por Freud, da fungio imaginiria do falo nos dois sexos (desespeto, por muito tempo, dos cultua dores de falsas janelas “biolégicas”, isto 6, naturalistas), © 0 550 Bxcrtos complexo de castragio, descoberto como fase normativa da assungio de seu proprio sexo pelo sujeito, o mito do assassinato do pai, tornado necessério pela presenga constitutiva do complexo de Edipo em toda historia pessoal, e, last but not.., 0 efeito de desdobramento introduzide na vida amorosa pela propria instan- cia repetitiva do objeto sempre a ser reencontrado como tinico Seré que ainda & preciso lembrar © cardter intrinsecamente dissidente da nogto de pulsio em Freud, a disjungio por principio da tendéncia, de sua diregJo € de seu objeto, e no apenas sua “perversio” original, mas sua implicagdo numa sistematica conceitual, aquela cujo lugar Freud marcou, desde os primeiros passos de sua douttina, com 0 titulo de teorias seauais infantis? ‘Acaso nao se vé que estamos hé muito tempo longe de tudo isso, num naturismo educative que jé nao tem outro principio Sendo a nosio de gratificagdo © sua decorréncia, a frustragdo, do mencionada em parte alguma por Freud? Sem diivida, as estruturas reveladas por Freud continuam a sustentar, no apenas em sua plausibilidade, mas também em seu funcionamento, 0 vagos dinamismos com que a psicandlise de hoje pretende nortear seu curso. Uma técnica esvaziada s6 seria mesmo mais capaz de “milagres” — nio fosse pelo conformismo adicional que reduz seus efeitos aos de uma mescla de sugestio social ¢ supersticao psicol6gica. 4. Chega a ser surpreendente que uma exigéncia de rigor nunca se manifeste sendo em pessoas a quem o curso dos acontecimen- fos mantém, por algum aspecto, & margem desse concerto, como ‘sa, Ida Macalpine, que nos coloca na situagio de nos maravi- Iharmos por encontrar, a0 1é-la, um espirito firme. Sua erftica do chavo que se restringe ao fator da repressao de uma pulsio homossexual, alids inteiramente indefinida, para ‘explicar a psicose, € magistral, e ela o demonstra com esmero 1no prdprio caso de Schreber. A homossexualidade, pretensamente determinante da psicose parandica, € propriamente um sintoma articulado em seu processo. Esse processo inicion-se muito antes, no momento em que surgiu seu primeiro sinal em Scbreber, sob a aparéncia de uma ddessas idéias hipnopOmpicas que, em sua fragilidade, apresen- fam-nos uma espécie de tomografias do eu, idéia cuja fungo imaginéria é-nos suficientemente indicada em sua forma: como seria belo ser uma mulher na hora da copulagio. [544 De wma quesian prelininar — S51 A sra, Ida Macalpine, embora inaugure af uma eritica justa, acaba no entanto por desconhecer que, se Freud depositou tanta énfase na questdo homosexual, foi, primeiro, para demonstrar ‘que ela condiciona a idéia de grandeza no delirio, porém, mais essencialmente, ele denunciou ali o modo de alteridade segundo ‘o qual se efetua a metamorfose do sujeito, ou, em outras palavras, 6 lugar onde se sucedem suas “transferéncias” deliramtes. Ela teria feito melhor em se fiar na razio pela qual Freud, também nesse caso, obstinou-se numa referencia a0 Edipo com a qual ela no concorda, Essa dificuldade a teria levado a descobertas que com certeza nos teriam esclarecido, pois ainda esté tudo por dizer no que tange 4 fungio do chamado Edipo invertido. A sta. Macalpine prefere rechagat, nesse ponto, qualquer recurso ao Edipo, para supri-lo com uma fantasia de procriagio que se observa na crianga de ambos os sexos, ¢ isso sob a forma de fantasias de gravidez que, alids, ela considera ligadas a estrutura da hipocon- dria." Essa fantasia é realmente essencial, ¢ até assinalarei aqui que © primeiro caso em que a obtive de um homem foi por um 11, Quem quer provar demais acaba se perdendo, & assim que a sra. Macapine, lds bastante inspira 20 se deter no cariter — assinalado pelo préprio pacieme ‘como excessivarvente persuasivo (S. 3%-IV) — da esimlagso sugestiva a que 4 entega o prof. Flechsig (que tudo nor indica ter sido de habite mais calmo) junto a Schreber, quanto As promessac da sonoterspia que ele the prope, a ea Macalpin, diclamo, interpreta fongamtente 05 temas de procriagio que julga serem sugetidos por ese discurso (ver Memoir... Discussio, 9.396, linhas 12 £€21),apolando-se no emprego do verbo to deliver para designar o efeitoesperado do tratamento sobre scus dstirbis, bem como no do adjtivo prolif, pelo qual la traduz, aids exigindo demais dele, 0 termo alemio ausgiebig (profundo, ‘abundame). aplicado a0 sono em causa. {0 verbo deliver tem o sentido de lvrar, 1a forma de seu acréscimo & tradugio inglesa, “and gave me the hope of delivering me of the whole illness heough one prolific sleep", mas comporia ainda, ese otras. a acepgio de parr, dar & lux. (N.E.)] ‘Ora, o termo to deliver no ¢ passive de discussdo quarto a0 que traduz, pela simples rardo de que nio hé nada para traduri. Esfregarnos os otbos dante do texto alemio. Esse verbo foi simplesmente esquecido pelo autor ot pelo tipdgra, asta. Macalpine, em seu esforgo de tradueio, no-lo devolveu inadvertdamente ‘Como ndo considerar bem merecida a flicidade que ela deve ter experimencade, mais tarde, a0 encontrs-o 18 conforme a veusanscioe? Iss} nem de um hipocondrfaco nem de um histérico. Essa fantasia, ela prova, até com um requinte mirabile nestes, dias que correm, a necessidade de ligé-la a uma estrutura sim- bolica. Mas, para encontrar esta diltima fora do Edipo, ela vai buscar referéncias einogréficas cuja assimilagio nos ¢ dificil aquilatar em seu texto. Trata-se do tema “heliolitico” , do qual tum dos mais eminentes paladinos da escola difusionista inglesa fez-se esteio. Sabemos do mérito dessas concepgbes, mas elas no nos parecem apoiar minimamente aidéia que asra. Macalpine pretende dar de uma procriagio assexuada como concepsio *primitiva”."? O erro da sra. Macalpine se aquilata, aliés, por ela chegar a0 resultado mais oposto Aquele que procura. ‘Ao isolar uma fantasia numa dindmica que ela qualifica de intrapsiquica, segundo uma perspectiva que abre a tespeito da nogio de transferéncia, ela acaba por apontar, na incerteza do Psiedtico quanto a sew proprio sexo, o ponio sensfvel em que deve incidir a intervengiio do psicanalista, contrastando os felizes efeitos dessa intervengio com 0 efeito catastréfico, de fato constantemente observado nos psicéticos, de qualquer sugestio no sentido do reconhecimento de uma homossexualidade latente Ora, a incerteza a respeito do préprio sexo ¢ justamente um trago banal na histeria, cujas intromissdes no diagndstico a Sra. ‘Macalpine denuncia E que nenhuma formagio imaginiria é especifica,'? nenhuma € doterminante, nem na esirutura nem na dindmica de um 12. Macalpine, op. cit, p.361 ¢ 379-80. 13. Perguniamos & sta. Macalpine (ver Memirs.. p391-2) se 0 admero 9, implicado como esté em duragGes tho diverias quanto os prazos de 9 horas, 9 dias, 9 meses ou 9 anos, que ela faz brotar a todo momento da anarnnese do ppaciene, para reencontri-o na hora do rekigio na qual sua angustia 0 fevou a Iniciar 2 sonoterapia acima evocada, ou na hesitagdo entie 4 € $ das, renovada em vrias ocasiées num mesmo periodo de sua rememoragao pessoal, deve ser ‘concebido como fazendo parte como ta, isto ¢, com simbolo, da relasio Jmaginéra iolada por ela como fantasia de procriago. Essa pergunta imeressa a todo o mundo, pois difere do ws0 feito por Freud, ho Homer dor Labor, d3 forma do nimero V, sopostamente mantids pela ‘eriremidade do ponisiro no cartithio por casio de uma cena percebida na De una quesido pretininar $84 processo. E é por isso que nos condenamos a deixar passar uma © outra quando, na esperanga de melhor apreendé-las, desdenha mos a articulagio simbslica que Freud descobriu juntamente com 0 inconsciente, e que de fato the & consubstancial: & a necessidade dessa articulago que ele nos expressa em sua referéncia met6dica ao Edipo. 5. Como imputar a sra, Macalpine o prejuizo desse desconheci- ‘mento, uma vez que, na impossibilidade de ser dissipado, ele tem estado sempre aumentando na psicanélise? por isso que, de um lado, os psicanalistas reduziram-se, para definir a clivagem mfnima e realmente exigivel entre a neurose € a psicose, a apelar para a responsabilidade do eu perante a realidade: € 0 que chamamos de deixar o problema da Psicose no sraiu quo ante ‘Um ponto, no entanto, foi designado com muita precisto como sendo a ponte da fronteira entre os dois dominios. Chegou-se até a fazer 0 mais desmedido inventério a propésito da questo da transferéncia na psicose, Seria falta de caridade Feunir aqui 0 que se disse a esse respeito. Vejamos nisso apenas uma oportunidade de render uma homenagem ao espitito da sra. Ida Macalpine, quando ela resume nos seguintes termos uma postura bastante conforme ao clima que atvalmente se manifesta na psicanélise: em suma, os psicanalistas afirmam-se em condi- ses de curar a psicose em todos os casos em que nao se trata de psicose.!* Foi quanto a esse ponto que Midas, legiferando um dia sobre as indicagdes da psicandlise, exprimiu-se nestes termos: “E claro que a psicandlise 56 6 possfvel com um sujeito para quem existe um outro!” E Midas atravessou a ponte, ida e volta, tomando-a por um terreno baldio. Como poderia ser de outra maneira, se ele nio sabia que o rio estava ali? termo outro, até entio inaudito entre 0 povo psicanalttico, rdo tinha para cle outro sentido sendo o do murmtirio dos juncos. ‘dade de ur ano © meio, para reenconté-la no bater das asas da borboleta, was ernas abertas de uma moga ce, 14, Ler p, eit de sua introdugto, 13-9 (47)

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