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ACOS INOXIDAVEIS — CONSTITUICAO, PROPRIEDADES E TRATAMENTOS TERMICOS Eng. Vicente Chiaverini () fiste trabalho, baseado numa série de aulas ministradas no Departamento de Metalurgia do I.P.T. para engenheiros e assis- tentes-alunos constitue um apanhado geral sdbre os agos inoxi- daveis, no que se refere A sua constituig&o, propriedades, trata- mentos térmicos e aplicagdes. Nao se cogitou de abordar os pro- blemas relatives A fabricagio e tratamentos mecinicos (forja- mento, laminagio ete.) sobretudo para se evitar uma exposigio demasiadamente geral, desde que forcosamente ela deveré ser de extensio limitada, Nao 6 um trabalho original e 0 autor limi- tou-se a consultar A parte mais conhecida da vasta bibliografia exiotento sBbre 0 assunto, adaptando © mesmo reproduxindo os trechos que considerou adequados para a finalidade do trabalho. GENERALIDADES. Entre os varios agentes de destruigéo dos metais (corrosio, desgaste, variagdes bruscas de temperatura, esférgos repetidos. etc.) parece que a corrosao é o mais importante, isto é, 0 que causa maio- res perdas de metais. Dai a importancia que se presta a ésse fend- meno na metalurgia, evidenciada pelo grande ntimero de métodos es- tudados e desenvolvidos com o fim de diminuir sen efeito ou, em outras palavras, no sentido de dotar as ligas de propriedades de resis- téncia 4 corrosio (uso de tintas, de revestimentos especiais como os de zinco, niquel e cromo, aplicagdes de metais inoxidaveis, etc.). Varios sio os tipos de corrosio, podendo-se considerar como mais importantes os seguintes: a) atmosférica a temperaturas normais; b) submersa; c) subterranea; d) quimica; e) oxidagdo a alta tempera- tura. ‘A corrosio pode ser definida como o ataque quimico gradual de um metal sob a acaio do meio circunvizinho, 0 qual pode ser repre- (2) Chefe da Sub-Seegio de Tratamentos Térmicos © Metalurgia de P6 do Departa- mento de Metalurgia do I.P.T.; Assistente da cadeira “Materiais de Construgio” da Escola Politéeniea da Universidade de Sio Paulo; Presidente da Seegio Regional de Sao Paulo da Associagio Brasileira de Metais. 4 Geologia e Metalurgia sentado pelo ar umido e esfumacado das cidades, acidos, gases quentes de fornos, gua do mar, etc. Como resultado, tem-se mudanga gradual do metal num composto ou em varios compostos. Pode-se dizer que a corrosao nao passa de uma forma de atividade quimica ou, mais adequadamente, eletroquintica (*). Quando um metal nao corroe, admite-se que ha alguma reagio quimica déle com o meio que o circunda com a formacao de uma ¢a- mada protetora fina e aderente. Se, por qualquer motivo, essa ci mada protetora for momentaneamente destruida, ela sera instantanea- mente restabelecida e a lesio do metal, por assim dizer, automatica- mente curada. Em resumo, a maioria dos metais nos meios comuns é instavel, tendendo a reverter a formas mais estaveis (das quais os minérios como encontrados na natureza séo exemplos comuns (?). O tipo mais comum de corroséo é a atmosférica. Por outro lado como a corrosao do ferro é a mais conhecida de tédas, no estudo désse fenémeno sera considerado o que se passa com aquele metal A teoria mais simples e aceita sdbre a corrosio é a eletrolitica. (3) O Ferro, estando localizado acima do Hidrogénio na tabela dos potenciais eletroquimicos, pode deslocar os atomos de H da H:0; isso se da, pelo envio de ides de ferro (Fe*+ +) em solugao na Agua, deslo- cando os ides de hidrogénio (H*) na Agua. Logo, a camada de agua circundando 0 objeto contém ides Fet * e 20H™, ou seja, Fe(OH): dissociado em consideravel concentragdo. Se o oxigénio do ar é ad. mitido nesta camada (por difusio através da agua) forma-s Fe(OH)s. Este é menos soitivel que 0 Fe(OH): e precipita como um depésito marron, 2Fe(OH)s —= FexOs + 3H2O, passando gra- dualmente a Fe2Os, que € comumente conhecido pelo nome de ferrugem. Os numerosos estudos e as muitas experiéncias realizadas sdbre a corrosao do ferro levaram ao estabelecimento de varios fatos impor- tantes ligados a ésses fenémenos, entre os quais podem ser mencio- nados os seguintes : 1 — na maioria dos casos tanto a umidade como o oxigénio sao ne cessarios para a corrosio do ferro, (umidade no ar e oxigénio na agua); 2 — a velocidade inicial de corroséo é, em geral, comparativamente rapida, diminuindo 4 medida que se forma uma _ pelicula protetora; Boletim n.°? 5 15 3 — peliculas superficiais desempenham importante papel no con- trole da velocidade e distribuig&o da corrosao; 4 — a condigao da superficie é importante no determinar se a cor- rosio sera m'ais ou menos uniforme ou localizada; (4) 5 — a corrosao é mais rapida em acidos do que em solugdes neutras e € mais lenta nas solugées alcalinas; (+) 6 — a corrosdo em geral aumenta com a concentragdo dos sais e com a temperatura. (4) Principios de Protecéo & Corroséo. Admite-se em geral, como ja foi dito, que o processo segundo o qual os metais se tornam resis- tentes 4 corrosao em solugdes ou em gases é o da formagao de uma pelicula protetora na superficie do metal, pela reagdo do metal com © meio circunvizinho. Essa pelicula que separa o metal do meio em que éle esta mergulhado pode ser constituida principalmente de ele- mentos essenciais do ‘proprio metal; ou pode se formar pela reacdo entre o metal e algum material essencial do meio, tais como sais de cromo; ou, ainda sua presenca pode ser devida a ambas essas in- fluéncias. (2) A propriedade protetora dessas peliculas varia sobretudo com a natureza e a concentragio dos elementos de ataque e com a tempera- tura. Tédas as peliculas parecem ser mais ou menos porosas a certos elementos e os ides de alguns elementos, como cloro, penetram as peliculas de 6xidos muito mais rapidamente do que outros. (2) Dai o fato da maioria dos metais e ligas que sao altamente resistentes aos Acidos sulftrico e nitrico, ser rapidamente soltvel no Acido cloridrico. A concentragio e as propriedades do material disponivel forma- dor da pelicula protetora ou proveniente do metal ou do meio circun- dante exercem, aparentemente, uma consideravel influéncia sébre o carater e a densidade da pelicula superficial. (2) Em relagio 4 resisténcia 4 corrosio atmosférica poder-se-ia pre- dizer que os elementos nobres como ouro, prata e platina poderiam ser de grande utilidade quando ligados ao ferro. Até o momento, en- tretanto, essas ligas nao apresentaram boas possibilidades. Os metais que se podem ligar ao ferro em condigGes econdmicas para formar as peliculas protetoras discutidas acima, sao, na reali- dade, relativamente poucos e incluem o cromo, 0 cobre, 0 silicio, 0 molibdeno, o aluminio e o niquel. Contribuicdo do cromo. O cromo, quando usado em altas por- centagens, é sem dtvida o mais eficiente sob a maioria das condig6es, 16 Geologia e Metalurgia se bem que os agos ao cromo e ao cromo-niquel nao sejam resistentes cm certos meios, como acide cloridrico. ee. Parece que nenhum dos elementos citados sds ou combinados, em teores abaixo de 1%, retarda materialmente a corrosdo, com excecéo do cobre que em torno de U,2U% retarda definitivamente a corrosio atmosférica. Maiores adigdes de cobre sao ineficazes. O cromo é o elemento por exceléncia nesse sentido e com teores superiores a 11,5%-12,5% nota-se, na maioria das condigdes, acen- tuada resisténcia A corrosao dos agos. Na realidade, pode-se dizer que a ciéncia dos agos inoxidaveis é a ciéncia do cromo como elemen- to de liga com o ferro. O cromo é 0 elemento essencial de téda essa familia de ligas. Em esséncia, entretanto, nio é éle um elemento nobre. Pode-se verificar ésse fato através das seguintes experiéncias devidas a Bain: (5) 1 — Numa espécie de pilha com eletrodos constituidos de cromo e de ferro (fig. 1) e eletrélito de Acido cloridrico, verifica-se que 0 cromo se dissolve mais rapidamente que o ferro e que uma corrente externa passaré do ferro ao cromo. Uma liga Fe-Cr com 18% de Cr, substituida no lugar do Cr, dara voltagem se- melhante, se bem que um pouco inferior, pois de fato a liga Fe-Cr é mais nobre que 0 cromo puro. Conclue-se que em acido cloridrico, 0 cromo e as ligas ferro-cromo so menos nobres que o ferro; logo, os acos inoxidaveis nao podem ser usados em HCE ou outros acidos fortes nao oxidantes. 2 — A mesma experiéncia repetida com solugio de Acido nitrico re- vela que a liga Pe-Cr nav € alacada, av passo que o ferro se dissolve, passando uma corrente externa da liga ao ferro. As- sim, é evidente que no acido nitrico 0 ago inoxidavel atua como metal nobre. 3 — Se se remover os eletrodos do Fe e Fe-Cr usados na solugao de acido nitrico ¢ sc lavar cuidadosamente ¢ sc colocar numa so- lugdo de sal de cozinha comum, verifica-se que o fendmeno que agora se passa é 0 mesmo que se passou no acido nitrico, (sd- mente 0 potencial € um pouco menor) isto é, a liga Fe-Cr nao € atacada e passa corrente externa da liga ao ferro. 4 — Se se remover os eletrodos de Fe e Fe-Cr usado na solugio de acido cloridrico e se levar rapidamente com lavagens sucessi- vas e se colocar numa solugaio de sal de cozinha comum, veri- o mesmo fendmeno que se passou no dcido cloridrico; Boletim n.° 5 17 mas o potencial originado rapidamente decresce e até se inverte, atuando como se o eletrdlito fésse acido nitrico. Bsses fendmenos descritos podem ser explicados pelo fato do cromo € ligas ricas em cromo serem capazes de répida rcagio com qualquer oxigénio disponivel, com a formagio de uma fina pelicula de 6xido. Essa pelicula é, entretanto, removida pelo Acido cloridrico e resiste bem ao acido nitrico. POTENC/OMETROS Fig. ne 1 — Esquema representativo da atividade de ferro ¢ de uma liga ferro-cromo em meios feidos. ‘. Quando os eletrodos de Fe e Fe-Cr que tinham sido imersos no HCI foram lavados mediante lavagens sucessivas e colocados na so- Iucdo de sal de cozinha, creou-se um meio propicio para formacio da 18 Geologia e Metalurgia camada protetora cromo-oxigénio, 0 que explica a diminuicio e in- versio do potencial, ou seja a inversiéo de comportamento da liga Fe-Cr em relagio ao ferro. Essa formagio de camadas passivas de 6xidos na superficie dos metais nao é, alias, fendmeno raro. O ferro puro, o aluminio e o silicio, por exemplo, podem se proteger pela formagio de camadas superficiais de 6xidos. A camada cromo-oxigénio formada é, pois, extremamente inso- lavel em grande variedade de meios, com excecio do acido cloridrico. O cromo é capaz de assegurar-se 0 oxigénio para formagaio de sua camada protetora até mesmo pela decomposigaio da propria agua. A pelicula ¢, entretanto, como se viu, removida pelo acido cloridrico ¢ o metal, uma vez desprovido da pelicula protetora, é menos nobre do que o ferro devido ao seu contetido de cromo ativo. Um ensaio simples mas decisivo a respeito da formacio da peli- cula, é 0 da reagio do metal em uma solucio acida de sulfato de co- bre: (5) Se a liga de cromo fér desprovida de sua pelicula protetora pela imerséo em Acido cloridrico, rapidamente lavada em Agua fer- vendo e mergulhada na solugao de cobre, forma-se um depdsito de cobre metalico o que indica que os atomos da liga de cromo foram capazes de substituir o cobre na solugéo. A precipitagao do cobre cessa depois de algum tempo. Se a mesma experiéncia for repetida com a liga de cromo pre- viamente tratada com Acido nitrico, verifica-se que nunca se formara o precipitado de cobre. Se entretanto, no primeiro caso, se retardar por alguns segundos a imersao da liga desprovida da pelicula pelo acido cloridrico e la- vada, segurando-a no ar, verifica-se que a reagao do cobre nao tem lugar. Conclue-se, obviamente, que a pelicula pode se formar mesmo em alguns segundos. Como resumo de uma série de estudos e experiéncia relativas ao comportamento do cromo, pode-se concluir: (5) 1) ocromo é capaz de manter uma camada impermeavel de oxi- génio ou de 6xido, a qual é extremamente estavel; 2) esta camada, se bem que invisivel, € continua e em meios oxidantes possue uma pressdo de solugdo tao baixa que con- cede ao metal um comportamento nobre; 3) esta propriedade do cromo é possuida também por certas de suas ligas com o ferro. Boletim n.° 5 19 HISTORICO O desenvolvimento das ligas resistentes 4 corrosdo e ao calor é, sob o ponto de vista de aplicagdes comerciais, relativamente recente. Entretanto, j4 no inicio do século, nos EE. UU., Inglaterra e Alemanha os metalurgistas realizavam estudos e pesquisas varias s0- bre um determinado ntimero de ligas, chegando a interessantes resul- tados praticos no campo désses materiais. Entre os varios estudos importantes sdbre o assunto, pode-se citar os seguintes(*) : 1) A.L. Marsh de Chicago, em 1903, com o fito de obter um bom material para par termoelétrico, fundia niquel e cromo-em ca- dinho. 2) Hz. Brearley de Sheffield, em 1912, com a finalidade de en- contrar um material conveniente para a fabricagio de armamento, voltou sua atenc’io aos agos ao cromo. fisses acos, contudo, nao des- pertaram o interésse esperado. Felizmente, porém, Brearley notou as propriedades de resisténcia 4 corrosaio da liga em estudo, a qual continha 128% de cromo e 0,24% de carbono. Sugerit, entio, ot. tras aplicagdes para a utilizagio vantajosa désse material, inclusive em cutelaria. 3) Entretanto, s6 em 1914, Brearley e E. Stuart fizeram as primeiras experiéncias nesse sentido, fabricando facas com ésse ago, com resultados plenamente satisfatérios. A patente de Brearley em relagao a ésses materiais, abrangia as composigdes de 9 a 16% de cro- mo com carbono inferior a 0,70%. Brearley recomendava fabricagio em forno elétrico e tratamento térmico adequado para eliminar os carbonetos livres e produzir homogeneidade. A fabricagio comercial désse material para cutelaria j4 se iniciava nos Estados Unidos em 1914, na usina da First-Sterling perto de Pittsburgh. 4) O tipo de aco ao Cr com baixo carbono teve desenvolvimento mais lento que o tipo de cutelaria. Parece que seu uso comercial co- megou so em 1920, na Inglaterra, como conta Monypenny (autor do livro “Stainless Iron and Steel”) quando a Usina de que éle era asso- ciado (Brown Bayley’s Steel Works, de Sheffield) fundiu 5 a 6 tonela- das de ago contendo 0,07% C e 11,7% em lingotes quadrados de 12 po- legadas. 5) B. Strauss e E. Maurer, das Usinas Krupp de Essen na Alemanha, entre os anos 1909 e 1912, fizeram estudos sdbre a liga Fe-Cr-Ni, que se revelou de grande utilidade, nao s6 no campo dos 20 Geologia e Metalurgia , materiais resistentes 4 corrosio como também no de resisténcia 4 oxi- dag&o a altas temperaturas. Em 1912 foram feitos os pedidos de patentes para 2 grupos de ligas: I — grupo VM com 0,15% C, 14% Cr e 18% Ni II — grupo VA com 0,25% C, 20% Cre 7% Ni sendo, em seguida, introduzidas no mercado. Trabalho continuado no campo dessas ligas Fe-Cr-Ni levaram ao desenvolvimento do fa- moso tipo 18-8 (18% Cr e 8% Ni). Outros metalurgistas que contribuiram para o desenvolvimento désses tipos de materiais resistentes 4 corrosio foram Armstrong, Becket, Portevin, Johnson, ete. COMPOSICAO DOS AGOS INOXIDAVEIS Viu-se que o cromo é 0 elemento mais importante dos agos ino- xidaveis. Viu-se também sua agio na formagao da pelicula protetora ea necessidade de que o seu teor seja superior a cérca de 12,5% para que a sua ago de resisténcia 4 corrosao se torne efetiva. Essa exi- géncia do minimo de cromo nas ligas Fe-Cr parece estar de acordo com a regra dos oitavos de Tammann. Tammann obseryou, ha muitos ano, (1) que certas composigdes definidas nas ligas _ouro-cobre e ouro-prata davam melhor resisténcia 4 corrosio. As composigdes especificas que se mostravam Superiores eram as composigdes em que o metal mais nobre constituia 12,5%, 25%, 37,5%, etc. atémico da liga, ou onde o ntimero de dtomos do metal mais nobre era de 1/8, 2/8, 3/8, etc. do nimero total de atomos presentes. De qualquer modo, parece que quando o teor de cromo na liga Fe-Cr passa de 10% a 15%, ocorre uma mudanga muito brusca de atividade superficial da liga. As ligas de cromo mais elevado sao per- manentemente passivas. Em seguida ao cromo, o elemento mais importante nos agos ino- xidaveis é 0 niquel. Este metal estende a zona de resisténcia 4 cor- rosao das ligas ferro-cromo, mas sua influéncia se faz sentir sobre- tudo nas propriedades mecanicas, pois melhora grandemente a plas- ticidade, a tenacidade e as caracteristicas de soldagem. (©) De um modo geral, pode-se dizer que a atuagdo do niquel nos acos inoxida- veis se faz sentir de 2 modos: (5) Boletim n.° 5 21 1 — Sendo um metal que na maioria dos reagentes se comporta mais nobremente que o ferro, éle diminue a velocidade de corrosao de suas ligas com o ferro. 2 — Parece que o niquel possue, pelo menos em certo grau, a propriedade de se proteger com uma camada de oxigénio. Isso po- - deria ser demonstrado pelo fato de que a restauragio da pelicula inerte em um aco inoxidavel ao Ni-Cr previamente privado dessa protegio € quasi que instantanea, muito mais rapida do que na liga de cromo somente. A estrutura dos agos inoxidaveis ao Cr-Ni como se vera mais tarde, fornece grande ductilidade, tenacidade e resisténcia, o que tam- bém contribue enormemente para a grande aplicagdo industrial désses agos ao Cr-Ni. Tanto os agos inoxidaveis do tipo ao Cr, como os do tipo ao Cr-Ni podem ser modificados por adigées de Mo, Si, Cu e outros ele- mentos, visando o desenvolvimento de caracteristicas especiais. Ha também o tipo modificado ao Cr-Mn, em que o Mn substitue o niquel. CLASSIFICACAO DOS ACOS INOXIDAVEIS. A mais simples e mais conmum classificag’io dos agos inoxidaveis éa baseada na sua microestrutura. De acérdo, pois, com a micro- estrutura, consideram-se os 3 grupos principais seguintes : I — Acos Inoxiddveis Martensiticos — ou endureciveis, os quais sao perliticos quando recozidos e martensiticos quando tem- perados. Il — Acos Inoxidéveis Ferriticos — ou magnéticos nao endure- civeis. Ill — Agos Inoxiddveis Austenisticos — ou nao magnéticos e nao endureciveis. Os grupos I e II sao essencialmente ligas de ferro e cromo; 0 grupo III compreende as ligas ferro-cromo-niquel. Por outro lado, o carbono desempenha importante papel no lo- calizar um aco de alto cromo na classe martensitica ou ferritica, comu _ se pode ver na fig. 2, devida a Bain. (?) 22 Geologia e Metalurgia Verifica-se, par exemplo, que um aca com 16% de croma pode pertencer tanto ao grupo I, como ao II, dependendo do teor de carbono. 070 ao0 8 050 Ligas Endurecivers S$ A x ie Endureciveis pela M aa WES OMIT SA estrutui - ‘rutura e OS 020 Austemta ~Mortensita ffemta tat PSE Re ter 2 O10 }- Mole™ 7a Fornfo @ Perhi hem, Fernta elarbo e UG 2 4 0 8 10 12 4 16 18 20 22 24 % Oe Cromo Fig. n.0 2 — Diagrama esquemAtico mostrando a influéncia do earbono sdbre a endureci- bilidade das ligas ferro-cromo (Extraida do livro “The Book of Stainless Steels). 0 Comercialmente falando, pode-se dizer que o grupo I caracteri- za-se por possuir cromo até 16% e carbono abaixo de 0,40% ; 0 grupo II por possuir cromo acima de 16% e baixo teor de carbono; e o grupo III por possuir niquel, em teores varidveis de acérdo com 0 tipo. O estudo dos agos inoxidaveis compreendidos nos 3 grupos acima sera iniciado pelo exame de sua microestrutura ou dos diagramas de equilibrio correspondentes aos agos ao Cr ¢ ao Cr-Ni. Diagrama Fe-Cr-C — O estudo do diagrama Fe-Cr-C, que cor- responde aos agos dos grupos I ¢ II, deve ser precedido pelo estudo do diagrama das ligas FeCr. O sistema Fe-Cr, como os sistemas Fe-Si, Fe-Sn, Fe-W e Fe-Mo, apresenta a chamada “lupa austenitica”. Em outras palavras, todos os sistemas mencionados caracterizam-se pelo fato do elemento de liga ser mais solivel no ferro alfa do que no ferro gama. files apré- sentam, portanto, uma zona de composigao limitada para a austenita estavel. - a A fig. estudos de € outros. °C 1800 1600 /400 1200 1000 600 600 400 Fig.no 3 — Boletim n.° 5 23 n. 3 ilustra o diagrama desenhado por Bain, baseado em Oberhoffer e Esser, Kinzel, Adcock, Wever e Jellinghaus oO 20 40 60 80 100 % de Cromo Diagrama de constituigio da liga Fe-Cr (Extraida do “Metals Handbook”), 24 Geologia e Metalurgia Do exame désse diagrama, pode-se deduzir os seguintes fatos em relacio as ligas Fe-Cr: 1) a fase ferro.gama que é estavel entre mais ou menos 900°C e 1400°C desaparcce inteiramente quando o teor de cromo atinge cérca de 12%. 2) Como conseqiiéncia, para teores de cromo acima de 12%, as ligas apresentam a estrutura ferritica. 3) Teores crescentes de cromo abaixam rapidamente a trans- formagio correspondente ao ponto As, ou della Sy gama. A trans- formagio As (alfa 7% gama) é afetada de um modo diferente, pois ao passo que é primeiramente abaixada até teores de Cr de 7 a 8%, acima désse teor cresce rapidamente enquanto que As continua a bai- xar até que para cromo em torno de 12%, As a As se confundem, isto ¢, a cérca de 12% de Cr ¢ 88% de Fe, a temperatura de trans- formagio de delta a gama é abaixada 4 mesma temperatura em que tem lugar a transformacio alfa a gama. 4) A transformagao As (alfa “4, gama) que para ferro puro ocorre a uma tinica temperatura constante, requer uma zona de tem- peraturas nas ligas Ke-Cr, originando-se a regiéo de duas fases, alfa mais gama ou ferrita mais austenita. 5) Com téda a probabilidade, um composto Fe-Cr se forma nas ligas contendo mais que 30% e menos que 55% de cromo. A velocidade de transformagio da ferrita para esta fase quebradiga é muito lenta nas ligas puras, a menos que estas sejam trabalhados a frio, mas rapida na presenga de uns poucos porcentos de niquel e outros elementos. (7) 6) Todas as ligas Fe-Cr contendo até mesmo cérca de 40% de cromo sao (na auséncia da fase quebradiga Fe-Cr) definitivamente plasticas mesmo as temperaturas ordindrias. A maleabilidade e a plasticidade decrescem com 0 aumento de cromo e do tamanho de gro. A altas temperaturas, as ligas so forjaveis com cromo até 60 ou 70%. Mesmo o cromo puro apresenta plasticidade de alta tempera: tura definida. 7) As ligas contendo menos que cérca de.12% de cromo e, por- tanto, apresentando alotropia, so definitivamente endurecidas por témpera a partir de temperaturas que estabelecam a solugao sélida ferro gama. Boletim n.° 5 3 8) O carbono, o niquel, o manganés e 0 cobalto quando presen- tes nas ligas Fe-Cr aumentam rapidamente a solubilidade maxima do cromo na austenita; ao passo que o silicio, o tungsténio, o molibdeno, © vanadio, o aluminio, 0 tantalo e o fésforo reduzem essa solubilidade. O sistema terndrio Fe-Cr-C é como se vera relativamente com: plexo devido 4 formagio de varios carbonetos diferentes e devido 4 nao comum circunstancia da existéncia em equilibrio de carbone- to e ferrita em contato a alta temperatura sem nenhuma austenita. Em resumo, uma liga de ferro contendo, por exemplo, 6% de cromo, esfriando de alta temperatura mudara de Fe-Cr delta a Cr- austenita no ponto critico As (cérca de 1225°C). Com esfriamento ulterior a Cr-austenita muda numa temperatura correspondente ao ponto A; a Cr-ferrita; esta no sofrera ulterior mudanca até a tem- peratura ambiente. Isso significa que ligas dessa classe reagem ao tratamento térmico a ponto de sta granulacéo poder ser refinada e de sofrerem ligeiras mudangas de propriedades mecanicas. Se uma liga, entretanto, contém mais que uma certa porcentagem de cromo, o esfriamento a partir de altas temperaturas pode nio incluir mais a formagao de autenita. A fase Fe-Cr delta formada pela so- lidificagdo torna-se, pelo esfriamento subseqitente, _simplesmente cromo-ferrita alfa e como ésses dois constituintes sio estrutural- mente e cristalograficamente idénticos (exceto quanto as dimens do reticulado), nao ocorre qualquer mudanga de fase pelo aqueci- mento ou esfriamento ‘As tinicas alteracdes significativas nas propriedades devidas a tratamentos térmicos sao originadas por recozimento a altas tempe- raturas, quando o.tamanho médio da cristalita individual pode au- mentar consideravelmente, transformando assim um metal de gra- nulacgio fina em um de granulacdo grosseira. com conseqiiente perda de tenacidade. A concentragio exata de cromo correspondente ao fim da lupa austenitica nao esta ainda bem determinada. A maioria dos autores da entre 12 e 16% de cromo, sendo mais geralmente aceito o valor en- tre 12,5 ¢ 13%. Experiéncias de Krivobock. (2) levadas a efeito em ligas muito puras, indicaram a presenca de transformacio gama a alfa, mesmo com 19% Cr. Logo, teoricamente o limite externo da regiao “alfa mais gama” deveria estar colocado a cérca de 18% de cromo. Admite-se, entretanto para todos os fins praticos que ligas com 13% ou mais de cromo (e carbono praticamente nulo) 26 Geologia e Metalurgia nao se modificam por tratamento térmico, ou nao sofrem qualquer alteragdo alotropica pelo aquecimento ou esfriamento. Liga Fe-CrC — O sistema Fe-Cr torna-se bem complexo quando o carbono est4 presente. Na realidade o sistema completo Fe-Cr-C nao foi ainda completamente decifrado. - O melhor método de estuda-lo, e que se enquadra perfeitamente dentro da finalidade déste trabalho, é a consideracio de seccdes do diagrama ternario Fe-C-Cr para teores diferentes de cromo. A fig. n. 4 (?) mostra uma secgfo transversal do diagrama Fe- Cr-C para 6% de cromo. aoe Ce arem Ferro Alfa (com cromo um pace ae corbonelo em + sok ocho) com corbaneto de ra, cromo ) WO AG 20 25... BO. 86 GE ogecr 4% de Carbono Fig. me 4 — Seecio transversal do diagrama.Fe-Cr-C para 6% de cromo (Extraida do livro “The Book of Stainless Steels”), As figs. n.’s 5 e 6 mostram seccdes do mesmo diagrama para teores de cromo de 12% ¢ 18% (2). Boletim n.° 5 27 Verifica-se pelo exame de todos ésses diagramas os seguintes fatos: iC. 146 Liguido 1401 < Lt 748 f bey EET ~1< 1200 iF ae E 1060 : g cm % is Be i a+7ecir 600) 7 a+lm Al nas 10 5 2072 a0 as) AO peer % de Corbono Fig. no 5 — Secgiio transversal do diagrama Fe-Cr0 para 12% de cromo (Extraida do livro “The Book of Stainless Steels”). 1) quando se adiciona cromo aos agos ao carbono comuns, a temperatura de transformagao. Ai correspondente a formagio de perlita, é levemente elevada; 2) a concentragio eutetdide (ponto S) é deslocada a um valor de carbono mais baixo; 3) em vez de se ter a formacio da perlita limitada teoricamen- te a uma temperatura constante (ponto A: no caso dos agos comuns ao carbono) ha no sistema ternario Fe-C-Cr uin intervalo de tem- peraturas PSKL onde a perlita se forma e onde, consequentemente trés fases, ferro alfa, ferro gama e carbonetos (de natureza complexa) 28 Geologia ¢ Metaturgia estdio presentes sob condigdes de equilibrio. Para os tratamentos térmicos, entretanto, o que interessa é conhecer a linha PSK. BE OMOL® TSS 20h 125 | 35 peAO pile ; 6% % Carbono Fig. n.0 6 — Seegéio transversal do diagrama Fe-Cr-C para 18 % de cromo (Extraida do livro “The Book of Stainless Steels”). O fato mais importante, entretanto, é 0 que se passa com a zona simples gama, como se pode ver pela fig. n.° 7 (°). se que essa zona, a medida que o teor de cromo au- menta, € s6 deslocada para teores decrescentes de carbono. co- movaté desaparece em torno de 20% de cromo. Os limites de tempe- ratura da regio sio também restringidos A medida que aumenta 0 cromo. Isso, sob o ponto de vista pratico, significa que tempera- turas mais elevadas de tratamentos térmicos devem ser usadas, Ja se viu que o teor de cromo acima do qual o ago é realmente inoxidavel é em torno de 12%. Vejamos o que se passa no diagra- ma Fe-Cr-C para ésse teor de Cr (fig. n.° 5). O ponto A: é abaixado de modo a se confundir com o ponto As a cérca de 1000°C. O ponto A, é elevado. A regiao de coexisténcia | Boletim n.° 5 29 de alfa e gama (alfa mais gama) ainda existe para regides com carbono muito baixo, de modo que, nessas regides, as ligas Fe-Cr ainda reagem a tratamentos térmicos, como témpera. Um aco. por exemplo, com 12% Cr e 0.10% C, a 1000°C consiste teoricamente de uma s6 fase gama. Pelo esfriamento, essa fase sofre a transfor- magio a cromo-ferrita e cromo-carboneto de ferro. Aumentando-se 0 carbono até o ponto cutctdide S, a tempera- tura do limite superior para a transformagao A1, (linha PS) eleva- se pronunciadamente. Além do ponto eutetoide, a regiio ocupada pelas 3 fases (ferro-cromo alfa, ferro-cromo gama e carbonetos) em equilibrio é decisivamente alargada. Ce to~™. ZoNS 1400 = & M00 Pe } ies Sieg "96, ae iS 1100 [s ee? Bek “a & 900 NA _ ft? Ss Gi 600 40 ~ ol. 02 AS OF 05 86 B27 OF OG hole 1a%cr % de Corbono 8% Ni one Fig. no 19 — Diagrama mostrando 0 andamento geral das reagdes em agos ao Ni-Cr com 18 % Cre 8% Ni. (Extraido do livra “The Rook of Stainless Stools”). Com teores crescentes de Ni, observam-se outras modificagdes como se pode notar pela fig. n.° 19, a qual representa 0 diagrama pa- ra a liga 18-8, A fase predominante nesta liga a altas temperaturas é a solu- go sdlida gama. Essa fase é tao inerte 4 transformacio que as li- gas de baixo carbono ficam inteiramente austeniticas, mesmo com re cozimento. De miodo que, para todos os fins praticos, a liga 18-8 Boletim n.° 5 43, ser considerada como liga austenitica, pois se apresenta tal apés qualquer tratamento térmico comercial. 2.9 20 — Aspecto microgrifieo de um ago ao Ni-Cr com 18 % Cr, 4% Nie 0,046 % C, esfriado Ientamente de 980°C, O reagente usado foi o de Murakami, dando uma cér escura aos earbonetos, ¢ uma cdr aeinzentada aos grios (constituidos de ferrita © carbonetos), A velocidade de esfriamento foi suficientemente lenta, de modo a se ter a transformagio da austenita em uma mistura de ferrita ¢ carbonetos, Aumento 775X, (Figura extraida do livro “The Book of Stainless Steels”). No verdadeiro sentido fisico-quimico, entretanto. a liga nao esta estado de equilibrio. A metaestabilidade da austenita no 18-8 ¢ mudanga gradual nas propriedades das ligas quando a austenita se sforma (como acontece, as vézes, em servico) podem ser estu- por meio de ensaios das propriedade magnéticas, condutibitida- elétrica, ou mesmo observagdes microscépicas. Entre os métodos ite empregados cita-se 0 reaquecimento durante longo tempo de uma certa zona de temperaturas, manutencgdo nessa zona longo periodo de tempo, seguindo-se esfriamento e estudo das cas ocorridas nas caracteristicas fisicas Pelo reaquecimento, por exemplo na liga austenitica 18-8 com 0% de C entre as temperaturas de 480° a 900°C, verifica-se que a 44 Geologia e Metalurgia liga se torna definitivamente magnética. muda ligeiramente suas pro- priedades mecanicas, como dureza e resisténcia a0 choque. e perde rapidamente sua resisténcia ao ataque pelos acidos fortes e gases corro- sivos. O reaquecimento a uma temperatura acima de 930°C restaura in- teiramente a condigéo original e o tempo requerido para essa restaura- ¢ao depende da quantidade de decomposigio prévia Observagées devidas a pesquisadores varios provaram que ésse fenémeno é um processo de precipitagio da solugio sdlida, conhecida como endurecimento por precipitagdo. Nesse processo, industrial- mente, as ligas sao primeiro aquecidas a uma temperatura suficien- temente alta para assegurar completa solubilidade de um elemento ou elementos na matriz. A solugio sélida assim formada é retida em um estado supersaturado por meio de témpera e em seguida a precipita- ¢4o do constituinte em excesso é feita pelo reaquecimento da liga a uma determinada baixa temperatura. Notando-se que a linha SE na fig. n.° 19 representa 0 limite de solubilidade sdlida de carbonetos na austenita cromo-niquel, é de se prevér que o reaquecimento de uma liga a qualquer temperatura que nao exceda, para um certo teor de C, o valor indicado pela linha SE, resultara na precipitagao dos car- bonctos. Isto é 0 que acontece exatamente; entretanto no endurecimento por precipitagio comum, 0 constituinte precipitddo se distribue re- gularmente através dos graos e a matriz dentro da qual se da a pre- cipitaciio n&o sofre qualquer mudanga de fase, visto que o fend- meno de precipitacio é inteiramente numa questio de solubilidade s6- lida. Nos acos austenticos cromo-niquel, contudo, os carbonetos se precipitam preferencialmente nos contornos dos graos. Além disso, a ferrita, nao deveria existir como fase de equilibrio ds tempbra- turas mencionaidas, encontra-se presente em redor dos carbonetos pre- cipitados nos contornos dos graos. O material dos contornos dos graos perde assim sua resisténcia ao ataque por agentes corrosivos Acidos, do que se conclue que a condigéo do material nos contornos dos gros nin é normal e a verdadeira natureza da liga sofreu pro- funda mudanga. Uma analise quimica dos carbonetos precipitados nos contornos dos graos mostra que éles contém 20 a 30 vézes mais carbono do que © material original e 90%. de cromo. Pode-se concluir que a forma- cao e‘aglomeracao de tais carbonetos di como resultato 0 empobre- cimento do metal circunvizinho de cromo e carbono: tornando-o as- sim incapaz de resistir A corrosio Acida O materia! empobrecido Boletim n.° 5 4 pode se ternar tao baixo em C e Cr que a mudanca de fase gama a alfa teria lugar no esfriamento, explicando o aparecimento de magne- tismo. A corrosio dos contornos dos gréios representa um problema in- dustrial muito sério. Tem-se procurado desenvolver métodos comer- ciais para evitar a precipitagéo dos carbonetos. Sabe-se que o processo de decomposicaio é 0 resultado de dois distintos fendmenos fisico-quimicos, precipitagéo e mudanga de fase. Logo, os esforgos em combater tal decomposicéo deveriam ser dirigi- dos no sentido de: 1) aumentar a solubilidade dos carbonetos em tédas as tem- peraturas ; 2) produzir uma matriz que resista 4 migracéo dos carbone- tos para os contornos dos graos ¢ a sua aglomeragio; 3) produzir uma matriz que por si propria (mesmo tendo-se separado os carbonetos) resista 4 corrosio; 4) formar carbonetos com outros elementos que nao 0 cromo; 5) tornar a matriz menos suscetivel 4 uma mudanca de fase. A formagio de carbonetos com outros elementos que nio 0 cromo tem merecido mais atengio; como ésse fim tem-se usado 0 ti- tanio, cuja adicdo nas ligas 18-8 para impedir a corrosio intergranu- lar baseia-se no poder de combinacao do titanio com 0 carbono Tem sido sugerida também a adicio de outros elementos como colémbio, tantalo e uranio. De um modo geral, porém, e comercialmente falando. o proble- ma da corrosao intergranular ndo pode ainda ser considerado come inteiramente resolvido ESTUDO DOS ACOS INOXIDAVEIS. ‘ Viu-se que os acos inoxidaveis podem ser agrupados em 3 gran- des classes : | I -— Martensiticos II — Ferriticos TIL — Austeniticos Geralmente, consideram-se, dentro dessas 3 classes, os grupus seguintes : AG Geologia e Metalurgia I — Martensiticos: 1) De Alto Carbono (tipo Cutelaria), compreendendo os dois | tipos seguintes. C = 0,30a 0,40% Si e Mn=0.55% max tipo original Cr = 13,00 a 14,00% e Cc = 0,70 = 0,55% max. tipo modificado 2) De Baixo Carbono (tipo turbina) : = 0,15% max. Cr = 10 a 14% Si e Mn =0,50% max. 3) De Baixo Carbono e Usinagem Facil: C 0,15% max Cr 10 a 14% S ou Se = 0,07 min ou Mo = 0.60 max. Il — Ferriticos: 1) Cromo de 16 a 18%: c 0,12% max. Cr = 16,5 a 17.5% tipo principal Si e Mn =0,50% max. 2) Cromo de 23 a 30%: | C = 0,10 a 0,20% Cr = 27% tipo principal Si e Mn =0,50% max. III — Austeniticos: 0,20% max. 17 a 20% 7 a 10% Boletim'n.? 5 AT i 2) Tipos com teores mais elevados de+Ni e Cr resistentes 4 corrosdo e ao calor: C = 0,20 a 0,60% Cr = 26 a 30% Ni 8a 14% 3) Tipos com teores mais elevados de Ni e Cr resistentes ao calor e A corrosio de meios liquidos : I — Ni = 50 a 65% Cr = 12 a 20% 30 a 40% 15 a 20% 10 a 20% 5 a 30% 75 a 80% Cr = 12 a 20% I — Agos Inoxiddveis Martensiticos 1) Tipo Cutelaria (Alto Carbono) —- A composigaio désses agos cai inteiramente na zona de endurecimento total por témpera, sendo sua estrutura apds a témpera semelhante 4 dos agos comuns temperados. A transformagio da austenita rica em cromo é. por outro lado, muito lenta 0 que reduz acentuadamente a velocidade cri- tica de esfriamento (°). Isso possibilita, pois, a realizacio de tém- pera em ar ou dleo com obtencao de endurecimento total Como tam- bém ésses acos sio suscetiveis de sofrerem revenido. obtem-se a com- binagio de propriedades mecanicas que se desejar. A témpera dos agos tipo cutelaria, além de dar o endurecimento desejado aumenta ou melhor desenvolye as suas caracteristicas ino- xidaveis ao maximo grau. De fato, viu-se pelo estudo dos diagramas de equilibrio que, nas condigées ordindrias de equilibrio, as ligas Fe-Cr correspondentes a éstes tipos de aco, abaixo da zona de transforma- Gio critica (obtidas por esfriamento lento a partir de alta temperatura ou pelo revenido de estruturas temperadas) consistem de carbonetos complexos dispersos numa matriz alfa. Nessas condigées, isto é, na forma de carbonctos, o cromo nao sé nao protege a matriz como tam- bém pode acelerar a sua corrosao. Portanto. é necessdrio a dissolugao dos carbonetos e sua retengiio nesse estado, o que se realiza mediante aquecimento a alta temperatura e esfriamento rapido. 48 Geologia e Metalurgia O tratamento térmico désses agos deve ser cuidadosamente rea- lizado. Se se quizer obter um aco uniformemente e completamente temperado, o aquecimento deve ser feito dentro da faixa de tempera- turas que dé uma estrutura inteiramente austenitica ou uma mis- tura de austenita saturada e carbonetos em excesso. Risse fato, além de obrigar ao conhecimento exato do ago que vai ser submetido ao tratamento térmico, limita mais a faixa de temperatura de aqueci- mento. fisses agos podem ser temperados em Agua, dleo ou ar. mostran- do maxima dureza quando temperados em Agua. Secgdes finas e com- plexas podem ser temperadas ao ar, para evitar ruptura ou distorc4o, mas nao se obtem material tao duro como o temperado em dleo De um modo geral, para a maioria dos fins que se tem em vista, a tém- pera em 6leo é a que da os melhores resultados. As temperaturas de tratamento térmico para os 2 tipos de ago- cutelaria podem ser vistas na tabela abaixo, extraida e adaptada do “Metals Handbook” (**) : Tipo Original Tipo Modificado Ppeege. |e tee i | eiecent eee ae Temp. oC | Dureza Brinell | Temp. o€ I ‘Dureza Brinell Forjamento .......| 1090-925 | = 1090-925 | S Amolecimento -.-.-| 760-790 290 760-700 230 Recozimento 858-885 185 385-010 195 Preaquecimento ...) 790.815 as 790-815 — ‘Tempera 969-1010 550 995-1050 600 Revenido .... 180-480 | de acdrdo com | 150-425 | de acdrdo com o emprégo © emprégo E’ preciso distinguir, na tabela acima, a diferenga entre as opera- ces de amolecimento e recozimento. A primeira é realizada com o fim de usinagem, ao passo que o recozimento visa a obtengio de dure za mais baixa. Na primeira operagéo 0 esfriamento pode ser rea- lizado no forno ou no ar, depois que o ago é mantido durante varias horas 4 temperatura de amolecimento (*). No recozimento. o esfria- mento deve sempre ser muito lento, no interior do préprio forno. O preaquecimento é muito importante sobretudo no caso de sec Ges grandes e irregulares. Finalmente. devido 4 sua baixa coniuti- bilidade térmica, o tempo de aquecimento deve ser mais longo que para os agos comuns (*). 49 n. Boletim As propriedades fisicas obtidas podem ser vistas na tabela abai- xo, também extraida e adaptada do “Metals Hadbook” (1), “=> (opymovex opwyse ou) wom (opesoduroy opeyso ou) voq oynyy ++: (opesodway opeyso ou) tog (opyzovor opeyse ow) tog epeprEaeUrs], “°° ousosu09 @ "ySIS9y (equourepeumpxosde) 909 oad) 908 URyM ou za sorunsoy, + samvqntoy, ++ suopjuseur sopepadorg a6 ‘aso ose a6 ‘201 ae coe" Toumg wz $82 ore est 008 oo fries qeung vzong 9 & a $B or . svaqy-sd ‘pozy vrougytsoy oor s'e o'09 OOF os pees ces Rei oeipeaar o's 0% ore O'st OF ee % we % ‘oyuouesUopy £99 o'T6 681 at 4S0T «891 “ ovbeay y “asys0y slg oror eat quna/3y crop | gimm/3y epg] gtum/3y oF] * omromvooss op oyrtayy oe ootg cary | cose “acy oeeg “acy | oose aoy aeeee 900r01 ooror pice 20866 D066 : bis ong ‘dwaz | 079 “dwaz ue ong “dua | 099 -amoz . oppnfipon ods, wudug odie 30 Geologia e Metalurgia A resisténcia 4 corrosio depende muito do acabamento final da superficie do ago. Quanto mais macia essa superficie, tanto maior a resisténcia 4 corrosao, devendo-se preferir, neste caso especial de agos inoxidaveis martensiticos, um acabamento brilhante (°). Ene. _ cessario também remover da superficie do ago todos os tragos de casca de 6xidos e quaisquer substancias estranhas para prevenir areas locais de ataque. O esmerilhamento da superficie para dar ésse aca- bamento macio deve ser preferivelmente timido, além de profundo e completo. Pode-se prosseguir com uma decapagem e, as vezes, com um tratamento final em acido nitrico forte para assegurar a remogio total das substancias estranhas de superficie do ago. O aco inoxidavel cutelaria tipo modificado, de carbono e cromo mais elevados, foi desenvolvido sobretudo para instrumentos cirtir- gicos e dentarios (fig. n.° 12), combinando-se néle. ds boas pro- Fig. no 21 — Tipos de instrumentos cirdrgicos e dentérios fabricados de ago inoxidével (Fotografia extraida do livro “The Book of Stainless Steels”). Boletim n.° 5 51 priedades de resisténcia 4 corrosao do tipo original, uma maior dureza e melhor gume cortante. 2) Tipo Turbina (Baixo Carbono) — Ao passo que os agos inoxidiveis martensiticos de alto carbono (tipo cutelaria) tém pro priedades mecanicas semelhantes ds dos acos ferramenta, os agos mar: tensiticos de baixo carbono (tipo turbina) se aproximam mais dos acos SAE para maquinas, nas suas propriedades e aplicagdes (*). Viu-se que a zona de composigées para ésses agos é. ic Cr 0,15% (max.) 10 a 14% O tipo especialmente conhecido como “turbina” tem a cony)o- sigdo seguinte : Cc Cr 0,15% (max.) 11,5 a 13,0%, Viu-se, por ocasidéo do estudo dos diagramas de equilibric das ligas Fe-Cr-C, a influéncia do Cr e do C no limitar o campo austeni- tico nas altas temperaturas E’ preciso levar em consideracdo ésse fato no tratamento térmi- co dessas ligas; no caso em estudo, agos inoxidaveis martensitivos de baixo carbono, € preciso conservar a composig&éo bem controlala e balanceada para que a endurecibilidade possa ser retida. De fato, com 12% de Cr e 0,10% de C, por exemplo. 0 ago inoxidavel é auste- nitico a 980°C (sua temperatura de témpera). Entretanto. se o teor _ de cromo fér maior, ha tendéncia de aparecerem estiuturas mixtas austenita-ferrita e mesmo estruturas somente ferriticas, se 0 carbono for mantido suficientemente baixo. A tabela abaixo extraida do “Metals Handbook” ("") da as temperaturas de tratamentos térmicos empregadas nestes agos* Hl Dureza Brinett j Operagao Temp. oC ane Forjamento ee 1090 — 925 es Amotecimento 760 — 790 225 Recozimento . “9 840 — 870 165 Preaquecimento ‘ 790 — 815 — re ‘Tempera 968 — 995 400 ) Revenido ‘ = i At6 65000, dependendo do do tamanho e do emprégo’ RZ Geologia e Metalurgia Apesar do baixo teor de carbono pode-se obter com ésses acos boas propriedades mecdnicas, como elevada resisténcia 4 trag&o, apds témpera e revenido, 0 que se pode observar na tabela seguinte, também extraida do “Metals Handbook” (7): Propricdudes ftxicus Recozimento 99500 99500 Témpera em 6leo Témpera_em 6leo meas Revenido a $700 | Revenido a 6500 SATO Limite de escoamento, keg/mm?. - ne 70 40,6 Resisténcia A tracio, kg/mm?, , 129.5 84 59,5 Alongamento, % em 2" 17,5 2,5 33,0 Estrigio, %o «+--+ A 60,0 70,0 70,0 Resiligueia Tzod, pés-libras. , 50 60 100 Dureza Brinell .......++ 395 240 | 165 Dureza Rockwell 43 99B 86B Peso ospecifico ...... a7 Propriedades magnétieas Regulares Maxima Dureza Brinell , “ 400 (seegdes leves até 475) Kesistencia @ corrosao ........ Boa Usinabilidade .. Boa Essas ligas tém vasto campo de aplicagées. Fntre as mais impor- tantes cita-se 0 seu emprégo em pas de turbinas a vapor. Emprega-se também em valvulas, assentos de valvulas, hastes de valvulas e em outras pegas sujeitas as condigdes de pressdes de vapor altas e baixas na condigao de trabalhado a frio, ésse ago também é empregado em cute- laria de qualidade inferior. Finalmente. pode ser empregado nas indts- trias de coque, papel, fundigaio, mineragio e outras, em pegas e equipa- mentos sujeitos a abrasio e leve corrosio. 3) De Baixo Carbono e Usinagem Fadil — Os inoxidaveis constituem uma categoria de agos que sdo considerados como entre os mais dificeis de serem trabalhados. Ainda que alguns sejam mais us‘ naveis que outros, todos éles, com excegdo dos “de usinagem facil”, possuem o caracteristico de aderir ou se prender a ferramenta de corte (°). Esse fendmeno é mais importante nos agos inoxidaveis mar- tensiticos de baixo carbono. Consegue-se contornar ésse inconvenien- te concedendo-lhes as qualidades dé “usinagem facil” mediante a introdugio de elementos e liga adequados. As adigdes mais comuns — para essa finalidade sio as de molibdeno e enxdfre ou de fésforo e selénio (°). O tipo mais conhecido possue a seguinte composicéo:

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