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fi lo on oS edu doe mai igi de iva do kins enps anu Js mis go de Ni Robr Das aw ane qurxako, em que sugeo pl iaspead de an upc ge seal ag Aig Re i, ca grin pb irae, Tigo ain ose eric hip io "Roses de ej em cp 0 eb XVI in ido mada Reside remne eds pitas ei ese Asin Duin oe do Turion dec ie sso iced 3 Res Fae: ei Nunes igecatane, decors cna de learn eBietecne Suu avo ae La Sang ee serene cpio pd gata aes cae Whe Nob ere uma vio discern Jes Phe rst de Wad ra pi ds pli op i iim Bab en 18 wy os db ci eased odo XVI ~ cs camat phi, dein sb qu aig cs pangs, coma gio soon, ox enti ug i dh fe, oop cha Cais BOEMIA LITERARIA E REVOLUCAO ROBERT DARNTON BOEMIA LITERARIA E REVOLUCAO O SUBMUNDO DAS LETRAS NO ANTIGO REGIME ‘Taawso: INDICE Copyrigt ©1982y Presiden "bled ty eangement th Harr Uni Pee "Nod pride vendre “Tian gi: ‘he Literary Undergo ofthe Ol Rime an capa toe Bot OAttotuminismocossubiteratos. 1 TT Sn 2 tmeplnnepenanct am 2 Unpmintaantig nn ee 1 tntcsmc op oe eeroee estes me scream = — sega foci ots Sra se Glositio. Cronologia....... Indice remitsivo PREFACIO Este ivr reine fragmentos de um mundo que e desi. tegro ainda no século XVII, Era um mundo, ou submundo, ‘gue via da produto e difusto de Kteraturailegal na Franga pré-rerolucfondria. Invisivel em sua propria época, execto ara o inciados, foi, desde ento, soterrado por tantas a ‘adas de historia que pareceu inacessivel a qualquer esca vaeio. Porque, entio, tentar reconstitute? Eu responderia, de pronto, que reconstruir mundos & ‘oma das tarefasessencais do historindor, «ele no a empre fende pelo estranho impulso de esarafunchat arquivs ¢ fa ‘jar papel embolorado — mas para conversa com os mors, Fazendo perguntas aos documentos e prestando ateng20 is Fespostas, pode-se ter oprviléao de auscultar amas mortas € avaliar as sociedades por elas habitadas. Se rompermos todo ‘contato com mundos perdides, extareinos condenados a um presente bidimensionale limitado pelo tempor achataremos nosso préprio mundo, Pode soar meio pomposo introduzir desta maneira uma obra que tata de subiterats, editoespiratas e mascates de livros probidos, Maso assunto 6 mais importante do que pos sa parecer: muits literatura foi proibida a0 longo da historia 7 —e& proida sinda hoje, como bem sabe quem conkese a Iota do samiadar eda “universalidade ambulante”, na ropa (Oriental, contra o eampo de concentragio. A clandestinidade tere eapeialimportincia no seulo XVII: censura, a po Iicia © uma corporagio monopolista de liveios tentayamn su jeitar a palavra escrita aos limites impostos elas ortodoxias ‘cas, Tins heterodonas x6 podiam circular através dos ex ‘isda cladestinidade. De que manera? E bem povco 0 que ‘Sibem os histriadores agerea da forma como era esrt, im pret, disrbuida ida, sob o Ancien Régime, a propria ti {eratura legal, Dos livros poibidos, 6 natural, sabe-se menos finda. A mator parte, contedo, do que hoje 4 tem por lite ‘ature francesa Jo sésulo XVITT transtava pela calgads 0 Htuminada da lela Franga daguee séulo, Mew livro passin por esses trates. Pl capez de llumingslos porque, dezesste anos atrés, cesbarzel com um sonho de histoiador: um enorme depé- Sito de arquivosintocador, of documentos da Société Typo graphique de Neuchitel, na biblioteca municipal de Nev hit, a Suiga A Société Typographiaue foi uma das maio- res dene as muitas editoras que brotaramn em torno das fon {eiras da Franca como fim de atender & procura, no interior {do tein, por livros piratas ou probidos, Seus paps s80 0 mais reo filo de informagies sobre uma editora do séeulo XVII Depois de pesguis-los,reslvi consular fonts com plementares na Franga — arguives da policia, da Bastiha e {a corporagio dos ieiros —e escrever uma série de estudos Sobre forga do ivr no seulo XVII. A primeira parte, The Busines ofthe Enlightenment: A Publishing History of the Enoelopédie, 1775-1800 (0 Tiuminismo como negéci: uma histria editorial da Encyclopédie, 1775-1800), fo publicada em 1979, Estaé a segunda. Depois de explrar o mais que pude 0 underground lite- ririo, peri que oretrataria com mais efifcia se, em vex de ‘asto paine, preparasse um conjunto de exbogs. esboso fm cidncia histrie, permite transfixar 0s homens no mo mento da ag, uminar os assuntos sob uma Tuz insta, fo- 6 calizar compleridades por angulos diferentes. Pode adicional- mente, no curso da pesquisa, fazcr-nos deparar — e com! hicars ese virido sentimento — com variedades surpreen fentes da humanidade. Enquanto cu mergulhara. nos ar ‘quires, percorrendodossié por dossi, carta por carta (ha cin ‘Genta mil delas na coleedo de Neuchdtl), era permanente- tent atingido pela impressto de que a vida se projetava da ‘Sbscuridade, adquiria caracteres distintvos e pessais, reve lavas enguantoeserevi, imprimia ou tafieava com lives. E sensagio incomum a de abr um dosié de cinglenta ou oem arias que ninguém mais ew desde século XVHIL Tero vin- ‘do de Paris, da mansarda em que um Jovem eseevinha com & Jmaginagto suspensa entre o Parmaso © as ameacas de despeio formuladas pela tenboria? Narrarao as agruras de um fabri: cante de papel de longingua aldela montanhesa a renegar 0 lima, que estraga a consisténcia do material logo na hors de {arihe acabamento, e pragucjando contra os traperos, que no vém trazer-he papel velho nas datas combinadas? Talvez Sein preciso ler em vor alta estes rabiscos quase levis; quem fab, assim, os ouvidos eaptem mensagens que resistem 20 ‘thar Talvez desvendem o esquerna de uma operagio de con- {rabando, Podem transportat-nos 20 interior de uma tpo- ‘tala, onde operéros arfam sobre os prclos, ou para baixo fos baledes onde te quardam 0s livres sediciosos, Ou cond tienos pelos traetos que os vendedores percorrem a cavalo para difundiro Taminismo, Ov fazer-nos descer os grandes ios amo aentrepéts como Amsterdam e Marslha © as re Imotes mercador de livros de Lisboa, Napoles, Frankfurt, Leiprig, Varsivia, Budapest, Moscou. Podem, esses cartas, vir de qualquer logne, E revelar ‘qualquer coss, Geralmente nos apanham de surpresa. Quan do nos convencemos de que o autor esta pique de abocanhar ‘om date, eis que oexpulsam da cidade por uma lettre de ca chet-* Quando um engradado de livros estéchegando a0 por to-em que oesperam, c-o surupiado pelos corsitios. Nosso -homem de negcios se reela um trapaceit: nosso flésofo se ‘wansformaem espito da policia. A humanidade muda de fe Ges ante nossos hes, enquanto presenciamos o desenrolar Gas expeculagdes dos lvreiros e os rangidos ¢ sacolejos de catrogas, abarrotadas de ives, que atravessam o continent. (© mundo acionado pela imprensa fem sua prépria comédie ‘humaine, '20 tia ¢complexs que nto eaberia ene as caas a ‘Como fhe de maistvo[ protestant] eomvertido a0 Comocence we Docargo dtréeorer du pan de Pris, ° Total 6.600 tence dete, een, tons seas mercer simp! Prem al, ‘nse ca le monde. Em prim apt na Tita dB {Cova os acadniks pot dem siete mi striae a das angen “Ha cert poi eo tesco esos itr 000 fer aso tin ergumes- fandoqusa main denon ores, de Academe Fran ibe on do Acai dr Inscipons comensPesbes Siocarterée dea grag permanente" Ee eerie iv Canc Seri pretension bastante para cer que 0 seahor joie te Sn en oe a ee dade por oben, Ven exrevendo nse sero po ita « sos ts dpe du onde scl, is Strait ora radia Strada por todos o ares © hve agua, No ctane, sb oe ministre ‘Sis canes fram sous promens a.o the Jama ence vier em movdetsina sagt, qo as sara petlamente por indigenci Etnbo vst grafeaons penstesjorrandocm sbundinci. » Como sugerem os comentérios de Caracioi tet opines ‘sadias" era qualificagdo necessria para conseguir peusho Em certos casos, o goern subsidiavsescritores que tressem: feito propaganda a seu favor. Mostrou-se benevolente para com 0 abbé Soulavie, pois este “submeteu alguns mans crits, versando sobre assuntos financeirs, a M. le Contd leur Général.” Evitara, ao contrario, qualquer pagsmento a quem fose de duvidosaiealdade, Rejeitoulberarverbas para J-CcN. Dumont de Sainte-Croi, um antor de pouce expres so especializado em jurisprudéncia, com base em nota tar. final junto a seu nome: “onoe sistemas deve género af me Feceriam encorajamento, se feitosexclusivamente para conte: simento do gorerno © nlo do piblic, por ees inctado a re belarse contra as lis estabelecidas ern ver de ser exclarodo ‘tanto 40s meios de aprimori-las”. A seguir, em outea elt srafia: “Nada".* Rivarolndo reeebeu,igualiente, coisa a. ‘guma — mas apenas por ji ser o beneficirio de pensao se. ereta de 4.000 fives. “B. muito intligente, e umm encoral, ‘mento, que poderiamos pagar-Ihe todar os anos se perma ‘eee fe a prinepiossadios, seria um modo de impedtr aoc ‘ign sua propensio a aderira idéiss perigosas Varindas, assim, a8 consderapbes que determinavam 0 patrocinio do Estado. No caso deinstitughes modernss, come © Centre National dela Recherche Scientifique, monarauie Sustentava circunspeetos sibios,descoss, talvez, de retvtar uma nova elite intelectual.” Dispensava, igualment, car ade. E usava seus fundos para estimulareserits que prope ‘assem imagem favorve do regime, Mas sempre restrinaa og subsidios a homens de certo prestisio no mundo das letras, Personagens secundiris, como Delisle de Sales, Mercice ¢ Cara, tveram a audicia de pedir pensses; nada receberem Lenoir revetaria, mais tarde, que ele © seus colegss vam reeusado Carra, Gorsas e Fabre dgantine porgue “os sag Emicos es descreviam como ‘as fezes da literatura”. En ‘qanto 0s sublteratos erguiam, em vio, as mos para 0 ae Yer, este concedia suas beneses a escritores segurameatel instalados ere monde 2 as prodiglizavaem larga excala. Uma nota de funcio ‘nig subaltern registra pagamentos anvais de 256300 I ses; em 1786 foram adicionadas mais 83.153, Esas cifras ‘epresentavam apenas os bnefiios que salam do tesouroreal ‘Muito mais dinheiro flu para as bolas dos eseritores "si ios” proveniente de cargos distribuidos pelo govern. jor- nas, por exemplo, reresentavam importante fonte de renda pera uns poucoe privilegiados, no sentido literal da palavra. Priviégios reais resereavam certos assuntos para periédicos Ssemi-ofisiais como o Mercure, a Gazette de France e Journal des Savants, que exploravam ese monopilio de noticias sem © ttborrecimento de competidores (0 governo perma a circu- Into de certos periddicos estrangelres, desde que fossem dis: freos, ecaasiem a censor e pagassem compensaefo & Um Jornal’ prvlegiado) e entregavam parte da receita a escri- tores nomeados pelo governo, Em 1762, 0 Mercure pagou 30.400 vrs a int astres menores do Alto Tminismo.” Ha ‘Via ainda, as sinecuras, O rei alo exgia apenas um historé- trafo oficial; também subsidava historiographes de la ma~ Fine, da Marinha, des bétimentsroyaux, dos eificios resis, (dee menus-plisrs® ede Ordre de Saint Esprit. Os ramos da familia real estavam earregados de leitores, seretiios © bi | bliotecarios — postos mais ox menes honoffcos pelos qusis, fans de conguisti-los, 3 trabalbava, masmas quais bem pou ose fara: a eles se chepava experando em antecimaras, im- provisando panegiices, cultvando rlagtes nos sales © co- ‘hecendo agente cera. E claro que sempre sjudava ser mem- bro da Académie Frangaise.” ERs divas Je volumes sobre a histria e a petite histoire a academia no sbeulo XVIII," ato importa se escritas com mor ou dio, revelam wm fema dominant: a bemtsucedida ampanka do Ihuminismo para conguistar a elite francesa. ‘npés a chasse ax Pompignanst de 1760, a eleigho de Mar- ‘montel em 1763 © a eleagao de d'Alembert ao secretariado perpétuo em 1772, & academia rendew-se aos philsophes. TTomnou-se uma expécie de sede de clube para eles: um forum Ideal pars langar ataques contra Vnfime;* proclamar 0 ad- 2 re Ra megan st Pa Sa te les Serelcinenespti te pee ictimeerere ie es Assim, Suard ¢ sew circul es do Ale as; € membros do clero, como Boisgetin, arcebi in © Loménie de Brienne, arcebispo de Sens. meee de ce siécle (1750). Escrever, explicava, tornara-s aoe ‘profissiio", que conferia um “estado” te « homent esc emma cena eee Vote, © arqulapologst do mond a do mondain,parihaea as ‘mesmas atitudes. Seu artigo “Gens de lettres’ i 1a Encyclo 2 die, masala 8 tela de que, no século XVII, “0 espirito fa Epocafiera-o [20s homens de letras], em sus maior par fe, adequados tanto a fe monde quanto a0 estudo. Foram ‘nantes do lado de fora da sociedade até o tempo de Balzac © Voiture, Desde entfo, dela se tornaram pareela necessiria" E seu artigo "Golt”, no Dictionnaire Philosophique, trans: pire a mesma inclinagloeista presente em sua concepedo da citora: "O gosto € como a flosofia.Pertence a um reduzido ‘nimero de almas privilegiadas.... Nas familias burguesas, Constantemente ocupadas eom a manutengio da propria for- tuna, no € conecido”. Thcansiveleultvador de cortestos, sempre tentando eafnal conseguindo, comprar seu ingresso he nobrera, Voltaire entendia que o Thuminismo devia co- mega com os grand: wma vez congustadas as eamadas do- mninantes da sociedad, podria oeupar-se das massas — mas ‘land para quendo aprendessem ale. Embora mio compartlhando o gosto de seu “mestre’ pela corte, d'Alembert areditava, em essncia, na mesma es- tratéga.” O Essai sur les gens de lettres et les grands (1752, publicado dois anos antes de sua cleiglo para a Actdémie Frangase,equivaia a uma declaracio de independéncia dos cscritores edo ato de esrever como orgulhosa profissio nova (no no atual sentido sociolbgico do temo, mas como owsara Dyclos) Mesmo empregandolinguagem tm tanto forte para etender uma republin das letras "democritica” em opo ‘Seto as pritias humilhantes do mecenato, 'Alembert subi: Imhava que a sociedade era e deveria ser hierdrquiea, © que 0 Tugar mals alto estava reservado 20s grands." Na época em fque esereveu Histoire des membres de TAcadémie Francaise (i787), quando dominava a institugdo como sucessor de Du- clos no secretariado perpéiuo, reformlou de forma conser ‘adore 0 fema de seu predecessor. Vergasiou severamente & “honda de rebeldes lterérios™ Grondeurs litéaires) por van a ambigbes frustradas em stus alagues contra a ace ‘emi. Defendew a mistura académica de grands seigneurs © tsritores. E enfatizou 0 papel dos cortesios como especi Tstas do gosto eda inguagem, num Taminismo bastante el ” sta — um processo de difsto gradual descendente do co- nhecimento, em que o principio da igualdade social nfo de sempenhava nenhum papel, Seréneessiro algun eaforgoformidivel de fisofia para ompreender que em Soledad, e epiaiente mo case de lum grande estado, €idiapensvel extra de una here ‘quit claramete dfnida? Que, sea virtue eo talento, por st Sis fm dieto A nossa reverenci,«superiosdade de Aas eit © de posggoexigm noes delertcia¢ noso tpl tov? FE como poderim, os omens d ets avr ou com preende erroneameante a to leis peognies dos Uwosestadr? Com porta-vozes do nov estado dos eseitoes (mas ato ‘dephilesophes como Diderot ed'Holbact), Duclos, Voltaire ¢ ‘'Alembertexortaram seus “irmos™ a trarem proveito da Imobildade que se hes era oferecda,juntando-se 4 eit. Em verde desafiar a ordem socal, apoiavam-na, Maso ue sgnficav ese processo? Era a ordem gabe lecida que se esclarecia ou 9 Tluminismo que se estabelcia? Provavelmente as duas coisas. Embora convene, talvez, er (ara surrada expressto "ordem estabelecida"eretomar& 8 mencionada expresso do séeulo XVIII, fe monde Apts a3 Jutastravadas em meados do séeulo por seus principio ¢ con. ‘cepgbes ea consolidagdo da vitéria nos altimos anos do Fe nado de Luts XV, os grandes philosophes tiveram de alton © problema que atormenta qualquer ideologia vencedora. en ‘ontrar acts dignos da causa na geraglo mais nova. "Ge ragio", admitamo-o, 6 conecito vago.” Talver nto hala Yer- ddadirasgerages, mas “lasses” demogrificas. Ainda asim, om grandes philosophes formam wnidade demografca razoa velmente nitida: Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694 1778); depois Button (1707-1788), Mably (1709-1785), Rows. sea (1712-1778), Diderot (1713-1784), Condille (1715-1780) 1 Alembert (1717-1783), Ox contempordneos foram scab Yizados,naturalmente,pelas mores, endo pelos naseimenton os grandes homens, Voltaire, Rousseau, Diderot, Conic, 25 < Alembert e Mably morreram entre 1778 ¢ 1785; e suas mor tes abriram importantes ¥acuos que seriam preenchidos por (Bpomss mais mga, muses, em sua mala, ent as jas de 17201730. ‘Quando a idade os deribara, os grandes philosophes fx iam o giro dos sales, & cata de sucessores. Tentaram encon- ‘rar outro. Alembert — esacaram Marmontel, o campeto do Gluckisme* Fzeram orga para persuadir-se de que Thomas podia rover come Diderot, e La Harpe, zombetear com a f: nora de Voltaire. Mas foi em vo. Com a morte dos vlhos boleheviques, 0 Huminismo passou para as maos de aulie ‘dudes como Suard: perdeuaflama eserenou em mera dfusto 4e ures, convertendo-se em confortvel rampa rumo a0 pro- freso, A transgo dor tempor herScos para o Alto Thum rismo domesticou o movimento, itegrando-o a le monde & ‘banhando-ona douceur de vivre dos anos de agonia de Ancien Régime, Mme. Suard registos, ap6s 0 relato do recebimento a tia pensdo do casal: "Nio tenho outros eventos a nar rar, sento que mantivemes vida branda e variada at aquela Epoes horrvel e desastrosa {a Revoluclo]"." Seu marido, tor nado censor, cusara-se a aprovar a pega de Beaumarchais, no tio revolucionéria, Le mariage de Figaro. E Beaum: ‘has, desde entio, devotov:seenergicamente &expeculagioc por fim, & construgdo da maior rsidéncia de Paris: “uma cas ‘qu ja motivo de conversas.O sonho do revista. ‘A insttielonalizaedo do Tuminismo, contudo, nto em ‘tou ser gume radical, Se um hinto de geraghes separava os hilosophes do Alto Tminismo de seus predecessors, uma rupturs, no interior de sua propria geragdo, mantinha os ri fotostmente apartados dos tubliteratos, aqueles dente seus ontempordnens que havim facassado na busca do sucesso © ‘etigado de volta a0 undereround. Talvez o mundo literri tena sempre se dvidio hierar. ‘queamente, tendo no vértice um monde de mandarns e, 2a base. boemi liters, Eseesextremos existiam no século XVII esusbsistem ainda hoje. Mas a8 condighessocais eco- nomics do Alt Taminisma cavaram um fosso incomum en 26 ‘re or dois grupos nos sltimos vintee cinco anos do Ancien Régime, Esse dstanciamento, se examinado em profund dade, forgosamente revelard algo sobre uma das questes clés sieaspropostas pela era pré-revoluionéria: qual foi a relacio tntreo lisminismo es Revolugio? ‘A primeira vista, parece que a condiqto do escrtor deve {er progredido substancialmente no reinado de Luls XVI. O8 dados relevantes, por mais superficiais que sejam, apontam ‘nt mesina dinegio: considerivelexpansio da demanda pela palavea impress." O nimero de alfabetizados provavelmente ‘aplicara no curso do sécul, ea constant tendéncia ascen dente da economia, ombinada com o aperfeigoamento do sis tema educacional, geraram, quase certamente, um péblico leitor maior, mais vio e com mais tempo disponivel. A pro- ‘dugio de livros disparou, sejaavaliada diretamente — pelos pedidos de priviégios e permissions tactes —, sea de forma indtea, pelo aimero de censors, ivreiroseimpressores. Mas 1 poucos indicios de que os eseritorestenham extraido bene ficioe de algum boom editorial. Ao contri, tudo indica que, fenguanto 0s mandarins cevavam-se com penses, 2 maioria dos autores afundava numa espéce de protetariado literrio, 'AS informapbes sobre crscimento da legito de sublite- ratos nto provém, reconhero, de fonts estaisticas, mas ane ‘ticas, Mallet du Pan assevrava que trezenos escrtores, in ciuindo uma cambulhada de subliteratos, haviam se candida {ado is pensdes de Calonne. E arrematava: “Paris esté cow hada de jovens que confundem médica habilidade com ta lento: esrturieos, guarda-livros, advogades,soldadas. Ban ‘am os autores, gemem de fome, mendigam.F fabricam pan fetos”.” Crdbllon fils, que, segundo se dz, concedia, todos ‘8 os, permisions de police etroco de quarentaa cingdenta mil verso de poesia panfletira, er assediade por uma “mul tido de versejadores epretensosesritores” que inundava Pa- Hs, vinda da provincia.” Mercier encontrava ests “esribas famintos” (ervailleurs affamés), “esses pobres eserevinha dores” (ces pauvres barboulleurs), por toda parte,” ¢ era re- comrente, em Voltaire, 0 mote da “ralé enlameada” (peuple a” crotté) que abarrotava 0 fundo do ambiente literdri, Colo- ‘ava a“miservelespécie que escreve para genhar vida” — ‘"refugo da humanidade” (le du genre human), canalha a literatura” (canaille de le literature) — em nivel social Inferior ao das prostitutas.” Bserovendo na mesma linha, Ri varol e Champeenetz publicaram um censofitcio © zombe tei dos Voltaire e d'Alembert no descobertos, que pul Tavam nos sitios e nas saretas de Pars. Produciram artigos sobre bem mais de quinhentos desses pobres excrbas de alu vel, que sobrevviam por uns tempos na obscuridade e depos se esfumavam como seus sonbos de glia, com exceed0 de uns poucos: Carra, Gorsas, Mercer, Restif de la Bretonne, Manuel, Desmoulns, Collat dHerbois ¢ Fabre d'Eglantne, 0s nomes desses futures revluciondeis parecem estranhos ‘asta de Rivarol dos “quinhentos ov seiscentos pootas” per didos nas hostes de e Basse littérature, mas Rivarol os cole- ‘ava no lugar devi.” Esse lugar era a clandestnidade,eujos habitants, infa: mvels em qualquer época,explodiam nos titimos vintee cin ‘oanos do Ancien Régime. E claro que tal interpreta pode ‘io passar de fantasia demogrifca, baseada, como foi, em fontesliterdrias subjetivas; mas esas fontes sio sugestias 9 bastante parasoltar as rédeas da imaginagdo.Sublinham cons tantementeo tema do rapaz provinciano que Ié wm pouco de Voltaire, arde em ambigio de tornar-se um philosophe, sti de casa para definhar, indefes, em Pars, onde por fim morre, derrotado.* Ate Duclos se preacupava com esse triste coro. lini de sua formula para o sucesto E Voltaire, obeeeado pela superpopulacio de ovens escritores em Paris (“o antigo ito nio tinha tantos exfanhotos”), afirmou que iavest. contra os subliteratos pera eviter que contagiassem a juven tude.® “A quantidade de gente que se perde em razio dessa paixdo (pels careira das letras) 6 prodgiosa. Tornamse inca pares de qualquer obra provetosa... Virem de rimas e espe- Tangas e mortem na miséria."® Os ataques de Voltaire fe- riram Mercier, que saiu em defesa dos “pobres diabos” em ‘oposigdo aos “queridinhos” mimados e subvencionados das Ey academias e saldes. Afirmou que os “pobres” sublitratos, (basse litérature) do Faubourg Saint-Germain tnham mais, talento eintegridade que os "rcos” beletrista (haute liéra ture) do Faubourg Saint Honoré. Mas nio escapara 8 con custo pessimista: “AR! Apara-vos dessa carreira, se mlo ‘quiserdes conhecer pobreza e humilhagao"." Linguet, outro antivolairiano, dedicou um lv intero ao fema. Constante. ‘mente assediado por pretensos autores em busca de protetor, tinha motios de sobra para lamentar que "as eseolas secu

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