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\ PARADIGMAS POLITICOS E TRADICOES LITERARIAS "ANTES DE INICIAR A ExPOSIGAO dos equilbrios coneretos, na sociedads portuguesa dos séculos XVI e xvi, dos varios poderes em presenca, 4 Gu seree ciguma atengio aos modcios mentais com que essa sociedade se Seeeteerideu a simesina c 2 parti dos quais grupos distintos tragaram as suas estratégias politicas. Pasiguccendo 2 tradicional perspectiva de «biografia incclectualy da hiss sia dus sdeias politicas pretende-se, hoje, averigua! Bia profundas — formas de ver, de nomear, de clasificar © hierarquizit se Brecedem e condicionam 2 vproduco» intlectual dos autores indivt= rere For outro lado, sobre os condicionamentos mentas ¢ conjuneyrai, Siz enformam o modo de «recepcio» social desses autores ¢ das sas obras. M erielunien das propostas politicas que podemos encontrar nestes dois sé culos vive de tudo isto. es CN, entre dois modclos muito profundos de apreensio dos fendme- non seis "um tradicional, que concebe a sociedade como «corpo? intel 208 soca ganizado e dotado de um destino metaisico (4 semelhancs Jo Ramen), e.g modern, pés-cartesiano, que explica os movimentos (16 ¢s3— amie) sociais na sua materialidade puramente externa — parece est se Mpereurco das ideas politicas nos dois séculos em questio, precisamense ‘argu estes dois modelos incdem sobre os amplos dominios da teats so. Part politica, como a origem da sociedade politics, a sua econstincior: of nite do poder da coroa (¢, dentro deste tema, as relacSes entre 1greja € coroa), sobre as formas de governo. Sends projectos altemativos de sociedade € de poder, decorrem, no. or tan te ies tradigio largamente comum, O universo fiterdrio dos juristas re ae ae setecentstas era composto por obras (de teologia moral dirite seer are, politica) de juristas e te6logos. Daf que nos t6picos ocorrentes hn ambos se encontrem miituas contaminagées, vearveeio'g caso, quando nos aproximamos dos finais do século xvutt Cm Pormugal, sobretudova parti da reforma pombalina da universidade), 9 coms fo pao dos paradigmas das doutrinas socias e politica: rende 3 rojectar- ao eeare corte no plano da propria tradigio literdria. Por outras palayras, oS se ne con tendem a ler coisas diferentes dos Gru"Cevalhan, a dialéctica do Curso comimbricensdy 08 is do. periodo Gis carvdnne clissico (os ebartolistss, ov spraxistat rangosoty), € YO Co i ess matematicos ¢ os euliores da xboa lépicay, cartesanes Om Fede eave. mas ainda os novos jurstas jusracionalistas de Cenero cvrePe (eatido holandese, slemaes c assriacos) ¢ os cultores ¢e sPol Ges © da (sobremdo olanticamo os poligrafos ¢ publicistas dos iluminismos francis economia gamanico. A smilitancia» d3s indicacoes bibliograticis (o¥ das italian germ gis Antonio Verney (Verdadeiro método de estudr.. 1948) 4 rei a ieee Go Pte Ara Bare Xavi t Antnio Manuel Hespanha 1 Pigina do Tezoure da Nobreza Ge Francisco Coelho (ANTT, Lisboa). Foro: Arquivo Cincuto DE Cirrones A socicdade moderna conccbia-te 3 mma imo om core, como 3 do corpo, da natrcza BA vowed oer do ee, te Subditos scumidos, ndo » podera D scrar: Os diversoe Srgice sors familias, igre, comuicedcr, D grupos profictonss) teria, tal p Sano Gros do corpo, ama escapade dato Segelamentacio. Bot P ee. eq portuguesa sciscentista, Logo em 1627, obtém uma impressiva tradu- os Sa ‘Gio nz Ley regia de Portugal (Madrid, 1627). em que Joio Salgado de Aratjo, Srocando 2 autoridade do cardeal Bellarmino, de Francisco de Vitoria e de favems Azplcueta Navarro, expliea a origem do poder civil dos dircitos dos reis a a7 Tratade sobre ¢ gover da Replica erst, he Baptisea Fragoso (1550-1030). Uma dis ‘bees fundamentae do samento jurtdico-politico da Keponds Escolasiessborense, na linha dos ensinamentos de Francisco de Viti, Francisco Suarer e Luis de Molina, também cle professor de Evora, Tratande do sgoverno da replica. Fragoso iio detca de inclu af 0 govern da Igreja e © governo da Emilia Ou seja, order sober orem cidade « Indo’ lado. como se tvessom 4 RP BAPTISTA FRAGOSI SOCIETATIS JESU, SYLVENSIS = REGIMINIS RetrUNLice CHRISTIANE, vomus PRIMUS, ——————————————_S-LLrrrts—te [A Anquirecrura pos Poperis © 0 caricter regulado do Poder partir de uma lei régia (a que jé se referiam conhecidas fontes romanas, Di- na sociedade do Antigo Regime geso, I, 4, 1) estabelecida por um pacto” E. Saprmene por uma See de SN; donizins politica portuguesa 0 principio da origem, paca do Peder A estava, todavia, subordinado ao principio hereditirio («Os povos dos Rei- ¥ dependenh do resem relaio 3 EPR oeemla princes legs telus ( prinape ext excso da hnos de Portugal e dos Algarves aio podem cleger Rei enquanto houver pa~ rente algum que descenda do sangue Real (...]»» Allegagdes de direito [...] por see PeiePdo libertava © parte da ‘Senhora Dona Catarina... 1581, apud Torgal, 1981, vol. 1, p. 262). wees izames ici divita © ‘Afgs, por sua vez — e aqui reside a vinculagio tradicional deste ponto de Tocara como eta home : : aac como ct tm Nias Por Mitinepio da sucesso esti subordinado a0 bem comum, peemi- cena g preci oe gi indo quer 9 afstamento de Herds que eo eam at pris neces Rump), srbars por se tinge acto acontecers com D. Afonso VD, quer do rei que governe mal, Past Goo escreve Jodo Salgado de Aravjo, sen la sucesion de un Reyno, fender que no er2 nem justo caemlneato que o tel lisse + Se considera la uilidad de lo vasallos, y no el provecho particular de la per- aes pee sona del Rey que sucede, porque el Rey no se elige para si, ni para su puma dedarcio sre Gomes je provecho, sino para el procomunal del Reyno [...]» (Ley regia... cit Caupen, Brnape perio, Bib. fh 107 ¥) . - : Nac Rio de Jancito, 1750) Poy iso — ainda que este pacto nio fosse invocivel pelos sibditos, no i plane do dicta evi, para obtersatsficio judicial dos deveres do rei, como os Miendiam os monarcomacos e como foi praticado, em Inglaterra 20 trazer = Orel a julgamento do Parlamento, sempre ficava aos povos — para além do lee. Serre aris inclusivamente en jl20, 0 Fespico Gos i eu rs Site por pactos subsequentes (v. ¢., leis pactadas ou privilégios) — 0 direito b Gi Qatunciarem 0 pacto de sujeicio, no caso de incumpriinento grave dos se ceee nous [ipania in exerciio),resistindo e privando o rei do seu poder tecissivamente, matando-o, como € aceite por Francisco Velasco de Gou- Cia [Torgal, to8t, vol. mp. 39). Estas ultimas consequéncias — que slo as eines cents da corente politica em causa — foram, porém, mais claramente Bia 2 . formuladas quando as circunstincias polticas o exigiram. ae frontpio doled prety, && “Asse, ment feito em conte |») da aclanasio [de D. Joo IV] (Lisboa, ee Tome de Vaca 1633, Tamim 64a; ed, moderna en J.) de Andrade e Silva, 1640-1647, pp. 343 88%) Martim 2 imagem da Jatin «dos ules Th Jepoisdivulgado jumtamente com a obra teérca central do movimena Sata models toda a rellexio 1b > Feseaador, a Juss aclamagio do Serenissimo Rey de Portigal D. Jodo o IV ics Governo.< or Borer nord (Lisboa, To44) de Francisco Velasco de Gouveiat — declara-se que, «confor estabelecida, de dar a Bae, oe me as regras do direito natural, ¢ humano, ainda que os Reinos transferis— SSRs roles yest gs ope cimpumy pon over fda Perfoieo € um juiz pereno. Pelo wma tacita ‘condicio, de os regerem, ¢ mandarem, com justica ¢ sem tyra Re Tteratura como a que se i, E tanto que no modo de governar, usarem della, podem os Povos pri- princi gue Herta come amtacedcia_valos dos Rainos, em sua legitima e natural defensio — e munca meses Trek A se reacionar estrctamente To ram vistos obrigar-se. nem o vinculo do juramento estender-se a oa Soma sraura opoliticry eben be Este «parlamentarismor voltou a ter condigdes para florescer aquando da a crise de 1667, No seu manifesto de Novembro, 0 infante D. Pedro, depois Sesame are Ge relatar o «mau governo» do rci seu irmao, declara aceitar tomar 0 gover~ DEWEEAN CO, ’SG2 ee Renn mos em Con fe ermine com a: Eee Jjumadica que tem, o emedio que julgarem conveniente» (JJ. de Andrade IVDEX PERFECTVS "e Silva, 1657-1674, p. 133). Como ja sucedera em 1640, era necessrio fun- io Gamentar 0 afastamento do rei e, simultaneamente, legitimar a assuncio do CAPSTONE’ y, SARS Soten agora por pate do inte D, Pedro. Para o primeto cx So. e pressupondo 0 principio pacticio (€ nio € um acaso 0 recurso a cita- fees da obra de Velasco de Gouveia), séo afirmadas a tirania e incapacidade comac para 6 governo do re’, vistas como causas legitimas para sprivar dos rei- = fos, ou pello menos da administracio delles os reys incapazes de governar, ao Cristo getalmente se uza em todas as Nagoens, e he o que geralmente se cha- eres. ma Direito das Gentes (Cortes do reyno de Portugal, vol. vit, 1668, aie pp. 173-173 ¥."). Na mesma altura, foi posto a circular um «papel» em que Be afirmava que «o reino pode justamente privar o seu Principe, ainda que tle seja Iegitimo, quando no exercicio he tyrano; ¢ no Reyno de Portugal io padece diivida esta Proposicéor (Deducgao cronolégica.... § $72). Partindo dlestes principios, a assuncio do governo por D. Pedro nao é posta em cau- Su, Mais problemtica parece ser, no entanto, a legitimidade da aceitacao da Coroa pelo infante. Tendo sido convocadas duas juntas teologico-juridicas para se pronunciarem sobre #) se um reino pode titar a0 rei, ndo 86 0 gover 128 manas, Di- 2 do Poder s dos Rei pouver pax 0 [lea 1 p. 263) “ponto de m. permi- s necesss- rere mal, m Reyno, dela per i para su ditos, no rei, come 20 trazer 2 além do fra ai © direito grave dos eu poder de Gos ue so 35 aramente (Lisboa, 3 © segs) ywimento aio 0 IV «confor ansferis- baixo de SOS Pe dere 3 ando da . depois > gover a toda 2 Andrade rio fan A REPRESENTAGAO DA SoctepADE & DO PopEr Pareto legi, quifquis legem tuleris, EMBLEMA LXIX. Principis Aujonj, Princeps Pretorius arma DigneThajano voce nara capit Hef isi, pe Nes at fra int miniis inNojtrum prelia fringe caput. aad lor Prince, how Pre pera, dn duu te fibais legibus opfe ruts, fant ‘gt So pbaider tego oe ‘Tura maritant. So, mas também 0 titulo ¢ if) se o principe tem na Terra superior que co- ‘seco as suas accdes ¢ sc, em Portugal, ‘as cortes constitufam tal tribunal, @hcveram-se respostas discordes, Mas, ainda assim, cerca de metade dos Seembros destas juntas defendeu uma resposta positiva as duas questocs, ‘Mésxim Affonso de Mello, deputado do Santo Oficio e membro da prim Se jonts, afirma que +a privagio de Sua Magestade do titulo, e da dignidade $5 sinha o Reyno junto em Cortes legitima jurisdicio para 0 fazer, ¢ [que] A. nio peccaria nem venialmente se asscitasse 0 titulo de Rey offerecen Bethe os povos» (Corts... pp. 183-197). Por sua ver, 0 padre jesuita Nuno = Gana (da segunda junta) dé uma esclarecedora resposta. Partindo do SeeBecido principio pacticio, afirma que «a doacio, ¢ obsigagio, com que a Femapio os Reynos se entregario a seus Principes, ainda que foi livre, foi sBeolute €, conforme as Leis da Justica, de natureza irrevogavel; e contra cl= E podem 56 aquilo, que a principio reservario expressamente, como em al= Reynos fizerao, ou o que for necessario para a sua conservacio, ¢ de So natural» (Deducjao chronologica.... «Provas», Parte 1, p. 233). E que, Peranto, «pode o Reyno |... tirar-lhe 0 governo, quando assim for neces- ‘See pars 2 sua conservacio, ¢ defensio natural, mas nio pode eximir-se ‘Sem limitar a obediencia que deve aos Reys, seria s6 para o mesmo fim da Beso natural» (ibid, p. 234). © wvoto» de Nuno da Cunha é muito es- ‘Bextor do estado da doutrina politica da época. Por um lado, insiste-se Ses — contra o providencialismo jé largamente dominante no centro da Esssps — na origem pacticia do Poder e nos direitos «parlamentares» que dat Géestam. Mas, por outro lado, tomam-se distincias em relagio aos monar- |GSeeaces , m0 Caso de Portugal, aos partidirios do «governo misto». Quanto Se primesros, refita-se que, salvo nos casos de o pacto original ter institui- S =x covemo misto, 05 parlamentos possam normalmente limitar 08 po- B= rei. Muito menos, depé-lo e julgi-lo, como o tinham feito os In- Bes. cujo exemplo ¢ cxpressamente citado. Quanto aos segundos, Geconhicce-se que 2 monarquia portuguesa é «purav e que, portanto, os po- “es dis cortes no sio permanentes (in actu), mas apenas potenciais (in ha- Bie), para 08 casos de titania Sse como for, a concepcio corporativa, com a sua referéncia a uma of- ‘Gem «naturals de governo € aos deveres régios dai decorrentes, introduzia SSpertanies limitacGes a0 poder real, advindo dai importantes consequén- (Gis judas c institucionais. De facto, uma ver que a doutrina corporativa > poder cstabelecia como micleo dos deveres do rei o respeito da justica, 129 ‘A 00 Tribunal dos Reys, sabio ¢ frithanees (Francisco Amt6nio Moraes de Campos, Prinipe porte, 1790). Porque 3s Scjencias todas de igual sort / Dio as mos entre se todas tecem, /"Humm discreto direto la tais forte.» Este vemblema» —é, sobretdo, a legenda que © acompanha— destacs 3 relaca0 Ssureita que deve exinuir entre 0 Gireito e's sapiéncia. Na verdade, decorrendo'9!dizeto da naturera| dss coisas, dle nulte-se permanentemente do saber, Shjectivo, baseado na observaclo fa pritica, sobre as mesmas Numa sociedade dominada pela ideia da Justia, os juristas ddesempenham um papel central, uer como produtores de saber Social © politica, quer como, Imediadores de contitos, Aula tuniversitiria de Direito, no rosto de uma edigio quinhentista de lum comentirio do jurist italiano tardo-medieval, Alexandre de Imola («Prima et secunda pars commentariorum, Super Cadices, 1335, biblioteca do autor) AA centralidade social dos jusistas ainda se reforgava pelo acto de constiuirem um grupo gue instituia os seus proprio mecanismos de diseiplina ¢ de social, em quase total ica de poderes| extemos. Caixa de tiragem 4 sorte dos pontos de exame da Faculdade de Leis de Coimbra {efeule xu) (Reina da Iniversidade de Coimbra) meteu ia.con fsa cadens y dessin oT Pees ee Teves fa gamentales seria lo mismo que atropellar los derechos del Reyno, frances 1a cabeza de los miembros, arruinar todo su Imperio» (Lue Manshen de Azevedo, Exclamaciones polite... Lisboa, 1645, exclamagio W, ps2) Meg {augpém as leis ordindrias (Hespanhs, 1985, pp. 392 segs. e Albugcroue 1268 BP. 235-276). Quando ao segundo — talver de maior importincs ns se implicave que a derrogacio de um direito adquirido — fesse a propre. dade de, bens, a posse de offcios ow as expectativas protegidas 2 eater dee enGio de um prviégio irrevogével, o ditcto de nie pagar impostos legal. mente criados — apenas fosse possivel em sede judicial (por meio de aca lustum iudiciam) (espana, 1089, ibid.) Fito isto, é se vé como os tribunais, como instincias de salvaguarda da Heme & de detesa dos direitos de cada um, ocupam, na consttuiglo juridice Se Antigo Regime. wma funcio consttucional determinante, POF ip € soc S explica que, na literatura seiscentistae setecentista, aparega quem deferda he, Limcionando os tribunais palatinos de justia, nao tinhs por que se com Toes Cortes, pois as suas funedes de garantia (também de comuniaco com © reino) cram. desempenhadas pelos conselhos* Do ponto de vista moral, o corporativismo proclamava o primado da éti uigbre a conveniéncia e a‘utilidade. Daqui, a ferrea oposigio a Maguiavel odin e, nalguns casos, mesmo a Ticito, bem como 2 literatura alvin 40 estilo governativo olivarist? a De ponto de vista social, o corporativismo promovia a imagem de uma Sociedade rigorosamente hierarquizada, pois, numa sociedade maurslaneme gidenada, a irredutibilidade das funcées sociais condur a inredutibilvnde os estatutos juridico-institucionais (dos westadoss, das ordens)". © diveea i ue nao seja ratificar es- expressa nas OndenagSes br): Quando Nosso Senhor Deos fez as criaturas assim ra, Roaveis, como aquellas, que carecem de razom, not ‘iguaes, mas estabeleceo, ¢ hordenou cada hua sua poderio de par- aoe: Segundo o grao em que as pés; bem assy os Reys, que em loge de Dros ja fetta som postos para reper, © governar 0 povos nas obras gos tum de fazer, asty de Jusica, como de gracs, ou metones deveny stout g excmplo daquello, qué elle fez, ¢ hordenow, dando, ¢ distribuinde tans ples Por hua guisa, mais a cada hut apartadamente, segundo 0 grae.¢ cons digom, e estado de que for'' » 130 FOOT WY MATER EW 2 = = 2 « = iC « = > = = = = = cS ™M r = = = = = < = = nto de co- dora de di- Quanto 20 de sujeitar le que pro- ymo si fe~ Teves fun Aarinho de - 32). Mas. suguerque, 2 proprie- stes, 3 de= stos ilegal- cio de um aguarda da 3o juridica isso € que m defenda ue se con- municacio ado da éri- Maquiavel, alvitrista € m de uma raralmente aubilidade O direito atificar Ordenacsez as fossem io de par- m logo de obras que a seguir © do nom 3 A REPRESENTACAO DA SOCIEDADE F DO PoDER Como 2 sconstituigio» radica na natureza da sociedade ¢ esta se observa = eradigio, © «estador € algo de «natural» e «tradicionale, objectivado nu- Sz «posses, ou scja, num direito, adquirido pelo tempo, a um reconheci- Peato piblico de um certo estatuto, Este estatuto comportava certos direitos, mas também certos deveres. E, scbretudo, uma obrigacio de assumir em’ tudo uma atirude social corres- ondente 20 estado, atitude que a teoria moral da época definia como «hon- a> (honor). Por oposicio 3 virtude (virtus) — disposigio puramente inte~ Gee —, tratava-se de uma disposicio externa, de se comportar de forma Genveniente 3s regras sociais do scu estado. Nz sua forma mais difundida, a auto-representacio da sociedade medieval moderna via-a, como se sabe, como dividida em trés estados: clero, no- Recs ¢ povo (Ondenagies afonsinas, 1, 63, pr: [--.] sdefensores sio um dos Bes estados que Deus quir per que sé mantivest o mundo, ca asi como ox fogam pelo povo chantam oradores, e 20s que lavram a terra, per que SESikan Rio dt viver¢ se mantém sio ditos mantenedores,¢ 9 que Bio © Sender sao chamados defensores»). Mas a estrutura estatutiria era mu Se mais complicada na sociedade moderna. Desde logo, tende-se a distinguir, dentro do povo, os estados slimpos» Geemso 0 dos letrados, lavradorcs, militares) dos estados avis» (como os of- Ge mecinicos ou attesios). E este o sentido da classificagio de um jurista Scmntista portugués, Melchior Febo (século xvus) — «triplicem in nobilitate Gem. lterun nobitem, mechanicim, artivmgue sedentarium alterum, sltimum Seeepistorio, gui militae, vel arte a sordida muneribus exinantury [no que res Sees = nobreza (secular), existem trés estados: um, 0 nobre, outro, o meci- Se < artesio, 0 iltimo, 0 dos privilegiados, que, pela milicia ou pela arte, SSbcctam das profissdes s6rdidas}. Também progressivamente, este estado Perales intermédio entre a nobreza ¢ as profissdes vis — «estado do meio», Speedegiados», enobreca simples» — vai sendo assimilado 3 nobreza ¢, no Se Est vai-se construindo um novo conceito diferenciador, 0 de «fidal- Gee, ou mesmo, mais tarde ¢ por influéncia espanhola, 0 de wgrandezar Picarciro, 1987)". [Ess extensio do estado da nobreza (Hespanha, 1989a, pp. 274 © segs.) — “ees consequente pulverizacio por classificacées suplementares — fica mani- SS er tratados da época sobre a natureza do estado nobre™, Ai, reco- Tests classificacées anteriores (Aristételes, Bartolo) ¢ adaptando-as a anti- (E> Sesificagdes das fontes pormguesas, distingue-se nobreza snaturale ¢ Gebecrs «politica» (ibid., n, 200 ¢ segs). Na primeira, incluem-se 0 principe, Ge sobre silustres» (correspondentes aos titulares ¢ efidalgos de solare: S Gedomagiesflipinas, v, 92-120), os nobres matriculades nos livros da no- Bee (Btalgos rasosn; cf: Ordenacdes flipinas, 1, w, 95 1, 484153 m1, 295 mt, Ss = V, 120); 0s nobres por fama imemorial (Ordenagoes filipinas, 1, 1, Fo saeclts cujo pai era nobre (Ordenagées filipinas, v, 92). Neste ¢a80, 2 pee se cetatuto decorre da natureza das coisas e prova-se pelos diversos GSS mmanifestacio da eradicio (desde a pritica de actos que competem Ge mcbres 202 3 cfama comum ¢ firme», ibid., n. 209 ¢ segs.), eventualmen- SSH aads por acto juridico formal (como :'sentenga). Como natural, esta Bebe: & ambém, tgencrativan, ou scja, transmissivel por geracio. Ji 2 Geto: «politica» decorre, nao da natureza, mas de normas de direito posi- Gee dos costumes da cidade (n. 264 e segs.). Deste tipo é a nobreza que se Bee wks citncia®, pela milicia", pelo exercicio de certos oficios”, pelo Besse ¢ pelo decurso do tempo! Tastee 6 cstado do clero (Hespanha, 19892, pp. 257 ¢ segs.) se estende SeSsssemente, embora em muito menor grau do que o da nobreza. Para Tee Ses Gérizos de ordens maiores, gozavam do estatuto cclesiéstico cléri- Ge SH oxdens menores (tonsurados © de hibito, servindo oficios eclesiseri- Se etenagses flipinas, 0, 1, 4; My 1, 27) (Manuel Alvares Pegas, Gommen- Tee = Ontinationes Regni Portugalliae, Lisboa, 1669-1739, tom. 8, p. 281, = = ses), 08 cavaleiros das ordens militares de Cristo, Sant'lago ¢ Avis ee lipinas, 1, 12), desde que tivessem comenda ou tenca de que se Geamcwessem:; 01 05 Cavaleiros da Ordem de Malta (ei de 18 de Setembro & etes © 6 de Dezembro de 1612). Mas, para além disto, no poucos lei- 131 © doutor Anténio dé diplomata, é o autor de le Souss de Macedo (m. 1682), jurista e Interessante obra sobre as jualidades do jurista, sor in quacumgie si Inssime i hure canonic, et vile, in i ondres, 1643), um verdadeiro ‘compéndio da auto-representagio Aloe juristas, contendo normas {que vo da’alimentagio € Yestuirio até 2s leturas (Banco de Portugal, cota: 22. © Banco de Port Foro. A. Sequries 7). Lisboa. ~ conronis IVRIS CANONICI GRATIANI ‘DISCORDANTIVM CANONVM DECRETYM 2A cto domi us gente um exemplo pico disto PBoast do pelo arco fangnico. Na agen 0 Corpus june canon! fed. de Fale, 174), Eoleceho candies do dicta ds igre, compilada entre os $i sar Ev. Vigorou em Porcugal, mesmo nok eunais Boa Razio, de 18 de Agosto de 1769. Em algumas materias, como o regime do eesmenio feandnico, 4 sua vigencia prolon- ggounce até aos nossos das (1975) ¥y Também no dominio do Alec sce 2 prncpais fonts nao provinfam dre. £0 fase do ditto romano, espinha dorsal do ordenamento jure, sredkval ¢ modem. Ann ttadiglo vextial remconears 40 Corps are te (529565) sce anit er los comesurio (loss) das Bid cokes folios meseais Tipodemae ie payin, edo uinbenons do Bigrs, tom a lon roscindo o texto engin ‘A Angurrectura pos Popenes 0s, desde que tivessem alguma relagio com os anteriores. Assim, gozavam de alguma parte do estatuto clerical (nomeadamente em matéria de foro) os cescravos ¢ ctiados dos Cavaleiros de Malta”, os oblatos da mesma Ordem, vivendo sob obediéncia (Lei da Reformacio da justica, n. 12), 0s farmiliares €-ctiados dos coleitores apostdlicos, desde que nao exercam oficios mecini- cos ((bid., n. 8), 08 afrades Ieigos»’ ¢ 08 novicos (ibid., n. 14 © 13). E, mesmo no vestado do povor, muitos sio os privilégios — de certas cateyorias profissionais, dos cidadios de certa cerra, das mulheres, dos an- ios, dos lavradores, das amas, dos rendeiros de rendas reais, dos criadores de cavalos — que eximem 2o estado comum (Hespanha, 1980, pp. 279 ¢ segs.) Esta multiplicagio dos estados privilegiados (isto é com um estatuto ju- ridico-politico particular) prossegue incessantemente, cada grupo tentando obter o reconhecimento de um estatuto diferenciador, cujo contetido tanto podia ter reflexos de natureza politico-institucional” ou, mesmo, econémi- 2 (vg, isengies fiscais), como aspects juridicos (v. g.. regime especial de prova, prisio domiciligria) ou meramenie simbélicos (v. g., precedéncias, formulas de tratamento). Com tudo isto, o que se verifica é a progressiva separacio entre «estador as fungbes sociais tradicionais. Nobres si0 cada vez menos os apenas ode fensorest (militares), 20 mesmo tempo que, com o aparecimento de exércitos profissionais © massificados, muitos militares nao sio nobres. Uma exten sio do conceito de consilivm (que, inicialmente era apenas o consilium feudal, apandgio dos nobres do séquito real) permite nobilitar 0s conselheiros ple beus, nomeadamente os letrados. E mesmo a riqueza — originariamente era fandamentalmente indiferente do ponto de vista da nobreza — ja € conside rada nobilitante a partir do século xvr; mas, em Portugal, sobretudo aps a legislacio pombalina que promovia 2 nobilitagio dos comerciantes ¢ in- dustriais. Ou seja, a progressiva diferenciacio social obriga a um redesenho das taxinomias sociais, embora se conserve fundamentalmente, como ma~ iiz geral de classificagio, 0 antigo esquema trinitirio, a que, de resto, cor respondia a representagio do reino nas cortes Resta salientar como a classificacio social continua a ser entendida como decorrente da natureza das coisas — da transmissio familiar, de uma consti~ tuigio que se plasma na tradicio. E como, embora 0 direito feudal medieval inclufsse nos direitos do rei (regalia) o poder de conceder armas ¢ brasdes (para além dos senhorios das terras¢ dos titulos correspondentes), a nobreza Eentendida como uma virtude essencialmente natural, quer essa natureza sja uma disposicio familiar, transmissivel pelo sangue, para servir nobremen- (e, quer seja a reputagio ou fama que objectivamente decorre do exercicio de certas fingées sociais. Inovacées dristicas nesta orclem natural introduzidas pelo arbitrio régio (privilégio real) sio sempre mal recebidas (Hespanha, 1991), pelo menos até ao momento em que, subvertida a concepgio corporativa € substitufda por uma matriz voluntarista, se comece a ligar o estatuto das pessoas — como, em geral, a constituicio politica — a um acto de vontade soberana ‘A durabilidade, em Portugal, deste paradigma é notivel. Nos finais do século xvi frei Joio dos Prazeres (no seu Abecedario real, ¢ regia instrugdo de principe lustanos, Lisboa, 1692) continua a recomendar moderacio «na pro= pria Magestade» (p. 65) cuidado na introducio de novos costumes: «0s costumes (...) noveleiros, ameacio a Republica» (p. 72). O bem comum, por sua vez, continua a ser tido como compativel com a ¢honesta conve~ hhiencia particular» e esta com aquele (p. 127). Mas ainda nos meados do sé culo xvi, numa obra enciclopédica de Damiio de Faria e Castro dedicada 3 instrucio ‘das elites politicas (Castro, 1749), 08 alicerces te6ricos da teoria social e politica continuam a ser os tradicionais: «As Ethicas de Aristoteles serio o Nortes (Castro, 1749, vol. 1, «Procmios, inumerado 5). Na indica ‘Gio dos seus modelos nio vai mais além do tacitismo cristianizado, tica crista. A proposta de uma politica dirigida pela moral (ese a Polit vil o nio for Moral, pouco merece este nomen, ibid, inumerado 3), pela Jjustiga [ea justica (...) cinje o Real diadema da magestade, e empunha 6 cep- tro do Imperion, ibid, 48)], pela obediéncia as leis naturais («Fazer que 05 Oeaeggre im, gozavam 2 de foro) as sma Orden, os familiares 1). de certas res, dos am jos criadores 2, pp. 279€ estaruto ju po tentando) tetido tanto) : especial de recedéncias, ee westador apenas «de~ de exéreitos Tum feudal, theirs ple jamente era §€ conside tudo apes \redesenho como m= dida como. ima consti= al medieval se brasdes anobrezs nobremen- xercicio de ntroduzidas nha, 1991), rporativa € fatuto das ie vontade S inais do strgdo de > ana pro dos do sé dedicada 3 da teoria Aristoteles Na indica 1 da poll ities Ci- 0 5), pela ha 0 cep= er que 0s [A REPRESENTACAO DA SOCIEDADE E DO PODER Geeiros observem as Leys, ¢ desajustarse elee das da razio, he querer hum Sexo formar homens», iid.) ¢ pela medida da prudéncia [sa Prudencia (...) Pesncezs das vireucles», ihid., 42). O principe é tido como obrigado ao «bem Ipeblico» c 3 sutlidade dos seus vassallose (ibd., 114; note-se, em todo 0 ca- © © sentido indeciso da formulacio). A aproximacao entre o governo da Eeablica ¢ 0 governo da casa, entre politica e economia, e a consequente Gesuacio da cspecificidade do vpiiblicox em relacio a0 «privados, sio con Hess (ibid, pp. 182 © segs.) A POLITICA CATOLICA A muincarat, ConneNTE da politica catélicax — relembramos uma pro- ‘eests que, condenando 0 pragmatismo amoral de Maquiavel ou de Bodin, Sei em todo o caso, atenta 3s exigéncias da construgio ¢ engrandecimento 4 Poder nos mutiveis condicionalismos histéricos — € 0 tacitismo, divul~ ‘Geto sobretudo a partir da obra de Joost Lips [Justus Lipsius, Politicorum Se coils docirina (...) qui ad principatum maxime specant, 1589], que propde SS politics pragmética, atenta 20s condicionalismos de momento, tal Gem estava documentada nas obras do historiador romano. Mas que, além S Seber nestas fontes pagas, beba também nas fontes eristis, adoprando ‘= Gileulismo politico modezado, que combine a atencio pela realidade po- Hem concreta c pelas suas exigéncias préticas com o respeito pela matureza Sebrenatural da sociedade e do Poder®. Com 0 mesmo sentido ¢ neste mes ee ano, edita-se em Itslia uma outra obra que, inspirada também em Té © (Torgal, 1081, vol. 1, pp. 208 e segs.). Assim, © primeiro — num passo ‘Se Inquisicio condenow — considera os desacatos 2 pessoa do rei mais ne~ Eesstados de castigo do que os desacatos a religido (Torgal, 1981, vol. 1, © 220). Mas 0. providencialismo das correntes sebastianistas* — nomeada- Sate o do padre Anténio Vieira — nio deixa de favorecer, afinal, a ideia de tno rei e nas dinastias depos Deus uma fungio escatol6gica, revelivel pelo Sseado de sinais encobertos (literatura profética € cabalistica, manipulagoes n= mencss, etc). TNo scculo seguinte, um providencialismo deste tipo continuava a vicear. Logo no inicio de Setecentos, Sebastiio Pacheco Varela, um monge asceta preco- emente morto, aproveita alguns conceitos musicais ¢ aritméticos para propor ‘© principe (D. José) ensinamentos de politica®. Parte de um tépico corrente S Eesatira cocepesta —o da proximidade entre a misica © poliica —, Sxplorado com a vagudeza» tipica da época. A politica em causa é a evirtuosar © ©, ou vcatholica» (a que se refere o titulo), atacando-se duramente Maqui Selec os «atheistas praticos» —e mesmo Tacito, simitador de tiranos» (p. 345). ‘Ms © providencialismo que repassa toda a obra — ¢ que chega 20s conhec es cxtremos da teoria esotérica dos ntimeros, descobrindo nas datas, por ma- aritméticas, significagSes oculas (v.@., p. 40-41) — reforca a digni- Gee do rei, escolhido por Deus. Ele nao € apenas 0 »Sol da Magestades © 2): € também o »Descjador (p. 47) {7 sPovo, sem Rey, he sem Pastor rebanhow (Francisco [Antonio Monies de Campos, Prinape pret, Bibl. Nae. Rio de Jneizo, 1790), A oposicio fife» et coga da nator {Gbethas), a desordem ansrquice {gatinhotos)'e'3 ordem dst SScedases humanas, 3ob © gover ds ead pe crmo politica (re) const © fore deste vemblemas- Hominum Regimen Deos pofeits EX ex Grex, ubi non eft Rex. ww F EMBLEMA XI. EMBLEMA XX. “Quis Gre 5: lenius almus. ; i tne ae Pee adie orate. Qutregh pase Marae, Numins far Atconponit Ape eae: tenacess ea er en fica eae 7 amin: ‘Rex ergo paftat dirigat,argucregat. aye fire as Cres @ numer : 135 SiGrex dirigitur, egat inculeam a idela de que reinar é tam servigo de que a0 compete sobretudo a defesa dos Elo tribunil rel @-0 foro privilegiado dos pobres, das Sitivas ¢ dos miseraveis. D. Joio V na eerimonia do havi-pe ‘Hist Lisboa, cots: BA Co 24%.) Foro: BN, Lisboa 7 Dorante o século xv houve Portugal modelos mats actives de S2b‘o pul do. poder, da o se yver abo. Ua des fbi'a do conde-dugse de Olivares | hips amas a. SAionto Vi, spoiado no conde ae Castelo Melhor (16621608 Gualquer dlasfilhoutendo-se Megresado a um goveno baseado no primado. da ondem tadicon eps modelos jusccalists. a tov: Conde-dugue de Olivares, por Velizguer (Nova Torque, ‘The Hispanic Society of Americ). A Anquirecrura pos PopEREs “AOSICE SEAERLALGSTOMNAICRA a1. Rey DON JOA6 guevTo Dr PoRTUOAL. pen gn emit = SENHOR neers pie aor ete Jilio de Mello de Castro, num elogio feito a Luis Couto Félix, 0 autor de una versio de Ticito (Taito portuguez, Lisboa, 1715), chega a comparar 0 principe 3 divindade, afirmando, simultaneamente, a sua completa autonomia Uo juizo humano: «Sio os Principes divindades humanas: intentar penetrar- ‘hes as resolugdes, parece que he escrupulizar-lhes os attributes [..] $6 asc Tio pata ser julgados do Alkissimo, & parece huma especie de housadia, com circunstancias de sacrilegio, 10s derogar com a censura, os privilegios Ggue Ihes deo o Geo como nascimento.» [Inumerado] Também o jurista Diogo Guerreiro Camacho de Aboim, apesar de autor de uma obra de politica («ver dadeiras) bastante tradicional (Eola mora, politics, christ, juridica, Lisboa O tidental, 1773, pp. 29-30), pela mesma medida da piedade, se recusa a dssestar Sobre as virtudes dos printipes, 30 mesmo tempo que decora os reis com © epiteto de «Vice Deoses na terra» (p. 23), 08 declara wde toda a ley humana izentos, sic leys vivas, e fazem entre os homens a figura de Deos (p. 48). Em 1750, Filipe de Oliveira, numa Oragio fiebre panegyrica, ¢ historca nas exesuias da sempre august, efidelssimo Senor D. Joam V (Lisboa, +750)", actescenta que wos Reynos de Deos sio os Reys de Portugals, © que +0 Reyno era para o Rey, € 0 Rey era Reyno para Deos» (p. 5) — inversio clara do sentido tradi- cionalmente dado a relacio entre rei c ino (que subordinava o oficio do rei go bem comum da repablica). Damiio de Faria e Castro, autor da tradicio- nlista Aula polftca... escreve um dos afloramentos mais interessantes do absolutismo providencialista, Numa resposta” & censura severa da obra Cla- mores politicos, elogio fiinebre a D. Joao V (provavelmente nio publicado), revela tanto 0 contciido do texto primitivo como o sentido da censura pol tica oficial, a qual nao deixa sistematicamente passar as frases mais emble miticas do providencialismo de influéncia francesa, Na expresso «Sua Ma~ gestade ji esti no Ceo senda huma Divindader (p. 9), 0 censor substituin "Divindade» por eCoroado do mais soberano Diadema», Na resposta, Da- autor de mparar 0 penctar~ ivilegios 2 Diogo boa Oc- humana 48). Em enta que 1 para 0 Jo tradi- 0 do rei radicion bra Cla- iead 3 polie emble- aM bstitais a, Dae ‘A REPRESENTAGAO DA SOCIEDADE F DO PonER Faria insiste, dizendo que «nio ha duvida, que os Reys sam Sem ss terra, ¢ Viceregentes o Supremo Omnipotente, ¢ por isso Ihes 2 competir o nome de Divindades» (p. 11), «Deste modo, participan iG no sco ser humano hhuma grande parte dos Attributos Divinos, que Deos da sua independente simplicidade, podemos dizer, que el- (pee virtude da sua simples, c independente abstraccio, sam puros, sam Sest0s, sam unicos, sam hum na essencia, e muytos nos applauizos |...) ¢ 3 mancira de Deos simplicissimos Reys completose (p. 19), no que pa- == ama clara relacio com o tema bodiniano da indivisibilidade da so- Ea propésito de outra critica, termina Damizo de Faria com a eo de que 05 reis «sam Imagens de Deus, Delegados do seo poder, wes supremos por participacio da authoridade Divina, Vice Deoses $=. com pleno, absoluto, ¢ dispotico dominio; no oficio de governar fes 20 mesmo Deos, € que reprezentam nos seos Estados a Digni- = Pontificess (p. 37) Em. Trats-se do programa completo do absolutismo providencialista e a corte francesa, sugerindo leituras desse quadrante, indiciadas, de por alguns galicismos que o censor anotou («montar a0 trono»), E, Sesdade, 0 escindalo do censor ¢ justificado. Pois uma répida exploragio Becsstara congénere da época (v.¢., clogios e oragdes académicas ou fi 2D. Joio V) mostra que as formulagées de Damiiio de Faria destoa- Se babitual, em que 2 comparagio do rei com o Sol ou com a divinda- BS & seeferis uma sua consagragio como her6i (tépico vulgarizado com =a © Hentado contra D. José (1758) vem propiciar o exacerbamento do re- Betsmo. A pessoa do monarca é sacralizada e qualquer critica ou atentado Bee Be scam ditigidos sio considerados sacrflegos. Em 1760, Braz José Re- Bet Leite refere-se cm termos durissimos a qualquer acto menos respeito BSS Fss02 do monarca”, Para cle, «20 Vassallo nio pertence indagar [...] B= © seu Monarca manda por em pritica este, ou aquelle systema» Assim, sno somente os que obram, mas os que proferirem palavra Bees « sagrads Pessoa do Rei, incorrem em culpa grave, e se The pode, se~ Be os leis Patrias, aplicar de algum modo a pena até a de morte» (p. 9). BSScuivamente, a oracio foi suspensa por ter sido considerada injuriosa Ip 2 ales nobrezs. Boessr destas manifestagdes (embora sujeitas, como vimos, a contestagio SSenremente forte para originar a sua suspensio), uma sua teorizagio ac Bek: — desvinculada do providencialismo e findada na ideia laicizada eso natural, mais abrangente e menos sujeita a contestagio — nao esta- Be Ss estabelccida em Portugal. As obras que a hio-de levar a cabo vio Beerecee durante © consulado pombalino. O ABSOLUTISMO DE RAIZ CONTRATUALISTA A concrrcio 1pivipuauista ¢ voluntarista da sociedade e do Poder é, scotura, a mais dificil de enraizar, quer nas representacdes sociopolitcas Bestiooas, quer nos contexts pollichinstuctonas nacontis A oa pee Soria no pensatnento politico pormgués também € obscura (alguns ele~ Sesto: em Andrade, 1966), embora — como ja tem sido notado (M. Vil- = 1061 © 1965) — seja possivel entroncar alguns dos seus clementos SSesdualismo, voluntarismo) na segunda escolistica peninsular. Seja como Se © paracigiia individualista parece surgir abruptamente, mas com uma Sec expansiva devastadora, nos meados do século xvm, como a filosofia & base do pombalismo. Siivz Dias, num notavel (c praticamente tinico) estudo sobre a teoria poli- = do pombalismo (Dias, 1982), mostra como, na sua primeira fase, 0 dis- Ss politico do pombalismo se desenvolveu em torno de duas vertentes > problema central, do ponto de vista da pritica politica, que era a finda Sextacio do absolutismo. A primeira vertente, de recorte teol6gico e jusca- omits, abordava a questio dis relagdes entre 9 poder cil ( iepern) co olitcamente conservadar, Fepeltdor da constnuigao tradicional, do primado: do diced canta dos Conseos e dos jurtas. Apesar diss, veriicam-se neste remuado Sluts factos politicos sin tanto Inovadores, como 3 ni audicio dls cortes para a renovacio dos tributos militares ou a aprovacio tm corte de les fundamen, siterindo o pacto de Lamego. © Banco de Portugal, Lishoa Foro A. Sequaiss (O caracrER ABSOLUTO DO PODER (© caRACTER PURO DA MONARQUIA ‘A Angurrecruna pos PopEnis poder eclesiéstico (0 sacerdotiom) e, em certa medida, prolongava ¢ rematava hima corrente de pensamento regalista que j vinha do século xvi, como vi- mos. A segunda, de pendor jurisdicista, ocupava-se das relagdes entre a co~ toa e os outros corpos politicos (nomeadamente as cortes). Por ora, nestas ‘léeadas de 0 € 60, esta segunda vertente aparece ainda como menor, em- bora possa constituir am eco, residual e jé longinguo, das polémicas consti- tucionais sobre as relacdes entre o rei e as cortes durante a regéncia e reina~ do de D. Pedro IL ‘Mas 0 mais caracteristico da tcoria politica pombalina e pOs-pombalina é imagindtio politico que subjaz 3s suas propostas mais imedintas. Ou sea, 0 ogo nave como ela entende a sociedade ¢ o Poder, ambos concebidos como proditos menores de uma ordem objectiva posta directamente por Deus do Eine do jogo, pacticio ou naa, dos fmpetos individuais. Jé nos ocupémos. das iiges flosoticas do paradigma individualista, Mas, no contexto portugués, Sua subita e clamorosa fortuna nio pode ser desligada nem dos contexts pré- tico-politcos, nem da insercio deste paradigma doutrinal no centro dos apare- thor de reproducio ideolgica do pombalismo, nomeadamente a universidade. (Os primetros explicam a sua recepgio; os segundos, a sua diftsio falgurante como ideologia social politica (© pauntemo DESTES CONTEXTOS € constitufdo pelas tensbes entre @ poder temporal e 6 poder espirtual nos primeiros anos do reinado josefino, Como felere Silva Dias, 2 defesa da autonomia da coroa fice 3 Igreja supe que s¢ Tejete uma econcepcao sacral da sociedade, isto 6, a visto da sociedade civil i hinagem e semelhanca da sociedade eclesidstica(...] 2 visio do Estado co- mo braco secular da Igrejav. Mas a secularizacio da sociedade temporal ape- thas era possivel se, 20 conceber esta, se prescindisse da ideia de que ela Constitufa uma ordem da criagio e, logo, um todo originariamente organi- fo. Postas a8 coisas nestes termos, foi ficil extrair as consequéncias politicas ‘Seécjadas quanto fs relagBes entre 0 sacerdotivm e o imperium, nomeadamente fisengio dos eis, no temporal, em relagio a0 papa (Dias, 1982, p. 48, al. g) € 0 teconhecimento de um poder real de eutela temporal sobre a reli gido © a Igreja (ibid., p. 48 al. #. ‘A Deduetae ehronologica e analytica, primeira grande manifestacio literéria, ‘em Portugal, desta nova concepgao politica”, insere-se directa e primaria- mente na poigmica antipapista, defendendo a tese de que o rei é «soberano, ngido de Deus Todo-Poderoso, imediato & sua divina ommipoténcia, ¢ 0 Jndependente que no reconhecia na terra senhior superior temporaly (Par Tel p. 441), © que, portanto, so sabominiveis ¢ sediciosasy as teses de tique todo o poder temporal era dependente do governo eclesistico, por ser wae o inice govemo que Deus tinha criado; que as leis seculares nao obri- {gam no foro da consciéncia; que a todos ¢ Iicito desencaminhar as gabelas ¢ ‘Sabutos estabelecidos para 0 bem comum dos povos, contanto que os de- Sencaminhadores ndo sejam descobertos; que 0s tais tributes, impostos sem Sutoridade do Papa, sio injustos ¢ excomungados 0s principes que os esta- pelecerem; que em ‘castigo destas leis e excomunhées dos principes que as fem publiear, vém as mortandades © as mais piiblicas desgracas; que & permitido aos vassalos julgarem, com o seu particular conkiecimento, Byes dos respectivos soberanos ¢ assassind-los quando Unes parecer que ¢ iti Stelos do mundoo (Parte n, dem. rw, § 23, apud Dias, 1982, pp. 35-36) ‘Todas estas proposigoes agora condenadas sio tipicas do pensamento peliti- co papista, que cra 0 gue aqui estava sob fogo; algumas sio directamente retiradas da Bula da Ceia Desta ciracdo JA Se vé Que, ainda que 0 contexto politico directo da obra fosse a polémica antipapista, cla acaba por, no mesmo movimento de Quiltagio do poder da coros, atingir outros poderes concorrentes, estes jé tno Ambito sceular. Neste plano — por assim dizer, subordinado —, 0 alvo da Deduegio chronologica € a doutrina politica da Contra-Reforms — aqui identificada, com alguima justfieacio, com as posigGes tebricas dos Jeuftas e,

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