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PIERRE LEVEQUE 0 MUNDO HELENISTICO ‘Titulo original: Le monde hellénstique © Armand Colin Tradutor: Teresa Meneses Capa de Baigfes 70 Jorge Machado Dias Tlustragdo da capa: niKe (Vit6ria) DE saMOTRACIA cerca de 190 a. C. 7 ‘Todos os direitos reservados para a lingua portuguesa por Edigées 70, Lda,, Lisboa —roRTucaL epigdes 70, 10A,—Av. Duque de Avila, 69-r/e Bsa.—1000 11sn0a ‘Teel, 578365/556898/572001 ‘Telegramas: serexra ‘Telex: 64499 extos Esta obra est4 protegida pela Lei, Nio pode ser reproduzida, ‘no todo ou em parte, qualquer que seja o modo utilizado, incluindo fotocépia e xerocépia, sem prévia autorizaglo do Editor. ‘Qualquer transgressio a Lei dos Direitos de Autor, seré pastel de procedimento judicial. spaicemRbp sy es fedigoes 70 fe, lain = men. 2014 Capitulo TI © MUNDO DA CONQUISTA: ‘A EXPLORAGAO DOS REINOS Os sucessores de Alexandre encontram-se perarte tm peo- biema que jé tinha sido o seu: organizar a vida econémica e soci ‘nos reinos onde tradicionalmente ela era regulamentaca pela auto- ridade real, Dedicam-se a essa tarefa com 2 preocupagio constante —que se trata da mais clementar das sabedorias— de nao pertur- bar demasiado a ordem anteriormente estabelecida. Mas as con- digbes novas — desenvolvimento de uma burguesia capitilista de, ouigem_grega e, no” Egipto, introdugio da moeda— determi- nam transformagoes profundas, especialmente vistveis nas cidades. Assobreposicio de uma classe de conquistadores 2.uma massade indi- (pends vericidos (mas, a maiGe parte dos quais habituades h4 muito a dominagées estrangeiras) dé ao_mundo helentstico a sua ficies pica ¢ far dele, frequenterente, « prefguengo do Impédio A urbanizagio A civilizagio arcaica e clissica tinka coincidido com 0 desea- volvimento da pélir e era nos grandes centros urbancs, tis como Mileto, Corinto, Atenas, Siracusa, que se tinha desenvolvido civi- lizagio grega. Alexandre tinha mostrado bem ser 0 herdeiro da tra~ diglo, a0 semear 0 Império que acabava de conquistar com mume- sosas Aleyandrias, destinadas a helenizar o Oriente e « reali essa fasio de racas que ele considerave necesséria, Os seus sucessores seguem inegavelmente a sua politica que lo deiiaed de inspivie também a de Roma: os Séléucidas fundam znos sens Estados inimeras cldades novas; os Atdlidas, uma Asia Menor urbanizada desde hé muito tempo, fundam, n0 entanto, 9 Fig. 4. — Urbanizacao do Oriente e criagées dindsticas Pérgamo, para terem uma capital capaz de rivalizar com as grandes metrépoles do Orieme!; o Egipto dos Lagidas continua paramente rural, mas Alexandria, cago de Alexandze, conlhece um prodigioso desenvolvimento que faz dela a cidade mais importante do mundo hielenistico (Eg. 4). As eringies as Seltcidas Seleuco I, por si s6, funda cerca de sessenta cidades, entre as quais 16 Antioguias (com 0 nome de seu pal) e 9 Seleucias, As ctiagdes multipliam-se no seinado de Antioco I, mas tornam-se ‘mais raras nos reinados dos seus sucessores até Antioco IV Epi fanes, sob o qual recrudescem com esplendor. Aliés, no nos devemos deixar iludir pela palavia efundagioy que no implica ‘ecessisiamente uma criagio ax wihilo, mas que esconde por vezes ~umsinecismo de aldeias, ou a clevagio de uma aldeola indfgena ~ a dignidade de cidade, o& mesmo uma simples mudanga de nome. ~Bstas cidades s40 vetdadeiras poles, no sentido grego do termo, ‘com um territério, uma autonomia municipal, especialmente em matéria judicisia e financeira, e com magistrados. E certo que jf fio representam Estados independentes como na épocs clissica, cestio, a maior parte das vezes, estreitamente submetidas & vigi- Tincia de um governador (epistates) e, por vezes, tm’ de" teceber juma guarnigio, O ci, alids, concede'thes diferentes mostras de Elantropia, patticipando com © seu proprio dinheiro na cons- trugio dot etificios piblicos, socozzendo-as em caso de cathstrofe, concedendo-thes privilégios que asumentam a sua independéncia, tais como 0 diteito de asilo ou 2 inviolabilidade. Os objectivos desta urbanizagio sto bastante diversos. As cidades favorecem 0 desenvolvimento sconémico, que aéresee, ‘na mesma proporslo, & forrana.do zei, Elas permitem a implan- tage de tropas, que guardam os grandes eixos de cixculagio © as posigdes “estritégicas: 0 caso € altido na Asia Menor, disputada Encarnigadamente 20s Atilidas, onde as instalagdes de clerucos sob fa forma de pequenos agrupamentos urbanos (politéumete) sto fem grande némero. Elas diminuem as resistencias indigenas, fragmen- tando as antigas satrapias entre as cidades. Chegou mesmo a pen- sarse que 08 soberanos encontram ai um hibil meio de satisfazerem 1. Outen regides sto helenizadss na Anatlia sob o ionpulso dos Arild ‘apecislmente a Panfilia (planicie entee o Tauros e a costa meridional), tcra [Bes em celizagBes vebanas que, tal como Péxgamo, sapresentam um valor ‘monumental, un aumento das proporgdes, uma coroposigio arquitecural que fio 4e encontiam em qualquer outto lugar» (R. Martin). Perge, por exemplo, possi magaieas murathas helenisticas, 61 fo gostor tradicionais dos seus stbditos gregos, poupandose 20 peso de uma administragto como a que os Légidas tém de utilizar ano seu reino puramente rural. Enfim, nfo esquecem completamente © pensamento de Alexandre, se nfo se trata mais de proceder & fusio das sagas, pelo menés sonbam com 2 helenizagto do Oriente, com o duplo fim de melhor dominarem os indigenas assi- milando:os e de expiadizem a cvilizagio geegn, considerada supe- ior ¢ a tinica digna do homem. (Os resultados desta politica sto desiguais. Os Seléucidas criam dificuldades « si proprios, pois as cidades sio turbulentas, segundo 4 grande tradigfo grega, € xegistam-se, por exemplo, virias revol- tas de Antioquia. E verdade que o ‘sistema persa\ das satrapias no era muito mais favorivel a um poder central forte, Por utzo lado, limitam os seus rendimentos, tiando terras do rei para doarem tetritérios as cidades, enquanto os impostos directos ou indizectos por elas pagas xendem menos do que a exploracio do solo pelos camponeses do rei. Mas, para além dos beneficios mili tares © econémicos, a urbaniagio~é, politicamente, uma_medida bil, pois ¢incontestavel que ela favorece a difusko do_helenizmo?. Enguanto os Légidas se comportam com demasiada frequéncia como capitalistas, preocupados usicamente em aumentstem os seus rendimentos, os Seléucidas conduzem-se como reis, nlo negli- genciando os interesses superiores do seu sein, DOURA # ANTIOQUIA [As cidades selévcidas so constridas segundo © mesmo mo- delo e segundo as regras estritas do usbanismo hipodimico3. Sto constragbes Rtas 8 press, que #6 raramente d¥0 Sma impres- io de monumentalidade e de beleza 2 A difosto do diceito grego até 0 Info selducida € notivel, Foram. cnconteades extias de alforria seguro os usos greges na regio de Gorgan (00. tanto sudeste do mar Cispio, na Hiscinia) © em Seléucia de Eulaios (Sus): Ho. dadas tao interesse do rei e da sainhay e-0 cicravo ¢ consagrado, depois a sua liberasio, 2 uma divindade, Seefpis no primelro caso, a deus indi- fgena Nanaia no segundo, —No édito de Aatioco Ill em Laodiceis, cl infra, “So wpmimo hipotimico ipascen cea de ate. A digo lige o von eine whi aes, as i, ls te ey sated’ es pecpnn attcovs cicsia cperatncne out des Sicins at fndade en dls prccin nove: ‘har tau corapee em taguorice 6 que produ une dips fin mbit de sade, afm que aa, Cinta dol cbs pep Sine vies set 0 is tus eles tomas 2) © plan sper Sccor seer, por spl, buco expec 20 gut, oth alle pblicon ne tabla wa PS * 2 ‘Uma primeira zona de urbanizagio ¢ constitutda pela antiga Mesopotimis, com! Antioquia-Bdessa, Antioqula-Nisibis, Doura- “Enropos, Sieucia do Tigre, Babilénia. Destas cidades'a que € melhor conhecida, gragas a’ belas campanhes de escavagdes, & Doura-Europos, na margem dircita do Eufrates, criagio de Seleuco I Cidadela que garda a passagem da tio © centro comercial de primeira ordem, a cidade esti constroida como um tabuleiro de sxadrez em torno de um vasto égora. As suas instiuigSes sio gre- ‘gas, com urma bowlf, um estratego, tesourciros, siofof encarregados do reabastecimento de trigo, mas o rei exerce 2 sua vigilancia atra- -vés de tum cplatates. Os cidados tém Arai (lotes de terra) que, sio trabalhacos por indigenas. Mas, a0 lado dos templos dedicados 4 deuses greqos (Zeus Mégistos$, Apolo e Artemis), os saatuarios de divindades locais sto qumerosos e a arte é um bom testema- nnho da precominincia répida dos elementos orientais. Em todo | © caso, a pmsperidade econémica é grande ¢ 0 desenvolvimento \ Ge Dours seri continuo, para além da ocupagio pértica, durante \ a época romana, |As mais belas ctiagdes seleucidas situam-se, no entanto, na Sfria, que alés se tozna o centro do reino depois da sua di nuigio sucesiiva. Contam sobretudo quatro localidades: dois portos, Seleucia de Piéria ¢ Laodiceia (Latakich), duas cidades no Oronte, Ant ¢ Apameia. Atioguia sth situada na mazgem esquerda do Oroate, 2 22 km_ddfoz, num vale rico, cuja largura neste sitio é de cerca de 40 km e cuja fertilidade do solo ¢ abundincia de precipitagies permitiram transformar um vasto jardim. O Oronte, navegavel até a0 mar, é ladeado por uma estrada que noutro sentido, permite atingir por meio de caravanas a Asia anterior. "A cidade, fundada em 300 por Seleuco I para 10 000 colonos, atinge um desenvolvimento considerivel. No fim do periodo hele- ristico, ela agrups, sem contar com os grandes subirbios indigenas, 400.000 a 490 000 habitantes, separtidos por quatro bairros: dois junto do rioe que datam da fundagio, um terceiro, Nedpolis, auma ha do Oronte, anexads por Autiovo TIT o Grande, um quarto nas primeiras encostas do monte Silpios, obra de Antfoco IV Epifanes que manda umbém cercar a cidade de muralhas. O plano esti feito segundo as sormas vulgeres do urbanismo helentstico: uma grande via segue peralelamente ao rio e € cortada por ruas em angulos\/ 4 Muito grande, cy As instinuigdes de Antioquia sio as de uma pél, com boult € arcontes. Muitos Gregos vieram juntas. 208 coloa0s. macedé- nicos de Seleuco I € 0 elemento indigena € importante: numerosos Sirios naturalmente, que se helenizam rapidamente, « Judeus, agrupados num ghetto. Metrépole cosmopolita de ruis cheias de vida, com uma industria téxtil florescente, © capital do reine seléucida, Antioquia € uma das cidades mais pedsperss © male animadas do Oriente helenistico. ‘Mas, apesar dos esforgos de alguns dos seus reis (Antioco TI e Antioco IX procizam ambos estabelecer ai um Museu e uma Biblioteca) ¢ ainds que al se trabalhem os metais preciosos, ela mio pode rivalizat hem com | Alexandria 'nem com Pérgamo como centro litericio e artisties, | OQ seu destino ¢ set uma cidade levantina cuja incompasivel riquess © ,dsstino de Pérgamo € completamente diferente. A capital dos Atilidas erguese a 30 km da costa, sobre um esporio foraade or dois afluentes do Caicos, 0 Selinunte e o Cétios: esta plats. forma de traquite, com 333m de altura, constitui um’ sitio admirivel, mas dificil de organizar para a construgio, por causa pre cisamente da sua altura. Os arquitectos conseguem resolver a sikua. so sobrepondo trés cidades, ligadas umas as outras por escadas, Com mirantes ¢ terragos que suportam porticos de dois andares, fEsfermunham um gosto novo pelo pitoresco e que se adaptam pore Belo feitamente & paisagem (6g. 3) A cidade alta, a mais importan te, aquela onde se concentram as Fungées politicas ¢ administrativas, possui uma igora dupla, dell ‘mitada por um templo de Dioniso, 'Na plataforma superior fica 0 grande alter de Zeus ¢ de Atena, um dos mais notivess edificios tanto pelas suas dimensdes colossai is como pela belesa romantica a decorasio esculpidaé, o santuitio de Atena Poltade, delimivade Por dois pérticos ¢ dominando soberbamente o vale do Sclinunte (como seu templo dérico de s6bria decorssio), a Bibliotec:e, mesmo Zo alto, o palicio e um vasto arsenal. ‘Nam nivel um pouco inferior, fica 0 teatro, dominando ele préprio um longo terraro em caja extre, midade se ergue o pequeno templo j Na cidade do meio encontra-se jénico de Dioniso, um magnifico gindio, talvez © mais belo do mundo helenistico, disposto em vérise’ planos 3 Sobre © usbanismo de Pérgamo, © Ch ifr, pig. 128 © pig. 136. cf. fre, pig, 130. ted | HN mi «ies por grupos de en « de pagent te samosas oe te ana © EES a (Rainka) separados pelo Pritanew. Acids any vote de am epee pp Deane 2 tas eon", soec Bal oe cidade admiravelmente bem conseguida, edificada ar acon fan ace guia "sO See ge Stats et ar tak me SPS so com que os helentons fizeram do vasto sitio de Pérgano Cn ae os ee Oe elas actividades mltiplas, de que pes Se Blea po gees a Pee ee Clay ie Sonne Siac See Ein he Asia, Mas ela € 0 cemtro um tertitério i » ol eo 9 cee Geom oe, wip Srad Stes Het seme SS 65 ch cidade), Para além disso, Pérgamo ¢ a capital de um Estado gue, ndo tendo as grandes dimensSes dos reinos helentsticos, é cet- tamente um dos mais bem administrados e dos mais ricos. ‘A ambigdo dos Atdlides é também fazerem de Pérgamo a Ate- nas do mundo helenistico. A sua Biblioteca rivaliza com a de Alexandria; 0 palicio real encerra um verdadeiro museu de escul- turayonde nasce, sem divida, a critica de arte. A sua escola de ‘etores, os seus ateliers de escultores, amigos do patético © do feito (v. infra, pig. 136), sio célebres com toda a justiga, assim como os seus artistas cionislacos, também eles protegidos pelos soberanos, gracis aos quais a cidade se torna © principal centzo da ate dramética. A mais bela homenagem a Pérgamo é tlvez a de Plinio-o-Velho (33, 149): «A partie da morte de Atalo (o soberano gue legou os seus Estudos aos Romanos), os Romanos come- garam a gostar, © nfo s6 a admirar, dos esplendores estrangeizos.n Pérgumo, escola de Roma, corresponde a Atenas, escola da Grécia Alexantria do Egipto «Tudo o que pode existir ou produzir-se na terra, encontra-se no Egipto: fortuna, desporco, poder, céu azul, gléria, especticulos, filésofos, ouro fino, lindos ‘apazes, templo’ dos deuses adelfos, © rei que € tio bom, Museu, vinho, todas as coisas boas que podem desejarse, e mulheres, tantas mulheres...» Este é 0 discurso con- faso, mas Yeridico, de uma velha alcoviteira no Mimo 1 de Herondas (26 ¢ seg,). De facto, a cidade fundada pega a pega por ‘Alexandre, no Ingar de ama aldeia de pescadores, Racétis, resume todos os esplendores do Oriente. A CIDADE = 0 PORTO ‘A cidade de Alexandria estabeleceu-se 2 este do delta, no istmo entre 0 mar ¢ 0 lago Mareétis, perto do brago Canépico do Nilo: sitio salubre, mesmo no Verto, por causa dos ventoe etésios. © porto, protegido pela ilha de Faros, fica relativamente ao abrigo dhs grandes tempestades (fg. 6). A cidade antiga € mal conhecida, por causa do aluimento que a escondeu sob as 4guas. Sabe-se, no entanto, que ea tem uma forma alongada (a de uma climide, segundo Estrabio) ¢ que 0 seu, Perimetro € de mais de 15 km. © plano, desenhado pelo x8dio ‘Deindcrates, € hipodamico. Duas iss piincipais, de grande largura Ge m), cruzim-se em ingulos rectos. Esti dividida em cinco Yairros, que tém o nome das cinco primeirss letras do allabeto. Entre os monumeatos mais importantes, destacamse 0 giadsio com 66 8 LOtdSos ee Orsi Fig. 6. — Alexandria helenistica os sus mpi an, dn om), én soit ee Coton ose ame i Neges on i ou ea eO e 2 che mam a re goers ee ot eno coe oar ie em Se te se ahh Fc ey me eo ee Zoi Ls oS Soe ac ss Oo Te en a ees ee ig Penk ole de Ste eo sexo (ro 2), cams or ums pes nde ome rel _ nae de Rh a meal tas. HM que se exgue o Serapéion. Além disso, a cidade depressa omen o rege cu toe ono Seite Bee on 2 Ne igs pasta loge do cal tee Ama eee ee ee or A preocupasio com 0 conforto e a limpera é levada muito Jonge: a agua € distribuida através de uma esteeita rede de cana- lizagées ligada ao canal que traz a égua do Nilo. UM TURBILAAO cosMopoLITA. A cidade oferece um dos especticulos mais cosmopolitis todo © Oriente grego: Segundo Fstrabio tem mais de um mulhzo de habitantes. Af se acotovelam todas as nagées: Gregos, Egipcion, Sitios ¢, a partic de cert data, Itdlicos, $6. por ives Jedeut oeupam dois quintos: ss suse violentas disputes “com os. Gregor rem mls vees perushagdes gaves que se prolonglo tt época romana, » pelo menos aparente- pot Saeco stdin scl: 4 ul, ctada por Alerandre ¢ tiptimids pouco tempo depos, + tila, orgatizada segundo 0 sistema ateniense, com thon, fa tras e'demos. © magistado mais importante paceee ser 0’ gina siazea, que aparee como o sepresentante dos cadione-o defensor ths libetdades republicanas. De facto, nutba cidade que & tamer tapital de um seino fortemente centaliado © resileeda te + autonomia & mais fachada que realidad: os fonciondsios seals iis uemse nos assuntos muniipls, domeadamente o «chefe a guards de noite, ealae de wim cargo muito pouco conhecido, mas indubi tavelmentepessimo do que it ceupar em Roma 0 peta dor Viele A vida € animada, barulbenta,frenética, As perturbagées de Alezandcia cantadss ptlos poctas vio servr de snodelo abe tah ticos que evocario at de Roma e depois as de Pars. Praicanese todos os prezeres, mesmo or menos inocentes, eAfrodite est a fomo em casa> dia Herondas (26). Como nfo € ail econ. deese oa cidade, muitos eamponcses que fogem ios pesos da vide rural refogiam-se Id (v. inf, pig. 48). © povo € turbulento 0 seu expito de rebeliio teve multis yeses ocaao de se manife far durante as querelas dinftcas do sécalo Th, tal como dumate a Intervengto de Julio Cesar? AS FUNGOES DE ALEXANDRIA Alexandria € praticamente a winica cidade do Egipto, pois nfo sio de ter cm conta as duas cidades que tém também esta- tuto de péliz, a velha Néucratis ¢ Prolemais, fandada por Soter. 7 Op rumultos semontam a 303, quando 2 incha of maue conselheitos de Filopator, Ses Popelasio 68 Rie Sfo trés os factores que explicam um desenvolvimento tinico tna histéria do mundo grego. Em primeiro lugar € 0 centro poli- tico do reino ligida dé abrigo & enorme burocracia que admi--| aistra 0 Egipto. Em segundo_lugar é o-centeo.de uma actividade econémica 7. intensa. As~manufacturas fabricam vasos de terracota ou de metal, tecidos finos, papel (a partir do papieo), perfumes. Das suas oficinas saiem artigos de luxo de grande nomeada no mundo inteizo (Ww. infra, pg. 141). Alexandria €além-disso tinico verdadeizo porto do Egipto no Mediterrineo, ¢ portanto a sua nica ligacio om os outros reinos hélenisticos © mais tarde com Romat, Porto de importagio para a madeira, os metais, 0 mérmore — pro- dutos que faltam—e para o aeite © vinhns finos. Porto de exportagio sobretudo para txigo, 0 papiro, tecidos ou musselinas de linho, os perfumes, os «artigos de Alexandria». Porto de trinsito enim que zeexpede para todo o Mediterrineo as mercadorias que ‘vém da Africa profunda (marfim, ouro, plumas de avestruz, escra- vyos negros, animais selvagens) ou da Aribia e da India (especia~ sias, aromas, perfumes ¢ sedas). Estas mercadorias chegam a Ale~ xandtia pelo canal de Necau ou pelas pistas e pelo Nilo (v. infra, &. 193 © seg.) ou pelo mar desde Gaza (v. infra, pig. 198). ‘A importincia do teéfego macitimo e fluvial —com transbordo de carga em Alexandria — explica 0 desenvolvimento dos seus (v1, 2 1 ctaleizos navas. Enfim, teremos ocasio de verificar que Alexandria ¢ um dos centrorcalturtis mais vivos do mundo grego. © seu brilho € tl, gque durante muito tempo se clamou — erradamente — alexan Clino a tudo o que & helentstico, Gragas 20 mecenato dos principes ‘esclarecidos, gragas aos grandes legados que eles deixaram a cidade, ‘Yé-se, durante mais de um século, Alexandria A cabega do nave hhelenismo, sascido da epopeia do’ se faadador. Os seus poctss, bios, eraditos, escultores ¢ toreuts ilostata 0 sécolo Tl, Depois, assistese 1 um’declnio nio desprovido de encanto... ‘Mas esta situagio.brlhante coloca-se A margem do Egipto. ‘A férmule ltina Alexandria ad Acgyptim, «Alexandtia 20 pé do Bgipton,ilusta uma realidade valida também para a época ptolo- mica. A grande cidade que ee aseemelha — para melhor — as outras cidades helensticas € a capital de um reino que, na chord, conrinna 4 sua existénca imemorial e imutivel. Esta 6, nd fundo, a verda- deira fraqueea de Alexandria © daqueles que presidiram 20 sea Hed an 4 As sun relagcrafo uve: 0 século Tl fer comérco toberado ‘com a Grécia, o arquipélago, a Asia Menor, « Siria € a Fenicia, Chipre, a Sicilia, ©'Mar Vermtoy © Poors Apert da cad do sisi T extends us ietelt 2 Gamage (nd ty Campania ea Rome o \ 4 M Pyke Pes pes 7 i om ohad de desenvolvimento: obnubilados pelas formas i especificamente gre- | gas do Estado, conseguiram eriar uma ir grande, bela, prerpen, ‘mas sem a integrar na vida do zeino, se encontra como | se estivesse colada. ne ga ce nies a Mercantilismo capitalista e dirigismo de estado ‘A vida econémica softe uma transformagfo sadical. A Grécia deixow de desempenhar © papel central ¢ dominador que tvers durante séculos © que tinha comegido a perder a partir do século IV; apenas cas pragas insulares (Rodes e depois Delon) © Corinto tém ainda uma importincia internacional. Todas as-acti- Piece tendem 4 coneestcse on Asa Menot, ma Sing 20 ipto, oe Ax trocas internecions Isto quer dizer que a economia de tipo colonial que, darante nage ah canis de loi soe Sut ‘Ocidente € n0 Ponto, agora jé nto se trata de fazer excoat os pre- ddutos gregos para as regides subderenvolvidas, Inversamente sui gem dois novos tipos de trocas. Por um lado, 0 comércio dos reinos helenisticos entre eles oa com a Grécia € activo. Assenta primeiro nos productos alimentares (© Bgipto, em especial, € um grande exportador de. trigo: Jnversameate, os Gregos do Oriente contiauam gulosos de bom ‘Vinho, que continus a vir da Grécia ou da Anatolia, ¢ de azcite; 08 papiros informam-nos mesmo de alguns negécios mais especia- lizados, como o cas avelis do Porto) e fas matérias-primas (madeitas, resinas, metas). Em segundo lugar, circulam produ. tos manufaceurados de boa qualidade: cerimica dita megérics, ‘vasos metilicos, bronzes de arte, ex-votos e j6ias, tecidos e tapetes de luxo (mdo'o que € produgio correate é a partir de agora fabricado por toda'a parte como desenvolvimento das indstiss de bus) or fim, o uric de ecavos € gonsderael. Por outro lado, a conquista do Orieate permite x chegada 20 ‘Mediterrineo. de trodutos oripinson da. Aiea, profcia, ck “Acibia, da India: marfim, especiatias, incenso e perfumes, pérolas ¢ pednias, madcias precious. A importinla dos poror so < de Alesndda aplicese em. gunde pire pore € al que rminam_as vias trrestegs ou muaritimas através dis quals esses produtos_sfo transporados. A compra destas mercidorias de ‘geuide luxo provora o deficit da balance comercial, 0 que esti sna origem de uma hemosragia de ouro ¢ de prata que id durar 70 anes © 10 fim do Tmpério romano. Teremos ocasito de reencontrar ‘este teifego longinquo, simultanexmente causa ¢ consequéncia da Subertura do mundo helenistico a regides que a Grécia cléssica conhecera mal ¢ durante pouco tempo. 'f certo que nem todas as condigdes sto favoriveis 20 desenvol- vimento do trifego. As guerras devastam os reinos helenisticos; 2 fitataria, sobretado no sécalo T, € um mal dificil de refteat. (Os Gregos possuem concorrentes com os quais tém de partithar os luesos. comércio com a India pressupte intermedidsios: por mas, os Arabes; por teera, os Partos, depois da constituigfo de uma Paria independente. Até no Meditertineo os Gregos tém sivais ouados ¢ empreendedoz8i: Cartago conhece um novo impvlso,, depois do recuo fectuado durante-a época clssica; Roma inte- ressite Cadi vet mais pelo Oriente ¢, se as grandes necessidader de produtos de Iuxo que nascem na Itilia com a nova avides ds robilitas e da ordem equestre, suscitam trocas, essas necessidades fae sobretudo proveitosas para os nefotiatorer italianos, cada, vez tnais acrogantes.e seguros de si, A medida que Roma aumenta 6 seu ‘ascendente sobre 0 mundo., ‘No entanto, 6 notivel desenvolvimento econémico que earac: tesizn a época explicrse por um conjunto de factores conver- igentes. As técnicas de navegecio aperftigoam-se. Melhoram-se ou Sumentam-se excelentes portos comerciais. Os eoberanas prestam igrande atengfo-ie-estradas e canais, Por toda a paste se verifiea um Gsforgo inteligente, na linha dos Grandes Reis ¢ de Alexandre, para dar a0 Egipto ¢ a Asia a infraestratura econémica necessi- tia aorgrande comércio. "A procura é considerivel, No se trata apenas de factores constantes, e que subsistem, tal como a necessidade que tém de fe seabastecer, ou 0 Egipto de adquisir madeira e ferro. AA estas fnecessidades vitaisjuntam-se outras, nascidas da softticagio de uma Giilizagio que nfo se quer privat nem de aeahum prazet nem {Se nenlium exo, Os reis pastam sem preocupasées para manterema eerie e em festas que para eles so quase uma obrigacto, visto gque Ihes conferem prestigio. Existe uma burguesia sica © esclare~ ‘Gila que gosta do fausto ¢ que jé aio seria capaz de se contentar com a vida austera dos Gregos do século V. Nko conseguen pissar sem o quc, noutros Iugates, € apetecivel ou sumpruoso. proprio Mediterrineo € demasiado pequeno paca as suas ambi (poe tanto a Afsiea negra como a Tadia tm o que eles precisam pra embelezar palicios ou mans6es, para adornarem as suas prépris pessoas, para darem 20 quotidiano o picante do exotismo.

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