You are on page 1of 19
POESIA DE TODOS OS TEMPOS CHARLES BAUDELATRE AS FLORES DO MAL FRONTEIRA Titulo original: LES FLEURS DU MAL © da taducio: 1985, by Ivan Nobrega junqueira Dircitos de edigéo da obra em lingua portuguesa adquiridos pela EDITORA NOVA FRONTEIRA S.A. Rua Bambina, 25 — Botafogo — 2251-050 Rio de Janeiro ~ RJ — Brasil ‘Tel. @1) 2537-8770 — Fax: (21) 2537-2659 htp:/ /wwwanovafeonteita.com.br e-mail: sac@novafronteira.com.br Revisio tipografica: HENRIQUE TARNAPOLSKY Nair DaMeTTo Uranca, CIP-Brasil. Catalogazo-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Baudelaire, Charles, 1821-1867. B339f Asflores do mal / Charles Baudelaite; tradusio c notas de lvan Junquei- a, — Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1985. (Poesia de todos os tempos) ‘Tradugio de: Les fleurs du mal. Bibliografia 1. Literatura francesa - Poesia. I. Junqueira, Ivan, 1934- trad. I. The tulo. IIL, Série 85-0959 DD -841 10 Pois que ela apenas seré feita de luz pura, ‘Arrancada & matriz dos raios primitives, ~ De que os olhos mortais, radiantes de ventura, Nada mais so que espelhos turvos e cativos!”” ales I O ALBATROZ As vezes, por prazer, os homens da equipagem Pegam um albatroz, imensa ave dos mares, Que acompanha, indolente parceiro de viagem, O navio a singrar por glaucos patamares. Tao logo o estendem sobre as tabuas do convés, © monarca do azul, canhestro ¢ envergonhado, Deixa pender, qual par de remos junto aos pés, As asas em que fulge um branco imaculado. Antes tdo belo, como é feio na desgraca Esse viajante agora flécido e acanhado! Um, com 0 cachimbo, Ihe enche o pico de fumaga, Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado! © Poeta se compara ao principe da altura Que enfrenta os vendavaise ri da seta no ar; Exilado no chido, em meio aturba obscura, =~ ‘As asas de gigante impedem-no de andar. iii LXXXV ORELOGIO Relégio! deus sinistro, hediondo, indiferente, Que nos aponta o dedo em riste e di: “Recorda! A Dor vibrante que a alma em pAnico te acorda Como num alyo hd de encravar-se brevemente; Vaporoso, 0 Prazer fugird no horizonte Como uma silfide por trds dos bastidores; Cada instante devora os melhores sabores Que todo homem degusta antes que a morte o afronte. Trés mil seiscentas vezes por hora, o Segundo Te murmura: Recorda! — E logo, sem demora, Com voz de inseto, o Agora diz: Eu sou.o Outrora, E te suguei a vida com meu bulbo imundo! Remember! Souviens-toi! Esto memor! (Bu falo Qualquer idioma em minha goela de metal.) Cada minuto é como uma ganga, 6 mortal, E hd que extrair todo 0 ouro até purificé-lo! Recorda: 0 Tempo € sempre um jogador atento Que ganha, sem furtar, cada jogada! Ea lei. O dia vai, a noite vem; recordar-te-ei! Esgota-se a clepsidra; o abismo estd sedento. Vird a hora em que o Acaso, onde quer que te aguarde Em que a augusta Virtude, esposa ainda intocada, E até mesmo 0 Remorso (oh, a iiltima pousada!) Te dirdo: Vais morrer, velho medroso! E tarde!” les 313 XCil A UMA PASSANTE Arua em torno era um frenético alarido. Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa, Uma mulher passou, com sua mao suntuosa Erguendo e sacudindo a barra do vestido. Pernas de estdtua, cra-lhe a imagem nobre ¢ fina. Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia No olhar, céu livido onde aflora a ventania, A docura que envolve e o prazer que assassina. Que luz... ea noite apés! — Efémera beldade Cujos olhos me fazem nascer outra vez, Nao mais hei de te ver sendo na eternidade? Longe daqui! tarde demais! nunca talvez! Pois de ti ja me fui, de mim tu jé fugiste, Tu que eu teria amado, 6 tu que bem 0 viste! Ales 345 Um granito acoitado por ondas de assombro, A dormir nos confins de um Saara brumoso; Uma esfinge que o mundo ignora, descuidoso, Esquecida no mapa, e cujo 4spero humor Canta apenas aos raios do sol a se por. LXXVIL SPLEEN Sou como o rei sombrio de um pafs chuvoso, Rico, mas incapaz, mogo € no entanto idoso, Que, desprezando do vassalo a cortesia, Entre seus ces e os outros bichos se entedia. Nada o pode alegrar, nem caca, nem falco, Nem seu povo a morrer defronte do balcdo. Do jogral favorito a estrofe irreverente Nao mais desfranze o cenho deste cruel doente. Em tumba se transforma o seu florido leito, Eas aias, que acham todo principe perfeito, Nao sabem mais que traje erético vestir Para fazer este esqueleto enfim sorrir. O sdbio que ouro lhe fabrica desconhece Como extirpar-Ihe ao ser a parte que apodrece, E nem nos tais banhos de sangue dos romanos, De que se lembram na velhice os soberanos, Péde dar vida a esta carcaca, onde, em filetes, Em vez de sangue flui a verde agua do Letes.”” een éth?, um dos rios do Inferno. Sua 4gua fazia esquecer o passado aqueles sem. (N. do T.) 295 LXXVUI SPLEEN Quando 0 céu phimbeo e baixo pesa como tampa Sobre o espfrito exposto aos tédios e aos acoites, E, ungindo toda a curva do horizonte, estampa Um dia mais escuro e triste do que as noites; Quando a terra se torna em calabougo horrendo, Onde a Esperanga, qual morcego espavorido, As asas timidas nos muros vai batendo Ea cabega rocando o teto apodrecido; Quando a chuva, a escorrer as trancas fugidias, Imita as grades de uma ligubre cadeia, Ea muda multidao das aranhas sombrias Estende em nosso cérebro uma espessa teia, Os sinos dobram, de repente, furibundos E lancam contra 0 céu um uivo horripilante, Como os espfritos sem patria e vagabundos Que se poem a gemer com voz recalcitrante. — Sem miisica ou tambor, desfila lentamente Em minha alma uma esguia ¢ fiinebre carreta; Chora a Esperanga, ea Anguistia, atroz e prepotente, Enterra-me no cr4nio uma bandeira preta. les 297 10 CxXX AS LITANIAS DE SATA O tu, 0 anjo mais helo e sdbio entre teus pares, Deus que a sorte traiue expulsou dos altares, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! O Principe do exilio, a quem fizeram mal E que, vencido, sempre te ergues mais triunfal, Tem piedade, 6 Sat&, de minha atroz miséria! Tu que vés tudo, 6 rei das trevas soberanas, Charlatao familiar das angustias humanas, Tem piedade, 6 Satd, de minha atroz miséria! Tu que, mesmo ao leproso e ao paria, se preciso, Ensinas por amor 0 amor do Paraiso, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Tu que da Morte, tua antiga e fiel amante, Engendraste a Esperanca — a Jouca fascinante! Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Tu que das ao proscrito esse alto e calmo olhar Que leva o povo ao pé da forca a desvairar, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! 423 CXX LES LITANIES DE SATA. O toi, le plus savant et le plus beau des Anges, Dieu trahi par le sort et privé de louanges, O Satan, prends pitié de ma longue misire! O Prince de Uexil, & qui lon a fait tort, Et qui, vaincu, toujours te redresses plus fort, O Satan, prends pitié de ma longue misére! Toi qui sais tout, grand roi des choses souterrait Guérisseur familier des angoisses humaines, O Satan, prends pitié de ma longue mistre! Toi qui, méme aux lépreux, aux parias maudits, Enseignes par Vamour le gout du Paradis, O Satan, prends pitié de ma longue misére! O toi qui de la Mort, ta vieille et forte amante, Engendras l’Espérance, — une folle charmante! O Satan, prends pitié de ma longue misére! Toi qui fais au proscrit ce regard calme et haut Qui damne tout un peuple autour dun échafaud, O Satan, prends pitié de ma longue misére! 422 30 40 Tu que bem sabes em que terras invejosas © Deus ciumento esconde as pedras mais preciosas, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Tu cujo olhar desvela os fundos arsenais Onde sepulto dorme 0 povo dos metais, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Tu cuja larga mao oculta os precipicios Ao sonambulo a errar no alto dos edificios, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Tu que, magicamente, amacias os ossos Do ébrio tardio que um tropel fez em destrocos, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Tu que, para o consolo eterno de quem sofre, Nos ensinaste a unir o salitre ao enxofre, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Tu que pées tua marca, 6 ctimplice sutil, Sobre a fronte do Creso implacavel e vil, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Tu que infundes no olhar ¢ na alma das donzelas O amor aos trapos ¢ a paixao pelas mazelas, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! Basto do desterrado, archote do inventor, Confessor do enforcado e do conspirador, Tem piedade, 6 Sata, de minha atroz miséria! 425 Pai adotivo dos que, em célera sombria, O Deus Padre baniu do Eden terrestre um dia, Tem piedade, 6 Sat&, de minha atroz miséria! ORAGAO Gléria e louvor a ti, Sata, 14 nas alturas Do Céu, onde reinaste, ¢ nas furnas escuras Do Inferno, onde, vencido, sonhas silencioso! Sob a Arvore da Ciéncia, um dia, que 0 repouso Minha alma encontre em ti, quando na tua testa Seus ramos expandir qual novo Templo em fest: hen 427 CXXIII A MORTE DOS ARTISTAS Quantas vezes terei de sacudir meus guizos Ea fronte te beijar, triste caricatura? Para atingir nesse alvo a mistica nervura, Quantos dardos, aljava, enfim serao precisos? Usaremos nossa alma em conluios concisos, E destruiremos cada peca da armadura, Antes de contemplar a soberba criatura Que nos faz solucar com finebres sorrisos! Hi quem jamais tenha de um fdolo a lembranca, 0 E artistas hd também, marcados pela injuria, Que, sempre a martelar 0 Peito ea fronte em furia, S6 tém, sombrio Capitélio,* uma esperanca! E que a Morte, a pairar qual sol hé pouco vindo, O cranio lhes faré em flores ir se abrindo! alas ‘vel aluso & Piazza del Campidoglio, cujos planos se devem a Miguel Angelo se ergue a antiga estdtua de bronze do imperador Marco Aurélio, (N. do T.) 435 CXXVI A VIAGEM A Maxime Du Camp Para acrianga, que adora olhar mapas ¢ telas, O universo se iguala ao seu vasto apetite. Ah, como é grande o mundo & tibia luz das velas! Ena saudade quo pequeno ¢ 0 seu limite! Partimos de manhi, a alma em chamas pressagas, O coracao cheio de fel e de acres magoas; Segufamos assim, sempre ao sabor das vagas, O infinito a embalar no finito das 4guas: Uns, gratos por fugir a uma infamia qualquer; Outros, ao panico dos lares, ¢ alguns mais, Astrélogos fitando o olhar de uma mulher, Circe® tiranica entre bdlsamos fatais. Para que bestas no se tornem, se inebriam A luz que arde no céu em dsperos lampejos; O gelo que os ulcera, os séis que os supliciam, Apagam pouco a pouco a cicatriz dos beijos. gr., Kirké, feiticeira que transformou em porcos os companheiros de Ulisse: este aportou & sua ilha, a fim de que o heréi permanecesse por mais tempo a0 jo. Assim nos relata Homero na Odisséia, canto X. (N. do T.) 441 ‘Mas viajantes de fato apenas sao aqueles Que partem por partir; o corac4o flutuante, famais hdo de aceitar ser outros sendo eles , sem saber por qué, ordenam sempre: Adiante! = Os que ao prazer do a fugaz forma das nuvens E sonham, como sonha 0 canhio um recruta, ‘Vohipias sem limite, ignotas e voltiveis, Cujo nome jamais o ouvido hurnano escuta! LD Imitamos, que horror, a carrapeta ¢ a bola Em sua valsa; mesmo em sonhos, a nefasta Curiosidade sempre nos aflige € rola Tal como um Anjo cruel que o préprio sol vergasta. Fortuna singular cujo alvo nao se alcanga E que, além nao estando, onde esté nao importa! Em que o homem, que jamais renuncia a esperanca, Repouso implora como um louco em cada porta! Nossa alma é uma trirreme em busca dessa Iedria;* Sobre a ponte uma voz no ar ecoa: ‘ “Abre os olhos!’’” Ena gdvea outra voz sc alteia solitaria: “Ventura... gléria... amor!’’ Mas h4 somente escolhos! Cada ilhota que avista esse homem da vigia £ um paraiso, uma promessa do Destino, Eo devaneio, que ora ostenta a sua orgia, Um s6 recife encontra & luz do ar matutino gt, Iharia, ilha grega do mar Egeu. Baudelaire alude aqui a Voyage en Icarie ), romance fantasioso em que Etienne Cabet, tedrico do comunismo, expe um de felicidade imagindria. (N. do T.) 443 Amoroso infeliz de ermas regides quiméricas! Preciso é submeté-lo e ao mar langé-lo apés, Esse ébrio marinheiro, esse inventor de Américas Cuja miragem toma o abismo mais atroz? Tal como 0 velho vagabundo, os pés na lama, Nariz para o ar, édens de luz eis que imagina; Uma Cépua® vislumbra o seu olhar em chama Toda vez que a candeia um casebre ilumina. 5108 Viajantes sem temor, quantas nobres histérias Lemos em vosso olhar profundo como 05 lastros! Mostrai em vosso escrfnio essas ricas memérias, Jéias maisxaras do que a etérea luz dos astros. Queremos navegar sem biissola ¢ sem vela! Fazei, para que 0 tédio 0 ser nfo nos afronte, Passar em nossos coracées, qual numa tela, Vossas lembrancas com seus quadros de horizonte. Eo que vistes? Dizei. Iv “‘Vimos estrelas e ondas, E enfim vimos também alvissimas areias; E, apesar do naufrégio em borrascas hediondas, O tédio, como aqui, nos cinge em suas teias. dade da Itdlia, ant. Casilinum. Sua fundacao remonta aos etruscos. Uniu-se a a no séc. IV a.C. e foi tomada por Anfbal em 215 a.C., tendo seus soldados pas- ali o inverno. A expresso ‘as delicias de Cépua’ faz alusio a esse inverno, du- € 0 qual o exército se debilitou, em lugar de consolidar a vitéria. (N. do T.) 445, A gloria ébria do sol por sobre um mar violeta, As cidades em gléria ante o sol a se pér, Nos acendiam na alma uma vontade inquieta De mergulhar num céu de aliciante esplendor. As maiores regides, a mais pujante aldeia, Nao continham jamais os encantos secretos Dessas que 0 acaso com as nuvens delineia. Eeis que o desejo nos fazia mais inquietos! — Ao desejo o prazer alguma forca acresce. Desejo, drvore A qual o gozo é adubo certo, E enquanto a casca engrossa e a0s poucos enrijece, Teus ramos querem ver o sol ainda mais perto! Crescerés sempre, 6 tronco imenso e mais vivaz Que o cipreste? — Com zelo arrancamos, porém, Alguns botdes que ao vosso album Avido apraz, Irmios que achais ser belo o que de longe vem! Celebramos até uns idolos com trompa; Tronos que a luz das jéias deixa constelados, Palacios de cristal cuja ofuscante pompa Seria um pesadelo aos vossos potentados; Ritos que aos olhos mais parecem uma orgia; Mulheres cujos dentes ¢ unhas so rubis, E habeis jograis que uma serpente acaricia.” E apés, ¢ apés enfim? 447 VI ““O cérebros pueris! E para nfo fugir & coisa capital, ‘Vimos em toda parte, e sen o haver buscado, Desde cima até embaixo da escada fatal, A encenacio tediosa do imortal pecado: A mulher, serva infame, estiipida orgulhosa, Adorando-se a sério e amando-se em sossego; O homem, tirano, a alma feroz ¢ voluptuosa, Da escrava 0 escravo e de um esgoto 0 imundo rego: Oalgoz que se diverte, o martir que padece; A festa que perfuma o sangue e que o tempera; O vinho do poder que ao déspota enraivece, E 0 povo em éxtase ante 0 ldtego que o espera; Diversas religides em tudo iguais 4 nossa, Todas galgando 0 céu; a vocacio divina, Como um donzel que em meio as plumas se alvoroca, Em busca da volipia entre os pregos ea crina; A Humanidade, ébria da propria fantasia, E hoje to louca quanto o foi no tempo antigo, Clamando a Deus em sua rfspida agonia: O mestre, 6 semelhante a mim, eu te maldigo! Eos menos tolos, mas amantes da Deméncia, Fugindo ao que o Destino uniu, rebanho inglério, E no dpio adormecendo os restos da consciéncia! — Tal do mundo inteiro 0 eterno relatério!”” 449 VII Saber amargo, o que se tira de uma viagem! Monétono € pequeno, o mundo, sem remédio, Hoje, ontem, amanha, nos faz ver nossa imagem, Um odsis de horror num deserto de tédio! Urge partir? ficar? Pois fica, se te apraz; Ou parte, se € preciso. Um corre, o outro se esconde Para enganar o Tempo, o inimigo tenaz E funesto! Ha quem corra alheio ao quando ¢ ao ule, Como o Judeu errante ¢ os figis de Nazaré, Aos quais nada valeu, nem barco nem vagio, Para fugir ao gladiador; e hé quem até Saiba maté-lo sem deixar 0 seu torrao. Quando ele nos pisar o dorso que se inclina, Poderemos enfim gritar bem alto: “Avante!” Assim como famos outrora para a China, Os cabelos ao vento ¢ os olhos sempre adiante, Navegaremos sobre a espuma tenebrosa, Jovens viajantes ébrios de Ansia e de prazer. Escutai essa voz, taciturna e graciosa, Que canta: ‘“Por aqui, vés que quereis comer O Létus perfumado! Eis aqui a vindima Dos frutos pelos quais vossa alma anda sedenta; Nao viestes pois vos embriagar ao doce clima Dessa tarde que flui infinda e sonolenta?”’ 451 A.uma voz familiar se adivinha a visio; Os Pflades* ao longe acolhem-nos agora. “Vai refrescar-te em tua Electra," coracao!”” Diz essa cujos pés beijévamos outrora. VII O Morte, velho capitao, é tempo! As velas! Este pais enfara, 6 Morte! Para frente! Se o mar e 0 céu recobre o luto das procelas, Em nossos coragées brilha uma chama ardente! Verte-nos teu veneno, ele é que nos conforta! Queremos, tal o cérebro nos arde em fogo, Ir ao fundo do abismo, Inferno ou Géu, que importa? Para encontrar no Ignoto o que ele temde novo! le gr., Pylddés, her6i mitolégico da Fé T.) sr., Bittra, fha de Agamémnon ¢ de Clitemnestra, irma de Orestes ¢ de Ifigé- judou Orestes a vingar 0 assassinio do pai e casou-se com Pflades, filho do rei da . A lenda de Electra exerceu imenso fascfnio sobre diversos dramaturgos anti- la, primo ¢ amigo insepardvel de Orestes. Esquilo (Cogforas), Séfocles, (Electra, c. 425 a.C.), Eurfpedes (Electra, 413 ), Hugo von Hofmannsthal (Elektra, 1904-1906, que serviu de base a uma épera chard Strauss), Eugene O'Neill (Mourning becomes Electra, 1931) Jean Girau- (Elecie, 1937). B nessa lenda que se apéia também a doutrina psicanalitica se- a quat a trama neurética de determinados conflitos femininos remonta & fi- libidinosa da menina em relagao ao pai. (N. do T.) 453

You might also like