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PARTE I

CAPTAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS PARA PROJETOS ESPORTIVOS

Profa. Carminda Maria Goersch Fontenele Lamboglia

Prof. Francisco José Sampaio

I INTRODUÇÃO DA GESTÃO EM DESPORTO

As organizações e a estrutura organizacional

O esporte é caracterizado como elemento da cultura corporal do movimento, sendo parte


essencial da cultura humana, no entanto, o esporte pode ser dividido em três aspectos: esporte-
educação, esporte--participação e o esporte-performance ou de rendimento.

O esporte-educação é caracterizado no intuito de proporcionar a gerar cultura pelo


movimento de expressão de uma população ou de um indivíduo como manifestação social e
prática da cidadania, com batendo a exclusão e a competitividade exagerada. Nesta vertente, o
esporte funciona como ferramenta de reflexão crítica social e antropológica, sendo presente no
âmbito escolar.

Por outro lado, o esporte-participação se apresenta através de atividades físicas e


esportivas praticadas no tempo livre, no qual o seu princípio é o prazer lúdico. Este pode ser
praticado por qualquer indivíduo em qualquer faixa etária, sem diferenciação de gênero,
realizados em espaços públicos de lazer e esporte, clubes, praças, praias, nas ruas e em algumas
instituições de ensino que cedem o espaço.

O esporte-performance ou de rendimento estão ligadas as ligas, federações,


confederações e comitês olímpicos que organizam as competições em diversos níveis que zelam
e preservam o cumprimento das regras das mais variadas modalidades esportivas e é praticado
por aquelas pessoas que possuem talento esportivo e uma aptidão física acima da média.

Entretanto, para gerenciar toda esta variedade de atividades que o esporte pode
proporcionar é necessário organizar e estruturar estas vertentes através de entidades e
organizações desportivas, sendo estas classificadas em:
As organizações desportivas do tipo pública são aquelas entidades, órgãos e
unidades administrativas criadas e desenvolvidas pela administração pública para
desenvolver políticas públicas voltadas para o esporte e da gestão e gerenciamento de
complexos desportivos (ROCHE, 2002).

Em relação as organizações desportivas privadas sem fins lucrativos, estas são


subdivididas em dois grupos, sendo a de primeiro grau formado no intuito de promoção
da prática da atividade desportiva e a de segundo grau tem a finalidade de desenvolver
programas de cunho esportivo. Os clubes são um exemplo do grupo de primeiro grau e
as federações desportivas do grupo de segundo grau, no qual estas possuem em comum
a não repartição dos benefícios entre os associados (ROCHE, 2002).

No que diz respeito as empresas de serviços desportivos, estas são resultado da


mercantilização e comercialização da prática esportiva e do espetáculo esportivo, no qual
podem possuir os seguintes objetivos: proporcionar a prática desportiva organizada,
gerenciar atividades e complexo esportivos, organizar competições e elaborar e
desenvolver trabalhos de consultoria e capacitação no âmbito esportivo (ROCHE, 2002).

As sociedades anônimas desportivas são representadas pelo clubes profissionais,


no qual se apresentam entre a entidade mercantil pura e o clube desportivo tradicional.
Responsabilidade social e o terceiro setor

A terminologia da palavra responsabilidade diz respeito a “obrigação de


responder pelas próprias ações e de outras pessoas” e social é tudo aquilo relacionado a
sociedade. No entanto, o termo responsabilidade social se refere a consciência social e ao
dever cívico, sendo esta caracterizado por ser plural (não ser individual), estimula o
desenvolvimento do cidadão e fomenta a cidadania individual e coletiva. A
responsabilidade social pode ser realizada pelo Estado, mercado e por instituições ou
organizações que não visam o lucro.

Segundo a Lei n° 9.790 de 23 de março de 1999, as entidades socias podem atuar


nos mais diversificados âmbitos descritos abaixo:

 promoção da assistência social;


 promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
 promoção gratuita da educação;
 promoção gratuita da saúde;
 promoção da segurança alimentar e nutricional;
 defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
 promoção do voluntariado;
 promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;
 experimentação de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de
produção, comércio, emprego e crédito;
 promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria
jurídica gratuita;
 promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e
de outros valores universais.

No entanto, no que diz respeito ao esporte e as práticas de promoção da atividade


física, as entidades sociais podem atuar na promoção da educação e saúde, englobando os três
aspectos da manifestação do esporte.

O primeiro setor é caracterizado como sendo o Estado, o segundo setor são as empresas
privadas ou instituições que visam lucro e o terceiro setor são as organizações não-
governamentais e não-lucrativas, fundações, associações, instituições e voluntariado. Em relação
as suas ações sociais, o “terceiro setor” se refere a um conjunto de instituições que encarnam os
valores da solidariedade e da iniciativa individual em prol do bem público.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2002, o número de


entidades que compõem o terceiro setor, no Brasil, é estimado em 500 mil organizações,
entretanto, o crescimento do terceiro setor não está relacionado ao dinheiro, por outro lado, pela
busca de sentido e motivação no trabalho.

De acordo com Targino (2008) apud Froes (2001), a área da educação, saúde, serviços
sociais, cultura e recreação são os campos tradicionais de atuação de serviços comunitários que
mais cresce em todo o nosso país, sendo esta prevalência de suma importância para as instituições
que pretendem implantar projetos abordando tais segmentos.

Dados do IBGE, no ano de 2002, observou-se a presença de 26.894 entidades sem fins
lucrativos no âmbito do esporte e recreação, o que correspondia a 9,75% do total de Fundações
privadas e associações sem fins. A região Norte contava com o número de 708, sendo o menor
número de instituições, por outro lado a região Sudeste contava como maior número de
organizações desse tipo, de 11.832 instituições.
II POLÍTICA NACIONAL DO ESPORTE

Esporte e lazer como direitos sociais

Os direito sociais são os direitos de todos e que por objetivo garantir aos indivíduos
condições mínimas, imprescindíveis, para o pleno gozo da vida de forma digna, no entanto, o
Estado atua em intervenções na ordem social segundo critérios de justiça distributiva.

De acordo com a Constituição da República Federativa de 1988 (art. 6 e 2170 - § 3°) são
direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.

O Estado tem um dever especial de cuidar para que os cidadãos tenham seus direitos para
viver dignamente e que estes sejam respeitados. Porém não é somente o Estado que tem que cuidar
para que os direitos sociais sejam respeitados, mas também os responsáveis políticos, econômicos
e culturais, além da própria sociedade, no intuito de cuidar e lutar para a aplicação dos direitos
sociais para todos.

Além deste o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi previsto no intuito de


proporcionar também o lazer, no qual é dever da família, da sociedade e do Estado proporcional
tal condições, assim como promove a profissionalização deste público, cultura, dignidade,
respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária. No entanto, os responsáveis em
proporcionar recursos, programações culturais, esportivas e lazer é o Município com apoio dos
Estados da União.

A Lei n° 1.041 de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do
Idoso, é outro documento importante no qual o lazer é previsto, sendo competência de órgãos e
entidades públicas incentivar e criar programas de lazer, esporte e atividade física que proporcione
a melhoria da qualidade de vida do idoso, estimulando a sua participação na comunidade.

No entanto, o lazer aqui abordado se refere as atividades desenvolvidas no tempo liberado


do trabalho, ou no tempo livre, apenas das obrigações profissionais.

Esporte e lazer como políticas públicas

Segundo Carvalho et al. (2002), políticas públicas são construções participativas de uma
coletividade, que visam a garantia dos direitos sociais dos cidadãos que compõem uma sociedade
humana. No entanto, estas extrapolam a dimensão do estado e diz respeito a todos os espaços e
formas de organização social que buscam meios de concretização dos direitos humanos. Na esfera
estatal, no nosso país, as políticas públicas e sociais têm sido garantidas por lei e atendido direitos
à saúde, educação, habitação, entre outras. Entretanto, quando se refere ao lazer e ao esporte foi
somente a partir de Constituição de 1988, que estes campos foram contemplados como direitos
sociais (BRUST; BAGGIO; SALDANHA FILHO, 2008).

Em relação as políticas públicas de cunho social, estas surgem como uma possibilidade
de contemplar e abordar a diversidade das necessidades de vários segmentos sociais. Entretanto
é necessário um grande planejamento, visto que o desenvolvimento social não está simplesmente
atrelado ao desenvolvimento econômico de uma forma linear (BRUST; BAGGIO; SALDANHA
FILHO, 2008).

Como estamos tratando de um país em que a democrática de governo se estabelece, o


orçamento público, para muitos especialistas da área, é um dos instrumentos mais importantes
para monitorar as políticas públicas. Por isso, é necessário que a população, através de seus
representantes comunitárias, participem das discussões da elaboração das políticas, assim como,
acompanhar a execução e fazer análises. O acompanhamento destas deve ser feito de forma
participativa sendo uma maneira de pressionar o poder público para agir na busca da promoção
do bem comum das populações mais vulneráveis e distantes de políticas públicas de qualidade.

No entanto, o processo de formulação de uma política envolve um estudo de caráter


situacional a fim de identificar os diversos atores e os diferentes interesses que permeiam e,
posteriormente, a sua regulamentação como política pública. Assim, pode-se perceber a
mobilização de grupos representantes da sociedade civil e do Estado que discutem e fundamentam
suas argumentações, no sentido de regulamentar direitos sociais e formular uma política pública
que expresse os interesses e as necessidades de todos os envolvidos (CARVALHO et al, 2002).

A partir do reconhecimento do esporte e do lazer como direitos sociais pelo Estado,


através da Constituição Brasileira de 1988, é preciso pensar e refletir em como concretizar estes
direitos através de políticas públicas que possibilitem universalizá-los para a maioria em
detrimento a grupos privilegiados, priorizando e facilitando o acesso às camadas que geralmente
não são atendidas (MARCELLINO, 1996).

Vale ressaltar que a desvalorização da elaboração e implantação de políticas públicas


relacionadas ao esporte e ao lazer se inicia pela visão dualista corpo/mente que a Educação Física
estava atrelada, sendo essas práticas relacionadas apenas como exercício do corpo, menos nobre
do que a mente, e a serviço desta.

Atualmente, a desvalorização se dá por outro motivo sendo apontado a hegemonia do


modelo neoliberal, centralizado nos ajustes econômicos. Este contexto por muito tempo tem
provocado olhares preconceituosos que diminuem e desvalorizam as políticas públicas voltadas
para o âmbito do esporte e o lazer, no qual o consideram como um problema menor em relação
aos demais direitos sociais (MARCELLINO, 2001; DUMAZEDIER, 2001; MELO, 2005).
Portanto, percebe-se que políticas sobre o esporte e lazer é desprivilegiado em detrimento dos
outros direitos sociais constitucionais, tanto sobre a sua compreensão e valorização, como na
própria efetivação de ações. Por este motivo, assim como a sociedade, o poder público confere
pouca estima ao esporte e lazer, atribuindo a temas de caráter utilitário e compensatório
(CASTELLANI, 1996; MARCELLINO, 2001).

Por outro lado, as políticas públicas de esporte e lazer vem crescendo nas reivindicações
da sociedade pela busca de uma melhor qualidade de vida. A participação popular no
planejamento municipal, torna a gestão democrática e faz com que se reflita sobre projetos que
são de interesse próprio, facilitando e esclarecendo seus objetivos e explicitando suas funções
sociais sendo construído à base da realidade, atendendo aos interesses de diferentes grupos,
instituições e organizações populares.
Sistema nacional de esporte atual

O Sistema Nacional de Esporte e Lazer deve ser entendido como a articulação de


entidades, organizações sociais, instituições e seus sujeitos, no qual têm como finalidade e
responsabilidade, o oferecimento das condições para a prática do esporte nos municípios, estados
e União, bem como a democratização do acesso à todos (crianças, adolescentes, jovens, adultos,
idosos e pessoas com deficiência ou com necessidades especiais), no intuito de proporcionar lazer
e, ou, para o alto rendimento, sendo incluso os aspectos educativos, lúdicos, de qualidade de vida
e de performance, buscando a elevação da participação esportiva e social da população.

Os princípios estabelecidos pela Política Nacional do Esporte, contemplados na resolução


do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, são referências essenciais para a implantação de um
novo sistema, sendo eles: promover a inclusão social, reverter o quadro atual de injustiça,
exclusão e vulnerabilidade social, garantir a universalização do esporte e lazer como dever do
Estado, promover a democratização da gestão e da participação no esporte e lazer.

Segue abaixo algumas ações e políticas públicas do Ministério do Esporte voltados para
o esporte de rendimento:

Descoberta do Talento Esportivo = seu objetivo é identificar e selecionar jovens e


adolescentes matriculados na rede escolar com ótimo nível de desempenho motor e aptidão física
compatíveis com a prática de um determinado esporte de competição e alto rendimento.

Bolsa Atleta = porporciona e garante uma manutenção pessoal mínima para aqueles
atletas de alto rendimento, buscando dar condições para a dedicação ao treinamento esportivo e a
participação em competições no intuito de desenvolver sua carreira esportiva.

Rede Cenesp = seu objetivo é disponibilizar instrumentos que possibilitem a detecção,


seleção e o desenvolvimento de talentos esportivos em diversas modalidades e categorias,
incluindo os atletas que possuem alguma deficiência. É chamado de rede, pois é composta por
centros de desenvolvimento de pesquisa e tecnologia na área do esporte e aperfeiçoamento no
treinamento de atletas, proporcionada pelas Instituições de Ensino Superior.

Brasil Potência Esportiva = este programa tem como objetivo melhorar o desempenho
de atletas em competições nacionais e internacionais e promover a imagem do país no exterior,
sendo uma de suas ações apoiar a participação da delegação brasileira olímpica, não olímpica e
paraolímpica em competições, promover eventos esportivos de rendimento das modalidades
olímpicas, não olímpicas e paraolímpicas e capacitar os recursos humanos para o esporte de
rendimento nas três esferas.

Em relação aos programas e projetos relacionados ao esporte educação, lazer e inclusão


social, vale destacar:

Segundo Tempo = proporciona a democratização do acesso e prática e à cultura do


esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de criança, adolescentes e jovens
matriculados na rede de ensino, que moram em áreas de vulnerabilidade social.

Recreio nas Férias = este possui a mesma filosofia de desenvolvimento integral da


criança, adolescente e jovens, estabelecido pelo Projeto Segundo Tempo, no entanto, este é
desenvolvido no período de férias escolares.
Esporte e Lazer da Cidade = tem o objetivo de ampliar, democratizar e universalizar o
acesso à prática e ao conhecimento do esporte recreativo e de lazer, favorecendo o
desenvolvimento humano e a inclusão social.

Rede Cedes = estimula a produção de pesquisa, visando maximizar o acesso ao


conhecimento científico e tecnológico nas áreas da gestão do esporte recreativo e do lazer.

Pintando a Liberdade = promove a ressocialização de internos do Sistema


Penitenciários através da fabricação de materiais esportivos. Além da profissionalização, os
detentos reduzem um dia da pena para cada três dias trabalhados e ainda recebem salário de acordo
coma produção.

Pintando a Cidadania = tem como objetivo a inclusão social de indivíduos residentes


em comunidades carentes e o seu ingresso no mercado de trabalho, através das fábricas de
material esportivo, no qual todo o instrumento produzido é utilizado pelo Ministério do Esporte
para distribuição em núcleos do Programa Segundo Tempo e Esporte e Lazer na Cidade.
III SISTEMA DA LEI DE INCENTIVO AO ESPORTE

Estudo da lei de incentivo ao esporte

A lei n° 11.438/06 de 29 de dezembro de 2006 dispõe sobre os incentivos e benefícios no


intuito de estimular e fomentar as atividades de cunho esportivo, estabelecendo apoio fiscal para
as pessoas física e/ou jurídicas para o desenvolvimento do esporte nacional através do
patrocínio/doação para projetos desportivos e paradesportivo.

No entanto, segundo o Decreto n° 6.180/07,0 projeto desportivo é um conjunto de ações


organizadas e sistematizadas por entidades de natureza esportiva destinado á implantação, a
prática, ao ensino, ao estudo, á pesquisa e ao desenvolvimento do deporto.

Para isso o projeto deverá se enquadrar em um dos três aspectos da manifestação


(classificação) do esporte, são eles: esporte educacional, esporte de participação e esporte de
rendimento.

Outro pré-requisito estabelecido menciona que, os projetos desportivos destinados a


promover a inclusão social através do esporte, preferencialmente aqueles em comunidade de
vulnerabilidade social, poderão receber os recursos oriundos dos incentivos previstos nesta Lei.

No entanto, para elaboração de projetos desportivos ou paradesportivos e obter os


benefícios desta Lei, podem contribuir a pessoa física (podendo deduzir até 6% do imposto de
renda devido, essa dedução concorre também com outros incentivos fiscais) e pessoa jurídica
tributada com base no lucro real (podendo deduzir até 1% do imposto de renda).

Para isso a entidade proponente deverá atender as seguintes recomendações: não possuir
finalidade lucrativa, de natureza esportiva e a entidade deve exercer atividades há pelo menos um
ano. Entretanto, algumas situações podem impedir a aprovação e a utilização dos recursos da Lei
de Incentivo ao Esporte, são eles: desporto de rendimento praticado de modo profissional,
aquisição de espaços publicitários, cobrança dos beneficiários e projeto desenvolvido em circuito
privado e que apresente comprovada capacidade de atrair investimento.

Após a elaboração do projeto, deve-se submeter a análise pelo Ministério do Esporte, para
isso, segue na Figura 2, as etapas do processo de submissão a avaliação e aprovação.
Dados estatísticos do Ministério do Esporte apontam que, durante o período de 2007 até
2010, foram aprovados 1.034 projetos, o que representa R$ 1.085 bilhão de recurso financeiro
aprovado, e 721 projetos conseguiram captar. Na Tabela 1, é possível analisar detalhadamente os
dados do valor aprovado (VA), valor captado (VC), número de projetos aprovados (NPA) e
número de projetos captados (NPC) do ano de 2007 a 2010.

Tabela 1 - Análise estatística econômica dos projetos aprovados pela Lei de Incentivo ao
Esporte durante o ano de 2007 a 2010.

VA VC NPA NPC

2007 21 51 21 17

2008 183 82 178 103

2009 306 111 278 217

2010 533 189 556 384

VA - Valor Aprovado (R$)

VC - Valor Captado (R$)

NPA - Número de Projetos Aprovados

NPC - Número de Projetos Captados

No entanto, na Figura 3, observa-se que a região Norte e Nordeste são aquelas que
apresentam menor número de projetos aprovados, valor aprovado e valor captado.

Figura 3 - Análise estatística econômica dos projetos aprovados pela Lei de Incentivo ao
Esporte, divididos por região durante o ano de 2007 a 2010.
IV CAPTAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS PARA PROJETOS ESPORTIVOS

Histórico do terceiro setor e suas estratégias de captação de recursos

Em virtude do agravamento recente das desigualdades sociais e da incapacidade do


Estado, e de suas políticas públicas, de promover com eficácia a justiça social, desenvolveu-se
um novo Setor, de onde surgiram propostas alternativas, é o chamado Terceiro Setor. Em torno
de mais de três séculos, a filantropia foi desenvolvida no Brasil sob o enfoque da prática
assistencialista, com predomínio da caridade cristã. Aqueles envolvidos com a filantropia, na
época ricos, sustentavam os educandários, os hospitais, as santas casas, os asilos e demais
organizações, sendo fundadas a partir do século XVIII. Apenas no final do século XIX que as
instituições, aquelas de assistência e amparo à população carente, passaram por transformação na
sua organização e administração, deixando de ser fundamentalmente voltadas por princípios de
caridade cristã e da filantropia (MCKINSEY; COMPANY, 2001).

No entanto, no início do século XX, o Estado também passa a ter maior atuação na área
social, principalmente nas questões ligadas a saúde, higiene e educação. Este passa a intervir
diretamente na gestão administrativa e no financiamento das organizações filantrópicas e as
assistenciais.

A terminologia “Terceiro Setor” só foi denominada com o reconhecimento do trabalho


das Organizações Não Governamentais (ONGs) pela sociedade globalizada a partir dos anos de
1980 e ganha importância mundial nos anos de 1990, com as Nações Unidas promovendo uma
sucessão de grupos sociais para construir uma agenda social global.

Vale destacar, que, a evolução do Terceiro Setor não acontece simultaneamente em todas
as regiões do Brasil, como é o caso de Alagoas, que apesar do crescimento e da importância
adquirida pelo Terceiro Setor e pelo surgimento de um grande número de ONGs, ainda há uma
forte influência das perspectivas assistencialistas e caritativas associa das a Igreja.

Na primeira instância, é possível afirmar que as organizações sem fins lucrativos surgem
como um contraponto à ineficiência do Estado como prestadores de serviços a cidadãos exigentes
e insatisfeitos. Em consequência disso, as ações elaboradas e desenvolvidas pelas ONGs
representam uma nova possibilidade no mercado, em virtude a ineficiência do poder público.

No entanto, a qualidade dos serviços oferecidos para os beneficiários é legitimada pela


sociedade em geral e também por seus potenciais clientes. Entretanto, as ações das ONGs buscam,
fundamentalmente, transmitir os valores da organização à sociedade, sendo estes valores
evidentes em seus objetivos oficiais e nas suas práticas e estratégias de ação.

Na segunda instância, o conceito de sustentabilidade foi o outro fator que desencadeou a


expansão e o crescimento do Terceiro Setor, no qual este sempre dependeu de fontes de recursos,
do Estado, de empresas ou de organizações internacionais. A busca e procura pela
sustentabilidade é o marco divisório daquela dependência, em virtude do desenvolvimento de
projetos de geração de receita, profissionalização de recursos humanos e voluntariado,
diversificação de fontes de financiamento, estratégias de comunicação, avaliação de resultados e
desenvolvimento de uma estrutura gerencial eficiente.
Para o desenvolvimento de um plano estratégico de captação de recursos é necessário
conhecer a missão da sua entidade, a importância do seu serviço e a sua relevância no contexto
social. Neste sentido, a importância deste quesito é da importância da entidade de conhecer seu
valor e o seu papel dentro da sociedade, pois, na verdade ela estará se posicionando corretamente
ao buscar os recursos que necessita.

Outro pré-requisito para a captação de recursos é escolher a pessoa certa da sua instituição
para captar, ou seja, designar a esta determinada função de “captador de recurso’ Este indivíduo
deverá ser aquele que sabe fazer um bom projeto, apresentável e que está disponível para
promover ações mais ousadas de captação.

Para que a informação sobre o projeto seja efetiva é necessário que a comunicação entre
emissor e receptor esteja compartilhada na mesma linguagem, no entanto, é necessário que a
linguagem utilizada na apresentação do projeto seja adequada para cada tipo de público.

Conhecer o mercado é outro quesito importante na elaboração de um bom projeto. Este


deve estar dentro da realidade, no intuito de oferecer ao mercado aquilo que é necessário. Além
disso, também é necessário inovar e este é uma consequência da análise do mercado, no entanto,
é a partir daí que gera a capacidade de criar uma novas soluções para o mesmo problema.

A clareza e a transparência na prestação de contas é outro motivo para obtenção de êxito


na aprovação de um novo projeto, assim será possível que as pessoas e as empresas tenham a
possibilidade de acompanhar a aplicação de seus recursos. Além disso, garante a credibilidade da
instituição e a satisfação do doador.

Incentivo ao esporte e seus aspectos tributários

São diversas as Leis e Estatutos que conferem a asseguram a prática do esporte e do lazer
como direitos humano e dever do Estado, no entanto, há dois deles em que o Terceiro Setor pode
submeter os deus projetos e captar recursos necessários para o seu desenvolvimento.

A Lei Rouanet, conhecida também como Lei Federal de Incentivo a Cultura, institui
políticas públicas específicas voltadas para a cultura, sendo a sua base promover, proteger e
valorizar as expressões culturais nacionais. Através do Programa Nacional de Apoio a Cultura é
possível que empresas (pessoas jurídicas) e cidadãos (pessoa física) apliquem uma parte do
imposto de renda devido em ações culturais. No entanto, está disponível 6% do IRPF para pessoa
física e 4% de IRPF para pessoa jurídica.

Entretanto, pode até não parecer, esta Lei contempla algumas vertentes do esporte e da
atividade física, já que estas são consideradas como componentes da cultura corporal do
movimento.

Da mesma forma, e de maneira mais direta, a Lei de Incentivo ao Esporte também


proporciona subsídios para a implantação de projetos esportivo, sendo os seus aspectos tributários
relativos a redução de 6% do imposto de renda devido para pessoa física e 1% do imposto de
renda para pessoa jurídica.
V DESENVOLMENTO E IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS ESPORTIVOS

Tipos de projetos esportivos

Os projetos esportivos podem ser elaborados e desenvolvidos de acordo com as


manifestações do esporte, que já foi mencionado no início desta disciplina, ou seja, projetos no
qual vise o esporte-educação, esporte-participação e esporte-performance.

Os projetos que estão direcionados para o esporte-educação este é voltado para alunos
regularmente matriculados na rede de ensino formal, no intuito proporcionar o desenvolvimento
integral do ser, sua formação para o exercício da cidadania e da prática do lazer, abolindo a
seletividades e a competição exacerbada. Em relação as manifestações de esporte-participativo,
este tem a finalidade de promover a integração dos participantes na plenitude da vida social, na
promoção da saúde e educação.

No caso dos projetos voltados para o esporte-performance deve ser desenvolvido com
foco na competição, com foco nas modalidades esportivas de caráter formal, na descoberta de
talentos desportivos, na formação de atletas no esporte de base, apoio ao desenvolvimento ao
esporte amador e na realização, promoção e participação em eventos esportivos competitivos.

Avaliação de viabilidade de projetos esportivos

De acordo com as estatísticas, muitos são os projetos que são elaborados e submetidos a
avaliação, no entanto, a maioria destes não são aprovados devido causas diversas, como: escolha
incorreta do método financeiro, objetivo mal elaborado, metodologia obscura e entre outros.

No Quadro 1, é possível observar os dois tipos de método financeiro (setor privado e


público) com suas semelhanças e diferenças. O conhecimento de tal características é de suma
importância quando na elaboração do projeto esportivo a fim de direcionar o documento para os
interesses do método.

Quadro 1 — Análise comparativa das características de projetos elaborados com destino


ao setor privado e público

Setor Privado Setor Público

Menos Burocracia Burocracia excessiva

Continuidade de Trabalho Eventual descontinuidade nas mudanças de


governo

Gente qualificada Gente qualificada e não qualificada

Gente qualificada Gente qualificada e não qualificada


Mede-se por eficiência Mede-se por impacto-político

Limitado pelas atividades de mercado Espaço para criar/inovar

Requer atua atualização Requer atualização

Pode ter mais capital Limitação de capital

Planejamento de metas Planejamento fragmentado

Fonte: WERNECK; STOPPA; ISAYAMA, 2001.

No entanto ocorre diversos erros no planejamento e elaboração do projeto direcionado


para o esporte, sendo eles: falta de clareza no momento de definir a manifestação esportiva
(esporte-educação, esporte-participação e esporte-rendimento); objetivo do projeto confuso;
grande diversidade de pleitos pela amplitude dos temas de manifestação do esporte; pouco
detalhamento do projeto, o tornando superficial, pouca clareza nos cronogramas da atividade;
problema na apresentação das despesas administrativas; solicitação de bens permanentes sem
explicitação do uso continuado nos próximos anos; apresentar detalhamento das instalações
físicas; esclarecer a metodologia (frequência semanal das aulas, número de alunos por turma,
duração das aulas, divisão de faixas etárias, empregada e o cronograma de atividades (aulas,
festivais, cursos, encontros e etc.).

Etapas para elaboração de projetos

Fase de Identificação — esta fase é caracterizada pela observação e análise situacional


do ambiente e da região na qual se pretende implantar o projeto. É necessário um estudo detalhado
sobre as necessidades daquela população, o público que será beneficiado pelo projeto e o âmbito
do projeto esportivo (educação, participação ou performance). Neste momento, é interessante que
se faça um estudo e análise da viabilidade da ideia sobre os aspectos políticos, técnicos e
financeiros. Fase de Elaboração — neste momento é necessário que se elabore um documento
contendo todas as informações referente ao projeto e a sua implantação. Este deve ter uma
linguagem simples, objetiva e clara, devendo responder as seguintes questões: o que? Para quem?
Onde? Porque? Como? Quando? Por quanto? Quem?

 Apresentação: abordar de forma breve o contexto nacional e local do tema central


do projeto;

 Justificativa: motivos e benefícios da implantação do projeto numa dada


comunidade;

 Objetivos: inserir objetivos gerais, que está ligado diretamente com o tema do
projeto e objetivos específicos, este ligado ao objetivo geral. Neste tópico a frase
deve se iniciar com verbos no infinitivo e o objetivo deve estar dentro da
capacidade de ação da instituição;
 Público Alvo: identificar quem é o público beneficiado;

 Local: lugar aonde será desenvolvidos as atividades;

 Período do Projeto: data de início e finalização;

 Metas: é o objetivo quantificado;

 Métodos: como será desenvolvido as atividades do projeto;

 Cronograma: estabelecer uma unidade de tempo pata o projeto;

 Contrapartida Oferecida: vantagens e benefícios para empresa;

 Orçamento: relação de tudo que é necessário para a realização e o


desenvolvimento do projeto, atentar pata o planejamento de recursos humanos,
material permanente, material de consumo e serviços de terceiros;

 Responsáveis: pessoas responsáveis diretamente pelo projeto.

Fase de Execução — só é iniciada após a aprovação do projeto e quando a maior parte


dos recursos necessários tiver sido assegurada. Neste momento, há o desenrolar das atividades
planejadas e a utilização dos recursos com vista a produção dos resultados e ao alcance dos
objetivos estipulados.

Análise e Monitoramento Processual do Projeto - Esta fase ocorre concomitante à


execução do projeto e realizada também após seu encerramento. Durante a execução do projeto
avaliam-se o processo, os gastos, a execução financeira e administrativa e ao término do projeto
são avaliados os resultados atingidos, assim como seus efeitos para o beneficiário do projeto.

A avaliação do processo é aquela que verifica a maneira como está sendo executado o
projeto, sendo esta eminentemente qualitativa. Esta pode ser compreendida também como
monitoramento ou a supervisão e representa o acompanhamento minucioso da realização das
atividades do projeto.

No caso da avaliação de resultados, esta é condicionada para o financiamento e considera


elementos quantitativos e qualitativos, ocorrendo ao final do projeto.

Os resultados de um projeto podem ser avaliados considerando três enfoques avaliativos:


a eficiência, a eficácia e a efetividade. A efetividade busca demonstrar quais as mudanças efetivas
nas condições de vida da população atingida pelo projeto. No caso da eficácia, trata-se da relação
entre os objetivos proposto pelo projeto e os resultados imediatos obtidos. A eficiência busca
comparar o esforço realizado por um projeto e os resultados por ele alcançados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASKOVA, McKINSEY; COMPANY, INC. Empreendimentos sociais sustentáveis: como


elaborar planos de negócios para organizações sociais. São Paulo: Peirópolis, 2001.

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