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COORDENACAO MOTORA fe Marie-Madeleine Béziers Yva Hunsinger OS GESTOS APROPRIADOS. PARA LIDAR COM A CRIANCA g summus- editorial Do Original em lingua francesa COORDINATION MOTRICE ET PSYCHOMOTRICE DU TOUT PETIT Copyright © 1992, by Marie-Madeleine Béziers ¢ Yva Hunsinger Traducao de: Lucia Campello Hahn Projeto grafico e producao editorial: Sonia Rangel N'OBRA Ni REGIS capa de: CURSO DATA Ettore Bottini 9 4296 TRO 24638 Facter4o4 4 CHAMADA # (55,4 Proibida a reprodugdo total ou parcial deste livro por qualquer meio e sistema sem 0 prévio consentimento da Editora Dados Internacionais de Catalogicio na Publicacto (C1P) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Beziers, Marie Madeleine (O beb#e 2 coordenaco motora: Os gestos apro- prlados para lidar com a erianca / Marie Madeleine, Beziers, Yea Hunsinger: [raduclo de Lucia Cam: pello Hahn}. — S40 Paulo: Summus, 1994, ISBN 85323-0387-0, 1. Aprendizagem perceptivo-motora2. Bebés 3 Capacidade motora I Hunsinger, Yva. Il. Titulo, 962537 cpp-155.412 Tics para callogo sstematico 1. Bebés - Cooedenagao matora: Psicologia infantil 155.412 2. Bebés « Paicomotricidade « Psicologia infantil 155.412 Direitos para a lingua portuguesa adquiridos por SUMMUS EDITORIAL LTDA Rua Cardoso de Almeida, 1287 05013-001 - Sa0 Paulo, SP Telefone (011) 872-3322 Caixa Postal - 62.505 - CEP 01295-970 que se reserva a propriedade desta traducao Impresso no Brasil B46% SUMARIO Introdugao, 9 I. ORGANIZACAO DA COORDENAGAO MOTORA 15 Enrolamento/endireitamento, torgio, tensiio 17 Tronco e cabega .. : 22 Membros superiors .... 26 Membros inferiores 30 IL GESTOS COTIDIANOS 33 A importancia do olhar 00... 35 Como segurar, carregar e levantar o bebé. 36 Mamada 38 Banho 4B Troca de roupas...... 49 Passeio € sociabilidade . 52 PosigSes durante © SOn0 ...... 53 Material para uso da crianga...... 35 II. EVOLUGAO DA MOTRICIDADE 57 Preparagdo para andar 59 ANAL oeseeecneeneeenee 61 IV. MOVIMENTOS E JOGOS 65 A relacéo com o outro. 67 Jogos ¢ brincadeiras...... 73 APRESENTACAO Existe sempre um imenso hiato entre o desenvolvimento cientifico € a experimentacio pritica. Dos conceitos sobre a preservagao da sai- de humana até sua aplicagio em nossas vidas e seu aproveitamento em nosso cotidiano ha como um grande deserto, sem indicagdes de diregéo, ou uma densa muralha Nas tltimas décadas, as ciéncias avangaram muito em sua luta con- tra.a morte, Nao ha diivida de que favoreceram a espécie humana mas, encerradas na cidadela inexpugnivel de uma técnica majestosa, dei- xaram 0 homem sem informagio sobre os mecanismos geradores da doenga. Prenderam-se quase exclusivamente 4 pesquisa € esqueceram a construgao de uma linguagem com a qual o individuo pudesse esti- mular seus mecanismos de defesa ¢ cura. Tanto insistiram nessa estra- tégia tecnocratica que provocaram o aparecimento de um ditado: “Se preocupam com a doenga, € ndo com o doente”. Até agora, a Psicologia € a tinica ciéncia a criar um repert6rio que possibilita a0 homem a compreensao do funcionamento de uma de suas estruturas. Mesmo longe de um estado ideal, sua linguagem per- mite que utilizemos em nosso dia-a-dia conhecimentos importantes para a organizagio de nosso psiquismo. ‘A Medicina e a Fisioterapia ndo alcangaram ainda esse patamar. Precisam se apressar-em desenvolver a linguagem que abra o campo de visio do cidad4o comum para 0 funcionamento de seus apare- Ihos visceral ¢ locomotor. Muito poucos possuem informagdes a res- peito dessas estruturas, e subestima-se entdo uma caracteristica cen- tral da espécie: 0 homem é um animal que se destaca da globalidade da qual faz parte através de sua faculdade de personalizagao. Ele é capaz de definir cores muito particulares ¢, desse modo, pode che- gar a recriar 0 seu mundo. Cada uma das estruturas diversas que ossui em seu interior — visceral, locomotora, psiquica, espiritual — Ihe permite perceber e diferenciar as intimeras partes que com- poem 0 universo. Associando sensagdes, percep¢des etc., 0 homem consegue 20s pou- cos conceituar 0 mundo em que vive e adquirir consciéncia de quem 6, de seu “significado” e sua fungo sobre a face da terra. A passagem do estado bruto de “ser’” A consciéncia de uma identidade se d4, pri- meiramente, no universo corporal. Somente depois se realiza em ou- tos niveis. Assim, nossos primeiros meses de vida sio fundamentais para a estruturacdo de nossas potencialidades, ¢ 0 transito entre nos- sos sistemas visceral, psiquico e espiritual, operagio que realizamos continuamente, se faz por meio de nossa psicomotricidade. Este livro est entre os raros que analisam tais processos € ao mes- ‘mo tempo quebram a barreira entre doutor sapientissimo ¢ paciente desinformado, Desvenda para os pais 0s mecanismos estimuladores do funcionamento do aparelho locomotor. £ um manual pratico das for- ‘mas de proporcionar conforto ao corpo do bebé, condicao fundamental para que esse corpo se transforme em instrumento de adaptabilidade a vida, IVALDO BERTAZZO INTRODUGAO ‘Antes mesmo de uma crianga vir ao mundo, os pais j4 tem com claindmeras preocupag6es. Desejam que o ambiente onde trans- correrd sua vida seja o melhor possivel, preparam ¢ decoram seu quarto ou 0 espago a ela reservado, tudo com imenso prazer. De- sejam que seja agradavel, alegre e bonito. Depois do nascimento, 08 pais mostram-se especialmente vigilantes quanto a quantida- de e qualidade de seu sono ¢ alimentagio, inquietam-se quanto a0 acerto ou erro do que fazem ou deixam de fazer ¢ perguntam- se a todo instante se alguma coisa Ihe estaria faltando. ‘Tudo isso, naturalmente, € necessario. Porém existe uma ca- racteristica essencial 4 crianga, que € 0 movimento, € que ja era essencial também durante a vida intra-uterina. Estardo os pais su- ficientemente informados sobre isso? £ preciso saber que, antes do nascimento, o feto nao estava im6vel, mas se formando “em movimento”; € que, enquanto se desenvolvia, seus movimen- tos ja se coordenavam para alcangar gestos precisos. Essa coor- denacao foi dando ao’ corpo a forma ¢ o sentido que servirao de modelo para todo o desenvolvimento subseqiiente da crian- a. Suas primeiras expressdes sao essencialmente motoras. Des- de as primeiras horas de vida espanta-nos ver toda a riqueza de pequenos movimentos que percorrem seu corpo. Os gestos que fazem os bebés nao sio fortuitos, desordenados ou parasitas, mas pertencem a um sistema muito complexo. Realmente, desde o nascimento, o bebé possui toda a base da- quilo que chamamos de “‘coordena¢io motora”,* e que € 0 te- ma de nosso estudo. Este livro vai possibilitar que os pais olhem acrianga de uma maneira nova. Com freqiiéncia, estes conside- ram as conquistas do bebé de modo bastante afetivo: orgulham- se dos primeiros sorrisos, de vé-lo erguer a cabeca, segurar um biscoito etc... Mas conhecem eles a organizacao que permite que esses gestos acontegam? Descobri-la nao é somente apaixonante para os pais, mas tam- bém resulta em fator de bem-estar para a crianga. Nossa experiencia cotidiana como terapeuta, as voltas com os mais diversos problemas da crianga, prova-nos quanto essa pri- meira organizacdo influi em seu bem-estar, presente e futuro objetivo deste livro é informar os pais, para que eles contrariem a organizagdo que se esboga, mas favorecam-na. Descobrir a coordena¢do motora traré uma outra dimensio a0 conhecimento da crianca, fazendo com que os pais partici- pem desse aspecto de seu desenvolvimento, que, € claro, nao € exclusivamente motor. * 4 Coordenagao Motora — Aspecto meciinico da organtzagdo psicomotora do bomem. S, Pitet e M. M. Béziers, S20 Paulo, Summus Editorial, 1992 Tudo acontece simultaneamente na crianga. Queremos dizer com isso que, através dos movimentos, ela percebe as diferen- tes sensagdes: motoras, organicas, sensoriais, afetivas etc. Desse modo, quando tiver percebido 0 movimento como um todo, € quando for capaz. de reproduzi-lo voluntariamente, a crianga re- viverd as sensagOes que experimentou ¢ que percebeu anterior- mente. Os primeiros movimentos sdo reflexos. Observamos porém que eles se propagam através de musculos definidos, que se en- cadeiam para descrever um movimento preciso. Esse movimento produz uma sensagdo muscular e articular, e imprime tenses pele que fazem parte do conjunto da sensacao. A reuniao de todas as sensagdes provocadas pelo movimento reflexo consti- tui a estrutura fundamental do movimento; 6 0 que chamamos de ‘coordenagdo motora e psicomotora”. A crianga sente 0 mo- vimento reflexo, e as sensa¢des provocadas por ele ficam regis- tradas em seu cérebro. Essas sensagoes irao programd-lo. Por exemplo: 0 que ocorre com as nogdes de espaco e tempo? Quando 0s primeiros movimentos sdo registrados na mem6ria do bebé, imprimem nela também imagens de linbas, volumes, distan- cias e duragao temporal. A crianca tentard reencontrar e re- produzir a sensacao provocada pelo movimento reflexo, e ao cabo de varias tentativas conseguiré comandar seu proprio mo- vimento. Uma estrutura superior do cérebro tera substitufdo @ reacao reflexa. Durante seu desenvolvimento, a crianga refinard e tornaré mais precisos esses movimentos e reunird todas as sensagdes motoras para chegar a gestos globais, como erguer a cabeca, agarrar as grades do ber¢o para sentar-se e, logo depois, em- purrar 0 colchdo com os pés para ficar em pé. Visto que a crianga retine os elementos sensoriais que perce- be € os integra em seu movimento, fica evidente, entao, a im- portancia da coordenagao motora. Gragas a ela, a crianga conhe- cera o proprio corpo na relago com a mie e com o meio exte- rior. E, desse modo, formara sua personalidade. E preciso esclarecer que nao se trata de levar a crianga a fazer gindstica, mas de tornar conscientes, para ela, os gestos da vida diaria. ‘A chegada do bebé pode também ser a oportunidade para ques- tionar nossos proprios gestos, habitos ¢ comportamentos her- dadios de nossa educacao, Nao para tejeité-los, mas para repensé- los e recrié-los £ preciso, contudo, evitar um inconveniente: fazer sempre mais para a crianca, dedicar-Ihe o maior tempo possivel ¢ acabar fa- zendo, mecinica e rapidamente, aqueles gestos fundamentais ¢ simples através dos quais nos relacionamos com ela. Refeigdes, 10 © bebé empurra os bragos para balxo a nuca para cima, “reagrupa” a bacia sobre 0 t6rax, levando as pernas para ‘centro @ as maos na direcao do rosto. banhos etc... so gestos que parecem evidentes, definitivos mas, na realidade, nao 0 s4o. Por isso insistitemos principalmente nes- sas atividades, Os pais sabem o longo periodo que passam cuidando do be- bé nos primeiros meses. Cabe-lhes observar se seus movimen- tos se realizam no “bom sentido” e, caso contrario, tentar orient4- os de outra maneira. Conhecendo a organizagao da coordena- cdo motora, os pais ajudardo a crianga a conseguir melhores re- sultados, a enriquecer seu movimento. Na verdade; 0 mais im- portante é a riqueza da motricidade, da habilidade manual, da liberdade do movimento, visando sempre 0 equilibrio ¢ a esta- bilidade, s pais contribuirao de forma harmoniosa para o bom desen- volvimento psicomotor, psfquico ¢ intelectual da crianga. To- das essas fungdes dependem umas das outras. Isoladamente, ne- nhuma delas pode ser perfeita Parece-me muito mais interessante participar da evolugio da crianga através do conhecimento de sua coordenacao motora, do que se ater 4 exclusiva preocupagao, bastante freqiiente, com ‘0 seu desempenho. Andar precocemente, por exemplo, para uma crianga com pouco equilibrio, que manipula mal os objetos, ndo € uma conquista invejavel Cada uma tem seu proprio ritmo de desenvolvimento, que de- ve ser percebido e respeitado. O papel educativo dos pais co- meca no nascimento, pois os primeiros gestos do bebé orienta- rio seu comportamento futuro. Olhemos o recém-nascido em suas primeiras horas de vida. ‘Ja é surpreendente a variada gama de seus movimentos. Obser- ‘vemos sua mimica € todos os pequenos movimentos de seu cor- po, sua “mobilidade espontanea”’ O momento do despertar € particularmente interessante: 0 be- bé se alonga, demorada e minuciosamente, ¢ todas as partes do corpo se beneficiam com esse estiramento. A bacia enrola na di- re¢do do t6rax, a nuca estica, a0 mesmo tempo em que ele em- purra os bragos para baixo. Essa oposiga0 acentua-se ainda mais quando ele boceja. © recém-nascido parece se exercitar e fazer um inventario de todos os movimentos de que € capaz nesse novo elemento que acaba de descobrir: o ar. Seu rosto j4 mostra uma grande riqueza de mimicas: ele franze as sobrancelhas, enruga a testa, abre e fecha os olhos, olha para o lado, vira a cabega. A boca € muito mével: ele puxa o canto da boca para a direita e para a esquerda, alonga 0 ldbio superior, faz rufdos com a lingua etc. Ele faz também muitos movimentos de sucgio (a succao € muito evidente desde 0 inicio, pois € um movimento es- sencial). 1L * > O conjunto de seu corpo esta em movimento, parece ser per- corrido por movimentos ondulatérios. Os bragos se afastam ¢ tornam a voltar na dire¢o do eixo do corpo, as mos abrem e fecham e vém para diante do rosto. Os membros inferiores fa- zem movimentos alternados, os pés esfregam-se um contra 0 u- 110. A bacia se enrola para diante, descolando do colchao, os bra- os sao levados a frente. Num movimento global e brusco, como para espirrar, por exemplo, 0 bebé volta a reagrupar-se inteiramente, bragos ¢ per- nas fletidos sobre o t6rax: ele se enrola completamente, e man- tém essa a posicZo durante 0 sono. Colocado de lado, o recém-nascido nao vai girar de uma s6 vez 0 conjunto do corpo, mas j4 esboga gradativamente a com- plexa mecdnica da rotacio, opondo t6rax ¢ bacia, O trax os ombros pousam sobre o colch4o em primeiro lugar, seguidos pela bacia. £ a “‘torcdo”. Olhemos atentamente a perfeigao que esses movimentos revelam na organizagio do corpo. Vamos reencontré-la também nos bragos € nas pernas. Esse complexo esquema de oposi¢do das rotagdes no ambito das articulagdes conduz a0 que chamaremos de “tensio”. Percebemos também que quaisquer que sejam seus movimen- tos, 0 recém-nascido sempre passa e repassa pela posi¢ao de en- rolamento, primordial para ele, ¢ € apoiando-se nela que conse- gue estirar-se ou endireitar-se. £ 0 que chamaremos “enrolamen- to-endireitamento”. Para explicar a complexidade e a riqueza da motricidade, ve- jamos, na pagina a direita, como o bebé organiza o movimento de rotacao: Motricidade espontanea do beb8. Colocado numa superticie plana, ele se ‘‘rea- grupa” espontaneamente, 12 Ele no gira de uma s6 vez (como uma tabua), mas opde térax @ bacia. Comega afastando 0 cotovelo, depois, 0 térax gira e se coloca sobre a superficie de apoio, enquanto a bacia per- manece em enrolamento. A bacia se apéla por dltimo. ‘Sentindo como o bebé “'se enrola": segure-o com as maos bem aberias. Sinta ‘o movimento: ele se “reagrupa”. Suas méos estdo diante do rosto. Ele esta “en- rolado”. 14 I ORGANIZACAO DA COORDENAGAO MOTORA ENROLAMENTO/ ENDIREITAMENTO, TORCAO, TENSAO Enrolamento, endireitamento, tor¢do € tensao sao os principios basicos da coordenacao motora Desde 0 nascimento, certas posigdes sio acompanhadas por sensacdes de bem-estar (outras, a0 contrario, esto ligadas a sen- sagdes de desconforto e mal-estar, que veremos mais adiante). 10 posigdes que dio seguranga. Desse modo, a crianga ex- perimentard seu corpo como uma unidade est4vel e equilibrada As posi¢des de bem-estar so aquelas em que a crianga es “reagrupada” sobre si mesma. Estando “‘em enrolamento”, os diferentes grupos musculares do corpo esto colocados em po- sigdes favoraveis 4 coordenago motora. dessas posigdes que vai depender 0 desenvolvimento psi- comotor da crianga, € que a levara progressivamente 4 autono- mia eA conquista do mundo exterior. No inicio, o bem-estar da crianga depende, em grande medida, do adulto. Por isso, at buiremos uma grande importincia a todos os gestos da vida co- tidiana (mamadeira, fraldas, banho etc.). Respeitando algumas re- gras simples, podemos aumentar o bem-estar da crianca e facili tar seu desenvolvimento ulterior. © “enrolamento” € capital para o recém-nascido. Segure-o ‘com as mos bem abertas, uma delas sob a cabega € a parte superior das costas, a outra segurando a bacia ¢ a parte inferior das costas. Os bragos do bebé ficam a frente. Vocé pode sentir como ele vai se “reagrupar” ¢ se enrolar por iniciativa propria. (© beb6 "‘enrola-se” nos bragos; chamamos isso de "‘posigo de bem-estar”. Nesta posi¢o, a cabeca e a bacia podem se “enrolar” uma na diregdo da outra, por meio do trabalho dos misculos flexores da parte anterior do tronco (misculos do pescogo, do abdémen, do perineo), Exame dos reflexos arcalcos logo apés 0 nasci- mento, Sentado e puxado pelas mos, o bebé se ‘agarra ao polegar do exeminador, se tiver uma boa ‘coordenagéo. O ato de agarrar permite que os ‘musculos se encadeiem desde as maos até a ca- bbeca, passando pelo térax. Apolado nos miscu- los flexores, ele se endireita com a cabega apon- tada para cima, e a presséo dos pés contra 0 chao 6 ponto de partida para a posi¢ao em pé e para a marcha automatica. 18 Deitado de lado no berco, o bebé esta em uma posi¢ao harmoniosa, {as mos esto préximas ("‘reagrupadas”), as pernas mais perto do tronco e a bacia em posi¢ao de “enrolamento”. Ao tomé-io nos bra- 0s, respeitemos essa posigéo mantendo-o em “enrolamento". Essa posigdo, por sis, serviré para diminuir um eventual mal-estar @ aquletar 0 choro. A crianca se sentra em seguranca estando bem “reagrupada”” sobre si mesma. A tensdo de seus misculos equil- brada e ela se acalma, ‘Acrianga bem coordenada encontra a posi¢&o confortével. Ela junta 0s bracos em “‘posicéo de coordenacao'’. No “enrolamento’” 0 bebé aproxima cabega, maos e pés. Siga-o nesse movimento, que é fundamental para ele. Cada vez que vocé o segura, pode observar como ele “se aninha’’, enrola-se em seus bragos. O ‘‘enrolamento”’, por si s6, diminuira bastante qualquer pequeno mal-estar ou choro. O bebé sente-se em se- guranga, bem “‘reagrupado” sobre si mesmo e se acalma gracas 4 tonicidade equilibrada de seus misculos. Essa posicao traz de volta © bem-estar. Por que insistimos nessa correspondéncia entre “enrolamen- to” e bem-estar? No decorrer de seu desenvolvimento, a crian- ¢a olha as préprias maos, estende os bragos, coloca-se em rela- 40 com a mae, descobre o mundo exterior e manipula objetos. Todas essas atividades acontecem “A frente”, e nelas 0 corpo passa necessariamente pelo “enrolamento” £ também ao apoiar-se em seu “enrolamento” que a crianca vai organizar, nas melhores condi¢6es, o endireitamento neces- sdrio para sentar-se ¢, depois, ficar em pé € andar. Se 0 bebé estd sofrendo algum mal-estar, nao ocorrerd o “en- rolamento” ao ser tomado nos bracos. Ao contrario, o que ire- mos observar € a posigao inversa, “em extensio”: cabeca ¢ bra- gos atirados para tras, 0 dorso arqueado € os mtisculos extenso- res endurecidos. ‘Temos observado que mesmo as doengas mais comuns (oti- te, rinofaringite, diarréia etc.) sdo freqientemente acompanha- das de um desequilibrio do ténus muscular. Os musculos do cixo anterior (comumente chamados de ‘‘flexores”) relaxam € os misculos do eixo posterior (os “extensores"’) puxam para tras, A crianga encontra-se, de forma mais ou menos acentua- da, com a cabeca para tras, os bragos também atirados para tras e, freqiientemente, a regiéo lombar arqueada. Essa posicao acentua-se durante 0 choro: é a posigao de “'mal-estar’” em ex- tensio. Essa mesma posicao de “‘mal-estar” também € encontrada en- tre criancas com dificuldades de relacionamento. A extensio tam- bém pode ser observada em criangas mais velhas com dificuld: des psicomotoras. Outras atravessam periods de organizagio defeituosa da motricidade por razes transit6rias de desequili- brio biolégico ou outra causa qualquer. Em contrapartida, a crianga que se sente “bem na propria pe- le”, que mostra equilibrio e harmonia, tanto do ponto de vista motor quanto psiquico ou relacional, apresenta facilmente o “en- rolamento” quando a tomamos nos bracos. E nos seus diversos movimentos, ela passa € repassa sempre por essa posi¢ao. Se os pais conhecessem bem o mecanismo da coordenagio motora, poderiam perceber as posigdes de “‘mal-estar” da crianga € procurar conduzi-la ao “enrolamento” do bem-estar, evitan- do assim que a m4 organizacio se fixe, 20 Veja 0 que ocorre com as criangas mal coordenadas quando sao puxadas pelas mos: 0s musculos dos bracos e dos ombros no se encaixam; os bracos no flexionam; a cabeca se inclina para trés @ 0 queixo se projeta para o alto. Nas condi¢ées patol6gicas da crianga, néo encontramos o enrolamento. Encon- tramos sempre a posigao “em extenstio”: cabeca para trds, bragos também ati- rados para trés, costas arqueadas, com os miisculos dorsalis endurecidos. Essa posiggo acentua-se durante 0 choro. E a posigo de ‘‘mal-estar” em extensao, encontrada também nas situagdes de agressdo psicolégica que @ crianca cexperimenta.* * Uma crianga bem coordenada poder eventualmente assumir uma postura se- melhante, resistindo a responder “em coordenacia” por uma razo ou outra, 20 estimulo do adulto. (N.T.) 21 TRONCO E CABECA No tronco, enrolamento consiste em aproximar cabega e ba- cia. Esse movimento resulta do trabalho dos miisculos da parte anterior do tronco (misculos flexores da cabega, do pescoco, do abdémen e do perineo). As abdbadas da cabeca ¢ a da bacia enrolam-se, uma na diregao da outra. Na cabe¢a, 0 enrolamento é um movimento muito comple- xo, que parte dos misculos dos labios e coordena todos os mtis- culos da deglutica0, do centro motor hioidiano e permite a ba cula da cabeca para a frente, abrindo, atris, 0 espaco das duas primeiras vértebras cervicais. Esse movimento representa aque- la pequena inclinagao dianteira da cabeca no movimento do “sim’’, Esse primeiro enrolamento se propaga ao t6rax, faz com que as duas primeiras costelas (empurrando-as para tras ¢, obli- qiamente, para cima) recuem ¢ as tiltimas costelas se distanciem (para baixo, para tras e para fora) ORGANIZAGAO DA MOTRICIDADE ‘As abobadas da cabega e da bacia Na bacia, 0 movimento dos abdominais parte dos mtisculos do perineo (aproximando fsquios ¢ céccix); a bacia se enrola para aproximar-se da cabeca. Esse movimento propaga-se até as tilti- mas costelas, que se abrem na parte de tras, reunindo-se, assim, a0 enrolamento da cabeca. As tiltimas costelas representam 0 pon- to de jungIo desses dois movimentos de enrolamento, 0 da ca- bea € o da bacia 22 PASSAGEM A POSICAO EM PE © bebé uniré cabeca © maos para estender os bragos para 0 adulto. Vai se puxar para a frente para sentar. Em seguida, empurrando os pés contra 0 cor- o do adulto e unindo cabeca, maos 6 pés, ele ficard “em pé" Por que o “enrolamento” é importants? & a partir dele, e sempre apoiado ‘nos mésculos flexores, que o tronco chegara a posicao vertical (6 0 que cha- mamos “enrolamento-endireitamento"). Portanto, dependerd da boa qualida- de do “enrolamento” a qualidade da posigdo vertical. Posigao esta (cabeca para cima) que é a posi¢ao ideal do ser humano em pé. 23 Estas fotos frontais mostram como o bebé se prepara para ficar em pé. & um verdadeiro “‘tensionamento”’. Porém, é a organizagao anterior ‘em enrolamen- to" que Ihe permitira conquistar uma postura ereta perfeita. Veja como seus om- bros estdo balxos, a cabeca lierada e bem colocada no prolongamento do to co, © como este mostra-se estavel sso aconteceu porque 0 bebé “encadeou” todos 03 masculos da coordenacéo. Observe as méos do adulto induzindo o movimento coordenado na crianca Coloca os polegares sob os dedos do bebé para que este nossa agarré-los. AO ‘mesmo tempo, faz com que seus ombros abaixem, mantendo a flexao dos coto- Velos e fazendo uma ligeira rotagao extema dos antebragos 24 Tomando 0 enrolamento como ponto de partida, e sempre apoiando-se nos misculos “flexores’’, 0 tronco voltar4 4 posi- do vertical. A qualidade da posico vertical em elevacao (cabe- Ga ereta — que € a posigao ideal do homem em pé) depender4 da qualidade do enrolamento. O movimento simétrico do tron- co prolonga-se num movimento simétrico dos membros; por exemplo, estender o braco ¢ agarrar-se em algo para sentar-se. No endireitamento, os mdsculos da parte posterior do tronco — 08 misculos “‘extensores” das costas — podem ser conside- rados uma espécie de mola; eles se apdiam nos miisculos do en- rolamento para endireitar 0 tronco. O enrolamento-endireitamento garante a harmonia ¢ o equil brio antero-posterior do corpo. No caso de desarmonia entre os mtisculos do enrolamento (‘‘flexores") € os do endireitamento (“extensores”’), 0 tronco fica em posigées incorretas (lordose, cifose, bloqucio da coordenagao) At€ aqui falamos do movimento de enrolamento-endireitamen- to (‘‘sistema reto”), exclusivo do tronco e da cabe¢a, que tam- bém podem organizar-se em tor¢ao (por exemplo, oposico dos movimentos dos ombros ¢ da bacia). Por outro lado, os mem- bros superiores ¢ inferiores s6 se movimentam em tor¢ao. Para compreender a complexidade ¢ a riqueza da coordena- ¢40 motora é preciso conhecer melhor os muisculos que condu- zem a torcdo-tensao. Certos mdsculos passam por mais de uma articulagao € sio os organizadores do movimento porque a contracao de um deles provoca a contragao do misculo seguinte. Eles sio chamados “miisculos condutores”’, Esses miisculos longitudinais unem, sem interrupgao funcional, a cabega a bacia, a cabeca as maos € a ca- beca aos pés, organizando todo 0 corpo em unidade. No corpo nao pode haver trabalho parcial; € todo 0 conjunto que partici- pa do movimento Por suas insergdes e pela direcao do seu trajeto, os mtisculos condutores fardo uma articulagdo girar para dentro ¢ uma outra Para fora, num movimento de tor¢ao cujo resultado ser o que chamamos de tensio. Enrolamento-torcdo-tensao, permitem que 0 corpo se organi- ze em uma unidade estruturada, na qual crianga poder4 se apoiar para avan¢ar em direcao ao mundo. £ uma organiza¢ao essencial, sobre a qual a criana estrutura seu corpo e sua personalidade. 25 MEMBROS SUPERIORES Braco e mao DISPOSICAO DOS MUSCULOS NA ORGANIZACAO DO MEMBRO SUPERIOR CO trabalho do longo biceps, como rotator externo do radio, da inicio & contragao dos masculos longos do polegar. O brago (jimero) gira para dentro. Os dois os- 08 do antebrago (radio ¢ ulna) giram, no seu conjunto, para fora. O punho endi- rela, isto 6, fica mais ou menos no prolongamento do antebraco. A mao forma um arco (abébada), pela oposigdo entre 0 polegar e o dedo minimo. Notemos também que o dedo médio (o tercelro) encontra-se no eixo do antebraco. Na foto A direita, a m&o esta aberta e o polegar bem afastado dos outros dedos. Fazendo ressaltar as articulagGes entre os metacarpianos e as pri- meiras falanges dos dedos, percebemos 0 arco (abobada) forma- do pelas cabegas dos metacarpos. Isso ocorre porque a mao nao € plana, mas forma uma ab6bada, criada pela tensao entre 0 po- legar ¢ 0 dedo minimo. ‘As rotagGes observadas no brago resultam do trabalho dos miis- culos condutores, particularmente o biceps. Devido & suas in- sercdes € a diregio obliqua de seu trajeto, 0 biceps provocari, no antebraco, uma acio diferente daquela que vai ocorrer no braco. As rotagdes desses dois segmentos (antebraco € braco) opdem-se, criando uma tensio, Para observar a ago acima descrita faca, por exemplo, 0 mo- vimento dé levar uma maga a boca. Ao mesmo tempo em que © braco gira para dentro, 0 cotovelo afasta-se do tronco € 0 an- tebraco gira com a mao (em abébada) para fora, levando a fruta para a frente do rosto, Nao se trata de um mero movimento de flexio/extenso num mesmo plano — como no caso de uma do- bradica —, mas de um movimento de rotagdo/torgao. Ou seja, (0.0850 do bra¢o (Gimero) gira para dentro (rotacao interna), € os dois ossos do antebraco (rédio-ulna) e a mao giram para fora (ro- taco externa). Ao levar a mio ou, mais precisamente, o polegar a boca, o bebé afasta 0 cotovelo, € os dois segmentos do mem- bro superior opéem, simultaneamente, 0 sentido de sua rotacao, © ombro fica abaixado ¢ bem colocado 26 ‘Abébada formada entre o polegar e o dedo minimo: o poleger ‘esta bem separado. Detalhes da posico de coordenacao do ‘memiro superior: o ombro abaixa, 0 co- tovelo se afasta do tronco, 0 braco gira para dentro (rotacdo interna), o antebra- {0 gira para fora (rotagao externa), o pu- ‘nho endireita, o polegar se afasta dos outros dedos: (0 dedo médio prolonga o eixo do ante- braco. ‘Amo é capital no desenvolvimento da crianga e a representacao dela no cére- bro é muito importante. Importante também é a relagao da mao com a boca, des- de o primeiro dia de vida, ‘As maos do recém-nascido séo ativas desde os primeiros dias de vida. Por exemplo, ele as junta e leva-as a boca. Durante seu desenvolvimento, pode-se erceber quanto tempo ele passa olhando para elas, manipulando-as, @ repetin- do com prazer os movimentos que descobriu sozinho. © polegar e 0 dedo minimo afastados déo @ mao a forma de abébada permitindo os movimentos finos dos dedos. A MAO TOCA O OBJETO Todas as sensacOes e descobertas séo fundamen- tais para a crianca. Ela tem necessidade de apal- par, @ 0 faz com grande atencdo. Depois de apal- par e observar, leva a mao & boca, 28 Articulagao do ombro Vejamos como se comporta essa articulagdo que une o brago 20 omoplata. A cabeca umeral, que forma uma saliéncia caracteris- tica, percebida quando tocamos 0 ombro com a mao, tem for- ma esférica. Nos movimentos coordenados de preenso ou na escrita, por exemplo, a cabega umeral gira para dentro (rotacao interna) ¢ essa saliéncia desaparece sob nossos dedos Na auséncia de coordenacao, a cabeca do timero fica muito saliente, para fora ¢ para a frente (rotacdo externa), e 0 brago continua colado ao corpo. A m4 posigao pode acarretar dificul- dades na escrita Encadeamento do movimento do membro superior Quando colocamos um dedo na palma da mao do bebé, ele agarra esse dedo com forca (esse gesto é reflexo no recém-nascido e vai desaparecer progressivamente). Se aproveitarmos esse gesto de agarrar para puxar a mao dele em nossa direcdo, como se f0s- semos levanté-lo, 0 bebé afasta 0 cotovelo do corpo e ao mes- mo tempo gira o braco € 0 antebraco em rotagao, a0 passo que a “bola” formada pela cabeca umeral gira para dentro e desapa- Tece. S40 0s miisculos condutores do brago, que ja vimos ante- riormente, que desencadearam essas rotagdes ¢ acionarao os mis- culos do pescogo ¢ os misculos responsaveis pelo “encaixe” da omoplata no t6rax, criando assim um bom ponto de apoio para que a cabega endireite, Desse modo, cada vez que o bebé é tomado nos bragos — 0 que acontece intimeras vezes durante o dia — 0 modo como se- gurarmos sua mao permitir4 que faga uso dessa organizacao pa- ta iniciar todo esse encadeamento de contragdes musculares. 29 MEMBROS INFERIORES Perna € pé Como se vé nas fotos, a crianga j4 mostra toda uma organizacao dos membros inferiores. A coxa gira para fora, a perna para den- tro, o pé endireita Observe particularmente o pé. Ele apresenta dois arcos (abé- badas): um arco longitudinal, que vai do calcanhar aos artelhos, e umarco anterior, criado pela tensio resultante da oposigao en- tre 0 primeiro ¢ 0 quinto artelhos. Os dedos do pé estao alonga- dos ¢ bem alinhados. No dorso do pé desenha-se 0 tendao de ‘um mtisculo (0 tibial anterior), que tem um papel preponderan- te nos movimentos dos membros inferiores. © conjunto formado pela coxa-perna-pé esté bem alinhado, ‘gracas a aco dos mtisculos ‘‘condutores, que criam essa opo- sigdo de rotagdes e permitem que os membros inferiores se ali- nhem ao redor de um eixo, $40 muisculos condutores: 0 costu- feito ou sart6rio, na coxa, € os tibiais e fibulares ou peroneiros, na perna. £ da articulaggo do quadril que depende a boa organizaga0 do membro inferior. Essa articulaco situa-se no meio da dobra da virilha e une a bacia aos membros inferiores. A cabega femural, em forma de 0s dois arcos (abébadas) do pé. Arco longitudinal entre calca- nihar e primeiro artelho, Arco anterior decorrente da oposico entre primeiro e quinto artelhos. Coordenac&o da perna: coxa girada para fora, perna girada para dentro, Oposicao entre o primeiro € quinto artelhos. 30 esfera, permite movimentos em todos os planos. A articulagao do quadril tem papel determinante na posicao do corpo em pé Na crianca, certas posigdes incorretas do tronco e dos mem- bros inferiores so acompanhadas de uma rotagao para dentro do femur (rotacao interna) e um “fechamento” da dobra da viri- Iha, Em adultos que se queixam de dores vertebrais, encontram-se com freqiiéncia essa rotacao interna ¢ o fechamento da dobra da virilha (flexao do quadril sobre a coxa). Nesses casos, a cabe- ¢a do fémur esta girada para dentro, a bacia (osso iliaco) € bas- culada para a frente, fazendo com que a dobra da virilha se “fe- che” e provocando deformagées na coluna vertebral, como lor- doses € cifoses. Nesses casos, os joelhos giram para dentro ¢ se aproximam (joelho valgo); os pés se afastam e desabam, achatando 0 arco longitudinal. Masculos condutores: diregéo dos musculos condutores e Alinhamento da perna: coxa girada para fora, pena girada todas as rotag6es que se produzem para que a perna esteja_para dentro, o pé com o calcanhar girado para fora € 0 ante- no exo, é grado para dentro, A posigao da bacia, da coluna vertebral e dos membros infe- riores (portanto, a estdtica do corpo em seu conjunto) depen- dem da mobilidade da articulaga0 do quadril ¢ de sua posigao. Por isso € tdo importante favorecer a0 maximo a mobilidade € a amplitude dessa articulacdo, antes que a crianga consiga ficar em pé. (Mais adiante, algumas sugestdes a serem seguidas no mo- mento da troca de fraldas.) ‘Acabamos de ver a organizagao da coordenagao motora a partir das nogées de enrolamento-endireitamento, torcao ¢ tensio. Va- mos tentar fazer uso delas nos gestos cotidianos com a crianca E preciso lembrar que o recém-nascido passa bruscamente do meio aquatico, sonoro ¢ vivo, no qual ele percebia o balango € 0s deslocamentos dos movimentos da mie, com todas as pres ses dos fluxos e refluxos de sua vida orgénica, para um meio onde tera que lidar com a gravidade € 0 peso. Depois do nascimento, € colocado num plano rigido ¢ im6- vel. Facilitemos sua adaptacdo. S40 as nossas maos, as mos do adulto, que constituirdo o novo elemento vivo em suas primei- ras semanas de vida, Nao 0 seguremos como se fosse um objeto frégil, ou com as pontas dos dedos, mas com mios seguras € fir- mes. © bebé ficara muito satisfeito se for manipulado nao s6 no plano frente/trés, mas também em torcio, incluindo em sua ex- periéncia a terceira dimensio do espago. Lembre-se sempre que a vida para ele € 0 movimento, e que € desse modo que ele constr6i sua personalidade, Desde o ini- cio, tenha 0 cuidado de evitar qualquer entrave a expressao de seu movimento 32 II - GESTOS COTIDIANOS $0 ey fee 1 srauoTeca \} + imec + & Lt y Cic10 4 A IMPORTANCIA DO OLHAR Observe a diferenga do olhar, jd desde os primeiros dias, con- forme a pessoa a quem é dirigido. O olhar ¢ o elo privilegiado do relacionamento. A cabeca e a nuca séo mantidas no prolongamento das costas. (Obebé esta inteiramente envolvido na relagéio com a mae. COMO SEGURAR, CARREGAR E LEVANTAR O BEBE Segurar e carregar 0 bebé so gestos que fazemos 0 dia todo. Ha. de carregar a crianga pequena, mas em todas é importante respeitar 0 mento”, orientando a crianga em varias diregdes, para que ela possa conhecer 2s possibilidades de seu corpo e o ambiente ao seu redor. Ndo a acostume em tuma tnica posigao. Esquerda: uma posigSo fécil ¢ eficaz: 0 bebé esté bem seguro. Suas costas ‘estdo apoiadas no corpo do adulto, que dessa manelra, tem a mao direita livre, ‘O bebé pode segurar o brago do adulto ou “'reagrupar” as duas méos. Bem se- {gurol...Até mesmo os Isquios esto seguros! Embaixo: em “‘enrolamento” e em rotagdo, a bacia pode ficar lig voltada para 0 corpo do adulto, @ 0 térax para fora: ou de frente para o adult. mente 36 Para levantar 0 beb@, colocamos nosso polegar na palma de sua méo, afastando ‘seu polegar e endireitando seu punho, para incitar a crianca a agarrar-se & nos. sa mao. Os muisculos do membro superior se encadelam da mo & cabega, permitin- do que esta venha para a frente. Em seguida, mantemos sua bacia bem coloca- da, preservando o “enrolamento” cabega-bacia. ‘Quando a crianca é maior ¢ | sustenta a cabeca, nds a seguramos pelas maos. Ela comega o movimento pelo lébio superior, para levar a cabeca a frente e enrolar- se para sontar. MAMADA Posigdo para a mamada Sea mie estiver confortavelmente instalada, 0 bebé ficara na po- sigdo certa para mamar. "A mae escolhe um assento baixo, para que seus pés fiquem bem apoiados no chao, as costas apoiadas no encosto ¢ os dois cotovelos também apoiados. © bebé esté bem seguro ““em enrolamento”. A cabega bem sustentada. Os pés ‘contra um apoio. Segura a mao da mae. ‘Antes mesmo de nascer, 0 bebé ja exercita a sucgao. Alguns até ja chupam 0 dedo no ventre materno, O reflexo de sucgio € muito forte durante as primeiras horas de vida. O recém-nascido buscar o seio da mae, se for colocado sobre seu corpo logo apés o nascimento. Repetidas vezes, durante as 24 horas do dia, o bebé passard ‘um tempo mais ou menos longo alimentando-se. O que vai acon- tecer? Nao cremos que ele se alimente passivamente. Pelo contratio, esse é um momento em que ele est4 completamente desperto, todos os seus sentidos esto ativos, cle dirige atentamente o olhar para a pessoa que 0 alimenta, Atento, ele ouve, reconhece os rufdos familiares € reage a novos ruidos. Todo o conjunto de seu corpo est concentrado nesse “trabalho”, que para ele € fun- damental, Trata-se realmente de um trabalho, ja que, depois de uma boa mamada, ocorre um completo relaxamento. 38 Por que insistimos no momento da mamada, uma vez que, de modo geral, cla transcorre sem problemas? A insisténcia deve-se ao fato de que nem sempre esto reuni- das, nese momento, todas as condig6es para que 0 bebé encon- tre aquilo de que necessita. Mas, além do alimento, do que mais pode ele necessitar? O bebé precisa estar numa posi¢do que Ihe oferega os meios para realizar bem 0 trabalho da mamada, Para tanto, é preciso, em primeiro lugar, que a mae esteja confortavelmente instalada, para evitar qualquer instabilidade, os pés bem apoiados no chao ou sobre um banquinho. Essa posicAo estével, que Ihe tomaré tanto tempo quanto tomaria uma posicao instavel, distenderd a ambos, mie ¢ filho. Quando o bebé mama, diversas sensa¢des se registram simultaneamente em seu sistema nervoso. A sensa- Gao global de bem-estar nos bracos da mae, o bem-estar da pr6- pria mae, a comunicacdo entre ambos, através do olhar, enquanto © Ieite tépido € adocicado sacia sua fome. © bebe percebe 0 poderoso movimento de succao que “en- rola” primeiro sua cabeca para a frente e entao se propaga a0 conjunto de seu corpo. Percebe o movimento dos pés, que fa- zem pressdo contra 0 braco da poltrona, a mesa ou as maos da mie. Percebe as préprias maos, que seguram a mamadeira ou 0 dedo da mae. Ouve os ruidos do proprio corpo, a voz da mae € 08 ruidos da casa Para bem engolir e digerir, a cabeca e 0 pescogo do bebé devem estar bem colocados. A cabeca bem mantida para a frente. Os ombros abaixados e 0 pescoco livre. A cada succao 0 recém-nascido faz com a cabega um pequeno movimento de flexdo para a frente, como no sim”. 39 Se o bebé estiver numa posig¢ao menos confortivel, por exem- plo, com um braco espremido pelo brago da mae, a cabega sem apoio ¢ tombando cada vez mais para tras, os pés soltos ou 0 corpo completamente estirado € deslizando, ele acabara perce- bendo 0 desconforto em todas essas sensagdes. Deixara de en- contrar nesse momento privilegiado a seguranga indispensavel ao seu proprio bem-estar. Certas precaucées ajudarao a evitar os erros. ‘A mae bem instalada segura o bebé, em posi¢ao de “‘enrola- mento”, sobre seus joelhos. Toma cuidado para que a nuca es- teja livre e a cabeca no prolongamento da nuca, de modo a ev tar a bascula da cabeca para tras; enquanto mama, o bebé traz a.cabeca um pouco para a frente, num leve balango regular, gra- as 4 contracao dos mtisculos da suc¢do (tal como ocorre com 6 ligeiro movimento da cabega no gesto que significa “‘sim’’) Para que as mos do bebé cheguem & mamadeira, levamos seus bracos para a frente, cuidando para que os ombros estejam abai- xados. A parte inferior do queixo deve estar bem livre. Dando um apoio adequado para seus pés, 0 movimento da succao se propagara por todo 0 corpo. A crianca bebe mais rapido na mamadeira do que no seio e, por isso, neste caso, todo o trabalho muscular da sucgdo se~ ra menos intenso. E importante escolher bem 0 bico da mama- deira. Evite usar com muita freqiiéncia a posi¢ao que facilita 0 fluxo de leite, ou bicos com buracos grandes, que diminuem e até eliminam o trabalho dos miisculos. Os bragos do bebé esto para a frente. Ele segura a mamadeira. Seus pés esto apoiados. 40 Observemos 0 mecanismo da succao-deglutica0. Vocé pode sentir a forga e a poténcia da suceao quando um recém-nascido chupar um dedo do adulto. Ha forca muscular no somente hos labios, mas em todos os misculos das bochechas, da lingua, da parte de posterior da garganta e do pescogo. E 0 complexo en: cadeamento de todos esses miisculos que permite 0 movimen- to complicado € poderoso da sucgao/degluticao, constituido de press6es € relaxamentos. No movimento da cabega para a fren- te comega 0 encadeamento dos miisculos flexores do tronco. Decorre dai o papel fundamental da mamada e a importancia da posigio do bebé durante essa atividade. Depois de mamar, dé ao bebé um certo tempo de calma. Ele estd totalmente descontraido. As maos se abrem. E freqiiente a crianca dormir logo em seguida. Passadas as primeiras se- manas, entretanto, 0 bebé fica atento ao que se passa dentro dele: ao comeco da digestao, a tensdo/pressdo no estomago, aos ruédos interiores de seu corpo. Ele fica sério nessa bora, Nao cogitamos aqui no valor do aleitamento no seio. Isso de- pende da possibilidade da mae. Porém, é importante a maneira como a crianga recebe o alimento, seja na mamadeira ou no scio, ea disponibilidade da mae ou da pessoa que Ihe da a mamadeira. Musculos da cabeca e pescoco durante a mamada CENTRO DO MOVIMENTO DA CABEGA (© PEQUENO “SiM") FRogiao hiodian, encruzihada de todos os maisculos da sucedo. 41 A regio hiodiana, acima do “‘pomo-de-Ado”, € um impor- tante centro do movimento. A partit dela se enredam e se cru- zam os miisculos que vio a faringe, 4 lingua, 2 mandibula infe- rior (formando 0 assoalho bucal), ao esterno € 4 omoplata. To- dos esses misculos entram em acdo no momento da suc¢ao-de- gluticao. Durante a mamada, 0 movimento de succao cnrola a cabeca para a frente, especialmente na altura das duas primeiras vért bras cervicais, e se propaga aos misculos flexores do tronco. Por isso 0 ligeiro movimento da cabeca do bebe. A organizacao entre a regio hiodiana, o ébio superior ¢ as duas primeiras vértebras cervicais € muito importante na coor- denagdo motora. £ dela que parte o enrolamento do tronco Aovitar: cabeca @ bracos jogados para trés. Pernas esticadas e rigidas, sem apoio para os pés. Segurar 0 bedé como se ele fosse uma tébua, BANHO E preciso preparar o bebé antes de coloca-lo na agua. Fale com ele, diga-Ihe o que irdo fazer. A voz da mie deve ser um verda- deiro “banho sonoro” para o bebé. Falar € muito importante, pois o bebé associar4 as palavras ba- nho e Agua a esses momentos de prazer. ‘A mae fala com 0 bebé e 0 mantém bem “reagrupado” diante da banheira. Ele deve ver a dgua em que iré entrar. Ele escuta. Sua atenggo é grande. O banho € outro momento privilegiado para que a crianca se descontraia. A auséncia de peso do corpo na agua permite que reencontre os movimentos de sua vida fetal. E na agua que ela vai perceber sua capacidade de fazer movimentos sem ajuda. Por todas essas razOes, 0 banho € ainda mais importante nos dois primeiros meses de vida. Para evitar a inseguranca € 0 medo que algumas criancas ex- perimentam em seus primeiros contatos com a dgua, bastam al- ‘gumas precaucdes simples. Novamente, as atitudes do adulto sto muito importantes. Ele deveri estar bem colocado, apoiado nos és, ter maos firmes e seguras para transmitir seguranga a crian- ¢a. A banheira deve estar firme e forrada com material anti- derrapante. A temperatura adequada da 4gua ¢ do ambiente so cuidados essenciais. Freqiientemente, com receio de que a crianca sinta frio ou receba um golpe de ar, o banho € precipitado, sem que o bebé tenha tempo de apreci-lo. 43, LEVANDO O BEBE AO BANHO. Carregue-o “em enrolamento”. Segure-o de modo 2 "reagrupar” as partes do seu corpo. Aproxime ca- bega @ bacia, bracos @ pernas. O adulto passa a mao diteta efitre as pernas do bebé e mantém sua bacia com firmeza. Dessa maneira, 0 bebé estara bem firme nas maos de quem vai banhédlo Em seguida, coloque o bebé sentado com 0 rosto voltado para a agua. Ele deve enxergé-la @ ouvir 0 Tuido que faz batendo nela com as maos. Quando o bebs estiver confiante, é possivel colocé- lo de costas, mantendo a cabeca inclinada para a frente. O bebé empurra os pés contra a banheira € estira-se completamente (“endireltamento”), Vire 0 bebé suavemente para um lado e para 0 ou- tro, mantendo-o bem “reagrupado”. TIRANDO O BEBE DO BANHO. Durante 0 banho, e mesmo ao preparé-lo, converse com a crianga, diga-Ihe 0 que vai acontecer, ouca com ela a égua que corte, € assim por diante. A ctianga deve ser posta na Agua em posicao de “enrolamen- to”’. Para manter com firmeza a bacia € a parte inferior das cos- tas, a mao direita do adulto deve passar entre as pernas da crian- ¢a, enquanto a mao esquerda apdia a cabeca ¢ os ombros. Aproxime a crianca da agua, nessa posicao sentada. Dessa ma- neira, cla entra em contato com a Agua, que pode ver e tocar com as mos. Nessa posigdo, gire-a de um lado € do outro, embale-a para a frente ¢ para tras. Nesses deslocamentos a agua exercerd uma pressio diferente sobre as partes do corpo. Sinta como a torcao é mais facil na 4gua a medida que voce gira a ba- cia da crianca para a direita, 0 torax para a esquerda, ¢ vice-versa Accrianca empurra a 4gua com as mios, Esse contato e 0 rufdo que faz quando bate na 4gua s40 muito importantes para ela. Em seguida, esvazie um pouco a banheira. Partindo da posi- ‘cdo sentada, v4 deitando a crianga, progressivamente, dentro da Agua. Faca com que scus pés se apdiem na banheira. Deixe-a estirar-se completamente, sinta sua descontracdo. Os bragos alongam-se, as mios se abrem. Deixe-a sozinha em uma peque- na quantidade de agua no fundo da banheira. A crianca movera as pernas € os bracos ¢ tentara girar 0 tronco. S6 ensaboe a crianca no final, depois dessa fase de brincadei- ras com a agua. Para tirar a crianga do banho, a posigao € a mesma que usa- mos no inicio: em ‘“enrolamento”, Vire 0 bebé ligeiramente de lado, mantendo com firmeza a _Bracos ¢ pernas “‘reagrupados”. O bebé sente-se bem com cabega inclinada na diregdo da bacia. eu corpo numa unidade ‘‘reagrupada”. 45 ‘A sensacao da agua envolvendo 0 be- be da a éle os limites do préprio corpo @ a imagem do seu esquema corporal. Coloque a crianca numa superficie sélida, sobre uma toalha. E preferivel usar um tecido fino, como o da fralda, para enxuga- la. Este € mais um momento privilegiado para ajudé-la a desco- brir seu esquema corporal através da pele. £ a pele que Ihe di 05 limites do volume do corpo; é ela a transmissora de todas as sensagSes da coordenacio. Aproveite a hora de enxugar a crianga para fazer gestos que estejam de acordo com o sentido de sua organizag4o motora e da coordenacio. A banheira é um 6timo lugar para as descobertas psicomoto- ras. O proprio material de que ela é feita, as torneiras, a borra- cha do chuveirinho... A 4gua € empurrada, emputra e envolve; faz press4o sobre a pele e di 2 crianga mais liberdade de movi- mentos. Os ruidos diversos: a superficie na qual as maos podem bater, a agua escoando pelo ralo A medida que a crianca cresce, deixe que ela explore todas as possibilidades do banho. E sempre agradavel um banho em condicdes adequadas. Se © seu bebé nao gosta de banho, é bom rever todos os elementos que 0 compGem. A estabilidade da banheira, como a crianga é colocada dentro da Agua, © ato de ensaboar etc. Os banhos diarios no exigem um ensaboamento enérgico a cada vez, O sabdo deve ser introduzido no tiltimo momento, para evitar que a crianca tenha a sensacdo de escorregar, causa fre- qiiente de inseguranca. Converse sempre com ela e Ihe diga 0 que esté acontecendo. O barulho da agua é agradavel. Para fazer a crianga experimen- tar a resisténcia da agua contra o corpo, segure-a com a cabeca a bacia “enroladas” uma na direcao da outra € movimente-a para frente e para trés, de um lado € de outro, 46 © QUE O BEBE CONSEGUE FAZER SOZINHO Quando o bebé esté mais confiante e ja sentiu o prazer da agua em seu corpo, descobriré que, sozinho, pode também fazer alguns movimentos. De lado. Nao se preocupe, ele ndo vai beber essa agua. © corpo da crianga esta bem alongado. ‘Acostume logo 0 bebé ao chuveirinho. Para que ele ndo sin-_Lave a cabeca do bebé s6 no fim do banho. Nessa posigao, ‘ta medo, 6 preciso que 0 jato de agua seja fraco. Comece 6 fécillavar a cabeca segurando-a com firmeza e mantendo-a molhando as mos, depois o brago, 0 ombro, 0s pés, a8 per- no prolongamento das costas. Nunca incline a cabeca para has @ as costas: termine no térax, que 6 0 mals sonsivel. trs; 6 uma das causas de panico para as criancas. 47 DURANTE O BANHO A CRIANGA EXERCITA E DESENVOLVE SUA MOTRICIDADE Fazer movimentos em forma de e© com o corpo da crianga: uma lagada para cada lado, da esquerda para a direita e vice-versa. O mesmo pode ser feito numa piscina, com a me. Sozinho na boia bem “reagrupado"’, os abdominais se contraem. Nossas maos colocam a crianca em uma posicao de “bem-estar”, que move seu corpo como ela espera, como ela precisa. O bebé j4 experimentou essa coordenacao motora antes do nascimento, dentro do liquido amnistico. Foi ela que deu ao seu corpo uma forma e um sentido que devemos respeitar e favorecer. ‘Nossos gestos para seguré-la e manté-la dentro da agua so exa- tos € precisos € vao no sentido dos movimentos fundamentais, construidos “em coordenacao", ‘© meio aquatico € propicio. Permite maior facilidade ¢ am- plitude aos movimentos. Permite que o bebé reencontre as sen- sag6es de seus movimentos fundamentais e continue a desen- volver toda a riqueza de sua “coordenacio motora”’ Desde o nascimento, é no banho que, a cada dia, © bebé vai descobrindo 0 préprio corpo. Um corpo vivo, em “‘bem-estar” 48 TROCA DE ROUPAS Na hora de trocar a roupa, o bebé esta desperto e ativo. Ele gira © corpo e tenta agarrar tudo o que estiver ao seu alcance. Certas precaugGes sdo necessirias. Cuide para que 0 mével sobre o qual vocé o troca seja bem estivel. Ponha ao alcance da crianga alguns objetos interessan- tes, que possam ser manipulados por ela. Se for mais confortavel, a mae pode sentar-se diante de uma ‘mesa de altura normal. Se a pessoa que vai trocar o bebé tiver pou- co tempo, poder colocé-lo sobre os joelhos. Dessa maneira é pos- sivel manté-lo firme entre as mos. Sobre um trocador, 0 bebé fica mais livre para movimentar-se, para relacionar-se coma mae, que est a sua frente. Ele vai esbocar intmeros movimentos. So as roupas que devem se adequar a criangae nao 0 contrario. ‘A crianca nao € uma boneca, Suas roupas devem ser folgadas € funcionais, de preferéncia com decotes amplos. Roupas com abertura nas costas tém a vantagem de manter os bracos do recém-nascido para a frente, na hora de vesti-lo. Para que a hora de trocar as roupas ndo se transforme em algo desagradavel, mantenha a crianga na posi¢ao de coordena¢ao, com os bracos para frente, € a tarefa sera bastante facilitada. As fraldas descartiveis que ja vem com calga plastica s4o mui- to priticas. Contudo, cuide para que elas nao tolham a articula- do do quadril, sobretudo no recém-nascido, j que, freqiiente- mente, a fralda vai até os joelhos. Durante a troca de roupa, no vire 0 bebé como se fosse um pacote; aproveite para fazé-lo girar em rotacao, opondo bacia € t6rax, ‘Vejamos como se aplicam as bases da coordenacdo motora na hora de erguer 0 bebé. O adulto desliza o polegar na palma das mAos da crianca, afastando seu polegar dos outros dedos e endi- reitando seus punhos, para incité-lo a agarrar 0 dedo do adulto. Os misculos do braco encadeiam-se da mo 3 cabega, permitin- do que 0 bebé leve a cabega @ frente, Para levanté-lo, uma das mAos sustenta a cabeca € a parte superior das costas, € a outra mio desliza sob a bacia. Desse modo, ele é erguido “em enrola- mento”, € nessa posigo é colocado no trocador. A mao que sustenta a cabeca também alonga a nuca, Em se- guia, abaixamos os ombros do bebé e alongamos todo o con- junto das costas, posicionando a bacia de maneira adequada. O bebé vai entio pressionar os pés contra 0 corpo de quem © est trocando. Essa pressdo exercida com os pés € importante sob varios aspectos: do ponto de vista da estatica do corpo, to- da a extensio das suas costas estar assim apoiada no trocador. Ele se estira € abre a articulagdo dos quadris (extensdo) e faz. pres- so com os pés, o que Ihe da imagem do endireitamento € pre- para o “endireitamento na posicao em pé” 49 As sensagoes proprioceptivas que o bebé experimenta quan- do empurra 08 pés contra o corpo da mae sio muito diferentes daquelas que tem quando se ap6ia numa superficie dura (cama, ‘mesa etc.). O corpo da mie € mével, e ha um jogo motor entre ela e a crianca. Ahora de trocar a roupa é étima para abrir a virilha e girar a articulacdo do quadril. Esses gestos acontecem juntos, quan- do lavamos € enxugamos o bebe. Segure firme uma coxa e gire- a para fora, mantendo-a no prolongamento do eixo do corpo ¢ abrindo a prega da viritha. Para girar a articulaco do quadril, apie com uma das mos os ossos da bacia (ilfacos) ¢, com a outra, gire a coxa para fora. ‘Também € possivel girar para fora as duas coxas ao mesmo tem- po, sem afasté-las do eixo do corpo. Sobre o trocador, 0 bebé bem organizado vai esbocar varios movimentos. A mie poderd entio acompanhi-lo em sua motri- cidade. Vai descobrir os gestos espontaneos que desenvolvem a autonomia da crianga e acompanhi-la na elaboragdo de seus movimentos. Para sentir como s40 complexos, poder, seguran- do-a levemente (por exemplo, na altura dos ossos da bacia), per- ceber todas as rotacdes que o bebé faz a0 tentar alcangar um ob- jeto ou ao virar de lado. COMO COLOCAR 0 BEBE SOBRE 0 TROCADOR ‘Segure-o, mantendo cabega e bacia no sentido do “enrola- mento”. Note a mao que aproxima os dois isquios. Deite primeiro a bacia no trocador e, por sitimo, a cabeca, alongando bem a nuca e a parte inferior das costas (regiao lombar). (Os pés do bebé se apsiam no corpo do adulto. A presséo 6 muito importante, pois ¢ gragas a esse apoio que a crian- (¢a dard inicio & extensdo das costas, até a cabeca (6 0 “en- direitamento”, movimento oposto ao “enrolamento”) Essa osigdo favorece 0 “didlogo”. Diga o que esta fazendo. A articulagao do quadtil (coxo-femural) tem um papel determinante na posic&o ‘em pé. Essa articulagéo deverd ser aberta (em extenséo); durante a troca de rou pas é facil fazer a extenséo abrindo a dobra da virha. Cuide para que a bacia esteja bem apoiada na mesa. Com uma das macs, segure a coxa e gire-a para fora, mantendo-a sempre no prolongamento do tron- 0. Nao afaste 0 joelho do eixo. Nao se trata de puxar a coxa, mas de dar & crian- a.a imagem da abertura da prega da virilha. O adulto usa’ as duas maos para imprimir na pele do bebé a sensagdo de abertura da viriha. ‘Com as maos, transmitimos & crianca @ possibilidade de pér em ago os miis- culos do “enrolamento” (perineo e abdominais), aproximando 0s dois o5sos in- feriores da bacia (0s isquios). 51 PASSEIO E SOCIABILIDADE © bebé deve sair todos os dias, no inverno e no verao. O corpo tem necessidade disso para se desenvolver. ‘A mudanga de ar tem papel importante sobre o sistema respi- rat6rio. As diferencas de temperatura ¢ a renovacao do ar ativa- 120 os alvéolos pulmonares, permitindo maior oxigenacao do sangue, com acdo benéfica sobre o estado geral Para as ctian¢as que tém dificuldade para dormir, 0 habito de sair a passeio todos os dias acarreta uma sensivel melhora do sono, O passeio € o momento para descobrit 0 mundo exterior, tu- do o que existe além da casa e da familia. O interesse do bebé € despertado pelas varias pessoas que entram em contato com amic. Vé outros bebés, criangas que correm, animais. Ouve vo- zes diferentes, ruidos que até entao desconhecia. Presta atencao nas folhas das arvores que se movimentam, sen- te o vento, a luz, vé 0 céu € as nuvens, 0 sol ¢ a sombra. Logo que possivel, ponha o bebé no cartinho em posicao li- geiramente sentada, para que ele possa ver 0 que se passa a sua frente (carrinhos com capota transparente nao isolam tanto 0 be- bé do que se passa 4 sua volta). passcio é um aprendizado da vida em sociedade. Desde os primeiros meses, 0 bebé deve se familiarizar com outros, além do pai ¢ da mae, Principalmente se estiver previsto que ele fica- r4 parte do tempo sob os cuidados de uma outra pessoa que nao a mae. Deve sentir que a mie nao existe exclusivamente para ele, mas também para os irmaos; que ela necessita manter seus relacionamentos com outras pessoas € retomar as atividades fo- ra de casa. A sociabilidade do bebé dependera da maneira como ele for preparado desde as primeiras semanas de vida. 52 POSICOES DURANTE O SONO Como os bebés da nossa cultura passam os primeiros meses de vida em bercos, as posi¢des adotadas durante 0 sono so da maior importancia. £ a partir delas que descobrira o préprio corpo. E uma péna que os pais nao estejam bem informados sobre como segurar o recém-nascido e como participar de sua ativida- de natural, facilitando seu acesso a diversas orientacdes espaciais. A posicao em que 0 colocamos para dormir € 0 ponto de parti- da dos movimentos que ele ira fazer a0 despertar, £ preciso lem- brar que 0 recém-nascido “se constréi” como unidade psico- ‘motora, através dos movimentos que faz. Como vimos em A coor- denacao motora, a estrutura da motricidade é construida sobre © “enrolamento”, que possibilita a reuniao da cabeca com as mios pés, de modo que a crianga possa levar a mao a0 rosto ou a boca, trazer os pés para seu Angulo de visio e manipulé-los. * Milhares de pequenos movimentos vao estruturando a ativi- dade psicomotora, que permitir4 a crianga sentar-se e encontrar © equilibrio em pé. E também na posicao de “enrolamento” que ela estabelecera comunicacdo com a mae. Quando percebe a presenga ou escuta a voz dela, todo o corpo do bebé participara da alegria desse contato, Sua mobilidade progride no sentido de agarrar-se a mao que Ihe € oferecida, estender os bracos para 0 outro. Toda a organizac4o motora, psicomotora e relacional € orien- tada “para a frente’’. Nesse caso, ocorre a difusio em cadeia da contragio dos misculos flexores da cabeca-t6rax-bacia-membros inferiores. Esse reagrupamento em flexdo € necessdrio para 0 re- torno do movimento em extensio. Uma vez que os pés encon- tram um ponto de apoio, todos os segmentos se alinham e pre- param, assim, 0 endireitamento da posicao ereta. Na posicao ereta ocorrera um equilibrio entre os flexores € os extensores, Por- tanto, da qualidade da flexao depende a qualidade da extensao. ‘Vejamos os maleficios de deitar o bebé de barriga para baixo. Seo recém-nascido é mantido em dectibito ventral, antes de con- seguir liberar e erguer a cabeca, no poderd colocar as maos em contato e nem estabelecer a relagdo entre a cabeca e a mao, que é a base de sua atividade de observacao e de criacao. Os ombros ficam para tras, os bracos sao mantidos em “es- quadro’’ (angulo reto). Com freqtiéncia, 0 bebé vai manter es- sa posi¢ao quando der os primeiros passos e reagird com um tempo de atraso quando tentar apoiar-se nas maos, durante uma eventual queda. A crianga vai adquirir 0 habito de man- ler a cabeca inclinada para tras. Essa posi¢ao nao permite a boa fixagao dos miisculos supra e sub-bioidianos. A boca per- ‘manecera aberta, provocando uma respiragao oral. A bacia bascula para a frente quando o bebe ficar em pé, os bragos em angulo reto aumentarao ainda mais essa bascula. ASR Bey Ao despertar, a crianca nao poderd realizar a fase de esti- ramento em toda sua amplitude, tao importante para o recém- nascido normal, e nem os movimentos de flextio e extensao pro- prios do espreguicar. Em dectibito ventral, 0 contato do bebé com a mde s6 se da pelo olbar. Seus primeiros impulsos ndo se difundem no senti- do de ir em diregao ao “outro”. © recém-nascido precisa ter liberdade de realizar 0 “‘enrola- mento” € os movimentos de flexo ¢ extensio, quando esté no bergo. © decébito ventral nao permite isso. Cuide para nao dei- xar a crianga de brugos por longos perfodos. Deité-la de costas ou de lado sao as posigdes mais favoriveis para a futura organizacio de todo 0 desenvolvimento. Acevitar: © bebé deitado de brucos fica com os pés mal posicionados, girados ppara fora. Os bracos ficam para trés, 0s ombros elevados, 0 pescogo enterrado nos ombros. A nuca ‘“quebra’” e encurta. 54 MATERIAL PARA USO DA CRIANCA © material usado deve ser simples, estavel.e seguro. A cama: ainda lembrando de sua vida fetal, 0 recém-nascido busca sempre um apoio. Antes do nascimento, havia um limite a0 seu redor. Agora ele sente necessidade de se aninhar. Se 0 bergo for muito grande, prenda firmemente, nas laterais, peda- os de espuma para diminuir sua area e proporcionar ao bebé um espago na sua medida. Coloque um rolo ou um travesseiro duro para o bebé apoiar os pés. Evite os bercos cercados com tecido ou material opaco que ‘ocupe toda a lateral, ¢ impeca a crianga de ver o que se passa ao seu redor. No caso de um bergo com grades muito afastadas, coloque uma tela, que nao impega a visio do mundo exterior. A crianga tem que poder mover-se num leito estavel suficien- temente profundo. Mas também tem que poder ver 0 que a ro- deia. Atengao para essas duas condigoes. Travesseiro € colchdo devem ser planos. Poucas cobertas. AO adormecer, porém, a crianga naturalmente procura se cobrir. O rito de “cercé-la"’ com cobertas transmite-Ihe seguranca e a man- tém dentro de um espaco delimitado. £ bom que o bebé tenha o seu cantinho. Seu proprio quarto ou uma parte de um, que seja isolada por um biombo durante anoite. Pendure mobiles no teto. Ao arrumar 0 quarto do bebé, lembre-se que ele cresce muito depressa. Nao faca instalagdes definitivas, de modo que a crianca crescida nao tenha que viver num ambiente mais adequado a um bebé. ‘A.cama deve ser 0 local privilegiado do sono, do repouso. Na vigilia e durante o periodo de atividade, é preferivel coloca-lo num “bebé-conforto”, num chiqueirinho ou simplesmente so- bre um cobertor, no chao. A cama deve permanecer o local ex- clusivo do siléncio ¢ do sono. Deitado de costas, 0 bebé empurra os pés contra os travesseiros; dessa maneira ‘le enditeita todo'o corpo, dos pés a cabeca. 55 O chiqueirinbo: deve set sOlido ¢ est4vel, com um forro que nao deslize. £ um local de aprendizagem. A crianga vai empur- rar os pés contra as grades, agarrar-se nelas para tentar sentar, ficar em pé € andar. As barras do chiqueirinho ainda fornecem as nogées de horizontal e vertical. Evite 0 chiqueirinho de tela. O carrinho: hoje em dia muito pouco utilizado, o carrinho tradicional permite passear com a crianga, faca calor ou frio. Nele, © bebé pode se movimentar mais do que no carrinho tipo ca- deirinha, na posicdo inclinada, que pode ser usado desde o inf- cio. Neste, 0 recém-nascido fica em “‘enrolamento”’, o que é bom, mas seus movimentos so limitados. Além de ficar muito prxi- mo do chao, ele fica de costas para a mie e perde a referéncia do seu olhar; portanto, embora priticos, ndo si muito aconse- Ihaveis. A bolsa-canguru: no inicio é bastante pratica. Porém, quan- do o bebé comega a endireitar a cabe¢a, a posi¢ao colada ao corpo da mie obriga-o a jogar a cabeca para tras, para poder vé-la. £ preferivel, entio, levar a bolsa-canguru nas costas. Mesmo sem manter contato com a mie através do olhar, nessa posicio, ele pode seguir melhor os movimentos do corpo deta. Sente seu chei- To, seu calor € ndo esté sozinho diante do mundo exterior, co- mo quando é empurrado no carrinho tipo cadeirinha. Para a crianga maior, 0 cadeirao € 0 “bebé-conforto"” com me- sinha na frente sfo titeis, desde que tenham apoio para os pés £ importante que a crianga tenha sempre um apoio. 56 Ill EVOLUGAO DA MOTRICIDADE ee i= 1 8 a Ww i IBLIOTECA IMEC + 2uprs % >} Neri & ( PREPARACAO PARA ANDAR § ‘O bebé vai girar 0 corpo. Sequéncia do movimento de passagem da posi¢ao deitada de costas para a posicéo de brugos, 59 Uma nova etapa. Ele se levanta sozinho e fica em pé. ‘Acama sélida, de ferro ou madeira, permite que o bebé se agarre buscan- do apoio para sentar-se; depois fica de joelhos e, finalmente, em p&, 60 ‘Antes de se soltar, 0 bebé exercita-se caminhando apoiado nos méveis. Para che- ‘gar & posigao de pé, a crianga jd tera passado pela posigao de joelhos, buscando apoio nas grades da cama ou do chiqueirinho ou em qualquer outra superficie Cada crianga tem um ritmo préprio de desenvolvimento. An- tes de andar, € importante que j4 tenha exercitado sua motrici- dade, que consiga se arrastar, engatinhar, subir trés ou quatro degrauis de gatinhas, agarrar-se a algum objeto para ficar em pé sem ajuda, empurrar uma mesa com rodinhas ou um carrinho A crianga tera que se sentir 4 vontade em todos esses movimen- tos € na manipulacdo dos objetos. Andar é um resultado final, que néo deve ser antecipado. Quando a crianca manifesta grande desejo de andar, quando se agarra as nossas pernas, podemos oferecer-Ihe um apoio para as mos. Como j& vimos, colocamos nosso polegar na palma das mios dela, para que ela o agarre e traga os bracos para frente ¢ para baixo, mantendo os ombros abaixados, acionando todos os encadeamentos musculares. Nao a segure com os bracos erguidos. Seus bracos devem fi- car a frente € mais baixos do que os ombros. SO MER os 3 61 IMEC + AY Neo a T BIBLIOTECA 1+ Observe nesta sequiéncia de fotos que, antes de se aventurar, € preciso que o bebé tenha dominado a motricidade e para isso se exercite. Na primeira foto, ele tenta subir alguns degraus, en- gatinhando. Nas duas fotos seguintes, solugdes simples, tanto para a crian- ¢a quanto para o adulto. Primeiro, treiné-la com a ajuda de uma cadeira: a crianga fica de frente para a cadeira e agarra-se ao as- sento com as duas mios. O adulto fica por tras do encosto, segurando-o, ¢ vai recuando com a cadeira. A crianga avanga com facilidade e sem medo. E os bragos ficam para baixo, na posicao correta. Outra possibilidade € 0 adulto segurar verticalmente um bas- to em cada mao. O bebé agarra-se aos bast6es para ficar em pé. O adulto que esta diante da crianga recua; ou fica atrds da crian- ¢a € avanga junto com ela. ‘A quarta foto mostra que os irmaos sabem qual é a pos para fazer 0 bebé andar: bom apoio para as maos, bracos leva- dos 4 frente para baixo. ‘A foto abaixo mostra que ter algo para segurar ajuda a crianca a avancar (reforgo dos flexores). Os bragos estdo bem a frente Observe como as maos do bebé estdo em coordenacdo, em ab6- bada, com o polegar bem afastado dos outros dedos. ics} IV MOVIMENTOS E JOGOS Na arte, a posigéo em “‘enrolamento”. S10 MET 7) BBLIOTES 79 MES * od A RELACAO COM O OUTRO © bebé fica atento e sério. Ele se interessa pela descoberta de seu corpo, junto com a mde. Ele participa do movimento. ‘Abaixe 0 esterno, trazendo os ombros para baixo e para frente. Faca a rotago dos bragos para dentro enquanto abaixa os ombros da crianga ¢ os traz para a frente (mantendo, entretanto, a abertura natural dos ombros), Girando a coxa para fora, alongue a perna e abra a dobra da virilha Os abdominais mantém o esterno e a bacia aproximados. (© bebé esta bem ‘‘reagrupado” sobre os joelhos da mae, com os pés ‘apoiados contra seu corpo. Fale com ele, diga o que espera dele. Seus bbracos sio levados 8 frente, a nuca é estendida; use as mos para encaixar os ombros @ abalxé-los. m \' O bebé agarra-se com as m&os e os pés: parte dal para o endireitamen- to completo. Uma das maos no occiput, a outra no lébio superior e maxilar. Fazer lum pequeno movimento de bascula para a frente, um leve sim’, que vai abrir atras 0 espaco entre as duas primeiras vértebras cervicais. Coloque o polegar na palma de uma das méos do bebé. Segure 0 Pé do lado oposto. O bebé, desequilibrado para tras e em ligelra ro- taco, detém a queda com os abdominais. 68 A crianca maior conhece o gesto certo, a posigao correta. Com que atengdo o irmaozinho é segurado! ‘Segurando com firmeza. ‘Segurando pelas maos. 69 RELAGAO COM A NATUREZA, OS ANIMAIS ‘Accrianga pode descobrir os elementos nobres e verdadeiros. ‘Acasca das drvores, as pedras, o capim que, pelas diferentes ‘exturas, desenvolvem na crianga o sentido do toque; suas di- ferentes formas dao as nogdes de volume. Dé a crianca bas- tante tempo para essas descobertas e contato com a natureza. Dé & crianga a possibilidade de conhecer e tocar os diferentes frutos e legumes: segurar com delicadeza as folnas da alface; sentir a resisténcia da alcachofra. S4o nogées Uteis © muito coneretas. Num gesto esponténeo @ natural, o animal também @ seguro ““em enrolamento’ Tomando conhecimento um do outro e, juntos, descobrindo o mundo exterior! DESCOBERTA DO OBJETO E AUTONOMIA Estando 0 gesto correto, 6 possivel ex- plorar os objetos por dentro, segurar 0 co- oo, vestir a meia, experimentar a propria ‘mecénica, calcular a dificuldade antes de escalar a’ prancha. A relacao da crianca consigo mesma ‘A telacao da me com a crianca é primordial. As interagdes afe- tivas entre as duas sdo fatores de progresso © bem-estar. ‘Mas também é importante que a crianga tenha um tempo para explorar sozinha ao seu redor, um tempo para se relacionar con- sigo mesma € com o objeto. "Apés um periodo sozinha, ela ficaré feliz de reencontrar a mae ¢ partilhar 0 que descobriu. ‘Constatamos que as criancas que entram em panico quando ‘amie ou 0 pai saem de seu campo visual, nao tiveram esse tem- po para si. JOGOS E BRINCADEIRAS Jogos motores Os jogos motores so os preferidos da crianga. Seu corpo € 0 local privilegiado das primeiras descobertas ¢ dos primeiros co- nhecimentos. Desde cedo a crianga olha as proprias maos e pés, ¢ fica bas- tante intrigada com esses “objetos vivos” que prendem sua aten- cao. Ela quer pegé-los, manipuld-los e, fazendo isso, coloca to- do 0 seu corpo em movimento. A relacdo entre as mos e a bo- ca € capital, particularmente a relaco entre o polegar ¢ a boca A crianga esfrega uma mao contra a outra, despertando a von- tade de conhecer outras sensa¢Ges tateis: a m4o no lengol, nas grades do bergo etc. O bebé vai passar um bom tempo explorando suas maos, que se movimentam diante dos seus olhos. Vé os dedos se abrirem, tenta reproduzir pequenos gestos. Mais tarde, passara a uma ex- ploragio mais minuciosa, utilizando o indicador. bebé brinca de agarrar os prprios pés, e dessa maneira co: loca todo o seu corpo nessa relagdo cabeea-pés; isso ocorre de- pois que ele ja relacionou a cabeca com as maos e as maos com os pés. Diferentes partes do corpo s4o também exploradas, 0 que pro- voca sensacdes proprioceptivas, articulares, musculares € tateis. Os movimentos da crianca colocam-na nas diferentes dimensoes do espaco, estruturando seu esquema corporal € a “‘relaco con- sigo mesma”’. Daj a importancia de deixar a crianca durante algum tempo sem brinquedos por perto, para que ela desfrute desse periodo de descoberta do proprio corpo. Mais tarde, os jogos motores com os irmaos serio momentos de prazer e de “‘relacionamento”. (Cuide sempre para que as rou- pas nao atrapalhem a maxima amplitude de seus movimentos.) Quando cla aprende a andar, os blocos de espuma sdo brin- quedos repletos de possibilidades. Sao leves, féceis de manipu- lar e permitem todo 0 tipo de criacdo e construgao. Ela pode puxd-los, empurré-los, deslocé-los, subir neles, esconder-se atras, deles ¢ construir com eles espacos fechados. Inventar4 formas € volumes variados, a partir desses elementos simples. Esse tempo para exercitar a criatividade € capital para seu desenvolvimento. Ao se relacionar com esses elementos que ela prépria deslo- a, a crianga se da conta de seu lugar e da dimensao do proprio corpo na relacdo com eles. Brinquedos A ctianga precisa inovar e criar. Nao € necessario ter muitos brin- quedos 20 mesmo tempo. Ela pode mudar de um para outro, insatisfeita diante de uma escolha tdo grande. O bebé normal presta muita atengo ao que est ao seu redor. Nao se deve atrapalhar essa atencAo, esses longos periodos de observacdo, que sao sua caracteristica natural. E preciso que cle tenha tempo suficiente para conhecer ¢ analisar 0 objeto. $6 de- pois 0 adulto esconderd o objeto para voltar a apresenté-lo al- guns dias mais tarde. Cuidado com a dimensio dos brinquedos! © comprimento do antebraco da crianca deve ser uma referéncia para o tamanho das bonecas e dos bichos de peliicia. Ela tem necessidade de conhecer e sentir a consisténcia dos materiais, a forma e as cores diversas. Os objetos cotidianos per- mitem todas essas sensagGes titeis: pedacos de tecido, de tape te, de papelio, carretéis, colheres de pau, rolhas, caixas de va- rios tamanhos, frascos plisticos, embalagens, corddes ¢ barban- tes. O capim, as folhas, as flores, as pedras ¢ as cascas de arvo- res, frutas ¢ legumes, A crianga ficard longo tempo entretida com algumas caixas, ‘com pedagos de papel, barivantes coloridos, e com eles vai crian- do um universo. Ela levaré algum tempo conhecendo um objeto, descobrindo suas faces, manipulando-o em todos os sentidos, minuciosamen- te, Formard intimeros conjuntos, relacionando dois ou mais ob- jetos. A crianga deve ter muito tempo para essas exploracoes. As brincadeiras com Agua também sao muito importantes. Permita que seu filho brinque com a Agua de uma bacia ou do bidé. Logo ele descobrira que brincar com agua requer cer- tas precaugdes, por exemplo, enxugar a 4gua que respinga e es- corre. Compreendera assim a fungdo da esponja e do pano de chao. Ele também tentaré enxugar. A crianga tem necessidade de manipular ¢ sentir a resisténcia dos elementos: da agua e dos objetos que servem para transporté- la, da esponja, das escovas, dos tecidos, da areia e da terra. Suas maos tém necessidade de explorar. Ela fara 0 mesmo com a comida. Entretanto, se j4 teve opor- tunidade de manipular, misturar ¢ amassar durante as brincadei- tas, sentira menos necessidade de fazé-lo com os alimentos do prato. 74 © “saltador” Podemos colocar © bebé num saltador a partir dos quatro ou cinco meses. £ um grande acontecimento. Ele fica em pé sozi- nho, livre, independente, € todo seu corpo se movimenta no tem- po € no espaco. Tire os sapatos dele. Isso 0 deixaré intrigado; ele vai olhar longamente para os pés, que empurram e bate no chao quando salta. £ bom que seus bracos se dirijam para a frente e que as maos entrem em contato. Podemos dar-lhe um objeto para segurar. Se ele tem dificuldade em conserva-lo seguro e 0 deixa cair, po- demos pendurar em seu pescogo uma bolsa leve, com alguns ob- jetos pequenos. A crianga poder simplesmente segurar nas al- gas, £ importante que ela segure em algo, para reforcar os mtis- culos flexores. Esses momentos s4o muito importantes para a coordenagao motora da crianga. £ assim que ela exercita o endireitamento. ‘A partir do apoio dos pés € que todo 0 corpo vai endireitar até a cabeca. © “endircitamento” € a volta do “enrolamento”’. Esses dois momentos constituem 0 movimento basico da coordenagéo mo- tora Jogo motor sobre a grande bola. O corpo move- O saltador 6 um brinquedo que trabalha o ‘se em todas as diregdes no espaco. aspecto motor e diverte. 0 GESTO ESPONTANEO (Os gestos da coordenagao motora acontecem espon- taneamente, embora parecam complexos aos olhos dos pais. Os irmaos mais velhos utlizam esses ges- tos naturalmente, brincando com bonecas, por exem- plo, ou quando cuidam do bebs. Observem essas fotos: 0 gesto & claro e preciso; a crianga esté atenta, Vamos “enrolar” A perna em alinhamento. Observe como a crianca estd '‘em coordenacao”: (0 rosto em "“V", com o ldbio superior ténico), e como con- ‘segue coordenar 0 brago da boneca (pescogo, ombros bragos), Puxar para fazer sentar. Coordenando 0 rosto ¢ 0 labio superior. Posigao em pé.

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