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A Constituição Económica
A Constituição Económica
A Constituição Económica
1.1. Noção
Segundo Teodoro Waty, em sentido formal, a constituição é a fonte ou conjunto de fontes que
possuem uma característica identificável, como a pertença a um texto legal, com formalidades
e requisitos particulares de aprovação ou de modificação.
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A Constituição Económica Estatutária é, ainda segundo Waty, composta pelo conjunto de
normas que caracterizam uma certa e determinada forma económica, sem as quais não teriamos
a indicação do “estatuto” da matriz das relações de produção dominantes.
Segundo Teodoro Waty, o âmbito da Constituição Económica pode ser determinado com
recurso a critérios económicos e a critérios jurídicos. No primeiro caso, seria em função do
próprio sistema económico e das suas mutações. Na segunda opção, a Constituição Económica
emergiria de critérios jurídicos, competindo ao Direito qualificar como constitucionais as
normas que se apresentam como fundamentais.
Para Waty, o âmbito da Constituição deve ser definido através de critérios jurídicos.
Sendo, segundo waty, uma Constituição com carácter proclamatório deixa uma certa
liberdade de meios (não de objectivos) que vai permitir que, a partir de 1977, a prática
política quanto á economia se firme de índole Marxista, apesar de o texto não ter sido
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alterado e de conceitos como a nacionalização ou a socialização não estarem previstos
na lei fundamental.
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O texto Constitucional foi influenciado pela adesão de Moçambique ás instituições de
Bretton Woods e pelo programa de Reabilitação Económica e pelo Programa de
Reabilitação Económica e Social.
Face a uma crise de fome e pobreza generalizados, em 1987 o Governo declarou a situação
de emergência e pediu assistência á comunidade Internacional e lançou o Programa de
Reabilitação Económica (PRE). http://www.bip.gov.mzz/econom.htm
- a edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem estar material e espiritual
dos cidadãos;
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- art. 35 – atribui ao Estado a propriedade exclusiva dos recursos naturais do solo, subsolo,
águas interiores, mar territorial, plataforma continental e zona económica exclusiva, para al’em
da zona marítima, o espaço aéreo, o património arquiológico, as zonas de protecção da
natureza, o potencial hidráulico, o potencial energético, os demais bens como tal classificados
por lei.
- art. 38 – define quais os objectivos a atingir pela política económica do Estado, dirigida á
construção de bases de desenvolvimento, á melhoria das condições de vida do povo, ao reforço
da soberania do Estado e á consolidação da unidade nacional, através da participação dos
cidadãos e da utilização eficiente dos recursos humanos e materiais.
O art. 41/1 – estabelece que “a ordem económica assenta nas forças de mercado, na iniciativa
dos agentes económicos, na participação de todos os tipos de propriedade e na acção do Estado
como reguladora e promotora do crescimento...”
É interessante notar que o Capítulo da Organização Económica vem antes dos Direitos
fundamentais, o que demonstra a importância atribuida pelo legislador constituinte á matéria
económica.
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3. A Constituição Económica Actual (2004)
Em primeiro lugar, olhemos para os grandes princípios constitucionais plasmados nos arts 1, 2
e 3.
a) A valorização do trabalho;
b) As forças do mercado;
e) Na propriedade pública dos recursos naturais e dos meios de produção, de acordo com
o interesse colectivo;
a) a zona marítima;
b) o espaço aéreo;
c) o património arquiológico;
e) o potencial energético;
f) o potencial hidráulico;
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g) estradas e linhas férreas;
h) as jazidas minerais;
O art. 108 – o Estado garante o investimento estrangeiro que opera no quadro da sua política e
estabelece as suas restrições no que respeita aos sectores econ’omicos reservados á propriedade
ou exploração exclusiva do Estado.
O art. 109- mantem a terra como propriedade do Estado acrescentando que a mesma não pode
ser vendida, ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada nem penhorada.
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consumidores e cooperativas (de consumo) sendo-lhes reconhecida legitimidade processual
para a defesa dos seus associados.
Assim, e depois de termos olhado para a evolução constitucional moçambicana desde a pré-
Constituição até á actual Constituição, verificamos que o papel do Estado se modificou,
passando de Estado produtor e altamente interventor para um Estado regulador e impulsionador
da actividade económica na actual lei fundamental.
- a propriedade privada;
- a iniciativa privada;
- a livre concorrência.
A Propriedade Privada.
Como já vimos, a actual Constituição, no seu art. 82/1 reconhece e garante o direito de
propriedade.
Ora, o direito de propriedade não é um direito absoluto podendo ser objecto de limitações
ou restrições, as quais se relacionam, desde logo, com princípios de direito (ex: a função social
da propriedade), com razões de utilidade pública ou com a necessidade de conferir eficácia a
outros princípios ou normas constitucionais, incluindo os direitos económicos ou sociais e as
disposições da organização económica.
- o direito de adquirir;
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- a liberdade na sua transmissão;
5.2. Restrições
b) no uso e fruição – para além do dever geral de uso relativo aos meios de produção (a
propriedade de meios de produção implica o seu uso), devem considerar-se outras
condicionantes por razões ambientais ou de ordenamento do território (ex: delimitação
de áreas de reserva agrícola, reserva ecológica, planeamento urbano, etc)
c) na transmissão inter vivos ou mortis causa – é por vezes limitada por direitos a favor
de terceiros, como o direito de preferência atribuido, por vezes, aos proprietários
confinantes ou aos herdeiros legitimários.
A expropriação refere-se a bens imóveis, tem carácter definitivo e é de uso frequente, dada
a sua necessidade para a construção de estradas e outras edificações públicas. O facto de se
exigir a existência de interesse público não significa que não possa haver expropriação a
favor de entidades privadas como as associações desportivas, etc.
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Além da requisição e da expropriação, a propriedade privada pode também ser limitada
pela figura da nacionalização, também mediante indemnização.
São também possíveis outras formas de iniciativa em que a solidariedade entre os seus
membros ou entre estes e a sociedade prevaleça sobre o interesse lucrativo da organização.
Trata-se de formas de “economia social” entre as quais se destaca o sector cooperativo e o
sector social.
A iniciativa cooperativa está contemplada no art. 99/4 da CRM e Lei 9/79 (lei das cooperativas)
- a liberdade de as gerir;
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g) Cooperação com outras cooperativas á escala local, nacional e internacional.
De notar que o art. 99, apesar de falar, desde logo, em sector cooperativo, irá especificar 3
formas de propriedade de meios de produção que, na realidade, pertecem ao sector social.
De notar que estes meios de produção só integram o sector social quando são possuidos e
geridos pelas respectivas comunidades locais. Quer isto dizer que, se estes meios de produção
são e/ou geridos por entidades públicas (autarquias, por exemplo), ou por entidades privadas,
já não são considerados como “meios de produção comunitários”.
Esta figura refere-se á autogestão das empresas pelos respectivos trabalhadores e é um direito
que aparece pressupor a gestão aos trabalhadores e a propriedade a outrem. Conside-se que os
bens podem ser de titularidade de entidades privadas ou públicas, pressupondo-se o
assentimento dos titulares da propriedade ou um motivo legal que confira o direito á autogestão.
Os meios de produção possuidos e geridos por pessoas colectivas, sem carácter luvrativo, que
tenham como principal objectivo a solidariedade social, designadamente, entidades de natureza
mutualista – alínea c) do nº4 do art. 99.
Trata-se de estender o sector social ás entidades que desenvolvem uma actividade económica
tendo em vista a solidariedade social e, por isso, sem o intuito de apropriação lucrativa pública
ou privada, antes dirigida á ajuda mútua.
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A iniciativa privada e a iniciativa cooperativa coexistem, na economia nacional moçambicana,
com iniciativa pública do Estado, a qual não conhece restrições em matéria de acesso a qualquer
sector de actividade económica. Pode traduzir-se na criação de empresas públicas em sentido
amplo ou na participação no capital de empresas privadas.
Para além disso, geralmente, exige a necessidade de contratação de mão de obra mediante o
pagamento de um salário. Trata-se dos trabalhadores por conta de outrem.
Os direitos dos trabalhadores são reconhecidos em sede dos direitos e liberdades fundamentais
e de direitos e deveres económicos. Alguns desses direitos são atribuidos directamente ao
trabalhador individual, enquanto outros o são ás suas organizações.
O art. 85 estabelece:
1 – “Todo o trabalhador tem direito a justa remuneração, descanso, férias e á reforma nos
termos da lei.
3 – O trabalhador só pode ser despedido nos casos e nos termos estabelecidos na lei.
A segurança no emprego e a proibição de despedimento sem justa causa visam limitar a plena
disponibilidade da entidade patronal sobre as relações de trabalho. Por esse motivo, a garantia
destes direitos dos trabalhadores implica restrições ao direito de livre iniciativa privada, pública
ou cooperativa.
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Ainda entre os direitos, liberdades e garantias, encontram-se os direitos atribuidos ás
organizações representativas dos trabalhadores:
- a liberdade sindical
Art. 86:
4 – A lei regula a criação, união, federação e extinção das associações sindicais e profissionais,
bem como as respectivas garantias de independência e autonomia, relativamente ao patronato,
ao Estado, aos partidos políticos e ás igrejas e confissões religiosas”.
1 – “Os trabalhadores tem direito á greve, sendo o seu exercício regulado por lei.
2 – A lei limita o exercício do direito á greve nos servíços e actividades essenciais, no interesse
das necessidades inadiáveis da sociedade e da Segurança nacional.
3 – É proibido o lock-out”.
- O direito ao trabalho
Ainda no âmbito dos direitos económicos e Sociais, a CRM garante o direito ao trabalho.
O art. 84 estabelece:
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1 – “O trabalho constitui direito e dever de cada cidadão.
Este direito deve ser entendido como um direito a uma prestação positiva por parte do Estado,
consistindo no desenvolvimento de políticas que assegurem o máximo de emprego possível e
a igualdade de oportunidade e de formação específica e genérica, e não como um direito
subjectivo a um concreto posto de trabalho
1 – “Os consumidores têm direito á qualidade dos bens e servíços consumidos, á formação e á
informação, á saúde, da segurança dos seus interesses económicos, bem como á reparação de
danos.
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Para além de direitos posetivos a prestações ou acções do Estado (direito á formação e
aprotecção da saúde, segurança dos interesses econ’omicos dos consumidores), os direitos dos
consumidores são também direitos a prestações ou acções dos próprios agentes económicos,
produtores ou distribuidores (direito á informação, proteção da saúde, segurança dos interesses
económicos dos consumidores e garantia de reparação de danos).
1 – “Todo o cidadão tem direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender.
Como já vimos, o acesso e a organização de uma actividade económica, sua instalação, suas
condições de funcionamento, as suas relações com terceiros ou mesmo a sua extinção podem
ser condicionadas ou determinadas por razões ambientaiis. Os custos de poluição, assim como
os custos da sua prevenção podem ser integrados nos custos de produção pelo reconhecimento
legal do princípio do poluidor-pagador.
O direito ao ambiente compreende uma acção positiva do Estado no sentido de adoptar políticas
de defesa do ambiente e velar pela utilização racional dos recursos naturais. Compreende-se
ainda, igualmente, um dever de defesa do cidadão, o qual compreende um dever de abstenção
(não atentar contra o ambiente) e de acção (impedir os atentados de outrem).
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