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1.

A Constituição Económica

1.1. Noção

A Constituição Económica é a parte da constituição do Estado onde estão as normas necessárias


à regulação da actividade económica, actividade essa que é desemvolvida pelos indivíduos,
pelas pessoas colectivas ou pelo Estado.

Neste sentido a Constituição económica é conformadora das restantes normas de ordem


jurídica da economia. Esta conformação é feita através de normas estatuárias ou de garantia
das características básicas de um sistema que se pretende proteger (como a que garante a
existência de um sector privado ou cooperativo), e das normas directivas ou programáticas
onde se apontam as principais linhas de evolução (como a que incumbe o Estado de promover
o aumento do bem – estar social e económico).

O legislador constituinte não pretende incluir na constituição todas as normas e princípios de


cariz económico. Há uma margem variável de liberdade que a constituição deixa ao legislador
ordinário. Esta margem de liberdade varia de acordo com o tipo de Constituição económica
existente.

1.2. A constituição Económica Formal e Material

Segundo Teodoro Waty, em sentido formal, a constituição é a fonte ou conjunto de fontes que
possuem uma característica identificável, como a pertença a um texto legal, com formalidades
e requisitos particulares de aprovação ou de modificação.

Já a Constituição material é, segundo o mesmo autor, o conjunto de normas e princípios que


estruturam e legitimam determinada ordem jurídica. Esta tem um âmbito que se alarga a outras
fontes formalmente inferiores desde que nelas se consagrem normas essenciais para a
caracterização do sistema.

1.3.Constituição Estatutária e Programática

A Constituição Económica Programática (ou directiva) é a que contém o conjunto de normas


que visam reagir sobre a ordem económica, de modo a provocar certos efeitos,
preestabelecendo-a ou modificando-a através da acção dos órgãos do Estado.

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A Constituição Económica Estatutária é, ainda segundo Waty, composta pelo conjunto de
normas que caracterizam uma certa e determinada forma económica, sem as quais não teriamos
a indicação do “estatuto” da matriz das relações de produção dominantes.

1.4. Âmbito da constituição Económica

Segundo Teodoro Waty, o âmbito da Constituição Económica pode ser determinado com
recurso a critérios económicos e a critérios jurídicos. No primeiro caso, seria em função do
próprio sistema económico e das suas mutações. Na segunda opção, a Constituição Económica
emergiria de critérios jurídicos, competindo ao Direito qualificar como constitucionais as
normas que se apresentam como fundamentais.

Para Waty, o âmbito da Constituição deve ser definido através de critérios jurídicos.

2. A Organização Económica e Social á luz da Constituição


2.1. A constituição de 1975

Esta Constituição tem um modelo teleológico e é elaborada num contexto em que a


transformação e a mudança eram valorizadas. Consagrava um conjunto de princípios e
normas aptos a permitirem a construção de um determinado modelo da futura
sociedade.

A Constituição de 1975 não se limita a ser uma Constituição Estatutária. Ela é


predominantemente programática visando transformar a realidade apesar de não estar
consagrada no seu texto constitucional uma referência ao Socialismo o que se
compreende quando o grupo ou Partido que a prepara (FRELIMO) só haveria de o
adoptar a 3 de fevereiro de 1977. A política definida pela frelimo ficaria consagrada no
artigo 3:

“A República popular de Moçambique é orientada pela política definida pela


FRELIMO que é a força dirigente do Estado e da Sociedade. A Frelimo traça a
orientação política básica do Estado e dirige e supervisa a acção dos órgãos estatais a
fim de assegurar a conformidade da política do Estado com os interesses do povo”.

Sendo, segundo waty, uma Constituição com carácter proclamatório deixa uma certa
liberdade de meios (não de objectivos) que vai permitir que, a partir de 1977, a prática
política quanto á economia se firme de índole Marxista, apesar de o texto não ter sido

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alterado e de conceitos como a nacionalização ou a socialização não estarem previstos
na lei fundamental.

Assim, a prática Constitucional consagraria os seguintes princípios:

Subordinação do poder económico ao poder político – (Art. 9 da CRPM – “O Estado


promove a planificação da economia.....”); (art. 14 – “O capital estrangeiro poderá ser
autorizado a operarar no quadro da política económica do Estado) – Coexistência de
diversos sectores de propriedade – privada, cooperativo e pública/estatal. (art. 10 “... O
sector económico do Estado é o elemento dirigente e impusionador da economia
nacional”); (art. 11 “ O Estado encoraja os camponeses e trabalhadores individuais a
organizarem-se em formas colectivas de produção....”); ( art.12“O Estado reconhece e
garante a propriedade pessoal”); (art. 13 “Á propriedade privada estão ligadas a
obrigações. A propriedade privada não pode ser usada em detrimento dos interesses
fixados na Constituição”); - apropriação estatal dos principais meios de produção, a
terra e os recursos naturais – (art. 8 – A terra e os recursos naturais situados no solo e
no subsolo, nas águas territoriais e na plataforma continental de Moçambique são
propriedade do Estado).

- planificação central da economia – (art.9);

- intervenção democrática dos trabalhadores – (art. 2 – “A República Popular de


Moçambique é um Estado de democracia popular....o poder pertence aos operários e
camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO, e é exececido pelos órgãos do poder
popular”.

A Lei 11/78 altera a Constirtuição de 1975

Do ponto de vista da organização económica, interessa-nos, acima de tudo, notar que


no art. 4 é inserido o seguinte parágrafo: “A República Popular de Moçambique tem
como objectivos fundamentais.... a edificação da democracia popular e a construção
das bases material e ideológica da sociedade socialista” reforçando-se assim, o
princípio programático constitucional que limitava o legislador infraconstitucional nas
suas opções legislativas.

2.2. A Constituição de 1990

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O texto Constitucional foi influenciado pela adesão de Moçambique ás instituições de
Bretton Woods e pelo programa de Reabilitação Económica e pelo Programa de
Reabilitação Económica e Social.

O Governo moçambicano implantou em 1987 o programa de Reabilitação Económica


e Social (PRES), com o objectivo de introduzir a economia de mercado no país, através de
várias reformas. Para isso, o programa pretende estabilizar a área financeira no âmbito
nacional e internacional, e retirar do Estado a função principal de administrar e investir na
economia. Desta forma, pretende-se concentrar os esforços do governo na área de bens e
servíços sociais, e em programas de desenvolvimento estratégico. http://pt.wikipedia.org/wik/

Em 1984, foi publicada a lei do investimento Estrangeiro e Moçambique tornou-se membro do


Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Face a uma crise de fome e pobreza generalizados, em 1987 o Governo declarou a situação
de emergência e pediu assistência á comunidade Internacional e lançou o Programa de
Reabilitação Económica (PRE). http://www.bip.gov.mzz/econom.htm

Estes programas, elaborados durantes a vigência da Constituição de 1975, consagravam


princípios feridos de inconstitucionalidade que apontavam a admissão de reprivatização da
titularidade ou de direito de exploração dos meios de produção e/ou outros bens antes
nacionalizados (ver Decreto 21/89 de 23 de Maio)

A Constituição de 1990 vem alterar profundamente os princípios constitucionais de Estado


moçambicano:

Art. 1 – A República de Moçambique assume-se agora como um Estado independente,


soberano, unitário, democrático e de justiça social;

Art. 6 – Definem os seus objectivos fundamentais, entre os quais:

- a edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem estar material e espiritual
dos cidadãos;

- o refor,co da democracia, da liberdade e da estabilidade social e individual;

- o desenvolvimento da economia e do progresso da ciência e da técnica.

Na parte dedicada á Organização Económica – Capítulo IV:

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- art. 35 – atribui ao Estado a propriedade exclusiva dos recursos naturais do solo, subsolo,
águas interiores, mar territorial, plataforma continental e zona económica exclusiva, para al’em
da zona marítima, o espaço aéreo, o património arquiológico, as zonas de protecção da
natureza, o potencial hidráulico, o potencial energético, os demais bens como tal classificados
por lei.

- art. 38 – define quais os objectivos a atingir pela política económica do Estado, dirigida á
construção de bases de desenvolvimento, á melhoria das condições de vida do povo, ao reforço
da soberania do Estado e á consolidação da unidade nacional, através da participação dos
cidadãos e da utilização eficiente dos recursos humanos e materiais.

O art. 39 – mantém a agricultura como base do desenvolvimento;

O art. 40 – mantém a indústria como factor impulsionador da economia nacional;

O art. 41/1 – estabelece que “a ordem económica assenta nas forças de mercado, na iniciativa
dos agentes económicos, na participação de todos os tipos de propriedade e na acção do Estado
como reguladora e promotora do crescimento...”

O mesmo artigo no nº 2, estabelece que “a economia nacional compreende.... a propriedade


estatal, a propriedade cooperativa, a propriedade mista e a propriedade privada”.

O art. 42 – proclama o papel fundamental do sector familiar;

O art. 43 – o Estado promove e apoia a iniciativa privada moçambicana (empresariado


nacional).

O art. 45 – estabelece que os empreendimentos estrangeiros são autorizados em todos os


sectores económicos, exceepto aqueles estejam reservados á propriedade ou exploração
exclusiva do Estado.

Art. 46 – mantém a terra como propriedade do Estado;

É interessante notar que o Capítulo da Organização Económica vem antes dos Direitos
fundamentais, o que demonstra a importância atribuida pelo legislador constituinte á matéria
económica.

Tendo sido confirmante de disposições assumidas e implementadas ainda antes da nova


Constituição estar aprovada, poderá então assim falar-se de uma Constituição intercalar.

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3. A Constituição Económica Actual (2004)

Em primeiro lugar, olhemos para os grandes princípios constitucionais plasmados nos arts 1, 2
e 3.

Do ponto de vista da sistematização do texto constitucional, é fundamental notar que a parte


da Organização Económica aparece depois dos Direitos Fundamentais, apartir do art. 96.

Os princípios fundamentais desta organização no art. 97 são:

a) A valorização do trabalho;

b) As forças do mercado;

c) A iniciativa dos agentes económicos;

d) A coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social;

e) Na propriedade pública dos recursos naturais e dos meios de produção, de acordo com
o interesse colectivo;

f) Na protecção do sector cooperativo e social

g) Na acção do Estado como regulador e promotor do crescimento e do desenvolvimento


económico e social.

O art. 98 determina a propriedade económica do Estado relativamente aos recursos


naturais situados no solo e no subsolo, nas águas interiores, no mar territorial, na
plataforma continental e na zona económica exclusiva. Determina ainda o domínio
público do Estado sobre

a) a zona marítima;

b) o espaço aéreo;

c) o património arquiológico;

d) as zonas de protecção da natureza;

e) o potencial energético;

f) o potencial hidráulico;

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g) estradas e linhas férreas;

h) as jazidas minerais;

i) os demais bens como tal classificados por lei.

No art. 99 garante-se a coexistência de três sectores de propriedade dos meios de produção:


sector público, sector privado e sector cooperativo e social.

O art. 103 mantém a agricultura como base do desenvolvimento;

O art. 104 mantém a indústria como factor impulsionador da economia nacional

O art. 105 realça o carácter fundamental do sector familiar;

O art. 106 reconhece a importância da produção de pequena escala;

O art. 107 – o Estado promove e apoia a participação activa do empresariado nacional.

O art. 108 – o Estado garante o investimento estrangeiro que opera no quadro da sua política e
estabelece as suas restrições no que respeita aos sectores econ’omicos reservados á propriedade
ou exploração exclusiva do Estado.

O art. 109- mantem a terra como propriedade do Estado acrescentando que a mesma não pode
ser vendida, ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada nem penhorada.

4. Remetendo-nos agora aos direitos e deveres económicos e sociais:

O art. 82 – O Estado reconhece e garante o direito de propriedade e a expropriação só pode ter


lugar por causa de necessidade, utilidade ou interesse público, definidos nos termos da lei, e dá
lugar a justa indemnização;

O art. 84- O trabalho constitui direito e dever de cada cidadão.

O art. 87 – é garantido o direito á greve e é proibido o lock-out.

O art. 90 declara-se o direito dos cidadãos a viver num ambiente equilibrado.

O art. 92 – reconhecem-se direitos ao consumidor á qualidade dos bens e servíços consumidos,


á formação e á informação, á protecção da saúde, da segurança dos seus interesses económicos,
bem como á reparação de danos. A publicidade é regulada por lei e são proibidas as formas de
publicidade indirecta ou enganosa. Reconhece-se o direito de audição ás associações de

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consumidores e cooperativas (de consumo) sendo-lhes reconhecida legitimidade processual
para a defesa dos seus associados.

Assim, e depois de termos olhado para a evolução constitucional moçambicana desde a pré-
Constituição até á actual Constituição, verificamos que o papel do Estado se modificou,
passando de Estado produtor e altamente interventor para um Estado regulador e impulsionador
da actividade económica na actual lei fundamental.

5. Os pressupostos básicos da economia do mercado

Numa economia de mercado, a actividade económica depende essencialmente da capacidade


dos individuos organizarem a produção, a distribuição e comercialização de bens ou servíços
como objectivo de obterem rendimentos.

Os três princípios básicos da economia são:

- a propriedade privada;

- a iniciativa privada;

- a livre concorrência.

A Propriedade Privada.

5.1. Noção e Conteúdo

Como já vimos, a actual Constituição, no seu art. 82/1 reconhece e garante o direito de
propriedade.

Ora, o direito de propriedade não é um direito absoluto podendo ser objecto de limitações
ou restrições, as quais se relacionam, desde logo, com princípios de direito (ex: a função social
da propriedade), com razões de utilidade pública ou com a necessidade de conferir eficácia a
outros princípios ou normas constitucionais, incluindo os direitos económicos ou sociais e as
disposições da organização económica.

O direito de propriedade privada inclui quatro componentes:

- o direito de adquirir;

- o direito de usar e fruir dos bens de que se é proprietário;

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- a liberdade na sua transmissão;

- o direito de não ser privado dela.

5.2. Restrições

a) na aquisição ou acesso – há bens insusceptíveis de apropriação privada – é o caso dos


bens de domínio público (art. 98). No entanto, note-se que alguns desses bens poderão,
por vezes, ser explorados por entidades privadas ou cooperativas em regime de
concessão. Trata-se, portanto, de uma reserva de propriedade pública mas não de uma
reserva de actividade económica pública.

b) no uso e fruição – para além do dever geral de uso relativo aos meios de produção (a
propriedade de meios de produção implica o seu uso), devem considerar-se outras
condicionantes por razões ambientais ou de ordenamento do território (ex: delimitação
de áreas de reserva agrícola, reserva ecológica, planeamento urbano, etc)

c) na transmissão inter vivos ou mortis causa – é por vezes limitada por direitos a favor
de terceiros, como o direito de preferência atribuido, por vezes, aos proprietários
confinantes ou aos herdeiros legitimários.

d) Limites Constitucionais ao direito de o titular não ser privado da sua propriedade – ao


admitir-se a possibilidade de requisição e exproprieção por utilidade pública, sujeita ao
pagamento de justa indemnização. A actual constituição prevê a expropriação no art.
82/2.

A requisição de bens abrange móveis ou imóveis, é temporária e justifica-se por interesse


público urgente e excepcional (situações de guerra, calamidades)

A expropriação refere-se a bens imóveis, tem carácter definitivo e é de uso frequente, dada
a sua necessidade para a construção de estradas e outras edificações públicas. O facto de se
exigir a existência de interesse público não significa que não possa haver expropriação a
favor de entidades privadas como as associações desportivas, etc.

Tanto a requisição como a expropriação, implicam o pagamento de uma indemnização que


deverá ser fixado pelo valor real do bem expropriado o qual tem a sua expressão mais
próxoma no seu valor do mercado.

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Além da requisição e da expropriação, a propriedade privada pode também ser limitada
pela figura da nacionalização, também mediante indemnização.

6. Outras formas de iniciativa

Pode haver situações em que o Estado intervenha na produção de bens ou servíços, em


exclusivo ou em concorrência com as entidades privadas.

São também possíveis outras formas de iniciativa em que a solidariedade entre os seus
membros ou entre estes e a sociedade prevaleça sobre o interesse lucrativo da organização.
Trata-se de formas de “economia social” entre as quais se destaca o sector cooperativo e o
sector social.

A iniciativa cooperativa está contemplada no art. 99/4 da CRM e Lei 9/79 (lei das cooperativas)

Tal como na iniciativa privada, o direito de iniciativa cooperativa inclui:

- a possibilidade de criar cooperativas;

- a liberdade de as gerir;

- a liberdade de contratação ou negocial inerente a essa mesma gestão.

Genericamente, as restrições que se aplicam á iniciativa privada são extensiveis á iniciativa


cooperativa nos seus vários componentes.

Desde a constituição da primeira cooperativa (Sociedade dos equitativos Pioneiros de rochdale,


em 1844) o movimento cooperativo internacional elaborou os princípios cooperativos que
vieram a ser formulados pelos Congressos de Paris (1937) e de Viena (1966) da aliança
cooperativa internacional. Os demais importantes destes princípios são:

a) Liberdade de adesão (princípio da porta aberta)

b) Princípio da gestão democrática (um homem = um voto)

c) Não discriminação social, política, racial ou religiosa

d) Limitação da taxa de juro, no caso de pagamento de juros de capital social.

e) Repartição cooperativa de excedentes ou economias eventuais

f) Promoção de ensino dos princípios e métodos de cooperação

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g) Cooperação com outras cooperativas á escala local, nacional e internacional.

De notar que o art. 99, apesar de falar, desde logo, em sector cooperativo, irá especificar 3
formas de propriedade de meios de produção que, na realidade, pertecem ao sector social.

Os meios de produção comunitário possuídos e geridos por comunidades locais – alínea a) do


nº4 do art. 99.

A expressão “meios de produção comunitários” parece indiciar que se trata de bens de


propriedade comunitária, ou seja, de uma comunidade conreta, eventualmente sem
personalidade jurídica pública ou privada. Os casos mais conhecidos são os “baldios” que
estarão na base da previsão constitucional.

Neste caso, os titulares da propriedade são os “povos”, as “aldeias”, os “agregados


populacionais”.

De notar que estes meios de produção só integram o sector social quando são possuidos e
geridos pelas respectivas comunidades locais. Quer isto dizer que, se estes meios de produção
são e/ou geridos por entidades públicas (autarquias, por exemplo), ou por entidades privadas,
já não são considerados como “meios de produção comunitários”.

Os meios de produção objecto da exploração colectiva por trabalhadores – alínea b) do nº4 do


art. 99

Esta figura refere-se á autogestão das empresas pelos respectivos trabalhadores e é um direito
que aparece pressupor a gestão aos trabalhadores e a propriedade a outrem. Conside-se que os
bens podem ser de titularidade de entidades privadas ou públicas, pressupondo-se o
assentimento dos titulares da propriedade ou um motivo legal que confira o direito á autogestão.

Os meios de produção possuidos e geridos por pessoas colectivas, sem carácter luvrativo, que
tenham como principal objectivo a solidariedade social, designadamente, entidades de natureza
mutualista – alínea c) do nº4 do art. 99.

Trata-se de estender o sector social ás entidades que desenvolvem uma actividade económica
tendo em vista a solidariedade social e, por isso, sem o intuito de apropriação lucrativa pública
ou privada, antes dirigida á ajuda mútua.

A niciativa pública – art. 99/2.

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A iniciativa privada e a iniciativa cooperativa coexistem, na economia nacional moçambicana,
com iniciativa pública do Estado, a qual não conhece restrições em matéria de acesso a qualquer
sector de actividade económica. Pode traduzir-se na criação de empresas públicas em sentido
amplo ou na participação no capital de empresas privadas.

7. Os Direitos económicos como parte integrante de uma Constituição Económica –


direitos a prestações.
7.1. Os Direitos dos trabalhadores

A iniciativa económica, quer seja privada, pública ou cooperativa, pressupõe a disponibilidade,


por parte do empregador, de recursos materiais e financeiros.

Para além disso, geralmente, exige a necessidade de contratação de mão de obra mediante o
pagamento de um salário. Trata-se dos trabalhadores por conta de outrem.

Os direitos dos trabalhadores são reconhecidos em sede dos direitos e liberdades fundamentais
e de direitos e deveres económicos. Alguns desses direitos são atribuidos directamente ao
trabalhador individual, enquanto outros o são ás suas organizações.

a) Direito á remuneração e a segurança no emprego

O art. 85 estabelece:

1 – “Todo o trabalhador tem direito a justa remuneração, descanso, férias e á reforma nos
termos da lei.

2 – O trabalhador tem direito a protecção, segurança e higiene no trabalho.

3 – O trabalhador só pode ser despedido nos casos e nos termos estabelecidos na lei.

A segurança no emprego e a proibição de despedimento sem justa causa visam limitar a plena
disponibilidade da entidade patronal sobre as relações de trabalho. Por esse motivo, a garantia
destes direitos dos trabalhadores implica restrições ao direito de livre iniciativa privada, pública
ou cooperativa.

A CRM acolhe, assim, o modelo da segurança no emprego, ( em lugar do modelo da mobilidade


que hoje existe em diversas ordens jurídicas, como é o caso, por ex, da Grã-Bretanha e dos
EUA).

b) Os Direitos das Organizações dos trabalhadores

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Ainda entre os direitos, liberdades e garantias, encontram-se os direitos atribuidos ás
organizações representativas dos trabalhadores:

- a liberdade sindical

Art. 86:

1 – “Os trabalhadores têm a liberdade de se organizarem em associações profissionais ou em


sindicados.

2 – As associações sindicais e profissionais devem reger-se pelos princípios de organização e


gestão democráticas, basear-se na activa participação dos seus membros em todas as suas
actividades e de eleição periódica e por escrutínio secreto dos seus órgãos.

3 – As associações sindicais e profissionais são independentes do patrono, do Estado, dos


partidos políticos e das igrejas ou confissões religiosas.

4 – A lei regula a criação, união, federação e extinção das associações sindicais e profissionais,
bem como as respectivas garantias de independência e autonomia, relativamente ao patronato,
ao Estado, aos partidos políticos e ás igrejas e confissões religiosas”.

No caso do direito á igreja e proibição de lock-out, olhemos para o art. 87:

1 – “Os trabalhadores tem direito á greve, sendo o seu exercício regulado por lei.

2 – A lei limita o exercício do direito á greve nos servíços e actividades essenciais, no interesse
das necessidades inadiáveis da sociedade e da Segurança nacional.

3 – É proibido o lock-out”.

Subjacente a esta configuração constitucional parece estar a ideia de que é indispensável á


efectividade dos direitos básicos dos trabalhadores a garantia dos direitos e liberdades das suas
organizações e, desde logo, a possibilidade de se organizarem livremente

- O direito ao trabalho

Ainda no âmbito dos direitos económicos e Sociais, a CRM garante o direito ao trabalho.

O art. 84 estabelece:

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1 – “O trabalho constitui direito e dever de cada cidadão.

2 – Cada cidadão tem direito á livre escolha da profissão

3 – O trabalho compulsivo é proibido, exceptuando-se o trabalho realizado no quadro da


legislação penal”.

Este direito deve ser entendido como um direito a uma prestação positiva por parte do Estado,
consistindo no desenvolvimento de políticas que assegurem o máximo de emprego possível e
a igualdade de oportunidade e de formação específica e genérica, e não como um direito
subjectivo a um concreto posto de trabalho

7.2. Os Direitos dos Consumidores

Os bens ou servíços produzidos pelas empresas públicas, privadas ou cooperativas têm um


destinat ário final que é o cliente, ou consumidor. Não nos interessa tanto aqui falar das
empresas enquanto consumdores de produtos ou servíços de outras empresas, mas sim do
consumidor final, principal destinatário das normas constitucionais de protecção do
consumidor.

O art. 92 vem proteger os consumidores

1 – “Os consumidores têm direito á qualidade dos bens e servíços consumidos, á formação e á
informação, á saúde, da segurança dos seus interesses económicos, bem como á reparação de
danos.

2 – A publicidade é disciplinada por lei, sendo proibidas as formas de publicidade, indirecta ou


enganosa.

3 – As associações de consumidores e as cooperativas têm direito, nos termos da lei, ao apoio


do Estado e a serem ouvidas sobre as questões que digam respeito á defesa dos consumidores,
sendo-lhes reconhecida legitimidade processual para a defesa dos seus associados”.

Tem-se verificado uma necessidade crescente de protecção jurídica do consumidor. Por um


lado, constata-se a cada vez maior sofisticação nos modos de captação de clientela, com recurso
á publicidade e a outras formas de promoção de vendas, por vezes agressivas ou enganosas, o
que justifica a sua regulação pública.

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Para além de direitos posetivos a prestações ou acções do Estado (direito á formação e
aprotecção da saúde, segurança dos interesses econ’omicos dos consumidores), os direitos dos
consumidores são também direitos a prestações ou acções dos próprios agentes económicos,
produtores ou distribuidores (direito á informação, proteção da saúde, segurança dos interesses
económicos dos consumidores e garantia de reparação de danos).

A CRM reconhece ainda o direito de participação ás associações e cooperativas de consumo e


o dever do Estado de as apoiar.

A CRM define também a forma de disciplinar a publicidade, proibindo a publicidade indirecta


e enganosa

7.3. O Direito ao ambiente

O direito ao ambiente está expresso no art. 90:

1 – “Todo o cidadão tem direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender.

2 – O Estado e as autarquias locais com a colaboração das associações na defesa do ambiente


e velam p ela utilização racional de todos os recursos naturais”.

A protecção do ambiente abrange o elemento construido, ou seja, oecossiostema mas também


a integração dos elementos económicos e sociais. Prevê, eminentimente, o combate á poluição
nas suas diversas formas.

Como já vimos, o acesso e a organização de uma actividade económica, sua instalação, suas
condições de funcionamento, as suas relações com terceiros ou mesmo a sua extinção podem
ser condicionadas ou determinadas por razões ambientaiis. Os custos de poluição, assim como
os custos da sua prevenção podem ser integrados nos custos de produção pelo reconhecimento
legal do princípio do poluidor-pagador.

O direito ao ambiente compreende uma acção positiva do Estado no sentido de adoptar políticas
de defesa do ambiente e velar pela utilização racional dos recursos naturais. Compreende-se
ainda, igualmente, um dever de defesa do cidadão, o qual compreende um dever de abstenção
(não atentar contra o ambiente) e de acção (impedir os atentados de outrem).

O direito de defesa do ambiente, assim como o direito de indemnização em caso de lesão


directa, é reconhecido a todos, devendo a lei determinar o modo como pode ser exercido.

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