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Introdução À Regra de São Bento
Introdução À Regra de São Bento
PARTE I
(Síntese extraida de S. Benito su vida y su Regla p.
264.
Ver também ALa Regla de San Benito@ p.
12ss)
II - REDAÇÃO: (datas)
III - DESTINATÁRIOS
IV - LÍNGUA E ESTILO
1 - Comentários antigos
2 - Comentários medievais
3 - Comentários dos séculos XVII e XVIII
4 - Comentários modernos
PARTE II
A - Hinduísmo
Budismo
Jainismo
B - Filosofia grega
C - Monaquismo judaico:
Os essênios
Os monges do Antigo Testamento: Elias
Eliseu
João Batista
Adão antes do pecado
Os levitas
A - Jesus
B - Os mártires
C - Os Ascetas e as Virgens da Igreja primitiva
1 - Pacômio
2 - Basílio
3 - Agostinho
PARTE I
II - REDAÇÃO
S. Gregório não menciona quando São Bento escreveu a Regra. Todos os autores
admitem, porém, que ela foi escrita no fim da vida de São Bento em Monte Cassino
porque já supõe uma vida plenamente cenobítica e a organização do cenóbio não
corresponde de modo algum ao sistema vigente em Subiaco. Quanto à data, nada
sabemos ao certo. Deve ter sido escrita antes de 547 que foi a data
(aproximadamente) em que São Bento morreu, porém, ninguém pode assegurar que o
Legislador não possuísse muito antes de sua morte, a experiência que revela sua obra.
H. Schmmitz crê que a RB foi redigida depois de 534, data da composição da
ARegula Sanctarum Virginum@ de S. Cesário de Arles, pois que, segundo ele, São
Bento a usa como fonte. A. Lentini, porém, crê que é muito difícil saber se realmente
São Bento teve conhecimento da Regra de S. Cesário, seu contemporâneo.
Parece seguro, portanto, que a obra de São Bento data dos últimos anos de sua
vida. Provavelmente, São Bento não escreveu sua Regra de uma só vez. O texto
apresenta retoques, correções, acréscimos que lhe foram sugeridos pelas
circunstâncias e pela experiência. Sobretudo os capítulos:
$ 67 - Dos irmãos mandados em viagem
$ 68 - Se são ordenadas a um irmão coisas impossíveis
$ 69 - No mosteiro não presuma um defender outro
$ 70 - Não presuma alguém bater em outrem a próprio arbítrio
$ 71 -Sejam obedientes uns aos outros
$ 72 - Do bom zelo que os monges devem ter
$ 73 - De que nem toda a observância da justiça se acha estabelecida nesta Regra
apresentam-se como um apêndice, como escritos depois.
O capítulo 64 (Da Ordenação do Abade) é um complemento do 21 (Como deve ser
o
Abade)
O capítulo 65 (Do Prior do mosteiro) modifica o 21 (Dos Decanos do mosteiro)
É possível, também, que o Código Litúrgico (caps. 8 a 19) e o Código Penal (23-
30) tenham sido inseridos na Regra beneditina posteriormente. Antes formavam dois
fascículos à parte. É quase forçoso admitir esta hipótese, obrigados pela existência de
algumas divergências entre os manuscritos mais importantes e o confronto com a
Regula Magistri: existiu uma outra redação da RB anterior à que possuímos e que
provavelmente chegaria até o capítulo 66.
III - DESTINATÁRIOS
São Bento não se limita a legislar só para seu próprio cenóbio de Monte Cassino.
Numerosos textos que supõem regiões diferentes de aplicação, por exemplo o caso do
hábito, do trabalho, do vinho, mostram que a RB foi escrita para ser praticada em
diversos mosteiros, grandes ou pequenos (cf. 21,1; 31,17; 40,5; 48,7; 55,1ss etc.).
Surgiram, porém, algumas hipóteses, com relação aos destinatários da Regra
beneditina:
Todas estas hipóteses, porém, são improváveis. Muito mais razoável é que São
Bento tenha escrito por iniciativa pessoal, para seu mosteiro e a pedido de outros
abades desejosos de ter um código completo da vida monástica para seus respectivos
cenóbios. Não é improvável, porém, que consciente da oportunidade da obra que
empreendera, São Bento tenha pensado em um círculo monástico muito mais vasto,
como se pode notar no cap. 1,13: ADeixando-os de parte, vamos dispor, com o
auxílio do Senhor, sobre o poderosíssimo gênero dos cenobitas@. Portanto, toda a
legislação de São Bento é susceptível de ser praticada em qualquer cenóbio.
IV - LÍNGUA E ESTILO
$ Quando vai falar sobre a Vida Monástica no Prólogo é um pouco mais oratório,
retórico.
$ Quando trata das normas espirituais apresenta um estilo conciso, lapidar.
$ Quando se trata de determinar a ordem na comunidade usa um estilo mais chão,
um tanto jurídico.
Dono da expressão de seu pensamento, o santo se adapta à natureza do tema que
está tratando e o tom de seu discurso é às vezes enérgico, severo, às vezes mais
tranqüilo, paternal e persuasivo. Usa um estilo chão nos capítulos que ordenam o
Ofício Divino, mas se faz vivo e fecundo no capítulo 65.
V - FONTES
São Bento não pretendeu de modo algum fundar uma nova Ordem ou uma escola
de espiritualidade original e inovadora. Não quer separar-se da tradição, ao contrário,
adere a ela cordial e estreitamente. É evidente, porém, que São Bento se preparou
para escrever sua obra com um intenso estudo da literatura monástica, que na época
era possível proporcionar-se em latim, e estudou também vastas obras dos Padres. O
que leva D. Delatte a afirmar que a Regra beneditina aparece na metade do século VI
como o fruto maduro de todo um passado monástico e da espiritualidade dos Padres.
São Bento, portanto, teve o propósito deliberado de apoiar seu pensamento sobre o
dos antigos, ou ao menos, de falar sua linguagem e tomar emprestado seus vocábulos.
Entre as fontes utilizadas por São Bento ocupam um lugar preeminente:
$ A SAGRADA ESCRITURA:
O uso que dela faz São Bento nos revela seu conhecimento familiar profundo e
completo dos livros santos:
do Antigo Testamento são citados sobretudo:
- Os Salmos
- Os Livros Sapienciais, particularmente os Provérbios
- Os Livros Proféticos
do Novo Testamento cita quase todos os livros, mas sobretudo:
- Epístolas de S. Paulo
- Evangelho de S. Mateus
São raros os casos em que São Bento cita literalmente a Bíblia. A maior parte das
vezes trata-se de simples reminiscências ou alusões, e tais citações se unem tão
perfeitamente ao pensamento que ilustram, a ponto de formar um só corpo com ele.
AA Sagrada Escritura constitui a substância mesma da Regra de São Bento@.
$ A TRADIÇÃO MONÁSTICA
Na tradição monástica São Bento encontrou um imenso tesouro de doutrina e
experiência que soube aproveitar. O Patriarca conhece através de versões latinas,
diversas Regras do Oriente, tais como:
- a chamada de S. Macário
- a Regra dos Quatro Padres; Segunda Regra dos Quatro Padres
- a ARegula Orientalis@
- a de S. Pacômio (traduzida por S. Jerônimo)
- a de S. Basílio;
e do Ocidente:
- a de Santo Agostinho
- a de S. Cesário de Arles, seu comtemporâneo.
A leitura dos Padres da Igreja, aconselhada por São Bento no Ofício Divino e na
formação monástica (RB 9,8 e 73,4) são também utilizadas como fonte da RB. Por
exemplo, de Santo Agostinho, há citações de seus sermões (algumas seguras, outras
prováveis). São Leão Magno inspirou literalmente o princípio do capítulo 49 (Da
observância da Quaresma).
S. Jerônimo com suas cartas, S. Cipriano com sua obra ADe oratione dominica@,
Sulpício Severo com seus Diálogos, e as Atas dos Mártires, são também fontes
utilizadas por São Bento na redação de sua Regra.
Utilizou diretamente São Bento todas as fontes que indicamos acima? Ou, ao
contrário, estas citações e reminiscências de outros autores que encontramos na Regra
de São Bento, são na realidade de segunda mão, tomadas junto com muitos outros
elementos, de uma só obra, a chamada ARegula Magistri@?
Eis aqui um assunto seriamente controvertido entre os eruditos. As Adiscussões em
torno a este ponto são, às vezes, tão vivas e trepidantes que se tem podido falar, de
uma verdadeira guerra literária@.
REGULA MAGISTRI
Em 1934 D. Genestou publicou um artigo dizendo que a Regra do Mestre devia ser
anterior a São Bento. Depois dele Froger, outro monge de Solesmes que estudou
profundamente o problema, sustentou tal afirmação (cf. Introdução - Autenticidade).
Os fatos provam, com efeito, que uma das duas regras é plágio da outra. Qual?
Examinemos dois casos possíveis e suas conseqüências do ponto de vista de sua
composição literária e de seu conteúdo espiritual.
O Mestre tem sob seus olhos a Regra de São Bento. Copia quase textualmente:
a) - O Prólogo
b) - Os sete primeiros capítulos. (Todavia omite fragmentos importantes). E
acrescenta ainda numerosas páginas, com uma prolixidade que é característica de seu
estilo, aos capítulos 1, 2 e 6, e ao Prólogo da RB. Tal acréscimo torna-se
particularmente picante quando no cap. 1 após dizer que sobre o misérrimo
procedimento dos giróvagos mais vale calar do que dizer alguma coisa, começa a
fazer uma descrição interminável. Quanto ao sóbrio capítulo sexto de São Bento
sobre o silêncio a Regra do Mestre substitui por dois capítulos (8 e 9).
A partir do capítulo 101 o Mestre se baseia mais totalmente na RB. No entanto,
ficamos surpresos ao ver que ele parece evitar reproduzir as palavras luminosas e
lapidares por meio das quais São Bento gosta de condensar seu pensamento
sobretudo no princípio ou no fim de um capítulo. No mais, capítulos inteiros de São
Bento desaparecem e entre eles os de grande valor espiritual como o cap. 34 sobre a
pobreza, 63 e 64 sobre a Ordem na Comunidade e sobre a escolha de seu chefe, os
capítulos 68 a 73 que contêm o segredo da união perfeita de todos entre si e com
Deus.
Para explicar o fato de não se encontrar nenhum traço dos capítulos 68 a 73 da RB
na Regra do Mestre supõe-se que o Mestre só tenha conhecido a redação primitiva da
RB que continha 66 capítulos. Realmente o assunto do capítulo 66 (Dos Porteiros do
Mosteiro) em São Bento é o mesmo do último capítulo do Mestre. Entretanto, nada
fundamenta esta hipótese.
São Bento tem a Regra do Mestre sob seus olhos. Como ele a conhecera? Seria ela
a Regra praticada no Mosteiro do monge Romano, com quem São Bento travara
conhecimento? (cf. cap.I Livro II dos Diálogos).
Nós ignoramos como São Bento conheceu a Regra do Mestre. No entanto,
sabemos que ele se serviu dela e a apreciava, de modo especial o seu princípio, onde
se encontrava uma síntese de vida espiritual que o Mestre havia intitulado: ADo
exercício do combate espiritual e do modo de fugir do pecado por meio do temor de
Deus@ (cf. RM cap. I a X).
Chega, então, o momento em que São Bento quis fixar por escrito o fruto de sua
experiência. Ele poderia ter redigido tudo novo dispensando basear-se no Mestre, da
mesma forma que se inspirara em Cassiano e nos Padres, dando, porém, um cunho
próprio aos seus escritos. Teríamos, assim, uma Regra cujo estilo seria de ponta a
ponta aquele que nós encontramos nas duas primeiras frases do Prólogo e nos últimos
capítulos da Regra, este estilo sóbrio e vigoroso que nós conhecemos bem. Teríamos,
sem dúvida, também, uma Regra melhor construída, os capítulos que tratam do
mesmo assunto seriam agrupados se não fundidos, tais como os capítulos 2 e 64 sobre
o Abade.
São Bento, porém, seguiu uma outra linha de conduta e aí se revela sua humildade.
No último capítulo de sua Regra ele qualifica sua obra de Aesboçozinho de Regra
para principiantes@. É já um modo de falar modesto, humilde. No entanto, prova
bem mais profunda de humildade é o fato de ter querido manifestar sua dependência
e ao mesmo tempo seu reconhecimento face ao Mestre:
b) - seguindo no conjunto de sua Regra a ordem da do Mestre. Nesta Regra que ele
conhece a fundo, discerniu o melhor. São Bento reconhece que o Mestre é prolixo,
mesmo nas suas melhores páginas, mas sua experiência espiritual é profunda e sua
exposição exprime bem a doutrina tradicional. Não teme São Bento assumir o estilo
do Mestre para atestar aquilo que deve ser atestado. Eis por que encontramos alguma
redundância no Prólogo e no capítulo da humildade notadamente no primeiro grau.
Entretanto, não hesita, mesmo quando conserva o texto, em suprimir o que acha
desnecessário. Tal é o caso que assinalamos ao comentar que no Prólogo, após ter
dito que sobre o misérrimo procedimento dos giróvagos é melhor calar, o Mestre faz
uma longa exposição sobre os mesmos. Já São Bento observa o conselho do silêncio
e realmente nada diz, suprimindo o inútil desenvolvimento dado na Regra do Mestre.
Uma vez chegado ao termo do capítulo 101 que é aquele da síntese espiritual do
Mestre, São Bento retoma sua liberdade de redação, mas continua seguindo a Regra
do Mestre quanto à ordem das questões a tratar. Aqui ou ali adota São Bento os
princípios ou usos que lhe parecem válidos na RM, mas estes pontos de contato entre
as duas redações não fazem mais que colocar em relevo a independência profunda de
São Bento, porque se para tratar do mesmo assunto ele se apropria de alguns
elementos do Mestre, estes elementos aparecem assimilados por uma sabedoria que
ultrapassa e muito, aquela do Mestre. O estilo, como o pensamento profundo revelam
a originalidade do discípulo, tornado ele mesmo, um Mestre.
Mas isto não é tudo. Após ter esgotado os assuntos tratados pelo Mestre, São Bento
tem ainda alguma coisa a dizer. Não somente ele renovou a legislação do Mestre por
um espírito novo, mas completou-a escrevendo os últimos capítulos de sua Regra: 68
a 73. Nestas páginas, do estilo rigoroso passamos ao sopro do Espírito que animava
São Bento e que dirigia sua pena: espírito de caridade e de obediência, de humilde
fidelidade à Verdade, de medida e de paz, em uma palavra o espírito de Cristo que
Bento ama ACIMA DE TUDO.
Tais são as semelhanças entre São Bento e o Mestre neste caso ou no anterior.
Nesta segunda hipótese a obra do Mestre apresenta certas imperfeições, mas ela
permanece meritória; em lugar de ser um plagiário que degrada a obra da qual se
serve, o Mestre é um precursor que elabora dados tradicionais, dos quais São Bento
se servirá com domínio, para edificar um monumento acabado e durável. Sem Bento,
as melhores páginas do Mestre cairiam, como as outras, no esquecimento. Mas elas
eram dignas de ser salvas e uma vez inseridas na RB, alimentar gerações de monges.
Nenhuma obra da antiguidade, exceto a Bíblia, chegou até nós em número tão
grande de códices quanto a Regra de São Bento. É importante salientar aqui que não
foi a Regra do Mestre e sim a Regra de São Bento, a que se difundiu em todo o
Ocidente na medida em que ia aumentando o número de mosteiros beneditinos.
Mais de trinta códices se encontram na Biblioteca de Paris, mas nem todos estes
manuscritos oferecem-nos um texto idêntico em todas as partes. O primeiro a
empreender o trabalho de estabelecer a história do texto da Santa Regra, foi o sábio
beneditino Daniel Haneberg, Abade de S. Bonifácio, Munique. Ele reuniu as
variantes de um certo número de manuscritos do séc. XI, mas não podendo acabar
sozinho este trabalho, confia seu material a D. Edmundo Schmidt, na Baviera, que em
1880 fez aparecer o primeiro ensaio de estudo crítico do texto da Regra de São Bento.
Haneberg demonstra que os mais antigos manuscritos anteriores ao séc. X se
dividem em dois grupos ou famílias, representando dois tipos de textos claramente
determinados. As diferenças na maioria dos casos não são grandes e raramente afetam
a substância da Regra, mas elas são suficientes para estabelecer uma dupla tradição
do texto. A interpretação que dá Schmidt deste fenômeno é que um dos grupos, dos
quais o manuscrito de Oxford o mais antigo de todos,(segundo Traube é o documento
mais antigo do texto interpolado), é o protótipo, representa a primeira redação da
Regra por São Bento e que o outro grupo representa sua redação definitiva.
O Dr. L. Traube, alemão, que é quem mais tem feito para elucidar a História do
texto da Regra de São Bento, contesta esta solução. Seu Tratado sobre a história do
texto é uma obra de erudição consumada, resultado de um conhecimento sem rival da
época carolíngea.
Traube demonstra que o primeiro grupo de manuscritos de Schmidt representado
principalmente pelo manuscrito de Oxford, contém um tipo de texto difundido em
toda a Europa ocidental no VII e VIII séculos; era o texto universalmente admitido na
Itália, França, Inglaterra e Germânia até ao século IX.
No começo do século IX outro texto esteve em voga sob a influência da
Renascença carolíngea. Traube demonstra que ele provinha de um código então em
Monte Cassino, o qual crê-se ser o autógrafo de São Bento cuja cópia foi enviada a
Carlos Magno e que tornou-se o modelo das cópias da Regra de São Bento difundidas
nos mosteiros de seu império.
Uma das cópias feitas deste exemplar existe ainda: é o manuscrito de Saint Gall
que se separa do Código de Monte Cassino por somente um intermediário.
É evidente que se o Código de Monte Cassino era realmente um autógrafo de São
Bento, o Saint Gall 914 é, como autoridade para o texto da Regra, um caso
provavelmente único, quando se trata de uma obra dos seis ou sete primeiros séculos.
Pode-se perguntar com efeito, se para algum outro livro desta época, possuímos nós
uma cópia separada do original somente por um intermediário.
- Que foi feito do texto de uso quase universal durante os VII e VIII séculos?
Pode-se aceitar a hipótese de Schmidt de que este tipo era uma primeira redação da
Regra?
Traube mostra em mais de vinte lugares ao longo de toda a Regra que as variantes
do primeiro grupo de Schmidt comparadas àquelas que derivam do Código de Monte
Cassino, têm na maior parte dos casos, características, não de primitivas, mas de
variantes de segunda ordem. Elas são ensaios de correções, ou mesmo simples
alterações do texto de Monte Cassino. É possível explicar o primeiro grupo como
revisão falsificada do texto de Monte Cassino, mas não é possível olhar o segundo
grupo como sendo a revisão do primeiro pelo autor.
Eis um resumo dos resultados destes estudos, particularmente da tese de L. Traube,
hoje geralmente aceita entre os eruditos.
a) - Em Monte Cassino: O texto escrito por São Bento foi religiosamente
conservado em Monte Cassino até o dia da primeira destruição deste
Mosteiro em 577 pelos lombardos. Os monges fugiram para Roma.
b) - Em ROMA: Os monges fugitivos levaram o texto da Regra de São Bento
para Roma, onde ficou, na Biblioteca Papal Lateranense, até 750.
c) - Novamente em Monte Cassino: Em 741-752, quando Petronax de Bréscia
restaurou a vida monástica em Monte Cassino, o Papa Zacarias enviou a este
Mosteiro, junto com um exemplar da Bíblia, a Regra que o bem-aventurado
Pai Bento escreveu com suas próprias mãos. Isso nos é narrado por Paulo
Diácono. Aí permaneceu o texto até 883 quando os sarracenos destruíram
pela segunda vez aquele cenóbio.
d) - Em TEANO: Os monges que fugiram dos sarracenos, levaram o texto da
Regra de São Bento para o mosteiro de Teano.
e) - O texto permanece em Teano, até 896, quando então é DESTRUÍDO num
simples incêndio ocorrido naquele mosteiro.
Somente no fim do século passado foi que se estudou de modo científico a história
do manuscrito da Regra de São Bento até o texto atual. Em resumo, eis os resultados
das investigações:
Podemos reduzir todos os manuscritos existentes da Santa Regra em três grupos ou
três famílias:
1 - TIPO PURO ou ORIGINAL
a) - O Códice Ω representado pelo autógrafo de São Bento conservado em
Monte Cassino e Roma e depois destruído em 896 no mosteiro de Teano,
conforme resumo acima.
b) - O Códice ψ - Por sorte, Carlos Magno,uns cem anos antes da destruição do
autógrafo de São Bento no mosteiro de Teano, em 787, desejoso de unificar
todo o monaquismo do seu império sob o texto exato da Regra de São Bento,
solicitou ao Abade de Monte Cassino, Teodemaro, uma cópia do referido
autógrafo, pois nos mosteiros existiam vários e diferentes textos da RB (o
interpolado). O abade atendeu a este pedido conforme atesta um documento
de Paulo Diácono fazendo a entrega da referida cópia ao Imperador através
de uma carta onde o Abade Teodemaro diz: ASegundo a vossa ordem eis a
Regra do bem-aventurado Pai Bento que transcrevemos do próprio códice
que ele escreveu com sua mão@. Este códice foi enviado a Aquisgrano
(Archen) sendo guardado na biblioteca falaciana do Imperador e deveria,
mais tarde, servir de fundamento para a reforma dos Mosteiros empreendida
por Bento de Aniane que, para tanto transformou a Abadia de INDEN em
uma espécie de mosteiro-modelo para todo o Império. O Código de Monte
Cassino conservado por muito tempo neste mosteiro acabou por perder-se.
Felizmente antes que tal acontecesse foram feitas muitas cópias deste códice,
como veremos a seguir.
2 - TIPO INTERPOLADO
Junto à tradição precedente existe outro tipo de texto muito difundido na Itália,
França, Inglaterra e Alemanha durante os séculos VII e VIII.
Traube considerou como interpolações as diferenças que este tipo apresenta
com relação à Atradição pura@ que acabamos de ver. Estas interpolações
devem ter sido feitas naturalmente: Primeiro erro dos copistas, dificuldade
em copiar letra por letra sem errar. Depois havia também o problema prático:
uma coisa que havia caído em desuso era omitida. Assim, foram surgindo
acréscimos e modificações e também adaptações às regras da gramática
clássica. Daí seu nome de texto interpolado. A este grupo pertencem os mais
antigos manuscritos da RB:
$ $ O Oxoniensis - Hattor 48 (= O) escrito em Cantuária pelo ano 700. É o MAIS
ANTIGO não só do tipo interpolado, mas de todos os outros manuscritos da
RB que possuímos.
$ $ O Veronensis (= V) do século VIII - IX.
$ $ O Sangallensis 916 (= S) da mesma época.
Estes três Códices procedem de uma fonte comum.
***
Pouquíssimos livros tiveram tantos comentários, através dos tempos, como a Regra
de São Bento. Nenhuma Regra teve uma tradição manuscrita tão copiosa, poucas,
tantas edições e traduções. Nenhuma formou como a Regra de São Bento a base do
ensino espiritual de uma ordem religiosa em tantos séculos. Outras Regras mais
antigas como a de Santo Agostinho, ficaram fora de uso durante séculos. A de São
Bento foi observada e sempre serviu de norma espiritual desde o século VI até hoje
ininterruptamente. Compreende-se assim que tenha tido muitos comentários.
Os comentários podem ser assim classificados:
1) - Comentários antigos
2) - Comentários medievais
3) - Comentários dos séculos XVII e XVIII
4) - Comentários modernos
1) - COMENTÁRIOS ANTIGOS
Se, de fato, esse comentário é de Paulo Diácono, escrito nesse ano (em Civate ou
Monte Cassino; as opiniões divergem) ele vai exprimir, então, a observância
beneditina antes da primeira grande reforma associada ao nome de Bento de Aniane,
pois o comentário fornece materiais para elaboração de um quadro muito interessante
e muito vivo da comunidade onde viveu o escritor. Exprimiria então, a vida
monástica beneditina tal como foi vivida nos anos que se seguiram imediatamente à
morte de São Bento, antes de qualquer reforma de grande vulto, dando-nos assim
uma noção da fase mais antiga da vida beneditina, antes que ela fosse invadida pelas
idéias e usos dos primeiros tempos da Idade Média. Evidentemente que seu interesse
seria grandemente realçado se nós pudéssemos aceitá-lo como sendo um quadro da
vida no interior de Monte Cassino.
Hildemaro era um franco que se tornou monge em Civate, perto de Milão, em 850.
Seu ATractatus@ sobre a Regra de São Bento é uma série de conferências (que ele
mesmo não publicou - mas seus discípulos recolheram notas). Emprega o comentário
de Paulo para seu texto, mencionando-o quase por inteiro, mas acrescentando aqui e
ali ligeiras modificações. Estas modificações dão a este comentário o único interesse
particular que ele possui.
Hildemaro afirma que o comentário atribuído a Paulo Diácono não é de Monte
Cassino, mas de Civate.
2) - COMENTÁRIOS MEDIEVAIS
O comentário de Mège se oferece, pois, a um público que não lhe era simpático e
mesmo - por incrível que possa parecer, - a Corte de Luiz XIV tomou grande
interesse pelas controvérsias monásticas, exercendo pressão sobre os superiores da
Congregação de S. Mauro, que acabaram por desaprovar o comentário de Mège,
proibindo-o por causa do laxismo.
3.4. O de RANCÉ: - ALa Règle de Saint Benoît expliquée selon son véritable
esprit@
editado em 1689.
Este comentário é uma resposta a D. Mège, no qual de Rancé expõe uma vez mais
suas idéias de uma austeridade extremada.
3.5. O de E. MARTÈNE: - ACommentarius in Regulam Sancti Benedicti...@
publicado
em Paris 1690.
Não tardou em aparecer este comentário em que o autor procura exatamente ver o
espírito de São Bento, evitando adaptação muito laxista, como a de Mège ou muito
rigorista como a de Rancé. Este comentário de D. Martène é um tesouro imenso de
conhecimento monástico, histórico, arqueológico, litúrgico e durante muito tempo foi
o comentário oficial da Congregação de São Mauro e tido como última palavra em
comentário da Regra beneditina.
4) - COMENTÁRIOS MODERNOS
O século passado não viu novos comentários da Regra de São Bento; mas a
floração de estudos científicos sobre a Regra, iniciada nos seus últimos decênios,
levou a uma nova exposição o texto de São Bento. São dignos de menção:
4.1. Os de SAUTER (1899-1901), de D. SYMPHORIEN (1909) e especialmente o
de L=HUILLIER (Explicação ascética e histórica da Regra de São Bento - 1901) que
tem observações profundas e originais.
19. JEAN CHITTISTER, OSB: Wisdom distilled fron the daily - living
the Rule of
St. Benedict today
20. IDEM: The Rule of Benedict - Ensights for the Ages, 1992.
Comentário de acordo
com a divisão da Santa Regra para cada dia; aprofunda
o 11 livro.
PARTE II
$ HINDUÍSMO / BUDISMO
$ FILOSOFIA GREGA
$ MONAQUISMO JUDAICO
A) - HINDUÍSMO / BUDISMO
B) - FILOSOFIA GREGA
A Filosofia abrange: investigação, busca, cultivo e amor da
sabedoria. Não implica somente em conhecimentos abstratos mas
em como traduzi-los na vida concreta. Os filósofos ensinam como
pensar e como viver, por isso no mundo greco-romano
desempenham o ofício de diretores espirituais.
Alguns filósofos colocavam em relevo certos valores morais que
mais tarde representariam um papel importante no ideal monástico.
Pensavam em encontrar mediante um ascetismo constante, o fim
supremo de libertar-se das paixões para alcançar a perfeita
Aapátheia@ (impassibilidade) e Aantarquia@ (independência e
autodomínio).
A Aformação@ destes filósofos requer muita solidão e retiro.
Muita ascese e Aanacorese@ (viver sozinho). Os mestres desejavam
antes de tudo que seus discípulos alcançassem a contemplação
mística. Neste sentido se pode falar de AComunidade Pitagórica@ -
Associação religiosa
- Escola de piedade - de moderação
- de obediência
- de ordem e virtude
Baseava-se no conceito de Akoinonia@: amizade,
companheirismo, amor fraterno. Funcionava como uma espécie de
Asociedade secreta@. Partes essenciais da doutrina pitagórica eram
consideradas como arcanos reservados só aos iniciados. Só era
possível ingressar na comunidade depois de superar um rigoroso
exame de admissão. Uma primeira prova durava três anos, a
segunda durava cinco anos. No princípio deste segundo noviciado o
candidato renunciava aos seus bens.
Ao longo destes anos de Aformação@:
deviam guardar rigoroso silêncio
deviam praticar a obediência a um mestre
deviam escutar os ensinamentos com grande devoção.
usavam uma roupa que os distinguia
observavam um horário regular
comiam em comunidade regime extremamente vegetariano
rezavam antes e depois das refeições
enquanto comiam um dos mais jovens devia fazer a leitura
ao final das refeições escutavam os conselhos e instruções dos
anciãos
Na AVida de Apolônio de Tiana@ se descreve o monge como
sendo alguém completamente desapegado das coisas do mundo,
desprezador do vinho, da carne, das roupas suntuosas. Andava
descalço e deixava crescer a barba, conservava os olhos sempre
baixos tendo prometido castidade perpétua. Para estes filósofos
nada tem valor neste mundo a não ser a virtude e a tranqüilidade.
C) - MONAQUISMO JUDAICO
OS ESSÊNIOS
Graças a três escritos do século I d.C., dois judeus e um romano,
ficamos sabendo que existiu antes do cristianismo, uma seita
judaica chamada dos Aessênios@, que teve sua origem no séc. II
a.C. e perdurou até 70 d. C..
$ Plínio, o jovem, escritor romano escreve:
ANa parte ocidental do Mar Morto, distanciados prudentemente
de suas águas malsãs, vivem os Essênios: povo singular e
admirável entre todos os povos da terra; sem mulheres, sem amor,
e sem dinheiro. Renovam-se regularmente graças a grande
afluência daqueles que se encontram entediados pela vida e pelos
revezes da fortuna... deste modo se perpetua através dos séculos
este povo, de onde ninguém nasce@.
$ a Regra da Comunidade
$ a Regra da guerra dos filhos da luz contra os filhos das trevas
$ a Regra da Congregação
B) - OS MÁRTIRES
CIPRIANO
Cipriano exalta o martírio pela força e pela fé com que reforça a
Igreja.
AAlegre exulto e dou graças, irmãos fortíssimos, sabendo a vossa
fé e força pelas quais é ilustrada a Igreja mãe. Ela foi ainda
ultimamente glorificada quando ao prestardes a confissão
recebestes a sentença que vos fez exilados, confessores de
Cristo@.
AA confissão é tanto maior e mais brilhante pela honra, quanto
mais violenta pelo sofrimento. CRESCENDO A LUTA, CRESCE A
GLÓRIA DOS QUE LUTAM@.
ORÍGENES
AS VIRGENS:
As virgens afastavam-se da vida comum, dedicando-se
exclusivamente ao serviço de Deus. Os documentos a respeito das
virgens são abundantes a partir do século III e são mais numerosos
que os relativos aos ascetas.
Quase todos os Padres da Igreja deixaram tratados sobre as
Virgens consagradas a Deus. Durante os três primeiros séculos da
Igreja as Virgens de Cristo viveram em seus próprios lares, não
tinham hábito ou distintivo especial, usavam um véu com que
cobriam a cabeça, tomavam parte na vida social, assistiam
casamentos e freqüentavam festas. Não havia indícios de vida
comunitária.
A virgindade era considerada profissão estável e definitiva, com
conhecimento da comunidade e aprovação do bispo. Já existia de
algum modo o voto de virgindade, embora não conheçamos a
formulação precisa.
A partir do século IV aparece notável mudança:
$ As virgens cristãs são cada vez mais numerosas
$ Abraçam seu estado em uma cerimônia litúrgica.
$ Ocupam um lugar de honra nos ofícios litúrgicos
$ Vão exercendo ministério de diaconisas
Os Padres da Igreja louvam as virgens:
- ASão a parte mais ilustre do rebanho de Cristo@
- São como Avasos consagrados@
- São santuários escolhidos pelo próprio Deus
- São estrelas radiantes do Senhor
Era exigido da virgem: - prática de uma ascese vigilante
-o cultivo de todas as virtudes
-uma vida inteiramente santa
Os Padres recomendavam que elas evitassem: as reuniões
mundanas, as festas ruidosas, as familiaridades perigosas.
E pediam: que se vestissem modestamente, se comportassem
com simplicidade e humildade, praticassem freqüentes jejuns, não
descuidassem as vigílias noturnas.
A Escritura deve ocupar na sua vida um lugar verdadeiramente
único, devem lê-la, escutá-la, aprendê-la de memória. Devem
assimilar os seus ensinamentos.
Os Padres da Igreja identificavam a virgindade plenamente vivida
por amor a Cristo com a perfeição de todas as virtudes.
A virgem deveria também praticar:
- obras de misericórdia corporal assistiam os órfãos, as viúvas,
os pobres, os
enfermos.
- e também obras de misericórdia espiritual aconselhavam,
exortavam os que
necessitavam
espiritualmente.
Mais tarde os bispos começaram a fomentar o agrupamento das
virgens para se protegerem mutuamente contra os perigos do
mundo. Começaram a existir então os mosteiros femininos que
viviam sob a tutela do bispo.
OS ASCETAS:
Sobre os ascetas as informações são mais reduzidas:
$ Existiram desde os princípios do cristianismo. Praticavam
pobreza heróica e o celibato.
$ Formavam grupos em torno de um Mestre, como por exemplo
os grupos de Orígenes, de Jerônimo, de Rufino etc.
$ Seu ideal e modo de vida se parecia com o das virgens.
$ Não trajavam veste especial, viviam no mundo
$ Davam esmolas aos pobres, tomavam parte nos ofícios
litúrgicos
Assim tais grupos ascetas / virgens - após uma
evolução homogênea - deram origem a este poderoso
movimento de manifestações tão diversas que
chamamos de MONAQUISMO.
$ PACÔMIO
$ BASÍLIO no ORIENTE
$ AGOSTINHO} no OCIDENTE
Escritos de Basílio
Como pai espiritual escreve entre outras obras:
$ Regras Morais - (textos do N.T. que dizem respeito à vida cristã).
Não se restringe
aos
monges
$ Regras Monásticas - Também chamadas Asceticon, que
compreendem
Regras mais extensas e
Regras menos extensas
Escritos de Agostinho
BIBLIOGRAFIA
À REGRA DE
SÃO BENTO
HISTÓRIA DO TEXTO DA RB
TEXTO INTERPOLADO
Itália
França
Inglaterra
Alemanha
História - em resumo