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Mora 171. CONcEITO DI E MORA. Do DEVEDoR F bo E CREDOR ma das circunstanci ' ncias que po. A obrigacao deve ue acompanham o pagamento é 0 tem- a Taias da ii n na prestagao. Esta : raia inexecugdo 1 nao se impossibilitou, mas 0 sie ot Ha um atraso SO por si traduz uma falha daquele que nisto incorreu. A : tificado da parte de algum dos sujeitos de eclocns ee inius- A prestagao. Wjeitos da relacdo obrigacional no tocante Mas nao é apenas d i demais circunsténcias sie colon oh to Deatnnibsiaiouk, tua o pagamento ou 0 credor recusa vache oa poe es alei ou a convengao estabelecer, esta em mora (Cédigo Civil de i a 394)." Nao quisemos oferecer uma definigto de mora, pois que todas as tradicionais, formuladas pelos nossos escritores como pelos estrangeiros (Clovis Bevildqua, Giorgi, Salvat, Demogue etc.), pecam de smmpeiteieso como salienta Agostinho Alvim, e nas suas 4guas Serpa Lopes.” , Nela pode incorrer tanto 0 sujeito passivo quanto 0 sujeito ativo da obrigagiio. Mas comumente se cogita da mora do devedor (mora debendi ou solvendi), porque com frequéncia maior institui-se prazo relativamente ao devedor, que tem de cumprir em tempo certo. Nem por isto, entretanto, é despida de interesse e atengao a mora do credor (mora credendi ou acci- piendi), configurada no obsticulo oposto & solutio do devedor. Uma ou outra, da parte do devedor ou do credor, importa em inexe- cugao da obrigagao. Umas vezes traduz a impossibilidade ou inutilidade da prestagao, quando esta somente € anil € proveitosa em dado momento. Nesse caso, os escritores, numa pacificidade exemplar, arguemn 3 oe tar mais de mora, sendo de verdadeiro jnadimplemento total da obrigarao, 4 oan hh 3 Outras vezes 60 retardo puro € como tal comportar idéntico tratamento- : ‘vel e util, e, entdo, $6. Nao obstante atrasada, a prestaca0 ainda seria POR 0s, como a mora se no confunde, quer 22 SU® antologie a er nos seus efeitos, como A a incidéncii jas no deve ser a falta absoluta de prestaga0- As vezes ha coincidéncia. Mi ‘odigo Civil de 1916. Projetos: art. ic oe de ij 0 Civil de . Projeto de Codigo sol de 1965; art. 392 do % Se a Lage Sey 32L 2 Sin Ce ecg me HN 3 Giorgi, Obbligazioni 11° 45: ‘Eduardo Espino to, Curso, 2" parte, I, pa: 287- ont GERAL DAS OBRIGAGOES Insrrrurgoes pe Dinero Civil {ida como essencial, Na contemporaneidade, especialmente diante da con. cepgaio complexa e dindmica da relagdo obrigacional ~ que se desenvolve como um proceso ~, ¢ fundamental considerar que conceito de-adim- plemento da obrigagdo abrange 0s deveres instrumentals - também deno- minados secundérios ou laterais -, bem como direitos potestativos, Onus, expectativas juridicas, como deveres de protegao, lealdade, de cuidado e de informagao, direcionando a obrigagao ao seu total e adequado cumpri- mento,‘ Desse modo, também € ampliada a nogio de inadimplemento. Nao é, também, toda retardacdo no solver ou no receber que induz mora. Algo mais ¢ exigido na sua caracterizagao. Na mora solvendi, como na accipiendi, ha de estar presente um fato humano, intencional ou nao intencional, gerador da demora na execugao. Isto _exclui do conceito de mora 0 fato inimputavel, 0 fato das coisas, 0 acontecimento atuante no sentido de obstar a prestacdo, 0 fortuito ¢ a forga maior, impedientes do cumprimento. Em principio, 0 devedor ha de solver no momento certo, € 0 credor receber oportunamente. A falta de execugdo na hora devida induz a mora de um ou de outro. Aquele que tem de suportar as suas consequén- cias cumprira provar, entdo, a existéncia do fato, acontecimento ou caso, abil a criar a escusativa, ‘Atendendo a que nos requisitos como nos efeitos diversificam-se a mora do devedor e a do credor, cuidaremos em seguida de uma e de outra, destaca- damente. Em qualquer caso, porém, mora nao havera se o devedor tempesti- vamente tiver oferecido a prestagao ou se 0 credor nao a tiver recusado. A) Mora solvendi ou debendi. Auséncia de pagamento oportuno da parte do devedor. Para sua caracterizagao, concorrem trés fatores: exigibili- dade imediata da obrigacdo, inexecugao culposa e constituigao em mora.’ A exigibilidade imediata pressupde ainda a liquidez e a certeza. Para que se diga em mora, € necessario, pois, e antes de tudo, que exista uma di- vida, ¢ que esta seja certa, a saber, decorra de obrigacdo (convencional 0 nao) uma presta¢do determinada, A certeza ndo acompanha apenas @ obti- gacdo pecuniaria ou a de dar, mas esta presente ainda na de fazer ou "a0 fazer. Certa é a prestagao caracterizada por seus elementos especificos- Liquida auandy, além da certeza do débito, esta apurado 0 seu montante ou individuada a prestag%o. Ja no Direito romano vigia principio de qu nao se configurava a mora nas obrigagdes iliquidas — in illiquidis no". 4 Judith Martins-Costa, Comentériz % 5 Clovis Bevildqua, Obrigaita, ie Neve Chat Cit cf Mora mora. O Codigo Civil de 2002, entreta admitindo hipétese em que, nao obstante aneniza a rigidez da parémia, ocorre. Assim € que, ao tratar da liquidaca iquidez da obrigacdo, a mora éncia dos juros moratorios, nas obrigacoee as Obrigagdes, estatuiu a flu- go Civil de 2002, art. 405). Também nas Wiquidas, desde ainicial (Codi- cortem juros, © compostos, desde o tempo deste reyes ae crime manifesta a iliquidez, e, ndo obstante, sao devid ‘m ambas as hipdteses & significa que, num e noutro, consagra ° Direito ‘ 7 pane de mora, 0 que mora, independentemente da liquidez da orisacto ee ae incidéncia da _ Fixados 08 pressupostos da certezae liquide, omnia na doimediatismo da exi igibilidade com a verificac3o do seu vencinentos uma ‘veziquesna pendéncia de condigao suspensiva, ou antes de termo final, nao € possivel a incidéncia de mora: a condi¢do obsta a aquisigao mesma do direito, € a aposigao de um termo constitui obstéculo a que o credor o faca valer, Numa e noutra hipétese ndo ocorre o pagamento, e mora non fit. A culpa do devedor é outro elemento essencial. O nosso Anteprojeto menciona a inexecugdo culposa como elemento integrante de sua etiologia (art. 189). Nao ha mora, se nao houver fato ou omiss4o a ele imputavel (Cédigo Civil de 2002, art. 396). A regra ndo comporta duvida, em nosso Direito, embora o contrario possa dizer-se de outros sistemas legislativos; nao obstante a culpa, a parte debitoris € suscetivel de verificagao presumi- da (Codigo Civil de 2002, art. 399). De acordo como melhor caueaidimer to, tal presungao é iuris tantum, € nao iuris et de iure. Embora 0 rea e faca presumir a conduta culposa, cabe ao devedor evidenciar avon ss ° Ihe foi imposto por um acontecimento, pos nln eve : cujos efeit eved sati -yedor € de evitar ou impedir. De conseguinte, envolve oO seamen ‘fore consequente auséncia de mo! i! im raa verificacao de ut e fore ; raso na autoriza¢ao- maior, ainda que transit6rio; a falta de cooperagaos ° ats emelhantes." do poder puiblico sempre que S j isito do ato, eja requisite do at hates." fundada na vis mal Nao valeria ressalvar-se, contudo, por escusativa 6 i] de 2002. 6 Vern? 175, infra. se ancia no Cédigo Civil de «o Projeto de Cato Civil de 1916, at. 1.544. AMHBOSED Toye, Pro} uc oje tos: cir “adit il de 1975. Direito Anterior: art. 963 do COdiEO © pojeto de Codigo Civil 1d do Projeto de > art. Cédigo de Obrigagoes de 1965: att 37° ge 1916. Projetos: Direto asber it 957 do Codigo Civil de F digo Civil de 1975. Cédigo de Obrigagdes de 1965; At aes, 10 Agostinne alvim, Inexecucdo das Ob" 1! Larenz, Obligaciones, 1, § 22- 9 1 DAS OBRIGAGOES Insnmvicoes pe Dinero Civ. ¢ Teoria GERal . . jetiva e relativa,”” pois nao me, (forga maior), a simples ese forgas ou conservar os mein Brntepac: aquele que - re trina mais recente propde a substituicao da i om a raputbiidade no campo do inadimplemento. Judith Marti neCoate observa que, no contexto da “imputabilidade”, ha dupla forma de imputagao: a) a imputagao subjetiva que pressupée a pratica de ato culposo como ensejador da responsabilidade pelo no cumprimento da obrigacdo: b) imputagdo objetiva, que ndo exige culpa, € sim decorre da inobservancia de normas que atribuem 4 pessoa a assungao de um risco ou um dever de seguranga (ou de garantia), ou ainda de responsabilizacao pela confianga despertada na outra parte.'* | Constituido 0 devedor em mora {v. n° 173, infra), € positivada ela, duas sao as ordens de seus e/eios: a responsabilidade pelas perdas e danos € a perpetuagao da obrigacao."* Responde, na verdade, o devedor pelos prejuizos a que der causa 0 retardamento da execucdo (Cédigo Civil de 2002, art. 395);'* obrigado fica a indenizar 0 credor pelo dano que 0 atraso Ihe causar, seja mediante o Pagamento dos juros moratérios legais ou convencionais, seja ressarcindo © que o retardo tiver gerado. A indenizagdo moratoria nao é substitutiva da prestagao devida, vale dizer que pode ser reclamada juntamente com ela, se ainda for proveitosa ao credor. Mas, se se tornar inutil ao credor em ra- z40 da mora do devedor, tem ele o direito de exigir a satisfacdo das perdas € danos completa, mediante a conversao da res debita no seu equivalente pecuniario. E 0 caso em que o atraso no cumprimento equivale a descum- primento total, equiparando-se a prestagao tetardada a falta absoluta de prestacdo. O mesmo direito a recusa da Prestacao tardia assiste ao credor, quando é vinculada a um Contrato, cuja resolugio seja condicionada ao 12 Orosimbo Nonato, ob. cit,, pig. 303, 13. Giorgi, ob. cit. I, n° 13, 14° Judith Martins-Costa, ob. cit, pag. 465, 15 Ruggiero e Maroi, Istituzioni, § 131: Larey 16 Direito Anterior: art. 956 do C. Cédigo de Obrigagdes de 1965. 02, loc. cit, digo Civil de 1916. Projetos: art, 183 do Projeto &© * art. 393 do Projeto de Cédigo Civil de 1975. 2 que tal impossibilidade decorra d requisites deste agravamento da re ¢ em mora e€ ocorrer a se escusa sob alega: le caso fortuito ou de forca maior. i 2 Tesponsabilidade do devedor: estar ‘possibilidade na pendéncia desta. O devedor See cone fa , € ausencia de culpa no perecimento do obje- mee i le devedor se toma agravada Precisamente em rato de nio prestado em tempo oportuno. A perpetuagdo da obriga- ¢30 no deve ter, contudo, carater absoluto. Casos havera em que o dano ore sobreviria @ coisa, e, entdo, escusa-se o devedor moroso, compro- So. alem da falta de culpa especifica na danificagao, a circunstancia de gae 0 evento dar-se-ia ainda que a obrigacao tivesse sido oportunamente empenhada. Exemplo classico é 0 da coisa fixa no solo e destruida pelo na pendéncia da mora solvendi: ainda que o devedor houvesse cum- mesmo exemplo. pelo fortuito, entretanto, responde o devedor, se a coisa estinada a aliena¢o, e o retardamento na entrega impediu 0 credor de -la. E que o interitus nao a atingiria a tempo de frustrar a alienagao, se. com a rraditio oportuna, houvesse 0 credor convertido 0 objeto no seu das negociagdes ja entabuladas, Ressal- se, também, a obrigacdo de género, pois que, sendo certo que genus nunquam perit, a perda de uma coisa nao individuada nao impossibilita a enero.t? execuco mediante a entrega de outra do mesmo genero. B) Mora accipiendi ou credendi. Nao encontra uniformidade ate islativo. Enquanto no sistema francés a mora do credor : m pagamento, no germanico recebe tratamento nha pertence 0 Direito brasileiro, que, disci- i ig . Costuma- 0 0 instituto, mais proximo situa-Se na pe romans ome obsapl pe abeney ert Sees a0 devedor a faculdade cber em tempo certo. Mas nao se pode oes angid 20 ete $ nt & liberar-se do vinculo obrigacional orn ve tances da hipétese, uma iste, 4 or indefinidamente, Quando exi'® Pe epimento opportune rerpore. £18 ongacdo para o credor, quanto 1o devido. Nos demais casos, n mora quando atrasa 0 rece! valor pecunidrio, em desenlace nto | om a consignagao em co. A esta segunda li ———_—_ 7 De Page, Trainé, WN, 2* parte, 83- DAS OBRIGAGOES Insrrrutcdes oe Dinerro Civit * TEORIA GERAL bora falte ao credor a obrigagdo de receber,"® core a um dever tivo, de se nao opor a que O devedor se desvencilhe ol rigagio, Aj Saree ,dendi com a mora debendi.O embarago € que encontra paralelo a mora cre que o credor opde a solutio da outra parte compara-se a0 retardamento dg A recusa do credor é re. devedor, ¢ a mora de um equipara-se & do outro. ‘ . quisito conceitual dela. O retardamento injustificado no recebimento equi- vale a recusa, nao podendo o devedor que quer solver 0 débito Suportar-lhe as consequéncias. E se, em principio, cabe ao devedor constituir 0 credor em mora, ndo é contudo um direito personalissimo, pois compete também a qualquer terceiro que tenha a faculdade de efetuar pagamento vilido.” Na visio moderna da rela¢4o obrigacional como rela¢éo complexa e dina- mica, também ha situacdo subjetiva de dever relativamente ao credor. Sao extremos da mora creditoris 0 vencimento da obrigagao ¢ a cons- tituigdo em mora. Enquanto nao ha divida vencida e exigivel, nao ha falar em direito do devedor de libertar-se dela, uma vez que, se nao pode ainda ser molestado pelo credor, nem est4 exposto a qualquer risco, nao ha di- reito de forrar-se a estes efeitos. Ainda quando se trate de termo instituido a beneficio do devedor, a antecipagao do pagamento nao pode ser imposta ao credor, com a consequente constituig¢ao em mora, pois que por direito somente no momento em que a obrigagao est4 vencida é que se reputari aparelhado para o recebimento. O segundo requisito é a constituicdo em mora, desenvolvida no n° 173, infra. Um ponto existe, que € 0 centro de competicaio dos juristas. Enquanto uns mantém posigao extremada, entendendo que nao ha mora accipiendi Ssecamtinann pace taro posta sen © retardo ocorra por motivo de forga maior. Nao nos parece que qualquer dos extres sustentamos que o devedor hd de ter a fz po, no lugar e pelo modo devido, e nao cida a prestagao Oportunamente, : incidira enta ‘laa sua participacao no ato, e isto in 40 0 credor na mora, se idependentemente de evidenciar o devedor te. E por isto que alguns escritores suste” 18 Trabucchi, istituzioni, n® 237, 19M. I. Carvalho de Mendonga, 20 Windscheid, Pandette, IV, 3305 ae ae Prien deg Obrigacdes. 1 82 Mora, tam nao se cogitar de culpa na mora "M, " as, esas o procedimento do credor ow a sua omissio, “ ti re oe : : sO, se tiver justific motivo oferta ou de negara sua Cooperacao,2 corto noc : eracdo, No caso forca superior & sua vontade ou de a lente ao contetido da obrigagao.4 i, em linhas gerais, resu | ~ aye 7 eo : isenc¢do de responsabilidade do devedor e liberagao dos Tae men convencional. Incorrendo em mora, 0 eredor subtrai o devedor isento de dolo da responsabilidade pela conservagao da coisa, cujos riscos assume Em simetria com a mora debendi, que implica 0 agravamento da situagao do devedor, a mora credendi reduz a oneragao da prestacao. Assim é que, perecendo ou deteriorando-se 0 objeto, o credor em mora softe-lhe a per- da ou tem de recebé-lo no estado em que se encontra, sem a faculdade de eximir-se da prestacao que lhe caiba, e sem o direito a qualquer abatimento ou indenizagao. E, ao revés, se 0 devedor tiver feito despesas para conser- vagao da coisa, deve o credor ressarci-las. Mais: se ocorrer acréscimo de énus, ainda que indiretamente, na pendéncia de mora credendi, por ele responde o credor. E se 0 valor da coisa oscilar entre 0 tempo do contrato e 0 do pagamento, o credor tera de recebé-la pela sua mais alta estima- g40 (Cédigo Civil de 2002, art. 400).2° O nosso Anteprojeto, diferindo ds orientagao do Cédigo de 1916, minudenciava todos esses efeitos da mora credendi (art. 195). Nao se pode admitir a ext accipiendi isténcia de mora accipiendi sem oferta da res debita ao credor, pois que seu procedimento nao € injriee send quando embaraga a solutio do devedor. Mas _ basta ° fer eines ples ou verbal, pois é mister que ocorra oferta ef evade Ma oD a atitude ostensiva do devedor no sentido do pagans es aaa ait credor,’ salvo se houver precedido a declaragao © pagamento.”* ic L 24; Agostinho 2 ch aqua, Obrigacdes, § 36; Karl Laren’ Obligaciones, 18 vis Bevilaqua, Obrigacdes, § 36 Ka") Alvim, Da Inexecugao das Obrigaviets ni 22 Ruggiero e Marci, istitzion!, I, § 19" 2 Set Lopes Ca tes bo Nonato, ob. cits 4 Espinola, Sistema, U, pag. 488 ONT 25 Clovis Bevildqua, loc. cit 874. projtos 26 Direin Avtertor art. 958 do C6diE0 CW" de js a 918 Cédigo de Obrigagdes de 1965; 27 Trabucchi, ob. cit., n° 2375 Car”™ 28 Larenz, loc. cit. Instrruigoes pe Dikerro Crvit * TroRtA GERAL DAS OBRIGACOES casos — mora debendi e mora eredendi —- a determi. naco da natureza quesivel ou portavel da divida tem grande importincia, como elemento informative da conduta do devedor ou do credor, Se 4 divida é quesivel, cabe ao credor; se é portavel, tem 0 devedor o dever de levar a prestacao ao credor. . . . Ligada, pois, a mora accipiendi ¢ a materia da consignagao em paga. mento, meio técnico de que se vale 0 devedor para liberar-se da obrigacig nolente creditore, impondo a solutio ao credor, de forma que prevaleca a palavra jurisdicional como quitagao do obrigado. O Direito francés chega mesmo a no disciplinar a mora do credor, reportando-se a consignagao em pagamento.” Mas a escola alema, a que 0 nosso direito se filia, guarda a tra- digo romana e dela cogita em especial. Na verdade a mora do credor hé que produzir efeitos benéficos ao devedor que quer cumprir 0 que lhe cabe.” No n° 158, supra, tratamos em especial do pagamento por consignagao, Em qualquer dos 172. PURGACAO E CESSAGAO DA MORA Responde 0 credor, ou o devedor, em mora, pelos respectivos efei- tos, suportando conseguintemente os rigores da perpetuatio obligationis, de que o Direito romano nao admitia a principio qualquer atenuagao. No periodo classico, Celso aceitou, sob a inspiragao da equidade, que aquele que estivesse em mora pudesse restabelecer a obrigacao e dar-lhe cumpri- mento, emendando a falta cometida — emendatio vel purgatio morae. 0 Direito moderno, herdando daquele a recuperagao da obrigagao, disciplina a purgagdo da mora. Assim procede o brasileiro. Cumpre, porém, salientar que nem sempre é possivel fazé-lo. E inad- missivel quando 0 atraso se confunde com a inexecugao cabal, como 24 hipdtese de tornar-se a prestac2o initil ao credor. E inaceitavel, também, quando a consequéncia, legal ou convencional, do retardamento for a 180” lucdo. Em tais casos a mora ¢ insuscetivel de emenda, e produz seus efeitos irretratavelmente. Quando a prestagiio € ainda aproveitivel, ou ndo cont gada com a rescisto do negécio juridico, tanto a mora accipiendi quasto 29 De Page, Traité, Il, 2* vol. II, n° 1.555. 30 M.L.Carvalbo de Mendonca, ob. ct, n° 255; Sales, Obligations, 1°38 Parte, n° 87; Planiol, Ripert e Boulanger, Traité Klémentai™ Mora assumir, aquele que nela regra, a rescisdo, deve-se atentar ane 0 termo ndo essencial, formulada no n° eis entre 0 termo Para emendar a mora solvendi , Supra, aimportancia dos prejuizos decorrey juros moratorios, e o dano em cle razoaivelinentedivetia ganhercoe pase credo, acrescida daquilo que cute se a purgatio morae requer ou dispensa 0 assentimentodocteden fe de um lado ha os que defendem a dispensa,” de outro hi os que entendem que ndo existe regra absoluta, por nao ser licita apés a litiscontestatio.® Parece-nos, a nés, que 0 problema nao pode ser posto em termos abstratos, porém, examinado 4 vista da natureza do prazo concedido: se se tratar de termo essencial, nao vale a emendatio morae sem 0 acordo do credor; se for, ao revés, ndo essencial, é aceita independentemente daquela anuéncia. E cumpre recordar, ainda, que nao poder ocorrer a purgacéo da mora na pendéncia da lide, salvo disposigao expressa, como a facultada pela legis- lado do inquilinato, nas ages de despejo por falta de pagamento. Se for do credor a mora, oferecer-se-A ele a receber a coisa no estado em que se encontrar, com todas as consequéncias dela. Fator importante é a verificagao da circunstancia temporal em qual- quer dos casos, pois que, uma vez consumada, € como tal % entende a impossibilidade de reparagio do dano, nido eabe mais purges nate ° o devedor ou o credor 0s respectivos efeitos. oO Antena 0 an. 1s6)0 0 Projeto (art. 187) aceitavam @ emendatio morae somen ainda util a prestacao. Ao desaparecer a fr pretéritos, ou ja produzi mas isto j4 diz respeito acess Considere-se ainda pure’ quando aquele que se julgar P' essencial e 0 devedor oferecera a prestagdo, mais ntes até o dia da oferta, abrangendo os seus efeitos io se apagam OS mora, geralmente 1! ae ent.” dos, a ndo ser que se cer yolunt ° cacao, em seguida cogitada. isa 0%, por parte do credor ou do devedor, a i unciar aos direitos que 5 ydicado renuncte yor ela prey tos: art. 187 40 Projeto de i 6, Projetos: at i 959 do cen CT 1916 Cdign Civil de 1975. 31. Direto Anterior art. 959 2 C78 "350 do Pee? Cédigo de Obrigagdes de 1965: A "5g, 32 Clovis Bevilaqua, Comeatirio a8 art 33 Agostioho Alvim, ob. cits ® 12% popes, Cars 34 Giorgi, Obbligaziont, Th 815 5079 35. Von Tubr, Obligaciones, UI, pas: iin" 334. ae JBRIGAGOES Insrirurcoes ve Direrro Civit + TEORIA GERAL Das OBRIGAG: da mesma Ihe possam advir. Ocorre nesta hipotese 0 ae mals Precisamen, te pode designar-se como cessagao da mora, porque 5 Propriamente 4 emenda ou purgagao dela, mas ao reves a sua terminagao , sem que Pro zg seus naturais efeitos. Quando é expressa a renuncia, nao ha Propriamenie questdo ou divida, uma vez que na sua palavra mesma vem traduzida a intengdo do agente, contraria ao propdsito de utilizar-se dela ou de seus efeitos, Problema haverd na rentincia tdcita, presumida ou implicita, que, por se nao positivar em uma declaragao formal, haver-se-4 de inferir das circunstancias de cada caso, quando 0 prejudicado pela Mora age como se a outra parte nao tivesse incorrido em falta. Inexistindo critério rijo de apli- cacao, a remincia presumida ocorre quando se configura incompatibilidade entre a conduta daquele a quem a mora aproveitaria e a utilizagdo de seus efeitos, induzindo-se inequivocamente de seu comportamento. 173. ConstiTuicAo EM MORA Fator da maior importincia é a constituigéo em mora, tanto para 0 credor como para o devedor. E clementar na caracterizacao do atraso. Conforme seja proveniente da propria obrigagaio (pleno iure), ou 40 revés de uma provocagao da parte a quem interessa, diz-se que a mora pode ser exre ou ex persona.” ~ Da-se a mora 2x persona, na falta de termo certo para_a obrigagao. © devedor no esta sujeito a um prazo assinado no titulo, o credor 140 tem um momento predefinido para receber. Nao se poderé falar, entio,em mora automaticamente constituida. Ela comegara da interpelagdo que-aill teressado promover, e seus efeitos produzir-se-io ex nunc, isto é, a contar do dia da intimagao (Cédigo Civil de 2002, art. 397, pardgrafo tnico).” Amora.ex re vem do proprio mandamento da lei, independentemen'® de provocagio da parte a quem interesse, nos casos especialmente previ tos, € que passaremos em re’ ta, Nas obrigagdes negativas, 0 devedor é constituido em mora desde ° mau exeeutar 0 ato de que se devia abster (Cédigo Civil de 2002, a dia er Mora 390).* E claro que, sendo objeto da obri : A. M obrigacao um; s o cometimento da acao Proibida ja implica a sua i frasa so evedor, devedor as respectivas consequéncias in ea eee 5 idependentem: do credor para constitui-lo em mora. Nas dogmiticas meray de qualquer ato mesmo quem sustente que nao se trata de mora, carpcterizals nea mio fale J neste caso da obrigagao de ndo fazer, porém deve- 5 reus debendi como inexevueao pie oe, saduzina conduta do 0 principio apontando a inutilidade da constuo ent 2 eee infragao da obrigacao de nao fazer por si mesma : so ae ia ? consuma 0 irrepardvel.” Nas obriga¢ées provenientes de ato ilicito, considera-se o devedor em mora desde que © cometeu (Cédigo Civil de 2002, art. 398),*' como nos casos de delito contra a propriedade, em que o agente é obrigado desde logo a restituigao da coisa subtraida ou apropriada (fur semper moram facere videtur).” Pelo mesmo fundamento da antijuridicidade do procedimento, causador do dever de reparar, o qual corre desde o dia em que o agente vio- lou o direito, ou causou prejuizo a outrem, qualquer que seja o bem juridico ofendido, opera-se a constituicao automatica em mora, independentemente de intimacao ao ofensor, a contar de quando foi praticado 0 ato ilicito.” Em sua redacao, o modelo de 1916 referia-se a “delito”, como ex- pressao genérica, para compreender procedimento contra direito. Davida havia, entretanto, se se restringia ou ndo a alguma figura criminal, talvez Porque a fonte romana tinha em vista o ladro quando o enunciava. A doutrina, entretanto, estendia o principio a todo procedimento originado de uma antijuridicidade. Com a redagio atual, a divvida desaparcee, ine tuindo-se a mora ex re, em todos OS casos de ato ilicito. Considera-se que o art, 398 do Codigo Civil de 2002, somente é aplicivel As hiperest ae responsabilidade civil extracontratual subjetiva, no incidindo nos A508 de ilicito contratual e de responsabilidade civil objetiva- He . is de inadimple- 38 © Codigo Civil de 2002 deslocou a matéria pars &S disposigaesgerais de ina? gq. Tetto da obrigasao. 9 Barassi, istituzioni, n° 282. 40. De Page, Traité, III, 2* parte, n° 75- 916. Projetos: art. 396 do Projeto de 41. Dieta amterior: art 962 do Codigo Civil de! Cédigo Civil de 1975. pligaciones, Un pag: 116. 2 Ry t., Von Tubr, 1egiero e Matoi, loc. cit.; Von Tub, “yustica. Te 8 Consultar Stimula n° 54 do Superiog Ti es Perdas € Dands” i: Gostave 3s Obr! * Sérgio Savi, “Inadimplemento da Tepedino, Obrigacaes, pag: 474- RIGAGOES susrrrurgoes be Dinerro Civil + TeORIA GERAT DAS ‘Opricag . st no inadimplemento de obrigacsy © teteito caso de mora es a divida contraida com pracg cm sitiva ¢ liquida, da soto, ea sua falta tem por efeito a constinyigy’ nasce pleno iure 0 Cev dies interpellat pro homine, que 0 Cédigo Ciyy imediata em mora. F a regra E 0 proprio termo que faz as vezes de i de 2002 consagra (art. 397, capu). E 0 proprio 4 ee lacdo. Mas esta regra nao deve ser Jevada ao extremo le ser tratada com terpelagao. M hd casos em que, mesmo entdo, € necessario interpelar o deve. aaa remugto demands a pratica de atos determinados, como por exemply was promess de compra e venda em que, nao obstante 0 prazo estipulado, 9 credor terd de interpelar o devedor, indicar 0 cartério onde seré Passada a es. critura definitiva, apresentar documentos etc., sem que @ mora no existe,* Também deve alinhar-se na rota das excegdes ao principio dies interpellat pro homine a natureza quesivel da prestag20 (divida quérable ou chiedibile, pois que, se o credor tem a obrigacdo de vir ou mandar receber, é claro que niio pode o devedor incidir de pleno direito em mora, e sofrer os seus efeitos, enquanto nao se positivar a atitude do credor, procurando a res debita.® No Direito brasileiro ocorreu uma anomalia no tocante a constituigao em mora: enquanto para as obrigagées civis, dies interpellat pro homine, no Codigo Comercial de 1850 predominou o principio oposto ¢ entio dies non interpellat pro homine. Enquanto no direito civil vigorava a mora ex re quanto as obrigagdes positivas, liquidas e a termo certo, no direito mer- cantil prevalecia a mora ex persona, nao se podendo falar na constituigao €m mora sem notificagao, interpela¢3o ou protesto. E tio precisos eram os termos da lei comercial que nao pode o interessado fugir 4 determinagao, segundo a qual sempre teria de proceder judicialmente, sob pena de nao haver incidéncia da mora,” a nao ser naqueles casos especificos como 0 erolesto cambial que tem o condao de positivar 0 nao cumprimento da on as om o me pe cambio, nota promisséria, cheque, duplicata, OCatiee Geta al que fez a convocagao do devedor.* dita norma i ' ilde 002, visando A unificagao do direito obrigacional, ina gue traz uniformidade 4 matéria, prevalecendo entdo um 86 dice Cont, mbresatial a obrigarao, E, na elei¢ao entre ivil de 2002 (art. 395, pardgrafo tmico) adotou mora ex re, nas obrigagées Positivas, liquidas e a termo. 4S ya Li ‘a. 46 Sane ms Amoldo Wald, Obrigagdes e Contratos, pig. 101. " ¢6es, 0°78, 1 P&E: 315; Agostinho Alvim, Da Inexecueiio das OOF 47 Orosimbo Nonato, ob. ¢ , » Ob. cit, pag, 321, 48. Planiol, Ripert ¢ Boulanger, ob, cit, Th wisie

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