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DIABETES INSIPIDUS IN A DOG - A CASE REPORT

Article  in  Revista Brasileira de Medicina Veterinaria · January 2009

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Nicole Ederli
Universidade Federal Fluminense
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DIABETES INSIPIDUS EM CÃO - RELATO DE CASO*

DIABETES INSIPIDUS IN A DOG - A CASE REPORT

Bianca Brand Ederli1; Amanda de Ascenção Rocha2; Raphaela Cricco Guidi3;


Bruno Galves Rodrigues3 e Nicole Brand Ederli4

ABSTRACT. Ederli, B.B.; Rocha, A.A.; Guidi, R.C.; Rodrigues, B.G. & Ederli, N.B.
[Diabetes insipidus in a dog - a case report]. Diabetes insipidus em cão - Relato de
caso. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 31(1):43-45, 2009. Laboratório de
Sanidade Animal, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias, Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Av. Alberto Lamego, 2000, Parque
Califórnia, Campos dos Goytacazes, RJ 28.013-602, Brasil. E-mail: bianca@uenf.br
Diabetes insipidus is a disorder of water balance. The animal is unable to concentrate
urine, so the urine volume is very high and the urine is dilute. There are two types of
diabetes insipidus: Central Diabetes Insipidus, caused when the pituitary gland does
not secrete enough antidiuretic hormone and Nephrogenic Diabetes Insipidus, caused
when the kidneys do not respond to this hormone. The present work reports the
occurrence of diabetes insipidus in a female, eight years old, Beagle, 15kg, not castrate
dog that presents severe polyuria and polydipsia, swallowing six liter of water per day.
After the evaluation of the present drugs in the market and their respective costs and
facility of administration, the treatment was stablished with chlorpropamide
(Diabinese®, Pfizer) PO, at the morning, in a dose of 16mg/kg, that is equivalent to
250mg/day. After ten days of treatment, the water ingestion reduced at half. After 20
days the animal normalized the water ingestion and frequency of urine. In that way,
confirmed the diagnosis of nefrogenic diabetes insipidus.
KEY WORDS. Diabetes Insipidus, dog, polyuria, polydipsia.

RESUMO. Diabetes Insipidus é uma patologia oca- ingestão de seis litros de água/dia. Após a avaliação
sionada por um distúrbio do metabolismo da água e das drogas presentes no mercado e seus respectivos
caracterizada por poliúria, polidipsia e hipostenúria. custos e facilidades de administração, estabeleceu-se
Pode ser classificada como Diabetes Insipidus Cen- o tratamento com a clorpropamida (Diabinese®,
tral (DIC), quando há deficiência na produção ou ar- Pfizer), via oral, pela manhã, na dosagem de 16 mg/
mazenamento do hormônio antidiurético ou Diabetes kg, o que equivale a 250 mg/dia. Após os primeiros
Insipidus Nefrogênica, quando há incapacidade dos dez dias de tratamento, a ingestão de água foi reduzi-
túbulos renais em responder a este hormônio. O pre- da pela metade. Após 20 dias, a ingestão de água e a
sente trabalho relata a ocorrência de Diabetes Insipidus micção normalizaram-se. Confirmou-se desta forma
em uma cadela da raça Beagle, com oito anos de ida- o diagnóstico de Diabetes Insipidus Nefrogênica.
de, não castrada, pesando 15kg, que apresentava um PALAVRAS-CHAVE. Diabetes Insipidus, cão, poliúria,
quadro de poliúria e polidipsia intensa, chegando a polidipsia.

* Recebido em 19 de fevereiro de 2009.


1
Médica-veterinária, Dourora em Produção Animal - Sanidade Animal, Laboratório de Sanidade Animal, Centro de Ciências e Tecnologias
Agropecuárias, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Av. Alberto Lamego, 2000, Parque Califórnia, Campos
dos Goytacazes, RJ 28.013-602, Brasil. E-mail: bianca@uenf.br
2
Médica-veterinária, Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal, UENF, Campos dos Goytacazes, RJ.
3
Médica-veterinária autônoma.
4
Bióloga, Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal, UENF, Campos dos Goytacazes, RJ.

Rev. Bras. Med. Vet., 31(1):43-45, jan/mar 2009 43


Bianca Brand Ederli et al.

INTRODUÇÃO 2002). A patologia geralmente é permanente e seu


Diabetes Insipidus (DI) é um distúrbio do meta- prognóstico, com tratamento, é favorável. Os cães
bolismo da água caracterizado por poliúria, com DI não tratados parecem sobreviver bem, desde
hipostenúria [urina de baixa densidade específica ou que exista água sempre a sua disposição, caso con-
osmolalidade (a chamada urina insípida ou insulsa)] trário, a doença evolui para desidratação, coma e
e polidipsia (Ettinger & Feldman, 1997; Birchard & morte (Ettinger & Feldman, 1997; Cohen & Post,
Sherding, 2003). É uma doença completamente di- 1999).
ferente de Diabetes Mellitus, a qual é causada por O objetivo do presente relato é alertar para a ocor-
uma desordem no metabolismo do açúcar envolven- rência de Diabetes Insipidus na espécie canina, in-
do o hormônio insulina (Naves et al., 2003). É uma cluindo a sua importância no diagnóstico diferencial
patologia rara em cães e gatos (Andrade, 2002). Exis- em quadros clínicos de poliúrias e polidipsias ines-
tem dois tipos de DI: Diabetes Insipidus Central pecíficas.
(DIC), causado pela secreção ou síntese defeituosa
de Hormônio Anti-Diurético (ADH), conhecido tam- MATERIAL E MÉTODOS
bém como Vasopressina, e o Diabetes Insipidus Uma cadela da raça Beagle, com oito anos de ida-
Nefrogênico (DIN), caracterizado pela incapacida- de, não castrada, pesando 15kg, foi atendida em um
de dos túbulos renais em responder a este hormônio consultório veterinário com histórico de poliúria e
(Ettinger & Feldman, 1997; Birchard & Sherding, polidipsia, chegando à ingestão de aproximadamen-
2003). O hipotálamo produz ADH, e este é armaze- te seis litros de água por dia.
nado na glândula pituitária. Este hormônio é libera- No exame físico, o animal apresentava-se aparen-
do quando o volume sanguíneo diminui, quando au- temente bem, apesar do excesso de peso, com as
menta a concentração de sal circulante ou na ocor- mucosas normocoradas e a temperatura corporal
rência de dor ou estresse. A liberação do ADH esti- normal. À palpação abdominal encontrou-se a bexi-
mula a reabsorção de água para a circulação sanguí- ga repleta, mas sem sensibilidade dolorosa. O pro-
nea. A deficiência de ADH, ou as respostas diminu- prietário relatou que a única alteração observada no
ídas a ele, em receptores nos túbulos renais distal e animal era a ingestão de quantidade excessiva de água
ducto coletor, pode ser parcial ou completa. O DIC por dia e, conseqüentemente, o aumento na freqüên-
pode ser originado por defeito congênito, trauma, cia e volume de micção. Com base no relato do pro-
tumores na glândula pituitária ou ainda por causas prietário e do exame clínico suspeitou-se inicialmente
desconhecidas. Já o DIN pode ser causado por de- de Diabetes Mellitus ou piometra. Foram solicitados
feitos congênitos, reações adversas a drogas e outras os seguintes exames complementares: ultrassonogra-
desordens metabólicas (Ettinger & Feldman, 1997; fia abdominal, hemograma, pesquisa de hemocito-
Birchard & Sherding, 2003; Naves, et al., 2003). zoários, mensuração da glicemia em jejum, provas
Os sintomas incluem: poliúria, polidipsia, das funções renal e hepática.
desequilíbrio eletrolítico, provável desidratação, bai-
xos níveis de ADH e a urinálise demonstram baixa RESULTADOS
densidade específica (Meyer et al., 1995). O diag- Com base nos resultados obtidos: no hemograma
nóstico de DI requer inicialmente sua diferenciação (neutrofilia e linfocitopenia relativas), ausência de
de outras causas mais comuns de poliúria e polidipsia, hemocitozoários, ultra-sonografia abdominal sem
tais como: síndrome de Cushing, nefropatias primá- alterações e dosagens bioquímicas (Tabela 1) des-
rias, Diabetes Mellitus, doença hepática,
hipertireoidismo (gatos), piometra e hiperadrenocor- Tabela 1. Resultados da bioquímica sérica de uma cadela, da raça
ticismo (Authement et al., 1989; Goossens et al., Beagle com oito anos de idade, apresentando quadro de Diabetes In-
1995; Ettinger & Feldman, 1997; Cohen & Post, sipidus.
1999). Após a exclusão das outras causas indicam- Análises Animal diabético Valores de Referência1, 2
se métodos de diagnóstico por imagem da pituitária, Glicose (mg/dl) 90 70 - 110
pesquisando-se neoplasias, teste de privação hídrica Uréia (mg/dl) 20 21,4 – 59,92
Creatinina (mg/dl) 0,5 0,5 – 1,5
e teste de resposta ao ADH. As drogas freqüente- ALT (UI/L) 99 4,8 - 24
mente utilizadas no tratamento são: acetato de Fosfatase Alcalina (UI/L) 117 20 - 156
desmopressina, diuréticos tiazídicos, clorpropamida 1
Meyer et al. (1995).
e antiinflamatórios não esteróides (AINEs) (Andrade, 2
Lopes et al. (1996).

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Diabetes insipidus em cão - Relato de caso

cartou-se as suspeitas anteriores e a Diabetes Insipi- hepática significativa (Andrade, 2002). No animal
dus passou a ser a hipótese diagnóstica provável. observado, embora apresentasse aumento da enzima
Após a avaliação das drogas presentes no mercado e hepática ALT (alanino aminotransferase), optou-se
seus respectivos custos e facilidades de administra- pelo tratamento. Em pacientes humanos, a atividade
ção, estabeleceu-se o tratamento com a clorpropa- antidiurética ótima é observada após três a dez dias
mida (Diabinese®, Pfizer), via oral, pela manhã, na após do início do tratamento (Ettinger & Feldman,
dosagem de 16mg/kg, o que equivale a 250mg/dia. 1997). No caso relatado a atividade ótima iniciou-se
Após os primeiros dez dias observou-se que a após 20 dias. Após seis meses de tratamento o ani-
ingestão de água foi reduzida à metade e após 20 mal continua apresentando-se clinicamente sadio.
dias de tratamento, a ingestão de água e a micção se Confirma-se assim o prognóstico favorável, quando
normalizaram. a doença é tratada adequadamente.

DISCUSSÃO CONCLUSÃO
O Diabetes Insipidus não tem predileção por ida- A ocorrência deste caso de Diabetes Insipidus
de, raça ou sexo. O exame físico na maioria dos cães, deve servir tanto como alerta para a ocorrência desta
como no caso relatado, nada traz digno de nota, a doença em cães, como também para a importância
despeito das queixas de poliúria, polidipsia, noctúria no diagnóstico diferencial de poliúrias e polidipsias
e incontinência (Ettinger & Feldman, 1997; Birchard inespecíficas.
& Sherding, 2003). Os resultados hematológicos e
bioquímicos são geralmente normais ou são compa- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tíveis com desidratação leve (Meyer et al., 1995; Andrade, S.F. Manual de Terapêutica Veterinária. 2ª ed. Roca,
Lopes et al., 1996). Nenhum teste, como os de pri- São Paulo, 2002. 720 p.
vação hídrica, de resposta ao ADH e com hormônio Authement, J.M.; Boudrieau, R.J. & Kaplan, P.M. Transient,
antidiurético terapêutico, foram realizados devido ao traumatically induced, central diabetes insipidus in a dog.
J. Am. Vet. Med. Assoc., 194:683-685, 1989.
alto custo e à dificuldade de aquisição das drogas Birchard, S.J. & Sherding, R.G. Manual Saunders: Clínica de
para sua realização. A resposta ao tratamento pode Pequenos Animais. 2ª ed. Roca, São Paulo, 2003. 1808 p.
ser considerada como uma confirmação do diagnós- Cohen, M. & Post, G.S. Nephrogenic diabetes insipidus in a
tico, ou seja, confirmou-se diagnóstico terapêutico. dog with intestinal leiomyosarcoma. J. Am. Vet. Med.
O tratamento pode ser realizado com a terapia Assoc., 215:1818-1820, 1999.
Ettinger, S.J. & Feldman, E.C. Tratado de Medicina Interna
hormonal (reposição de hormônio ADH), ou com a Veterinária. 4ª ed. Manole, São Paulo, 1997. 2256 p.
terapia não hormonal, com o uso de cloridrotiazida Goossens, M.M.; Rijberk, A.; Mol, J.A.; Wolfswinkel, J. &
ou a clorpropamida (Ettinger & Feldman, 1997; An- Voorhout, G. Central diabetes insipidus in a dog with a pro-
drade, 2002; Birchard & Sherding, 2003). A terapia opiomelanocortin production pituitary tumor not causing
hormonal pode ser realizada com o uso de DDAVP, hyperadrenocorticism. J. Vet. Inter. Med., 9:361-365, 1995
Lopes, S.T.A.; Cunha, C.M.; Brondo, A.W. & Fan, L.C. Manual
medicamento de elevado custo. A clorpropamida foi
de Patologia Clínica Veterinária. 1ª ed., Universidade
a droga escolhida no referido caso, principalmente Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 1996. 107p.
pela facilidade de aquisição, administração e redu- Meyer, D.J.; Coles, E.H. & Rich, L.J. Medicina de Laboratório
zido custo. Esta droga é um hipoglicemiante oral da Veterinário: Interpretação e Diagnóstico. 1ª ed. Roca, São
classe das sulfoniluréias, que potencializa a ação de Paulo, 1995. 320p.
ADH nos túbulos distais renais e nos ductos coleto- Naves, L.A.; Vilar, L.; Costa, A.C.F.; Domingues, L. & Casulari,
L.A. Distúrbios na secreção e ação do hormônio
res (Andrade, 2002; Naves et al., 2003). Porém esta antidiurético. Arq. Bras. Endocrinol. Metabol., 47:467-481,
droga é contra-indicada na insuficiência renal ou 2003.

Rev. Bras. Med. Vet., 31(1):43-45, jan/mar 2009 45

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