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WY inet nsodalizacto dos estudantes incorporava os preconceitos da edu acto eroptia contempornes: a submissko & autoridade era axiom area aotoridade, ubéqus. Os rapazes vestiam um uniforme carscteri eek 90 comeRd, quate uM hébito Feligioso, depots um traje formal de theo. Ek estavam sujetos a uma disciplina que lemb m religiosas das quais 0 colégio apenas em parte se afastara, Um est Jane lemibra, por exemplo, “Taquela sineta, que nos marcava a hora exa vo da entrada ¢ de saida do Colégio, 0 inicio e o fim de cada aula, 0 quarto Gehora de recreio, marcava, metodizava, habituava, pontuava os nossos Geveres, habituava-nos 4 disciplina, & exatidi, 4 pontualidade Todos os hordrios, 0 comportamento ¢ as entradas ¢ saidas eram controlados, bem como as atividades propriamente ditas. Mantinha-se tum registro das tarefas cumpridas ¢ das omissdes."" O Regulamento do colégio, de 1838, ¢ claro a esse respeito: oni Os alunos serio repartidos em classe de 30 a 35 cada uma, ¢, quanto + possa, dos que forem da mesma idade, ¢ da mesma aula; a direyio ¢ igi de cada classe seré confiada a um inspetor de alunos |...] Os inspetores comerio & mesa com eles; seus aposentos se comunicardo com os dorn t6rios, de mancira que possam facilmente inspeciona-los. Ao inspetc alunos compete: 1) repartir a sua classe em tantas subdivisdes, quantas jul gar necessérias, entregando a direcho de cada uma delas ao alunc merecer confianca, 0 que seré responsivel pelo comportamento da subd) visio; 2) formar um relat6rio didrio do que houver acontecido em sua ‘no qual dé sumariamente conta do comportamento ¢ aplicagio dos alt nox; 3) organizar nos sébados um mapa sobre 0 procedimento ¢ os traba thos de cada um dos alunos; 4) entregar no sibado a noite esse mapa. ¢ todos 0s dias & noite, seus relatdrios ao vice-reitor; 5) tomar conhecimento do trabalho prescrito aos alunos pelos professores, ¢ cuidar em que sejam as lighes feitas com exatiddo; 6) tomar aos alunos as ligdes que devem de corar; ¢ examinar 08 trabalhos escritos que houverem feito; langando quanto antes em fotha separada que entregario aos respectivos professores, © seu julzo sobre eles; 7) acompanhar 0s alunos todas as vezes que sairem a pas seio; 8) examinar por vezes 0s livros dos alunos, ¢ ver se todos tém sido autorizados pelo reitor." © colégio era portanto um mundo a parte, talvez mais sombrio, ca paz de inspirar em alguns um ressentimento duradouro.”” Mas, por mais rigidas que fossem a disciplina, a hierarquia ¢ a supervisio atenta, no se questionava o status da escola ¢ de seus instrutores. No Brasil impe rial, no se poderia encontrar melhor estabelecimento de ensino: Brn exsa casa de educacso a menina dos olhos de S. M. 0 Imperador D. Pedro in. Comparecia a todos os concursos de professores, As solenes co- 9 aan tagdes de grau de bacharéis, aos exames dos mening, gumas. Durante 0 ano, de quando em ver ia asi 9. ing, retetorio, servindo-se de todos 0S pratos para vertices SM ee era boa ou mie dizem que cera vez reclamou da mart ® tng rangosa. . 88 Dor gt Quantos equantos destes meninos nao foram educadg, i, ho particular do Imperador! sea gg Fsta assiduidade do soberano deu a ele oportunidage bok os meninos, esses, quando homens, foram os escothidgs Mag, gos na alia administracdo do pais, de acordo com g sey’ ix dai o grande conhecimento que tinha dos homens ¢ day See cae A lista daqueles que freqiientaram o colégio revela aI © Bra geracdo, 0s filhos das mesmas familias, aparentadas entree saram, e que entre eles encontravam-se muitos dos conselheinn ali tros, senadores, titulares,” assim como banqueiros, advopaqn cos importantes que controlaram as fortunas do Brasil ri republicano.”” Orgulhava-se a escola da passagem por seus ee t homens como Joaquim Nabuco, o visconde de Taunay, Rodin ves, Washington Luis, Ferreira Viana e Antonio Prado, Ali os fies AL arandes latifundidrios provincianos, dos magnatas do comérci, ics tadistas e dos politicos imperiais se conheciam, recebiam sua nam, conviviam em pequenas turmas. Nao raro travavam amizade justaneny com os individuos e as familias com os quais conviyeriam nos ANOS se. guintes.” 4 Em geral, 0 passo seguinte, a faculdade de direito, quer no Reie quer em Sao Paulo, somente reforcava esta congregacdo e socializagi da elite. E, com freqiiéncia, colegas de escola do Colégio Pedro 11 con- tinuavam a morar juntos nas reptiblicas, as quais no passavam de eq valentes adolescentes mais desordeiros dos disciplinados dormitérios do internato.™ O Colégio Pedro 11 era, com efeito, 0 passo inicial privile- giado no cursus honorum do Império, pelo qual passariam os homens da belle époque carioca. Ademais, os filhos da elite carioca que nao es- tudaram no colégio propriamente dito recebiam o mesmo tipo de for- magdo nas provincias, ou nas escolas dos monastérios do Rio, manti- das por jesuitas ou por outras ordens e que comegaram a ser muito Pprocuradas no final do século. Estes colégios religiosos cariocas eram valorizados exatamente porque continuavam a ministrar a educagio &- clusiva, disciplinada e humanista que os membros da classe dominan'® haviam recebido no Colégio Pedro 11, ou em seus equivalentes provi Pas. Minis, a a caliege de So” to as herdeiras, 0 caso era diferente. Como foi ressaltado, as finas a elite nem™ mesmo compartilhavam da possibilidade de acesso limited {nstrugdo secundaria no Segundo Reinado: a elas cabia apren- der, em C284 0 que se poscer apropriado. As excegdes se limita- at as mogas cujos pais moravam na Europa — caso dos diplomatas, fu daqueles que I desfrutavam de sua riqueza rural, comercial, ou de oujas urbanas.™ Estes talvez proporcionassem a suas filhas presti- gio de uma educacdo catdlica em colégios de freiras. Tais escolas con- yentuais eram, afinal, locais bons e seguros para se manter as mogas enquanto 0s pais cuidavam dos neg6cios e se divertiam; além disso, es- ta era a opsdo aristocratica por exceléncia na Europa da época. Apre- festnca recaia sobre 0 Sacré Coeur de Paris, cidade predileta da elite” Esta pratica manteve-se por muitos anos, mas seu custo era alto, ‘ehavia inconvenientes que levaram & procura de alternativas. A educa- co européia, sobretudo, era de dificil assimilacio para aqueles que, £05- fassem ou ndo, passavam a maior parte do seu tempo no Brasil. Na ul- tima década da Monarquia, a condessa Monteiro de Barros, uma das do Estado, um cargo importante ao qual retornaria em 1910. Frontin encontrava-se entre os renomados profissionais fadiante a reforma urbana do Rio, no governo Rodrigues ). Coube a Frontin, na verdade, supervisionar a abertura tornaria o simbolo da reforma: @ ‘Avenida Central.”* ‘todas estas realizagdes, Frontin passou @ ter enorme in- questdes municipais, posicdo esta que seria reforgada por nos circulos empresariais cariocas. Mais tarde, ele conver- le parte deste capital em dividendos politicos, elegendo-se se Desde 0 Segundo Reinado, quando conquistou carB0s académi- 113 ee no Figueiredo, Quart mo se eonentont em seit ‘assitn £0 Ir paterios. Afastorbse dos negocios cor 0 wate Hunninenne (onli ass ater co nn dc ce 1880), voltage para oun vi menos Wade economia urbana em expanse, piri oe quale nprevettenn wes fonatos no nun compresarial portuyeues & ni das finangas earivede trou para o rasnto dos baneos ¢ investinentos, primeira euria diretet : paBanco do Comercio, depois como fiscal do Mane do Hraell, aie fita de uma companhia fertovidria ¢ de witia empresa de mninerayie ft de 1880, ¢, por fim, com diretor e presidente (erm 18K « 1H, respectivamente) da Caixa Keon Omica ¢ da institiigie de poupangr Men fesocorro do Rio. Além disso, cusou-se com @ filha de un de seus 94 tertno cafe uincdo-se a outro de sous pens para importa os ait entos nevessiios para seus empreenidimentos industrials nas Areas fa siderurgia e da construgao naval Quartim preservou vinculos importantes com i ¢ omunidade de co merdantes portugueses ao se tornat socio do Gabinete Portugués de Lah fu edo Retiro Literarlo Portugus, proeminentes sociedades literarias patrocinadas por imigrantes enriquecidos, Sua posigio & prestigio neste Tirculo slo indicados por sua longa estada em Portugal durante a (ur pulenta década lus6foba de 1890, © por sua participagio em organiza cbes cientificas, literdrias ¢ comercials de Lisboa, im 1907, # preci néncia de Quartim entre os portuguses do Rio ja era fato consumado Foi cle quem fez o principal discurso na reuniiio do Gabinete daquele ano (perante uma audiéncia seleta que inclufa o representante diplom | tico portugués),® € atuou como membro votante da Secretaria de ro paganda de Portugal em seu pais de origem ‘Os lagos portugueses de Quartim apenas em parte explicam ve ‘cesso; ele também desfrutava de uma posigéo de destaque na alta wocle dade carioca, Isso, claro, nfio constitui surpresa, Havin completa acel ‘ago, por parte da elite brasileira, da clite da colonia portuguesa, Ov ‘Portugueses, como foi visto no capitulo 2, freqientemente se casavamn ‘com mocas da elite brasileira, tendo fundado algumas das dinastiay mals (656 lembrar a origem das familias Rio Bonito, Htamarati, ¢Fstrela), Esta evidente harmonia entre brasileiros e por plano da alta sociedade, implicita em grande parte deste 1 base firme nos interesses econdmicos comuns aos dois grande parte definidos ao longo do séoulo xix. Quartim lum dentre os intimeros imigrantes portugueses com wna Nip Icesso comercial, Ble havia recebido seu titulo de di Pedro va. em varios jornais cariocas, ¢ suas filhas passaruim a fa fe, pela via do casamento, de ricas familias cariocas.” Timber MS samara Municipal do Rio @ partir de 18a), een ac penile O76 rlisloa feqdentade nay 0a nes gals OH Je QUAL, GOI O8 OMFS ais, ey of Fractal resdencia dru do Riachuelo (que brigav famosa cole aio de quadlios ato bara), era quase previnivel; Coroava Mais uma cay. oy waa ae resannenkTo nacesto @ poder na belle dpoque carioea, va se atguins coast wales oramn conseationela de vidas iniciadas em is caronstanias tatvtonals (come no cao das familias ligadas & agri. | Aitara, ao cowdtsio ¢ A antiga combinagao de uma profissio liberal a ima politica), ¢ de carreltas que prosperaram no Império, outros sa- : Jaes da alta sociedadte da belle époque eram diferentes, Hles represen a vam, de myanelta mais consumada, as reallzagdes sugeridas pela proe- ¥ Jrinenia de Brontin: a impartanela do profissional urbano na Repablica ‘ef Vath, resuttante de uma tend@neia cada vez mals forte que jé se torna- ra evidente no Segundo Reinado, a Himbora suas familias provavelmente dispusessem de conexbes com g ‘as tradicionais fontes de poder, o que diferencia esses personagens do 1 padrao que Rui Barbosa ¢ o conde de Figueiredo exemplificam é sua i origem, duplamente afustada de tais tradigées, Bles eram nao apenas profissionais urbanos, mas filhos de profissionais urbanos, As novas oportunidades ¢ o rompimento das restrigdes tradicionais, provocados pela expansio urbana do final do século XIX, ao lado das grandes mu- angas iniciadas pelo golpe republican, deram a este grupo sua forga ¢ potencial © senador por Mato Grosso citado como freqientador de clubes © amigo de Rui Barbosa com certeza pertence a este grupo. AntOnio Fran- cisoo de Averedo (1861-1936) nao apenas adquiriu prestigio com o ad- vento da Republica: tico, Filho de um udouse py 1 verdade, ele era um produto deste sistema poli- ‘doutor”” de Cuiab’, no Mato Grosso, Azeredo uara © Rio de Janeiro em busca das oportunidades ofereci- das px bulenta ci - , ela, a rilenta cidade na década de 1880, Se, por um lado, sua ra aca rr piheernty Bi tritlea, por outro, sua carreia pibica revela um files AER ae edo passou da Escola Politéenica para a 1998, Now ai Live de Diteto do Rio, onde se formou em ovddiconse hae ease nos cursos e indecisio aeadémica, Azer Dan ede a neitatapat, a politica, da qual vin pat oral ahalia Some jonnalstarepublicano na Gazeta da Tar- sta de José do Patrocinio, Durante a decadéncia da Monargui wirquia, Azeredo cor Vos politicos pei comprou o Didrio de Noticias (1889), com objeti- Gio eam tong ete teoto a Rui Barbosa — 0 que seria o int- © Proveitosa amizade pessoal ¢ politica.” 6 fodas as pegas se encaixaram cxtamagao da Republi vAzeredd, TeNdO ao jornalistica, € 5 mais forte dos dois cl jou sua ascensio pela este nstituinte, c idas suas credenciais de re uma ba anti depois de assegur s politicos rivais de 1a escada do po- ntinuow a repre (1890-96). nliando-86 #0 ® peered ini Congresso Co spits diversas lgistaturasinicals do regi Martinho (seu protetr e chefe do cil mato-grossense for por Mato Grosso, quando aquele foi inangas por Campos Sales. Azeredo Oct mais de uma geragio. SO a revolucio de ‘dara a tecer, pos fim ao seu mandato , cn oo pe too: seu esta Sasi Joa fo qual ve aliara) OM thio para ministro das F ‘edcira senatorial POT trama que el ss peputado NO jou 900, a0 rasa & einai. Mas, no inicio da belle jnda estava muito dis: same Quando os epublicanos triunfaram em todo o pals ¢ 36 elites re- finals se reorganizaram por meio da politica dos governadores,” Aze ia la chegar sua oportunidade de conquistar espaco. Na E08 0 om Joaquim Murtinho ¢ Rui Barbosa, mas também inheiro Machado, o que era mais impor- ar a maquina époque, tudo isto ai apenas trabalhava ‘0 “chefio" do Senado, tanie ainda, Ao lado do lider gaucho, ajudou a organi?! politica nacional que ficaria conhecida como 0 Bloco. tee do relacionamento entre os dois, na famosa mansio que o lider po- ltico gaiicho possufa, no morro da Graca: is um vislum. Enurava-se para um hall de cujas paredes um grande retogio de = ‘ou encarava com a sua face de lua cheiariscada de niimeros ¢ ponte ‘Uma cara de cavalo pulava ao lado dele, rodeada de ornatos de mont Joos com estribos pendurados. No chi, junto das cadciras, peles. Havia {ouros por ioda parse. © ambiente cumulava-se de motivos ¢ emblernas BX ‘hos [J Na sala ao lado, um vaso com flores, palmas-de-sants g Tip pice: Contigua a esa, a de bithar, onde, de manhl, das now We © * Iivoeenio Ge yubir para vestir-se e sar, em geral ts onze horas, Pinheiro a IMA this roiapa lve, de brim c em chinelos de couro de rebordo wit BR Ai eases A desc pronto, de fraque e calralistrada. Tinks OS we REN aati do aleoro. Logo cedo chegava Azeredo, caer branes ye Gelaraya'boca cheia de lingua, tratando Pinheiro por voce © toda a sim: vo lr capa un, Feri palet6-aco de casi Toros senadores ano usar fraque) wm cravo emarcio 08 G Ee i anar-e qase venereal ar COM Ma “um canto em vor baixa. MPa da cécada de 1890, portanto, teve inicio um perlodo de p fidade para Azeredo — prosperidade que, segundo seus criticos, u7 cv pe neo aborda a questo em termos o ‘o. Um contemporaneo ‘ ; ee sea Arered0 €8 Pinheiro Machado como 0 Fouché Titerdrios, referin« pavarsia oo Tot ne a pagina ior . eo Taligrand de “UH jos como “a vsioencarada do Cine as EROS wisi ty erode pode bem ter sido corrupto, snared matt gucedido ele 0 foi com cetteZa. EM 1915, quando Pinheiro M mas Dee spaqeado pouon antes dese enoontr outro politico presidéncia do Senado. enc ega a surpreender, portanto, que Azeredo ¢ a talentosa esposa formassem um importante casal no “alto mundo”; 0 senador emp cuidado de sublinhar sua proeminencia politica com atividades ti narureza social. O saldo do casal em Botafogo tornou-st Ls tradi- sao. Azeredo, baixo ¢ robusto, exibia no entanto une cabeleira branca tho elinico para roupas elegantes e muito jeito com as mu- Jeonina, um oll theres, Era considerado um anfitrido cativante, afével, famoso como ami- go eal e jogador fandtico de poquer.™ A esposa ¢ as filhas, como as ae Rai Barbosa, eram vistas com freqiiéncia no Teatro Lirico ¢ faziam, so lado das mulheres da familia de Rui, 0 contraponto feminino aos hebituais almocos dos dois amigos na mansio de Séo Clemente ou no Club dos Didrios.** Os diversos fios se entrelagavam com firmeza. Den- tro da ciranda e dos contatos extremamente personalizados que caracte- zaram a politica na Repiblica Velha, 0 saldo, os clubes © 0 Lirico eram, va mesma medida que seus jornais, parte dos instrumentos de que Aze ‘edo dispunha. No pequeno mundo dos poderosos do Rio, todos, para ‘© homem conhecido como o “grande operador”, significavam a possi- bilidade de estabelecer contatos e ampliar a propria influéncia. 34 0 salio comandado por Herculano Marcos Inglés de Sousa (1853-1918)* distinguia-se por seu tom: servia mais como divertimento de um advogado de renome, e dotado de gosto musical e literdrio. Co- moo pai de Azeredo, 0 de Inglés de Sousa era um ‘‘doutor”” provincia- no, no caso importante magistrado no Pard, de onde provinha sua fa- milia,e mais tarde na poderosa e dinmica provincia de Sao Paulo. Inzlés de Sousa era filho de uma “*boa’” familia tradicional paraense, Sem a vida, isto explica o fato de o menino ter sido educado fora da provin: “cia, Desejavam que adquirisse a formagao tradicional da elite. Inelés foi, entio, para um colégio no Maranhao e depois para outro ‘0 que 0 levou em seguranca até o degrau seguinte — @ faculdade Iniciou 0 curso em 1872, no Recife, e em 1876 completo? de Sao Paulo, 3porada na faculdade de direito em Sio Paulo, I 18 ¢ seriamente & ficco. Ao mesmo tem- \ , omegou a dedicar-s we potest avidade poitica e joralisticn trabalhando na magis- we 9 rg paulista © jando-se a Antonio Carlos.” Em 1878, realizow i (atv Par casamento com Carlota Emilia Peixoto, parente de Anto- oid nee comes SU ascensfo,entrando para os cieuls liberis Ha a5 "aandando jornais partidarios, ‘elegendo-se deputado provin- ig Se send Momeado presidente de Sereipe em 1880 e, posteriormente, oe aiito Santo: Nas uss provincias, destacou-se gracas & habilidade spin acide de reforma institucional, integridade e eficiéncia. no ai, sua carreira politica naufragou de repente, quando nao Mpseuiu eleger-se Pare ‘um mandato federal. Desapontado, Inglés de Sousa retirou-se dO cendrio politico para exercer @ advocacia em Santos ia cada vez maior. Na tranqiilidade desta prosai- ta vida provineiana, escreven Sa obra-prima, O missiondrio (1888). e diletante literario, nada vadvogado de provincia bem relacionado distinguia Inglés de Sousa entre os bacharéis da época. Os eventos de ta#9 mudaram tudo. oS anos de turbulencia nacional desmontaram ¢ vaaam o que parecia ser uma vida resolvida. Inglés de Sousa | eiheeia epublicanos importantes de So Paulo ¢ Rio. Visitando a ci- Gade por acaso, em novembro de 1889, soube de antemao 0 que ocorre- | ano dia 15. Por forca de seus contatos republicanos, conseguiu ser apresentado a Deodoro, assegurando uma oferta pat governar um ou aarto estado, na dificil semana que sucedeu a0 golPe. AS ofertas, no entanto, logo se dissolveram perante scus olhos, mergulhadas no acido : forte das conveniéncias politicas.” Inglés de ‘Sousa, ao que parece, deu- se-conta da virada dos acontecimentos e de suas possibilidades. Voltou Santos, pegou todas as suas coisas ¢ mudou-se Part Sao Paulo, Em 1890, com a ajuda do grande financista Mayrink,® ficou rico no Enci- Thamento, a0 organizar 0 Banco de Melhoramentos ¢ ‘Companhia Agi cola, Industrial e Colonizadora de Sao Paulo. ‘Mais uma vez, no entanto, Inglés de Sousa sofreria um revés, pois, ‘em 1891, viu-se com a satide abalada. Os médicos diagnosticaram asma Bere imimudanca de arcs, Assim, aos 38 anos, afastado a politica, com a banca de advocacia em Santos abandonada, a fami- Tia aumentando ¢ os negdcios liquidados, Inglés de Sousa teve de re Ue ao Ric: Sean um sinecura, sem um padrino, #0 ideclientes, retomou a pratica da advocacia. ‘Apesar de tudo, em Jde trabalho dedicado conseguiu langar ‘as bases para uma das tadas reputacdes profissionais nos circulos legais cariocas. ras aristocréticas, calmo, educado, o barbudo Inglés de Sousa Ise com suavidade e firmeza por entre OS meandros das grandes 9 Mesmo assim alguns insistiram, ainda que em regime de meio per fodo, Jevados pela capacidade, sonhos ou temperamento ‘ou pela falta de caminhos alternatives para & aquisig&io de prestigio. Por veres, estas pes- soas deram uma importante contribuigo a cultura € sociedade de elite do periodo. Um exemplo deste tipo bem-sucedido de diletante, uma es pécie de elo entre os aspectos mais literérios & aqueles mais sociais da Melle époque carioca, € 0 de Escragnolle Déria Laie Gastdo d’Escragnolle Doria (n. 1869)" era filho de Luis Ma nuel das Chagas Déria, oficial ¢ professor da Escola Superior de Guer fa, e de Adelaide d’Escragnolle Taunay, filha do bardio de Taunay. OS parentes de Escragnolle Déria, por parte de pai, eram soldados ¢ enge fiheiros atuantes nas dreas de educaco técnica desenvolvimento do transporte urbano. Por parte de mic, descendia de émigrés aristocrati cos franceses do Primeiro Reinado, que serviram 80 Império com dados, funcionarios da Corte ¢ burocratas graduados, ¢ que se dedic ram a profissdes liberais, engenharia, literatura, aries © investimentos capitalistas urbanos.* De fato, Escragnolle Déria nasceu em uma fa milia devotada a europeizagio material ¢ cultural do Rio ¢ ele apenas deu seguimento a esta tradi¢ao. Carioca de nascimento, Escragnolle Doria fo ‘educado em casa pe la mie, tendo freqientado, posteriormente, dois colégios particulares ea faculdade de direito de Sio Paulo. Bacharel ja em 1890, na virada do século ele parecia ser apenas mais um ‘advogado com interesses aca~ démicos. Escreveu uma historia financeira do Brasil, colaborou com A Gazeta Comercial Financeira, \ecionou no Colégio Pedro 11 ena Facul dade Livre. A sede de fama literaria, sem duivida estimulada pelo exem- plo do tio, 0 visconde de Taunay,” empurrou Escragnolle Doria para ws belles lettres. Ele comegou cedo a colaborar ©Om tradugies € pecas literdrias nos mais conhecidos periddicos literdrios ¢ elegantes. A lista inclufa as publicagbes preferidas da elite: Brazileira, A Semana, Gazeta de Noticias, O Paiz, Kdsmos e Rua do Ouvidor. Naturalmente, era & fiteratura francesa que atraia a maior parte de sua atengao, Um perfil Déria no Rua do Ouvidor exaltava suas qualidades — de uma forma jo carioca — registrando os clogios recebera entre os consagrados liftéra “Jer no célebre Journal des Goncourts referencia ao nosso compatriot, Bscragnolle Doria, ¢ ver disso tem merecido a estima literdria de Julio Verne, de | de Maurice Rollinat ¢ de outros ilus- © perfil se encerra com uma men- da obra de Prévost, Les demivierges. 10 sol 121 esmo assim alguns insistiram, ainda que em regime de meio periodo, jevados pela capacidade, sonhos ou temperamento — ou pela falta de Giminhos alternativos para a aquisiclo de prestigio. Por vezes, estas pes coas deram tuma importante contribuicho ‘Aa cultura e sociedade de elite ddo period. Um exemplo deste tipo bem-sucedido de diletante, uma es pécie de elo entre os aspectos mais Titerdrios e aqueles mais sociais da pelle époque carioca, é 0 de Escragnolle Doria, Luis Gastdo d’Escragnolle Doria (n. 1869) era filho de Lis Ma- uel das Chagas Déria, oficial e professor da Escola Superior de Guer va, ¢ de Adelaide ’Escragnolle Taunay, filha do bario de Taunay. OS parentes de Escragnolle Déria, por parte de pai, eram soldados ¢ enge rciros atuantes nas éreas de educacio técnica desenvolvimento do transporte urbano. Por parte de mac, descendia de émigrés aristocrat tos franceses do Primeiro Reinado, que serviramn 98 Império como sol- dados, funciondrios da Corte burocratas graduados, ¢ que se dedica~ ram a profissdes liberais, engenharia, literatir, artes ¢ investimentos capitalistas urbanos.* De fato, Escragnolle Déria nasceu em uma fa- mmilia devotada a europeizactio material ¢ ‘cultural do Rio ¢ ele apenas deu seguimento a esta tradicao. Carioca de nascimento, Escragnolle Déria foi educado em casa pe la mie, tendo freqientado, posteriormente, dois colégios particulares ea faculdade de direito de Sdo Paulo. Bacharel 4 em 1890, na virada do século ele parecia ser apenas mais um advogado com interesses aca- démicos. Escreveu uma historia financeira do Brasil, colaborou com A Gazeta Comercial Financeira, \ecionou ne Colégio Pedro 11 ena Facul- dade Livre. A sede de fama literdria, sem divida estimulada pelo exem- plo do tio, 0 visconde de Taunay, empurrou Escragnotle Déria para fs belles lettres. Ele comegou cedo a colaborar com tradugdes ¢ peas Iiterdrias nos mais conhecidos periddicos literdrios ¢ elegantes. A lista jnclufa as publicagdes preferidas da clite: Brazileira, A Semana, Gazeta de Noticias, O Paiz, Késmos © ‘Rua do Ouvidor. Naturalmente, era & literatura francesa que atrafa a maior parte de sua atencao, Um perfil de Doria no Rua do ‘Ouvidor exaltava suas qualidades — de uma forma i registrando os elogios recebera entre OS consagrados littéra el “ler no célebre Journal des Goncourts compatriota, Bscragnotle Doria, ¢ vet do a estima literdria de Julio Verne, de ‘de Edmond Rostand, de Maurice Rollinat ¢ de outros ilus- de letras de Franca”. O perfil se encerra ‘com uma men- de sua tradugdo da ‘obra de Prévost, Les demivierges. ‘vos quavonta an, ae paren eernanvete ke rn ali der ve for by ate em mona Hs 0 AMO? co olan @ O mavinvento Neessante de aepia above, digpensavan auakguer pero de trays ge se he yiosse ey i Prorat tan = € Huo pala. vos, hla € sono, tran de von convo tuxto nel ¢ gown nota de armanta que era vieinhas do iso tro chamawanny, Bra a primlra a tivertitse com « geaga do que ela mesma Maia. Tambsin prditiga de chistes, algunas veres eausticoss promta no re partie cxuborants, até quase a vutgaridad, A Are qe acer digas ‘ procurar eleghncla no tran, mas certa fata de Rosto ow de dscigto figura tendente ao peso TRO a ajudavamn plorante wos Mas exigente. Oe seus vestidos, chegados 00 NRO ce Paris, cram sempre fora do banat Podiam ser adequados ao seu destaque nas reuniies socials pore, As ve ‘ees, ficavaun mais apropriados & paloos do que «sales, # “A ccensura delicada destas linhas, eseritas pela fitha de uma famitia distinta, sugere uma dona Laurinda indomilvel, Impulstonada para ch ina e para a frente pelas cirounstanclas espectficas da époea, rica, inde penedente e muther, dona Lavurinda e seu salto eram eriaturas da bole Gpoque. Eles no poderiam ter existido no Segundo Reinaclo, ¢ parses tam bizarros na Repiblica Velha, onde tantos preconceitos da sociedae tradicional foram retomados com firmeza. Meso assim, capitalizados pela loucura financeira do inicio da década de 1890, e aprovel via tolerdncia erescente em telago ao papel das mulheres na sociedade de elite (assunto que serd tratado no proximo capitulo), os saldes pro ‘movidos por dona Laurinda no bairro de Santa Teresa tornaram-se ui tradig&o, do mesmo modo que sua presenga em sociedade, acompanha- da do insepardvel cachorrinho de estimaglo, Poupée. ‘Outros, além de dona Laurinda, revelaram na época capac a ascensto social, Estes “homens novos” nio dispunham de riquezs familias tradicionais, nem contatos, posigdes politicas ou atividades profissionais urbanas, Eles “entravam’, no entanto, por motivos bas: tante tradicionais — dinheiro novo, ganho no final do Império ¢ inicio dda Repiiblica." Talvez os mais famosos entre estes novos-ricos fossent ‘0s Guinle,® famosos pelo charme pessoal ¢ pelo estilo de vida cultivas do, custa de uma fabulosa fortuna, produto das circunstncias espe ficas da epoca, © fundador da fortuna, Eduardo Pallassin Guinle (f. 1912), nto passava de mais um empresirio francés no Rio. Dedicou-se & impor Coy Bae aa a0 lado de um sécio competente, Cin Nc Ultimos anos do Império, no entanto, Guirile —— noventa anos para construir ¢ operat & \do-se Je para 124 0 porto de Sao Paulo, bem no momento em que a pro- ‘ lideranga na produgao de café, numa época em que ‘ prasijé havia consolidado sua posi¢aio como o maior exportador mun- Sal do produto. Gaffré, padrinho de pelo menos um dos filhos de Guin- ‘sem deixar filhos. Desta forma, a concesstio, bem como os ros interesses da firma, tornaram-se a galinha dos ovos de ouro dos docas de Santos, jncia assumia & Je, morreu ou eine, colocando-0s desde ento em uma invejavel posisio econdmica e social. Em 1914, um inglés registrou: [aldo se pode ficar muito tempo no Rio sem ouvir o nome ““Guinle”, due avulta com igual importancia nos circulos industriais, financeiros, comer- ciais esociais. Imensamente ricos e empreendedores, este ¢ 0 veredicto geral [..] Nenhuma palavra sobre as operagdes [da firma] pode dizer tudo — pois cles sio extremamente ambiciosos e engenhosos, e, como empreendimento privado, a firma é, suponho, a maior proprietiria do Rio ¢ do Brasil." Muito antes da morte do primeiro Guinle ou de seu sécio, portan- to, havia dinheiro sobrando para todos, e os dois fundadores, bem co- mo 0s filhos de Guinle (todos nascidos na década de 1880) projetaram- se socialmente. Da Costa lembra-se de Eduardo (filho) ¢ de seu irmao Carlos, figuras populares na sociedade. Carlos, Otavio e Guilherme cram todos freqiientadores do Club do Didrios."” Carlos (n. 1883) diplomou- se pela faculdade de medicina do Rio, casou-se com uma Oliveira Ro- cha e continuou nos negécios da familia (mais tarde ampliados tam- bém para o setor bancario). Ele era um renomado s6cio de clubes, ativo nao apenas no Club dos Disrios, ou no Club de Engenharia eno Jockey (Gaffrée e seu pai haviam pertencido aos dois ltimos), mas também no Derby, no Fluminense Futbol Club e, na Franca, no Cercle du Bois de Boulogne e no Polo de Paris. A magnifica casa que seu irmao Gui- Therme ¢ o velho Gaffrée haviam construido na praia de Botafogo tornou- se sua e, dai em diante, transformou-se num ponto de encontro da so- ciedade na década de 1930." ‘© mesmo perfil poderia ser aplicado a seus irmaos. Bacharéis nas firmas da familia, desenvolve- escolas do Rio, também trabalharam nas seus préprios negécios e desfrutaram da vida em sociedade ¢ de ‘lubes, Somaram-se & residéncia na rua Sdo Clemente ¢ a0 escrito ‘Cidade Velha, na rua da Quitanda — pdlos sociais e econdmicos os quais seu pai atingira 0 sucesso na década de 1880 —, 0 ‘edificio em estilo eclético na nova Avenida Central ¢ as di- dos Guinle em locais elegantes como praia do Flamen- fe riia Marques de So Vicente. © quadro ¢ suficientemen- 125 ju aan a seer goral da entidade, Se a literatura servia a seus fy avosma valid para ws condecoragses internacionals — ele

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