You are on page 1of 266
CRITICAVIENTE | Artur Pol6nio | Fai ete LY ray Tey EV Trt} Pi TTY fare TSS INDICI 1, OQUE EA FILOSOFIA? 1, Uma resposta inci 2, Uma caracterizagio da filosofia 3, Para que serve alosofia? 4, Porqué estudar flosofa? ‘extos complementares 2. QUAIS SAO AS QUESTOES DA FILOSOFIA? 1. Questées flséticas © quests cientificas 2. Disciplinas contrais da flosofia 28, Outras esciplinas flosficas 3. ADIMENSAO DISCURSIVA DO TRABALHO FILOSOFICO |. Flosofa atitude etica - Argumentos Frases @ proposicdes Negar propasigées 5. Refutar proposiqses . Validade ‘Textos complementares egPepe 1. AACGAO HUMANA ~ ANALISE E COMPREENSAO DO AGIR 1.1, AREDE CONCEPTUAL DA ACGAO 1. Adoinigéo do cgi 2. Causaldade naturale causaidade do agente Textos complementares 4.2, DETERMINISMO E LIBERDADE NA ACGAO HUMANA 1. Eotie-abtvio compaivel com o dtormiismo? Textos complementares 2. OS VALORES ~ ANALISE E COMPREENSAO DA EXPERIENCIA VALORATIVA 1, Valores e valoragdo ~ a questo dos critérios valorativos 2. Valores e cultura ~ a divorsidade e 0 didlogo de cultura. Textos complementares 3. DIMENSOES DA ACGAO HUMANA E DOS VALORES. ‘ADIMENSAO ETICO-POLITICA 4. INTENGAO ETICA E NORMA MORAL 1, Aditing one dca 0 oral ‘8.2. A DIMENSAO SOCIAL E PESSOAL DA ETICA ~ 0 SI MESMO, (O.QUTRO E AS INSTITUIGOES. 1. Porqué agi moramente 9.3, ANECESSIOADE DE FUNDAMENTAAO DA MORAL - ANALISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPECTIVAS FILOSOFICAS. 4, Aten de Kant 2. Avcade Mil Textos complomentares 4af gene 18 wT we 8.4, ETICA, DIREITO E POLITICA 196 1. Liberdade e justica social 17 2. lqualdadee citerencas a 3. Justia e equdade 9 Textos complementares 151 4. DIMENSOES DA ACGAO HUMANA E DOS VALORES. A DIMENSAO ESTETICA 158 ‘4.1. AEXPERIENOIA E 0 JUIZ0 ESTETICOS. 188 1. Os juizos estéticos: bial r. Aexperiéncia estética m ‘Acxpeincia esttica come exportincia das proprodadesestéticas dos chectos 163. A tera objects da juzos estos 165 5. Roxperiéncia etic come forma do atenglo e de contomplao dos sjstes 166, 6. Atooria subjoctiista dos julzos esticos 108 Textos complementares m 4,2, OQUEE AARTE? 6 1. Oprobiema 7 2. Resposta ao problema 78 Textos complementares 1 44,3. 0 VALOR DA ARTE - PRODUGAO, CONSUMO, COMUNICAGAD, E CONHECIMENTO e 1. Ateoriaessenciasta 17 21 Tera arta, enquanto arte, um vale ditto? ag 12. Atospstaessencialista: valor esto enquanto valor dstnto da arte 19 44. Haverd um valor que todas as obras de arte partiham:ahipétese do valor esttico 202 15. Haverd um valor que todas as obras de arte partiham: ahipétese do valor cognitvo 2 Textos complementares 205, 5. DIMENSOES DA ACGAO HUMANA E DOS VALORES. ADIMENSAO RELIGIOSA . 20 15.1. OSENTIDO DA VIDA no 1. O problema do sentido da vida at Textos complementares 2m 5.2. RAZAO E FE m |. © ponto de pat 2s 0 argumento da causa primora 28 - 0 argumento do designio ms © argumento moral BS 5. © argumento ontolinico 2 ‘A posi fidesta Q os 8 9 9 255, 24 269, is preconcetes que devemos evitar egaere Textos complementares 6. TEMAS/PROBLEMAS DO MUNDO CONTEMPORANEO: 6.1, SERA 0 ABORTO IMORAL 6.2. COMO HAVEMOS DE VIVER COMO TERRORISMO APENDICE BIBLIOGRAFIA A ACTIVIDADE FILOSOFICA a filosofia e ao filosofar O que é a Filosofia? Quais sao as questées da Filosofia? A dimens@o discursiva do trabalho filos6fico « UMA RESPOSTA INICIAL 1.1. As palavras e o que elas querem dizer 1.2. Aetimologia 1.3. Objecto e método da filosofia 1.4, Filosofia e historia da filosofia 1.5. Uma definigao negativa: 0 que a filosofia néo é 1.5.1. A filosofia no é uma das ciéncias. 1.5.2. A filosofia nao é literatura 1.5.3. A filosofia nao ¢ religiao 1.6. Uma definicao implicita |. UMA CARACTERIZACAO DA FILOSOFIA . PARA QUE SERVE A FILOSOFIA? 3.1. A filosofia é inevitavel 3.2. O que a filosofia pode fazer 3.3. O que a filosofia nao pode fazer PORQUE ESTUDAR FILOSOFIA? 4.1. 0 prazer de pensar 4.2. A vida examinada 4.3. 0 sono da razao a Ea primeira vez que estudas filosofia na escola; mas a palavra «filosofia» nao é, decerto, nova para ti; € possivel que jé a tenhas encontrado antes. Porém, quem nunca estudou filosofia pode ter ideias vagas, ‘ou erradas sobre 0 que a filosofia é. Compreenderas melhor 0 que é a filosofia a medida que a fores estudando; mas uma resposta inicial pode ser itil, porque pode ajudar-te a orientar methor 0 trabalho, Neste capitulo, procuraremos dar uma primeira res: posta ao problema da defini¢ao da filosotia. — Conceitos nucleares Conceito, crenga, critica, definigao, definigao explicita, definigao implicita, problema ov questao qe 6a Fiesoin? 1. Uma resposta inicial O gue € a filosofia? A resposta dizer 0 que € a matematica ou matematicos ou que a fisica e: decerto, informativo; isto porque, Cos € fenémenos fisicos, a fisica ‘esta pergunta nao ¢ facil; mas igualmente dificil seria 8 fisica. Dizer que a matematica estuda os conceitos ‘studa os fendmenos fisicos 6 correcto; mas nao 6, » S© No soubermos ja 0 que so conceitos matemati- esse modo nao ficaremios a saber 0 que so a matematica e 1.1. As palavras eo que elas querem dizer A resposta que satistaria a tua curiosidade seria uma definigéo; isto porque uma defi- nig&o € uma maneira de dizer 0 que uma coisa & AAS defrigées sao importantes; sao utes & flosofia e sao ites as ciéncias, mas tam- bem na vida quotidiana temos, por vezes, necessidade de definigdes, No capitulo 3 Garemos uma atengao especial 8s defnigdes; neste momento, ¢ de um modo geral, Giremos que uma defnigéo 6 0 que procuramos quando perguntamos: «O que 6...» Socrates, um dos maiores filbsofos da Antiguidade, interrogava frequentemente os Seus concidadaos acerca do que séo coisas como, por exemplo, a justica, a beleza e 0 bem - € pedia-Ihes definicdes, Perguntar «O que é a flosofia?s 6 jd 0 tipo de pergunta qu a filosofa, tipicamente, faz. Usamos muitas vezes as definigdes para clarificar conceitos. De facto, clarificar con. Ceitos € uma parte importante do trabalho filosbfico; isto porque precisamos de o fazer ara resolver problemas filosficos, mas também porque muitos problemas filos6ficos ‘sao levantados pelo cardcter obscuro de alguns dos nossos conceitos, Falavamos ha pouco de Socrates @ do seu habito de questionar os seus contempord- Neos sobre o que querem dizer palavras como «bem», «belo», sjusto», eto. Socrates ‘compreendeu que a maneira como usamos essas palavras nos coloca dificuldades, Dizemos frequentemente que uma acga0 é boa: ou que uma obra de arte é bela; ou que uma lei é justa. Mas 0 que queremos dizer com «bom», «belo» e «justo»? Conceitos como os de «berm, «belo», «justo», «pessoa», e também «werdades, «conhecimento» @ ‘muitos outros S40 conceitos fundamentais em filosofia, A primeira dificuldade é a seguinte: na maior parte do tempo, quando pensamos numa definigdo, estamos a pensar num tipo particular de definigao; estamos a pensar numa definigao explicita. Uma definicdo explicta 6 uma frase com a forma: «Um F 6 um Ge. Quando dizemos, por exemplo, «Um quadrado @ uma figura com quatro lados iguais @ quatro angulos rectos», ou «A agua 6 H,O>, estamos a apresentar detinigdes expiiitas H4 outros tipos de definigéio, como verds adiante. De facto, as definigdes explicitas cor- rectas so raras. Nao admira, pois, que os contemporaneos de Sécrates enfrentassem muitas vezes grandes dificuldades em responderhel ‘A maior dificuldade, quando procuramos uma definigdo explicta de fiosofia, 6 que se interrogassemos cada fildsofo acerca do que 6 a filosofia, nd iriamos encontrar exacta- mente a mesma definicdo. Para complicar ainda mais a nossa tarefa, acontece que, Abordagom introdutéria a flosofia@ a0 fllosofar muitas vezes, 08 filésof0s, ao dizerem o que 6 a filosofia, estio de facto a pensar no que deve ser a filosofia, Teras ocasiio de ver, mais tarde, que ha uma diferenca importante entre dizer 0 que séo as coisas @ dizer o que elas devem ser; @ nem sempre € fécil com- preender claramente quando estamos a fazer uma coisa ou a outra, ‘Mas nao @ verdade, a0 contréio do que tendemos a pensar, que s6 as definicoes explicitas sfio boas definigses. Ainda que néo cheguemios a uma definicao explicta de fllosofia, néio deixaremos de esclarecer, nos pardgrafos seguintes, a idela de filosoffa, 1.2. A etimologia Uma maneira tentadora de responder & questo que nos ocupa 6 comecar pela eti- mologia. O que significa a palavra «flosofiar? Foram os gregos da Antiguidade cs primeitos a usar a palavra «flosofiar; para eles, «filosofia» significava, lteralmente, o amor da sabedoria. Mas isto no nos esclarece muito, infeizmente. A expresso «arror da sabedoria» & vaga e pode ser entendida de modo to amplo que, de certo mado, 6 verdade que todas as pessoas amiam a sabedo- ria; mas nem todas as pessoas so fidsofas e nem todas as pessoas se interessam por filosofia; logo, 6 incorrecto defini a flasofia como «amor da sabedorian QUESTOES DE REVISAO 1. | Apresenta duas raz6es pelas quais é dificil dar uma definigao expiicita de filosofia, 2. | «Clarificar conceitos é uma parte importante dc trabalho filoséfico.» Porque? 3.) «A etimologia nao nos ajuda a esclarecer a ideia de filosofia.» Estas de acordo? Porqué? 1.3. Objecto e método da filosofia Definimos frequentemente as oléncias em termos de objecto © método. O objecto de uma ciéncia é 0 que ela estuda, O método de uma ciéncia & 0 conjunto de processos que usa para realizar esse estudo. Podemos usar a mesma estratéga para a defnigao de flosofia. A flosofia tem objecto ‘@ tem método: 0 objecto da fiosofia 6 um conjunto de problemas levantados por alguns conceltos que usamos nas ciéncias, nas artes, na religio, ou na vida quotidiana; 0 método da flosofia 6 a discusséo critica desses problemas, propondo e confrontando teorias e argumentos. Muitas vezes as pessoas que nunca estudaram filosofia tém uma idsia errada acerca, do que conta como «discussao crtica», Pensam que uma discusséo @ uma espécie de luta verbal, em que cada um procura, por todos os meios, demolr a causa do adversério @ ganhar a sua prépria causa. E isto esté correcto, para a maior parte das discussdes. a Flos? Mas na flosofia as coisas no se passam assim. Em filosofia, o que conta como discus- sao € apresentar razdes que possam ser publicamente avaliadas. Por isso, falamos de discussao entica, Retomaremos este tema mais detalhadamente, nos capitulos seguintes, quando ‘exempiificarmos alguns problemas filosoficos ¢ quando dissermos em que consistem, exactamente, teorias © argumentos. Mas, neste momento, ainda nao tens idelas claras sobre os problemas, as teorias @ os argumentos filoséficos. Logo, é improvavel que a definigdo de filosofia pelo objecto e método seja satisfatéria. Por isso, procuraremos esclarecer a ideia de flosofia de outras maneiras, QUESTOES DE REVISAO 1. | Qual o objecto da filosofia? E qual 0 seu método? 2. «A filosofia é discussao critica de ideias.» Esclarece esta idela, PARA DISCUSSAO 1. | «Ser critico 6 dizer mal.» Concordas? Porque? 2. «Para ser critico 6 necessario ter ideias originais.» Estés de acordo? Porqué? 1.4. Filosofia e historia da filosofia Serd a histéria da filosofia capaz de nos fornecer uma definigao explicita de filosofia? Infelizmente, nao. ‘Afilosofia, como as ciéncias e as artes, tem uma hist6ria; mas a flosofia nao é a histé- ria da flosofia, da mesma maneira que a fisica ndo é a historia da fisica, nen a musica 6 a histéria da musica. Para fazer histéria da filosofia ¢ preciso saber ja 0 que é a flosofia, da mesma maneira que para fazer historia da fisica e da musica 6 preciso saber ja 0 que 80, respectivamente, a fisica e a misica. Se nao soubermos antecipadamente 0 que 40 a filosofia, a fisica ou a misica, como poderemos saber de que vamos fazer a histo- ria? Como distinguiremos 0 que é filosofia do que nao 6 fosofia, fisica do que néo é fisica, ou misica do que no é musica? ‘A hist6ria da filosofia interessa-se pelo que os fildsofos dizem, com a finalidade de saber 0 que dizem. A filosofia interessa-se pelo que os fidsofos dizem para discutir 0 que dizem. A historia da filosofia interessa, por exemplo, saber que 0 argumento ontolégico a favor da existéncia de Deus ~ pouco importa, neste momento, saber exactamente qual & ~ foi pela primeira vez apresentado por Santo Anselmo, criticado por Gaunilo, retomado por Descartes, recusado por Kant @ por al adiante. A histéria da filosofia pergunta: Quem diz 0 qué?»; a flosofia pergunta: «Sera isso verdade? Porqué?» Abordagem introdutéra a filosotia © 90 filosotar Por oulto lado, seria estranho que nos ocupassemos de problemas filos6ficos sem ter em conta 0 que os fidsofos pensaram sobre esses problemas. Por que razao haveria- mos de partir do zero, quando dispomos de uma longa tradigao de pensamento fllos6 fico? De facto, saber 0 que jé foi pensado pode ajuser-nos a pensar melhor. PARA DISCUSSAO 1. | «So 6 possivel fazer historia da filosofia se soubermos j4 0 que é a filosofia.» Estés de acordo? Porqué? 2. «Nao hd diferenga entre estudar filosofia e estudar historia ca filosofia; em qualquer dos casos, trata-se de saber 0 que 0s filisofos disseram.» Concordas? Porqué? 1.5. Uma definig&o negativa: 0 que a filosofia nao é ~ Outra maneira de tentar esclarecer a ideia de filosofia é dizer 0 que ola ndo €. Chamamos a este tipo de definicdo uma «dafinigio negativa». Uma defini¢ao negativa pode parecer uma coisa estranha. Habitualmente, as definicdes negativas sao més. Se definirmos céo dizendo que no 6 um gato, no adiantamnos muito no sentido de definir do, apesar de estarmos a dizer a verdade; isto porque é verdade que nenhum cao é gato, mas nem tudo © que ndo é gato é c&o. Na verdade, um cavalo no & um gato, mas também no @ um co. No entanto, nem todas as defnicoes negativas sao més, porque podem ser esclarecedoras. Para compreendermos 0 que a filosofia ndo € procuraremos distingui-la das ciéncias, da literatura e da relgido; isto porque a fiosofia, como as ciéncias, a literatura e a reli gio, tem origem na nossa necessidade de compreender 0 mundo @ a nés mesmos. Mas a filosofia ndo é nem uma das ciéncias, nem Iiteratura, nem religi. 4.5.1. A filosofia nao é uma das ciéncias ‘A fiosofia néo 6 uma das ciéncias, apesar de, como as ciéncias, procurar resolver pro- blemas. Mas que problemas ha para resolver? Supe que queres conhecer as modificagdes da distrbuigdo da riqueza, em Portugal, durante o século XIX. Como poderias saber isso? Terias, decerto, de consultar docu- entos; talvez tivesses de pesquisar alguns livos de histéria. Terias de seleccionar & recolher a informacao relevante e depois retrar dela as conclusées apropriadas, Este é 0 tipo de problema de que os historiadores se ocupam Outro problema interessante 6 o seguinle: Como se comportam as pessoas em situa: 60s de frustrago? Este é um problema da psicologia. Para 0 resolver, os psiodiogos fazer observagées, registam cuidadosamente o que observam, montam experiéncias, @ elaboram teorias sofisticadas a partir dos dados que obtém. que 6a Filosota? Problemas como 0s que exempiiicamos S40 problemas empiricos. Quando 6 que nos encontramos perante um problema empiric? Podemos dizer que nos encontramos perante um problema empirico quando, para 0 resolver, temos de recorrer a observa (9028, informagao factual, manipulagao de instrumentos, etc. Os problemas das ciéncias experimentais, como a fisica ou a psicologia, so problemas empiricos; mas so igual mente problemas empiricos 0s problemas de que se ocupam ciéncias sociais como a logia. historia ou a s¢ Os problemas da filosofia nao s40 empiricos, mas sim conceptuais. Mas a que tipo de problemas chamamos «conceptuais»? Regressemos, temporariamente, a0 problema da uistribuigao da riqueza. Como esta de facto distribuida a riqueza, num determinado pais, numa dada época? Este 6 um pro: bblema empitico: observamos, registamos e retiramos as nossas conclusbes. Mas, pode: riamos perguntar: sera essa distribuigao justa? Repara que temos aqui um problema muito diferente; isto porque nao estamos a perguntar qual é 0 estado de coisas, mas sim se 0 estado de coisas ¢ justo. Ora, antes de mais, o que seria uma distribuigao justa da riqueza? Atribuir 0 mesmo rendimento a todos? Mas isso pode ser injusto, se alguns trabalharem mais do que outros. Atribuir o mesmo rendimento a todos os que fazem 0 mesmo trabalho? Mas, nesse caso, qual o tipo de trabalho que deve ser mais bem remunerado? E a seguir a esse? E porqué essa ordem nao outra? importante aqui é que nenhuma experiénoia, nenhuma observagao, por mais rigorosa que fosse, poderia fomecer-nos uma resposta decisiva a estas perguntas, Para hes res~ ponder, ternos de reflectir. A problemas como estes chamamos «problemas conceptual Os fisicos falam, frequentemente, de espaco, de tempo e de velocidad. Espago, tempo e velocidade so conceitos fundamentais da fisica. Os fisicos sabem determinar facilmente quanto tempo levaré um determinado corpo a percorrer um certo espago, se se deslocar a uma dada velocidade. Mas o que 6 © tempo? rey O que é 0 tempo? Este é um problema conceptual Um bom critico de arte sabe distinguir uma obra de arte de uma imitacao; mas 0 flosofo pergunta: 0 que ¢ a arte? O que é a arte? Este 6 um problema conceptual Quaiquer pessoa pode acreditar que cumpri as promessas 6 uma aogao moralmente correcta; mas o fildsofo pergunta: 0 que é uma acgao moralmente correcta? Claro que disto ndo se segue que nao podemos recorrer a informagao que a observa- 0 © a experiéncia nos fomecem. Frequentemente, temos de fazé-l0, porque alguns problemas fioséficos s6 podem ser pensados a partir de informacao empirica. Como poderiamos fazer filosofia da ciéncia sem nada saber sobre ciéncia? Ou filosofia da arte ‘sem nada saber sobre arte? A fiosofia usa frequentemente informagao empirica, mas do produz informagao empirica Abordagom introdutérla a fllosofla e ao fllosofar A flosofia nao ¢ uma das ciéncias, porque as ciénoias procuram resolver problemas 70 que a filosofia procura resolver problemas conceptuais. empiricos, ao pa Alem disto, e porque procuram resolver problemas empticos, as ciéncias recorrem a determinados pro- cessos experimentais. E certo que @ filosofia recorre, or vezes, a experiéncias mentais. Usamos expe- riéncias mentals para testar a qualidade de alguns argu- mentos, por exemplo; mas a flosofia, porque procura resolver problemas conceptuais, no dispée dos pro- 025808 experimentais préprios das ciéncias empiricas. A tinica excepgao parece ser a matematica que, a0 contrario das ciéncias experimen- tals, procura, como a filosofia, resolver problemas conceptuais; em contrapartida, @ ao Contrario do que acontece com os fildsofos, os matematicos dispem de meios formais de prova, a que chamamos «demonstragdes» Apesar de a filosofia ndo ser uma das ciéncias, os conceitos fundamentais das cién- Clas levantam problemas filos6ficos, 1.5.2. A filosofia nao é literatura Apesar de, muitas vezes, as arandes obras floséricas serem igualmente grandes ‘obras iterdrias, a flosofia nao ¢ literatura. AAs raz0es pelas quais dizemos que a flosofia nao é literatura so duas: em primeiro lugar, como diziamos ha pouco, a fllosofia procura resolver certos problemas; ora, ndo 6 bvio que a literatura procure resolver problemas. Por outro lado, 0 que da valor a uma Obra literdria no parece ser a discuss4o critica de idelas; mas a flosofia 6 discussao cri- tica de ideias. Assim, a flosofia ndo é literatura. Apesar de a filosofia no ser literatura, a literatura — como toda a arte, de um modo geral - levanta problemas que a flosofia procura resolver. 1.5.3. A filosofia no é religiao ‘A flosofia nao € religiio, porque a religiéo comega com uma crenga basica ou um con- junto de crengas basicas ~ quase sempre a crenga na existéncia de Deus. Mas 0s filéso- fos interrogam-se sobre se temos ou no razées para ter essas crengas, nomeadamente a crenga em Deus. A filosofia nao é religido; mas as crengas mais basicas da religido levantam problemas filoséficos. 1.6. Uma definigdo implicita Outra resposta possivel - ¢ talvez a melhor resposta ~ seria dizer que a fllosotia ¢ aquilo que os fibsofos fazem, ¢ comegar imediatamente a ler 0s textos dos grandes fid- solos, como Platdo, Avistételes, Hume, Wittgenstein, Sartre, etc. queda Filosota? 15 Chamamos simpicita» a este tipo de definicdo. Uma definigao implicita 6 0 que apre- sentamos quando, por exemplo, definimos a cor azul apontando para alguns objectos azuis. Hé outras maneitas de definir implicitamente os conceitos que usamos e, na maior parte das vezes, as definicOes impicitas permitem-nos compreendé-bs adequadamente. Mas, neste momento, esta resposta dificimente seria satistatéria; isto porque queres uma resposta agora © ndo depois de teres lido os filssofos. QUESTOES DE REVISAO 1. | Da dois exemplos de problemas empiricos; em seguii mas conceptuais. . dé dois exemplos de proble- 2.1 «A observagao a experiéncia podem ajudar a resolver problemas conceptuais; mas ‘observagao e experiéncia néio chegam para os resolver.» Concordas? Porque? PARA DISCUSSAO 1. | «A matematica procura, tal como a filosofia, resolver problemas conceptuais; logo, nao ha diferenga entre as duas.» Estés de acordo? Porqus? 2.1 «Nao ha diferenga significativa entre a filosofia e a literatura.» Concordas? Porqué? 2. Uma caracterizagao da filosofia Mas sera que, neste momento, é mesmo de uma definigdo que temos necessidade? Talvez nao. Talvez a melhor resposta seja dar um exemplo do que os filésofos fazem, ‘Supoe, por exemplo, que dés contigo a pensar: «No fundo, todas as pessoas sé egoistas.» Mas sera verdade que todas as pessoas sao egoistas? Uma estratégia tipicamente filosbfica consiste colocar a questéc num patamar supe- rior: antes de mais, 0 que é uma pessoa? Sera que todos os seres humanos so pes- soas? Um recém-nascido, um deficiente mental profundo, so pessoas? E 0 que quer dizer «egoista»? Uma pessoa que $6 faz 0 que quer? Que sé tem em conta os seus inte- resses? Pode nao ser a mesma coisa; afinal, pode ser do meu interesse fazer uma coisa ‘que, em rigor, no quero fazer, ‘A melhor caracterizagao da filosofia que podemos propor-te, neste momento, 6 a soguinte: a flosofia 6 uma maneira de pensar acerca de certos problemas. O que os fid- sofos fazem, na maior parte do tempo, 6 procurar resolver problemas conceptuais levan- tados pelos fundamentos ~ as crengas mais basicas ~ das ciéncias, das artes, da reli ido, ou da vida quotidiana, Para isso, 08 fiGsofos inventam argumentos, ou iscutem (8 argumentos dos outros. Também procuram clarficar conceitos. ‘Abordagem introdutérla &flosofia © a0 filosofar A filosofia 6 uma espécie de laboratéio conceptual onde testamos as nossas idelas mais basicas acerca de nés mesmos e ca realidade. Por isso, a disciplina de Filosofia é uma disciplina muito especial. Aqui, 6s livre de defen- {der as tuas ideias ~ sejam quais forem, Tanto podes defender que Deus existe como que Deus nao existe; tanto podes defender que a vida tern sentido como que a vida nao tem sentido. Até podes defender que a filosofia 6 uma iluso. A condigéio é que 0 fagas com bons argumentos ~ que aceites que outras pessoas avaliem os teus argumentos. Por vazes usa-se a palavra sflosofiae oara designar uma certa atitude perante a vida (ou uma forma de misticismo, A palavra sflosofiar & to abrangente que, na prética, tem sido usada para referir coisas muito diferentes. Nao iremos usar aqui a palavra «fllosofia com esse sentido; usé-la-emos, sim, para designar uma certa maneira de pensar acerca de um conjunto de problemas que tiveram origem na Grécia Antiga © que se prolongam até aos nossos dias. QUESTOES DE REVISAO | Por que razo precisamos de argumentos, em flosofia? 2.1 «A filosofia é uma espécie de laborat6rio conceptua.» Esclarece esta ideia. PARA DISCUSSAO 1. | «Em filosofia, cada um tem a sua opinido, Nao devemos discutir as idelas dos outros.» Concordas? Poraué? 7 wf 2.1 «A filosofia é, sobretudo, uma certa atitude perante a vida.» Estés de acordo? Porqué? “ 3. Para que serve a filosofia? Enquanto seres humanos, pensamios e agimos. Os seres humanos tém uma necessi- dade natural de compreender @ apreciar ¢ mundo, 08 outros @ a si mesmos. A ciéncia, a arte @ a religiéo tam, como a filosofia, origem nessa necessidade, Logo, a flosofia serve para o mesmo que server a cincia, a arte @ a relgiio. A flosofia serve para compreen- dermos e apreciarmos 0 mundo, os outros @ a nds mesmos. Tudo 0 que aumenta a nossa compreensdo ou a nossa capacidade para apreciar as coisas tem valor em si mesmo, ¢ tudo 0 que tem valor em si mesmo tem valor intrinseco. Assim, a flosofia, do mesmo modo que a ciéncia, a arte 6 a ralgido, tom valor intrinseco, 3.1. A filosofia é inevitavel Muilas pessoas perssam que a flosofia nto serve para coisa alguma, Afinal, argumen- tam, ha mais de dois mil anos quo 08 flésofos discutem os mesmos problemas, & parece que néo fazom progressos. Claro que as pessoas que assim argumentam nao se que 6 aFlosotix? apercebem de que esto ja, na verdade, a fazer filosofia; como nao se apercebern, de resto, de que a idela de que a flosofia para nada serve é uma ideia filoséfica. Pode é nao ser uma boa dela, porque pode ser uma ideia injustifcada, Procurar boas justificagbes para algumas das nossas ideias € jd fazer flosofia Em todo 0 caso, a ideia de que a flosofia para nada serve é falsa, porque, a0 contrario 0 que por vezes se pensa, a filosofia tem-nos permitido esclarecer muitos dos proble- mas levantados por algumas das nossas crengas mais basicas, ‘Mas, poderia alguém objectar, nunca poderemos resolver esses problemas, porque eles nao podem ser resolvidos nem pela experiéncia, nem pela demonstracao; 0s tinicos problemas que pademos resolver sao os problemas empiricos e os problernas matemd- ticos. Mas as pessoas que assim argumentam nao se apercebem de que esse 6 ja um, argumento tipicamente fllosofico, Saber se 6 um bom argumento ou nao, isso 6 0 que 80 a reflexao fllosofica nos permite fazer. 3.2. O que a filosofia pode fazer Os mais cépticos poderdo objectar que, apesar de tudo, a filosofia tem escasso inte- resse pratico. Compreender 0 mundo, os outros ou a nés mesmos nao resolve a maior parte dos nossos problemas. A ciéncia, a arte e a religido alargam a nossa compreensao do mundo, dos outros e de nés mesmos ~ mas, para além disso, tém interesse pratico, Porque nos permitem fazer coisas titeis. A ciéncia permite-nos curar doengas e fazer voar 0s avides, a arte produz obras que nos deleitam e inspiram, a religido oferece aos corentes orientag&o e conforto espintual. ‘A isto seria possivel responder que nem tudo 0 que a ciéncia, a ate ou a reigiao fazem tem interesse prético. Que interesse prético pode haver em conhecer 0 principio do universo, por exemplo? Ou em resover um intrincado problema de harmonia ou de contraponto? Mas também a filosofia nao se limita a alargar a nossa compreenso do mundo, dos outros e de nés mesmos. Tamibém a fiosofia nos permite fazer coisas ttteis. A filosofia pode mudar as nossas crengas e mudar as nossas crengas pode mudar as nossas vidas. 3.3. O que a filosofia nao pode fazer Por outro lado, temos, por vezes, expectativas excessivamente elevadas retativamente a flosofia. Pensamos que a flosofia nos pode dar uma imagem completa e acabada de nés mesmos ou da realidade, ou que pode fornecer respostas definitivas aos grandes problemas humanos. A filosofia nao fornece tal coisa ~ do mesmo modo que nem as iéncias nem as artes fornecem tal coisa. {A filosofia pode esclarecer alguns dos nossos problemas, ¢ pode ajudar-nos a com- preender quais das nossas orengas tém fundamentos sdlidos @ quais nao os tém, Mas difcimente encontraremos na filosolia respostas definitivas. A filosofia 6, justamente, a tentativa de questionar as nossas respostas, de as testar, de examinar os seus pontos fortes e fracos - ¢ de as defender, abandonar ou modificar, tenclo em conta os argumen- tos a favor e contra elas, Por isso, 0 estudo da filosofia ndo pode substituir 0 estudo das ciéncias ou das artes. 7 ie Abordagem introdutérla 8 tlosofia 6 ao flosotar QUESTOES DE REVISAO 1, | Poderd a filosofia mudar as nossas vidas? 2. | «A filosofia ¢ inevitavel.» Concordas? Porque? PARA DISCUSSAO | «A flosofia no serve para coisa alguma, porque, em filsofia, nunca se chega @ qual- quer concluséo.» Estés de acordo? Porqué? 2. | «Uma actividade pode ser inutile, ainda assim, ter valor.» Concordas? Porque? 4. Porqué estudar filosofia? Uma vez que a filosofia ndo pode dar-nos um conhecimento definite de nds mesmos ou da realidade, teremos razdes para estudar flosofia? NNés pensamos que sim. Vamos apresentar-t tr razdes para estudarflosofa. 4.1, O prazer de pensar Muitas pessoas pensam que devernos estudar flosofia pelo prazer que a actividade filoséfica proporciona. E verdade que pensar filosoficamente pode proporcionar um crande prazer intelectual. Mas hd outras coisas que podem proporcionar prazer intelec tual. Se 0 prazer fosse a Unica razo para estudar fllosofia, entéo talvez muito poucas pessoas ocupassem 0 seu tempo com ela 4.2. A vida examinada ‘Uma razéio melhor é-nos apresentada por Bertrand Russell, um fiésofo do século pas- sado. Afirma Fussell que «quem nao tem umas tintas de flosofia é homem que caminha pela vida fora sempre agrihoado a preconceitos», O que ele quer dizer, possivelmente, 6 que se no pensarmos flosoficamente, empobreceremos tertivelmente as nossas vidas. Talvez Russell tenha razo nisto, Talvez ele pretenda dizer-nos que as nossas préticas ~ as coisas que fazemas — poder mahorar com a rellexdo - com as coisas que pensamos. Imagina uma pessoa que acredita efectivamente que todas as pessoas sao egoistas. Uma pessoa que tenha tal crenga teré de passar a maior parte do tempo a defender-se do egoismo alheio, Teré de acreditar que os outros nao hesitardo em engané-a, se isso satisfzer 0s sous interesses, E tord, consequentemente, de se protager com contratos, advogados, garantias @ sangdes de toda a orcom, sempre que se relacionar com os ‘outros ~ para ndo mencionar a necessidade de conferir permanentemente os trocos! Mas, ¢ se ndo for verdade que todas as pessoas so egoistas? Se, ao contrério, for ver- dade que as pessoas — 0 ao menos a maior parte delas ~ se preccupam com os outros € esto dispostas a cumprir a sua palavra? O que estaremos a perder se tivermos as ccrengas erradas sobre a natureza humana, por exemplo? Ove 6a Filosofia? 19 AS nossas crengas podem ser just remos. Mas como iicadas; porém, se ndo as testarmos, nunca o sabe- 'azemos isso? Formulando-as claramente, ensaiando argumentos: Contra elas, procurando responder a esses argumentos, claicando 0s nossos conceitos, A fllosofia pode aludar-nos nisto. Os fildsofos tém levantado problemas, tém apresen- tado respostas, argumentos e objecgées em que, de outro modo, nunca teriamos pen- ado. De facto, essa é uma das vantagens de estudar flosofia: podemios familarizar-nos com problemas, teorias € argumentos em que outros também pensaram; e, assim, oderemos examinar muitas das nossas crengas a luz de certos pensamentos que, pos- sivelmente, jamais nos teriam ocorrido. Claro que 0 nosso objective nao 6 ficarmos paralisados pela divida. O que procura- mos € testar as nossas crengas mais basicas — e decidir quais delas temos razdes para manter © quais delas temos razdes para abandonar ou modificar. De facto, poderemos melhorar muitas das nossas crengas se nos apercebermos das difculdades que elas entrentam. E isto, afinal, 0 que a maioria dos filbsofos tem feito e continua a fazer; 6 a isto, justamente, que chamamos filosofia 4.3. O sono da razdo ‘A melhor razao para estudar flosofia, todavia, 6 que, se abdicarmos de submeter as nossas ideias a discussao racional e a critica, arriscamo-nos a cometer erros que podem ter consequéncias graves. Goya, um pintor que viveu em tempos particular- mente dices, intitulou uma das suas mais célebres gravuras com esta frase: «O Sono da Razao Produz Monstros~. De facto, alguns dos actos mais monstruosos da historia foram propiciados pela incapacidade de questionar e de submeter a critica determina- das crengas. Convencemo-nos e deixamo-nos convencer facimente da superioridade das nossas crengas, dos nossos direitos, dos nossos interesses. Convicgdes dessas 880 capazes de nos levar a querer eliminar as crengas dos outros, os direitos dos ‘outros, os interesses dos outros. Dai a querer simplesmente eliminar 08 outros vai, fre- Quentemente, um pequenissimo passo. Algum espiito critico pode fazer muito por nés, Porque nos pode ajudar a por as coisas em perspectiva, QUESTOES DE REVISAO |. | «Uma vida nao examinada néo merece ser vivida.» Esclarece esta idela. 2. | «Poderemos melhorar muitas das nossas crengas se nos apercebermos das dificulda- des que elas enfrentam.» Porqué? PARA DISCUSSAO 1. | «Nao faz sentido estudar flosofia, A flosofia nao tem interesse prético © s6 vale a pena estudar 0 que tem interesse pratico.» Concordas? Porqué? 2. | «A flosofia nao precisa de ser tii. Afinal, a melhor razdo para fazermos flosofia 6 0 pra- zer intelectual que a actividade filosofica proporciona.» Estés de acordo? Porque? [Abordagem Introdutéria & fiosofia¢ ao flosotar Textos complementares TEXTO1 ‘As nossas capacidades analiicas esto mutas vezes jd altamente desenvolvidas antes, de termos aprendido muita coisa acerca do mundo, @ por volta dos 14 anos muitas pes- ‘s0as comegam a pensar por si préprias em problemas filoséficos - sobre O que real mente existe, se pademos saber alguma coisa, se alguma coisa est realmente certa ou cerrada, se a vida faz sentido, se a morte 6 ¢ fim, Escreve-se acerca destes problemas desde ha mihares de anos, mas a matéria-prima filosofica vem directamente do mundo «e da nossa relagdo com ele, e no de escritos do passado. E por isso que continua a surgir uma e outra vez na cabega de pessoas que nao leram nada acerca deles. LJ A filosofia é diferente da ciéncia e da matemética. Ao contrario da ciéneia, no assenta em experimentagdes nem na obsenvaga0, mas apenas no pensamento. E, a0 contrario da matemdtica, néio tem métodos formas de prova. A filosofia faz-se colo- cando questdes, argumentando, ensaiando iceias e pensando em argumentos possiveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos. ‘A preocupagéo fundamental da filosofia consiste em questionarmos @ compreender: ‘mos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. Um histora- dor pode perguntar 0 que aconteceu em determinado momento do passado, mas um fi6eofo perguntaré: «O que 6 0 tampa?» Lm matemético pode investigar as relacdes entre os numeros, mas um flésofo perguntaré: «O que é um numero?» Um fisico per- ‘untard de que sao feitos os dtomos ou 0 que explica a gravidade, mas um fil6sofo ird pperguntar como podemnos saber que existe elguma coisa fora das nossas mentes. Um psicbiogo pode investigar como 6 que as criangas aprendem uma linguagem, mas um fil6sofo perguntaré: «Que faz uma palavra signficar qualquer coisa?» Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar esta errado, mas um fiésofo pergut- tara: «O que tora uma acgéo certa ou errada?» Nao poderiamos viver sern tomiarmos como garantidas as ideias de tempo, ime. conhecimento, inguagem, certo @ errado, @ maior parte do tempo, mas em fiosofa investiga mos essas mesmas coisas. O objectvo é levar 0 conhecimento do mundo e d® 1nés mesmos um pouco mais longe. E dbvio que nao é facil. Quanto mais basicas $80.35 ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para nos ajudarem. Nao ha muitas coisas que possamos assumir como verdladeiras ou tomar como garanticas. PO" isso, a flosofia 6 uma actividade de certa forina vertiginosa, © poucos dos seus resuita dos fica por desatiar por muito tempo. Tomas Nagel, 1987, 0 ve Que Der tt Usbeat Gani, 1998, 6 PARA INTERPRETAGAO 4. [Por que razo continuam, segundo © autor, os problemas flosoficos a surgir nas nossas mentes? 2. | Segundo o autor, qual é 0 método da filosotia? 3. | Qual 6, para a autor, a preocupagao fundamental da fllosofia? 4. | A actividade filosética tom, de acordo com 0 autor, um objective. Indica-o. Omnd a Fiosoa? a TEXTO 2 Pensa-se por vezes que se deve abandonar 0 pensamento flosético enquanto nao houver meétodos cientficos apropriads para investigar tais temas, Hé nesta perspectiva dois aspectos que merecem reflexio, Em primeio lugar, trata-se de uma ideia floséfica endo cientfica Isto 6, NGO Se podera provar num laboratério, ou através de um célculo Matematico, que devemos abandonar o pensamento filoséfico. A filosofia é irrecusavel porque mesmo para a recusar & necessério argumentarflosoficamente, 0 que 6 auto- etutante, Compare-se Com a recusa da astrologia, que nao exige que se ergumente astrologicamente; e imagine-se quao ridiculo seria um argumento contra a astrologia, baseado num mapa astral. Pode-se recusar a reflexdo floséfica sobre temas paticula- res, COM argumentos floséficos particulares, que mostrem que tais temas sAo insuscep- tives de reflexdo séria, mas no se pode recusar a flosofia em bloco sem usar argumen- tos flosoficos, 0 que acarreta uma contradigao dbvia. A filosofia 6 apenas o exercicio da capacidade para o pensamento critico sobre qualquer tema susceptivel de ser pensado ‘sistematicamente, mas insusceptivel de tratamento cientifico. E saber que temas sao ‘susceptiveis de serem pensados sistematicamente ja é um problema filos6fico. Desire Mucho, 2008, 0 Temo@ @ Fcsofa, Pasar Outa Vr, ila Nova do Faraic, usp. 177. PARA INTERPRETACAO, 1. | Segundo 0 autor, a ideia de que se deve abandonar 0 pensamento flossfico enquanto nao houver métodos cientificos apropriados para investigar tais temas é uma ideia filo- séfica e nao cientifica. Porqué? 2. | «Nao se pode recusar a filosofia com 0 mesmo tipo de argumentos com que se recusa aastrologia.» Estas de acordo? Porqué? TEXTO 3 Nao depende 0 valor da flosofia de um suposto corpo de conhecimentos definitiva: mente assegurdveis, que possam adquirir os que a cultivam, CO valor da flosofia, em grande parte, deve ser buscado na sua mesma incerteza. Quem do tem umas tintas de filosofia ¢ homie que caminha pela vida fora sempre agrihoado a preconceitos que se derivaram do senso comum, das crengas habituais do seu tempo e do seu pais, das conviogbes que cresceram no Seu espirto som a cooperagdo OUI 0 con: sentimento de uma razéo deliberada, O mundo tende, para tal homem, a tornar-se finito, detinido, ébvio; para ole, os objects habituais nao erguem problemas, @ as possibilidack infamiiares so desdenhosamente rejeitadas. Quando comogamos a tlosofar, palo contra- fio, imediatamente caimos na conta |...] de que até os objactos mais ordinarios conduzem © espirto a certas perguntas a que incomplatissimamonto se da resposta. A flosofia, se bem que incapaz de nos dizer ao certo qual venha a ser a verdadeira resposta as variadas divides que ela propria evoca, sugere numerosas possiblidades que nos conterem ampli do aos pensamentos, descativando-nos da tirania do habito. Embora diminua, por con- sequéncia, 0 nosso sentimento de certeza no que diz respelto a0 que as coisas $40, ‘aumenta em muitissimo 0 conhecimento a respeito do que as coisas podem ser; varre o ‘dogmatismo, um tudo-nada arrogante, dos que nunca chegaram a empreender viagens nas regides da dUvida libertadora; e vivitica o sentimento de admiragao, porque mostra as coisas que nos so costumadas num determinado aspacto que 0 nao é. ‘Além desse dom de nos abrir perspectivas de insuspeitadas possibilidades, ter a filo- sofia ademais 0 mérito - 0 que ¢ talvez 0 seu maior mérito - da grandeza dos objectos a ue se consagra e da libertacao do nosso espirito em relagao aos escopos individuais € estreitos, que resulta da contemplagao de tais objectos. A vida do homem reduzido 20 instinto encerra-se no circulo dos interesses pessoais; a familia e os amigos podem ser abrangidos, mas 0 resto do mundo para ele ndo conta, excepto no que ajuda ou no que poe obstaculos ao que é do dominio do desejo instintivo. Algo ha, na existéncia desses, que 6 febrl e fechado, em comparacéo com o qual o viver floséfico se nos mostra a0 espirito como calmo e livre. Bertrend Russel, 1912, Os Prablemas da Fiosofa, Coimbra, Amedina, 2001, pp. 147, 148, ACTIVIDADE 1. | Procura, num dicionério da lingua portuguesa, 0 significado da palavra «preconceito». PARA INTERPRETAGAO 1. | Qual 6, segundo o autor, o valor da filosofia? 2. | «Quem no tem umas tintas de filosofia 6 homem que caminha pela vida fora sempre agrithoado a preconceitos que se derivaram do senso comum, das crengas habituais do seu tempo e do seu pals, das convicgbes que cresceram no seu espirito sem a cooperaco ou © consentimento de uma razo deliberada.» Esclarece esta idela, 3. | Que razOes apresenta 0 autor a favor das suas ideias? 4. | Estas de acordo com 0 autor? Porqué? PARA CONSULTA ‘Almeida, Aires, (org.), 2003, Dicionério Escolar de Filosofia, Lisboa, Piatano. ‘Almeida, Aires Murcho, Desidério, (orgs.), 2006, Textos e Problemas da Filosofia, Lisboa, Didactica, «Introdugao», pp. 9-18. Blackburn, Simon, 1999, Pense - Uma Introdugao a Filosofia, Lisboa, Gradiva, 2001, «Intro- dugdo», pp. 11-22. Kolak, Daniel e Martin, Raymond, 2002, Sabedoria sem Respostas ~ Um Introducao Con- isa @ Filosofia, Lisboa, Temas e Debates, 2004, «Introdugéo», pp. 13-20. Warburton, Nigel, 1995, Elementos Bédsicos dee Filosofia, Lisboa, Gradiva, 1998, «Introdu- dor, pp. 19-30. Weston, Anthony, 1992, A Arte de Argumentar, Lisboa, Gradiva, 2.* ed., 2005, ~Apéndice», pp. 117-126. . QUAIS SAO AS QUESTOES DA FILOSOFIA? 1. QUESTOES FILOSGFICAS E QUESTOES CIENTIFICAS 2. DISCIPLINAS CENTRAIS DA FILOSOFIA 2.1, Logica 2.2. Metafisica 2.3. Epistemologia 2.4. Etica 3. OUTRAS DISCIPLINAS FILOSOFICAS SSTUDAR NESTE CAPITULO? Os problemas filos6ticos, como os problemas cienti- ficos, séo colocados pela mesma realidade, que é 2 realidade em que vivemos. Mas a realidade coloca- nos muitos problemas e problemas muito diferen- tes. Alguns desses problemas sao filoséticas: aque- les a que chamamos «conceptuais»; problemas concepluais so muitos ¢ tes, a filosofia divide-se tradicionalmente em dife- rentes disciplinas, ocupando-se cada uma delas de ‘um determinado conjunto de problemas. ‘Neste capitulo iremos examinar brevemente algumas das disciplinas tradicionais da filosotia, bem como alguns dos problemas de que cada uma se ocupa. Conceitos nucleares Epistemologia, estética e filosofia da arte, ética, ética aplicada, ética normativa, filosofia da acgii, filosofia da ciéncia, filosofia da lingua- gem, filosofia da mente, filosofia da religiao, flo- sofia politica, logica, metaética, metatisica. Aborelagem introdutéria &tlosotia e a0 flosotar 1. Questées filoséficas e questées cientificas Dissemos no capitulo anterior que a flosofia se ocupa de problemas conceptuais, ao Passo que as ciéncias se ocupam de problemas empiricos. Dissernos também que as cléncias, @ arte, a religiao e as préticas quotidianas levantam problemas conceptuais: 20 e859 08 problemas floséficos, Mas as ciéncias, a arte, a reigido e as préticas quoti- Gianas levantam outro tipo de problemas, alguns dos quais so problemas empircos: ‘esses so 0s problemas clentiioos. E possivel, pois, que a mesma érea levante problemas floséficos e problemas cient cos. ‘Aarte, por exemplo, 6 estudada por diferentes discipinas, A histria da arte estuda 0 desenvolvimento da arte ao longo do tempo. A sociologia da arte estuda as relagdes da arte com certos aspectos sociais, econémicos ou polices. A crtca da arte trata de pro- blemas relacionados com a avaliago e o significado das obras de arte. A flosofia da arte procura saber © que é uma obra de arte ou as razdes pelas quais damos valor a arte. Também a poltica 6 objecto de estudo de diferentes discipinas. A histéria estuda 0 desenvolvimento dos fenémenos politicos ao longo do tempo. A ciéncia politica estuda a instituigSes politicas e a retagao entre os individuos e o Estado, A filosofia politica pro- cura saber quais os fundamentos do Estado, ou quals os principios de uma sociedade juste. 2. Disciplinas centrais da filosofia X Como devemos viver? Em que havemos de acrecitar? O que é que existe? Estas, e outras questdes como estas, so questdes fundamentals da fllosofia. Uma coisa interessante acerca das grandes questées da fllosofia ¢ que stio questées em. abarto; isto 4, néo ha uma resposta defintiva para elas, apesar de haver respostas. melhores e respostas menos boas; outa coisa interessante é que S80 questdes que difi- cilmente poderemos evitar colocar-nos, mais cedo ou mais tarde. Essas questées sao tratadas por diferentes cisciplinas flos6ficas. As disciplinas cen- trais da flosofia S20 a légica, a metafisica, @ a epistemologia. A ética é também uma dis- Ciplina tradicional da filosofa. 2.1. Logica Como haverios de distinguir os arguments validos dos invalidos? Considera 0 seguinte argumento: «Todas as coisas tm uma causa; logo, ha uma causa de todas as coisas.» Uma pessoa que nada saiba de légica 6 capaz de pensar que se trata de um bom ‘argumento, Mas a légica permite-nos comproonder que o argumento 6 mau. (uni 0 9 qustées datos? A légica € 0 estudo da argumentagao valida. Ora, ndo 6 possivel discutircriticamente ineias sem saber argumentar @ avaliar argumentos. A fiosofia 6 discusséo critica de ideas. Por isso, a ldgica é um instrumento essencial para a flosofia Alem disso, a andlise l6gica ajuda-nos a compreender melhor o significado das frases & das expresses que usamos, Apesar de ser, hoje, uma ciéncia auténoma, a légica é também uma disciplina central da flosofia. Alem disso, e como qualquer outra ciéncia, a légica levanta problemas flo- séfioos particulares. Alégica ¢ estudada no 11.° ano, 2.2. Metafisica ‘Que tipos de coisas existem? Nao temos, habitualmente, grandes dividas em affmar ue existem mesas, cadeiras e computadores. S40 coisas que ocupam espago @ esto situadas no tempo. Mas os nuimeros € as ide’as nao ocupam espago € néo estéo situa~ dos no tempo. Sera que existem, pois, da mesma maneira que as mesas @ os computa- dores? Ou seréio apenas criagdes da nossa mente? E que dizer de algumas qualidades das coisas? Dizemos que hé coisas brancas e acgdes corajosas, por exemplo. Mas ‘xistirio realmente a brancura e a coragem? Ou serdo construgao nossa? Existem real- mente universais — como a brancura e a coragem — ou existem apenas particulares ~ como coisas brancas © acgOes worajusas? E qual é a natureza ultima da realidade? Pensamos, habitualmente, que a realidade 6 uma coisa exterior a nés, que jd existia antes de nés e que existe quer a conhegamos, quer no. Mas serd isso verdade? Nao poderd a realidade ser construgéo nossa” Afinal, aquilo a que chamamos «realidade» 6 aquilo que conhecemos e aquilo que conhece- mos, ao menos em primeira mao, 6 0 interior das nossas mentes. Existird realmente lalguma coisa fora das nossas mentes? E, se existe, serd ela exactamente como a ‘conhecemos ou ser uma coisa inteiramente diferente? ‘A metafisica ocupa-se destes problemas e de outros com eles relacionados, Um dos problemas tradicionais da metatisica ~ 0 problema do livre-arbitrio ~ 6 estu- dado no 10.° ano. 2.3. Epistemologia Serd que conhecemos alguma coisa? Acreditamos em muitas coisas © gostamas de pensar que muitas das nossas crengas so verdadelras. Mas jé todos tivemos a expe- riéncia de descobrir que algumas crengas que julgavamos verdadeiras eram, afinal, fal sas. Nao poderd, pois, suceder que fodas as nossas crengas sejam falsas? Como oderemos saber que conhecemos realmente alguma coisa? Sera possivel 0 conheci- mento? Talvez ndo possamos conhecer coisa alguma, Mas, nesse caso, como poderia- ‘mos saber isso? Eo que 6 0 conhecimento, afinal? O que estamos de facto a dizer quando afimamos “2 sein? eEu seiv nao significa 0 mesmo que «@u suponho» ou «eu imagino». Na realidade, 25 ‘Abordagem introdutéra a flosofla e 20 filosotar 6 uma expresso muito mais forte. Dizemos que sabemos algo quando temos uma crenca verda- deira, mas podemos ter crengas verdadeiras por aacaso, como quando adivinhamos a solugao de um problema, Sera que acertar por acaso na verdade & conhecer? E, se nao , 0 que seré necessario para {ermos um conhecimento, para além de uma crenga verdadeira? A epistemologia ou teoria do conhecimento trata de questdes como estas. Estas quest6es so levan- tadas pelo conhecimento em geral. Ha outras que io levantadas pelo conhecimento cientifico em par- ticular. Dessas questées ocupa-se a filosofia da iéncia, que ndo & o mesmo que a epistemotogia, ‘A epistemologia e a flosofia da ciéncia séo estu- dadas no 11.° ano, 2.4. Etica «Etica» @ «moral» so palavras com o mesmo significado. «Etica» tem origem no termo grego ethos, enquanto que «moral tem origer no term latino mores. Ambos signifcam costumes» Nao € consensual que a ética seja uma discipina central da filosofia; mas 6, sem duvida, uma das suas disciplinas tradicionais. A questao fundamental da ética ¢ a seguinte: «Como devemos viver?». Para os filésofos gregos da Antiguidade, tratava-se de descobrir os principios de uma vida boa. Mais tarde, a ética passou a ocupar-se sobretudo com os fundamentos dos nossos deveres. © que faz uma aogdo ser boa ou ma? Tendemos @ pensar que é a inteng&o. Mas sera? Se 4 fizer algo com a intengdo de ajudar um amigo, mas acabar por prejudicé-lo, tere agido bem? Serdo as nossas 2ogdes boas ou més independentemente das consequéncias? Qual 6 0 bem sitimo? A maior parte das coisas que consideramos boas nao séo necessariamente boas em si, mas boas em fungao de outras coisas. Coisas como 0 dinheito ou a forga fisica ndo so boas por si: s6 so boas porque nos permitem alcan- ‘car outras coisas que consideramos boas om si. Mas quais s40 essas coisas? O prazer? AA virtude? Uma vontade boa? Deste tipo de problemas ocupa-se a ética normativa. O objectivo da ética normativa é . ‘A.um argumento com uma ou mais premissas suprimidas chamamos «entimema». Tanto na filosofia como na vida quotidiana usamos entimemas, A principal razdo por Que 0 fazemos é a seguinte: habitualmente, consideramos algumas afirmagdes to bvias que a sua formulagao explicita seria indi. Na vida quotidiana isto é, na maior Parte das vezes, verdadeiro. Porém, na filosofia, onde nos interessa conhecer explicita- mente todas as razées que apoiam uma concluséo, é importante fornular claramente todas as premissas dos argumentos, incluindo as premissas suprimidas. Nem sempre € facil descobrir as premissas suprimidas em textos filcséticos. De facto, uma boa parte da discussdo floséfica consiste em procurar fazé-lo. Mas isso é algo que iremos aprendendo com a prética * Apresentar o argumento na sua forma canénica Uma vez eliminado 0 ruido e formuladas explicitamente as premissas - incluindo as Premissas suprimidas, se as hé - € a conclusdo, estamos em condig6es de apresentar o argumento na sua forma candnica. Agora, 0 argumento que temios vindo a considerar Ppoderia ser formulado da seguinte maneira: Ninguém 6 toi Se ninguém ¢ feliz, entéo os seres humanos n&o foram feltos para a felicidade, Logo, os seres humanos nao foram feltos para a felcidade. Mas qual 6 0 interesso? A representagdo canénica de um argumento ¢ interessante porque nos permite fazer duas coisas: 1. Verificar se as premissas apoiam ou nao a conclusio, 2. Saber que razées so oferecidas para a apoiar. 33 ‘Abordagem introdutéra 8 flosofia e ao flosofar 2.2.3. Indicadores de premissa e de conclus4o Certas palavras ou expresses ajudam-nos a distinguir as premissas da conclusao, nalguns argumentos formulados em linguagem natural Considera 0 seguinte argumento:

You might also like