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O QUE MAIS?
Interlúdio de “Sempre mais do que um”:
a dança da individuação
Resumo
Em seu livro Sempre mais do que um - a dança da individuação (2013) a filósofa, artista e
dançarina Erin Manning explora o conceito de “mais do que humano”, no contexto do
Erin Manning
movimento, percepção e experiência. Neste trabalho parte da filosofia processual de Whi- Chair da Faculdade de Artes e
tehead e de Simondon e sua teoria da individuação, estendendo os conceitos de movi- Ciências Humanas para Arte
Relacional e Filosofia na Universidade
mento e a relação desenvolvida em seus trabalhos em torno do pensamento coreográfi- Concordia, em Montreal, Canadá.
co. Aqui ela usa seu pensamento coreográfico para explorar um modo de percepção que Diretora do Sense Lab, laboratório
antecipa a acomodação da experiência em categorias ontológicas. Manning explora os para a pesquisa interdisciplinar em
arte e filosofia.
objetos coreográficos de William Forsythe e suas colaborações para superar modos de
percepção e alcançar o que percebemos como algo que nunca é inicialmente um sujeito
ou um objeto mas uma ecologia.
Abstract
In her book Always More Than One, the philosopher, visual artist, and dancer Erin Manning
explores the concept of the “more than human” in the context of movement, perception,
and experience. Working from Whitehead’s process philosophy and Simondon’s theory
of individuation, she extends the concepts of movement and relation developed in her
earlier work toward the notion of “choreographic thinking.” In this interlude she uses
choreographic thinking to explore a mode of perception prior to the settling of experience
into established categories. Manning explores the choreographic objects of William
Forsythe and his collaborations in order to overcome of a mode of awareness reaching
the notion that what we perceive is never first a subject or an object, but an ecology.
“Aqui-e-Agora”
4 O Castelo Branco Pulante é uma
Os objetos coreográficos ativam um ambiente para a experimentação instalação de Dana Casperson,
do movimento. A ideia é criar um a atmosfera que torce ligeiramente o tem- William Forsythe e Joel Ryan
e foi coproduzida pelo Group.
po do movimento cotidiano, convidando-nos a cuidar do tempo do evento. ie- comissionada originalmente
pela ARANGEL, Londres,
Participantes que entram no White Bouncy Castle (Castelo Branco Pulante) inauguarada em 26 de março de
não são apenas transformados em bolas pula-pula, gerando uma atitude 1997, na Roundhouse, Chalk Farm,
Londres. Para imagens consultar
brincante que é infligida sobre o ambiente.4 Eles também tornam-se parti- <http://whitebouncycastle.
cipantes do tempo em uma ordem distinta: um tempo da experimentação. com/de/index_reload.
html?bodyFrame=/de/_body/03_
A experimentação suscita o tempo do evento. Participantes movem-se pictures.html>.
porque são movidos a fazê-lo, sua atenção é excitada, sua consciência tor-
5 Sobre o lapso de meio, segundo
cida, seu engajamento com o espaço-tempo do evento já altera a atmosfera na percepção ver Liber (1985).
Para as discussões filosóficas
do espaço. O Castelo Branco Pulante é mais do que uma imensa plataforma sobre o lapso de meio-segundo
pula-pula: seus efeitos são em uma micro percepção transformada no sen- no evento perceptivo ver Massumi
(2002, p. 23-23, 177-207).
tido do tempo, alterando a banalidade do tempo em direção a uma duração
distinta, de tempo brincante.
Os objetos coreográficos provocam este deslizamento do tempo prin-
cipalmente porque trazem e sublinham o papel que os objetos tem na vida
cotidiana. Os objetos cotidianos ressoam com o sentido de passado. Eles
existem em uma ecologia de experiências da qual não podem ser abstraí-
dos. Encontrar um objeto familiar estimula esta experiência de passado
mesmo quando ativa, pela brincadeira, um recondicionamento, ou recon-
figuração de uma ecologia simultaneamente familiar e disjunta.
Quando percebemos diretamente o passado do desdobramento de
uma ocasião presente, Whitehead chama de percepção não sensória. Por
percepção não sensória Whitehead refere-se ao complexo ritmo da me-
mória – um deslize no tempo da experiência que situa nossas percepções
atuais.5 No assentamento da experiência, sugere Whitehead (1933, p. 181)
nós percebemos não primeiramente e acima de tudo de sensação a sen-
sação mas de relação a relação. “O momento presente é constituído pelo
influxo do outro em direção ao sentido de identidade própria que é a vida
Um chamado à experiência
Referências
DELEUZE, G., The fold. Tradução de Tom Conley. Minneapolis: University of
Minessota Press, 1993.