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pesquisa NACIONAL

PESQUISA nacional POR


por AMOSTRA
amostra da
DA população LGBTI +
POPULAÇÃO lgbti +

Saúde

Descrição de página: Esta página possui o fundo roxo, títulos em branco e é dividida em dois 111
blocos. Tem ilustrações de quatro pessoas de roupas e cabelos coloridos e diversos.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Equipe responsável
DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Anderson Henrique França Figueiredo Leão
Luiz Henrique Miguel
Simone Braghin
Rodrigo Cavalcante Michel
Pris Freires Rosso

RELATÓRIO

Coordenação
Arthur Luna Borba
Iveli de Paula Sousa
Leticia Ambrosio
Pris Freires Rosso

Redação e Revisão
Arthur Luna Borba
Carlos Henrique Lima
Iveli de Paula Sousa
Leticia Ambrosio
Luddy Searom Carias de Moraes
Maria Isabel de Medeiros Frazão Duarte
Maurício dos Santos Cintra Lima
Quezia Gurgel
Raquel Lopes
Ruy Bandeira Neto
Vinícius Rodrigues Costa da Silva
Hudson Brendáh Oliveira Pereira

Descrição de página: Esta página possui a apresentação das pessoas responsáveis por essa
edição com o fundo azul, títulos em branco com os nomes no canto esquerdo da página.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Esta é uma publicação da TODXS, licenciada com uma Licença Creative


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que qualquer pessoa é livre para: compartilhar, copiar e redistribuir o
material em qualquer meio ou formato; adaptar, remixar, transformar ou
construir materiais a partir deste; sendo a utilização apenas para fins não
comerciais e desde que seja dado o devido crédito às pessoas autoras,
fornecido o link para a licença e indicando se foram feitas alterações.

Descrição de página: Esta página possui fundo azul, texto com letras brancas e um desenho
com formas abstratas nas cor azul claro, amarelo e preto.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

AGRADECIMENTOS
A produção deste relatório só foi possível graças às contribuições
de várias pessoas apoiadoras. Primeiramente, destacamos a
confiança na TODXS e a disponibilidade de todas as pessoas que
se prontificaram a responder essa pesquisa e a compartilharem
conosco seus dados. Estas informações representam muito mais
do que apenas um agregado de dados, mas são as vivências de
uma comunidade. Sem essa confiança para essa partilha, esta
pesquisa não existiria.
Agradecemos também a confiança e a força de trabalho de
todas as pessoas voluntárias da TODXS, em especial à equipe
de Pesquisa e Desenvolvimento, cujo trabalho foi essencial para
a materialização deste relatório. Somos grates por seu tempo,
confiança e afeto.
Finalmente, agradecemos também a todas as organizações
parceiras da TODXS, que possibilitam a execução de trabalhos de
qualidade distribuídos gratuitamente para a comunidade. Destre
essas organizações, destacamos a parceria estratégica da Nívea,
e entregamos este produto de pesquisa com a expectativa de
futuras parcerias ainda mais frutíferas.
Todas essas participações foram imprescindíveis para aumentarmos
o nível de diversidade e inclusão no nosso relatório, contemplando
uma diversidade de corpos que interseccionam uma variedade
de marcadores sociais de orientação sexual, identidade de
gênero, étnico-racial, deficiência, classe social e outros. A TODXS
segue em busca do propósito de transformar o Brasil em um país
verdadeiramente inclusivo e livre da discriminação para pessoas
LGBTI+.

Descrição de página: Esta página possui o agradecimento as pessoas que participaram dessa
edição, fundo amarelo, títulos em cinza com o texto em preto.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

SUMÁRIO
4 AGRADECIMENTOS

7 PREFÁCIO

10 APRESENTAÇÃO

11 INTRODUÇÃO

18 METODOLOGIA
20 Técnicas de coleta

20 Abrangência

21 Período de coleta e divulgação

23 Blocos e áreas temáticas

23 Bloco A - Identidade e perfil sociodemográfico

23 Bloco B - Mercado de Trabalho e Renda

24 Bloco C - Saúde

24 Bloco D - Participação e compreensão política

24 Bloco E - Discriminação

24 Validação dos dados

25 Relatório da Pesquisa Nacional

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com o texto em preto. Primeiro vem o número da página depois o tópico
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26 RESULTADOS E DISCUSSÕES
27 A estrutura do Sistema Único de Saúde 26

27 Princípios Doutrinários 26

28 Princípios Organizativos 27

28 Autoavaliação e saúde geral 28

30 Prática de atividade física 30

30 Acesso e uso de serviços de saúde 32

31 Interseccionalidade no acesso ao sistema de saúde privado 34

32 Saúde mental 36

33 Prevalência de Transtornos de Saúde Mental 37

35 Busca por auxilio psicológico por ser LGBTI+ 42

36 IST e métodos de prevenção 44

36 Uso de preservativo e outros métodos de prevenção 45

39 Prevalência de ISTs 48

40 Auxílio médico para adequar a identidade de gênero

43 CONCLUSÃO
46 DADOS COMPLEMENTARES
48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
54 GLOSSÁRIO
54 Orientação sexual

55 Identidade de gênero

Descrição de página: Esta página possui a continuação do sumário, fundo rosa, títulos em cinza
com o texto em preto. Primeiro vem o número da página depois o tópico
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PREFÁCIOEscrever um prefácio exige de nós,


pessoas escritoras, uma dupla operação a ser
realizada durante o processo de formulação
um movimento – que à época não se constituía
politicamente como “LGBT”, mobilizado, em
grande parte, pelas travestis, lésbicas e homens
e construção do texto, ainda que isso esteja gays – sobre forte influência de uma resposta às
colocado de forma implícita: ter o compromisso reverberações sociais e políticas que a pandemia
e o respeito pelo que já foi construído ao de AIDS conclamava. Assim, não é vago afirmar
longo dos últimos anos ou décadas na área que nos últimos vinte anos, observamos um
do conhecimento, e também ser o mais fiel aumento significativo das políticas públicas no
possível com a leitura do que antecede à obra país direcionadas às pessoas Lésbicas, Gays,
– realizando, inclusive, relações, dissensos Bissexuais, Transexuais e Intersexos (LGBTI+).
e consensos sobre a temática. Essa dupla É nesse contexto que surge uma
operação, na minha visão, se torna importante intensa agenda de atuação política e social
pois não corremos o risco de sermos levianos, como as diversas ONGs que, a partir dali se
descompromissados, apolíticos, acríticos e (re)configuraram e tomaram como objetivo
alienados com as produções das diversas a luta contra a discriminação ao HIV/AIDS;
áreas do saber que circundam as vivências e a discriminação sexual; as violências; a
experiências de sujeitos que tensionam a cis- discriminação às mulheres transexuais e
heteronormatividade, em especial a área da travestis, entre outros. É importante ressaltar,
saúde. É nesse cenário que julgo importante certamente, que o período iniciado a partir
resgatar, ainda que brevemente, o contexto dos anos 2000 não foi isento de disputas e
histórico e político das lutas e disputas que avanço de uma ala mais conservadora na cena
se colocaram no cenário nacional no tocante política, porém com a chegada ao poder de
às pessoas LGBTI+ e como isso possibilitou, um governo mais alinhado com as questões
em termos de políticas públicas, o avanço de sociais e comprometido com a redução das
algumas pautas. desigualdades estruturais do nosso país, onde
Em meados dos anos de 1980, o a comunidade LGBT+ se insere, tornou-se
clima de pânico moral e as manifestações possível estabelecer diálogos profícuos com
discriminatórias em decorrência da pandemia os movimentos sociais – negros e LGBTI+,
de AIDS, que completa 40 anos atualmente, por exemplo, para se debater questões antes
guardavam estreita relação, no imaginário ignoradas. Apesar desse momento da história
social, com a ideia de “pessoas ou grupos de do nosso país ter sido frutífero do ponto de
risco” colocando sob luz um pânico moral que, vista de incremento de políticas públicas
ainda hoje, permanece como um fantasma direcionadas a esse grupo social; da visibilidade
que assombra as vivências desse grupo. No e fomento às discussões LGBTI+ nos espaços
entanto, a partir dos anos 1990, é intensificado políticos e também do reconhecimento,
um panorama de disputas e lutas a partir de por parte do Estado, das vulnerabilidades

Descrição de página: Esta página possui o início do prefácio, fundo verde, títulos em preto,
letras brancas e é dividida em duas colunas.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

estruturais que circundam a vida das pessoas ou experimentam processos vulnerabilizadores


LGBTI+, ainda assim, este período não é isento estruturais. Essa virada nos revela como, por
de críticas e grandes mobilizações perante exemplo, mulheres trans e travestis possuem
uma série de questões que, dada às condições uma expectativa de vida de 35 anos ou do
históricas, demandavam grandes esforços para porquê que são negados direitos básicos
o seu combate, redução e ou fim. como acesso à educação, trabalho formal e
Foi a partir desse contexto, e das convivência em âmbito social, seja a partir da
disputas sociais e políticas, que o Ministério da sua identidade de gênero, seja a partir de sua
Saúde reconheceu, em 2011, que a orientação orientação sexual, aspectos que vão culminar
sexual e a identidade de gênero fazem parte da em contextos aterradores e excludentes,
Determinação Social de Saúde (DSS) e que estão impactando suas vidas.
intimamente relacionadas com um processo No Brasil, a população LGBTI+ está
complexo de discriminação e exclusão, do entre os grupos sociais mais marginalizados,
qual derivam os fatores de vulnerabilidade, tais com menor acesso aos serviços de saúde, e que
como a violação do direito à saúde, à dignidade, não recebe a devida assistência em face aos
à não discriminação, à autonomia e ao livre julgamentos e juízos de valor de profissionais
desenvolvimento” (BRASIL, 2011). Assim, a e serviços de saúde. Como demonstrei em um
determinação social de saúde se relaciona estudo de revisão (SANTANA et al., 2020), tal
com as condições econômicas e sociais que discriminação existe em diversos espaços da
afetam diretamente a saúde do indivíduo, das sociedade e também nos lugares de produção
pessoas ou dos grupos, nos convidando à do cuidado (SANTOS AR et al., 2019). Essas
reflexão de questões macrossociais que estão discrepâncias, como pautei nesse mesmo
interrelacionadas com as vivências e processos estudo mencionado anteriormente, fazem parte
“da ponta” experimentados cotidianamente de um conjunto de intenções e ações capazes
por pessoas LGBTI+ nos diversos âmbitos de interferir nos processos saúde-doença
sociais. desses sujeitos, de forma direta ou indireta,
Aqui gostaria de pontar que, apesar onde é possível destacar que, historicamente,
do reconhecimento da orientação sexual e tais pessoas vivenciam contextos de agressões,
da identidade de gênero como DSS, ainda torturas, discriminação, escassas oportunidades
assim a concepção de vulnerabilidade que de trabalho formal em especial para pessoas
é reproduzida intensamente dos manuais transexuais, adoecimento mental, precarização
ministeriais nas grandes e renomadas de trabalhos, segregação familiar, violência
Universidades e faculdades desse Brasil é uma física, verbal e sexual, frágeis redes de apoio,
visão um tanto problemática e reducionista etc. Reconhecer, portanto, tal cenário é uma
por considerar que tais sujeitos são vulneráveis das saídas que temos para consolidar o
simplesmente por serem – uma visão que mais fomento de políticas públicas direcionadas
se aproxima da ideia de “pessoas de risco” do para as vivências específicas e singulares da
que se distancia. A grande questão, no entanto, comunidade LGBTI+.
é considerar os fatores sociais e históricos e o Embora algumas conquistas já tenham
próprio capitalismo como modos operandi sido alcançadas no âmbito institucional como
dessa vulnerabilidade, e não considerar os a elaboração da Política Nacional de Saúde
sujeitos simplesmente vulneráveis, portanto, Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
pessoas LGBTI+ vivenciam, experienciam e/ e Transexuais (PNSILGBT+), em 2011, que tem

Descrição de página: Esta página possui a continuação do prefácio, fundo verde, letras brancas
e é dividida em duas colunas. No canto superior direito tem um desenho com forma abstrata
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nas cores rosa e branco.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

como marca o reconhecimento dos efeitos alas conservadoras, mas sim que os sujeitos que
da discriminação e da exclusão no processo hoje se constituem enquanto “LGBTI+” (e aqui
de saúde-doença da população LGBTI+, as abro espaço para quaisquer outras identidades
iniquidades permeadas por pertencimentos que tensionem a cis-heteronormatividade)
sociais de raça/cor, etnia, gênero, orientação estão mobilizados, em grande ou pequena
sexual, classe, idade e deficiências, tornam-se medida, com as pautas que por anos nos
imperativas para análise e reflexão das diversas foram caras, ignoradas e custaram as vidas
realidades vivenciadas por esses sujeitos em um das diversas pessoas que historicamente
país com dimensões continentais, como afirma foram pioneiras na luta por visibilidade e
a Abrasco (2020). No contexto atual vivenciado reconhecimento ainda que tenhamos críticas
mundialmente, a pandemia de COVID-19, à assimilação da heteronormatividade, às
por exemplo, intensificou os processos formulações românticas do amor, ao ideal
vulnerabilizadores vivenciados por esse grupo, monogâmico e branco, etc., etc. Assim,
como os impactos na saúde mental, os altos espero que, apesar do perigo na esquina,
índices de depressão, suicídio e ansiedade, a tenhamos um futuro se desenhando em que
perda da renda, a insegurança alimentar, os as próximas gerações poderão experimentá-lo
diversos tipos de violência, inclusive a violência sem sucumbir ao preconceito, à discriminação,
intrafamiliar, entre outros. Em um estudo à morte, às desigualdades, às iniquidades, à
onde realizei um levantamento sócio-histórico violência e a todas as outras mazelas sociais
das necessidades sociais e dos impactos da que, historicamente, nos acometem.
COVID-19 em pessoas LGBTI+, pude identificar Boa leitura!
que as iniquidades, no contexto pandêmico, são
aprofundadas a partir de contextos locais das Alef Diogo da S. Santana, Enfermeiro pela
pessoas LGBTI+, como é o caso das travestis UPE, Mestre em Enfermagem pela UFPE,
profissionais do sexo, LGBTI+ em situação de e atualmente doutorando em Ciências
rua, LGBTI+ jovens, etc. (SANTANA, MELO, pelas Escola de Enfermagem de Ribeirão
2021). Apesar do discurso que se ensaiava na Preto, USP. Desenvolve pesquisas
grande mídia, e reproduzido por determinadas que interseccionam marcadores como
figuras políticas, de que o vírus é democrático, gênero, sexualidade, raça e classe social
a realidade descortinada é que, na verdade, o na saúde, além de investigar processos
alvo do vírus da COVID-19 tem cor, raça, classe, biomedicalizadores associados às
gênero e orientação sexual. experiências de vida de pessoas LGBTI+
À guisa de conclusão, gostaria de a partir de aproximações teóricas do
pontuar apenas que, apesar de vivermos campo das Ciências Sociais e Humanas
tempos nebulosos do ponto de vista de retirada em Saúde e Saúde Coletiva.
de direitos humanos – outrora já conquistados
com muita luta e reivindicação, as perspectivas
que se desenham para o futuro e próximas
gerações, a meu ver, são de avanço. Dizer
que são de avanço não significa dizer que será
“fácil” ou sem disputas no âmbito político e
social, haja vista todas as fake news e discursos
mobilizados pela extrema direita e coaptado por

Descrição de página: Esta página possui a continuação do prefácio, fundo verde, letras brancas
e é dividida em duas colunas. No canto superior direito tem um desenho com forma abstrata
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nas cores rosa e branco.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

APRESENTAÇÃO
A TODXS disponibiliza à sociedade o assumido no primeiro semestre de 2018
Relatório da Pesquisa Nacional por Amostra para obtenção de dados relevantes sobre a
da População LGBTI+. Com isso, busca-se população LGBTI+, traduzindo um novo ciclo
contribuir para a produção de conhecimento de atuação da organização e o orgulho das
científico e para a formulação de ações pessoas que foram e das que são integrantes
empresariais e de políticas públicas baseadas da organização.
em evidências. Por meio da apresentação Ainda são raros os estudos brasileiros
de variáveis e indicadores, esta publicação que criam indicadores sobre a população
disponibiliza conhecimento com base em LGBTI+ e são capazes de orientar a formulação
estatísticas comparáveis e confiáveis sobre de políticas públicas, bem como a atuação de
a população LGBTI+ no Brasil, traçando instituições privadas. Nesse sentido, a TODXS
um panorama com foco nas condições socializa os resultados obtidos na tentativa de
socioeconômicas e demográficas, identidades, minimizar essa escassez de dados e espera
comportamentos, educação, trabalho, saúde, que este material seja utilizado inclusive
participação política e discriminação. por pessoas pesquisadoras para ampliar
A TODXS é uma organização não análises, reverberando no fortalecimento e
governamental (ONG), criada em 2017, desenvolvimento de outros estudos desta
suprapartidária e sem fins lucrativos, que natureza. Reafirma-se, assim, a necessidade
promove a inclusão de pessoas LGBTI+ de dados sistematizados e do reconhecimento
na sociedade com iniciativas de formação público das dimensões e particularidades da
de lideranças, pesquisa, conscientização e população LGBTI+.
segurança. A TODXS é formada por um time
de pessoas voluntárias trabalhando de forma
remota, no Brasil e em outros países, na criação
de projetos de alto impacto para a população
LGBTI+ brasileira. Existimos para transformar o
Brasil em um país verdadeiramente inclusivo e
livre de discriminação para pessoas LGBTI+.
A área de Pesquisa e Desenvolvimento
da TODXS é composta por um time
multidisciplinar especializado na população
LGBTI+ e suas interseccionalidades. Por meio
de levantamento de dados inéditos e produções
de pesquisas de fácil acesso e entendimento,
espera-se criar embasamento de inteligência
de mercado, políticas públicas e impacto social.
O presente estudo é fruto do desafio

Descrição de página: Esta página possui ao apresentação,


fundo branco, fundo
títulosamarelo,
em roxo título
e é dividida
em rosa,
emletras
dois
blocos. pretas
títulos eem
é dividida
roxo e é em
dividida
duas em
colunas.
dois blocos.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

INTRODUÇÃO
O Brasil é um país de dimensões nos comportamentos a diversidade da
continentais, com uma população, existência humana.
segundo o Instituto Brasileiro de Ao discutirmos sobre a população
Geografia e Estatística (IBGE, 2019), LGBTI+ no Brasil, a escassez de dados
de aproximadamente 210 milhões de oficiais governamentais torna-se um
habitantes, e marcado por desigualdades obstáculo para a produção de estudos
sociais, políticas, raciais, de gênero e de e pesquisas que possam servir de
acesso a bens e serviços. Essas disparidades, subsídio para políticas públicas focadas
por sua vez, são caracterizadas pela nas reais necessidades desse grupo.
pobreza, desemprego, machismo, Algumas Unidades Federativas brasileiras
racismo ,1
LGBTIfobia , 2
misoginia3, produziram dados sobre a violência
capacitismo4, violência, entre outras contra a população LGBTI+, conforme
questões relacionadas a adversidades apresentado no Anuário Brasileiro de
sociais. Esse contexto encontra-se Segurança Pública (BUENO; LIMA, 2019).
presente no dia a dia das pessoas LGBTI+ Contudo, ainda assim, não é possível
(pessoas que se identificam como lésbicas, saber com exatidão sobre a violência
gays, bissexuais, travestis, trans, intersexos que vitimiza esse grupo especificamente,
e demais identidades e expressões de tendo em vista que, nos registros de
gênero e orientações sexuais), com violência, os campos sobre orientação
agravantes para as que vivem em situação sexual e identidade de gênero não
de pobreza, as mulheres, as pessoas com necessariamente são obrigatórios ou
deficiência, as pessoas negras, as pessoas sequer existem para serem preenchidos.
trans, entre outras que trazem no corpo, Embora seja uma preocupação
na pele, na aparência, nas atitudes e constante, as demandas das pessoas

1. De acordo com Silvio Almeida (2019, p. 25), o racismo “é ódio, desprezo, discriminação aversão ou violência a mulheres
uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como (LOURENÇO, 2020).
fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes 4. É um sistema que inferioriza e discrimina pessoas com
ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios deficiência, estando associado com a produção de poder e se
para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam”. relaciona com a temática do corpo por uma ideia de padrão
2. Medo, opressão ou ódio irracional dirigidos às pessoas corporal perfeita; também sugere um afastamento da capacidade
LGBTI+ em virtude de orientação sexual e/ou identidade/ e da aptidão dos seres humanos, em virtude da sua condição de
expressão de gênero que fogem aos padrões heteronormativos deficiência (CAMPBELL, 2020; CERTEZA, 2019).
e cisnormativos (TODXS, 2020).
3. A palavra é utilizada para designar o comportamento de

Descrição de página: Esta página possui o início da introdução, fundo azul escuro, título em
azul claro, letras brancas e é dividida em duas colunas. No final da página temos as notas de
11
rodapé centralizada.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

LGBTI+ não se resumem a combater os com as publicações do “O Lampião da


atos de violência. Não é possível reduzi-las Esquina”, jornal voltado principalmente
aos crimes tipificados em lei sem pensar para homens cis homossexuais e que
nas políticas de educação, saúde, cultura, permaneceu ativo de 1978 a 1981, e da
esporte, trabalho, entre outras. revista “Chanacomchana”, com foco
O fortalecimento da sociedade civil em mulheres cis lésbicas. Ao longo do
organizada é fundamental na luta pelo período de transição da Ditadura Militar
reconhecimento de direitos de grupos para o governo democrático, inicia-se
historicamente excluídos e/ou em situação o diálogo do movimento LGBTI+ com o
de vulnerabilidade. Por isso, busca-se uma governo brasileiro.
aproximação com a história do movimento Inicialmente, buscou-se incluir a
LGBTI+ no Brasil e seu protagonismo proibição da discriminação por orientação
nas diversas pautas da política pública sexual na Assembleia Constituinte (1987-
nacional, numa incessante luta pelo 88), mas sem sucesso (LELIS; ALMEIDA;
reconhecimento da pauta LGBTI+ e da ROSA, 2019). Entretanto, durante o
diversidade de experiências vividas pelas mesmo período, movimentos feministas
pessoas integrantes desse grupo. ganham maior visibilidade e começam a
A Pesquisa Nacional por conquistar as primeiras políticas públicas
Amostra da População LGBTI+ nasce para mulheres durante a década de
nesse contexto de necessidade de se 1980 (FARAH, 2004), processo que será
reconhecer as vivências, experiências, fundamental para o início das políticas de
alegrias, dores, possibilidades e desafios inclusão de minorias sociais no país.
dos nossos pares. Apesar de inédita, Tal época também foi marcada
torna-se mais um capítulo do trabalho por episódios violentos e arbitrários,
realizado há décadas por diferentes atores como é o caso da Operação Tarântula,
do movimento LGBTI+ brasileiro, que deflagrada em fevereiro de 1987, que
ganhou força a partir da década de 1970 e chegou a prender trezentas travestis, com
possibilitou a projeção dos direitos desse a justificativa de combate à epidemia
grupo a nível nacional. Nesse sentido, de HIV/AIDS6 (Vírus da Imunodeficiência
foi criado, em 1978, o “Somos: grupo de Humana/Síndrome da Imunodeficiência
afirmação homossexual”, compreendido Adquirida) (CAVALCANTI; BARBOSA;
como o primeiro movimento organizado BICALHO, 2018).
de indivíduos homossexuais5 voltado para Impulsionado também pela
questões políticas. epidemia de HIV/AIDS, inaugura-se uma
O movimento LGBTI+ ganha força nova fase do movimento, com ações
e traz o debate da diversidade sexual articuladas de combate à AIDS e início do
e de gênero para o âmbito público, reconhecimento da visibilidade a lésbicas,

5. Nesse sentido, “homossexualidades era o termo utilizado 6. De acordo com UNAIDS (2017, p. 26), “o HIV é um
até o começo dos anos de 1990 para se referir ao conjunto de vírus que enfraquece o sistema imunológico, podendo
orientações sexuais e identidades de gênero consideradas não levar, em último caso, à AIDS”.
normativas ou dissidentes” (QUINALHA, 2018, p. 15).

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brancas e é dividida em duas colunas. No final da página temos as notas de rodapé centralizada.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

bissexuais, travestis e trans, ainda que do movimento LGBTI+ perante a esfera


com pautas voltadas principalmente federal brasileira. Esse programa torna-se
à saúde (FACCHINI; DANILIAUSKAS; a primeira iniciativa do Governo Federal
PILON, 2013). Com a liderança da que reconhece a população LGBTI+
população LGBTI+ no combate à AIDS, a como grupo historicamente discriminado
articulação do movimento em diferentes e violentado, além de buscar estabelecer
frentes e, ainda, a realização da primeira metas para a criação de políticas públicas
Parada do Orgulho LGBT em São Paulo, a específicas, por meio da delimitação de
diversidade sexual e de gênero não mais 53 ações e diretrizes em áreas da saúde,
se restringe apenas aos espaços privados, educação e segurança pública (BRASIL,
expandindo-se aos espaços públicos, 2004).
com possibilidades reais de conquistas Entretanto, o BSH não apresentou
de reconhecimento e de políticas públicas metas e indicadores específicos, levando
junto a diversas esferas de poder a uma implementação falha e, ao mesmo
governamentais. tempo, inviabilizando a realização
Em 1996, o governo brasileiro de uma avaliação de resultados que
reconhece, timidamente, homossexuais7 pudesse mostrar de fato os ganhos para a
como grupo vulnerável no Programa população LGBTI+. Esse erro foi corrigido
Nacional de Direitos Humanos I — PNDH apenas em 2009 com o lançamento do
I (BRASIL, 1996). Simultaneamente, Plano Nacional de Promoção da Cidadania
governos estaduais começam a adotar e Direitos Humanos de LGBT, que definiu
políticas locais voltadas à população metas, prazos e órgãos responsáveis pelas
LGBTI+, a exemplo do Rio de Janeiro, ações (BRASIL, 2009a).
que em 1999 lança a primeira política Simultaneamente, aconteceram diversas
de segurança LGBTI+, o Disque Defesa conquistas em relação às políticas públicas
Homossexual (CARRARA; AGUIÃO; para a população LGBTI+, tais como: a
LOPES; TOTA, 2017). Em 2002, ocorreram cirurgia de transgenitalização foi incorporada
ações mais concretas a nível federal com ao Sistema Único de Saúde (SUS) e, em
o lançamento do PNDH II, que apresenta 2009, o Conselho Nacional de Saúde aprova
objetivos específicos de reconhecimento a Política Nacional de Saúde Integral LGBT;
e de promoção de políticas públicas programas de capacitação são realizados
voltadas à população LGBTI+. para criação de material que abordasse
Finalmente, em 2003 é instituída a homossexualidade e homofobia (MELLO
Secretaria Especial de Direitos Humanos et al., 2012); em 2010, é criado o Conselho
da Presidência da República (SEDH-PR), Nacional de Combate à Discriminação LGBT.
tornando-se essencial para o lançamento, Dando continuidade, no ano de
em 2004, do Programa Brasil Sem 2013, com o objetivo de articular as
Homofobia — BSH, que marcou um novo políticas públicas voltados para pessoas
período do reconhecimento da pauta LGBTI+ e executadas em diversos órgãos

7. Termo utilizado no período para se referir às pessoas


LGBTI+.

Descrição de página: Esta página possui a continuação da introdução, fundo azul escuro, letras
brancas e é dividida em duas colunas. No final da página temos as notas de rodapé centralizada.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

governamentais, foram criados o Sistema LGBTI+, a exemplo do governo do Ceará,


Nacional LGBT e o Comitê Nacional de que mantém editais de apoio a projetos de
Políticas Públicas LGBT. No mesmo ano, cultura LGBTI+, além de promover o “For
foi lançada a Política Nacional de Saúde Rainbow – Festival de Cinema e Cultura
Integral LGBT, contemplando ações da Diversidade Sexual”.
voltadas para a promoção, prevenção, Simultaneamente, em junho do
recuperação e reabilitação da saúde, bem mesmo ano, o STF enquadrou a homofobia
como o incentivo à representatividade e a transfobia como crimes equivalentes à
do grupo nas instâncias de participação Lei de Racismo (Lei 7.716/1989), até que
social (BRASIL, 2013b). Os anos seguintes, o Congresso Nacional edite lei sobre a
por sua vez, são marcados pelo aumento matéria (BRASIL, 2019). Inclusive, outras
da atuação do Governo Federal, assim conquistas para pessoas LGBTI+ foram
como da esfera municipal e regional com viabilizadas pelo STF, como é o caso
a criação de conselhos locais. do reconhecimento da união estável
No último Plano Plurianual - entre casais do mesmo gênero em 2011
PPA do governo federal (2016-2019),
8
(BRASIL, 2011) e a retificação do registro
ainda foi possível observar cerca de 50 civil de pessoas trans, independentemente
objetivos e metas voltados à população de procedimento cirúrgico, bastando a
LGBTI+, situados de maneira transversal manifestação de vontade em retificar da
entre os diferentes ministérios do pessoa, em 2018 (BRASIL, 2018b).
governo (BRASIL, 2016a). Entre outras Considerando esse retrospecto,
ações recentes realizadas pelo governo em poucos momentos observou-se a
brasileiro, é importante ressaltar o decreto realização de coleta de dados sobre a
presidencial nº 9.278/18 (BRASIL, 2018a), população LGBTI+ por parte de órgãos
que possibilitou a inclusão do nome social8 do governo federal. Como exemplo, é
na carteira de identidade. possível identificar no Censo 2010 (IBGE,
Por fim, o ano de 2019 também é 2010) lares compostos por casais do
marcado pelo aumento de pautas políticas mesmo sexo e o “Relatório sobre Violência
que estimulam gêneros e sexualidades Homofóbica no Brasil: Ano de 2013” da
normativas, em detrimento da diversidade Secretaria Especial de Direitos Humanos
LGBTI+, a exemplo da suspensão pelo do Governo Federal (BRASIL, 2016b) ,
governo federal de editais culturais além de ser possível citar alguns exemplos
para produções artísticas relacionadas a nível regional ou municipal, como o
à temática LGBTI+. Na contramão, Dossiê LGBT+ 2018, realizado pelo estado
alguns governos estaduais fortaleceram do Rio de Janeiro (MATOS; LARA, 2018).
iniciativas específicas para a cultura Entretanto, essa não é uma prática comum

8.O Plano Plurianual (PPA) é o documento de médio prazo que governamentais, mesmo havendo mudança de gestão.
contempla o planejamento governamental para um período 9.Nome pelo qual as pessoas trans preferem ser chamadas e
de quatro anos, a ser seguido pelo Governo Federal, Estadual reconhecidas. É o nome que espelha a real identidade de gênero
e Municipal, nas três esferas de poder (Executivo, Legislativo da pessoa trans, sendo assim, incompatível com o nome que
e Judiciário), tendo início no segundo ano do mandato do consta no registro civil.
governante eleito, com término no primeiro ano do governo
seguinte, de modo a garantir a continuidade de ações

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brancas e é dividida em duas colunas. No final da página temos as notas de rodapé centralizada.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

meios oficiais (TODXS, 2019).


entre outras Unidades Federativas e ainda Motivados pelos resultados
não é realizada pelo governo federal. encontrados pelo relatório sobre a LGBTIfobia
Nesse cenário, a tarefa de conhecer e pela necessidade de se levantar informações
a realidade da população LGBTI+ no sobre pessoas LGBTI+ no Brasil, a TODXS
Brasil fica a cargo de entidades não desenvolveu a Pesquisa Nacional por Amostra
governamentais, que se esforçam para da População LGBTI+. Dessa maneira,
suprir esse déficit informacional, mas nem a ONG disponibiliza informações
sempre dispõem de recursos técnicos e sobre a população LGBTI+ que podem
metodológicos, o que se torna um entrave fundamentar o desenvolvimento
na produção de estudos confiáveis e de projetos, programas e políticas
estatisticamente relevantes. Assim, a governamentais, não governamentais
realidade e as vivências de pessoas que atendam as necessidades de pessoas
LGBTI+ continuam pouco conhecidas LGBTI+ na sociedade.
no Brasil, principalmente em termos de
dados. Isso dificulta tomadas de decisões Conceito de Saúde e SUS
e eficiência no que diz respeito, em
especial, a políticas públicas direcionadas, A saúde e a doença são definidas
sobretudo a nível nacional. historicamente e culturalmente, elas
Até o momento, na tentativa de refletem a conjuntura social, econômica,
somar esforços e combater a invisibilização política e cultural de uma sociedade ou
das violências sofridas pela população LGBTI+ grupo (SCLIAR, 2007). A partir de alguns
no Brasil, foi também realizado pela área de modelos explicativos (DA CRUZ, 2009, p.
Pesquisa e Desenvolvimento os relatórios 23-28) é possível compreender melhor essa
Mapeando Violências Contra Pessoas LGBTI+ caracterização da saúde e da doença:
no Brasil em 2018 e em 2019. Os dados foram O modelo mágico-religioso ou
obtidos através das denúncias registradas no xamanístico, predominante na Antiguidade,
TODXS App de agressões sofridas por pessoas explicava o mundo natural a partir de uma
LGBTI+. Entre as principais descobertas, cabe cosmologia que envolvia deuses e espíritos
destacar que, em 2018, a grande maioria das bons e maus. A doença era resultado de
pessoas denunciantes (92,3%) afirmaram que transgressões do ser humano que findavam em
não haviam registrado boletim de ocorrência rompimentos de relação com divindades. Esses
referente àquela denúncia feita no aplicativo, o laços só podiam ser refeitos pelos sacerdotes,
que revela como um grande volume de casos feiticeiros ou xamãs (HERZLICH, 2004 apud DA
de LGBTIfobia não são computados pelos CRUZ, 2009, p. 23 ).
O modelo holístico se baseava
inteiramente na noção de equilíbrio, a qual
explicava a saúde como o equilíbrio entre os
humores, elementos internos, que compõem o
organismo humano em totalidade, e externos.
Um desequilíbrio desses elementos abriria
espaço para o aparecimento da doença. Este

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brancas e é dividida em duas colunas.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

modelo foi utilizado nas medicinas hindu e o estado do mais completo bem-estar físico,
chinesa da Antiguidade. mental e social e não apenas a ausência de
O modelo empírico-racional enfermidade”; tal definição sofreu críticas por
(hipocrático) tem o fundamento na Teoria dos fazer da saúde algo idealizado e inatingível
Humores de Hipócrates, o pai da medicina fazendo com que não fosse possível ela ser
Ocidental, em que a saúde é consequência do usada como objetivo pelos serviços de saúde
equilíbrio dos humores e a doença é produto (SCLIAR, 2007).
do desequilíbrio deles. No ano de 1976, o modelo da
O modelo de medicina científica História Natural das Doenças (HND) ou
ocidental (biomédico), bastante utilizado modelo processual tem como principais
atualmente, tem suas origens no contexto sistematizadores Leavell e Clark, que
do Renascimento e seus conhecimentos nesse período definiram história natural
construídos a partir do Método de Descartes. da doença como
Dentro desse modelo a saúde é reduzida a
um funcionamento mecânico e a doença o conjunto de processos interativos
ganha destaque sendo um que cria o estímulo patológico no meio
ambiente ou em qualquer outro lugar,
desajuste ou falha nos mecanismos de passando da resposta do homem ao
adaptação do organismo ou ausência estímulo, até as alterações que levam
de reação aos estímulos a cuja ação a um defeito, invalidez, recuperação
está exposto [...], processo que conduz ou morte (LEAVELL; CLARK, 1976 apud
a uma perturbação da estrutura ou da ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2002).
função de um órgão, de um sistema ou
de todo o organismo ou de suas funções Além disso, a HND divide em dois
vitais (JENICEK; CLÉROUX, 1982 apud momentos contínuos o desenvolvimento do
HERZLICH, 2004). processo saúde-doença: o pré-patogênico,
ou período epidemiológico, que é a interação
O modelo sistêmico é vinculado à entre os fatores do meio ambiente, do agente
ideia de todo, de contribuição de diferentes e do hospedeiro; e o patogênico quando
elementos do ecossistema no processo saúde- o indivíduo interage com um estímulo
doença. É assim chamado porque cada vez externo, depois apresenta sinais e sintomas
que um dos componentes do sistema sofre para por fim submeter-se a um tratamento
alguma mudança, esta ecoa e atinge as demais (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2002).
partes, num processo em que o sistema A sistematização sugerida orientou a
busca novo equilíbrio. Toda essa concepção organização do cuidado por diversos
faz um contraponto à visão unidimensional níveis de complexidade (termo ligado a
e fragmentária do modelo biomédico. Esse recursos e ações) e considerou diferentes
modelo começou a ganhar força no final formas de prevenção e promoção da
da década de 1970. Dentro deste pode-se saúde. Este modelo é o utilizado como
encaixar a definição de saúde conceituada pela norteador das ações e intervenções do
Organização Mundial da Saúde (OMS) na carta sistema de saúde brasileiro, o Sistema
de princípios de 7 de abril de 1948: “Saúde é Único de Saúde (SUS).

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

A idealização do SUS se deu na e de controle social (DIMENSTEIN;MACEDO,


década de 1970, aproximadamente duas 2012) em “direção à outra lógica que, por ter
décadas antes da criação da Constituição o usuário como central ao sistema de saúde,
Federal de 1988, e duas décadas antes de garante a exigibilidade de seus direitos, a
sua instituição através da Lei 8.080/1990. humanização do acolhimento e a eficácia e a
Foi com o Movimento de Reforma resolutibilidade do cuidado” (FLEURY, 2009,
Sanitária brasileira que surgiu como p. 750). Tais resultados reiteram os princípios e
resposta às crises no sistema de prestação diretrizes do SUS encontrados na Lei Orgânica
de saúde vigente, como uma reação ao de Saúde, Lei n. 8.080/1990, artigo 7º.
cenário sociopolítico e como um projeto Os Princípios são divididos em dois
de reforma social que reivindicava, entre tipos: Doutrinários e Organizativos. Os
outros: a garantia constitucional do direito Princípios Doutrinários constituem “o núcleo
universal à saúde; o reconhecimento comum de valores e conceitos que servem
dos determinantes sociais do processo de base para os SUS” (MATTA et al., 2007,
saúde-doença; a luta pela constituição e p. 65) e são a Universalidade, a Equidade e a
reformulação de um campo de saber que Integralidade. Princípios Organizativos são a
respeita a diferença; a luta pela efetivação maneira de organização e de operacionalização
do Sistema Único de Saúde (DIMENSTEIN; do sistema a partir dos princípios doutrinários
MACEDO, 2012). Esse Movimento foi e eles são regionalização e hierarquização,
constituído por uma grande mobilização descentralização e participação da comunidade
política dos trabalhadores da saúde, de centros (MATTA, et al., 2007;TEIXEIRA, 2011).
universitários e de setores organizados da A Universalidade garante a saúde
sociedade no contexto da democratização do como direito a todes, sendo o acesso
país (DE SOUZA, 2002) . totalmente gratuito e garante condições
A Reforma Sanitária brasileira teve de vida que possibilitem boas condições de
como primeira conquista a seguinte definição saúde. A Equidade faz-se valer da igualdade
no artigo 196 da Constituição Federal de proporcional atribuindo partes diferentes a
1988: pessoas diferentes, na proporção da diferença
(ESCOREL, 2001 apud MATTA et al., 2007).
A saúde é direito de todos e dever do A Integralidade possui 4 sentidos.
Estado, garantido mediante políticas Primeiro é que o atendimento deve priorizar
sociais e econômicas que visem à redução as áreas preventivas, sem prejuízo das áreas
do risco de doença e de outros agravos e de assistência. O segundo envolve o conceito
ao acesso universal e igualitário às ações ampliado do processo de saúde-doença em
e serviços para sua promoção, proteção que há compreensão do sujeito como um todo
e recuperação (BRASIL, 1988, art. 196) em suas relações. O terceiro envolve o fato de
que as políticas de saúde devem compreender a
Essa frase resulta na ampliação e acesso atenção às necessidades de grupos específicos
universal e equânime dos usuários à rede . O quarto relaciona-se à formação de
de serviços, na reorientação das práticas e a trabalhadores do campo da saúde, a qual deve
criação de instrumentos de gestão democrática ser construída a partir de uma organização dos

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brancas e é dividida em duas colunas.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

conhecimentos e de práticas que possibilitem ou Participação Social, como o próprio nome já


o reconhecimento da integralidade como o indica, é a participação da população por meio
eixo norteador do processo educativo (MATTA de suas entidades representativas (conselhos de
et al., 2007). saúde e conferências de saúde) na elaboração
A diretriz da Regionalização indica que de políticas, no planejamento, na gestão, na
a organização e planejamento do sistema deve execução e avaliação das áreas de saúde (Brasil,
focar na noção de território, assim os serviços 1986 apud MATTA et al., 2007).
de saúde são oferecidos de maneira regional. Continuando a explorar a Lei nº
Esse território não é no sentido geográfico 8.080/1990, no artigo 3º há uma expansão
de terreno físico, e sim o que inclui os perfis nos fatores que influenciam o processo
populacionais, indicadores epidemiológicos, saúde-doença:
condições de vida e suporte social.
O SUS tem classificações de seus A saúde tem como fatores determinantes
órgãos em nível de hierarquia. O princípio da e condicionantes, entre outros, a
Hierarquização aqui se faz presente com uma alimentação, a moradia, o saneamento
divisão em ordem crescente de complexidade: básico, o meio ambiente, o trabalho, a
os serviços são classificados em Atenção Básica renda, a educação, o transporte, o lazer e
ou Primária (caracterizado por seu caráter o acesso aos bens e serviços essenciais; os
generalista e de baixa tecnologia), Atenção níveis de saúde da população expressam
Secundária e Atenção Terciária (ambos são a organização social e econômica do País
serviços especializados que se diferenciam (BRASIL, 1990, art. 3º).
principalmente por sua densidade tecnológica,
um exemplo de órgãos da Atenção Secundária O que já expressa um campo amplo
são os ambulatórios e da Terciária são os de atuação o qual o SUS se propõe a intervir
hospitais)(MENDES, 2010; MATTA et al., 2007). (SALES, 2019). Por isso, Carvalho (2013)
Na legislação (BRASIL, 1990, art. 7º, inciso IX, atribui ao SUS os seguintes deveres:
alínea b) vem acompanhada do princípio da
Regionalização por ser reproduzido a partir do [...] identificar e divulgar os condicionantes
perfil de cada território. e determinantes da saúde; formular
A descentralização foi pensada a política de saúde para promover
especialmente como uma alternativa para os campos econômico e social, para
solucionar a questão da falta de acesso a diminuir o risco de agravos à saúde;
serviços de saúde em pequenos municípios fazer ações de saúde de promoção,
e o acúmulo em capitais e metrópoles. Essa proteção e recuperação integrando ações
diretriz instaurou instâncias com objetivo de assistenciais e preventivas (CARVALHO,
representar, monitorar e pactuar politicamente 2013, p. 11)
e administrativamente o SUS dentro das
três esferas de governo: federal, estadual e Diante disso os conceitos de
municipal (KUSCHNIR et al., 2009; MATTA et promoção de saúde e prevenção de
al., 2007). doenças são relevantes para entender
Por fim, a Participação da Comunidade mais sobre o funcionamento prático do

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brancas e é dividida em duas colunas.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

sistema de saúde brasileiro. Iniciando com a importância do contexto e de uma atenção


a Promoção de Saúde (PS), a primeira política pautada nos determinantes sociais e
referência a esse termo foi feita em 1941 no empoderamento individual e comunitário
pelo sanitarista norte-americano Henry (KICKBUSCH, 2007 apud TAVARES et al., 2009).
Sigerist quando este rearranjou as funções Hoje no Brasil, há a Política Nacional de
da medicina, como: promoção da saúde, Promoção da Saúde (PNPS) inserida no Sistema
prevenção das doenças, recuperação dos Único de Saúde pela Portaria ministerial no.
enfermos e reabilitação (TAVARES et al., 687, de 30 de março de 2006. A PNPS trabalha
2009). Apesar da definição dada por Sigerist a promoção da saúde como uma estratégia
não ser a utilizada atualmente, é notável a de articulação transversal que concede uma
sua influência na proposta feita em 1986 na percepção mais transparente dos determinantes
1ª Conferência Internacional de Promoção que colocam a saúde da população em risco
da Saúde, em Ottawa, de que se trata de e das diferenças entre cultura, territórios e
um novo tipo de política pública, que tem necessidades presentes no Brasil Com isso,
por base os determinantes sociais da saúde visa a criação de procedimentos que reduzam
(TERRIS, 1996; RESTREPO, 2001; BUSS, as conjunturas de vulnerabilidade, defendam
2003; ANDRADE, 2006 apud TAVARES, et al., radicalmente a equidade e incorporem a
2009). A PS destaca a necessidade de inserir o participação e o controle sociais na gestão das
pensamento político junto à saúde, retomando políticas públicas (TAVARES et al., 2009).
Compreendendo essa noção de
saúde mais atualizada, coletiva, comunitária e
territorial, ao longo deste relatório buscamos
apresentar dados que apontam para possíveis
características da saúde da população LGBTI+
brasileira. Pautando a transversalidade, a
pluralidade e as singularidades de pessoas e
grupos, colocamos em regime de visibilidade
as intersecções que emergem a partir da
leitura dos resultados, tornando possível
levantar hipóteses e questionamentos sobre a
saúde da população LGBTI+ no Brasil e suas
interseccionalidades.

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brancas e é dividida em duas colunas.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

MÉTODO

Descrição de página: Esta página possui fundo verde, título em preto escrito na vertical de
baixo para cima no canto esquerdo e um desenho na forma abstrata nas cores preto e rosa.
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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

MÉTODO
A Pesquisa Nacional por Amostra da diversa de respondentes. Em um primeiro
População LGBTI+ foi desenvolvida ao longo momento, a amostra visava variáveis chaves,
de seis etapas: estruturação e planejamento, tais como, identidade de gênero, étnico-racial
elaboração do instrumento de pesquisa e nível de escolaridade para selecionar um
(questionário), pré-teste do instrumento, perfil representativo da
aplicação do questionário, validação dos dados população LGBTI+ e, em seguida, o
e redação do relatório. pré-teste foi direcionado por meio de anúncios
A etapa de estruturação e no Facebook, para capitais mais populosas de
planejamento da pesquisa ocorreu no primeiro cada uma das cinco regiões do país. A coleta
semestre de 2018, sendo selecionados os durou 19 dias e obteve 2.709 respostas. A partir
referenciais teóricos necessários para definir os dessas, para garantir a representatividade da
conceitos a serem utilizados e as áreas temáticas amostra e confiabilidade estatística, contratou-
a serem tratadas. As identidades de gênero se um estatístico para definir parâmetros
e as orientações sexuais, bem como os tipos mínimos do plano amostral10 de aplicação da
de discriminação englobados pela pesquisa, pesquisa no restante do país, combinando a
são temas sensíveis e que vêm sendo alvo de cidade, a orientação sexual e a identidade de
estudos em diversas áreas do conhecimento, gênero.
a exemplo das Ciências Sociais, Humanas e Por fim, tendo este plano como
Saúde etc. base, a aplicação do questionário da Pesquisa
Na sequência, durante o Nacional por Amostra da População LGBTI+ foi
segundo semestre de 2018, houve a elaboração iniciada pela TODXS em 05 de abril de 2019. A
do questionário, tomando como base pesquisas Pesquisa manteve sua aplicação online e coletou
confiáveis, por exemplo o Censo IBGE, respostas de habitantes, maiores de 18 anos,
realizadas anteriormente nas áreas temáticas das 27 capitais das Unidades da Federação.
abrangidas por esta pesquisa. A equipe Nas seções subsequentes apresentaremos
responsável pela elaboração optou por manter informações detalhadas sobre a pesquisa.
as terminologias da forma mais compreensível
possível, algumas vezes se aproximando mais
do senso comum que dos termos técnicos
empregados pela militância e pelos estudiosos,
para garantir que o questionário fosse acessível
para a maior parcela de LGBTI+ possível,
independentemente de conhecimento sobre a
temática.
Posteriormente, também no
segundo semestre de 2018, ocorreu o pré-teste
do instrumento de coleta de dados, com o
objetivo de verificar a adequação aos objetivos
e a sua acessibilidade, a partir de uma amostra
10. Veja aqui o plano amostral.

Descrição de página: Esta página possui o início da metodologia com fundo branco, título
em verde, letras pretas e é dividida em duas colunas. No topo da página temos centralizado o
21
título da pesquisa em preto. No final da segunda coluna temos as notas de rodapé.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

TÉCNICAS DE COLETA

Inicialmente, durante o período de A aplicação exclusivamente em capitais


planejamento de pesquisa, foi discutida a foi objeto de debate entre a equipe da TODXS
possibilidade de realizar aplicação em centros e o público externo. É importante ressaltar
físicos e online . Por meio de parcerias com que a Pesquisa: ( i) utilizou-se um método que
ONG’s, centros locais e outros, os Centros de possui amostras representativas da população
Aplicação permitiriam alcançar segmentos do universo11 ; (ii) nasceu devido à ausência de
da população sem acesso à internet e maior pesquisas confiáveis sobre a população LGBTI+
disseminação a nível local. de municípios de médio e pequeno porte.
Entretanto, para garantir a uniformidade Por isso, foi necessário mapear municípios
da metodologia, optou-se pelo uso único do comparáveis em suas características em cada
método online . Tendo em vista que 71% dos uma de suas regiões; e (iii) seriam necessários
domicílios brasileiros têm acesso à internet mais recursos financeiros para a realização de
(NIC.BR, 2020), a aplicação online , auxiliada uma pesquisa que levasse em consideração os
por ampla divulgação, seria a melhor opção municípios de médio e pequeno - algo que a
de coleta a nível nacional. Portanto, a pesquisa organização não possuía no momento.
por amostragem foi estruturada em uma Desse modo, optou-se por manter um
plataforma online que permitisse a realização plano amostral reduzido e que permitisse criar
das 115 perguntas, incluindo condicionais, e índices iniciais de qualidade e confiabilidade
acesso à base de dados para análise posterior. para que, em oportunidades futuras de
Dessa forma, selecionou-se a plataforma online aplicação da pesquisa, seja possível expandir
SurveyMonkey ( https://pt.surveymonkey.com ). sem perder a qualidade.
Todos os dados inseridos na plataforma
foram tratados de forma confidencial pela PERÍODO DE COLETA E DIVULGAÇÃO
equipe, garantindo que nenhum nome ou demais
informações de participantes fossem divulgados. Com duração de aproximadamente três
meses, o período de coleta e divulgação foi
ABRANGÊNCIA iniciado em 04 de abril e encerrado no dia 03 de
julho de 2019. De acordo com o planejamento
A Pesquisa coletou informações de e pré-teste realizados, a expectativa era circular
pessoas LGBTI+ das 27 capitais das Unidades a Pesquisa por, no máximo, um mês e meio
da Federação. Dessa forma, as seguintes (até 25 de maio de 2019) - tempo em que
cidades foram contempladas: Aracaju (SE); se esperava alcançar o número de respostas
Belém (PA); Belo Horizonte (MG); Boa Vista (RR); estimadas no plano amostral.
Brasília (DF); Campo Grande (MS); Cuiabá (MT); Porém, com o volume de respostas
Curitiba (PR), Florianópolis (SC); Fortaleza (CE); inferior ao número programado para algumas
Goiânia (GO); João Pessoa (PB); Macapá (AP); cotas e regiões12, a pesquisa foi estendida
Maceió (AL); Manaus (AM); Natal (RN); Palmas por mais um mês e meio e intensificadas as
(TO); Porto Alegre (RS); Porto Velho (RO); Recife atividades de comunicação online .
(PE); Rio Branco (AC); Rio de Janeiro (RJ);
Salvador (BA); São Luís (MA); São Paulo (SP);
11. Tal metodologia é diferente, por exemplo, do Censo, que
Teresina (PI) e Vitória (ES).
realiza a análise de todo o universo existente.

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em verde, letras pretas e é dividida em duas colunas. No topo da página temos centralizado o
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título da pesquisa em preto. No final da segunda coluna temos as notas de rodapé.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Durante esse período, a Abaixo, uma breve explicação de cada bloco e


publicação em grupos do WhatsApp e suas variáveis apresentadas:
Facebook foi ampliada para grupos específicos,
além de fazermos a análise parcial dos dados
para verificar grupos sub-representados até BLOCO A - IDENTIDADE E PERFIL
então. Apesar do esforço, não houve aumento SOCIODEMOGRÁFICO
considerável do número de respondentes,
principalmente de homens e mulheres trans, Neste bloco de perguntas, o objetivo
travestis e pessoas não binárias, e a pesquisa inicial é compreender as singularidades
foi encerrada com cerca de 35200 respostas, individuais em categorias como idade, identidade
sendo 15326 validadas, explicadas mais adiante. étnico-racial e de gênero, características sexuais,
Consideramos que esbarramos em um desafio orientação sexual, deficiência, quem sabe que a
estrutural chave para angariar mais respostas: pessoa respondente é LGBTI+, nupcialidade13,
limitações do acesso à internet por pessoas escolaridade, filiação, religião e domicílio.
vulnerabilizadas. Com isso, ficou evidenciada a
necessidade de aprimorar a metodologia para
futuros levantamentos. BLOCO B - MERCADO DE TRABALHO E
RENDA

BLOCOS E ÁREAS TEMÁTICAS O objetivo do segundo bloco de


perguntas é compreender como a população
O questionário aplicado tinha cinco LGBTI+ se coloca no mercado de trabalho
blocos de perguntas, que abordaram as e a sua faixa de remuneração. Para tanto,
seguintes temáticas: identidade, perfil buscou-se construir variáveis com os cuidado
sociodemográfico, educação, saúde, necessários, como é o caso das ocupações de
discriminação, mercado de trabalho e renda e, trabalho, que foram selecionadas de acordo
por fim, participação e compreensão política. com a Classificação Brasileira de Ocupações
As questões foram construídas de forma a (CBO) para, assim, possibilitar futuras pesquisas
apresentar fluidez e facilitar a compreensão dos comparativas com dados do Censo, da RAIS e
entrevistados, minimizando as possibilidades de outras pesquisas nacionais.
de exaustão, de erros em respostas e de
eventuais problemas metodológicos em geral.
12. Em muitas capitais das regiões Sul e Sudeste, por
Utilizou-se o Censo IBGE como exemplo, conseguimos preencher com facilidade as
base para a construção das questões para que cotas referentes a homens e mulheres cis e homossexuais.
outras pessoas pesquisadoras da temática Em contrapartida, cotas referentes à população trans
e travesti ficaram sub-representadas, principalmente
possam realizar estudos e buscar o diálogo
na região Norte do país. No Plano Amostral e na
para efeitos comparativos. Para as perguntas apresentação de dados da pesquisa, é possível acessar a
que dialogam com identidade de gênero e análise com detalhes.
sexualidade, utilizaram-se referenciais teóricos 13. Engloba o estado civil da pessoa respondente, se
que abordam a temática. mora ou já morou com cônjuge ou companheira/o/e, a
escolaridade dessa pessoa e, por fim, qual a natureza da
união, ou seja, união estável, civil e/ou religiosa.

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com retas verdes separando os subtópicos e é dividida em duas colunas. No topo da página temos
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centralizado o título da pesquisa em preto. No final da segunda coluna temos as notas de rodapé.
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BLOCO C - SAÚDE VALIDAÇÃO DOS DADOS

O objetivo do bloco referente à saúde Logo que a aplicação do questionário foi


é conhecer os processos de saúde-doença finalizada, sistematizou-se o banco de dados,
numa perspectiva ampliada, contemplando a excluindo questionários incompletos (menos de
saúde mental, sexual e reprodutiva das pessoas 50% preenchido) e as respostas com informações
LGBTI+. Assim, as perguntas abordam questões inconsistente15. Foram contabilizadas cerca de
relevantes sobre acesso aos serviços de saúde, 35 mil respostas e, após a validação dos dados,
frequência de consultas e exames, atendimento passamos a utilizar uma amostra de cerca de 15
especializado em saúde mental, prevenção mil respondentes.
e tratamento de infecções sexualmente Para área de Pesquisa e Desenvolvimento
transmissíveis. O presente bloco foi construído da TODXS, ainda restou a tarefa de sistematização
de acordo com a pesquisa do Departamento e análise qualitativa de questões abertas. Apesar
de Informática do Sistema Único de Saúde de esse processo ser bastante trabalhoso, para
(DATASUS). algumas perguntas optou-se por utilizar respostas
sem categorização analítica (abertas) por serem
mais ricas em termos de conteúdo. Os tópicos
BLOCO D - PARTICIPAÇÃO E que possuíam perguntas que permitiam a
COMPREENSÃO POLÍTICA participantes responderem usando suas próprias
palavras foram “Identidade étnico-racial”,
O bloco de participação e compreensão “Identidade de gênero”, “Orientação sexual”,
política visa a quantificar o envolvimento da “Religião”, “Domicílio” e “Deficiências”.
população LGBTI+ em espaços de poder e
decisão. Para tanto, questionou-se acerca de
filiação partidária, visão política, compreensão
e acompanhamento de políticas e projetos
voltados ou não à população LGBTI+ ou a
pautas sociais diversas. O presente bloco foi
construído majoritariamente de acordo com
a pesquisa “Latin American Public Opinion
Project” (LAPOP)14.

BLOCO E - DISCRIMINAÇÃO
14. O Latin American Public Opinion Project (LAPOP) é um
instituto de pesquisa especializado no desenvolvimento,
A discriminação por identidade de implementação e análise de pesquisas de opinião pública. Com
gênero e sexual foi um dos pontos de maior foco principal na governança e democracia na América Latina,
é a única pesquisa com rigor científico de opinião pública e
preocupação e especificidade desta pesquisa,
comportamento democrático que cobre as Américas do Norte,
portanto, tal bloco de perguntas abordou Central, do Sul e vários países do Caribe.
questões sobre a discriminação em diversos
segmentos sociais de apoio e convivência, 15. Dados que não são compatíveis ou que não se enquadram
como escola, trabalho, serviços públicos, nas categorizações possíveis da pergunta, por exemplo as

espaços de lazer, entre outros. respostas “a, J, amor, d, bj” referentes a religião, entre outras
variações.

Descrição de página: Esta página possui a continuação da metodologia com fundo branco, letras pretas,
com retas verdes separando os subtópicos e é dividida em duas colunas. No topo da página temos
24
centralizado o título da pesquisa em preto. No final da segunda coluna temos as notas de rodapé.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

RELATÓRIO DA PESQUISA NACIONAL

Após o fechamento das etapas anteriores


de coleta dos dados sobre a população LGBTI+
no Brasil, este grupo de trabalho conduziu a
elaboração deste Relatório. Para isso, efetuou
uma revisão bibliográfica minuciosa e exaustiva
sobre estudos pertinentes à temática LGBTI+ e
suas interseccionalidades, que serviu para
estabelecer conexões com os dados aqui obtidos.
É importante ressaltar que a pesquisa
tem caráter amostral, portanto, não representa
de forma absoluta a realidade da população
LGBTI+. Contudo, é capaz de fornecer um
panorama do perfil dessa população, a partir
de dados que, anteriormente, não existiam de
forma sistemática e com rigor metodológico.

Descrição de página: Esta página possui a continuação da metodologia com fundo branco,
letras pretas com o texto em uma parte da primeira coluna. Na lateral da página temos um
25
desenho de forma abstrata nas cores preto, cinza e azul claro.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

RESULTADOS E
DISCUSSÕES

Descrição de página: Esta página possui fundo roxo, título em branco escrito na vertical de
baixo para cima no canto direito e um desenho de forma abstrata nas corez azul claro e preto.
26
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

"Não se cria igualdade por Lei, ainda “Universalidade: É a garantia de atenção


que não se consolide a igualdade sem à saúde por parte do sistema, a todo e
Lei." (FLEURY, 1997.) qualquer cidadão. Com a universalidade,
o indivíduo passa a ter direito de acesso a
A Constituição Federal de 1988 trouxe todos os serviços públicos de saúde, assim
mudanças significativas para o campo das como àqueles contratados pelo poder
políticas de saúde no Brasil uma vez que, a público. Saúde é direito de cidadania e
partir de sua promulgação, o acesso à saúde dever do Governo: municipal, estadual
foi elevado para a condição de direito social e federal.
fundamental, assegurado pelo Estado a todos
os cidadãos brasileiros (VIACAVA et al., 2018). Integralidade: É o reconhecimento na
prática dos serviços de que:
• cada pessoa é um todo indivisível e
A ESTRUTURA DO SISTEMA ÚNICO DE integrante de uma comunidade;
SAÚDE • as ações de promoção, proteção e
recuperação da saúde formam também
Ainda em relação às transformações um todo indivisível e não podem ser
do setor de saúde decorrentes da Constituição compartimentalizadas;
de 1988, através Lei 8.080/1990 foi instituído • as unidades prestadoras de serviço, com
o Sistema Único de Saúde (SUS) (SUS..., 2019), seus diversos graus de complexidade,
abrangendo desde procedimentos simples, por formam também um todo indivisível
meio da Atenção Primária, até tratamentos de configurando um sistema capaz de prestar
alta complexidade, garantindo acesso integral, assistência integral.
universal e gratuito para toda a população
brasileira (BRASIL, [s.d.]). Nessa Lei foram Enfim: “O homem é um ser integral,
definidos os princípios e diretrizes que norteiam biopsicossocial, e deverá ser atendido
o setor de saúde no Brasil, itens essenciais com esta visão integral por um sistema
para o atingimento dos objetivos propostos de saúde também integral, voltado a
na Constituição de 1988, e que podem ser promover, proteger e recuperar sua
agrupados em duas categorias: Princípios saúde.”
Doutrinários e Princípios Organizativos (BRASIL,
1990). Equidade: É assegurar ações e serviços
de todos os níveis de acordo com a
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS complexidade que cada caso requeira,
more o cidadão onde morar, sem
Conjunto de conceitos e valores que privilégios e sem barreiras. Todo cidadão
formam a base para o funcionamento SUS. é igual perante o SUS e será atendido
São considerados doutrinas porque pressupõe conforme suas necessidades até o limite
que esse conjunto representa o único modo de do que o sistema puder oferecer para
compreensão do sistema de saúde (MATTA, todos.” (BRASIL, 1990)
2007).

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS ligado a aspectos subjetivos, sociais e culturais


(ASSIS; DE JESUS, 2012).
Diferente dos princípios doutrinários, Entender quais são os caminhos
que estabelecem o arcabouço filosófico percorridos por diferentes grupos na busca
para o estabelecimento do SUS, esses por tratamento de saúde e compará-los é uma
representam os conceitos que dão norte para das formas de tentar compreender o acesso à
elaboração de estratégias, a organização e saúde e de formular estratégias para alcançar
operacionalização do sistema (MATTA, 2007), os objetivos constitucionais referentes à
são eles: Regionalização e Hierarquização, promoção de acesso universal ao sistema de
Descentralização, Resolubilidade, Participação saúde.
Social Complementariedade do Setor Privado
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990). AUTOAVALIAÇÃO E SAÚDE GERAL
Apesar das conquistas recentes, existe
uma grande distância entre a realidade e o que A autoavaliação do estado de saúde
está prometido na Constituição de 1988 e a não é um indicador mensurado através de
na Lei do SUS, e, ainda que existam avanços protocolos ou valores exatos de medição de
ao longo das mais de três décadas desde sua saúde física, mas sim um instrumento importante
implementação, o que se observa na prática são de avaliação da percepção de saúde de cada
experiências de acesso desigual e excludente pessoa (PAVÃO; WERNECK; CAMPOS, 2013).
ao Sistema Único de Saúde (SUS) (ASSIS; DE É um indicador subjetivo que
JESUS, 2012). engloba aspectos físicos, emocionais e
Segundo de Andrade e Minayo (2012), sociodemográficos com relação à percepção
em relação a acessibilidade aos serviços de individual da saúde geral, numa perspectiva
saúde, “As mais diversas pesquisas ressaltam ampliada de saúde enquanto bem-estar e
importantes etapas percorridas nessa direção, satisfação com a vida (PAVÃO; WERNECK;
mas mostram também que a acessibilidade CAMPOS, 2013). Esse indicador pode ser
constitui um ideal e uma utopia, uma vez que avaliado a partir de enfermidades que as
inúmeros obstáculos e problemas ainda se pessoas possam ter, mas o foco não é mensurar
interpõem à realidade de um SUS prometido a presença ou ausência de enfermidades, e sim
pela Constituição de 1988 e que a sociedade fazer uma avaliação geral da qualidade de vida
brasileira deseja e merece”. das pessoas.
A avaliação do acesso aos serviços de Assim, é uma questão avaliada de
saúde não é tarefa simples pois são muitos os forma subjetiva e que é mensurada em cinco
fatores que atravessam a análise, devendo- níveis: muito ruim; ruim; regular; bom; e muito
se levar em consideração aspectos políticos, bom.
econômicos, sociais, organizativos, técnicos e Na Pesquisa Nacional por Amostra
simbólicos para sua mensuração. Além disso, a Domiciliar (PNAD) de 2019, com a população
disponibilidade e a acessibilidade dos serviços, em geral, 66,1% das pessoas avaliaram a saúde
no que diz respeito aos custos diretos e indiretos como boa ou muito boa, 28,1% como regular
envolvidos e a capacidade de pagamento do e 5,8% como ruim ou muito ruim (IBGE, 2020).
usuário, bem como a sua aceitabilidade por
uma determinada população, aqui diretamente

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Com relação à população LGBTI+, relacionada às questões de enfermidades,


nossa pesquisa apontou que 56,81% das marcadores sociodemográficos e identitários
pessoas auto avaliaram seu estado de saúde acabam sendo fatores no que diz respeito à
como bom ou muito bom, sendo praticamente avaliação da saúde global.
10 pontos percentuais a menos do que os Dessa maneira, a literatura que aponta
indicadores da saúde em geral. Por outro lado, para questões e demandas específicas da
avaliação como ruim ou muito ruim 11,17%, população LGBTI+ com relação ao acesso
significando quase 6 pontos percentuais a mais aos serviços de saúde mostra insuficiência das
do que a população em geral. Como regular, políticas de atenção integral à saúde dessas
houve 32,03% das respostas, sendo 4 pontos pessoas (CARDOSO; FERRO, 2012). Esses
percentuais a mais do que a população em estudos apontam que, além da insuficiência
geral. Estas informações podem ser visualizadas das políticas públicas de saúde, a população
no gráfico 1 a seguir. LGBTI+ ainda enfrenta situações relacionadas
à discriminação e LGBTI+fobia nos serviços, o
Gráfico 1. De modo geral, como você considera que configura, explicitamente, uma privação no
o seu próprio estado de saúde nos últimos 12 acesso ao direito à saúde (CARDOSO; FERRO,
meses? 2012).
38,69% Para além do acesso aos serviços
32,03%
de saúde, que será discutido mais a frente,
os processos de exclusão, marginalização
18,12%
e discriminação com base em gênero e/ou
9,17% orientação sexual provocam impactos no
2% cotidiano das pessoas em diversos âmbitos:
Muito ruim Ruim Regular Bom Muito bom
trabalho, educação, lazer, mobilidade urbana
Gráfico de barras de porcentagem sobre o próprio estado de e outros (AMBROSIO, 2020). Nesse sentido,
saúde dos respondentes nos últimos 12 meses, mostrando
estudos apontam que, principalmente no que
que 2% consideram como muito ruim, 9,17% consideram ruim,
32,03% consideram regular, 38,69% consideram bom e 18,12% tange à saúde mental, a população LGBTI+ tem
consideram muito bom.
apresentado questões de saúde significativas
O teste T de Welch, uma estratégia em decorrência de processos de discriminação
estatística para determinar se dois grupos são e exclusão (HATZENBUEHLER et al., 2010).
distintos, aponta um valor p de 0,09516 para a Uma vez que o indicador de
análise entre a população geral e a população autopercepção do estado de saúde engloba
LGBTI+ respondente desta pesquisa. Este valor questões sociais, os fatores relacionados à
p indica uma análise inconclusiva, mas com discriminação e exclusão em decorrência de
fortes indícios de que as diferenças são, de gênero e/ou sexualidade podem ser relevantes
fato, substanciais. para a diferença apresentada nos resultados
Considerando que a autopercepção dessa Pesquisa com relação à população em
do estado de saúde não está necessariamente geral.

16. Em estatística, o valor p, ou valor alpha em determinados contextos, é a probabilidade de nos depararmos com dados semelhantes
aos que temos caso a nossa hipótese fosse incorreta, a probabilidade da chamada Hipótese Nula. Em geral, define-se que valores p
abaixo de 0,05, ou seja, hipótese nula com 5% de probabilidade de estar correta, apontam para a relevância do fenômeno em estudo.

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA Estas informações podem ser visualizadas no


gráfico 2 a seguir.
A prática de atividades físicas é
considerado um elemento de promoção e Gráfico 2. No último mês, com que frequência

prevenção da saúde e, portanto, pode estar você praticou exercícios físicos ou esporte?

associada às percepções de saúde de maneira 44,33%

geral (BRASIL, 2019). Na Pesquisa Nacional de


Saúde (PNS) de 2019, a prática de atividade
física foi avaliada a partir de uma média de
17,77%
horas de prática e foi aferida tanto no âmbito 15,35%
9,91%
do lazer, quanto nas atividades físicas realizadas 9,11%
3,53%

no trabalho e nos processos de deslocamento Não pratiquei Menos de 1 vez Apenas 1 vez por De 2 a 3 vezes 4 a 5 vezes 6 ou mais vezes
por semana semana por semana por semana por semana
urbano (BRASIL, 2019).
Gráfico de barras de porcentagem retratando a frequência
Segundo a PNS, a média brasileira das da prática de exercícios físicos ou esportes no último mês,
onde 44,33% das pessoas respondentes informaram que não
pessoas que praticam níveis recomendados de praticaram, 15,35% praticaram exercícios menos de uma vez na
atividade física é de 30% da população, sendo semana, 9,11% apenas uma vez por semana, 17,77% de duas
a três vezes por semanas, 9,91% de quatro a cinco vezes por
que entre os homens essa média sobe para semana e 3,53% seis ou mais vezes por semana.
34% e entre as mulheres é de 26,4% (BRASIL,
2019). ACESSO E USO DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Já com relação às pessoas que foram
consideradas insuficientemente ativas, a média Hospitais (públicos e privados) são
da população foi de 40,3%, sendo que entre as os estabelecimentos mais buscados pela
mulheres esse percentual foi maior, com 47,5% população LGBTI+ quando precisam de
e entre os homens com 32,1% (BRASIL, 2019). atendimento de saúde (de acordo com 33,9%
Para a nossa amostra, considerando o das pessoas respondentes), seguido por
proposto pela PNS, poderíamos considerar que consultórios e clínicas da rede privada (22,4%),
são insuficientemente ativas pessoas que não UPAs (19,7%), UBS (13,8%) e Farmácias (4,3%).
praticam atividades físicas (44,33%), pessoas Para efeitos comparativos, de acordo com a
que praticam atividade física menos de uma Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019,
vez por semana (15,35%) e as pessoas que UBS são os principais locais onde a população
praticam atividade física apenas uma vez por brasileira costuma buscar atendimento médico
semana (9,11%). Assim, a porcentagem de com recorrência (de acordo com 46,8% das
pessoas insuficientemente ativas na população pessoas), seguido por consultórios e clínicas da
LGBTI+ seria de aproximadamente 68,7%, rede privada (22,9%, resultado muito próximo
representando um aumento significativo com ao observado nesta Pesquisa Nacional), UPAs/
relação à população em geral. pronto socorro/emergência de hospitais públicos
E poderíamos considerar como pessoas (14,1%), centro de especialidades/policlínica
suficientemente ativas as pessoas que praticam pública/ambulatório de hospital público (8,9%),
atividade física de duas a três vezes por semana pronto atendimento e emergências em hospitais
(17,77%), as pessoas que praticam atividades privados (4,4%) e Farmácias (2,3%).
físicas de quatro a cinco vezes por semana Chama a atenção nos resultados da
(9,91%) e as pessoas que praticam atividades pesquisa e é interessante observar a baixa
físicas seis ou mais vezes por semana (3,53%). adesão da população LGBTI+ aos Centros de

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Referência para ISTs e Centros de Referência saúde (individuais e coletivas), que abrangem,
Identitário, 1,05% e 0,88% respectivamente. entre outros, o diagnóstico, o tratamento, a
Muitos fatores podem explicar esse resultado reabilitação, a redução de danos e a manutenção
e hipóteses como o número de centros de da saúde (BRASIL, 2011, artigo 6º).
referência pelo país, a oferta limitada de No segundo nível de atenção é onde
especialidade, a falta de informação a respeito encontramos os Centros de Especialidades
de sua existência e dos tratamentos ofertados Médicas e outros serviços especializados em
e outras, que precisariam ser levantadas e determinadas especialidades clínicas. No terceiro
investigadas para a melhor compreensão do nível, o de maior complexidade, encontramos
cenário. Os dados sobre o acesso e uso de hospitais, UPAs e centros super especializados
serviços de saúde pela população LGBTI+ e super tecnológicos (BRASIL, 2010). A partir do
estão condensados de forma gráfica a seguir, que se prevê a RAS, as pessoas deveriam acessar
no gráfico 3. os níveis de atenção à saúde a partir do primeiro
e, apenas em caso de necessidade, acessar os
Gráfico 3. Quando você está doente ou demais com encaminhamento.
precisando de atendimento de saúde, costuma Contrariando a lógica sob a qual a RAS está
procurar: organizada, a maioria de respondentes, 33,9%,
ONG’s 0,05% quando questionades sobre estabelecimentos
0,14%
Centros Referência Identitário
Centros Referência DST
que procuram ao ficarem doentes indicaram os
0,88%
Atendimento domiciliar 1,05% hospitais (públicos e privados) apontando uma
Farmária 4,33% procura hospitalocêntrica de nível altamente
13,75%
UBS (Posto de Saúde)
especializado. Em contrapartida, apenas 13,8%
UPA (Pronto Socorro) 19,68%
Consultório Particular 22,37%
dos respondentes procuram a UBS quando
Hospital 33,35% doentes, ficando ainda depois de consultórios
Nenhuma das opções 3,91% e clínicas da rede privada (22,4%), e UPAs (19,7%),
Gráfico de barras de porcentagem sobre o tipo de atendimento indicando que a busca por atenção à saúde,
de saúde que costumam procurar quando estão doentes, onde
0,05% recorrem a ONGs (instituições da sociedade civil), 0,14% a na verdade, inverte a lógica de organização do
Centros de Referência Identitária, 0,88% a Centros de Referência
em DST, 1,05% a atendimento domiciliar, 4,33% a farmácias, sistema. Isso pode apontar para uma falta de
13,75% a UBS (postos de saúde), 19,68% a UPA (pronto-socorros),
22,37% a consultórios particulares, 33,85% a hospitais e 3,91% conhecimento sobre o funcionamento da RAS.
não recorrem a nenhuma das opções anteriormente mencionadas.
Quando a procura por um determinado serviço
Vale reforçar que para as Redes de é feita num local inadequado há grande chance
Atenção à Saúde (RAS), instituídas pela Portaria de insatisfação, não resolução da demanda e
nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010, a Atenção percepção de não adequação do serviço como
em Saúde deve ser feita de acordo com os 3 um todo.
níveis de complexidade: a Atenção Primária em
Saúde (APS); a Atenção Secundária; e, a Atenção INTERSECCIONALIDADE NO ACESSO AO
Terciária (BRASIL, 2014). A APS é nível básico SISTEMA DE SAÚDE PRIVADO
e mais abrangente, com caráter comunitário e
territorial dentro do SUS. A UBS, um dos serviços As desigualdades e diversidades
da APS, é considerada uma das localidades de presentes na população LGBTI+ no Brasil são
referência dentro da RAS, e é entendida como essenciais para a compreensão de questões
a porta de entrada do sistema, pois está dentro como as possibilidades de acesso aos sistemas
do nível de menor complexidade. Ela também de saúde. Seria superficial não levar essas
é encarregada de um conjunto de ações de

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

questões em consideração nestas análises. Nesse SAÚDE MENTAL


sentido, observa-se que, ao dividir a amostra
por pertencimento racial, o acesso a planos de Evidências sugerem que os fatores de
saúde apresenta desigualdades. A população risco social para muitos transtornos mentais
branca e amarela possui mais acesso a planos de comuns, como ansiedade e depressão, estão
saúde, sendo a população branca a com maior fortemente associados às desigualdades sociais,
proporção e maior número bruto de pessoas de forma que quanto maior é a desigualdade,
com plano de saúde privado. Já a população maior é o risco (ALLEN et al., 2014). Além disso,
preta é a que possui tanto menor proporção o impacto destes determinantes sociais na saúde
quanto menor número bruto de pessoas LGBTI+ mental pode ser acumulativo, aumentando a
de pessoas com acesso a planos de saúde da gravidade e incidência dos transtornos (PAHO,
rede privada. Uma análise de variância (ANOVA), 2018).
teste estatístico para avaliar se diferenças entre A população mais pobre, por exemplo,
vários grupos são significativas, aponta que as sofre de maneira desproporcional com transtornos
diferenças de acesso à rede privada de saúde mentais comuns (PATEL; KLEINMAN, 2003).
são de fato significativamente diferentes entre os Sendo assim, é comum que as populações
diferentes grupos raciais (p < 0,001)17. O acesso que compõem minorias tenham sua saúde
ao sistema de saúde privado a partir da categoria mental afetada em função, principalmente,
raça pode ser visualizado nos gráficos a seguir da discriminação e preconceito. Desta forma,
(gráficos 4 e 5). levando em consideração a população
LGBTI+, é comum que haja maior incidência
Gráfico 4. Você possui plano de saúde privado? de comportamento suicida (SANTOS, 2019), já
Análise por identidade racial, valores proporcionais. que é uma das populações que compõem o que
100

75
Não a OMS considera como grupo de risco para o
50 suicídio (WHO, 2019). Essa classificação se deve
Sim
25

0
ao fato de apresentarem de 3 a 7 vezes mais
Amarela Branca Indígena Parda Preta
chances de cometer este ato (HOBBES, 2017;
Gráfico de barras da relação entre o acesso ao sistema de saúde SCHUMANN; MARTINI, 2016; CARVALHO et
privado e a distribuição racial. Os dados são apresentados na
tabela a seguir. al., 2019), além de menores níveis de bem-estar
Plano de Amarela Branca Indígena Parda Preta junto com maior incidência de psicopatologias
saúde (Oriental)

Não 40,4% 37,7% 53,7% 52,1% 56% (PAVELTCHUK, 2019), se comparada com a
Sim 59,6% 62,3% 46,3% 47,9% 44% população heterossexual.
Gráfico 5: Você possui plano de saúde privado? Um exemplo do impacto de discriminação
Análise por identidade racial, valores absolutos institucional foi demonstrado num estudo feito
nos Estados Unidos, onde foi comparada a
4000
relação entre viver em estados que instituíram
3000

Sim
banimento do casamento com pessoas do
2000
Não
Não
mesmo sexo e a prevalência de comorbidades
1000 Sim
Não
Sim Não Sim Sim
0 Não
Amarela Branca Indígena Parda Preta

Gráfico de barras da relação entre o acesso ao sistema de saúde


privado e a distribuição racial. Os dados são apresentados na 17. Na ANOVA em questão, o valor p indica qual a probabilidade
tabela a seguir. dessas diferenças de acesso à rede privada de saúde entre
Plano de Amarela Branca Indígena Parda Preta as raças acontecer se, na verdade, não houvesse diferenças
saúde (Oriental)
significativas e estivéssemos diante do acaso.
Não 72 2788 80 2362 1206
Sim 106 4616 69 2169 947

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

psiquiátricas na população LGB, durante as Entre as pessoas participantes da


eleições de 2004 e 2005 (HATZENBUEHLER et amostra que responderam ter algum tipo de
al., 2010). Como resultado, observaram aumento transtorno de saúde mental, os transtornos
de quase 250% no transtorno de ansiedade mais prevalentes foram depressão (39,46%) e
generalizada da população LGB nos estados ansiedade (32,33%), ocorrendo isoladamente
mais conservadores do país, que foi onde ocorreu ou ao mesmo tempo em vários indivíduos.
o banimento do casamento entre pessoas Entretanto, apesar de apresentar números
do mesmo sexo, enquanto que a população maiores, não é possível afirmar que a amostra
heterossexual continuou com os mesmos índices aqui presente é desproporcional em relação
de comorbidades psiquiátricas anteriores ao à população geral, já que é baseada em
banimento. Outros fatores associados com a autodiagnóstico, uma vez que não seria
incidência de transtornos mentais são baixa renda possível pedir um comprovante do diagnóstico
familiar, baixo nível de escolaridade, desemprego, a cada uma das pessoas que responderam
condições de trabalho e gênero – já que homens ao questionário que originou este estudo.
cis usualmente apresentam menor incidência de Outros transtornos menos frequentes foram:
transtornos mentais comuns, se comparados a transtornos alimentares (8,79%), bipolaridade
mulheres cis (KARSTEN; KALUS, 2009; FRYERS (6,66%), Transtorno de Estresse Pós-Traumático
et al., 2005; SEEDAT et al., 2009; PAHO, [2018]). (4,41%) e abuso de substâncias (3,68%)18. Uma
visualização da prevalência de transtornos de
PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS DE saúde mental na amostra da população LGBTI+
SAÚDE MENTAL pode ser conferida a seguir, no gráfico 7.

Segundo um estudo da OMS (WHO, Gráfico 7. Quais transtornos de saúde mental

2017), o Brasil foi o país que apresentou os maiores você possui?


33,46%
32,33%
índices de depressão (5,8%) e ansiedade (9,3%)
no mundo. Na presente pesquisa, 29,86% da
população reportou ter algum tipo de transtorno.
A prevalência de transtornos de saúde mental 6,66%
8,79%
4,41% 4,68%
em nossa amostra da população LGBTI+ pode 3,68%

ser visualizada a seguir, no gráfico 6. Absuso de


substâncias
TEPT Outros Bipolaridade Transtorno
alimentar
Depressão Ansiedade

Gráfico de barras de porcentagem de respondentes que têm

Gráfico 6. Você possui algum transtorno de


transtornos, mostrando que 39,46% têm ansiedade, 8,79%
depressão, 6,66% transtorno alimentar, 4,41% bipolaridade,
saúde mental? 3,68% Transtorno de Estresse Pós-Traumático, 2,98% abuso de
substâncias e 1,7% indicaram outros transtornos.
66,66%

Quando a amostra é dividida entre


pessoas empregades e desempregades, os
29,86%
índices de transtornos mentais são distintos,
com maior prevalência de transtornos entre as
3,48% pessoas desempregades (35% frente a 26,7%
Não Não respondeu Sim

Gráfico de barras de porcentagem de respondentes que têm 18. Neste caso, são os transtornos relacionados ao uso de
transtornos, mostrando que 66,66% não têm transtornos, 29,86% substâncias as classificações encontradas na 5ª edição do Manual
têm e 3,48% das pessoas entrevistadas não responderam.
Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais, que estão sendo
avaliados como diagnóstico.

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na população empregada). Esta diferença Gráfico 9. Você possui algum transtorno mental?

pode refletir a carga mental que se acumula Análise por faixa de renda.
a partir da insegurança financeira das pessoas
participantes desempregadas. Um Teste T de
Welch revela que a diferença de prevalência
de transtornos é bastante significativa entre 4000

empregades e desempregades (p < 0,001).


Não Sim
As diferenças de prevalência de transtornos
de saúde mental entre pessoas LGBTI+ 2000

empregades e desempregades pode ser


visualizada a seguir, no gráfico 8.
0
0-500 501-1100 1101-2000 2001-4000 4001-7000 7001-10000 10001 ou mais

Gráfico 8. Você possui algum transtorno


mental? Análise por população empregada e Gráfico de barras da relação entre o acesso ao sistema de saúde
privado e a distribuição racial. Os dados são apresentados na
desempregada. tabela a seguir.
Trans-tor- 0a 501 a 1101 2001 4001 7001 10001
nos 500 1100 a a a a ou
2000 4000 7000 10000 mais

Não 5619 933 1222 1221 622 286 303

Sim 2886 460 475 391 250 83 71

Ao dividir a amostra por raça, nota-se


que a maior parte das pessoas que afirmam
ter algum transtorno são brancas, o que não
corrobora os apontamentos iniciais de que
minorias apresentam maior prevalência de
Gráfico de barras de porcentagem de respondentes empregades transtornos psiquiátricos comuns. As diferenças
e desempregades que possuem transtornos, onde 65% das
pessoas desempregades não têm e 35% declararam ter, enquanto entre a prevalência de transtornos entre os
entre as pessoas empregades, 73,3% não têm transtornos e
26,7% têm.
grupos raciais são, inclusive, estatisticamente
significativas (ANOVA com p < 0,01). Estas
Ao dividir a população entre as distintas informações estão apresentadas graficamente
faixas de renda, também se observam distintos a seguir, no gráfico 10.
padrões. A amostra de pessoas com renda
até 2000 reais é composta majoritariamente Gráfico 10. Você possui algum transtorno
por pessoas que relatam transtornos mentais, mental? Análise por identidade racial

enquanto os níveis de renda superiores são 100%

compostos majoritariamente por pessoas que 75%

Não Não Não Não Não

não relatam transtornos mentais. Uma análise 50%

de variância (ANOVA) aponta que as diferenças 25%


Sim Sim Sim Sim Sim

em prevalência de transtornos nas distintas 0%


Amarela Branca Indígena Parda Preta

faixas de renda são bastante significativas (p <


Gráfico de barras da relação entre a presença e ausência de
0,001). Estas informações estão condensadas
transtornos por raça. Os dados são apresentados na tabela a
graficamente a seguir, no gráfico 9. seguir.

Transtor- Amarela Branca Indígena Parda Preta


nos (Oriental)

Não 64,8% 65,5% 70,3% 73,4% 72,5%


Sim 35,2% 34,5% 29,7% 26,6% 25,5%

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Quanto ao acesso a serviços de sobre o seu funcionamento (ASSIS & JESUS,


saúde e processos diagnósticos infere-se que 2012).
pessoas brancas e pessoas amarelas são mais Como já vimos anteriormente, a
diagnosticades por conta de maior acesso maioria das pessoas procura diretamente
à serviços da área da saúde mental na área por uma atenção especializada em hospitais
privada. Como já demonstrado anteriormente, ou clínicas. A UBS, que já apontamos que é
mais de 60% de respondentes que se pouco acessada pela população, também
identificam como pessoas brancas possuem é considerada a porta de entrada da RAPS,
plano de saúde, sendo a maior porcentagem, principalmente por suas características mais
enquanto pessoas pretas representam a menor abrangentes e integrais de cuidado. Por isso,
porcentagem, cerca de 40%. Essas diferenças, é importante frisar novamente a importância
entretanto, precisam ser melhor analisadas. do conhecimento sobre as formas de acesso
Existem alguns fatores modulando este padrão: à saúde e que, a procura de serviços de forma
i) o número de pessoas que responderam à inadequada pode levar a frustração nas formas
pesquisa não é igual, ou comparável, para de atendimento.
todas as raças/etnias, pois temos mais de 7600 Quanto ao acesso a serviços de
respondentes brancas e 6980 respondentes saúde e processos diagnósticos infere-se que
pardas ou negras, mas apenas 181 amarelas pessoas brancas e pessoas amarelas são mais
e 153 indígenas; ii) as pessoas que mais diagnosticades por conta de maior acesso
frequentemente buscam auxílio são brancas, em à serviços da área da saúde mental na área
comparação com pardas e negras, o que pode privada. De acordo com o gráfico “Plano de
aumentar a incidência do reconhecimento de saúde e distribuição racial” mais de 60% de
alguns transtornos, bem como seu diagnóstico respondentes que se identificam como pessoas
por um profissional especializado; iii) as pessoas brancas possuem plano de saúde, sendo a
que mais reportaram buscar auxílio médico maior porcentagem, enquanto pessoas pretas
ou psicológico por serem LGBTI+ são as que representam a menor porcentagem, cerca de
possuem maior nível educacional e, estas, são 40%.
mais frequentemente brancas19.
Da mesma forma que a RAS, a Rede BUSCA POR AUXILIO PSICOLÓGICO POR
de Atenção Psicossocial (RAPS), instituída pela SER LGBTI+
Portaria nº 3.088/2011, também é um sistema
de organização pautada nos três níveis de A maior parte dos respondentes da
atenção, que tem como objetivo criar, articular pesquisa afirmaram que não precisam de
e ampliar pontos de atenção à saúde para auxílio médico ou psicológico por serem
pessoas com sofrimento ou transtorno mental LGBTI+ (46,37%), sendo que 23,65% já utiliza
e com necessidades decorrentes do uso de ou utilizou estes serviços, 12,87% não tem
crack, álcool e outras drogas, no âmbito do dinheiro para contratar estes serviços, 6,8%
SUS (BRASIL, 2011). Assim como o SUS num não sabem onde encontrar estes serviços,
todo, a RAPS apresenta desafios quanto à 5,58% não tem coragem de procurar por estes
acessibilidade e o conhecimento da população serviços e 2,59% não confiam em médicos
e psicólogos para estes serviços. Essas
19. Maiores informações sobre a busca por auxílio psicológico informações estão apresentadas graficamente
e níveis de escolaridade podem ser conferidas na seção “Dados a seguir, no gráfico 11.
Complementares”.

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centralizado o título da pesquisa em preto.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Gráfico 11. Você já buscou auxílio médico ou IST E MÉTODOS DE PREVENÇÃO


psicológico por ser LGBTI+? 46,37%
Durante muitos anos o estigma do HIV
fez com que a discussão sobre ISTs fosse um
23,65%
tabu para a comunidade LGBTI+. Inicialmente
12,87% identificada entre homens gays no começo
5,58% 6,8%
2,14% 2,59% dos anos de 1980, a Aids foi associada à
NR Não confio Não tenho
coragem
Não sei
onde
encontrar
Sem
dinheiro
Já utilizei Não preciso
homossexualidade, sendo assim chamada de
Gráfico de barras de porcentagem sobre a busca de auxílio “peste gay” e “câncer gay” pela imprensa e
médico ou psicológico por ser LGBTI+, onde 46,37% dos
respondentes não precisam, 23,65% utilizam ou já utilizaram,
demais setores conservadores da sociedade.
12,87% não têm dinheiro, 6,8% não sabem onde encontrar, 5,58% Não à toa, o termo “grupo de risco” foi utilizado
não têm coragem, 2,59% não confiam e 2,14% não responderam.
na época para designar homens gays, mulheres
Há importantes diferenças raciais quanto transexuais e travestis, contribuindo à falsa
à busca por esse auxílio médico ou psicológico. ideia de que somente esses indivíduos seriam
As pessoas autodeclaradas indígenas, pardas passíveis de se infectar, além de promover o
e pretas são as que menos se utilizam desses estigma e a marginalização desses sujeitos.
serviços, e as que mais relatam que “não teriam Hoje em dia, embora tal nomenclatura
coragem”. Ao contrastarmos esta informação não seja mais adotada pelos órgãos de saúde
com a também desigual distribuição do acesso e muito se tenha avançado em termos de
à rede privada de saúde, torna-se preocupante políticas públicas para tratamento e prevenção
que a população que mais depende do SUS é do HIV e outras ISTs, ainda persistem o estigma,
também aquela com maior grau de insegurança a discriminação e a desinformação quando
para buscar auxílio médico e psicológico se fala de ISTs e população LGBTI+. Daí a
por serem LGBTI+. O detalhamento dessas necessidade de discutir este tema com dados
diferenças raciais pode ser visualizado no fundamentados, procurando compreender
gráfico a seguir, no gráfico 12. as interseccionalidades que perpassam a
população LGBTI+ e a partir disso pautar
Gráfico 12. Você já buscou auxílio médico políticas de saúde especificamente pensadas
ou psicológico por ser LGBTI+? Análise por para a comunidade.
identidade racial
100%
USO DE PRESERVATIVO E OUTROS
MÉTODOS DE PREVENÇÃO
75%

50%

25% Quase metade das pessoas que


0% participaram da pesquisa nunca ou raramente
Amarela Branca Indígena Parda Preta
Não poderia pagar Não utilizo/utilizei auxílio Eu não teria coragem utilizam preservativos ou métodos de proteção
Eu não sei aonde encontrar ajuda Eu não preciso de auxílio Eu não confio
contra ISTs. Apesar de perguntarmos no início
Gráfico de barras sobre a busca de auxílio psicológico e o do questionário sobre o estado civil de cada
pertencimento racial. Os dados são apresentados na tabela a seguir.
pessoa, não temos informações a respeito dessas
Auxílio psicológi-co
Amarela Branca Indígena Parda Preta
(Oriental)
pessoas estarem em um relacionamento ou
Eu não confio nos
2,2% 2,6% 2% 2,7% 2,7%
serviços

Eu não preciso de auxílio


41,1% 46,2% 52,7% 49,3% 47,9%
não. Dessa maneira, é possível que parte desse
Eu não sei aonde encon-

trar ajuda
8,3% 5,8% 8,7% 7,9% 8,7% grupo seja de pessoas que têm um parceiro fixo
Eu não teria coragem
5,5% 5% 8% 6,6% 6% e se sentem menos expostas às ISTs.
Eu utilizo / utilizei
28,9% 28,4% 16,7% 20,1% 18,2%
auxílio médico

Eu não poderia pagar


13,9% 11,9% 12% 13,5% 16,6%

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centralizado o título da pesquisa em preto.
pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Ainda assim, esses valores são melhores


do que a média nacional. Ao compararmos os
resultados da pesquisa da TODXS com os da
Pesquisa Nacional de Saúde 2019, realizada
pelo IBGE, temos que 59,0% da população
brasileira nunca utilizou preservativos nos
últimos 12 meses contra 41,9% entre pessoas
LGBTI+. Quando comparamos as pessoas que
utilizaram métodos em todas as relações, a
média brasileira apresentada no PNS 2019 é
22,8% contra 25,2% para a população LGBTI+.
As informações sobre o uso do preservativo
ou outros métodos de transmissão contra ISTs
podem ser visualizadas a seguir, no gráfico 13.

Gráfico 13. Nos últimos 12 meses, com que

frequência você utilizou preservativos ou

métodos de proteção contra IST (Infecção Ao observarmos o uso do preservativo


Sexualmente Transmissível)? ou outros métodos de prevenção entre as
41,9% diferentes identidades de gênero presentes
25,2% na amostra, chama a atenção que as pessoas
15,3%
9,6% que nunca utilizam preservativos ou métodos
8%
de proteção são, em primeiro lugar, mulheres
Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
cisgênero (64,18%) e em segundo homens
Gráfico de barras de porcentagem sobre a frequência da
transexuais (45,86%), sendo que ambos os
utilização de preservativos ou métodos de proteção contra IST
(Infecção Sexualmente Transmissível). Dos respondentes, 41,9% grupos são compostos por indivíduos com vulva.
nunca utilizou, 8% utilizou raramente, 9,6% utilizou às vezes,
15,3% muitas vezes utilizou e 25,2% sempre utilizou.
Possivelmente, a baixa adesão aos métodos de
proteção nestes grupos está relacionada à falta
de dispositivos especificamente pensados para
o sexo entre pessoas com vulva, o que aponta
também para os desafios no cuidado à população
LGBT. O detalhamento desta informação está
apresentado em tabela, que pode ser vista a
seguir.

Tabela 1: Identidade e frequência na utilização de preservativos ou métodos de proteção de IST

Homem Homem Mulher Mulher Pessoa não


Travesti
cisgênero transexual cisgênero transexual binária
Nunca 19,9% 45,86% 64,18% 39,39% 44,08% 30%
Raramente 8,13% 12,1% 7,5% 10,3% 9,63% 3,33%
Às vezes 13,2% 7,64% 6,27% 7,27% 8% 13,33%
Muitas vezes 24,21% 7,96% 7,1% 11,52% 13,46% 20%
Sempre 34,55% 26,43% 14,95% 31,52% 24,83% 33,33%

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Hoje o que há disponível para a proteção Gráfico 14. Nos últimos 12 meses, com que

contra ISTs entre pessoas com vulva são frequência você utilizou preservativos ou métodos

adaptações ou improvisos, como por exemplo, de proteção contra IST (Infecção Sexualmente
o uso de luva (para contato dedos - mucosa) Transmissível)? Análise por identidade racial,
ou camisinha recortada (boca-mucosa). valores proporcionais

Nenhuma dessas opções é totalmente segura. 100%

Anteriormente já foi recomendado por


75%
ginecologistas e outros profissionais da saúde
que se utilizasse plástico PVC como método de 50%

barreira, todavia hoje a Sociedade Brasileira de


Medicina de Família e Comunidade reconhece 25%

que essa ferramenta não é segura, sequer 0%


eficaz, para a prevenção contra ISTs na relação Amarela Branca Indígena Parda Preta

Nunca Raramente Às vezes


sexual entre pessoas com vulva. Muitas vezes Sempre

Outra questão que aqui cabe destacar é


Gráfico de barras sobre recortes raciais e o uso de preservativo
que a prática sexual entre pessoas com vulva ou proteção contra ISTs. Os dados são apresentados na tabela
a seguir.
por muito tempo não foi considerada como ato Uso de preserva-
Amarela Branca Indígena Parda Preta
sexual por não haver presença de pênis. Essa tivo ou preven-

ção contra IST’s


(Oriental)

falácia contribuiu à ideia de que, portanto, não Nunca 50,3% 43,5% 38% 40,6% 39,5%
Raramen-te 8,9% 7,9% 7,3% 8,4% 7,8%
haveria risco de transmissão de ISTs. Somado Às vezes
6,7% 9,3% 6,7ˆ% 10% 10,5%
a isso, um estudo feito no Brasil em 2011, Muitas vezes
11,7ˆ 14,6% 16,7% 15,4% 17,3%

constatou que 73% das entrevistadas (mulheres Sempre 22,3% 24,7% 31,3% 25,7% 24,9

cis lésbicas ou bissexuais) nunca receberam Gráfico 15. Nos últimos 12 meses, com que

material preventivo contra ISTs ou mesmo frequência você utilizou preservativos ou métodos

informações sobre a prática sexual segura entre de proteção contra IST (Infecção Sexualmente
mulheres cis. Transmissível)? Análise por identidade racial,
Para além disso, constata-se que valores absolutos

há poucos estudos sobre a incidência de 3000

transmissão de ISTs entre pessoas com vulva,


o que reforça a narrativa falaciosa de que não 2000

há risco de contaminação. Contudo, de acordo


1000
com o Ministério da Saúde, a IST com maior
risco de transmissão no contato desprotegido 0
Amarela Branca Indígena Parda Preta

entre mucosas é a sífilis, o que talvez justifique Nunca Raramente Às vezes

sua grande incidência como veremos adiante. Muitas vezes Sempre

Gráfico de barras sobre recortes raciais e o uso de preservativo


ou proteção contra ISTs. Os dados são apresentados na tabela
a seguir.
Uso de preserva- Amarela Branca Indígena Parda Preta
tivo ou preven- (Oriental)
ção contra IST’s
Nunca 90 3258 57 1867 866
Raramen-te 16 590 11 388 171

Às vezes 12 694 10 459 230


Muitas vezes 21 1097 25 708 378

Sempre 40 1852 47 1183 546

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Ao analisarmos os recortes raciais e o uso de As IST mais comuns entre as pessoas


preservativo ou proteção contra ISTs (gráficos 14 que responderam ao questionário é Sífilis que
e 15), observa-se uma relativa homogeneidade. totaliza 37,7%. Em segundo lugar, aparece a
No entanto, proporcionalmente, são as pessoas síndrome da imunodeficiência adquirida, ou
brancas e amarelas as que menos se utilizam de Aids (da sigla em inglês) com 23,3% - quase o
proteção, justamente a população que, em nossa mesmo valor das infecções por HPV (Vírus do
amostra, mais têm acesso ao sistema de saúde. Papiloma Humano) que somam 22,5%. Estas
Nesse sentido, este dado não demonstra uma informações são apresentadas em gráfico a
disparidade de acesso a preservativos e outros seguir, no gráfico 17.
métodos de proteção, mas provavelmente um
fator cultural. Especula-se que essa população, Gráfico 17: Se sim, qual(is) IST(s) já foi
especialmente a população branca, julga-se diagnosticado/a/e?

menos vulnerável a ISTs ou subestima os prejuízos Condiloma 1,8%

3,3%
que ISTs podem trazer para sua saúde. Este Candidíase
Hepatite B
3,4%
pode ser um importante foco da elaboração de Clamídia 7%

políticas públicas, já que, aparentemente, parte Herpes genital 12,1%


19,7%
da população ainda associa ISTs a determinados Gonorréia ou ...

Vírus do Papil... 22,5%


grupos sociais e raciais, aderindo com maior HIV/AIDS 23,3%

frequência a comportamentos de risco. Sífilis 37,7%

Outras ISTs 6,4%

PREVALÊNCIA DE ISTS Gráfico de barras de porcentagem sobre quais ISTs foram


diagnosticadas. Das pessoas entrevistadas que tiveram o
diagnóstico de alguma IST, 37,7% foram diagnosticadas com
Sífilis, 23,3% com HIV/AIDS, 22,5% com HPV (Vírus do Papiloma
Cerca de 16,3% das pessoas respondentes Humano), 19,7% com Gonorreia ou ..., 12,1% com Herpes genital,
7% com Clamídia, 3,4% com Hepatite B, 3,3% com Candidíase,
da pesquisa afirmaram já terem sido 1,8% com Condiloma e 6,4% com outras ISTs.

diagnosticadas com alguma IST, enquanto As outras ISTs que não estão especificadas
82,5% das pessoas relatam nunca terem no gráfico mas foram identificadas durante a
sido diagnosticadas. Esta informação está preparação dos dados foram Tricomoníase,
apresentada graficamente a seguir, no gráfico Hepatite C, Cancro Mole e Donovanose.
16. Ao analisarmos a prevalência de ISTs
dentre os grupos étnico-raciais, observa-se
Gráfico 16. Você já foi diagnosticado/a/e uma homogeneidade. Este dado precisa ser
com alguma IST (Infecção Sexualmente melhor investigado em futuras pesquisas,
Transmissível)? uma vez que, assim como na prevalência de
82,5% transtornos mentais, o diagnóstico de ISTs
pode estar sendo modulado pelos diferentes
níveis de acesso às redes de atendimento em
saúde. Destaca-se também que a aparente
16,3%
baixa prevalência de ISTs entre as pessoas
1,2%
Não quero Sim Não Amarelas precisa ser vista com cautela dada a
responder

Gráfico de barras de porcentagem sobre o diagnóstico de alguma


diferença em números absolutos de pessoas
IST (Infecção Sexualmente Transmissível), onde 82,5% nunca respondentes e seus pertencimentos raciais.
foram diagnosticados, 16,3% foram diagnosticados e 1,2% não
quiseram responder. As informações de prevalência de ISTs entre os
grupos raciais estão apresentadas graficamente
a seguir, nos gráficos 18 e 19.

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Gráfico 18. Você já foi diagnosticado/a/e pessoa vai ser reconhecida ou ter sua identidade
com alguma IST (Infecção Sexualmente respeitada. Sem arriscar reduzir a adequação da
Transmissível)? Análise por identidade racial, identidade de gênero à vontade de ser reconhecide,
valores proporcionais os dados a seguir nos mostram como a população
100
desta pesquisa se relaciona com a ideia de ter o
75

Não
seu gênero (em termos somáticos)20 conformado
50
à sua identidade de gênero.
25
Não quero
responder Cerca de 96% das pessoas que responderam
0 Sim
Amarela Branca Indígena Parda Preta à pesquisa, não sentem a necessidade de buscar
Gráfico de barras sobre a prevalência de ISTs dentre os grupos
auxílio médico para adequar seu sexo atribuído
étnico-raciais. Os dados são apresentados na tabela a seguir. no nascimento à identidade de gênero, 3,6% das
IST Amarela Branca Indígena Parda Preta
(Oriental)
pessoas sentem essa necessidade e 0,3% não
Não 93,4% 80,3% 79,9% 80,2% 80,2% sabem ou ainda estão em dúvida em relação a
Não 1,1% 3,6% 2,6% 4% 3,6%
quero
responder
isso. Nesse sentido, é interessante analisar o que
Sim 5,5% 16% 17,5% 15,8% 16,3% faz com que as pessoas respondam “não”. Não
Gráfico 19. Você já foi diagnosticado/a/e se trata, porém, de assumir que toda pessoa trans,
com alguma IST (Infecção Sexualmente por exemplo, precisa “adequar” seu corpo para
Transmissível)? Análise por identidade racial, ser “plename\nte trans”, mas sim de refletir sobre
valores absolutos como essas pessoas enxergam o sistema de saúde.
3000 Não Não quero responder Sim
Estas informações estão apresentadas em gráfico
a seguir.
2000 Dentre as pessoas que responderam “sim”
para a pergunta anterior, algumas diferenças
1000
importantes são identificadas em relação à amostra
0 geral. Ao analisar-se o perfil racial das pessoas
Amarela Branca Indígena Parda Preta
que responderam afirmativamente, nota-se uma
Gráfico de barras sobre o diagnóstico de ISTs dentre os grupos
étnico-raciais. Os dados são apresentados na tabela a seguir. prevalência maior de pessoas autodeclaradas pardas
IST Amarela Branca Indígena Parda Preta e pretas, e uma menor prevalência de pessoas
(Oriental)
autodeclaradas brancas em relação à amostra
Não 169 6172 123 3795 1804
Não quero 2 278 4 189 80
geral. Ao compararmos esta informação com as
responder
análises anteriores, especialmente em relação ao
Sim 10 1232 27 746 366
acesso a serviços de saúde e o pertencimento racial,
AUXÍLIO MÉDICO PARA ADEQUAR A podemos conjecturar uma maior dificuldade na
IDENTIDADE DE GÊNERO busca deste auxílio médio para a adequação gênero-
sexo atribuído destas pessoas. É preciso cautela
Compreendendo o gênero como uma nesta análise, no entanto, dado o baixo volume de
categoria de organização social que articula pessoas que responderam afirmativamente a esta
dinâmicas de reconhecimento e inteligibilidade pergunta. Estes dados a partir do pertencimento
(BUTLER, 1988; PRECIADO, 2018), entende-se que racial das pessoas respondentes pode ser visualizado
o modo pelo qual um determinado corpo aparece na tabela a seguir.
ou é visto pela sociedade implica em como essa
20. Conforme Judith Butler (2003), o gênero é uma construção social que não se separa do sexo (popularmente entendido
como biológico), o que faz com que ele seja uma categoria discursiva que articula dinâmicas de reconhecimento. Sem ter
a intenção, neste relatório, de assumir pressupostos sobre a categoria “sexo biológico” - a qual não aplicamos -, usamos o
termo “somático” para se referir à dinâmica de reconhecimento social que se baseia no corpo como algo que aparece e,
portanto, no corpo como um destino que possui um sexo ligado aos órgãos genitais.

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Raça Número de pessoas % em relação ao to- Total raça % em relação a


que responderam tal de respondentes totalidade da base
“Sim” “Sim”
Amarela (Oriental) 1 1,1% 181 1,2%
Branca 42 44,7% 7682 50,2%
Indígena 2 2,1% 154 1,0%
Parda 32 34,0% 4730 30,9%
Preta 16 17,0% 2250 14,7%

Outra 1 1,1% 156 1,0%


Não desejo 0 0,0% 158 1,0%
declarar

Em relação à renda, o perfil das pessoas que responderam afirmativamente sentirem


necessidade de auxílio médico para adequarem gênero-sexo atribuído é menos evidente. Não é
possível identificar um padrão de diferença entre a renda dessas pessoas e a amostra total. Dado o
pequeno número de pessoas que responderam “sim” a esta pergunta, as conclusões precisam ser
feitas com cautela. Informações sobre o perfil de renda das pessoas respondentes podem ser vistas
na tabela a seguir.

Renda Número de pessoas % em relação ao to- Total renda % em relação a


que responderam tal de respondentes totalidade da base
“Sim” “Sim”
0 a 500 50 53,2% 8823 57,6%
501 a 1100 11 11,7% 1439 9,4%
1101 a 2000 9 9,6% 1766 11,5%
2001 a 4000 15 16,0% 1659 10,8%
4001 a 7000 4 4,3% 856 5,6%
7001 a 10000 5 5,3% 382 2,5%
10001 ou mais 0 0,0% 386 2,5%

Gráfico 20: Você já buscou algum auxílio


ou orientação médica paa ajustar seu sexo

Outra informação relevante é se, mais do biológico à sua identidade de gênero?


97,1%
que sentirem necessidade de buscar auxílio
ou orientação médica para adequarem seu
sexo atribuído ao nascer à sua identidade
de gênero, as pessoas respondentes de fato
buscaram este auxílio. Observa-se que 2,9%
responderam afirmativamente, número inferior 2,9%

ao 3,6% que relataram sentir essa necessidade. Sim Não

Esta informação está apresentada graficamente


Gráfico de barras de porcentagem sobre a busca por auxílio ou
a seguir, no gráfico 20. orientação médica para ajustar o sexo biológico atribuído ao
nascer à sua identidade de gênero, onde 97,1% das pessoas
entrevistadas não buscou e 2,9% buscou.

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Esta diferença, pequena em termos Gráfico 21: Você já buscou algum auxílio
percentuais (cerca de 0,7%) mas que representa ou orientação médica paa ajustar seu sexo

mais de mil pessoas, merece atenção. A biológico à sua identidade de gênero?

informação de que a proporção de pessoas População trans, travesti e não-binária.


pretas e pardas é maior naqueles que sentem
a necessidade desse auxílio é maior do que 76,2%

a da amostra total é relevante, uma vez


que justamente as pessoas pretas e pardas
responderam em maior proporção que “não
teriam coragem” de buscar auxílio psicológico, 19,1%
por exemplo. Nesse sentido, é possível supor
4,7%
que parte das pessoas que sentem necessidade
Sim Não Não respondeu
de auxílio e orientação médica não buscam
por não se sentirem confortáveis nos espaços Gráfico de barras de porcentagem sobre a busca por auxílio
médico na adequação gênero-sexo atribuído ao nascer das
de saúde, desconforto que se agrava para as pessoas declaradas trans, travestis e não-binárias, onde 76,2%
pessoas pretas e pardas. dos entrevistades não buscaram, 19,1% buscaram e 4,7% não
responderam.
Ao observarmos a busca por auxílio médico
na adequação gênero-sexo atribuído ao nascer
das pessoas declaradas trans, travestis e não-
binárias, observamos que cerca de 20% de fato
buscam estes serviços. Apesar do número ser
bastante superior aos 2,9% da amostra geral,
ele é bastante distante da maioria deste recorte
populacional. Este dado confirma algumas
análises feitas anteriormente. Em primeiro lugar,
parte da população LGBTI+ não se sente segura
na busca por auxílio médico. Mais do que isso,
no entanto, parte da população trans, travesti e
não-binária não necessariamente busca auxílio
médico para modificar seus corpos, uma vez
que essas identidades não dependem de um
corpo específico para serem legitimadas. A
prevalência das pessoas que buscaram auxílio
médico para adequação gênero-sexo atribuído
entre as pessoas trans, travestis e não-binárias
pode ser visualizada em gráfico a seguir, no
gráfico 21.

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

CONCLUSÃO
O relatório apresentado foi resultado
de um longo processo, que teve início
conhecimento acerca da realidade LGBTI+
no Brasil, ao construir uma pesquisa pioneira
no primeiro semestre de 2017. De lá até capaz de compreender as experiências e
chegarmos nesse material, a área de identidades plurais que criam quadros de
Pesquisa e Desenvolvimento trilhou um oportunidades e dificuldades, impactando
caminho que envolveu revisão da literatura, essas vidas.
definição do objeto, criação do questionário, Ao longo do desenvolvimento da
validação da pesquisa, pré-teste e piloto, pesquisa, buscou-se sinalizar, mesmo que
aplicação do formulário, análise de dados indiretamente, a relação existente entre a
e escrita de outros dois relatórios. Os utilização do método de construção de dados
blocos A e B da pesquisa discutem dados por amostragem e os resultados encontrados
sobre a população LGBTI+ brasileira a partir da análise. O emprego do formulário
que informam sobre Identidade e Perfil online teve a intenção de buscar um universo
Sociodemográfico e Mercado de Trabalho amostral amplo para traçar relações causais
e Renda, respectivamente. e que fossem representativas de uma certa
Todo o esforço empreendido pelo time localidade. Porém, ao adotar tal método,
de Pesquisa e Desenvolvimento, e também de algumas consequências foram evidentes,
outras áreas da TODXS, teve como objetivo como a maior participação de indivíduos
compreender os processo de saúde-doença que acessam com mais facilidade a Internet
das pessoas LGBTI+, abordando saúde e apresentam algumas características em
mental, sexual e reprodutiva, sem perder comum que perpassam identidade de gênero
de vista a atenção para as experiências e étnico-racial, orientação sexual, serem
particulares de grupos sociais diversos. pessoas sem deficiência, idade, domicílio
Nesse sentido, teve-se o cuidado de realizar e escolaridade. Assim, evidenciou-se a
análises cruzadas entre múltiplos marcadores necessidade de aprimorar a metodologia
da diferença e perceber as intersecções. para futuros levantamentos e, nesse sentido,
A pesquisa mobilizou muito mais do fomentar a captação de recursos financeiros
que o time de Pesquisa e Desenvolvimento e humanos para desenvolver pesquisas cada
da TODXS, contando com a colaboração de vez mais robustas com a população LGBTI+
15 mil pessoas brasileiras21 que participaram brasileira, tendo em vista a necessidade de
do estudo respondendo às questões que aumentar a representatividade, em especial
compunham o formulário online. Por de pessoas não binárias, travestis, mulheres
meio desse esforço conjunto, foi possível e homens trans.
começar a preencher uma lacuna sobre o Mesmo com o viés presente no método,
a pesquisa foi capaz, de forma exploratória,
de produzir conhecimentos sobre a realidade
21. Foram contabilizadas cerca de 35 mil respostas
da população LGBTI+ no Brasil. Adotou-se
coletadas, porém após a validação dos dados passamos
a utilizar uma amostra de cerca de 15 mil respondentes.

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

uma perspectiva de que a atenção à saúde de caso em hospitais e clínicas locais, com
possui uma dimensão política, os processos profissionais da saúde de áreas diversas, em
de saúde-doença são atravessados por contextos públicos e privados, com pessoas
determinantes sociais variados e a garantia que usam esses serviços, buscando levantar
do acesso à saúde integral e bem estar tem a experiências concretas negativas e positivas,
ver com a promoção da cidadania, conforme conduzindo ações de intervenção, através
as legislações que regem o SUS. Foram de documentos tais quais protocolos de
levantadas as respostas do questionário e atendimento, se fazendo de métodos e
analisadas a fim de delimitar e compreender técnicas qualitativas, quantitativas e mistas.
diferentes aspectos das vidas dessas pessoas. Vale pontuar que, ao longo do relatório,
As perguntas do questionário versavam buscou-se assumir uma perspectiva analítica
sobre a autoavaliação da saúde - captando interseccional. A adoção da abordagem
a percepção subjetiva de cada pessoa, influenciou diretamente a compreensão das
conforme características físicas, emocionais e respostas. Sempre que possível, foi feito o
psicológicas que a pessoa atribui relevância cruzamento de marcadores sociais de modo
-, o acesso e uso de serviços de saúde - a qualificar a análise, tentando fazer uma
frequência de consultas e exames, causas aproximação das realidades vividas pelas
para não procurar ajuda e confiança em pessoas, por meio do entendimento de que
profissionais de saúde -, a saúde mental - tais realidades são constituídas por múltiplas
compreendendo os efeitos da discriminação, camadas de significados e sentidos.
da violência e das condições precárias de A partir das análises realizadas nas
vida entre populações não brancas, pessoas seções anteriores deste texto, destacam-se
mais pobres, LGBTI+ e outras populações alguns pontos chaves para pensar a saúde
marginalizadas -, prevenção e tratamento de da população LGBTI+ no Brasil. O primeiro
infecções sexualmente transmissíveis e, por ponto é a interseccionalidade que permeia
fim, auxílio para adequação da identidade este estudo. Como pôde ser observado,
de gênero. as questões de gênero, raça e classe social
O presente bloco foi construído de foram bastante relevantes em diversas
acordo com a pesquisa do Departamento análises, como o acesso aos serviços de
de Informática do Sistema Único de saúde, os diagnósticos de saúde mental ou o
Saúde (DATASUS) e buscou-se construir uso de preservativos. É imperativo que ações
as variáveis e análises tendo como base e políticas públicas para a população LGBTI+
as pesquisas do Censo Demográfico IBGE sejam articuladas com ações e políticas
2010 e da Pesquisa Nacional de Saúde principalmente de raça e renda.
IBGE 2019. Compreendemos ainda que Outro ponto amplo que destaca-se
os estigmas, a discriminação e a exclusão deste relatório é o acesso precário aos
social reverberam em informações, dados serviços de saúde pela população LGBTI+.
e conhecimentos ainda insuficientes para Parte dessa população relata não se sentir
atender a saúde de pessoas LGBTI+ em confortável para buscar os serviços de saúde,
sua integralidade, portanto espera-se que a e grande parte da população trans não busca
pesquisa estimule e dê subsídios para demais serviços de saúde para adequação de seu
pessoas pesquisadoras realizarem outras gênero, o que também pode ter raízes na
investigações. Como, por exemplo, estudos desinformação. Torna-se necessário, a partir

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

desses dados, questionar a formação inicial identidade e perfil sociodemográfico (bloco


e continuada das pessoas profissionais a); mercado de trabalho e renda (bloco b);
de saúde, para que o atendimento seja participação e compreensão política (bloco
acolhedor a todes, e elaborar iniciativas d) e discriminação (bloco e) – além das
de conscientização da disponibilidade discussões tecidas no presente relatório
de serviços no Sistema Único de Saúde, a respeito de isaúde (bloco c). Por meio
especialmente para a população trans. desse esforço de compreensão sobre nossas
Ainda, o grande volume de pessoas vivências, esperamos contribuir para a
trans que não buscam auxílio médico para construção de um conhecimento localizado
adequação de seu gênero pode também feito por e para nós, LGBTI+.
estar associado com um conforto com seu
corpo. Com a disforia de gênero sendo
questionada como critério para validar a
transexualidade de outrem, abre-se aqui
a possibilidade de pensar existências não
cis que não se definem pela narrativa do
“cérebro no corpo errado”.
Além dessas questões, os dados
deste relatório também apontam para a
precariedade de possibilidades de sexo
seguro nas relações entre pessoas com vulva.
Improvisos são necessários, comprometendo
a segurança dessas pessoas. São urgentes
políticas públicas de conscientização e
distribuição de métodos preventivos para
relações sexuais que não envolvam o pênis.
Ademais, apesar dessas precariedades,
a população LGBTI+ que respondeu este
relatório relata usar o preservativo com mais
frequência do que a população brasileira em
geral. Este também é um dado que merece
destaque, já que desconstrói a imagem
promíscua que é associada a pessoas LGBTI+
e aos estigmas remanescentes da pandemia
do vírus da imunodeficiência (HIV).
Por fim, deve-se pontuar que
o presente relatório é o terceiro de uma
coletânea de textos que serão produzidos
e publicados pela TODXS. Em cada
publicação, será analisada uma faceta ou
dimensão das realidades de milhares de
brasileiras, brasileiros e brasileires LGBTI+,
que perpassam questões envolvendo

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

DADOS COMPLEMENTARES
A seguir, apresentamos dados complementares, coletados dentro do âmbito da Pesquisa
Nacional por Amostra da População LGBTI+., que fogem do escopo analítico deste relatório.
Encorajamos a comunidade científica e às pessoas gestoras públicas a deles se utilizarem para
qualificação das pesquisas e das políticas públicas para a população LGBTI+ brasileira.

Gráfico 23: Nos últimos 12 meses, você fez


uso de algum medicamento de uso contínuo

para? População geral


Não faço uso de nenhum
medicamento de uso contínuo
Medicação psiquiátrica para
outros fins

Gráfico 22: Nos últimos 12 meses, quantas


Antiviral

Doença imunológica (autoimune)

vezes você precisou acionar algum serviço de Terapia hormonal

saúde (Plano, SUS, etc.)? Dor crônica


Problemas no coração e sistema
33,39% circulatório
Medicação psiquiátria em
terapia hormonal

Outros
0% 20% 40%
19,89%
16,71%
14,81% 15,2%
Gráfico de barras de porcentagem sobre o uso de medicamento
contínuo nos últimos 12 meses, em que 57,10% não faz uso de
nenhum medicamento de uso contínuo, 15,41% utiliza medicação
psiquiátrica para outros fins, 7,75% utilizam antivirais, 4,42%
utilizam para doença imunológica (autoimune), 4,45% utilizam
60%
Nenhuma vez Apenas 1 vez De 2 a 3 De 4 a 5 Seis ou mais para terapia hormonal, 4,16% utilizam para dor crônica, 1,68%
vezes vezes vezes
utilizam para problemas de coração e sistema circulatório, 1,00%
Gráfico de barras de porcentagem sobre a busca por algum utilizam medicação psiquiátrica em terapia hormonal e 5,83%
serviço de saúde nos últimos 12 meses, em que 16,71% das utilizam medicamentos para outros fins.
pessoas respondetes não buscaram, 33,39% buscaram apenas
uma vez, 14,81% buscaram de duas a três vezes, 19,89% buscaram
Gráfico 24: Nos últimos 12 meses, você
de quatro a cinco vezes e 15,20% buscaram seis ou mais vezes.
fez uso de algum medicamento de uso

Gráfico 23: Na última vez que obteve o(s) contínuo para? Apenas população usuária de
medicamentos(s) de uso contínuo, de que forma medicamento de uso contínuo

você recebeu os medicamentos? Medicação psiquiátrica para


outros fins
População trans, travesti e não-binária. Antiviral
62,72%
Doença imunológica (autoimune)

Terapia hormonal

Dor crônica
Problemas no coração e sistema
circulatório
Medicação psiquiátria em
21,65% terapia hormonal
15,64% Outros

0% 20% 40%
Todos Parte gratuita e parte Todos adquiridos
gratuitamente adquirida com recursos com recursos
próprios próprios

Gráfico de barras proporcionais sobre o uso de medicamento


contínuo dentre as pessoas que responderam utilizar medicação,
Gráfico de barras de porcentagem sobre a última vez em que em que 34,75% utiliza medicação psiquiátrica para outros fins,
se obteve medicamentos de uso contínuo. 21,65% das pessoas 17,74% utilizam medicação antiviral, 10,05% utilizam para
obtiveram todos gratuitamente, 15,64% obtiveram parte gratuita doença imunológica (autoimune), 9,52% utilizam para terapia
e parte adquirida com recursos próprios e 62,72% obtiveram hormonal, 9,03% utilizam para dor crônica, 3,08% utilizam para
todos com recursos próprios. problemas de coração e sistema circulatório, 2,32% utilizam
medicação psiquiátrica em terapia hormonal e 13,51% utilizam
medicamentos para outros fins.

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

Gráfico 25: Você tem acesso regular aos


medicamentos para seu tratamento?

84,67%

15,33% Gráfico de barras proporcionais sobre o acesso regular a seus


medicamentos, em que 84,67% responderam que têm acesso, e
15,33% relatam não ter acesso.
Sim Não

Gráfico 26: Você já buscou auxílio médico


Gráfico de barras proporcionais sobre a busca por auxílio
ou psicológico por ser LGBTI+? Análise por psicológico agregadas por escolaridade. Os dados são
apresentados na tabela a seguir
escolaridade
Eu não Eu Eu não Eu não Eu não Eu não
preciso utilizo poderia sei aonde teria confio
de ou pagar procurar coragem nos
auxílio utilizei ajuda serviços
50
auxílio

Doutorado 54,3% 34,44% 3,31% 3,98% 3,31% 0,66%


Mestrado 49,38% 35,66% 6,97% 3,48% 2,46% 2,05%
25 MBA 55,83% 32,27% 4,36% 3,69% 2,01% 1,84%

Ensino 48,51% 28,52% 11,56% 6,00% 3,28% 2,13%


Universitá-
rio
0 completo
Doutorado Mestrado MBA EUC
Ensino 40,76% 25,80% 15,67% 7,67% 7,13% 2,97%
Universitá-rio
incompleto
50
Ensino 50,57% 21,80% 14,48% 6,27% 4,41% 2,47%
Universitá-
rio
trancado
25
Ensino 52,50% 14,46% 14,31% 8,21% 7,52% 3,00%
médio
completo

Ensino 50,65% 15,03% 14,22% 9,80% 7,68% 2,62%


0
médio
EUIc EUIt EMc EMi
incompleto

Eu não preciso de auxílio Eu não poderia pagar Eu não teria coragem


Eu não utilizo/utilizei auxílio Eu não sei aonde procurar ajuda Eu não confio nos serviços

Gráfico 27: Você já buscou auxílio médico ou Gráfico 28: Você já buscou auxílio médico ou
psicológico por ser LGBTI+? População com psicológico por ser LGBTI+? População com

transtorno de ansiedade transtorno depressivo

Utilizo/utilizei
Utilizo/utilizei
Não preciso
Não preciso
Não poderia pagar
Não poderia pagar
Não sei onde encontrar ajuda
Não sei onde encontrar ajuda
Não tenho coragem
Não tenho coragem
Não confio
Não confio
0% 25%
0% 25%

Gráfico de barras proporcionais sobre o uso de auxílio médico Gráfico de barras proporcionais sobre o uso de auxílio médico
ou psicológico por ser LGBTI+, dentre as pessoas respondentes ou psicológico por ser LGBTI+, dentre as pessoas respondentes
com transtorno de ansiedade, em que 34,58% relataram que não com transtorno de depressão, em que 33,01% relataram que não
precisam de auxílio, 37,65% utilizam/utilizaram auxílio, 12,17% precisam de auxílio, 38,85% utilizam/utilizaram auxílio, 12,52%
não poderia pagar, 6,61% não sabe aonde procurar ajuda, 5,63% não poderia pagar, 7,03% não sabe aonde procurar ajuda, 5,20%
não teria coragem e 3,36% não confia nos serviços. não teria coragem e 3,39% não confia nos serviços.

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

GLOSSÁRIO
Pensamos este glossário como uma forma Acreditamos que as vivências LGBTI+ são
de facilitar a compreensão dos termos múltiplas e que, muitas vezes, não cabem
e conteúdos abordados ao longo do em “caixinhas” ou meras categorizações.
relatório. Partimos do entendimento de Frisamos também que, em uma sociedade
que a comunidade LGBTI+ é ampla e plural e diversa, se torna imprescindível
diversa: novas identidades de gênero e perguntar como a pessoa gostaria de ser
sexualidades surgem, conceitos vão sendo chamada e por quais pronomes ela gostaria
repaginados, pautas que antes eram pouco de ser tratada, bem como entender que
discutidas, vão ganhando maior visibilidade. somos livres para nos relacionarmos com
Desta forma, não temos a pretensão de quem e como quisermos.
estabelecer rótulos ou ditar “verdades”.

ORIENTAÇÃO SEXUAL

Assexual: Pessoa que não sente atração Gay: Homem que sente amor, afeto e/
sexual por nenhum gênero. Contudo, a ou atração sexual por outros homens (cis
comunidade assexual é múltipla e algumas e trans). Algumas pessoas não binárias
pessoas sentem atração sexual parcial ou também se entendem como gays por
condicional a atração romântica. se identificarem, em algum grau ou
parcialmente, como “homem” e se
Bissexual: Pessoa que sente amor, afeto e/ relacionarem com homens.
ou atração sexual por pessoas do mesmo
gênero ou de gêneros diferentes. Lésbica: Mulher que sente amor, afeto e/
ou atração sexual por outras mulheres (cis
Heterossexual: Pessoa que sente amor, e trans). Algumas pessoas não binárias
afeto e/ou atração sexual apenas pelo também se entendem como lésbicas
gênero oposto com que se identifica. por se identificarem, em algum grau ou
parcialmente, com a identidade “mulher”
Pansexual: Pessoa que sente amor, afeto e se relacionarem com mulheres.
e/ou atração sexual por todos os gêneros -
homens (cis e trans), mulheres (cis e trans) e
pessoas não binárias (cis e trans).

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pesquisa nacional por amostra da população lgbti+

IDENTIDADE DE GÊNERO

Agênero: Pessoa cuja identidade é População T: Serve como um termo


marcada pela ausência de gênero e que está guarda-chuva, que abrange indivíduos cuja
inserida nos termos guarda-chuva “trans” identidade de gênero é diferente daquela
e “não binário”, justamente por fugir das designada no momento do nascimento. A
categorias “homem” e “mulher”. A pessoa comunidade T é diversa e pode-se dizer
“agênero” não sente a necessidade de se que é formada por mulheres trans, travestis,
enquadrar em um gênero específico. homens trans, pessoas trans não binárias e
outras identidades de gênero que cruzam
Bigênero: Pessoa cuja identidade de ou vão além das categorias tradicionais
gênero é baseada em dois gêneros, sendo “homem” e “mulher”.
não necessariamente feminino e masculino.
A pessoa bigênero se identifica com duas Mulher trans: Mulher que foi designada
identidades de gênero, de forma simultânea como homem no nascimento. São pessoas
ou variando entre os dois gêneros. que demandam reconhecimento social e
legal para o gênero feminino.
Demigênero (demigênero-fluido ou
demifluido): Pessoa cuja identidade de Travesti: Mulher que foi designada pelo
gênero é marcada pela identificação gênero masculino ao nascer, mas se
parcial por determinado gênero. Demigirl, reconhece numa identidade feminina.
por exemplo, é alguém que se identifica O termo “travesti” foi ressignificado
parcialmente como “mulher/garota”, entre positivamente, passando a ser visto como
outras identidades. uma identidade sociopolítica por ativistas
da América do Sul.
Pessoa não binária: Pessoa que não quer
se definir ou quer se definir além de “nem Homem trans: Homem que foi designado
homem, nem mulher”, ou não segue as como mulher no nascimento. São pessoas
normas tradicionais de ser homem ou que demandam reconhecimento social e
mulher. legal para o gênero masculino.

Cisgênero (cis): Pessoa que se identifica Queer: Termo de origem estadunidense


com o gênero que lhe foi atribuído no ressignificado de forma positiva. É um
nascimento. termo guarda-chuva usado para se referir,
no geral, às pessoas da comunidade
Transgênero (trans): Pessoa que não LGBTI+ que não querem se rotular.
se identifica com o gênero que lhe foi
atribuído no nascimento.

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