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SCHUMPETER, J cal analysis: Capitulo 2 ichumpeter, os Neo-schumpeterianos e as Instituigdes: inceito e papel numa economia dindmica e globalizada SCHUSTER, J. The scientific revolution. In: OLBY, R.C. Compar ‘1 of modern science. London: Routledge.pp. 217-242, 1990, SCHWAB, K.The fourth industrial revolution. Cologny/Geneva: World Ecor nomic Forum, 2016. tothe histon ia a vapor € 0 sentido tacnolégica da rove 1mia Politic, v. 28, pp. 302-318, 2008. THE ECONOMIST. The third great wave: a special report on world economy, October, 4, 2014 (Available in http://www.economist.com/specialeeports/) Ednilson Siva Felipe Arlindo Villaschi Filho troducso Nao ha dividas de que Joseph Alois Schumpeter tem sido onsiderado ~ ao lado de outros grandes economistas ~ um dos fun Waores do pensamento evolucionario no ambito da teor Imica, Um dos tracos marcantes e fundamentais das conti Schumpeter é a negacao da analise estatica em que a economia deve- Fla repousar sobre alguma zona de equillbrio. Nega também o merca- do como um mecanismo independente, coordenador em tiltima ins- Fncia da economia e, sobretudo, autacorretivo. Em suas ai Eontrario disso, optou por uma perspectiva dindmica e evolucionéria @ assumiu a incapacidade da economia de, por sie isoladamente, ex- Plicar as questées ligadas a evolucdo. Defendeu integr ‘eonsideracdes trazidas da socioloy como necess ionamento do ‘As questées em torno do papel do empreendedor, da inovacio, | da destrui¢ao criadora e dos ciclos econémicos também so temas que dominam as pesquisas sobre as contribuigdes schumpeterianas. Esses | elementos, contudo, esto longe de esgotar as suas contribuigdes. Isso & economia ia e da ciéncia politica jas para o entendimento das formas e estigios de fun- 64 Mércia Siquera Rapin Albuguerque porque alguns aspectos do seu trabalho permanecem pouco explorados eraramente discutidos. As importantes consideragSes que faz quanto as instituigdes, por exemplo, tém sido negligenciadas nas recentes discus- sBes sobre 0s conceitos e papéis que cumprem numa economia. E sabido que as institulgSes tém recebido crescente atencdo dos economistas ¢ outros cientistas sociais nas ultimas décadas, espe- cialmente como objetos de investigagio e fonte de explicagdo da di ‘namica econémica, fazendo surgir escolas e correntes de pensamento econémico nesse campo de interesse. Continua havendo, entretanto, grandes controvérsias nao somente quanto ao conceito, mas principal mente quanto 20 papel que cumprem no desenvolvimento econdmi- co. £ fato que um conceito cabal e definitivo de instituiges ainda ndo: foi construido (DEQUECH, 2005). objetivo deste capitulo é apresentar algumas discussOes so- bre a visdo de Schumpeter e dos neo-schumpeterianos quanto as ins~ tituigdes e seu papel no desenvolvimento econdmico e nos diferentes estigios do capitalismo. Mais precisamente no estagio atual em qué: se apresenta como um mercado globalizado, reforcando o papel da inovag0, do conhecimento, do aprendizado e das instituigSes como elementos centrais para se entender sua dinamica, capitulo esta dividido em 3 SegGes, além desta introducdo ¢ das consideragdes finais. Na Seco 1, discute-se o papel das insti= tuigdes nos escritos do proprio Schumpeter. Embora 0 autor no te- nha se detido profundamente num conceito das instituigoes ~ e nem, ‘mesmo utilizando uma metodologia puramente institucional - pode-se intuit, a partir dos seus escritos, qual a sua percepco sobre as institu Bes e sua importancia. Em principio, por exemplo, depreende-se que Schumpeter assumia 0 funcionamento basico das instituigBes capita- listas como formando 0 tecido sobre o qual operam as empresas em concorréncia. Assim, a partir de suas obras principais, busca-se enten- der como funcionam, qual o papel e a interferéncia das instituigBes no {que tange as mudancas econdmicas e tecnoldgicas. 'Na Seco 2, apresentam-se alguns elementos do pensamento neo-schumpeteriano, evidenciando como o desenvolvimento de novos conceitos € visdes dessa escola esteve sempre amparado por uma visio intrinseca das instituigbes. Contudo, ha de se evidenciar que essa escola jamais desenhou um conceito préprio e Gnico de instituices. Busca-se, evidenciar como os neo-schumpeterianos, ao longo do tempo, fram o conceito e o papel das instituigées em suas analises. Na Seco 3, discute-se a convergéncia desses elementos, apli do.os a uma realidadle marcada pelos mercados globals. Levanta-se 1$s80 de que 0 atual estgio do capitalismo deve estar ligado, ssariamente, 2 fundaeo de novas instituicSes que deem conta do jo de manter a légica de um mercado organizado mesmo queele Papel das Instituicdes: uma discussio a partir 9s escritos de Schumpeter Para Schumpeter, dentro da abordagem dindmica e evolucio- ja que defendia, as instituicBes cumprem um papel fundamental funcionamento do sistema capitalista. Em sua visdo, em um nivel stémico, os diferentes elementos institucionais ~ cada um com sua a ica prdpria em nivel microecondmico—se conectam e interagem de © forma complexa e, em sua totalidade, fazem funcionar os mecanismos “fundamentais que consolidam e impulsionam o capitalismo, . ‘Schumpeter ndo demostrou necessidade de fundar um con- Eeito préprio de instituicées, nem mesmo se debrucou a fim de apro- Indar significativamente os conceitos que, 8 época, jé circulavam nos E debates que envolviam o tema. Assumiu um conceito em que as ins- © fituicdes moldam principalmente o comportamento dos agentes, mas © gue também abre possibilidade para entendé-as como organismos | que formatam as relacdes econémicas: By ‘institutions’ we mean in this course all the patterns of behavior into which individuals must fit under penalty of encountering organized resistance, and not only legal insti- tutions (such as property or the contract) and the agencies for their production or enforcement. (SCHUMPETER 1950A, CITED IN SWEDBERG 1991: 438) © capitalismo consiste, entéo, em um complexo de institu ges ~ formais, informais e legals - formando um sistema cuja l6gica 66 Mércia Siquera Rapin | Leandro Alves Silva | Eduardo da Motta e Albuquerque Economia da diénca, tecnologia einovagiio 67 @ funcionamento permitem adaptagdes, avangos e retrocessos. &: a5 instituigdes estiio materializadas em elementos como motivagio,, estilos de vida, racionalidade, artes e ciéncias, no proprio Estado, na propriedade privada, no sistema financeiroe nos mecanismos de mer: ado, cujos estagios alcangados foram considerados por Schumpeter como pré-requisitos essenciais para terem trazido a existéncia 0 ca: pitalismo. Dessa forma, as instituigdes foram ~ e continuam sendo as responséveis tanto pela emergénecia,legitimagao e cistalizagio de: Certos tipos de comportamentos (coletivos ou individuais) quanto pel construc de ambientes necessarios as préticas econémicas. Vale dizer que a existéncia histérica de certas instituicées condigio necesséria, mas nao suficiente para fazer impulsionar a ec nassem eficientes no sentido de engendrar uma certa mentalidade, um certo ethos, um determinado estilo de vidal € uma ética econémica especifica em que o lucro e 0 sucesso passas~ sem a ser alvos fortemente perseguidos, legitimos ¢ iicentivados. Em segundo lugar, as instituigSes precisam ser dgeis no sen tido de formar um ambiente organizado e se transformar no local do Processo concorrencial e ainda permitir a ago planejada do agente: ‘econémico, com mentalidade e comportamento formatados pelas ins= tituigdes capitalistas, Em terceiro lugar, as instituiges devem tanto impulsionat Quanto dar suporte a expansio das atividades econémicas e do mer- cado, numa convergéncia de movimentos em que os estigios do ca- pitalismo se conectem com os estagios institucionais, formando uma \égica de causas e consequéncias cujo resultado é a eliminac3o de en- traves 8 expansao dos mercados, 1.1 Instituigdes e a Logica Capitalista do Comportamento Para Schumpeter, a esséncia da evolugo e do desenvo! mento no repousa na mudanga tecnolgica em si, mas na energia das ages humanas que colocam em marcha as diversas atividades eco: NOmicas e que se esforcam pela mucanga, na busca pela inovagao - e todos 0s seus requisitos -, ainda que esse pracesso seja permeado de 68. Mérca Siqueira Rapin! | Leandro Alves Siva | Eduardo da Motta © Albuquerque rtezas. Por essa dtica, so as proprias instituigSes que criam essa gia, formam @ impulsionam tal motivago, tanto no nivel in jgad® 9 uma psicologia moldada pelos valores capitalistas) jal (Iigada & ago e ao pensamento coletivo que o capitalismo im- ) © s€ materializa nos agentes econdmicos desenhando objetivos fais: vencer e conquistar. Nas palavras de Schumpeter, ‘Antes de tudo, ha 0 sonho e 0 desejo de fundar um reino pri vado, e comumente, embora nao necessariamente, também ‘uma dinastia. O mundo moderno realmente no conhece ne rnhuma colocagao desse tipo, mas o que pode ser alcancado pelo sucesso industrial ou comercial ainda é, para o homem ‘moderno, a melhor maneira possivel de se aproximar da no bbreza medieval (SCHUMPETER, 1983: 98). Ou ainda ‘Ao contrério da classe dos senhores feudais, a burguesia co ‘mercial e industrial elevou-se 8 custa do éxito no campo dos negécios. A sociedade burguesa configurou-se em urn molde Puramente econémico: seus alicerces, vigas, etc. foram to- dos construidos de material econémico. As faces do ecificio 5€ orientam para o lado econdmico da vida. Recompensas © penalidades sio oferecidas ou aplicadas em termos pe cunirios. Elevar-se ou dectinar na Vida significa ganhar ou Derder dinheiro. Ninguém pode negar que esta é a realidade (SCHUMPETER, 1984: 94) A avider pela construcao desse reino perfaz toda a histéria do Eapitalismo, inclusive em sua génese, remonta ao sistema anterior, e, "Para Schumpeter, a sua evolucdo ndo muda tal sentimento, mas ape- fas Ihe dé formas diferentes, em cada estdgio da evolugdo capitalist [.-1o novo capitalismo produziu no apenas a atitude mental dda ciéncia moderna, que consiste em fazer certas perguntas € procurar respondé-tas de certa maneira, mas também os homens e 0s meios. Ao subverter 0 meio feudal e pertur. bar a paz intelectual da casa senhorial e da (embora, evidentemente, sempre houvesse fartos motivos para dis. cussBes e desacordo entre os muros dos conventos), mas, Economia da céncie,tecno a einovarso 69 especialmente, aa crlar espago social para um a nova classe) E tivesse que criar, por meio de sua propria atividad ‘que se fundamentava no éxito pessoal no campo econdmico} al tudo o que sabe e usa, E todo homem precisaria ser atraiu, por outro lado, para esse campo, as vontades fortes sigante de sabedoria e vontade se tivesse que criar de ‘as mentes de boa tempera (SCHUMPETER, 1984:157) todas as normas com as quais guia sua conduta cotidiana or todos 0s casos. Isso é verdadeiro no apenas quanto as deci: ses e agdes da vida individual e social, cujos principios sio.o produto de dezenas de milhares de anos, mas também quan 10 a0s produtos de periodos mais curtos e de uma naturez> mais especial que constituem o instrumento particular para @ execugio de tarefas profissionals (SCUMPETER: 1983: 91-92). 'As promessas de riqueza ou ameagas da mais total pobrez cle as cumpre com inexordvel rapide. Env todos os pont fem que o sistema burgués de vida se afirma suficientement para obscurecer os atrativas de outros sistemas sociais, > fas promessas so bastante poderosas para atrair'a grands \Na andlise baseada em um.regime estacionario ~ 0 fluxo cir- maioridade dos eérebros privilegiads e igual o éxito social sr— usado por Schumpeter na parte inicial de Teoria do Desenvolvi- ‘a0 éxito nos negécios (SCHUMPETER, 198494). snto Econdmico, esse problema & menos evidente. Para Schumpeter, © entendimento de como as instituigbes : Enquanto no fluxo circular habitual todo individuo pode agir moldam os aspectos cognitivos do agente econdmico é fundamental pronta e racionalmente, porque esta seguro do terreno em para explicar a natureza das suas ages, tanto individualmente quant ee ee easter cca ras grandes corporacdes. Dessa forma, as instituigdes explicam 05 mi- cesperam dele a atividade habitual (SCHUMPETER, 1983: 80) crofundamentos das atividades humanas a partir de uma mentalidade especifica ~ ndo redutivel as expectativas ~ que faz com que o agente: Porém, considerando a atividade inovativa, que causa disttir- rena forcas para empreender, seja como empreendedor ou como fis se desequlbrio, passa-se a exigir agdes fora desses habitos e, por ma organizada. nto, fora do que ¢ institucionalmente convencional Por outro lado, a andlise de Schumpeter pressupde que os agentes econémicos e politicos possuem racionalidade limitada. Fora desses canais habituais 0 individuo esti desprovide dos dados para as suas decisdes e das regras de conduta que em feral sfo conhecidos por ele de modo muito acuredo dentro deles (SCHUMPETER, 1983: 80) ‘Asuposigo de que a conduta &répida e racional € uma ficedO. tem todas as situages. Mas prova ser suficientemente préxl- ‘ma & realidade, se as coisas tiverem tempo de fixar a logical rho homem. Onde isso tiver acontecido, e dentro dos limites Eainda fem que tiver acontecido, é possivel ficar contente com essa fiecio e sobre ela construir teorias (SCHUMPETER, 1983:87). No peito de quem deseja fazer se levantam e testemunham contra o projeto em embrigo, £ portanto necessério uma forca de vontade nova e de ou- tra espécie para arrancar, dentre o trabalho ea lida com as. ocupagies didrias, oportunidade @ tempo para conceber @ elaborar a combinagao nova e resolver olhs-la como uma As instituiges passam a ser importantes, também, porque no somente condicionam certos tipos de comportamentos e mentali- dades, mas porque complementam o gap de racionalidade, tornanda: ‘as decisdes possiveis. possibilidade real e n3o meramente como um sonho. Essa yerdade mental pressupbe um grande excedente de forca 'A menor- ago difria abrange um enorme esforgo mental. Jobre a demanda cotidiana e é algo peculiar e raro por natu: precisaria ser um gigante mental, e ele préprio reza (SCHUMPETER, 1983: 93). Ia | Eduardo de Motta e Albuquerque Economia da ciénca, tecnologia eInovacso 71 Em Business Cycles, Schumpeter também é claro quanto a isso: Instituig6es, Inovagbes e Mercado Organizado What we are doing amounts to this: we do not attack tradi tional theory, Walrasian or Marshaltian, om its own gorund, Particular, we donot take offense atts fundamental assump tions about business behavior—at the picture of prompt re. cognition of the data ofa situation and of rational action is Para Schumpeter, o papel das instituigSes vai além de formar fas mentalidades e fomentar certas energias que colocam em mar- fe processo inovativo e capitalista. Além disso, as instituigSes for- ‘@-ambiente sobre o qual as aces humanas, motivadas por essas gias © mentalidades, devem ocorrer. tions are very far from reality but we hold that the logical schema of that theory is yet right “in principle” and that de- Viations from it can be adequately taken care. of by introd

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