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Lucas o Senhor presente que se senta d direita de Deus Pai e tudo dirige, no Espirito, A dupla obra de Lucas gira em torno da dialética do evangelho e dos Atos. A histéria de Jesus leva ao mistério do Senhor ressuscitado, ao kyrios dos Atos. Ao mesmo tempo, o Senhor do livro dos Atos nao poderia ter sentido algum sem Jesus, o evangelho, Esta dialética ndo se refletiu sé na unido das duas obras de sio Lucas. Seguindo jé a tradic&io de Marcos, reflete-se no seu préprio evangelho. O que o evangelho mostra é mais que a historia de um homem que passou; é também o testemunho de um Senhor que vive acima do transcurso dos tempos e que chama todos ao seu nivel de salvaciio. Esta dialética reflete uma verdade permanente da igreja e do cristéo. Certamente, Lucas ndo € 0 tinico critério no caminho que conduz a Cristo; mas Lucas tem valor. Por isso, poderd ter utilidade esta leitura da sua obra que tencionamos refletir nas paginas que se- guem. 1. APRESENTAGAO DE JESUS (1,4-4,13) I. O NASCIMENTO DE JESUS. SUA RELAGAO COM JOKO F.0 ANTIGO TESTAMENTO (c. 1-2)! O evangelho de Lucas se abre com a cena do antincio do anjo ao velho Zacarias (Le 1,5-25). O velho € sua esposa vive estéreis, sem filhos, como tantos na antiga hist6ria do seu povo, como o proprio Israel da- queles tempos, Apesar de tudo, eram ambos pessoas honestas que se moviam na esfera da esperanca religio- sae Zacarias, sacerdote, servia a Deus ld no seu templo Lucas dirige-nos precisamente ao templo. LA se encarna a grandeza do antigo Israel e a sua esperanga. Nao € preciso teorizar; no é necessirio dizer nada. Ao situar-nos no templo, Lucas pressupée uma visio do mundo, evoca um grande mistério religioso. Israel é realidade sagrada; a sua esperanga é santa; é isso 0 que aqui nos dizem, sem mencioné-lo. Mas vejamos. Lucas ndo pretende abandonar-nos no templo, O que importa é 0 que Deus nos manifesta 1. De modo gera, ao tratarmos da infinla seguimos Laurentin, oc. Reme- temof daa obra quem quizer prociarasinfluéncias do antigo testamento, «est tra literdlae os problemas que 0 texto sucta, no recinto sagrado. O anjo fala (Le I,11s). As suas pala- vras so precisas: 0 verdadeiro culto de Israel e a sua esperanga vao concretizar-se agora num homem, Nao é Preciso apresenté-lo; chama-se Jodo e é“nazoreu”, um consagrado (Le 1,13-15). Lucas nao pretende descrever-nos simplesmente 6s acontecimentos de um passado. Nao tenhamos cu riosidade; ndo perguntemos no texto por detalhes, nem por nomes ou familias, nem por tempos ou lugares. O importante 6 Jodo. E Lucas sabe, com a antiga tradi sao, que a missao e o encargo do Batista se enraiza no antigo povo israelita e vem do proprio Deus: estar cheio (esteve cheio) do Espirito de Deus e converte numerosos membros do seu povo, transmitindo-thes o fogo sagrado de seus pais, os profetas e patriarcas (Le 1,15-17). Mas a tarefa de Jofio se coneretiza de uma forma ainda mais profunda: prepararé o caminho ¢ a vinda do seu Deus (1,17; se ndo precisamos as citagdes, elas se referem aqui, seguindo o texto, ao evangelho). Israel inteiro se resumiu em Joao e se converte num antincio, em testemunho de verdade imensa: Deus, o grande Se- nhor se aproxima Em tomo de Joao se esclareceu a verdade funda- mental do evangelho: por um lado, & necessirio que os homens se preparem, que se exige peniténcia, que a vida se modifique. Por outro, deve-se afirmar que a chegada de Deus é 0 momento decisive, Sem conver sio humana Deus ndo vem; sem a vinda de Deus, a conversio ndo pode ser auténtica. Isto suscita duas per- yuutas: qual é a verdadeira conversio? como & que Deus se aproxima e como se pode assegurar sua pro- senga? Mas com isso corremos o risco de nos perdermos em questées genéricas. Para Lucas a exigdncia de con versio se precisou em Jodo; a chegada de Deus realizou-se em Jesus Cristo. Paralelo ao de Joao, esté em so Lucas 0 aniincio de Jesus (1,26-38). Desaparecem altar e templo e achamo-nos numa aldeia qualquer da terra palestinen- se: Nazaré, na Galiléia. Do ambito sagrado do judais- mo e do seu templo, que s4o preparagio, saimos para a propria realidade do mundo, para o campo profano e decisivo, no qual vo penetrar Jesus ¢ sua mensagem divina salvadora. Em Nazaré esté Maria, uma donzela, virgem des- posada. Que terd pensado, que segredos se refletem em sua vida, que valores nos apresenta? Nada sabe- mos. Em torno dela s6 existe um grande siléncio. Mas é um siléncio que Deus preenche; por isso, 0 anjo di ialve, agraciada; 0 Senhor esta contigo” (1,28). Ma- (a mulher), Maria (0 mundo inteiro de Israel e das nagies) recebe seu Senhor como o presente decisivo, como 0 ponto de partida da missio mais elevada®, Tampouco aqui, na cena do antincio do anjo a Maria, oferece Lucas o detalhe de uma histéria, Faz algo mais. apresenta o grande segredo do homem que se acha aberto para Deus (Maria); leva-nos até o misté- rio do Deus que se reflete e se realiza através do com- promisso do homem que o aceita, Passaram-se jd sécu- los e séculos. Escreveram-se mil histérias de Jesus. Ne- nhuma delas soube refletir com profundidade e singe- leza o grande mistério, Diz. Lucas: Ceneeberds ¢ dards @ luz_um filho. Por-Ihe-és 0 nome de Jesus ¢ ele sera grande. Ser chamado o filhio do Altissi- ‘mo, O Senhor Deus Ihe daré 0 trono de Davi seu pai e sobre a casa de Jacé para sempre... (1,31-38) Vird sobre ti o Espirito santo; a forga do Altissimo te cobriré com a sua sombra; dessa forma, aquele que nas- cer sera santo: chama-lo-ds filho de Deus (1,35). 2 CES. Lyannet, Hracconto delannunctasione: SeuclG 89 (1954) 411-446. 25 Jesus, aquele que provém de Maria, nao prepara, como Jodo, algo mais alto. Jesus é j4 a realidade do “fi tho”, que nos traz o reino decisivo, o reino eterno de Deus sobre os homens. Joao anunciava a chegada do Senhor. Jesus nao anuneia: é Deus que vem. Vem de Deus; por isso ““nas- ce do Espirito” (1,35). Nao é 0 simples efeito transité- tio de um processo deste mundo, nao é um filho a mais entre os filhos da terra. Esto em Deus as suas verda deiras raizes e seu substrato; 6 uma graga de Deus, é Deus mesmo, o que ele traz em sua pessoa. E isto que Lucas quer dizer-nos quando afirma que Jesus, o filho de Maria, nasce da forca do Espirito, provém do pré- prio Deus’. Certamente, é grandioso 0 que afirma Lucas: Je- sus é a expressio do grande mistério, do ser do divino. Nao obstante, externamente, nada se muda Aqui nao hd nada daquele ambiente sagrado de Isracl em que se anuncia o nascimento de Jodo a Zacarias; nao hé tam- pouco, nota alguma de poder, grandiosidade, sabedo. ria humana. Tudo sucede nesse campo imensamente delicado, imensamente aberto, da fé de uma moga que aceitou a palavra de Deus que a interroga e fala, A ple- nitude de Deus, o dpice da historia expressou-se sim. plesmente numa cena de confianga delicada, de aceita. gio, de reveréncia, Maria comegou a ser jd sinal de uma nova forma de existéncia. texto continua. Maria visita Isabel, sua prima (Le 1,39-45.56). A cena serve para unir desde o princl- pio os destinos do Batista e de Jesus, o Cristo. No seio de Isabel, sua mae, Jodo se alegra. Em seu gozo resume-se a felicidade do auténtico Israel pela vinda 3, Semethante, embora expresg de outa forma, & que diy Paulo quando aftrma gue ents € preesitente™ [ol F139). Jesu nto Esiaplesnents ase sulencia do temp e da terra a sua verdade proven de etomo,eaavs cat Dene op Irineipio € se"revela”™ por Maria no final feentra) do tempos 26 de Jesus. Isabel bendiz an renta. Melhor que em nenhuma cena puramente histori- ca, melhor que em nenhum relato de carater teolégico, retrata-se aqui o destino de Israel, centrado em Joao, ¢ a verdade e graga de Jesus, que é salvador desde o principio. O seu parentesco é 0 reflexo da unido dos seus caminhos: so aliados na obra de Deus; encontraram-se j4 no comego de suas vidas, Neste ambiente de visita situou Lucas 0 cntico de Maria (1,46-55). Isabel declarou-a “a bendita’”’ e portadora de interna béngao. E isto Maria é, na verda- de, “porque acreditou” (1,42-45). Maria responde com palavras que soam como velhas ¢ de conteiido absolu. tamente novo: “glorifico ao Senhor, rejubilo-me em Deus meu salvador...” (1,46-47). Naquele Jesus que nasce — est4 no mundo embo- ra sem nascer — resumiu-se j4 a salvacdo humana. Nele se dé 0 agora escatolégico, quer dizer, a mudanga da vida dos homens. Com palavras do antigo testamen to e num contexto puramente israelita, apresenta-nos Lucas a certeza de que estamos ja diante do mundo de- cisivo. Esse Jesus que nasce é a verdade, a salvacao mais profunda; mas, ao mesmo tempo, esse Jesus nao é mais do que o cumprimento dos anseios do antigo tes- tamento, de Abraio e nossos pais, no prinetpio (Le 1,55). O cantico de Maria apresenta um contetido muito lucano; ie do Senhor que é sua pa- Porque olhou para a humildade da sua serva Fez em mim grandes coisas aquele que € poderoso. Encheu de bens os famintos; aos ricos despediu de mios vazias (Le 1,48.49.53) S6 Deus € a riqueza verdadeira; por isso, quem se encontra cheio de si mesmo, quem pretende assegurar 27 lunitlo, nu realidade esté vazio e fa folletii o mistério de Jesus que vem. $6 4 profundidade de Deus e do seu her « gruca do perdao e ao estendé-la i Chega o homem a ser rico. Eo que ex- ten lo Maria, no qual si0 Lucas quis resu- lacleiro destino de Israel, a mais profunda fo hua que se mostra e plenifica em Jesus A hintéria continua. Jodo nasce (1,57). Alegram-se te «lo Deus os conhecidos (1,58). E aquele menino Mal teecher o seu nome proprio, um nome que nto é Almples expresso de vontade ou trad Jo humana, mas uum sinal de misséo divina: “Jodo seré o seu nome” (1,63). E diante do nome e da missio do menino ‘lesprende-se a voz muda do pai Zacarias, que bendis & Deus e canta, profetiza: Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, Porque visitou, remiu © povo... (1,68), O cantico de Zacarias (1,68-79) oferece-nos 0 mes- Ro tema que tinham as palavras de Maria (1,46-55): louva-se a Deus porque amanhece para o homem existéncia verdadeira, um ser e vida que nao acaba, um mundo novo, Tudo, neste cintico e em sua esperanga, se man= tém no nivel do judaismo: jd se cumpriram as profe. Gias, a alianga e as promessas; agora e s6 agora a casa de Davi chega ao seu centro (cf. 1,69-73). Mas, uo men mo tempo, tudo o que se acha cantado aqui, é verdade cristd. O homem esta sem medo, jé libertado do mun. do e dos poderes inimigos; é homem em santidede, Ii vre e completo, perante seu Deus. Pela terra de fadiga € de cansago passa um aprazivel sopro de esperanga. Zacarias o recolhe e canta (1,74-75). 28 Perguntamos: Pode ser real esse mistério de justi- a e liberdade que aqui se canta? Nao serd tude isso um imenso sonho dos homens? Lucas escreveu dois Vros porque quer mostrar-nos que esse sonho existe e é Possivel consegui-lo. Tal & o contetido da historia de Jesus e do Espirito no mundo. Desde jd, Jodo, aquele que nasceu, € um arauto desse mistério, Dispord o ca- minho do seu Deus, seré um antincio do Oriente salva- dor que j4 se aproxima (1,76-79). Depois de ter deixado Joao se Preparar no deserto (1,80), Lucas nos conduz a Belém, ao nascimento (2,1- 7). Corriam os anos de César Augusto, O mundo era seu e mandara todos virem se inscrever nas listas do re. censeamento. José e Maria foram a Belém, E nasce o menino. Nasce 0 menino como membro de um império profano deste mundo (Roma). Mas nasce, ao mesmo tempo, em Belém porque descende de Davi e é a ex. pressdo da esperanca e das promessas do antigo testa- mento. Nasce sozinho, separado dos grandes caminhos deste mundo, ao lado de um presépio. Nenhuma palavra da terra pdde manifestar a ver- dade do nascimento de Jesus. Por isso 0 anjo do Senhor rompe o siléncio dos céus e comega a suscitar com a sua mensagem um mundo novo. Um mundo que é dom di. rigido aos pobres, aos pastores mais perdidos da terra, 40s que vive afastados e ndo tém um abrigo nas cida. des, aos que ignoram os segredos das coisas e esto sé (2,8-20). Nao temais, Anunciamo-vos uma grande alegria, uma alegria dirigida a todo o povo. Hoje mesmo vos nasceu, na cidade de Davi, um salvador que é Cristo-senhor 10-11). Aqui se centra 0 evangelho (Le 2,10: “Vos evan- Selizamos”), A sua verdade no é a noticia ou a recor. 29 dagao do nascimento de um César ou Senhor dos im- périos da terra. Os nascimentos deste mundo passam. Seu valor e sua alegria logo se diluem e se esquecem Nao obstante, 0 “hoje” da vinda de Jesus perdura sem- pre; é um hoje que nos conduz aquele Senhor e salva- dor que nos ajuda e vive, sem cessar, para nést As palavras do anjo dirigem-se a todos os homens de todas as idades. Sao antincio de evangelho, salvagao que nunca passa. Nelas se compendia e se resume a mensagem de séo Lucas. A salvagio de Jesus j4 nao se reduz ao momento da cruz e da pascoa (como em Pau- Jo). A vinda de Jesus, a encarnagao do grande mistério de Deus em nossa terra, é forca ¢ realidade que salva’ nascimento de Jesus deixa de ser um simples traco do passado. Nao é um fato que se perde. Toda a obra de Jesus é verdadeiro “nascimento” de Deus nes- te mundo, E nascimento a pdscoa, a ascensio e a vinda do Espfrito na igreja. Por isso, o anjo canta l4 no alto Gloria a Deus nas alturas; © na terra paz. ao homem em quem Deus se compraz (2,14), A gloria de Deus e a paz dos homens acham-se unidas para sempre no Cristo. O verdadeiro culto, 0 s: crificio — gloria a Deus nas alturas! — traduz-se como nova realidade humana, como amor de Deus que se es- tendeu sobre o mundo — e na terra paz ao homem. Mas continuemos com Lucas. Como a um judeu, circuncidam Jesus, pdem-lhe © nome revelado pelo anjo (2,11). Apesar disso, interessa a Lucas centrar todo o destino de Jesus em torno do templo. A salvacao 4, Velase wma ambjentagdo desta passagem do ansncio dos anjose sua rela- 40 com 0 elto imperial do helenismo em Mibat, La predicacion de Cristo en San tates yl culo al emperador: Weve 111 (1619) 261-297 '. Desta forma, Lucas co apronima do que srl. teologiacissca de Joo. A tendéncia a apresonar colocagies que Joto desenvalves deforma mas extensa¢ tina lin constante em sto Laces 30 de Deus comegou a expandir-se a partir do templo (1,15s). Por isso, embora Jesus esteja radicado na Gali- Iéia (anunciagao) e em Belém (nascimento), ha de su- bir ao templo e ouvir lé a voz do Pai (2,29s). A agio comega de baixo: cumprindo a escritura, oferecem Jesus ao Pai (2,22-24). Deus logo responde: O Espirito penetra em Simedo, o expectante ancifo, que bendiz a Deus e canta: Agora, Senhor, deixa que teu servo vé em paz, segundo disseste; porque meus olhos viram a tua salvacdo, que reparaste em face de todo mundo, luz de revelagao para as nagées e gléria de teu povo Israel (2,29-82) O velho Israel de esperanga j4 pode morrer. Nao termina em vao, pois viu o salvador e sabe que agora a sua meta é a gléria. Nesse Jesus que é menino se con- densam todos os momentos da histéria salvadora; esse Jesus é a verdade do antigo povo israelita, é irrupgao de luz e salvagao para as nacées. As palavras do anci&o podem parecer sentimental- mente preciosas. E 0 sao, de certa forma, Nao obstan- te, em seu interior, contém luta, expressam um parto doloroso, dificuldade e morte. Maria é desde agora si- nal da igreja que, mostrando o grande mistério de Je- sus, suscitou divisdo e choque. $6 na espada da perse- guigao, s6 na dor de um oferecer-se com Jesus por to- dos, pode-se apresentar 0 menino como bandeira sal- vadora para o mundo (2,84-35), Jesus, o menino, leva em si a verdadeira redengio de Jerusalém (2,38). O homem desse mundo, cresce (2,40) e passa; todavia, a sua verdade e realidade per- duram. A sua vida é um mistério. Assim j4 0 entende Maria que conserva tudo no mais intimo (2,19; 2,51). Assim o mostra a cena de Jesus que, sendo menino, jd ensina no templo (2,41-50) A cena do templo oferece um tema bem preciso. Jé dissemos que Jesus menino é para Lucas a expressio 31 do grande mistério salvador do Pai. E Apice e verdade do antigo povo israelita, é ao mesmo tempo revelagio e plenitude para as nagées. Tudo o que depois se mani- festa no ensinamento de Jesus, o que se exprime na sua ascenso e na vinda do Espirito, encontra-se aqui la- tente, de uma forma germinal e verdadeira. De algum modo pode-se afirmar que na vinda de Jesus resumiu- se para Lucas toda a revelagdo de Deus, a salvagio do homem. Em outras palavras, a salvagao ndo ¢ simples efei- to de um esforgo humano; n&o é tampouco resultado de uns atos mais ou menos arbitrarios. A salvagao que nos oferece Jesus é a expresso de uma vinda de Deus, de um agir do Espfrito divino. Por isso, o menino é se- nhor (kyrios), e isto desde o principio; é 0 soter, aquele que salva, jd desde a origem da sua vida. Vem de Deus e & Deus quem salva. Lucas quis precisar esta verdade com respeito d doutrina de Jesus, pregador do reino, mestre dos ho- mens. A sua sabedoria ndo é produto de um contato com os s4bios da escola. A sua mensagem nao é efeito de um pensar ou discorrer do mundo, Sendo menino — doze anos — Jesus sabe. Disputa com os sabios, no templo e os ensina, Poderia afirmar, utilizando pala- vras de so Joao: “A minha ciéncia ndo provém deste mundo”. Certamente, é 0 saber do Pai que o repleta. Por isso diz a Maria e a José que o procurara io sabieis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (2,49). Com isso, j4 se disse o essencial sobre a infancia de Jesus. Sabemos que 0 menino provém de Deus; sabe- mos que a sua propria realidade é salvadora, plenitude para Israel, revelagdo para os povos. Por isso podemos esperar um pouco. Enquanto isso, Jesus cresce (2,52). As cenas que agora seguem repetirio a mesma coisa: Jesus e Joao, 0 ponto de partida da mensagem. Mas 82 agora Jesus e Joo deixam de ser meninos. Falam-nos de uma forma piblica e aberta. II, A ATIVIDADE DE JOAO (3,1-20) A mensagem de Jodo comeca com uma datacio histérica: “No ano décimo quinto do reinado de Tibé- rio César... a palavra de Deus veio sobre Joao no de- serto. ..”” (3,1.2). Mais do que a exatiddo do dado con- creto, interessa a Lucas o seu sentido teolégico: o fato de Jesus e da igreja é, efetivamente, um elemento no- vo, mas realiza-se neste mundo, comecou num mo- mento bem preciso da histéria. Joao proclama um batismo de peniténcia, dirigido para o perdo dos pecados (8,3). Busca a conversio, a mudanga humana e quer colocar os judeus diante do juizo de Deus que exige uma mudanga radical, defini- tiva. Desta forma situa-se a luz dos profetas, converte- se em voz que clama: preparai-vos! Preparai vossos ca- minhos porque Deus se aproxima e vero todos a sua vinda salvadora (cf. 3,4-6; citagdo de Is 40,35) Em tudo isso, segundo a velha tradicio, Joao apa- rece come o precursor de Deus: a conversio que susci- tou tenciona dispor para o perdao que se aproxima (cf. 3,3). Mas, ao mesmo tempo, nos ameaca com 0 juizo: “O machado ja estd na raiz da arvore...” (3,9). De nada vale ser judew (8,8), ou apelar para velhos privilé- gios; o chamado que se estende a todos é 0 mesmo: de- monstrai a conversdo com obras (3,8). A conversio se mostra no servigo aos outros: “Quem tiver duas tinicas dé (uma) ao que nao tem; faga 0 mesmo quem dispée de alimentos” (3,11). De repente descobre-se agora que ninguém tem coisas para si; ninguém pode se chamar de dono verdadeiro dos seus bens. Converter-se significa por 0 que se tem 33, 2 = Teoogia de Leas

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