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Abstract
Characters of the four species of large Artibeus (Chiroptera, Phyllostomidae) occurring in Paraíba and
Pernambuco States, Brazil. The purpose of this study was to reevaluate the diagnostic characters of the four
species of the subgenus Artibeus, A. fimbriatus, A. lituratus, A. obscurus, and A. planirostris, that occurs in
Paraíba and Pernambuco States, Brazil, describing the inter-specific variation in the material available in the
collections of the Universidade Federal da Paraíba and Universidade Federal de Pernambuco. A total of 254
specimens were examined, 12 of A. fimbriatus, 41 of A. lituratus, 35 of A. obscurus and 166 of A. planirostris.
For each species, descriptions of external characters and skull are supplied as well as eight cranial measurements
that express the differences among the species observed with naked eye. With the discriminant canonical
analysis, the four species can be distinguished. Mahalanobis distances showed a larger similarity between A.
planirostris and A. obscurus as well as between A. fimbriatus and A. lituratus. The largest distance was observed
between the last two species and A. obscurus. We conclude that in Paraíba and Pernambuco occurred four
species of the subgenus Artibeus that may be distinguished morphologically as well as through multivariate
analyses.
Keywords: Artibeus planirostris, A. obscurus, A. fimbriatus, A. lituratus, diagnostic characters, Northeastern
Brazil.
Resumo
O objetivo deste trabalho foi realizar uma reavaliação dos caracteres diagnósticos das quatro espécies de grande
porte do gênero Artibeus: A. fimbriatus, A. lituratus, A. obscurus e A. planirostris, que ocorrem em Paraíba e
Pernambuco, Brasil, estudando a variação interespecífica do material disponível nas coleções da Universidade
Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Pernambuco. Foram examinados 254 exemplares, 12 de A.
fimbriatus, 41 de A. lituratus, 35 de A. obscurus e 166 de A. planirostris. Para cada uma das espécies são
fornecidas descrições de caracteres externos e do crânio bem como oito medidas cranianas que expressaram as
diferenças entre as espécies observáveis a olho nu. Pela análise discriminante canônica, pôde-se separar as quatro
espécies. A distância de Mahalanobis mostrou que existe uma maior semelhança entre A. planirostris e A.
obscurus, bem como entre A. fimbriatus e A. lituratus. A maior distância se deu entre estas duas últimas espécies
e A. obscurus. Podemos concluir que na Paraíba e em Pernambuco existem quatro espécies do subgênero
Artibeus que são distinguíveis tanto morfologicamente como através de análise multivariada.
Palavras-chave: Artibeus planirostris, A. obscurus, A. fimbriatus, A. lituratus, Caracteres diagnósticos,
Nordeste do Brasil.
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(Sousa et al. 2004), estendendo-se até o leste do morfométrica interespecífica do abundante material
Paraguai, e algumas províncias do norte Argentino disponível em coleções nestes Estados e elaborou-se
(Marques-Aguiar 1994; Taddei et al. 1998; Rui et al. uma chave de identificação.
1999; Marques-Aguiar, 2007). Esta espécie se
sobrepõe, em grande parte de sua distribuição, com as
outras três espécies do subgênero que ocorrem no Material e Métodos
Brasil (Taddei et al. 1998). Artibeus lituratus Foram examinados 254 exemplares: 166 de A.
encontra-se também amplamente distribuído, desde o planirostris, 41 de A. lituratus, 35 de A. obscurus e
México, ao sul do Brasil e norte da Argentina ( 12 de A. fimbriatus. O material está depositado nas
Koopman 1993 ; Marques-Aguiar, 2007). coleções de Mamíferos do Departamento de
Vários trabalhos têm sido publicados acerca da Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da
taxonomia de espécies do subgênero Artibeus da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Zoologia da
América do Sul. Gray (1838) revisou inicialmente o Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As
gênero, citando sete espécies, sendo três delas siglas AL (Alfredo Langguth), TL (Thaís Lira) e KS
descritas como novas Artibeus fimbriatus, Artibeus (Katharine Santos) referem-se a números de campo
fuliginosus e Artibeus lobatus. Handley (1990) de espécimes que ainda não foram incorporados à
revisou estas espécies e considerou Artibeus coleção da UFPB. Todos os espécimes foram
fuliginosus como um sinônimo júnior de A. obscurus coletados em áreas de Mata Atlântica ou em Brejos
e A. lobatus como sinônimo de A. jamaicensis. de Altitude.
Koepcke e Kraft (1984) descreveram as Com base na literatura (Handley 1991; Marques-
características externas e cranianas dos Artibeus de Aguiar 1994; Taddei et al. 1998) os seguintes
grande porte da Amazônia Peruana. Rui et al. (1999), caracteres foram utilizados consistentemente para
estudaram os caracteres que diferenciavam A. diagnosticar as espécies: coloração dos pelos do
fimbriatus de A. lituratus no Rio Grande do Sul. corpo, dorsal e ventral; presença de pelos no
Taddei et al. (1998) estudaram a distribuição antebraço, nas pernas e na membrana interfemoral;
geográfica e a morfometria de A. obscurus e A. listras faciais; disposição e forma da folha nasal e sua
fimbriatus, de São Paulo e da Amazônia incluindo relação com o lábio superior; forma dos processos pré
algumas medidas do crânio de exemplares do e pós-orbitários, da constrição pós-orbitária, perfil
Nordeste do Brasil. Alguns autores (Owen 1987; dorsal do rostro e a presença ou ausência do terceiro
Koopman 1993; Lim e Wilson 1993; Lim 1997; molar superior (M3). Estes caracteres foram
Guerrero et al. 2003; Lim et al. 2004; Hollis 2005; observados em todos os espécimes estudados.
Larsen et al. 2007; Marques-Aguiar 2007) tratam A. Para análise morfométrica, foram utilizadas a
planirostris como espécie válida. Já outros (Handley medida do antebraço e oito medidas cranianas
1987; 1990; 1991; Simmons e Voss 1998; Taddei et escolhidas da literatura (Vizzoto e Taddei 1973;
al. 1998; Simmons 2005) a consideram como Willig 1983; Handley 1987) que expressaram as
subespécie de A. jamaicensis. Em trabalho mais diferenças entre as espécies observáveis a olho nu.
recente, Larsen et al. (2007) sugeriram que A. Elas foram tomadas da seguinte maneira:
jamaicensis ocorreria somente na Jamaica, e a espécie Comprimento do antebraço (ANTB): Desde o
que ocorreria no Brasil seria A. planirostris. Neste cotovelo até a região proximal do metacarpo.
trabalho, será seguida a opinião de Larsen et al. Comprimento côndilo-incisivo (CI): Da região
(2007). mais anterior do pré-maxilar ao ponto médio da linha
Existe sobreposição no tamanho entre as espécies que passa pelos extremos posteriores dos côndilos.
de grandes Artibeus (Taddei et al. 1998; Dias e Comprimento da série dentaria inferior (SDI): Do
Peracchi 2008; Tabela 1). Por serem extremo anterior da borda do alvéolo do canino
morfologicamente semelhantes elas são muitas vezes inferior, ao ponto mais posterior da borda do último
confundidas. A. planirostris apresenta a maior molar do mesmo lado.
variação geográfica, o que dificulta, muitas vezes, a Comprimento da mandíbula (CM): Do extremo
identificação. Na região Nordeste do Brasil, esta anterior da mandíbula até o extremo posterior do
espécie apresenta um menor porte, ocorrendo uma processo condiloide.
sobreposição nas suas medidas com A. obscurus. Já Largura do rostro através dos molares (LR):
na região norte, onde não há registro de A. fimbriatus, Maior largura tomada entre as bordas externas dos
A. planirostris apresentam um maior tamanho, e é molares, perpendicularmente ao eixo maior do crânio.
facilmente diferenciada de A. obscurus. No entanto, Largura zigomática (LZ): A menor distância
ela se sobrepõe ali com A. lituratus (Taddei et al. obtida entre os pontos mais externos dos arcos
1998). zigomáticos, tomada perpendicularmente ao eixo
Havendo dificuldade para distinguir as diferentes maior do crânio.
espécies de grandes Artibeus que habitam áreas de Largura do rostro através dos caninos (LC): A
Mata Atlântica e Brejos de Altitude em Paraíba e menor distância obtida entre os pontos mais externos
Pernambuco, justifica-se uma reavaliação dos seus dos “cíngulos” de ambos caninos superiores.
caracteres diagnósticos. Estudou-se a variação
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orbitário variando de pouco a moderadamente (UFPB 4136, 4268); Sapé Loc. 1: (UFPB 1792); João
desenvolvido. A região da constrição pós-orbitária é Pessoa: (UFPB 1778, 3779, 3885, 3886).
estreita e localizada imediatamente atrás do processo Pernambuco: Ipojuca: (UFPB 5677, 5686, 5830,
pós-orbitário. O M3 esteve presente apenas em três 5834); Recife: (UFPB 3186; UFPE 76, 78); Rio
exemplares. Este caráter, junto com outros tem Formoso: (UFPB 1765, 1770, 3179, 3181, 3183,
significância na identificação da espécie. 3189, 3199, 3203, 3206, 3213, 3214, 3216, 3229,
Material Examinado (35) : Paraíba: Rio Tinto: 3230, 3235, 3237, 3238 UFPE 422, 735, 736, 1480).
Tabela 1. Medidas do crânio e do antebraço das espécies estudadas. Em cada célula, a linha superior apresenta a
média ± desvio padrão e a linha inferior os valores mínimos e máximos (entre parênteses) e o número de
indivíduos analisados. Ver em métodos a explicação das siglas das medidas.
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Figura 1. Crânios das espécies de Artibeus de Paraíba e Pernambuco. Vista dorsal e ventral. A) A. obscurus; B)
A. fimbriatus; C) A. lituratus; D) A. planirostris. Ver medidas na Tabela 1. Desenhos de Kleber da Silva Vieira.
Tabela 2. Variáveis canônicas das medidas cranianas e do antebraço das espécies de Artibeus estudadas. Ver em
métodos a explicação das siglas das medidas. Em negrito os valores das variáveis que mais influenciara para
cada eixo.
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Figura 2. Variáveis canônicas das medidas cranianas e do antebraço das espécies de Artibeus estudadas.
Quadrado= A. lituratus; Losango= A. fimbriatus; Círculo =A. planirostris; Triângulo = A. obscurus
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Apêndice
Lista das localidades de coleta em cada (7º50’S, 34º54’W), Loc.1 = Granja Flor do
município. As coordenadas junto ao nome do Campo; Loc.2 = Refugio Ecológico Charles
município correspondem às de sua sede, salvo às da Darwin; Ipojuca (8º24’S, 35º4’W), Mata do Mingu;
Fazenda Pacatuba, que corresponde ao local de Madre de Deus (8º9’S, 36º22’W), Sítio Rita, Mata
coleta. Bitury, Brejo Da Madre de Deus; Recife (8º3’S,
34º54’W), Mata Dois Irmãos, Recife; Rio Formoso
PARAÍBA: Cabedelo (7º1’S, 34º51’W), Mata do (8º41’S, 35º13’S), Reserva Biológica de Saltinho;
Amém; João Pessoa (7º7’S, 34º52’W), Cidade de São Caetano (8º21’S, 36º1’W), Serra dos Cavalos,
João Pessoa; Mamanguape (6o50’S, 35o7’ W), 13km ESE de São Caetano; Tapacurá (8º0’S,
Reserva Biológica Guaribas, 13,5 Km N, 6 Km W 35º3’W), Município de Tapacurá; Timbaúba
de Mamanguape; Mataraca (6º36’S, 35º3’W), (7º31’S, 35º19’W), Mata Água Azul, Usina
Millenium Chemicals; Rio Tinto (6º50’S, 35º7’W), Cruangi.
APA Barra de Mamanguape; Sapé (7º6’S,
35º13’W), Loc.1= Fazenda Pacatuba 10km NE de
Sapé; ( 6º54’S, 35º12’W) Loc.2: Fazenda Santa Fé.