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encamadas - elisa bracher oF depots um sa, ca 0 Ee m0 dea 908 comm 0 conpo, A mere do corp” ‘Milan Kundera" A série de pinturas vermethas atravessa tum period longo da prodtugto de Elisa Brachere traz desdobramentos em sua ‘postica que ainda ndo se extinguem, [ermanecem ativos, 90 peasamento piléstico da produgdo mais atual. Iniciada ‘em 2009, nos mesmos anos a artista realizou numerosos trabalbos nos quais testava os limites de Wécnicas jé experi- ‘mentadas ¢ também materiais novos em scala inédita, Por exemplo, fotogralias tno Artico nas montanhas andinas usan- do pinhole, e esfera de chumbo de oito toncladas, suspensa por cabos de ago na instalago “Ponto Final sem pausas” em 2011, no saldo central do MAM Rio. A ‘obra monumental se completava com ‘mensos “lengis” suspensos, também de cchumbo, do teto a0 cho, como basti- dores a estruturar um espago proprio, ‘em dislogo com a arquitetura do museu Enquanto trabalhava horizontes ex- ‘tremos dentro e fora dos museus, a pinturas vermethas ganharam impulso dentro do atelier. As pequenas péi- ‘nas em papel de seda ou papel arror ‘eresceram em volume ¢ em tamanho, ‘até ocuparem o atelier inteiro. Mesas, cchio e paredes jé ndo bastavam para (5 trabalhos em grande formato que ppermaneciam pendurados em varais atravessados no espago, obedecendo a tim lento processo de secagem Na prti- ‘ca de convivio ¢ contaminagao entre as diferentes téenicas ¢ linguagens do seu trabalho de escultura, gravura, fotografia ‘edesenho, a artista adotou para essas pinturas tintas proprias da gravura em ‘metal, giz litogréfico, bastfo oleoso, pis~ ‘mentos, resinas e dleos de lenta absorgio pelo papel delicado. No processo de investigagio formal que ‘a aproxima da pintura pela primeira vez, ‘artista busca outra experiéncia, que solicita de maneira profunda sua subje- tividade, fora do repertério de imagens € ‘técnicas habituais. Elisa volta-se a uma ‘zona conflagrada entre arte € alguns temas, querendo testar 0 limite de suas conviegGes formais reafirmat sua liberdade criativa. O exercicio traz {imagens simultaneamente reais ¢ apenas plésticas, para as quais a realidade ndo ¢ feito da representagio, mas potéacia da introspecgio. No lugar da cromia rigorosa de matriz cconstrutiva,restrita ao pret, branco ‘eocre, que dominou suas gravuras © dlesenbos, pela primeira vez, artista dota a cor ~ tadicionalmente con ‘siderada instrumento mais empirico © instintvo da construgéo plastica ~ como fio condutor do processo. O vermelho-es- carlateescolhido carrega as imagens de cemotividade, erotismo, dor, violencia € delicadeza extrema, nas variages tonais sobre 0 levissimo papel arroz Para a artista, cuja filiagio abstrata descende de uma marcada sensibilidade A linha, que exercitou com determinagdo a distincia da imagética antropomértica ‘0s vérios meios com os quais exprime suas quest6es de artista, a cor encarna- dda que se impunha,aliada aos inci, {imprimia ao trabalho uma inusitada ddimensio orgdnica ¢ postulava de modo diferente a questio da visualidade ( resultado s4o imagens avassaladoras, pungentes, de aspecto liquido, visce- ral, anto na cor encarnada dominante, ‘quanto no amarelado fuido do verniz.¢ nas massas negras que se afirmavam com tinta pesada sobre o papel flutuante, Ha ‘um movimento livre € castico entre as imassas cuja tensio aflora na superficie com forga centripeta, no desejo de um espago ilimitado, Os grumos densos de tinta, por vezes néo totalmente absorvi- da, escorrimentos, pinceladas largas € riscos de gestos amplos, até as bordas ‘do papel. trazem a presenga ¢ a energia do corpo da artista sobre as grandes superficies de dois metros ou mais. Go) ‘Apoiadas sobre os acrilicos, 0 espago das ‘obras se expande ~ ainda que permanesa ‘especificamente aut6nomo, io é mais ‘uma dimensfo separada, pode se es tender sem barreiras no espago teal WO fa pluralidade de meios com os quais exprime suas questtes de artista, retorna agora ds esculturas, testando imatenais inéditos na sua producso. jem trabalhos em vidro soprado, nos jquais a matéria mole, incandescent, toma forma calcinando a madeira sobre a qual se apoia, pesa e se amolda. O vidio possui uma maleabilidade que antes iio interessava & artista, assim como suas transparéncias ¢ luminosidade, qual dades metamérficas que respondem de ‘maneira nova ao contato com materi 4 conhecidos ¢ com os quais passa agora ‘ interagir. Analogamente ao dificil acordo entre a tinta pesada da gravura ¢ (0 papel arroz, a artista parece buscar um novo limiar de equilfbrio entre materiais antinémicos nestas obras de grande de- licadeza ¢ fragilidade, nas quais 0 vidro cede, se amolda, sem se romper, segundo a forma e o peso da pedra {A facilidade com que a artista explora ideias em diferentes formas, matérias © ‘téenicas simultancamente, sugere que, para cla, a trama intertextual que une seu ‘rojeto criativo dissolveu as barreiras tipicamente erguidas entre as formas ariisticas. (texto retirado do catélogo) Elisa Byington °O pesto brual do pintor. sobre Francis Bacon Im KUNDERA, Milan, Um encontro 5d. Companhia das Letras: Sto Paulo, 2013 GALERIA RAQUEL ARNAUD

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