me
ie
Om
Ce)
(3 i
eae
Ob
i@
co)
ODecorridos mais de 60 anos do seu
surgimento, a Abordagem Centrada
na Pessoa, que no inicio se restringia
a um modelo psicoterapico, foi apli-
cada aos campos da educagao e das
relagoes humanas em geral. JOHN
KEITH WOOD (1934-2004) 6 um dos
pensadores que melhor compreen-
deu as implicagdes dessa aborda-
gem, nao sé para a vitalidade organica
dos grupos, area de concentragao de
seus trabalhos e estudos, como para
a preservacao da vida em seu sentido
mais amplo.
John Wood integrava, desde 1970,
a equipe de psicdlogos e pesquisa-
dores do Center for Studies of the Per-
son, centro fundado em 1964 por Carl
Rogers e colaboradores em La Jolla,
Califérnia. No Brasil, marcou influén-
cia desde 1977 quando, ao lado de
Rogers, compés a equipe de La Jolla
que promoveu os grandes workshops,
chamados encontros de comunidade,
realizados nas cidades de Recife, Rio
de Janeiro e Sao Paulo. Radicou-se no
Brasil em 1984, contribuindo com seuCarl Ransom Rogers
John Keith Wood
Abordagem Centrada
na Pessoa
Organizadores
Jaime Roy Doxsey =»
Lucila Machado Assump¢ao
Marcia Alves Tassinari
Marisa Japur
Monica Allende Serra
Raquel Wrona
Sonia Regina Loureiro
Vera Engler Cury
EDUFES
Vitoria, 2010Abordagem Centrada na Pessoa
QUINTA EDIGAO
ano de 2010Eorrora pa UNIversiDabe Feperat 00 Espirito SANTO
‘AuFernando Ferran, 514 - CEP 29075-910 - Goiabeiras -Vtéria - ES
Tol: (27) 9935 7852 ‘ediufes@yahoo.com.br
EDUFES
Reston | Rubens Sérgio Rasseli
Vice-Rerror | Reinaldo Centoducate
‘Secneréria De Prooucdo e Dirusko Cucrunat | Rosana Liicia Paste
Coorpenapona pa Eoures | Elia Marli Lucas
‘Consetno Epiroriat
Cleonara Maria Schwartz, Fausto Edmundo Lima Pereira,
Joao Luiz Calmon Nogueira da Gama,
José Arminio Ferreira, José Francisco B. Freitas,
Gilvan Ventura da Silva, Marcio Paulo Czepack,
Sandra Soares Della Fonte, Waldir Cintra de Jesus |Junior e
Wilberth Clayton Ferreira Salgueiro
Capa Discramagho | Denise R. Pimenta
Revisio | Lucila Machado Assumpgao
Iupresso | GM Grafica & Editora Ltda - 3323-2900
‘Todos direitos reservados Proibida a reprodug0 no todo ou em parte deste livro, sem prévia
‘autorizagao da editora e do autor Edufes, 2010 - 5° Edicgao,
Dados Internacionais de Catalogagao-na-publicagao (CIP)
__ {Biblioteca Central da Universidade Federal do Espirito Santo, ES, Brasil)
Rogers, Car! R. (Carl Ransom), 1902-1987.
R724a Abordagem centrada na pessoa / Carl Ransom Rogers, John Keith
Wood ; organizadores, Jaime Roy Doxsey ... fet al.], - 5. ed. - Vitdria :
EDUFES, 2010.
284 p. ; 14,5 x 21cm
Inclui bibliagrafia.
(SBN:85.7111- 007-7
1, Psicologia humanistica. 2. Psicoterapia. |. Wood, John Keith. Il.
Doxsey, Jaime Roy. Ill. Titulo.
CDU: 615.851PROLOGO
Carl Ransom Rogers (1902-1987) talvez tenha sido o psi-
cdlogo mais importante do seu tempo. Numa consulta a psicd-
logos clinicos e conselheiros norte-americanos, a quem foi pe-
dido que indicassem os dez terapeutas mais influentes, o nome
de Rogers aparece no topo da lista (Smith, 1982).
No entanto, ainda mais impressionante que sua popula-
ridade foram suas realizagdes. Apds muitos anos de trabalho
dedicado, desenvolvendo uma psicoterapia verdadeiramente
humanista, Rogers foi eleito, em 1947, presidente da Associa-
cao Americana de Psicologia.
Sua participagao nessa instituigao marcou um ponto sem
volta no reconhecimento que a sociedade norte-americana
passou a dedicar ao papel do psicdlogo clinico, aceitando-o
também como psicoterapeuta. Isto porque a pratica inicial de
Rogers no campo do Aconselhamento Psicolégico, tornando-o
objeto de pesquisa empirica, fortaleceu o reconhecimento de
seu trabalho como atinente a psicoterapia, legitimando-a como
parte do campo de atuacao do psicélogo. Até entao, era veda-
da aos psicélogos a pratica da psicoterapia, prerrogativa exclu-
siva de médicos psiquiatras.
Essa mesma associagao conferiu-Ihe prémio por “Emi-
nente Contribuigao Cientifica” e outro por “Eminente Contribui-
Gao Profissional”. Foi também o primeiro presidente da Associa-
ao Americana de Psicoterapeutas, no periodo compreendido
entre 1956 e 1958.
Rogers escreveu mais de 250 artigos e publicou em torno
de 20 livros. Cerca de doze filmes foram feitos sobre seu traba-
Iho e é dificil precisar o numero de horas gravadas em audio e
video de suas sess6es psicoterapicas, tal o seu volume.
Revendo essa producao, particularmente o material com-
Ppreendido entre 1940 e 1970, periodo em que se gestaram suas
idéias mais cuidadosamente formuladas, fica-se at6nito dian-
te da gama e profundidade das questdes levantadas, que ele
procurou responder. Quem sou eu? Seré que posso ajudar?
Como? 0 que posso fazer? Como uma pessoa muda? Qual o
ponto de partida? Qual poderia ser 0 ponto final? Como abor-14|
John Keith Wood et al. (org)
dar esta tarefa? 0 que pretendo? Quais sao minhas atitudes?
Meus valores? 0 que sinto e penso? Quais sao os fatos? 0 que
realmente funciona? Sera suficiente escutar? Qual é 0 efeito
da honestidade, da congruéncia? Como me relaciono com o
cliente? 0 que significa o nosso relacionamento? Realmente me
importo com ele? Qual é a percepgao que 0 cliente tem de mim,
da relacao, da atividade? Como é o mundo do cliente? Qual e
0 objetivo da terapia? 0 que é a pessoa? Qual é a natureza do
homem? Quais sao as implicagdes mais amplas de nossas des-
cobertas? Que é educagao? Sera que posso facilitar a apren-
dizagem? Como? Sera que posso ser uma pessoa facilitadora
em um grupo? Sera que posso facilitar a comunicagao entre
antagonistas? Sera que meu modo de trabalhar traz contribui-
GOes para a resolugao dos problemas criticos da atualidade?
O que é a Abordagem Centrada na Pessoa?
Rogers considerou a Abordagem Centrada na Pessoa como
uma forma singular de abordagem, organizadora da experién-
cia bem sucedida, em diversas atividades. A Terapia Centrada
no Cliente foi a primeira dessas aplicagdes e consistiu na facil
tacao do crescimento pessoal e satide psicolégica de individu-
os numa psicoterapia pessoa-a-pessoa. Grupos de encontro,
aprendizado em salas de aula, terapias de pequenos grupos ou
workshops de grandes grupos para aprendizagem sobre forma-
go e transformagao da cultura, comunicacées inter-culturais e
resolugao-de-conflitos estao entre as outras atividades onde a
Abordagem Centrada na Pessoa tem sido aplicada com graus
variados de sucesso.
A Abordagem Centrada na Pessoa nao é uma teoria, uma tera-
pia, uma psicologia, uma tradigao. Nao é uma linha, como por
exemplo, a linha Behaviorista. Embora muitos tenham notado
um posicionamento existencial em suas atitudes, e outros. te-
nham se referido a uma perspectiva fenomenoidgica em suas
intengdes, nao é uma filosofia. Acima de tudo néo é um movi-
mento, como por exemplo, o movimento trabalhista. E mera-
mente uma abordagem; nada mais, nada menos. E um ‘jeito
de ser” (Rogers, 1980) ao se deparar com certas situagdes, que
consiste de:
- uma perspectiva de vida, de modo geral, positiva;
- uma crenga numa tendéncia formativa direcional que RogersAbordagem Centrada na Pessoa |5* edigao
(1980) descreve brevemente como: “Os individuos tém dentro
de si mesmos amplos recursos para a auto-compreensao, para
alterarem seu auto-conceito, sua atitude basica e seu compor-
tamento auto-dirigido; esses recursos podem ser mobilizados
se lhes for proporcionado um clima definido de atitudes psico-
ldgicas facilitadoras” (p. 115);
— uma inteng&o de ser eficaz nos préprios objetivos. No caso
da Terapia Centrada no Cliente, por exemplo, a intengdo é aju-
dar outro ser humano a fazer mudangas construtivas na perso-
nalidade; :
— um respeito pelo individuo e por sua autonomia e dignidade.
Rogers, em uma de suas primeiras tentativas para descrever
sua abordagem no que concerne sua aplicagao a psicoterapia,
propés que o terapeuta teria “uma capacidade de simpatia que
nao seria exagerada, uma atitude genuinamente receptiva e in-
teressada, uma compreensao profunda que tornaria impossivel
fazer julgamentos morais ou ficar chocado ou horrorizado.” Este
terapeuta teria um respeito pela individualidade que vai ainda
mais além. Incluiria “um respeito profundamente enraizado pela
integridade da pessoa [...] uma vontade de aceita-la como 6,
no seu proprio nivel de ajustamento, e Ihe dar liberdade para
conseguir solugdes prdprias para seus problemas”. Rogers
achava que se deveria esperar que um terapeuta tivesse “uma
s6lida compreensao de si mesmo, de seus padrées emocionais
predominantes, e suas prdoprias limitagdes e atalhos” (Kirschen-
baum, 1979, p. 96);
— uma flexibilidade de pensamento e acao, nao tolhida por
teorias ou praticas anteriores, nem mesmo pela experiéncia,
aberta a novas descobertas. Uma habilidade de se concentrar
intensamente e, com clareza, apreender a construgao linear da
realidade, pedago-a-pedago, bem como perceber sua realida-
de integral, holistica, “toda-de-uma-vez”;
— uma tolerancia quanto as incertezas ou ambigtiidades, sendo
capaz de viver numa situagao cadtica até que fatos suficientes
se acumulem para ser possivel abstrair-se um sentido deles.
Um interesse “nao na verdade ja conhecida ou formulada, mas
no processo pelo qual a verdade é tenuamente percebida, tes-
tada e aproximada” (Rogers, 1974);
— senso de humor, humildade e curiosidade, sem duvida, tam-
bém tém seu papel, embora nao sejam exclusivos dessa abor-
dagem.16|
John Keith Wood et al. forg.)
A Diferenga entre Abordagem Centrada na Pessoa
e Terapia Centrada no
Antes mesmo da abordagem ter um nome especifico, tal
como Abordagem Centrada no Cliente ou Abordagem Centrada
na Pessoa, Rogers ja aplicava as mesmas intengdes, crengas e
atitudes para uma psicoterapia eficaz. Ele nao estava tentando
fazer uma boa terapia, apenas tentava ajudar seu cliente. Ao
fazer isso, colheu varias observagées. Algumas ages pareciam
ajudar mais que outras. Os clientes pareciam agir de determina-
da maneira em certas situagdes.
Assim, métodos se desenvolveram a partir dessas obser-
vagoes. Teorias foram propostas. Principios foram estabeleci-
dos. Aquilo que, no final, foi chamado de Terapia Centrada no
Cliente, evoluiu juntamente com os principios que 0 estavam
organizando. Terapia Centrada no Cliente tornou-se um sistema
de mudanga na personalidade. Embora relacionada com esse
sistema, a abordagem, que veio a ser chamada Abordagem
Centrada na Pessoa, é uma categoria distinta.
Assim, a Terapia Centrada no Cliente tem uma teoria es-
pecifica, coerente e bem documentada (Rogers, 1959). A Abor-
dagem Centrada na Pessoa nao tem nenhuma teoria. Que teo-
ria poderia ter uma abordagem?
Existe um método para conduzir uma Terapia Centrada
no Cliente. Nao é tao bem especificado quanto a teoria, mas a
técnica pessoal de Rogers foi extensivamente documentada e
péde ser precisamente descrita. A abordagem nao tem méto-
do. Ela toma forma de acordo com a demanda.
Quanto a Terapia Centrada no Cliente, um corpo substan-
cial de pesquisa se acumulou, testando as hipdteses propostas
pelo estudo de sua teoria e pratica. Embora de um modo geral,
a pesquisa tenha sido incapaz de convencer a maioria dos psi-
célogos da validade da teoria, o que tem sido mais convincente
é que, de fato, melhorou a psicologia em geral, foi um sucesso
na clinica da Terapia Centrada no Cliente. A Abordagem Cen-
trada na Pessoa nao tem sido pesquisada. A forga e a fraqueza
dos conceitos de Rogers decorrem em grande parte do fato de
que provém da experiéncia direta do processo de psicoterapia
eficaz.
O desenvolvimento da Terapia Centrada no Cliente eficaz
resultou na formulagao de certos principios. Alguns se tornaramAbordagem Centrada na Pessoa |5* edigao
parte da teoria; outros, parte do sistema de crengas dos seus
Ppraticantes; outros ainda, parte do folclore que inevitavelmente
cerca as atividades de um grupo de pessoas envolvido na mes-
ma tarefa. Para a abordagem, nao ha tais principios.
No caso da Terapia Centrada no Cliente, a abordagem foi ca-
racteristicamente expressa através de uma compreensao em-
patica intensa dentro de um relacionamento genuino, de pes-
s0a-a-pessoa, sem questionar ou julgar, valorativamente, os
pensamentos e sentimentos do cliente.
Em 1946, Rogers proferiu uma palestra cuidadosamente
preparada para uma audiéncia bastante cética na Clinica Men-
ninger. O nome desse artigo seminal que foi editado e subse-
quentemente publicado na revista The American Psychologist,
era: Aspectos Significativos da Terapia Centrada no Cliente. Sua
Psicoterapia ganhava um novo nome e apropriadamente, ele se
referia a sua abordagem como “Abordagem Centrada no Clien-
te”. Dizia: “Embora a Abordagem Centrada no Cliente tenha
suas origens puramente dentro dos limites da clinica psicolégi-
ca, esta provando ter implicagées, freqiientemente de natureza
bastante espantosa, em diferentes campos de atividades”. Ele
previu que essa nova abordagem iria produzir:
[1] uma maior compreensao do processo de psicotera-
pia e a melhora da sua pratica;
[2] aplicagdes no campo da educagao;
[3] um maior respeito pela filosofia da auto-determina-
ao;
[4] aplicagdes na resolugao de conflitos sociais e gru-
pais.
O que, de fato, ocorreu. Além disso, ao longo de sessen-
ta anos de sua carreira, a abordagem nunca mudou. Nos pri-
meiros trinta anos, durante a fase intensiva do desenvolvimento
da Terapia Centrada no Cliente, era freqiientemente chamada
de Abordagem Centrada no Cliente. Nos trinta anos seguintes,
quando foi aplicada mais intensivamente a Educagao, a peque-
Nos grupos de encontro ou a psicoterapia de pequenos grupos,
€ a grandes grupos para facilitar a compreensao transnacional,
a resolugao de conflitos ou a aprendizagem sobre a natureza
da cultura e seus processos de formagao, tem sido chamada
Abordagem Centrada na Pessoa.
\1718)
John Keith Wood et al. (org.)
O quadro a seguir podera ajudar a colocar em perspectiva a
historia da abordagem e suas aplicagdes mais importantes:
A ABORDAGEM
bordagem Centrada no Cliente Abordagem Centrada ni
Pessoa
Terapia Centrada no Cliente Outras Aplicagoes
! ul MM IV Vv vi
|. Atitudes do terapeuta. Caracterizada pelo livro de Ro-
gers, Aconselhamento e Psicoterapia, publicado em
1942.
Il. Métodos de terapia. Identificada pelo livro Terapia Cen-
trada no Cliente, publicado em 1951.
lll. Experiéncia ou processos internos. Corresponde a
publicagao (1961) do best-seller, Tornar-se Pessoa.
IV. Facilitagao do aprendizado. Liberdade para Aprender
(1969).
V. Relacionamentos inter-pessoais. Grupos de Encontro
(1970).
VI. Processos sociais, formagdo e transformagao da cul-
tura. Sobre o Poder Pessoal (1977) e Um Jeito de Ser
(1980).
O periodo dos primeiros trinta anos da Abordagem Cen-
trada no Cliente estava voltado para o desenvulvimento de um
sistema de mudanga na personalidade que se concentrava no
mundo subjetivo do individuo. O periodo dos trinta anos se-
guintes da Abordagem Centrada na Pessoa voltou-se também
para interag6es sociais e se concentrou no aprender fazendo.