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CAPITULO 3 ENTRE TEORIAS E ESPANTALHOS — DETURPAGOES CONSTITUTIVAS NA TEORIA DOS PRINCIPIOS E NOVAS ABORDAGENS Karl-Heinz Ladeur Ricardo Campos 1. INTRODUGAO Na ocasiao de langamento da tese de livre-docéncia (Habilitation) do Prof. Robert Alexy, Theorie der Grundrechte (ALEXY, 1994), em 1987, a resenha critica do jurista Peter Haberle ganhou destaque na notavel revista alema Der Staat. A critica do renomado jurista durante a efervescéncia da publicagiio de R. Alexy contornava interessantes pontos que, na atualidade e sobretudo ao atento leitor brasileiro, parecem um tanto quanto ilustrativos. Essa sensagao diante da resenha critica de P. Haberle se da pelas duas vertentes centrais que ela perfaz. Por um lado, aponta que, em sede da jurisprudéncia sobre a ponderagao, a pesquisa de Alexy sobre a teoria dos direitos fundamentais, tendo em vista a pratica recorrente do Tribunal Constitucional Alemao (BVerfG), nao esbocava uma alternativa ao desenvolvimento da aplicagiio do método da ponderagao tido como cotidiano, ja ha algumas décadas anteriores a publicagao de R. Alexy. O autor corrobora tal apontamento destacando ainda quéo escassas eram as criticas a jurisprudéncia correlata daquele tribunal na obra de R. Alexy (HABERLE, 1985, p. 135-141). Por outro lado, Haberle reconhece que, apesar da pouca inovagio em sede de direitos fundamentais (claramente sentida entre 0 piblico alem&o), Alexy consegue fazer uma ponte/conexao entre 0 direito constitucional ¢ a filosofia do direito. Tal mérito seria atribuido a revitalizagao da conhecida teoria dos valores dentro dos direitos fundamentais (DURIG, 1956, margem de nota 73)95, mas acima de tudo com a incorporagao da distingao entre regras e principios da tradigao analitica dentro da teoria dos direitos fundamentais (HABERLE, 1985, p. 140-141). Partindo dessa interessante interseccdo, este livro retoma essa “ponte de ligagao” ou conectividade entre o direito constitucional e suas disciplinas afins, no cerne de seu interesse tematico. Neste capitulo, a tematica central gira em torno de “testar” a ponte entre o direito constitucional e a filosofia do direito proposta por R. Alexy em sua teoria dos principios. Dito de outro modo, seria de se perguntar em que medida a compreensio do fendmeno juridico pode ser entendida como fator bipolarizador entre regras e principios, no sentido assumido por Alexy. A pergunta ganha peculiar interesse se reconduzida a uma suposta tradigo analitica surgida na Alemanha em meados do século XIX. Nesse sentido, é argumentado que a adogao da distingaio entre prinefpios e regras advinda da tradig&o analitica — e em Alexy tida como “mais valia” de sua arquitetura conceitual — esbarra em problemas insuperaveis, dado o desenvolvimento do direito no aspecto histérico da tradigdo analitica alema. Outro ponto a ser discutido toca a possibilidade de falar em otimizagio de direito numa sociedade complexa. Ademais é chegada a hora de tematizar dentro da teoria dos direitos fundamentais quais seriam hoje as “pontes” mais adequadas entre o direito constitucional e suas disciplinas vizinhas no terreno amplo do método constitucional e teoria da constituig&o evitando a quimera da autorreferéncia cega do direito, sem sua insergao ou reconstrugao num determinado contexto social. Para tanto, a intrigante questo suscitada pelo famoso constitucionalista alemao E. W. Béckenférde se existiria uma teoria da constitui¢do constitucional(!) (BOCKENFORDE, 1991, p. 115 e s.) oferece um ponto de partida. Em outras palavras, seria de se questionar onde poderia ancorar a fundagao de uma teoria da constitui¢do ou do método constitucional em face de uma sociedade onde a fundamentagdo ultima das “grandes formulas”, como natureza, Deus ¢ razo (pratica) (STOLLEIS, 2009, p. 533- 546), j4 ndo consegue mais abarcar de forma satisfatéria essa sociedade em constante transformagdo. O paradoxo da (in-)existéncia de uma teoria da constituigéo constitucional — em C. Schmitt exemplificativamente de uma constituig&o antes da constituigdo (SCHMITT, 2003, p. 22; MOLLERS, 2004, p. 60 e s.) — revela a complicada e interminavel relagao das formas ¢ pressupostos entre normatividade e faticidade do direito em uma sociedade complexa, na qual nao mais se pode reduzir sua observagio a partir de um ponto tinico privilegiado norteador da pratica social96. O presente capitulo é dividido em trés partes: (II) em um primeiro momento ser argumentado que as distingdes caras a teoria dos principios sao inerentes a uma a-historicidade e a um reducionismo do conceito de direito do século XIX. Reducionismo esse que tem uma dimensao epistemolégico-constitutiva para a arquitetura tedrica da teoria dos principios. Em um segundo momento (IID) sera foco de tematizagao a fungao do mandado de otimizagao dentro de uma sociedade complexa. Por fim, (IV) sera esbogado como a mudanga da forma de distribuigéo do conhecimento social interfere na conceitualizagao dos métodos de aplicagao do direito na sociedade hodierna. Il. PRESSUPOSTOS IMPLICITOS DA TEORIA DOS PRINCIPIOS OU A FALACIA DO ESPANTALHO? Dentro da teoria da argumentagdo, e especialmente da retérica, sao corriqueiros focos de estudo tanto as figuras quanto as estruturas da argumentagao pragmaticas. No entanto, o estudo das faldcias ou falacias informais, e, especialmente, 0 da falacia do “homem de palha”, tem sido ofuscado diante da forte tendéncia légico-racional existente dentro da retérica (HAMBLIN, 1970, p. 9) e da teoria da argumentagao nas ultimas décadas. A recondugao a tradigiio aristotélica de retérica permite um bom exemplo dessa tendéncia, dada sua afirmagao de pressupostos tendentes a tornar o discurso “puro” ou ideal. A fidelidade ao argumento opositor, em Aristételes, servia a tal fungdo como um pressuposto para a refutagdo de um argumento dentro de um debate97. O que se pretende por hora é afastar as chamadas “pressuposig6es ideais do discurso”, a fim de direcionarmos nossa atengéo nao para a plenitude comunicacional ideal, mas para as imperfeicdes e deturpagdes decorrentes dela. Até o presente, a falécia informal do espantalho ou homem de palha pautou-se como uma ferramenta para diagnosticar distorgdes dentro de reconstrugdes de argumentos. O desafio inicial inerente ao presente artigo esta em utiliza-la no diagndstico das deturpagées constitutivas presentes na teoria dos principios, desenvolvida por R. Alexy, sobretudo porque estas acabam por ter consequéncias para sua construgao da teoria como um todo. A falacia do homem de palha, como uma forma de falcia informal, difere de outras imprecisdes ou deturpagdes pelo fato de que o cere ¢ os atributos da proposigéo do oponente nao sao refletidos pelos argumentos do interlocutor debatente, ou seja, a incorreta representagao do oponente revela uma forma de superagao deste (WALTON, 1996, p. 115-128; JOHNSON e BLAIR, 1983, p. 71). Segundo Tallise e Aikin, existiriam dois tipos de falicias do homem de palha: a forma de representagdo e a forma de selegao. Esta ultima difere da primeira ao selecionar um argumento secundario dentro de todo 0 discurso do debatente como objeto de oposigao. Dentro da forma de selecio, a fragilidade do “homem de palha” revela-se na fuga do opositor da argumentagao mais forte, de modo a construir sua tese central sobre as bases de um argumento periférico, propositalmente selecionado. Dentro da forma de representagao, por sua vez, essa fragilidade encontra-se em uma reconstrugao incoerente, reducionista ou mesmo falha da visio de seu oponente. A falacia do homem de palha em sua forma representativa serve, em iiltima andlise, para garantir 0 éxito da argumentagio do opositor e superagio da argumentacgio contraria, as custas de sua reconstrugio deturpativa (TALISSE e AIKIN, 2006, p.345-352). O presente artigo aponta os espantalhos presentes na teoria dos principios. Pois que, ao se referir tradic&o analitica alema, R. Alexy se vale da segunda modalidade da forma argumentativa na construgao de sua arquitetura tedrica, acabando por recepcionar 0 homem de palha em sua forma representativa, a macular sua teoria como um todo. Nao é afirmado que o faz de forma consciente, pelo contrario, o surgimento da teoria dos principios em terras alemas, como tipico produto da segunda metade do século XX, incorpora distingdes, deturpagdes e imprecisdes presentes em autores que fundaram escolas ¢ influenciaram grande parte do pensamento juridico do pés-guerra na Alemanha. Essa condigao deturpativa fez-se presente antes mesmo do nascer da teoria dos principios, nomeadamente pelos autores Karl Larenz e Franz Wieacker, por exemplo. Nos ultimos anos, entretanto, vive-se uma redescoberta do século XIX, nado somente na histéria do direito (KREMER, 2008; HAFERKAMP, 2004; MEDER, 2004; RUCKERT, 2011; FALK, 1989; RUCKERT e SEINECKE, 2012), mas também na historiografia como um todo98. Ila. A construgao de um Espantalho Conceitual - “sermocunari tamquam e vinculis” Até entdo na abordagem critica da teoria dos principios e especialmente dentro de sua aplicagdo na teoria dos direitos fundamentais, as principais ctiticas recorrentemente partem do comum entendimento de que a teoria dos principios é inerente a uma certa desorientagao da pra i direito constitucional99. Se, por um lado, é afirmada uma fixagdo no Estado do modelo, que incorpora, por isso, limites cognitivos (LAUDER, 2006, p. 368 e s.), por outro, constata-se um pragmatismo sem orientagdo e decisionista em sede metodologica (SCHLINK, 1984, p. 460 ¢ s.; SCHLINK, 1976, p. 221 ¢ s.). As visdes recorrentes no que tange a critica 4 ponderaraio parecem diagnosticar problemas parecidos, porém sem adentrar a raziio dessa questo. Noutras palavras, no respondem a questio: por que as distingdes centrais da teoria dos principios obscurecem o objeto a ser orientado por ela, ou seja, a pratica deciséria? Em primeiro lugar é preciso clarificar que a falta de parametro, controle e racionalidade da deciso juridica ponderativa dentro da teoria dos principios nao decorre exatamente de um problema do resultado da aplicagdo da teoria em si, como foi, até entdo, largamente afirmado pelos criticos da ponderacao. O problema central em torno da decisio juridica e seu controle futuro decorre, dentro da teoria dos principios, acima de tudo de sua equivocada reconstrugao interna do que Alexy chama de dimensio analitica do trabalho juridico da tradigao alema. Ocorre que essa tradigao é justamente o conceito de direito que a teoria dos principios visa superar, suplementar ou ao menos complementar. Tomemos a literatura primaria para melhor exemplificar esse ponto. Em sua obra-prima Teoria dos direitos fundamentais, Alexy contorna de forma bem interessante 0 que ele chama de teoria estruturante. Essa teoria estruturante seria, segundo Alexy, nao apenas o basilar de sua teoria integrativa mais ampla (ALEXY, 1994, p. 171 ¢ s. e 32), mas também aquela que confere 0 grau de racionalidade da disciplina ciéncias juridicas em si (ALEXY, 1994, p. 38). A importancia da teoria estruturante para a teoria dos principios (e teoria dos direitos fundamentais) ¢ edificada com referéncia a autores como Laband, Windscheid, Gerber, Jellineck e outros. Nesse ponto, crucial € compreender e percorrer os meandros de como a teoria dos principios reconstréi 0 papel metodolégico desenvolvido por esses autores e essa tradigao juridica tao cara ao pensamento juridico moderno. A teoria estruturante dos direitos fundamentais ou dimensao analitica, como parte constitutiva da teoria integrativa, denota assim, segundo Alexy, uma forma de trabalho juridico decorrente da forma metodoldgica desenvolvida pela “jurisprudéncia dos conceitos” (ALEXY, 1994, p. 37) do século XIX. Essa tradigéo, que foi principalmente contraposta pela chamada “jurisprudéncia dos interesses” (EDELMANN, 1967, p. 53 e s.), possuiria em seu cerne, ainda segundo Alexy, um “modo de tratamento do direito de forma légica” (ALEXY, 1994, p. 35) que se aproximaria da matematica, onde a forma de desenvolvimento se da na disciplina da ldgica. A ideia por detras é de que 0 trabalho do operador do direito procede como uma dedugaio de um material j4 pronto, de um sistema ja fechado. Essa forma de trabalho é tida por ele proprio como um “opus proprium” das ciéncias juridicas par excellence (ALEXY, 1994, p. 38). Nesse ponto, pode-se ver a condensagao da obra de Alexy, notadamente da teoria da argumentagao, da teoria dos direitos fundamentais e da teoria do direito como um todo. A tese central, que sempre volta a tona, retoma justamente a forma como sua teoria reconstréi a tradigdo da “jurisprudéncia dos conceitos” ou tradi¢ao juridica do Direito no século XIX para seus diferentes propdsitos. Tradigéo essa que tende a denotar uma “maquina de subsuncao” (OGOREK, 1986) regrada pela légica, dedugdo, ato de conhecimento puro — quase cego — desvinculado de valoragées etc. Para tornar clara a influéncia dessa tradigao, ou melhor, de como o autor reconstroi essa tradigao nos diferentes Ambitos de sua pesquisa, tomemos as trés grandes vertentes de seus escritos: teoria da argumentagao, teoria dos direitos fundamentais e teoria do direito. Pode-se dizer que na teoria da argumentagio, a tese central baseia-se na ideia de impossibilidade de justificago da decisao juridica somente por conceitos dogmaticos ou por relagdo légica das regras juridicas (ou seja, pela logica), necessitando assim da dimensio de argumentos praticos (ALEXY, 1983, p. 348, 324 es. e 340e s.). Nesse ponto, 0 conceito de justificagao interna reflete, segundo o autor, a forma de trabalho do silogismo juridico que remeteria a tradig&io analitica alema do século XIX, ou seja, sistema fechado e possibilidade de aplicagao da légica formal no direito (ALEXY, 1983, p. 273 es.). Na teoria dos direitos fundamentais, faltaria a dimensio normativa para supri-la, ou melhor, desenvolver de forma produtiva o legado da pesquisa da jurisprudéncia conceptual (ALEXY, 1994, p. 38) numa teoria integrativa mais ampla que incorpore principios e nao somente subsungao. Na teoria do direito, pretensao de corregao advém de uma superagao do modelo puro de regras (século XIX, silogismo etc.) pelo modelo de prineipios, 0 qual por sua vez incorpora uma dimensao ideal-moral-regulativa no direito (ALEXY, 2005, p. 129 e s.). Nos trés momentos de sua teoria, a “tradig&o analitica alema”, reconstruida por Alexy de forma singular, ressurge como um conceito a ser superado. Contudo, marco argumentativo central desse tépico é, sem divida, a figura reguladora do modelo caricaturado por Alexy do conceito de direito do século XIX (OTT, 1992, p. 42 e s.; SCHMIDT, 1952; BRAUN, 2001, p. 213 ¢s., JESTAEDT, 2006, p. 21). Vejamos que 0 eixo estruturante de sua teoria, nas suas diversas aplicagdes, encontra-se na reconstrugio do desenvolvimento do Direito no século XIX e, somente a partir dessa “caricatura” ou espantalho em sua forma representativa (TALISSE e SIKIN, 2006, p. 345-352), ele logra construir suas respostas ao problema que seria central do direito na modernidade100. Isso ocorre, seja na teoria dos direitos fundamentais, seja na teoria da argumentagao, seja na teoria do direito. Nesse bojo, a caricatura ou o espantalho construido por Alexy ao longo de seus varios trabalhos e recepcionado, sem critica, pela sua escola, seria “o outro” da teoria do direito, onde sua teoria se depara em uma relagaio de dependéncia e interagao de forma estrutural-constitutiva. Tendo em conta que sem essa “caricatura” seria impossivel terminar um desenho completo da teoria como um todo, cabe-nos examinar se essa reconstrugao realmente condiz com a forma de desenvolvimento do direito em meados do século XIX, ou se se trata apenas de uma manifestagio tedrica interpretativa tipica e restrita do periodo pés-segunda guerra na Alemanha, especificamente de como os autores dessa época “liam” 0 século XIX. Seria com isso interessante buscar nao somente as varias deficiéncias do ponto de vista historico-metodolégico, mas também como essa reconstrugdo vai se transformando gradativamente em um espantalho com importantes dimensdes epistemolégico-constitutivas para a integralidade da teoria dos principios. Ao tematizar esse ponto, adentramos um campo de exemplificagao para a tese aqui afirmada de que a falta de orientag&io advinda do uso da ponderagdo na teoria dos principios nao decorre exatamente da inespecificidade ou falta de controle das decisdes advindas do uso da teoria dos principios ou valores em si, como fora até entéo recorrentemente alegado nas criticas 4 matéria. Ousamos demonstrar que a desorientagdo sentida na pratica ponderativa advém da reconstrugdo limitada do modelo do conceito de direito do século XIX tanto em sua dimensio performativa da pritica, quanto do desenvolvimento do Direito pela teoria dos principios propriamente dita 101. Desta feita, a teoria dos principios elimina em seu conceito de direito a importancia das construgdes dogmiaticas e distin¢des dentro de uma teoria dos direitos fundamentais, que orientam decisdes futuras e nao relegue a pratica dos direitos fundamentais a uma casuistica descontrolada. Ill. CONSTRUGAO E SISTEMA COMO APRENDIZAGEM DO DIREITO NO SECULO XIX OU TRADIGAO ANALITICA ALEMA A LUZ DE ALEXY? O presente tépico trata em primeira medida de retomar alguns pontos centrais de trés dos principais autores da “jurisprudéncia dos conceitos” ou da tradigdo analitica alema, nomeadamente Windscheid, Puchta e Gerber. A retomada faz-se mister na compreensio da metodologia juridica desenvolvida por estes autores durante o século XIX. A tese a ser defendida postula que enquanto R. Alexy reconstréi — em uma forma tipica de autores da area no pos-guerra na Alemanha — 0 conceito de direito do século XIX como forma de deducao de um material pronto, de um sistema fechado (Wieacker) regido pelo método de trabalho do silogismo, légica, sistema de regras etc., 0 Direito em seu aspecto metodoldgico incorporava naquela época, antes de qualquer dedugio, interpretago ou ato de conhecimento, a ideia de construgdo de conceitos para o fechamento de um sistema juridico coerente, 0 qual necessariamente tinha que ser aberto 102. Essa abertura (e nao fechamento) & desenvolvida de forma especifica em cada um dos autores explicitados supra. Nessa linha argumentativa, pretende-se langar uma critica interna a teoria dos principios, mas também a uma tradi¢do de juristas alemaes, do pos-guerra principalmente, que desenvolveram uma interpretagdo tanto da metodologia juridica quanto do conceito de direito dentro do direito pablico e privado do século XIX. Autores como Franz Wiacker, Karl Larenz, Boehmer, Krawietz 103 e outros so algumas das expressdes desse reducionismo que j4 ha alguns anos vem sendo combatido na nova literatura sobre 0 direito no século XIX na Alemanha. As razGes que os levaram a um marco da “jurisprudéncia dos valores”, que necessariamente caricaturava 0 método juridico do século XIX, foram das mais diversas. No rol destas razées figurava, dentre outras, 0 combate a democracia representativa, a pandectistica nao germanica, ao igualitarismo “burgués”, ao formalismo profissional ¢ ao antiliberalismo, tendo como consequéncia uma referéncia a uma espécie de realidade comunitaria de valores, ligada ao “povo”, que pouco tem que ver com uma sociedade complexa como a atual (RUCKERT e SEINECKE 2012, p. 12-13). Robert Alexy e seus escritos seriam, nesse sentido, uma continuagio dessa tradig’o que debilita a complexidade historica da interpretagao do direito em sua chamada tradigao analitica alema, logicamente, com outras intengdes. Voltemos ao foco desse topico: a forma de trabalho do direito no século XIX em sua dimensao metodolégica. O ponto forte hoje na interpretacaio do direito naquela época centrava-se na metodologia da aplicagio e desenvolvimento do direito a partir de Gerber, Puchta e Wiendscheid, ¢ girava em torno da ideia de construgéo (Konstruktion) de conceitos gerais abstratos ¢ sistema ou sistematizagao. A construgio de conceitos ¢ sistematizagao exerciam uma certa fungio de flexibilidade da relagio do direito com a realidade, que pudesse abarcar as variagdes da pratica 04. Windscheid, um grande representante dessa tradigao dentro do direito civil, foi, a exemplo disso, por muito tempo caricaturado pela literatura secundaria 105 com expressdes sempre pejorativas como “perdedor” em face de Jhering em sua “jurisprudéncia dos interesses” (EDELMANN, 1967), ou ainda como defensor de um positivismo racional-legalista (LARENZ, 1960, p. 25-30), (rationalistischer Gesetzpositivismus) por seu formalismo (RINKEN, 1991, p. 241). Apice disso retira-se das palavras de Jhering, segundo o qual Windscheid viveria no “céu dos conceitos” (Begriffshimmel) (VON JHERING, 1891, p. 245). Entretanto, deixado o fervor da polémica de lado, pouco se falou de seu método e de sua influéncia no trabalho juridico desde entdo. A despeito disso, Windscheid representaria a seu tempo, em boa medida, a corporificagao da passagem do ius commune ainda forte da tradigo romana para a tradigéo da positivagio (RUCKERT, 1992, p. 907)106 (Windscheid participara da comissao para elaboragao do cédigo civil alemao “BGB"). O interessante nesse aspecto € notar que ele era tido nado como defensor de um direito posto pela politica, a ser deduzido como comando na aplicagao, mas, e assim e de forma tinica, como construgao da racionalidade interna do direito pelo direito mediante a construgao conceitual. Konstruktion para Windscheid figurava como 0 método juridico por meio do qual uma relago de direito era reconstruida pelos conceitos juridicos abstratos que a norteavam, contornando assim a deciséo (WINDSCHEID, 1879, p. 65). Esse método era tido por Windscheid como gerador ou criador de direito, e no apenas como aplicagdo de algo ja estabelecido107. O momento da pratica juridica nao era assim entendido como controlado pela légica da linguagem ou por um método subsuntivo 108; a pratica era sempre performativa em sua rotina, seja pela necessidade de adaptagao do sistema de direito as circunstancias adversas, seja pela insuficiéncia semantico- linguistica e dispersao das fontes do direito 109. Poder-se-ia até afirmar que a longa tradigdo da pandectistica, de sua forma de trabalho juridico, tinha a Konstruktion como metodologia propria da ciéncia do direito da época, ou melhor, a primeira “técnica do direito” par excellance (VON SEIDL, 1957, p. 343 e s.). O objetivo era o direcionamento pela forma de trabalho da pandectistica, com o foco orientado para a preparagéo do material para a aplicacdo do direito na pratica deciséria (RUCKERT, 1992, p. 906). Para Windscheid nem o aplicador nem o legislador eram as tnicas “fontes do direito”, mas 0 pensamento juridico em si (RUCKERT, 1992, p. 906). Nesse sentido, ele aproximava-se de Savigny, na medida em que este postulava uma certa independéncia do desenvolvimento do direito em sua existéncia propriamente dita (sebstéindiges Daseyn des Rechts) (VON SAVIGNY, 1840, p. 331 es.) nao como dedugao mas como criagao juridica. Carl Friedrich von Gerber, outro expoente da “jurisprudéncia dos conceitos”, é€ visto como um autor que implementou uma “virada metodolégica” dentro da ciéncia do direito estatal do século XIX (STOLLEIS, 1992, p. 331-337). Pode-se dizer que, juntamente com Laband, Gerber é 0 pai da ciéncia juridica estatal (Staatsrechtswissenchaft) (PAULY, 1993, p. 92 e s.; ZORN, 1907, p. 53). Rudolf Smend chegara até a afirmar que Gerber seria o precursor de Hans Kelsen (SMEND, 1969, p. 453 ¢ s.; KELSEN, 1925, p. VII). Nosso interesse no autor concentra-se em questionar em que medida Gerber pode ser “caricaturado”, como faz R. Alexy, como um precursor da filosofia analitica no sentido de uma metodologia “matematica de circuito fechado” dentro do Direito. Central na obra de Gerber, ao lado do conceito de dominio (SCHMITT, 1934, p. 29 e s. e 38 e s.; SCHONFELD, 1929) (Herrschafishegriff) ¢ do conceito de vontade na formagao do sistema estatal (PAULY, 1993, p. 115 € s.), € sua técnica, advinda do direito privado, da “construg’io juridica” (juristische Construktion). Em primeiro plano, a metodologia de Gerber nao se encontrava na interpretagdo de textos escritos, como fontes, mas na formagiio e constituigdo de um sistema cientifico para a ciéncia estatal. Aqueles serviam somente como materiais para este, recepcionando em grande parte, no sentido da dualidade metodolégica entre sistematicidade e historicidade, as ideias de Savigny e Puchta (KREMER, 2008, p. 193 ¢ s.), Parte da literatura, até entdo, via a compreensao da ideia de sistema em Gerber — ¢ esse parece ser 0 ponto central da interpretagaio de Alexy — como parte do pressuposto de uma tentativa de conceber um sistema fechado livre de lacunas (WIACKER, 1996, p. 276 e 436). Entretanto, essa ideia de completude do sistema, ou seja, um sistema desprovido de lacunas, nao esta presente em Gerber. Em vez disso, para o referido autor a incompletude do sistema era mesmo inerente a este, sobretudo porque o sistema de direito alemao nao continha o direito romano como um todo. Por outro lado, era incompleto porque, segundo von Gerber, o trabalho cientifico na sistematizacao do direito comum alemio nao tinha a pretensdo de preencher as lacunas (Liicken erschlieBen), mas acima de tudo descobri-las (KREMER, 2008, p. 193). Na obra Ueber 6ffentliche Rechte fica clara a relagéo entre sistema e construgdo juridica, desenhada em von Gerber. Para 0 autor, conceitos como os de principios, de direito estatal, de sistema estatal e de regras deveriam ser primeiramente construidos dentro da técnica juridica (VON GERBER, 1852, p. 9, 42, 61; PAULY, 1993, p. 95 e s.). Nesse sentido, a construgao juridica seria uma forma de trabalho cientifico do Direito, com ajuda, dentre outros, de principios, normas (Rechissiitze), institutos, direitos e conceitos para a formagiio de um sistema cientifico de direito estatal (KREMER, 2008, p. 203). A construgfio conceptual tinha grande peso dentro de sua ideia de sistema, como 0 conceito de érgao, Estado, poder estatal, lei, povo etc. A partir de conceitos e principios, von Gerber desenvolvia as diretivas ou normas (Rechtssditze) de direito e nao na relagao entre normas ja prontas na forma da légica de um sistema fechado, como afirmado comumente. Acima de tudo, no que tange a interpretacao do direito, von Gerber nao vé um modo de tratamento do direito légico. Mais que isso, nao se encontra a ideia de que existiria um sistema fechado no qual um trabalho légico poderia preencher as lacunas. Pelo contrario, von Gerber postula seu método mais tendo uma natureza do poder da arte e da poesia, que nao trata seu objeto como algo mecanico, mas como uma nova criacao, construc&io ou organizagao viva (VON GERBER, 1851, p. 21)110 de um criador. Em Puchta, por sua vez, como um dos expoentes da “tradigdo analitica alema” a luz de Alexy, 0 método nao era compreendido como objeto de regras especiais e fixas, mas era tido como uma tarefa da doutrina juridica (PUCHTA, 1844, §16)111 de constituigao de seu material e, acima de tudo, mostrava um desenvolvimento ainda embrionario de uma teoria das fontes do direito (HAFERKAMP, 2004). Apesar de centrar o trabalho juridico em textos, 0 que o difere de Savigny, o qual focava prioritariamente em relagdes juridicas (Rechtsverhdilinisse), nao se pode negar a procura em Puchta de esbogar uma hierarquizagao de fontes do direito. Decerto que essa procura visava suprir um problema pratico da queda do Sacro Império Romano da nagao alema de 1806 e responder 0 que fazer com a tradigao do Corpus Juris Civilis e seu legado, j4 que, a época, nao se podia falar na existéncia de um Estado produtor do direito de forma centralizada. Por este fato, segundo Haferkamp, 0 método de Puchta se assemelharia ao que hoje nés chamamos de direito de colisio ou direito internacional privado (HAFERKAMP, 2012)112 e no uma aplicagao légico-dedutiva de um material pronto. A ideia de sistema é, sim, central em Puchta, mas nao como interpretado pela “virada valorativa” do pés-guerra, ou seja, com revestimento fechado, légico-racional e guiado pelo silogismo. Acima de tudo a ideia de sistema em Puchta possuia forca constituidora de sentido para um direito surgido de forma dispersa e sem conexio. Essa seria também a fungdo das ciéncias juridicas (PUCHTA, 1841, p. 101). Sua concepgaio de sistema, e a fungdo que o sistema exercia em seu pensamento, partia do entendimento de um sistema que nao procurava pelo ja existente, ou de uma “ilustracéo” de um organismo vivo, mas, e de forma mais forte que em Savigny, era um sistema ativo, que constituia 0 material do direito a ser utilizado para a decisio (HAFERKAMP, 2004, p. 216 es.) através de conceitos e institutos. intuito central de reconstrugao da dimensao da Konstruktion (Gerber e Windscheid) e sistema aberto (Puchta) nos autores da “tradi¢éo analitica alema” (Alexy) é sustentado pelo fato desta tradig&éo apresentar um carater, incorporado ao método de trabalho, dinamico, produtivo e construtivista em sede metodolégica. A caricatura de um sistema fechado, “jurisprudéncia dos conceitos” em seu sentido negativo, ou ainda como forma ldgica de lidar com 0 direito, passivel de dedugdo segundo tragado por Alexy, ndo condiz com a realidade dos autores 4 época. Essa figura é tardia, como recorrentemente afirmado aqui, uma consequéncia da virada valorativa do pés-guerra, da qual a teoria de Alexy é fruto. Embora a pertinéncia de autores como Larenz e Wieacker, nao nos afastemos do foco central ora proposto: a teoria dos principios. Nesta seara ja resta claro e demonstrado que a teoria dos principios, utilizando (inconscientemente) a figura argumentativa do espantalho em sua dimensio representativa, acabou por criar um conceito de direito do século XIX. Conceito esse que, embora constitutivo do conceito de direito desenhado em Alexy, nao condiz com a realidade, pois que reconstruido sob um pilar a- histérico e reducionista. Assim, a recorrente pratica do trabalho juridico do século XIX — em sua perspectiva construtivista — implode as principais distingdes da teoria dos principios. Um bom exemplo é a teoria da argumentagao de Alexy, na qual a distingdo central, bem como perceptivel na teoria dos principios em geral, é entre justificag’io interna e justificagdo externa. A justificagao interna da teoria da argumentagao em Alexy, apoiada na distin¢ao de Wroblewski (WROBLEWSKI, 1974, p. 33 e s.), gira em torno da questio de se a decisio pode ser levada a cabo por diretivas ou regras (Rechtssdtze) concatenadas na forma ldgica. A justificagio externa trata, ao revés, de tematizar se essas premissas da forma de justificagdo interna correspondem, ou podem ser “corrigidas” pelos critérios de verdade, corregdo ou aceitabilidade. O conceito de justificagaéo interna é um fruto tipico de uma equivocada interpretagao do direito no século XIX, na qual o direito é visto como possivel concatenizagio légica de conceitos e normas, como silogismo formal. Somente a justificagio externa é que conferiria mobilidade ou visibilidade ao sistema juridico, ao poder observar a linearidade da justificagéo interna. A ideia de construgio (Gerber e Windscheid) e sistema aberto (Puchta) torna essa distingao da teoria dos principios inoperante. Poder-se-ia dizer qua a Konstruktion seria uma forma de re-entry da distingao justificagdo interna/externa ao lado da justificagao interna, ao incorporar um elemento de mobilidade, observagao ¢ dinamizacio na decisao juridica. Naturalmente, 0 vocdbulo re-entry nao era utilizado no século XIX; em seu lugar utilizava-se a ideia de sistema (HAFERKAMP, 2004, p. 443 e s.). Somente negligenciando a dimensio da construgdo juridico-dogmatica e seu carter performatico da pratica juridica pode-se chegar, a exemplo da teoria dos principios, em uma clara distingaio entre justificagao interna e externa no Direito ou, ainda, entre principios e regras. Resta ainda chamarmos a atengdo para o fato de que dentro do cendrio contextualizatério do século XIX, quando a maioria dos autores que aqui tratamos tiveram seus textos redigidos, nao existia um Estado nacional. Tampouco se podia falar numa produgdo do direito centralizada na Alemanha. O que se deixa notar na teoria dos principios é que sua interpretagao do método juridico do século XIX parte do pressuposto de que havia um estado nacional consolidado incorporado. E preciso clarificar que, nessa altura, 0 surgimento do direito era totalmente disperso, razio esta, inclusive, que teria endossado uma necessidade de sistematizagaio em prol da construgao do direito. Ora, isso ja nos parece claro em Jhering ao afirmar, no alto da formulagdo de seu conceito de construgao, que o legislador era apenas uma pega no quebra-cabega do direito e que o trabalho de montagem era relegado ao jurista e 4 dogmitica113. R. Alexy parece perder essa dimensio de vista, pois que notéria sua obsessao focal nas regras e na légica. Desta feita, notéria também se faz sua interpretagao reducionistal14 em torno do método juridico do século XIX. Pois que feito 0 adendo em torno do descompasso temporal sob 0 qual assenta a teoria dos principios, voltemos a sua critica concernente a ponderagdo. Quando se fala em critica da ponderagdo dentro da teoria dos principios, comumente somos langados diante de um problema da relagdo entre direito e politica (ativismo judicial) ou da arbitrariedade pela falta de controle racional das decisées (SCHLINK, 1976; HABERMAS, 1992, p. 316, 265 e s.). Ocorre que quando tecemos a reconstrug%io do conceito de direito do século XIX, conforme aqui se fez, outros pontos, até ent’o nao evidentes na critica da ponderagio, saltam aos olhos do jurista mais atento. Pois que a falta de estabelecimento de contornos dogmiticos claros dentro do método da ponderagio condizente teoria dos principios é inerente ao reducionismo que ela traga em torno do conceito de direito da tradigao alema. A distingao simpléria entre normas, guiadas pela subsungao L15 e principios, guiados pela ponderacao, perde de vista justamente a dimensao da construgao de conceitos como institutos juridicos. Em ultima medida contemplamos um cerceamento do direito enquanto meio para orientagdo a longo prazo em face da construgao de distingdes dogmatico-juridicas. IV. O ESPANTALHO E A FUNGAO POR ELE DESEMPENHADA: PRINCIPIOS E OTIMIZAGAO DA TEORIA DOS PRINCIPIOS Afirmamos que algumas distingdes centrais da teoria dos principios foram maculadas por conceitos anacrénicos de direito. E 0 que se passa como as classicas distingSes de R. Alexy entre principios e regras (“razdes definitivas”, “tudo-ou-nada”, “subsungao” etc.) ou entre justificagao interna e externa. Por ora, outro desafio surge a nossa frente: resta-nos ainda saber se 0 nucleo dos principios/valores, seja na sua expresso como mandamentos de otimizagaio, seja na sua expresso como mandamentos a serem otimizados num possivel conflito entre direitos fundamentais, pode ser compativel com uma sociedade complexa. Do ponto de vista metodolégico, a otimizagdo enquanto método da ponderagao entre principios tende a ser um equivalente funcional para a tradicional separagdo entre norma juridica e aplicagao legal no caso concreto (MULLER e CHRISTENSEN, 2009, p. 178). Isso acaba por transformar o modo de trabalho juridico e acima de tudo a forma textual do direito ao fixar a semantica juridica no desnudo caso concreto. Um dos seus pressupostos implicitos, ou melhor, a condigao de possibilidade de “funcionamento” da otimizacio enquanto conceito juridico, decorre da pressuposicao de um sujeito (contrafactual) dotado de capacidade — cognitiva acima de tudo — de filtrar, centralizar, processar e decidir sobre desenvolvimentos e constelagdes complexas. Tais desenvolvimentos, imersos num contexto social complexo, comumente se mostram envolvidos em uma inextricavel dispersio de conhecimento social, perante 0 qual o dito sujeito contrafactual ¢ relegado a um campo completamente sobrecarregado de sentidos diversos|16. Esse sujeito idealizado da otimizagao torna invisivel e obscuro, do ponto de vista da teoria do direito e teoria dos direitos fundamentais, a relagao de referéncia entre a dogmatica juridica e a facticidade social “instituida” e exposta 4 constante transformagao. Essa opacidade traz consigo uma nao ventilada assergao de “homogeneidade da realidade”, que nao tematiza a acessibilidade da sociedade para programas de intervengdo juridico-estatal. Em meio a essa constelagiio, a ponderacao nao consegue se constituir como um mandado de otimizagao juridico. Essa impossibilidade ocorre seja em virtude da incomensurabilidade da maioria dos bens juridicos envolvidos, seja devido ao simples fato de que, na maioria dos casos, no se trata propriamente de otimizagao de bens juridicos, ou seja, de estabelecimento de normas 117. Na realidade, trata-se inteiramente de colisdes faticas, como pode ser claramente apontada na ponderacao diretiva ou planejadora mediante regras especificas de precedéncia (HOPPE, 1977, p. 136)118. Justamente por se tratar de colisdes faiticas permeamos num campo incompativel com direitos fundamentais incomensuraveis. Ora, teria a liberdade de expressao mais valor do que a protegao dos direitos de personalidade? Nao se pode observar na pratica a ponderagaio de bens como um mandado de otimizagao juridico com contornos visiveis “antes do caso” propriamente dito. E de se compartilhar a ideia de C. Malabou, que descreve essa nova pratica preferivelmente como “lecture plastique” (MALABOU, 2005, p. 85). Significa partirmos de uma dissolugao fundamental (desconstrugao) das formas de textos — da semantica dos conceitos — numa espécie de “retraimento ou retratagao da substancia” em face do imprevisivel e inesperado. O contexto de referéncia entre a nova dogmatica e a observagéo da nova facticidade organizacional “instituida” ganha, pela “teoria dos principios” da escola de Alexy, seu carater mais abstrusoll9. A “teoria dos principios” postula um operante “mandado de otimizagao” normativo-juridico construido em cada caso (ao contrario da simples mistura entre faticidade e normatividade na “ponderarao de interesses”) no lugar da separagdo entre norma juridica e aplicago juridica no caso concreto. O carater juridico desse mandado de otimizagao permanece, entretanto, muito vago: a otimizacdo defende no caso concreto decisdes de precedéncia, que, diferentemente do direito de planejamento com a sua caracteristica de racionalidade procedimental, so pouco explicitadas e justificadas racionalmente (NEVES, 2010, p. 168 es.). Importa ainda, no presente, apurar que justamente nos campos envoltos em extrema complexidade e dinamica da base cognitivo-social, como direito de regulagao, telecomunicagées e sistema financeiro, é que o conceito de mandado de otimizago conhece claramente suas fronteiras. Enquanto “mandamentos de otimizagao”, os principios exigem uma centralizagio do conhecimento na institui¢do tribunal, que nao é mais condizente com a complexidade social atual de extrema fragmentagdo social. Ao revés, a sociedade atual clama uma crescente necessidade de descentralizagao e cooperagdo 120. Em boa medida, esses clamores sé comegam a ser atendidos junto a uma tendente substituigdo de prospecgdes materiais do direito por prospecgdes procedimentais, as quais conferem um carater dinamico e aberto para revis6es da intervendo juridica futura121. Nesse ponto, a otimizagao da teoria dos principios nao oferece nenhum parametro, diagnéstico ou método para o trabalho juridico. V. O DIREITO PARA ALEM DA OTIMIZAGAO E DA TEORIA DOS PRINCIPIOS As ultimas décadas carregam uma constante “perturbagao” na relagao entre direito ¢ sociedade, seja como complexidade, seja como opacidade, com a perda de referéncias e: jeito, valores, principios e conceitos abstratos. E necessario tomar esse tipo de sociedade como ponto de partida para compreendermos a transformagao do “método” juridico. Tomando primordialmente os modelos de sistemas juridicos modernos ocidentais e a ideia de evolugao, interessante focar e analisar a maneira como o conhecimento social numa sociedade complexa é reproduzido, organizado e refletido no corpo social, especialmente em sua remodelagao dentro do direito (VEC, 2006). Essa transformagao social que ocorre, por exemplo, com a ascensao da “jurisprudéncia dos interesses” da “Escola Livre do Direito” (EHRLICH, 1903, p. 179 e s.; EHRLICH, 1967) esta ligada, em nosso entendimento, com a mudanga do Estado na passagem para uma “sociedade das organizagées”, que se caracteriza pela pluralizagdio da esfera publica, incluindo a decisio publica. Um processo de remodelacao do direito ocorre, principalmente, com a conversao do Estado em Estado Social. Esse processo ¢ fomentado por um conjunto de fatores diretamente decorrentes dessa conversao, a saber: a ascensio de uma série de empresas, conglomerados empresariais para produgfio em massa em diversos setores da sociedade e associagées de profissionais. A este conjunto somam-se ainda os aspectos tangentes as novas formas privadas e publicas de lidar com os riscos emergentes da atualidade. Isso se deixa notar nas crescentes empresas de seguros, as quais tratam sendo de “agrupar” interesses e direciond-los contra o Estado. Nesse contexto, 0 Estado, por sua vez, expande sua forma de atuag’o langando mao de um direito regulatério vasto em detrimento da formagio de varios sistemas como transito, eletricidade, telefonia etc. Com isso a experiéncia distribuida como infraestrutura cognitiva do Estado e do Direito é sobreposta simultaneamente por duas linhas de contorno da sociedade moderna. Numa primeira vertente, por tecnologias de formagio estratégica de cadeias longas de agao e, numa segunda acepgao, pela ascensao de diferentes variantes de conhecimento especializado, gerado e processado tanto pelo Estado quanto por empresas. Vejamos que, quando a emergéncia de regras sociais é orientada fortemente por “conhecimento distinto ou especial” (ndo mais a experiéncia geral) (GUEHENNO, 1998, p. 16), transforma-se também a relagdo do direito, que por sua vez é “polido” por estas normas sociais. Desta feita, também a semiantica juridica é tornada dinamica: O lugar da “aplicagdo legal” de “conceitos” gerais de “casos” particulares é tomado por seménticas dinamicas, que sio ancoradas fortemente na ligagao horizontal de constelagées. Tais constelagdes sao observadas reflexivamente e nao apenas mediadas através de conceitos de suas possibilidades conectivas para o futuro (SCOTT e STURM, 2007, p. 565). Para além das fronteiras juridicas, essa mudanga corresponde também, uma transformagdo geral na hermenéutica e nas ciéncias literdrias, nas quais se pode observar uma desintegrag’io da semantica de regras e objetivos ou finalidades estaveisi22. Os seus lugares sfo ocupados por uma “disponibilidade formal para finalidades ou objetivos diversos e possivelmente do ponto de vista interno conflitantes” (KRAMER, 2007, p. 150). A semantica se torna “mével” (mobile), em consequéncia de uma percepgao de rootlessness da cultura e se emancipa das formas e figuras, mediante as quais ligagdes estaveis entre regras e suas “aplicagdes” eram obtidas (BENDER e WELLBERY, 1990, p. 3, 25, 27)123. Torna-se aparente, que 0 texto juridico em particular é visto apenas como “part of a much larger, more elusive pattern of remembrance and forgetting” (WILF, 2011, p. 543, 546). Textos juridicos sio sempre textos, que controlam ou direcionam a leitura e também devem limité-la (WILF, 2011, 551) — através da determinagao de semanticas, que canonizam formas de leitura, por regras de precedéncia ¢ presungao, mediante orientacdo por determinadas finalidades. Vé-se, que devido a mobilizagao da sociedade, a consisténcia do complexo de regras é, no direito, relaxada ou tornada frouxa, e transposta num sentido, que ‘opera com formas abertas de ligac&o horizontal de caso a caso, sem que se desintegrem por completo suas estruturas. O direito pode solidificar semelhantemente como no caso da “subsungdo” de casos empiricos a uma norma geral por suas constantes regras presentes de presungao e probatorias, novos padrées ou modelos de ligagdes heterarquicas entre casos (decisdes) por meio da institucionalizagao de uma pratica e, com isso, tomar o lugar das figuras de “derivagdes ou dedugdes” hierarquicas (VERMEULE, 2011, p. 5). Assim, a seméntica da liberdade, bem como suas limitagdes legais, é substituida no direito constitucional gradativamente por uma nova semantica, que, na realidade, também recai na transformagao em direitos fundamentais colidentes, como liberdade de expressiio vs. direitos de personalidade. Esse desenvolvimento cristaliza-se dentro do direito na disseminagao de métodos da “procura pelo direito” como concretizagao juridica 124 Contempla-se, tanto no campo da decisio privada quanto da piblica, a substitui¢éo de padrées ou modelos de “aplicagdo” relativamente estaveis de normas ¢ regras. Estes modelos de aplicagao sofrem uma timida variagao, por um lado, por uma agregagio planejada mais complexa de agdes, as quais refletem a autotransformagao e, por outro lado, remodelagées secundarias do direito na forma de usos de “proceduralizagées”(WOLLENSCHLAGER, 2009; AUGSBERG, 2013). A invocagao dos modelos de proceduralizagio tem por mérito 0 aumento da reflexividade do direito. Essa acepgao reflexiva de fato permite a abertura dos conceitos concernentes ao direito para a realidade em constante transformagao. Todavia, a proceduralizagdo encontra seu maior déficit ao nao conseguir levar a cabo a deliberagao “em principio infinito da racionalidade moldada pela ciéncia” (BLUMENBERG, 2012, p. 104, 112). E que esse contexto esbarra recorrentemente com 0 principio da “materializagao” do direito, cujo direito é ligado fortemente as finalidades ou objetivos dos atores. Gera-se assim um ciclo vicioso, facilmente perceptivel se temos em vista a dinaémica operante dentre os direitos fundamentais. Ocorre que a perniciosa condugao desses direitos prioritariamente a finalidade de seus dirigentes desencadeia a multiplicagao deles e, com esta, a necessidade de mais “ponderagdes”. A antiga semantica do texto legal era comumente determinada pelo “uso de contextos normativos necessarios”, enquanto a nova semantica é mais determinada por argumentos de fato125, onde cada qual preenche os “valores” abertos e sao transformados simultaneamente em “fontes de atribuigdo” (como na seguinte questao: determinada manifestagio de expresso é ainda compativel sob circunstancias dadas com a pretensio de deferéncia ou consideragio de certa celebridade?). As condigdes de uma tamanha transformagao da seméntica, que ocorreu relativamente sem grandes tupturas, pode ser explicada com a assergio de R. Koselleck da “semantica histérica”, que sempre se encontra dentro de um contexto de agao: nesse sentido pode-se dizer que desde a modernidade ocorreu uma clivagem de um “campo de experiéncia” e um “horizonte de expectativas”. Este ultimo acomoda, desde entéo, um “coeficiente de mudan¢ga” (KOSELLECK, 1988, p. 349, 363, 370), que considera a semantica da constante e veloz mudangal26 e concede a ela um momento de projecdo voltado ao futuro (DOSSE, 2009, p.115-116). A facticidade das “ponderagées” e sua aceitacio conferem uma legitimagdo metodolégica como “método”, embora elas confiram apenas contornos muito vagos a uma formacio de experiéncia dogmatica possibilitada meramente por estruturas (KOSELLECK, 1988, p. 375). De um modo geral, pode-se dizer que a “ponderagao de bens” como método privilegiado é uma reagdo 4 profunda mudanga do sistema juridico, a qual ganha corpo na sociedade por sua rapida autotransformagao. A nova reflexividade do direito, que é posicionada fortemente na observagao das condigdes histéricas de exercicio de direitos fundamentais, é bastante racional. Entretanto, a forma da “ponderagdo de bens” permanece muito indiferenciada, sem contornos, conforme N. Luhmann (1993, p. 279, 318, 528, 539) ja havia criticado de forma acertada frente a sua ruptura com 0 modelo da dedugao. Ponderagao como paradigma é muito disseminada na América Latina. Possivelmente, pode-se especular que a ponderago com a sua imprecisao e vagueza colabora para que as verdadeiras tensdes dentro dos sistemas juridicos na América Latina se tornem turvas, quando se espera transparéncia. O mesmo vale presumidamente para a disseminagao da pratica da ponderagao na Unido Europeia. Qual seria a alternativa? A tentativa de prever de antemao uma alternativa, uma renovacao da dogmatica, recaira certamente numa tarefa frustrada. As primeiras linhas para uma alternativa, entretanto, nao podem ser tragadas ou mesmo esperadas da jurisprudéncia dos tribunais. Se queremos uma alternativa complacente com a complexidade atual a que estamos expostos e, sobretudo, desvinculada de distorgdes histrico-interpretativas do direito, devemos busca-la em primeira linha junto aos académicos feitores da ciéncia juridica, Nao por isso esse ensaio teve 0 propésito de “despertar” o atento leitor para uma nova dogmatica juridica, que aumente a reflexividade do direito. Ja é tempo de atentarmos para novas consideragdes sobre como o desenvolvimento de normas sociais, hoje construidas imperativamente por organizagdes, pode ser incluido e tematizado de maneira mais intensa nas entranhas dos discursos acerca dos direitos fundamentais. Trata-se de contemplar a liberdade garantida pelos direitos fundamentais com um momento transubjetivo de participagéo na formagdo de normas sociais, em cada Ambito normativo particular. Interesses particulares poderiam tornar-se aptos a estruturagdo juridica do conflito, quando ndo mais se referissem a interesses individuais e organizados. Uma forma de concretizagao dessa hipétese seria tomar para si o momento da auto-organizagao social (no uma forma juridica da autoadministragao institucionalizada), conforme acentuado por G. Teubner (2012, p.67 e s.). Afinal, no caminho percorrido entre teorias e espantalhos, um coloca-se defronte ao outro na teoria dos principios. Pois que seu “esqueleto conceitual” se constréi sob a égide da falacia informal do espantalho em sua acep¢fio argumentativa. Ora, a toda caricatura corresponde uma figura deturpada. Deturpado aqui se faz 0 conceito de direito aos olhos de R. Alexy e sua escola, nao apenas pelo condao a-histérico que carrega em sua bagagem ao partir da chamada tradigao analitica alema, mas porque, partindo dela, seu conceito de direito é revestido de um trabalho légico-formal cego, que nunca existiu na tradig&io do século XIX. Visando sustentar sua propria criagéio, a teoria dos principios acabou por criar também suas proprias respostas em torno do desenvolvimento do direito. Um caminho que se estende nao sé dentre os campos da teoria da argumentagdo e da teoria dos direitos fundamentais, como também 8 teoria do direito como um todo. A criagdo do espantalho pela teoria dos principios também explica em grande parte sua desorientagdo em sede dogmatica. Visualizado 0 espantalho, nao ha mais que temé-lo, ou, em outras palavras, se o espantalho perde sua fungdo, precisamos procurar por substitutos condizentes com uma _ sociedade complexa. Fenémenos como a avancada fragmentagio do conhecimento social e movimentos de transnacionalizagaéo do direito sio exemplos cotidianos de quao corriqueiras sao as perdas das fronteiras ditas, até entdo, como seguras pelo direito. E chegada a hora de pensar o direito sob a ética de novas teorias que nao maculados por figuras deturpadas e deturpantes. Pois que cada caminho guarda em si um ponto de partida. A consisténcia deste caminho, se planos reais ou palhas quebradigas, dependera sempre se estamos partindo de teorias ou espantalhos. REFERENCIAS ALEXY, Robert. (2005) Begriff und Geltung des Rechts. 4, ed. Banberg. ALEXY, Robert. (1986) Theorie der Grundrechte. Frankfurt sobre 0 Meno: Suhrkamp Verlag. ALEXY, Robert. (1994) Theorie der Grundrechte. 2. ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag. ALEXY, Robert. (2005) Begriff und Geltung des Rechts. 4. ed. Freiburg/Miinchen: K. Alber. ALEXY, Robert. (1983) Theorie der juristischen Argumentation. 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