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Copyright © dos autores Capa ‘Mocma Cavalcanti Reprodugdes fotogeificas Roberto Loftel Revisio cay Toco dees dena eto dates 4 O CONCEITO DE PAIXAO GERARD LEBRUN ‘sto acompanhadas de pazer Ou despa igo da paindo esta em confor wyra paixzo saschelo, ‘Tratado das lo © que se fz ou acontece de novo Ss mente-cha- ‘mado pelos fildsofos de_paixdo relativame G.a.quem isto. aconiiece, ede ago elativamente aquele que faz fom que aco agire do padecer. Esses dls con: (a = ~Analise-exageradamente otimista da condicio humana? Digamos antes: andlise alheia a uma mentalidade impregnada de cristianismo. Eisto, 20 menos por dolsmativos: em primeiro lugir,Aristoteles nao fala nunca de umdJei moral ue me proiba de praticar um ato qual ver. Aqui, a regulacio ética nao € exercida através de ums let Judaico- {on, quando Zeno define a paixdo como uma “ipulsio exces: rmé pléonazousa)? Se_o logos é ivo de miaha na. -omo pode o alogon surgir emi minha alma? Através da repre senta¢ao (phantasia). Percebo jilguma coisa, tenbio um sentimento de Prazet ou de dor — e € arepfesentaglo que transforma esse fat0 pst cologico em uma rendéncia, Conscie le que o alimento éape- (050 ou de que a dor é ruim — ciéncia desperta em mim i tendéncia a procurat-o tendéneia é ‘etr0. Posso ima- » Por exemplo, que ndo ¢ apenas necessério evitar a dor, mas que Consiste em um mal absoluto ¢ que deve ser evitada a todo custo. spalxonado ) ‘fo é simplesmente um esibuvaio que comete Um engano:€umi des. | vairado que deu 2s costas (apostrophe) raz4o, Seu erro proven de| > unt desafuste do /ogos em si, pos ele engana-se a0 juga a propor Ao | ddos acontecimentos. Sua alma nao esta em harmonia coma instancia que, por natureza, nelé deveria dominat e & esse desvio A natureza que explica 0 cariter excessivamente passivo do Por isso hd um 86 meio de evitar as paixdes: vd-las) impedindo ue a emogdo se transforme em uma tendéncia. Esse €6 objetivo da profilaxia est6ica. De tanto medir a fragilidade dla Vida € a précal «de dos bens que no dependem de mim, acabarci por niio mais reagit iniente 205 samanecendg apatico, jnesmo 20s golpes negativamnente 20s efeitos, per imprevisiveis do destino. 25 Bssa(sabedoria nao € equivalente a um2-anestesia, como se afir. 4 apatia No consiste,exatamerte, ent insenst ‘emogao, mas € sufi de maneira fanta veniente deixar que suas. py ravasem. Seria absurdo pre- tender controlar‘a paixio)c modular sua forca, pois ela é sempre 0 sintoma de uma doenga'e ndo de uma reagio Gio. Nada se fez enquanto nao se impossibilitou A sabedoria € uma cirurgia das paixdes. ~ Compreende-se que Nietzsche se tenha perguntado se os est cos ainda eram gregos. Os gregos de antes da Decadéncia viviam ci 48 paixdes endo contra easy eles niio temiam delxar-se testar por elas “Dominio das paixdes, ¢ ndo enfraquecimento ou extirpaglo das x0es. Quanto maior € a forga do querer, tanto mais liberdade damos 4s paixdes.”"4 Nada € mais antiest6ico. Aos olhos de Nietzsche, a apa tia est6iea é unrremédio cuja utilizacio €0 sistoma & mais profiinda fraquerai Os est6icos, apesar das aparéncias, S40 0s filésofos da von: tade faa, da vo de enlfentar as perturbagées da alina esta-€a decisio ingéntia que-torha danosos a maloria dos ascetismos/Danosos no por serem “represst vos", mas porque partem da idéla de que €Imposstvel viver uma pai- xio sem ser ape gene por ela, € porque sio, antes de do, sensiveis a6 perigo fla paixio. “Destruir as paixdes ¢ 0s desejos, 86 por causa de suatelfce ¢ para evitar SUAS conseqiléncias desagra «daveis, parece-nos hoje uma manifestacao aguda de tolice. Nao adm. ramos mais os dentistas que éxtraem 6s dentes para evitar que Se € necessario recusar 0 ascetismo de tipo es- de pretender refrear as paixdes — mas porque que nao consegite suportirlas € dominé-ls. Pois descreve como doenca 6 que é, na Tealidade, um teste de forga. “No que se refere ao Femédio receitado por todos esses médicos da alma ile dura, € permitido nos perguntar. }08sa vida to dolorosa e importuna a ponto de scr vant estéico." 26 uschiano € bem conhecido e nao pretendo desen- vez mais interessante perguntar se 0 conceito de paixao, tal como Nietzsche o reinterpreta, € aquele que em gefalterios ‘emmenite. Compreendemos a paixto como uma tendencia que deve set domada? Ou como um mala-ser exti:pado? A primelta vista, ar posta ndo deixa diividas. f Nietzsche que conta com nossa simpatia. Nos est6icos, vemos no maximo uma filosofia que nos socorre em tem pos diffceis. Mas esta sabedoria altiva se nos tornou estranha — no Porque scja uma confissio de fraqueza, é verdade, mas porque pen samos que ela conta inteiramente com as forcas humanas. Nao. | mais razoay juncio da alma edo corpo, &incor ensando desse modi m O reconhecimento d do elementos const que pensavam os las a0 nosso comportamento em vez de necessario admitir que o adi dos “fracos” — a menos que, naturalmente, ela tenha decidido considerd-los doentes? Mas sea paixio € tida como a causa da condu- ta, como 0 foco de exame ético através do qual déVo mostrar minha forga, € impossivel consideri-la uma doenga que me coloca fora de ‘mim mesmo", € de recuperar o tema est6ico, £ preciso escolher €n- {te 08 estdicos ¢ Arist6teles. # duvidoso que alguém possa escapar 4 essa escotha. So grande oposicio entig duas fllosofias da paixao)apare mo antes do nascimento da nogio (morale } sujeito. Uma, +b aparentemente mais condescendente (Aristoteles), que trata a paixio 27 ‘como um elemento do ser humano normal ¢ de sua préxis; a ouira, aiais rigorosa em aparéncia (Platio, o estoicismo), mas que Taz uma cisio tio grande entre tazo e paixto que precisa reconhecer rapida ‘mente o quanto limitado o poder di primeira sobre a segunda. Des- ‘a forma, 0s estdicos sabem perfeitamente o quanto init tent rar oapaixonado enquanto for presa da sua crise, Ora, n0 qu 4 nogio de responsabilidade, a primeira opcao conduz ene 2 sua extensio, a segunda A sua restriga ippreendet 6 leitor moderno. Ainda que a antropol 1es pareca pressupor um “huimanismo", € Arist6teles, toda se revela 0 mais rigoroso quanto a determinag ica c jude. E€ o platonismo que se apreseni ‘mo tim ascetismo enfadonho, que afirma que inguém € voluntaria- ‘mente mau e que os apaixonados s30 todos irresponsiveis. Como de- ‘vemos compreender estas linhas cruzadas? Como a antropologia, que reconhece a solidariedade da alma e do corpo, se ‘moral, no fim das contas, mais severa que a do platonis sobre este aparente paradoxo, comega-se a compreender por que Aris- toteles esta bem mais afastado de nés do que podia parecer hi pou- coe que faz 0 homem pagar muito caro (sem divida, caro demals pa a n0850 gosto) pelo status de normalidade que o filésofo outorga 3 paixdes. Decerto elas sfo inocentes, “inteiramente boas por nature: 2a”, como dita Descartes. Mas isso no € motivo para que a cada ve? uilo que delas fazemos. Uma vez que a8 pai- savel pelo mau uso que elas possa fazer Resta que possa ter sido vitima de uma infancia infeliz em que ‘meus pais ¢ mentores tenham permitido que meus apetites se tenham desenvolvido de tal maneira que jé nao sou capaz de refred-los. Tal- vez. Porém, curiosamente, como apontam os intérpretes, Arist jamais evoca as circunstancias atenuantes que pudessem valorizar mi- nha md educagio. O que afirma, em compensagao, € que na Vida ha ‘sempre um momento em que cabe apenas a mim nao contair maus _habitos, Posteriormente, é tarde demais: € do uma pedra que no posso mais recuperat. ra sempre, € sou eu quem deve ser responsal ‘Consideremos um outro exemplo. Um cay ‘vé sob uma tempestade deve jogar ao mar a carga que prometera con.

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