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ncias desenvolvidas | Por > mais de cinqienta anos unidade de fazer uso d anhamento do desenvo Experiéncias basicas para utilizagao pelo professor 22° edigao CCR uals Iris Barbosa Goulart ITORA ZES fe bore tora zes.com be Gevirora Internet: hutp://waw.vores.com.br Brasit Fditora¢do: Maria da Concelgao B. de Souse Projeto grafico: AGSR Desenv, Grin Capa: Marta Braiman Desenhos: George Fugénio Rosa ISBN 85.326.0386.6 Este livro foi composto e impresso pela Editora Vores Ltda. | | | | | Suménio Parte I ~ Uma introducao ao estudo da teoria de Jean Piaget, 7 1. Os fundamentos da teoria piagetiana, 9 2. 0 desenvolvimento psiquico na perspectiva de Jean Piaget, 21 Parte Il ~ Aspectos ¢ etapas do desenvolvimento Psiquico segundo Jean Piaget, 29 9: O pertodo sensériometor, 31 4. O desenvolvimento da fun 1c40 de representacéo, 40 5: O petiodo pré-operatério, 53 8. O pertodo operacional concreto, 63, 7. O periodo operatério. abstrato, 81 8.0 desenvolvimento af Parte iit - Avaliagao do desenvolvimento ognitivo com base ni 8s experiéncias piagetianas, 107 9. Anoséo de objeto permanente, 109 10. A constancia perceptual, 112 11 A cau alidade na crianga, 115 12. Operacées infralégicas, 120 13. Operagoes logicas, 135 iid) VHSFIdIFHSdsILELEVEOONNN™ ito de numero, 161 idade, 167 Bibliografia, 181 Indice, 185 to estruturado de espaco, tempo, ordem e | Paxte | Urea introduci oo. eotuds de. l Os bundowentes do teonia pingetionn i Para se compreender o sistema proposto e organiza- do por Jean Piaget, parece-nos indispensavel fazer refe- | réncia aos fundamentos de sua teoria. O longo periodo | durante o qual Piaget desenvolveu seus estudos - cerca de 60 anos - nos leva a buscar na sua biografia e na bi bliografia por ele produzida as origens de suas conclu- s0es, bem como a variacao de seus interesses de pesqui- sa € de sua metodologia. Na primeira parte deste livro, Procuramos fazer este percurso, na tentativa de facilitar ao estudante a compreensao de uma das teorias mais Gteis para o psicélogo e o educador. Iniciamos pelas referéncias biograficas, assinalando 95 aspectos mais importantes da vida profissional de Jean Piaget: 1896 ~ Nascimento de Jean Piaget em Neuchatel, na Sutga. 1906 ~ Realizacao de um estudo sobre um pardal albino. Este trabalho resultou numa publicagao premiada fol responsavel pelo convite feito a Piaget para tor. Rarse assistente do Dirctor do Museu de Ciencias de Neuchatel 's80 da Licencianura na Universidade de 1918 - Doutoramento, com tese sobre os moluscos de Valois. Publicagao de um romance filoséfico, no qual define as bases de seu sistema, reunindo religiao, fi- losofia e biologia. 1919 - Estudos de Psicologia na clinica de Lipps e Wurschner, em Zurique. Estudos de Psicandlise na clinica de Bleuler e presen- ganas conferéncias realizadas por Carl Gustav Jung. 1921 - Publicaco de artigo na revista Archives de Psycho- logie e convite feito por Edouard Claparéde, para ser pesquisador do Instituto Jean Jacques Rousseau. 1925 - Titular de Filosofia da Universidade de Neuchatel. 1929 ~ Diretor assistente do Instituto Jean Jacques Rous- seau. Professor de Historia do pensamento cientifico na Universidade de Genebra. Intensificagao dos estudos de Histéria das'matemiti- cas, da fisica e da biologia 1936 - Titulo de Doutor Honoris Causa na Universidade de Harvard, Estados Unidos da América. 1939-1952 - Professor de Sociologia da Universidade de Genebra. 1940 - Diretor do Laboratério de Psicologia Experimen- tal da Universidade de Genebra. Editor da revista Archives de Psychologie. Presidente eleito da Sociedade Suica de Psicologi 1945 - Indicagao para suceder Merleau Ponty como professor de Filosofia na Universidade de Sorbonne, em Paris. 1950 ~ Publicagao da Introduce 4 Epistemologia e do Tratado de Légica. A partir de entao, foram pul Epistemologia Genética. ados 30 volumes de 1955 ~ Inauguracao do Centro Intemacional de Episte- mologia Genética, sob 0s euspicios da Fundagao Rockefeller. A partir desta data até sua morte, Piaget recebeu no Centro especialistas em diversas areas do conhecimento, provenientes de todas as partes do mundo, os quais procediam a estudos epistemo- logicos, que passaram a integrar a producéo cienti ca da instituicao. 1980 - Falecimento em Genebra. Vale lembrar que ao longo desta trajetéria 0 tedrico su go obteve uma sélida formagao em Biologia, apurou seu conhecimento de Filosofia e Sociologia, disciplinas das quais foi, inclusive, professor e manifestou ainda uma com- preensao segura de Matematica. Deste modo, através de sucessivas pesquisas, nindo seu objeto de estudo e desenvolvendo seu método, ‘com isto, uma das mais relevantes contribuigoes foi defi- trazendo, & Psicologia e 4 Educagao. Em seguida apresentamos uma breve referencia as suas produgées bibliograficas, realgando a variagao de interesses e metodologia contida nos trabalhos publicados por ele: Até 1921, Piaget freqtientou os laboratérios de trabalhando na padronizacéo dos testes de inteligén borados por este psicometrista. Sua observagao concen- trouse, contudo, nos erros cometidos pelas criangas € concluiu que esses “erros” indicavam estruturas mentais: caracteristicas de determinadas faixas etarias. Teve conta- tos, também, com os psicanalistas, inspirando-se no traba- Iho desses profissionais para moldar sua primeira verso de método clinico, que foi, nesta época, semelhante ao modelo de observacao utilizado pela psicologia clinica, isto é, individual e casufstica. Suas publicagdes, neste mo- mento, so relatos de suas pesquisas. De 1921 a 1930, Piaget procura a légica da crianga através do pensamento verbal e inicia algumas experién- clas com 0 uso de método nao verbal. Estuda, também, as idéias espontaneas das criancas sobre o mundo fisico e co- mega a interessar-se pelo desenvolvimento moral da crian- ga, associando-o ao desenvolvimento da afetividade. Nes- ta época o metodo clinico sofre uma alteragao e passa ain- cluir uma conversa sobre questdes dos testes de Binet-Si- mon, teste de Burt e testes de Claparéde. As principais pu- blicagées no periodo sao as seguintes: Linguagem e pen- samento na crianga, A concepgao do mundo na crian- Ga, A concepcao da causalidade fisica e O julgamento moral na crianga. De 1930 a 1940, Piaget estudou as primeiras manifes- tagées da inteligéncia e o desenvolvimento das fungées de representagao. Detém-se, ainda, no estudo do desenvolvi- mento da percepgao e da formagao dos conceitos (concei to de numero, de tempo, de espaco, de ordem, entre ou- tros). A maioria desses trabaltios foi conduzida como ver. dadeira experiéncia, com hipétese enunciada, com o con. trole das varidveis e outros procedimentos caracteristicos da experimentagao. O método clinico piagetiano sofre, en- tao, nova mudanga, passando a mesclar a agilidade da ob- servacgao aberta ¢ o rigor do controle experimental. Entre 9s trabalhos produzidos nesta época destacam-se: O nas- cimento da inteligéncia na crianga, A construgao do real na crianga, A formagao do simbolo na crianca. De 1940 a 1955, ocorre uma formalizagao do método clinico. O interesse de Piaget sofre uma mudanga e a pro- blematica na qual ele centra seu estudo € a operagao légi- ca tanto concreta quanto abstrata ou formal. O método eli- nico se toma essencialmente critico, pois estabelece a sis- temética controvérsia das afirmagées do sujeito, nao para medir a solidez de suas conviccées, mas para captar sua atividade logica profunda. A novidade metodolagica deste Perfode € a convergéncia de um método experimental com um método dedutivo. Com esta orientacao, Piaget se dedica a estudar a construgao de modelos matematicos que fundamentam as estruturas légicas e a descricao siste- matica dos agrupamentos de operacées légicas concretas proposicionais. Entre suas publicacées, destacam-se neste periodo: O desenvolvimento da nogao de tempo, As nogées de movimento e velocidade, A génese da idéia de acaso na crianca, A concepgao de geometria na crianga e A génese do mundo na crianga. No ultimo periodo de sua vida, que é posterior aos anos 1950, Piaget se dedicou aos estudos de Epistemolo- gia Genética, sendo responsavel pela formagao, a partir de 1955, de uma equipe multidisciplinar que no Centro Inter- nacional de Epistemologia Genética desenvolveu estudos sobre a Epistemologia das diversas ciéncias. Para este cen- tro convergem, ainda hoje, especialistas de todo o mundo, que durante estagios ali realizados ampliam e divulgam a pesquisa iniciada por Piaget. Entre as publicagdes desta €poca, ressaltam-se os Estudos de Epistemologia Genéti- ca (30 volumes) e as obras Biologia e conhecimento, Epistemologia Genética e A génese das estruturas logi- cas elementares. des: epistemol sistema piagetiano tem recebido inumeras designa- 0 genético, estruturalista, interacionis- ta, construtivista dialético, cognitivista. Em seguida, passa- mos a comentar essas designagées. A questo que desde o inicio Piaget se colocou fi Como tem origem e como evolui 0 conhecimento? ‘Trata-se de uma pergunta de carter filos6fico, que di- recionou todos os anos de pesquisa empreendida por Pia get € que mereceu dele a abordagem propria de um ramo da teoria do conhecimento, denominado Epistemologia, que significa, segundo 0 Dicionario Aurélio: “Conjunto de conhecimentes que tém por objeto ¢ canhecimento <1 fico, visando a explicar seus condicionamentes, sistemati 4 zar suas relagées, esclarecer seus vinculos € avaliar seus resultados e aplicagoes”: = Segundo o mesmo dicionario, epistemélogo é a pes- soa que se dédica a0 estudo critico dos principios, hipéte- ses e resultados das ciéncias j4 constituldas e que visa a Geterminar os fundamentos légicos, 0 valor eo alcance ob- jetivo delas. Para Piaget, a Epistemologia compreende “o estudo da constituigéo dos conhecimentos validos”. Ele fol o criador de um ramo da Epistemologia que denominou Epistemo- logia Genética e que constitui uma forma de reflexao teori- a, no interior das cigncias, que estuda as passagens dos conhecimentos “menos estruturados” a estados de conhe- lento “mais estruturados’ A Epistemologia Genética usa uma abordagem que consiste em procurar compreender 0 desenvolvimento do conhecimento desde o momento em que pessoa nasce até © momento em que & capaz de um raciocinio complexo, proprio do filésofo ou do cientista. O objeto de estudo de Piaget era, portanto, o conhecimento endo o desenvolvi- mento, como pensam muitos leitores de seu trabalho. Como estudava a génese deste conhecimento, Piaget tor- now-sé um estudioso do desenvolvimento cognitive huma- no, trazendo uma contribuicdo valiosa para a Psicologia Genética, ramo da Psicologia que estuda 0 psiquismo hu- mano a partir de sua génese. Embora 0 objeto de estudo da Episterriologia seja 0 co- nhecimento € 0 objeto de estudo da Psicologia o sujeito hu- mano, a relacao entre essas duas areas nao pode ser esta- belecida em termos de duas ciéncias autonomas, indepen- dentes, que se relacionam exteriormente entre si, A rela Ao entre elas € de interioridade. Em seus estudos, Piaget procurou descobrir as raizes € 0 proceso de formagao dos conceitos de tempo, espago, cau- salidade, sem os quais 0 mundo exterior ndo seria assimilé- vel e revelou o fato surpreendente de que cada crianca de- senvolve espontaneamente esses conceitos que, posterior mente, podem ser reencontrados sob a forma de uma ela- boragao formal e acabada no corpo das diferentes ciéncias. Deve-se realcar que, devido ao interesse pelo conheci- mento como objeto de estudo; Piaget nao se deteve em analisar 0 efeito de muitas variaveis (como a histéria, a classe social e outros) sobre o desenvolvimento das crian- cas. Ele buscava compreender 0 processo de construcao do conhecimento num sujeito universal, sem ocupar-se de sujeitos particulares, marcados por condigées especificas. Por este motivo, se costuma dizer que 0 sujeito estudado por Piaget € 0 sujeito epistémico, isto é, 0 sujeito do conhe- cimento, diferentemente de seus contemporaneos Wallon ¢ Vygotsky. Para Wallon, 0 objeto de estudo era o sujeito concreto, isto é, 0 homem inserido em seu contexto de vida e trabalho, portanto pertencente a uma classe social, envolvido com determinados problemas, inserido nas rela- cdes de trabalho. Jé para Vygotsky, 0 objeto de estudo era 6 sujeito histérico, isto ¢, aquele homem marcado pelas condicées materiais de sua existéncia. sistema piagetiang ¢ denominado, também, estrutu- ralista. Influenciado inicialmente pelo gestattismo, que com- batia a atomizacio da vida psiquica e defendia seu carter estrutural, Piaget considerou que esta corrente psicologica lidava com estruturas, mas ndo se preocupava com sua génese. Era um estruturalismo sem génese, enquanto 0 comportamentismo constituia um estudo da génese dos fendmenos psiquicos que nao se ocupava das estruturas. Ele propunha um sistema estruturalista genético. O conceito de estrutura proposto por Piaget (1970) €0 seguinte: “Uma estrutura é um sistema de transformagao, ‘que comporta leis ou proptiedades de totalidade (por opo- sigdo as propriedades dos elernentos), e que se conserva ‘ou se enriquece pelo proprio jogo de suas transformagoes, sem que estas conduzam para fora de suas fronteiras ou 6 jos exteriores. Uma estruturs . mm apelo a elementos exteris fa com paende ‘caracteristicas de totalidade, de transformacao e autoregulacao”. De acordo com esta visdo estruturalista de Piaget, um onganismo implica uma estrutura que seja receptiva ao ae. A reagao de um organismo nao é, portanto, simples. eee uma resposta a. um estimulo exterior, mas & tam- bem a resposta da estrutura subjacente do organismo e 36 "e pode compreender de modo adequado a natureza de im estimulo depois de analisar a estrutura que esta na base da resposta. Piaget concluiu que 0 comportamento mostra diferen- s ntidas’na capacidade de estruturar o meio. Em cada se nento do desenvolvimento, uma estrutura mental é res- a ravel pela forma particular de se abordar o meio e de se peiiir determinada resposta. O desenvolvimento de crian- caee adolescentes se caracteriza pela sucesso de estrutu- Tee mentais diferentes, cada uma delas regida por leis pro- pias eearacterizando um modelo de compreensao da re Gade que inclui percepso, pensamento, linguagem e afeti- vidade. Uma estrutura mental mais simples constitui, sem- pre, abase ou infra-estrutura de estruturas mais complexas, fnarcando, assim, o desenvolvimento cognitive como um, processo de sucesséo de esquemas mentais. Para explicar por que o sistema piagetiano é Interacio- nista, vale a pena retomar a pergunta: “Como tem origem e como evolui o conhecimento?” Em 1979, durante urn Simpésio realizado na Catedral de Royaumont, 20 qual compareceram especialistas das principais correntes de pensamento, e entre eles Jean Pia- get. foram identificados tr8s modos diferentes de se res- ponder a esta pergunta. s inatistas consideram que o conhecimento é pré-for mado, ou seja, ja nascemos com as estruturas do conheci mento e elas se atualizam & medida que nos desenvolve- "W mos. Konrad Lorenz, um psicofisiologista americano, ten tou provar esta tese. Uma de suas experiencias sobre 0 im- printing ou impressao evidencia que aprendizagens com- plexas acontecem facilmente no momento em que 0 orga- nismo esté preparado para apresentéas. Entre outras ex- periéncias, é muito conhecida aque se refere ao comporta- mento de patos recém-nascidos acompanharem um obje- to que se movimenta a sua frente apés vinte horas de seu nascimento e identificarem este objeto como figura mater- na. Noam Chomsky, um lingiista adepto do inatismo, tem defendido a tese de que as estruturas lingiiisticas sao ina- tas e se manifestarao quando necessario. Em opesigao ao grupo de tedricos inatistas, os empiris- tas admitem que 0 conhecimento tem origem e¢ evolui a partir da experiencia que 0 sujeito vai acumulando. Levado a extremo, 0 empirismo se expressa no determinismo am- biental, posigao segundo a qual o homem é produto do ambiente. Os mais conhecidos adeptos da tese empirista 340 0s americanos J.B. Watson e B.F. Skinner, represen- tantes do comportamentismo. Um terceiro grupo de te6ricos, ao qual pertence Jean Pia- get, considera que 0 conhecimento resulta da interacdo do sujet to. com o ambiente; por isto, sao eles chamados interacionistas. A este grupo pertencem, também, os russos LS. Vygotsky, AN. Leontiev e A.R. Luria e o francés Henri Wallon, O sistema piagetiano é denominado, também, constru- tivista dialético. A partir de suas inameras pesquisas, Pia- get concluiu que cada crianga constréi o seu proprio mo- delo de mundo. As chaves desta construgao ao longo do Processo de seu desenvolvimento sa a) a propria agao do sujeito; b) 0 modo pelo qual isto se converte num processo de Sonstrugae intima, isto é, de formacae dentro de sua mente de uma estrutura em continua expanséo, que Corresponde ao mundo exterior. ié .get tem mostrado que, desde o principio, a propria erianca exerce controle sobre a obtensao e organizagao de Sua experiéncia do mundo exterior. Acompanha com os Sthos os objetos, seu olhar explora em tomo, volta a cabe- a; com as maos agarra, solta, joga, empurra; cheira os ob- jetos, leva a boca. Essas acdes, inicialmente puras formas de exploracao do mundo, aos poucos se integram em es- quemas psiquicos ou modelos elaborados pela crianca Gm esquema €, pois, um padréo de comportamento ou uma agao que se desenvolve com uma certa organiza- ao e que consiste num modo de abordar a realidade e co- nhecé-la. Ha esquemas simples, como 0 reflexo de succao, presente pouco apés o nascimento, ¢ ha esquemas com- plexos, como as operagées légicas que emergem por volta dos sete anos de idade. Piaget considera que os esquemas simples vao se organizando, integrando-se a outros e for- mando os esquemas complexos. As estruturas psicol6gi- cas desenvolvem-se gradualmente neste processo de inte- racao da pessoa com o ambiente e sao compostas de uma. série de esquemas integrados. © construtivismo piagetiano tem sido denominado cons- trutivismo dialético. A idéia de dialética significa movimnen- to, mudanga; caracteriza-se geralmente pela enunciacao de afirmagao seguida de negacéo e depois por uma colo- cacao nova, que resulta da conciliacao das posicoes ante- riores. No processo de construgao ativa do conhecimento pela pessoa, o carater dialético explica a relacao sujel to-objeto, que, na perspectiva piagetiana, constitui uma re lacao de interdependéncia, na qual o sujeito constrél sett objeto e este, por sua ver, interfere na constituicao do sue! to, Os conceitos de assimilagéo e acomodacao, tomados da Biologia por Piaget, podem tornar mais clara a compre ensdo do carater dialético da construgao do conhecimento pelos seres humanos. ‘Aassimilacao é a incorporacao de um novo objeto o4 idela a0 que ja é conhecido, ou seja, a0 csquema que a cre 19 anca ja possui. A acomodacdo, por sua vez, implic transformacao que o organismo sofre para. pa Tider com o ambiente. Assim, diante de um objeto nove ou de uma idéia, a crianga modifica seus esquemas adquiridos anteriormente, tentando adaptar-se a nova situacao. _ Tomando como exemplo 0 processo digestivo, a assi- milagao se dé quando ingerimos 0 alimento eo modifica- mos (mordemos, mastigamos, dissolvemos com a saliva). Neste caso, o alimento é modificado e se torna parte do nosso organismo. Por outro lado, o organismo também so- fre modificagées quando ingerimos um alimento: con- trai-se, libera certos acidos, tenta lidar com as caracteristi- cas do alimento; a isto se chama acomodacao. ‘Transferindo para o plano psicolégico podemos verifi- car que o leitor deste texto, a medida que faz sua leitura, vai assimilando seu contetido, isto é, vai se apropriando dele e procurando entendé-o de acordo com 0 que conhe- ce sobre 0 assunto (assimilagao). Ao mesmo tempo, a nova leitura vai determinando alteragées na organizagao de seu conhecimento sobre o assunto (acomodacao). No processo de interagdo com os estimulos do ambi- ente, muitas aquisigées feitas resistem aos esquemas 2 que a crianca esta acostumada e impéem mudangas a ¢s- ses esquemas; outras produzem novos resultados, que en Tiquecem o alcance ou a gama dos esquemas. A crianga é, pois, 0 proprio agente de seu desenvolvimento; os proces” 508 assimilativos gradualmente estendem seu dominio ¢ 2 acomodacao leva a modificagées da atividade. Do equill brio desses dois processos advém uma adaptacao a0 mundo cada vez mais adequada e uma conseqiente orga- nizacao mental, que se designa como equilibragao das ¢s- truturas mentais. Como se depreende de tudo 0 que foi colocado nos pa- ragrafos acima, Piaget foi um estudioso do desenvolvimen: to humano em varios aspectos, mas seu interesse Princ Piaget tem mostrado que, desde o principio, a propria xeree controle sobre a obtengao € organizacao de criang? eancia do mundo exterior. Acompanha com os BU eT eos, seu olhar explora em tomo, volta a cabe- olhos 0° oo aowagarra, solta, joga, empurra; cheira os ob- co En a boca. Essas a¢6es, inicialmente puras formas jetos, -g0 do mundo, aos poucos se integram em es- oe eee siquicos ‘ou modelos elaborados pela crianga. qu ‘Um esquema é, pois, um padrao de comportamento n agao que se desenvolve com uma certa organiza- ie ily sonsiste num modo de abordar a realidade e co- ae ea ra esquemas simples, como 0 reflexo de suc¢ao, nhect tt pouco apés o nascimento, ¢ hd esquemas com- _— aa ‘as operagées lgicas que emergem por volta Pens onoz de idade. Piaget considera que os esquemas dos sete ooo se organizando, integrando-se a outros e for- simples vie Hr einas complexes. As estruturas psicolég ei .dualmente neste processo de inte- desenvolvem-se gra a da pessoa com o ambiente e sdo compostas de uma Sésie de esquemas integrados. 4 ; ti 10 piagetiano tem sido jenominado cons- eee co Adela de dialética significa movimen- to, mudanga; caracteriza-se geralmente pela ae to. Mrmarao seguida de negagao e depois por uma colo- Ceeao nova, que resulta da conciliagao das posigdes ante- saa No processo de construgso ativa do conkecimento vele pessoa, 0 carater dialético explica a relacao sujet pe apeto, que, na perspectiva piagetiana, constitu uma re- lacao de interdependéncia, na qual 0 sujeito constréi seu objeto e este, por sua ver, interfere na constituicao do sujet- to. Os conceitos de assimilacae & acomedacac, tomades da Biologia por Piaget, podem tornar mais clara a compre- enséo do caréter dialético da construgao do conhecimento pelos seres humanos. Aassimilacao é a incorporacao de um novo objeto ou idéia 20 que ja € conhecido, ou seja, ao esquema que 2 cri Ig anga j4 possui. A acomodagao, por sua vez, implica na transformagao que 0 organismo sofre para poder lidar com o ambiente. Assim, diante de um objeto novo ou de uma idéia, a crianga modifica seus esquemas adquiridos anteriormente, tentando adaptar-se & nova situa¢ao. Tomando como exemplo o processo digestivo, a assi- milagao se da quando ingerimos 0 alimento e o modifica- mos (mordemos, mastigamos, dissolvemos com a saliva). Neste caso, o alimento é modificado e se toma parte do nosso organismo. Por outro lado, o organismo também so- fre modificagées quando ingerimos um alimento: con- trai-se, libera certos dcidos, tenta lidar com as caracteristi- cas do alimento; a isto se chama acomodagao. Transferindo para o plano psicolégico podemos verifi- car que 0 leitor deste texto, 2 medida que faz sua leitura, vai assimilando seu contetido, isto é, vai se apropriando dele e procurando entendé-lo de acordo com o que conhe- ce sobre 0 assunto (assimilacao). Ao mesmo tempo, a nova leitura vai determinando alteracGes na organizacao de seu conhecimento sobre o assunto (acomodacao). No processo de interagao com os estimulos do ambi- ente, muitas aquisigdes feitas resistem aos esquemas a que a crianca esta acostumada e impdem mudangas a es- ses esquemas; outras produzem novos resultados, que en- Fiquecem 0 aleance ou a gama dos esquemas. A crianga 6, pois, © préprio agente de seu desenvolvimento; os proces- Sos assimilativos gradualmente estendem seu dominio e a acomodagao leva a modificages da atividade. Do equili- brio desses dois processos advém uma adaptagao ao mundo cada vez mais adequada e uma conseqtiente oraa- nizagao mental, que se designa como equilibracao das es- truturas mentais. Como se depreende de tudo 0 que foi colocado nos pa- ragrafos acima, Piaget foi um estudioso do desenvolvimen- to humano em varios aspectos, inas seu interesse princi- 20 pal era o desenvolvimento do conhecimento; dat a desig- nacdo dada ao seu sisstema: cog itivista. Uma vez entendidas as denominagdes atribuidas a0 sistema piagetiano e a origem de sua abordagem, toma-se ‘abordar os aspectos por ele estudados. ? O deseuvolvimente poiquice na perspective de Jeax Piaget Como foi mencionado no capitulo anterior, na tentati- va de responder & questéo “Como tem origem e evolui o conhecimento”, Piaget investiu mais de 50 anos de pesqui- ‘sa. Scu interesse epistemolégico foi aos poucos configu: rando um trabalho psicolégico, pois embora o objeto de seu estudo fosse o conhecimento, a necessidade de abor- dar a génese deste conhecimento levou-o a um outro obje- to de estudo: 0 desenvolvimento da crianga. Assim, além de uma Epistemologia Genética, Piaget produziu uma Psi cologia Genética. ‘A maneira pela qual Piaget conduziu suas pesquisas ao longo de todos estes anos nos leva a perceber trés mo- mentos diferentes na construgao de seu trabalho, cada um desses momentos associado a um modelo psicogenético. Por volta de 1923-1924 Piaget dedicouse a analisar 0s protocolos de observagao de seus filhos, feitos por sua es- posa e assistente Jacqueline Chatenay. Nesta época, le estuda o pensamento através da linguagem € conclut so- bre a intima relagdo desses dois processos. De 1932 em diante, Piaget construiu o mais completo de seus modelos psicogenéticos, estudando paralelamente ‘0 desenvolvimento cognitivo, o julgamento moral € a line 22 conseguiu perceber a relaco entre as es- ‘desenvolvimento social. Durante truturas or agel gbordou a competencia moral, que é a este peri ois do cardter consensual das regras sociais, na compreens#o “ompeténcia cognitiva, o que implica na ca- relagdo com ar com idéias abstratas. Ele relacionou tam- pacidade de lida’ favor a competéncia linglistica, que é a bam esses eo pressaressas déias,regras.e sentimentos, seas nde 1940, entretanto, Piaget passa a dedicar-se A partir de 1m delo psicogenético, voltando a estudar ao seu tercelte Meognicéo, seu interesse inicial, que era 0 exclusivamentt » f conhecimento. Esse momento é con- desenvolvime’™ jstalacdo do Centro de Epistemologia Ge- temporane® jo a partir da qual especialistas em diversas nética, ocast mn a reunir-se em Genebra para darem conti- Se guagem; assim, DESENVOLVIMENTO PSIQUICO OS DO “ASPECTOS E ESTADI " ; ido carter global do desenvolvimento psiquico, 7 tos ou funcées diferenciados ‘Apesa Piaget cistinguiu nele aspect ie 580: _ : nes de conhecimento - Responsaveis pelo co- phere tem do mundo e que incluem a or nhecimento ave mento [ogico e a organizacao da evade, O pensamento logico evolui desde a mais tiva agao do homem sobre o mundo, que S40 os © pensamento operatorio, forma mais Tomplexa de pensamento, que ¢ propria do adulto i telgente; a organizacao da realidade, por sua ver, evolui desde o estado de indiferenciacao entre o eu € 0 mundo até as percepgdes complexas a respeito desie do mundo e a construgao de conceitos. a0 ~ Incluen todas as fun- ficado quak ‘ando um sig- primitiva a reflexos, até + Fungoes ce /epresenta' ‘goes gracas as quiais representamos urn sigh quer (objeto, a ontecimento ou pessoa) 23 nificante determinado (paiavra, gesto, desenho, etc.)- Neste grupo de fungées Piaget inclui a imitagdo diferida, © jogo, o desenho, a linguagem e a imagem mental. + Fungoes afetivas - Essas nao constituem © objeto especifico de interesse de Piaget; entretanto, ele reco- nheceu sua importancia, admitindo que constituem 0 motor do desenvolvimento cognitive. Analisouas do Ponto de vista da relacao com 0 outro, distinguindo etapas que vao desde a anomia (auséncia de regras morais para limitar 0 que é permitido fazer), passam para a heteronomia (regras impostas pelo outro) ¢ atingem a autonomia moral. E sobre as fungées do conhecimento (cogni¢ao) que Piaget realizou a maior parte de seus estudos, aos quais se deve a designagao cognitivista atribuida 4 sua teoria. Nes- ta parte de seus estudos se baseiam as inferéncias educa- cionais. Devido a sua formacao em Biologia, Piaget adotou os termos assimilagéo, acomoda¢ao e adapta¢ao para ex- plicar 0 processo de desenvolvimento psicolégico. Ele considerava que todo movimento, pensamento ou senti- mento corresponde a uma necessidade. A cada instante 0 equilibrio 6 quebrado por transformagées que tém origem no mundo exterior ou interior e uma nova conduta tenta restabelecer 0 equilibrio. A agéo humana consiste, portan- to, no Movimnento continuo de adaptagao ou equilibragao. Em cada momento do seu desenvolvimento, a crianga conta com uma estrutura mental que a auxilia no restabe- rio que, entretanto, nao é duradou- lades surgem. Assim, toda ne- sai a5 Coisas € pessoas a aiivide- isto é, assimilar o mundo exterior as. Ao mesmo tempo, toda ne- star essas estruturas em fungéo das, ou seja, acomodé-las aos ‘0 entre as assimilagGes e aco- lecimento deste eq To, porque novas neces: cessidade tende a de prépria do sujeito as estruturas ja con cessidade tende a re: das transformagées oc rbjetos externas. O « 4 modagées € denominado adaptagao ou equilibracdo ¢ este processo explica a organizagao progressiva do desen- volvimento mental Piaget considera que 0 desenvolvimento das fungdes de conhecimento, de representacao e das fungées afetivas & marcado por periodos bem delineados, os quais ele cha- mou de estadios de desenvolvimento. A seqiéncia des- ses estdios € sempre a mesma, mas a cronologia pode variar de uma pessoa para outra ou em culturas diferentes. Durante um estadio, o comportamento humano se mostra diferente do periodo que 0 antecedeu e do periodo que viré a seguir. Isto se deve, segundo Piaget, a existéncia de uma estrutura mental qualitativamente diferente das anteriores e das posteriores; ao mesmo tempo, a estrutura mental propria de um estadio tem como infra-estrutura a que é es- pecifica do estadio precedente e prepara 0 individuo para © estadio seguinte. Assim, a crianga no estédio de operacées concretas, por exemplo, apresenta uma estrutura mental que Ihe per- mite realizar operagées mentais que séo acdes interioriza- veis € reversiveis, embora ainda carecam da referéncia a objetos para se efetivarem. As agoes caracteristicas deste estadio tém sua origem no perfodo pré-operatério, estédio anterior ao de operacées concretas. Por outro lado, o esté- dio de operacGes concretas traz embrionariamente a capa- cidade de raciocinar hipotético-dedutivamente, que € pro- pria do estédio seguinte, que é 0 operacional abstrato. Segundo Piaget, s40 os seguintes os estadios de desen- volvimento psiquico: |» Estadio sensério-motor: de 0 a aproximadamente 18 ou 24 meses ~ Neste estédio, a crianga ainda néo dispoe da fungao simbélica e nao apresenta uma for- ima de pensamento ou afetividade definida, que Ihe permita evocar pessoas ou objetos na auséncia deles. Por este motivo, o rapido desenvolvimento, proprio deste perfodo, caracteriza'se por construcdes apoiadas a5 exclusivamente em movimentos, estando, portanto, este desenvolvimento ligado a seu corpo apenas. pepe imepaisiy err d cognitivas, as quais falta ainda a linguagem, serve de ponto de partida para as constr gOes perceptuais e intelectuais dos periodos seguintes, bem como para o desenvolvimento da afetividade. Pia- get admite, portanto, uma inteligéncia anterior a lingua- gem, ou melhor, a construgéo de uma base sobre a qual se organizaré a inteligéncia. Ele fala de uma assi- milacao, 0 que significa que toda ligac4o nova se inte- gra num esquematismo ou numa estrutura anterior. Assim, cada nova experiéncia do bebé se integra as es- truturas j4 construidas, modificando-as e enriquecen- do-as em funcéo das novas assimilacoes. Diferente- mente dos associacionistas, Piaget admite que mesmo nesta fase inicial da vida da crianga nao existe um es- quema E - R, segundo o qual o estimulo provoca uma Tesposta, mas sim um esquema interativo, de acordo com 0 qual hd uma reciprocidade entre 0 estimulo e a resposta, ou seja, 0 sujeito se toma sen: el aos estimu- Jos na medida ern que ele se toma assimilavel as estru- turas j4 construidas e, na medida em que isto ocorre, novos estimulos sao buscados pelo organismo ativo- « Estidio objetivo-simbélico ou pré-operatério: ini- cia-se aproximadamente aos 2 anos ¢ vai até aos 60u 7 anos. O inicio deste periodo € marcado pela instala- 40 da funcéo simbética, especialmente pela linguagem; dai a denominacdo utilizada por Piaget, durante algum tempo, para designéo: simbélico. Inicia-se, também, um contato maior com o mundo exterior, que the vale a denominagao objetivo. Gracas ao aparecimento da linguagem, as condutas $40 modificadas no aspec~ to afetivo ¢ intelectual. A crianga torna-se capaz de re- suas agoes passadas sob a forma de narratt pela fala. Como constit vas e de antecipar suas agoes futuras 26 conseqdéncia, o desenvolvimento mental passa 2 apre- sentar uma possibilidade de troca entre os individuos, que se denomina inicio da socializagao da a¢ao; uma forma de pensamento que tem como base a lingua- gem interior e 0 sistema de signos, que é denominada iiteriorizacdo da palaura e uma interiorizagao da acao, que é uma forma de reconstituicdo das imagens cexperiéncias mentais no plano intuitivo, ou seja, nao sais baseada apenas Nas percepcdes e movimentos. A afetividade também apresenta significativa evolu- ‘aparecendo sentimentos interindividuais, como antipatia, respeito, etc. e uma afetividade in- de forma mais estavel. de cerca de6 0, simpatia, terior, que se organiza «Estadio operacional concreto: a pai ou7 anos, indo até aproximadamente os 11-12 anos ~ ‘As operacées diferem das agdes, que sdo caracteristi- cas do periodo anterior e implicam na manipulagao Contato direto com o real. Operagdes légicas s8o agdes interiorizadas e reversiveis, a partir das quais conhecer o real é pensar sobre ele (carter interiorizado) e agru- ento em sistemas coerentes e passi- pais de construgao ¢ anulacdo (carater de reversibili- dade). Esta nova forma de abordar o mundo permite & crianga pensar a realidade, organizando-a gracas a ar- tificios mentais, embora ainda precise usar como refe- rencia objetos concretos. Neste momento, véo emer- gindo as diversas operacoes logicas, tipos de pensa- mento que se baseiam nos modelos matematicos e que Piaget chamou classificacao, seriacéo, compensa- 40, raz4o-proporcao, probabilidade, entre outros. + Estddio das operacées abstratas ou formais: inicia-se aproximadamente aos 11-12 anos - A caracteristica I deste estadio é a capacidade de distinguir en- essen com uma situagac tre 0 real e 0 possivel; ao deparar qualquer, o adolescente se mostra capaz de prever to- das as relacdes que poderiam ser validas e procuta de- terminar, por experimentacao € andllise, qual das rela- ses possiveis tem validez real. Em lugar de conten- tarse com o que Ihe chega através dos sentidos, 0 adolescente tem a capacidade de avaliar o que pode- tia estar ali, Assim, 0 pensamento se liberta, gradual mente, do concreto, e se orienta para o inatual ¢ © futu- ro. Esta transformacéo do pensamento possibilita 0 manejo das hipéteses e o raciocinio sobre proposicoes destacadas da sua constatagao concreta e atual. Esta a época dos grandes ideais e teorias. Isto ocorre por- que 0 passado e o presente séo concretos, mas 0 futu- ro € abstrato, e s6 quando 0 pensamento se torna abs- trato € que o ser humano se torna capaz de pensar 0 que ainda no foi vivido ou experimentado, mas que est por vir. Nos préximos capitulos, para garantir uma abordagem didatica, tomaremos cada estadio em separado, in- cluindo, em cada um deles, as caracteristicas das fungGes do conhecimento, da funcao de representagdo e da funcao afetiva. Parte II i Ropectes e etapas de desorucluiments poiquice soguede. Jean Piaget 3 O periede seusiris-motor O primeiro estadio do desenvolvimento légico é deno- minado sensério-motor porque nele se verifica uma coor- denagao sensério-motora da agao baseada na evolugdo da percep¢ao e da motricidade. O estadio estende-se do nas- imento ao aparecimento da linguagem, isto é, do 0 més até por volta dos 18 meses a 2 anos. Nesta fase, rapida em- bora importante, Piaget situa a origem de um comporta- mento inteligente. Trata-se, entretanto, de inteligéncia es- sencialmente pratica, tendente a busca de resultados favo- raveis mais do que ao enunciado de verdades. Neste texto, J pretende-se abordar em separado cada um dos aspectos do desenvolvimento psiquico, embora se deva realcar que | esses aspectos estdo estreitamente interrelacionados, cada : um servindo sempre de estimulo ao desenvolvimento do outro. No tocante as fungdes do conhecimento, apresenta- remos as bases do pensamento légico e a organizagao da realidade. Do ponto de vista do desenvolvimento do pensamen- fo, o periodo sensério-motor é dividido em 6 subestadios, qu ‘sao 1) Exercicio reflexo - Etapa de desenvolvimento que ade pelo primeiro més de vida e durante a qual puramente reflexa, se restringe as coorde- soriais e motoras de fundo hereditario. En- sees aati nace acl 32 tre essas atividades instintivas encontram-se manifes- tagdes como 0 reflexo de sucgo, de preensao, de Ba- binsky, bem como a nutricdo. Gradualmente esas ati- vidades vao se aperfeigoando, podendo-se afirmar que com poucas semanas a suc¢ao se aperfeicoa, ¢ a cri- anga mama de forma mais coordenada. Reflexos como © palmar, que estdo associados a preensao, vao se tor- nando exercfcios reflexos, que garantiréo a passagem a estadios ulteriores do desenvolvimento. 2) Reagées circulares primérias ~ Essas reagdes, que aparecem entre um e quatro meses, equivalem a for- macéo dos primeiros habits. Dependem diretamente da atividade da crianga, sendo, postanto, diferentes dos reflexos do perfodo anterior. Assim, a crianca ten- de a repetir um comportamento relative ao proprio corpo, que foi casualmente emitido, Por exemplo, quan- do faz um movimento com a mao, a crianga o repete seguidas vezes, como se nao pudesse parar. Nao se pode afirmar que se trata de um ato inteligente, porque no se distingue nestes comportamentos uma finalida- de anteriormente procurada, nem a escolha de meios capazes de atingila. 3) Coordenagao de visdo e preensdo e comego das re- agées circulares secundarias ~ Este subestadio s cia aproximadamente aos quatro meses e vai até por volta de oito meses. E 0 momento em que se inicia a coordenagao entre a visdo ¢ a preensao e 0 bebé agar- ra e manipula tudo o que vé no seu espago proximo. A crianca agora repete os comportamentos (reagao cir- cular) que produzirarn certo efeito; por exemplo, € ca- paz de puxara corda do mobile pendente do seu berso e sacudir todos os objetos presos a ele. Depols disso, seré capaz de procurar a corda que prende um objeto qualquer colocado acima de seu bergo, evidenciando 9 que constitui @ diferenciacdo entre a finalidade © meio, mas sem fins preliminares quando da aquisi¢ao : 33 de uma conduta nova. Concl antecipacao, embora li ‘Se, pois, que hé sma tada, do efeito de uma acao. 4) Coordenacao dos esquemas secundétios, com uti- zago, em certos casos, de meios conhecidos com vis- ta a obtengao de um objetivo novo ~ O subestadio, que se inicia por volta dos oito meses, vai até cerca de 11 meses ¢ nele se observam atos mais complexos de in- teligéncia pratica. Assim, a crianga que conseguiu pro- em que a crianca psegue colocar-se na pele da outra, passando a ela informagées que Ihe per- mitem entender a situacao. Infere-se, portanto, que as condutas sociais permane- cem, ainda, a meio caminho da socializagdo, pois em lugar de sair de seu ponto de vista para coordené-lo com o dos ‘outros, 0 individuo, permanece centrado em si mesmo. Nas relacdes que mantém com o adulto, mesmo levan- do-se em conta a superioridade que este manifesta em re- lagéo a crianca, 0 egocentrismo infantil persiste. 5.2. A génese do pensamento Sob a dupla influéncia da linguagem e da socializasao, ocorre uma transformagao da inteligéncia que pode ser considerada a emergéncia do pensamento propriamente dito. A linguagem permite ao sujeito contar suas agoes, re- constituir fatos passados ¢ evocar situacées vividas anteri- ‘ormente, além de evocar os objetos e pessoas na auséncia deles, © pensamento parte exatamente dat; ele jé nao esta vinculado exclusivamente ao eu, mas a um plano de co- municagao que the dé uma grande importancia, pois a lin- guagem é um cédigo que pertence a todos. Analisando a génese do pensamento, verifica-se que, inicialmente, a crianca comega por uma incorporagdo de dados ao seu eu e a sua atividade, uma assimilago ego- cénttica que marca seu pensamento e sua socializagao que carece de objetividade; a esta forma de pensamento chama-se pensamento egocéntrico. A segunda forraa de pensamento que se manifesta é a do pensamento adapta- do aos outros e ao real, que prepara o pensamento légico nada pensamento intuitive. © egocentrisme € uma disposicao afetivo-intelectua ‘enta sempre que uma alteragao da realidade sito nao é acompanhecla da capacidade cle re realidade. Tal disposigéo acontece em ino presenta ta mentos bem definidos do desenvolvimento, come o peri do ao qual nos referimos, a adolescéncia, a velhice. No periodo objetivo-simbélico, o pensamento egocén- trico da crianga se caracteriza pelo fato de sta légica estar centrada na propria crianga. Uma conseqiiéncia desse ego: centrismo é a incapacidade da crianga de colocar seu pro- prio ponto de vista como um entre muitos outros pontos de vista possiveis, e para tratar de coordena-lo com estes. Deste modo, desconhecendo a orientacao dos demais, a crianga nao sente a necessidade de justificar seus racioct- nios perante outros, nem de buscar possiveis contradicoes em sua ldgica. Causalmente ligado a isto, vern 0 fato de a erianga ser incapaz de tratar seus proprios processos de pensamento (como por exemplo, sua incapacidade de re- construir uma cadeia de raciocinios que acaba de seguir para resolver um problema). Em razao dessas caracteristi- cas, Piaget situa o pensamento pré-operacional a meio ca- minho entre o pensamento adulto socializado e 0 pensa- mento autistico do inconsciente freudiano. O pensamento egocéntrico se manifesta através das seguintes manifestagdes: animismo, artificialismo e fin mo. O animismo é a tendéncia a atribuir vida (anima) a to- dos os seres, mesmo o: imados, Como exemplo, a att- tude da crianga que, ao tropecar numa pedra, considera que esta é mé, quer machucéla. O ismo é a ten déncia a atribuir uma origem artesanal humana a todas as coisas. Assi montanha foi feita por um homen ™m grande que-ajuntou muita terra. Aos poucos, esta idéia & la, ern nossa cultura, pelo Papai do Céu.O is: substit at crianga tes- perguntamos 0 ar" wamento prope ite de ponde que é “para mim don que é um brinquedo, diz “é para mir Uma imporiante caracteristica do pe racional é a incapacidace de descentringae, pois, 58 ento uma situagao, a crianga nesta etapa do desenvolvi tende a centrar a atengao num sé trago mais seliente do ob- jeto de seu raciocinio, em detrimento dos demais aspectos importantes. Ela se mostra incapaz de descentrar, isto é, de tomar em consideragao aspectos que pederiam equilibrar ¢ compensar os efeitos distorcedores do raciocinio, que se fixa apenas num aspecto particular da realidade. Diante de ur copo e de uma taga, na classica experiéncia de Piaget, ela presta atengao na altura e nao na largura, sendo incapaz de efetuar as compensagoes. A crianga, nesta fase, fixa os eslados e nao consegue acompanhar as transformagoes. Assim, ela tende a con- centrar sua atengao nos aspectos ou configuragées suces- ‘os de uma coisa, mais do que nas transformagées atra- vés das quais um estado se transforma em outro. Por isso, dizse que 0 pensamento pré-operacional é estatico, imé- vel, pode concentrarse, de maneira esporédica ¢ impressio- nista, nesta ou naquela condicdo momentinea, estatica ras no liga de modo adequado urna sucessao de cond g6es nurna totalidade integrada, levardo ern considerago as transformagées que a5 unificam ¢ as fazem logicamen- te cocrentes. Novamente lembrando uma experiéncia feita por Piaget, mesmo quando a transformugio da bola de masa plastica em salsicha € feita diante da crianga, cla 36 86 fixa nurn momento final para dar sua resposta, como se nao tivesse presenciado © processo. Ds tatien cado pel cogn csenvolvendese a partir de imagens concretas © es- da realidade, o pensamento pr ja irreversibilidade, Dinse que uma ol a Greve ne pode percorer 2 retort aperacional é mar perliciais distorcidos, por meio de dese: waa 6 rapldas. lento ¢ muito ¢: do que cepetic aspectos ineversiveis da realid gue anulas wen peccurso. Por isto, 9 Cri8e cor 2 con segue entende: que a bola transformada em salsicha pode ser novamente transformada em bola e que a agua do copo que foi colocada na taca pode retornar a taca. Predomina, também, nesta fase, a transducao, modelo de taciocinio primitivo, baseado em relacées analagica que se orienta do particular para o particular. O racioc transdutivo tende a justapor os elementos sem vinculé-los, mediante apelos a necessidade légica ou a causalidade ca e se manifesta através dos pré-conceitos e das pré-rela- gdes. Os pré-conceitos séo conceitos prévios, construidos do particular para o particular, sem fazer generalizacées; s0 concretos e compostos de imagens, em lugar de serem esquematicos e abstiatos como sao os conccitos. Concluindo esta andlise, deve-se registrar que por volta de quatro a cinco anos e meio, aparecem as organizagbes representativas, fundadas sobre configures estaticas ou sobre assimilagao a prépria acao. Este periodo coincide corn a fase dos porqués, e as primeiras estruturas represen- tativas tem um carater de dualidade dos estados ¢ das trans formagées: enquanto os estados so pensados come confi guracées estaticas (6 0 caso do papel das coleges figurais quando a crianga forma classes), as transformagées sao as- similadas as ac6es, ea crianca tende a nao percebélas. De cinco anos e meio a aproximadamente sete anos aparecem as regulagées representativas articuladas; a fase @ intermediaria entre ndo-conservagao € a conservacso, ¢ rnarca 0 infcio das ligacdes entre 6es, tornando possivel pensélas sob forma semi revers vel. Neste momento, a crianca ja é capaz de acornpanharo movirnento de se tansformar a bola de massa em sa e admilir que @ possivel volta-la forma anterior. 5.2. A ininigao J paitir dos quatro anos, 0 tipo dominante de racio’ ne de um tipo de ca) cinio que, embora seja bastante rapido, é ainda prélogico e fundamenta-se exclusivamente na percepao. Gracas ao ra- ciocinio intuitivo, a crianga adquire um modo de lidar com informagées de diferentes fontes e com muitos dos proble- mas de integragao, segundo diferentes pontos de vista. Embo- ra freqiientemente possa descobrit 0 caminho de seu racio- cinio num problema, nao tem ainda uma clara representa- do conceitual que permita chegar @ resposta correta. © pensamento intuitivo desconhece a reversibilidade e a conservacao. Nao é ainda uma légica, mas uma semil6- gica, e, & falta de operagées inversas, nao tem uma estru- tura operativa. O que a crianga intuitiva faz é realizar ope- ragées em suas imagens mentais; considera a imagem mental em toda sua concreticidade e depois a organiza mentalmente, a fim de conseguir informagées novas. Tudo se passa como se a imagem mental seguisse as leis que governam o objeto real, mas nao pudesse formular concel- tualmente tais leis e, assim, chegar a uma resposta basea- da numa légica. Accrianga nesta fase ainda ndo possui um dominio ver- bal como possui dominio da agdo e da manipulacdo. Exis- te uma inteligéncia pratica, que de um lado prolonga a in- teligéncia senso-motora e de outro prepara as nocées téc- nicas que se desenvolverao a partic do periodo operacional. A experiéncia feita por Piaget de enfileirar fichas azuis, com pequenos intervalos e pedir as criangas que fagam uma fileira igual usando fichas vermelhas constitu um bom exemplo desta inteligéncia pratica. Verificase que a crianga avalia apenas o espaco ocupado pelas fichas azuis, sem se preocupar com o niimero de elementos ou com a correspondéncia termo a termo entre as duas fileiras. Es- tas intuicdes sao apenas esquemas perceptivos ou esque- mas de aco transpostos ou interiorizados como represen- tagdes. Sdo imagens ou imitagSes da realidade, a meio ca- minho entre a experiéncia efetiva e a experiéncia mental, nao se constituindo ainda como operagées légicas, passt- veis de serern generalizadas combi parada a logica, a intuigao ¢ m vista do equilibrio, devido a a las entre si. Com. : vel, do ponte de Gncia da reversibilidade, nos. 5.4. A afetividade no periodo objetivo- imbélico Embora Piaget nao tenha privilegiado o estudo da afet vidade, ele considera que em toda conduta as motivagaes e0 dinamismo energético provém da afetividade. Para ele, nunca hé agao puramente intelectual, assim como tam. bém nao hé atos que sejam puramente afetivos. Sempre 0s dois aspectos ~ inteligéncia e afetividade ~ interven nas agdes e pensamentos humanos. No periodo objetivo simbélico, algumas manifestagées afetivas se apresentam: os sentimentos interindividuais (afei- g6es, simpatias, antipatias), ligados & socielizacdo das acées; a aparicao de sentimentos morais, provenientes das relagdes com adultos e criangas, ¢ as regularizacoes de interesses ¢ valores, que estdo ligadas ao pensamento intuitivo em geral. O interesse, que 6 0 mais simples dos aspectos apre- sentados acima, é 0 prolongamento das necessidades; um objeto torna:se interessante quando responde a uma ne- cessidade. Desde a fase sensério-motora a crianga mani- festa interesse, que 6 a orientacdio prépria a todo ato de as- similagdo mental (assimilar mentalmente é incorporar 0 objeto a0 eu). Com o desenvolvimento do pensamento in- tuitivo, os interesses se multiplicam e se diferenciam, dan- do lugar ao aparecimento dos valores, que aparecein atra vés das palavras, do desenho, da imagem. Todas as vealt dades com as quais a crianga convive adquirem valor na medida de suas necessidades, dependendo do equilibria mental naquele momento e sobretudo das novas incorpo -raGes necessatias & sua manutengo. surgem es. 1s de supe: Juntamente com os interesses e valores, sentimentos de autovalorizagao, os sentimento: roridade e de inferioridade. Os sucessos e fracassos da crianca em suas atividades conduzem a um autojulgamen- to e se registram numa escala permanente de valores. Os resultados desta avaliagao podem determinar repercussdes importantes sobre o seu desenvolvimento. Do mesmo mode que © pensamento intuitivo esta liga- do a existéncia de signos verbais (linguagem), os senti mentos espontaneos de pessoa para pessoa nascem de uma troca de valores, que vai se tomando cada vez mais rica. A simpatia surge de uma valorizagao miitua e de uma escala de valores que permite trocas. Sirnpatizar com al- guém & concordar com este alguém, é possuir os mesmos valores. A comunidade de valores entre a crianga € os pais € a explicagao mais clara da simpatia que se estabelece entre eles, ja que a crianga molda seus valores a imagem de seu pai e de sua mae. O respeito tem origem na relagéo interindividual em que a crianga percebe a outra pessoa como superior a ela; ele urn composto de afeigdo ¢ temor € explica por que as pessoas respeitadas sao obedecidas. E neste sentido que se estabelece a primeira forma de mo- ral da crianga, que € a obediéncia aos avisos ¢ ordem emi- tidos pelos pais e outros adultos que ela respeita. Ela nao procura compreender a regra de conduta que the é impos- ta; ela apenas assimila esta regra 4 sua conduta. Os primei- ros valores morais sao, pois, moldados na regra recebida, gracas ao respeito unilateral, e as regras s4o tomadas a0 pé da letra e ndo em sua esséncia. Para que os valores s organizer em sistema coerente, ser preciso que 6 jlo roento moral tenha uma cecta autonomia, baseande- respcito nutituo, © que s6 acontecerd quando a cri pensar fogicarente, 0 que s6 aconiccerd efetivament astadio de desenvolvimento. ese, pode-se afi bes, valores utc interesses, valor € juga weipais Cristalizagoes » objetivo-simbét 9 constituem as pr nivel de deserivoivi ; g O periods. operneional concrete 6.1. Uma referéncia as operagées légicas A partir de aproximadamente 7 anos, muda-se a forma pela qual a crianga aborda o mundo. No periodo pré-ope- ratorio, a crianga construla seu conhecimento sobre o mundo através de manipulagées, isto é, agées que impli- cam em contato direto com o real. A partir do periodo em que se instala a conservacao, 0 egocentrismo regride ¢ es- tas acdes sao substituldas por operagdes, que sdo agdes interiorizadas (conhecer © real implica em pensar sobre ele) ¢ reversiveis (uma a¢ao pode voltar ao ponto de parti. da ou ser anulada através de uma operacao mental). A capacidade de representar mentalmente o mundo, iniciada aos 18 meses, leva cerca de 5 a 6 anos para ser usada ent sua ph a partir do periodlo operatério que a de reconstvui construtdo no de um estado as agoes. & svianga se tora capaz no plano da representagao, o que ja havia crlanga passa do no corpo & 2 aso fF au 1g6es objetiva: tos, objetos © j-esscas. A desc san necessaria pare fo apenas nue ke ela; isto stay it bs cuayae as opel mas tam niga pas Goes nado 64 ento do mundo levando em Zonta os sujeitos com os quais convive € que $20, a0 mes- Mo tempo, diferentes e semelhantes a ela. O desenvolvt mento cognitivo esta, portanto, estreitamente relacionado ao desenvolvimento afetivo-social, pois a cooperagao que emerge dessas relagées entre iguais ¢ indispensdvel 4 ob- jetividade, & coeréncia interna e 8 universalidade das estru- turas operatérias. Valea pena lembrar que as relagdes inte- rindividuais tém uma importancia significativa no desen- volvimento das operagées logicas, que so, acima de tudo, sa a elaborar o seu conheci co-operagées. Segundo Piaget, as operacées logicas que vo emergin- do ao longo do processo de desenvolvimento tem como modelo as operagées légico-matematicas e se organizam como estruturas mentais. Por se assemelharem @ estrutura matemitica ideal e perfeita do grupo, as operacées logicas sao por ele denominadas agrupamentos, jé que Ihes falta a perfeicao do modelo teérico ideal. E possivel identificar ope- ragées légico-matematicas, cujo desenvolvimento ocorre durante os periods operatétios concreto e operatério abs- trato ou formal. A relacdo dessas operagées e dos periodos do desenvolvimento em que emergem é a seguinte: oe Epoca aproximada em Operacao légica que emerge Primeiro subestadio de ‘operagées concretas Multiplicagao logica Segundo subestadio de Compensacéo simples ‘operacées concretas Compensagées complexas _Primeiro subestadio de operagées abstratas Razéo proporso aqunclo subestadio de Probabilidacle Inducae de ke ou correlagao. © aparecimento dessas operagoes se da mesma ordem, embora a cronologia possa vain crianga para outra. Existe uma hi tte tein, goes logicas, de modo que a acorn de wn ficagdo e seriacao parecem ocorrer simultansnmente a, que uma anteceda a outra. oe Como se depreende do quadro acima, algumas des operacdes acontecem no perfodo operacion: concretos aa classificagdes, as seriagées e as compensacoes simples, ¢ outras s6 emergirao no periodo operacional abstrato: as compensagées complexas que correspondem ao grupo das quatro reversibilidades; a razao-proporcao ou propor- cionalidade, e a probabilidade, que é estreitamente associ ada 4 combinatéria e a indugao de lei | Além disso, cada operacao légica tende a apresentar uma complexidade crescente ao longo do desenvolvimen- to; assim, a classificacao de acordo com um sé critério merge no inicio o periodo operacional concreto; no final do periodo estarao presentes classificades segundo diver- 508 critérios, mas a combinatérla, que é a classificacao das classificagées, s6 se instala por volta dos 12 anos, no pe- todo operatério formal, porque requer a capacidade de se pensar abstratamente, er 6.2. O estadio operacional concreto " e “concretas” evidenciam as ca- 1 de desenvolvimento que vai de aproximadamente sete anos até por volta de | t-12 anos. As operagses co Mm em transformacoes reversivels: etal reversibilidacle porte: consistir em inversoes (A ~ A= 0) _,ou em reciprocidade (A conresponde a B ¢ reciprocamente B corresponde a A). N operagées coneretas a cre anga compreende carla sma clessas formas de reversibill- dade, sem, contuco, coorlenatas. As operagoes em jogo Os termos “operagoe: de baseiar ainda em hipotes cease diretamente nos objetos ¢ n8o £850 das operacsee rn ciadas verbalmente, como seré o ; por isso séo chama- Segundo Pi Pi Periodo, se car: laget, o de: P atatee clesenvalvimento cognitivo, neste Peracées: ay Pela emeigencia de duas ordens de eag operago i $8es infralogicns 8808S HSgicomatematicas e as opera- AS operagées cor Versam cobras concretas de carater logico-matemiatico as), “diferencane wnansas” (classes € relagBes simétt mesine tone a (Felasbes assimétricas) ou ammbas a0 Plicagao Tega o co Pole, clasaltc Ges, Seriagées, mull ensagdes simples As oper ‘agées conc = sOes Concretas de carater infral im cha 10 ndo S40 mas ponamadas porque tenliain um rigor logico inferior, como tal, por o| 'S_sdo formadoras da nogéo do objeto comet TCP OSISEO 20 conjuinto de objetos”. Sendo Fespeito a5 conser gan ae eerasbes infralégicas dizer Gade de naneenservacies fisicas (conservagao de quant Copan, anette peso e de volume) e & consttuisae do mete, nonin venecammmet, sari, Pe As 6 : aa\® OPetacdes constitutivas do espaco tein a particule viadte de Seren acomponhadas de imagens ments tela yamente adequadas © podem tradurise por representa Goes Nguradas. As operagoes togico matematias, por st vez, néo exeluers as imagens, mas nao tém relasao corm \ssim, a imagem de ue ntimnero ou de uma classe lo- gica nao € um namero nem uina classe, Mas, tando-se lo espago, a imagem representa um papel importante ois cla propria tem ura carater espacial four atraace | rexemplo, é mais ou menos um quadrado. Embora a imagem desempenhe um papel especifico no dominio espacial, isso N&O significa que ela propria consti tua o motor principal da intuigéo geométrica. i Em resumo, podese dizer que a5 operagoes logico-me- tematicns proprias deste estédio partem™ dos objetos, ten tando reunilos em classes, ordend:los, multiplica los, te mas ndo se ocupam do ‘objeto em sua composicao inter na, Jé as operagées espaciais tem como limite superior 0 Spjeto continuo (a figura, @ plano) enquanto objeto © ccompondo.o em partes que podem voltar a ligarse, ras diversas. nstitutivas do objeto enquanto tal, us ope” tam na construcao de invariantes Fr Sicas (substancia, peso, volume) e de invariantes espaciais (conservagdo dos comprimentos, superficies, perimetros, gstabelecimento de horizontais, verticais, etc.). Embora analise separadamente as operagées légicas & Infralégicas, Piaget considera que ha uma estreita relagao entre o funcionamento das estruturas Kégicas ¢ infralogt cas. Os invariantes a que nos referimos sao indispensavets ao funcionamento das estruturas légicas; ¢ as operagGes logicas repousam na nogdo de conservagao, que € o fun- damento das operacées infralégicas. quadrado, Po! nuo, de man ‘Sendo, pois, sagdes infralégicas resul 6.2.1, O desenvolvimento das operagées infralégicas __O periode operatério concrete & a fase em que apare- cem as wperagdes légicas ¢ também as operagdes infrals- gicas. Existe uma estrofta relagas entre esses dois tipus dk operagdcs, podendo-se dizer qu io indispensavels ‘ a dizer que usmnas so indispensavek ao desenvolvimento das outras. | As EHAGC gir ences ghetavoes infralégicas sito constitutivas do objeto enquanto tal. Resultam da constriigde de invarianies Ts cas (substancia, peso, volume) © “lc invariantes. espaciats

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