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frila 12% Colegio Debates eh S | Dirgds por J. Gursbarg KGB Lusr| Patirwe thomas s. kuhn A ESTRUTURA | ~ DAS REVOLUGOES | CIENTIFICAS A-68 416 1401069916 My EDITORA PERSPECTIVA 9s Boia € Nelson Bocis: ado W. Nove, Al % 9. As Revelugées Como Mi a0 de Mundo : 10, A Invisibiidade das Revolusoes 173 1. A Resolugdo de Revolugdes 2.00... 0, 183 12. 0 Progreso através de Revolugdes 201 Postécio — 1969: ee ay 1. Os paratigmas @ a es ridale 219 2. Os paradigmas como a constelaio dos compromissos de grupo. ee 225 3, Os paradigmas como. exenpics tihados sa Doves 232 4 237 5 : 2a 6. Revolugées e reatvisma 251 7. A matureza da ciencia ININT as é PREFACIO ensaio a seguir € o primeira relatério completo publicado sobre um projeto concebido originalmente ha quase quinze anos. Naquele tempo dante de pés-graduacio em Fisica Te fm vista minha dissertacio. Um envolvimento aforte- nado com um curso ex; porcionou-me a primeira exposicéo a Hi cia. Para minha completa surprosa, ost teorias ¢ praticas cie mente algumas das peito da natureza da ‘cesso incomum. exposigao a is antiquadas minou radical- inhas concepeses bisicas a res- cia © das razies de sou su quaisquer que fossem sua utilidade pedagégica e sua plausibilidade abstrata, tais nocées no se adaptavam, as exigéncias do empreendimento apresentado pelo estudo bi fessas nogdes foram ¢ sio foi uma mudanga dréstica nos meus planes pro nas, uma mudange da Fisica para a Hi cia ¢ a partir dal, gradualmente, de pr i ricos relativamente simples 3s preocupagies mais filo- séficas que inicialmente me haviam levado Histéria, Com excegio de alguns artigos, este ensaio & a primei- a de minhas publicagoes na qual essas preocupagoes inicisis so dominantes, Em parte este ensaio é uma tentativa de explicar a mim mesmo e 3 amigos como me aconteceu ter sido langado da ciéncia para a sua a ‘imeira oportunidade de aprofundar algu- mas das idéias expostas a seguir foi-me proporcion da por trés anos como Junior Fellow da Soci Fellows da Universidade de Harvard. Sem esse perfo- do de liberdade, a transi¢ao par novo campo de estudos e poderia no se xandre Koyré e encontrei pela pi Je Meyerson, Héléne Metzger e Ant grupo mostron o que era pensar cient época em que os cAnonés do pensemento eram muito diferentes dos atualmente em voga. Embo- mente com 0 Great Chain of Being de A. O. Lovejoy, foram decisivos na formagio de minha concepeio do que pode ser a histéria das idéias cientificas, Sua impor~ ancia € secundaria somente quando comparada com. is provenientes de fontes py 7 Contudo, muito do meu tempo durante esses anos to explorando campos sem rela¢o aparente com storia da Ciéi revela problemas similares aos que a Hist trazendo & minha atengio. Um: ida 80 acaso, conduzi das quais Jean Piaget crianga em crescimento © o processo de transi¢io de um para outro? Um colega fez-me ler textos de Psi- cologia da Percepgdo e em especial os psicélogos da Gestalt; outro introduziueme as especulagoes de B. L. Whorf acerca do eftito da linguagem sobre as concep- se5-de mundo; W. V. O. Quine franqueou-me o aces: fe. Apenas através dela eu eontrado a monogratia quase deseonheci- Fleck, Enistehung und cklung einer 1935), um $s de minhas préprias idéias. intamente com uma. observacao Francis X. Sutton, fez-me com- Preender que essas idéias podiam necessitar de uma colocagio no ambito da Sociologia da Comunidade itores encontrem poucas refe~ is 9 qualquer desses trabalhos ou conversas, devo mais do que me seria possivel reconsiruir ou avaliar neste mom Durante meu tltimo ano como Junior convite para fazer conferéncias para 0 Lox - te de Boston proporcionou-me a primeira oportunids ensaio que antecipa O trabalho de Fle de para testar minha concepsio de ci estava em desenvolvimen conferéncias pi "* (The Quest for Physical Theory), apie- das em marco de 1951. No ano seguinte comecei je ensino de uma disciplina que eu nunca studara sistematicamente ocuparam-me por quate uma déeada, deixando-me i faram ser uma fonte de orientagio imy ragio de problemas para grande part mais avangadas. Por decer a meus alunos pelas acerca da lade das minhas concepgées, respeito das téonicas apropriadas a sua comunicagio efieaz. Os mesmos problemas © a mesma orientagio io unidade & maioria dos estudos predominantemente historicos © aparentemente diversos que publiquei des- de o fim de minha bolsa de pesquisa, Varios deles tra- tam do papel decisivo desempenhado por uma ol outr talisica na pesquisa cientifica criadora. Outros exa- mais aniiga, in- 0, esses. estudos que adiante cha- "de uma teoria ow descoberta apresentados outros vinculos do descuvolvimento deste ensaio ara passar 0 ano de 1958- 159 no Center for Advanced Studies ral Sciences. Mais uma vez tive a opo rigit toda minha atengo 20s problemas. discutidos iante. Ainda mais importante foi passat 0 ano numa comunidade composta predominantemente de cientis- fas sociais. Esse contato confrontou-me com proble- ‘mas que no antecipara, rel a ‘essas comunidades © as dos cient is cu fora treinado. Fiquel especialmente impressionado com o nimero e a so dos desacordos expressos existentes entre os cien- R tistas sociais no que diz respeito & natureza dos mé- todos e problemas cien - de que os pr is possuam, respostas mais firmes ow mais permanentes para tais questées do que seus colegas das cifncias sociais. E. im modo, a pritica da Astronomia, da ou da Biologia normalmente ‘nfo érsias sobre fundamentos que endémicas dessa diferenga lev desempenhado na_pesq desde entéo, chamo de “par radigmas” as realizacoes cientificas universalmente re conhecidas que, durante algum tempo, fornecem pro- Dblomas e solugies modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciéncia, Quando esta pega do met quebra-cabega encaixou no seu lugar, um esbogo pre- fiminar deste ensaio emergiu rapidamente ‘Nao € necessdrio recontar aqui a histéria subseqiien- te desse esbogo, mas algumas palavras devem ser ditas, fa respeito da forma que ele manteve através das re~ visoes. Antes de terminar e revisar extensamente uma primeira versio, eu pensava que o manuscrito apare- igmas". Considero “pa 0 da Encyclo apreseatar mi- has coneepgées numa forma extremamente conden- sada_e esquemitica. Embora acontecim: aqiientes tenham relaxado um tanto essas restrigdes, (or nando possivel uma publicago independente simultd- trabalho petmanece antes um ensaio do 7o de amplas proporgées que 0 assunto aca- esquemético desta primeica apresenta- ‘so no precisa ser necessariamente uma desvantagem, B eee , 08 leitores preparados por suas proprias pes- quisas para a espécie de reorientacio advogada aqui poderdo achar a forma do ensaio mais sugt fécil de assimilar. Mas esta forma também possui des- vantagens e essas podem justificar que eu ilustre, des- de o comeso, os tipos de ampliagio fundidade que mais tarde espero incl mais extensa. A evidéncia historica disponivel € muito maior do que espaco que tive para exploré-la, Além disso a evidéneia provém tanto da historia da Biologia, como da Fisica. Minha decisio de ocupar-me aqui exclusivamente com a Gltima foi parcialmente baseada ngio de aumentar a coerncia deste ensaio ¢ ial. A par dis 80, a concepeao de ciéncia desenvolvida aqui sugere a fecundidade potencial de uma quantidade de novas espécies de pesquisa, hist6ricas como sociol6gi- eas. Por exemplo, necessitamos estudar detalhadamen- ‘qual as anomalias ou violagées de fa alraem a crescente atengdo de uma comu- ica, bem como a maneira pela qual o fracasso repetido na tentativa de ajustar uma anome- ir A emergéncia de uma crise. Ou ainda: se tenho razio ao afirmar que cada revolugio cienti- fica altera a perspectiva histérica da comunidade que ‘2 experimenta, ento esta mudanga de perspectiva de- veria afetar a estrutura das publicagSes de pesquisa © dos manuais do periodo pés-revelucionério. Um des ses efeitos — uma alteracio na distribuigio da litera- tura técnica citada nas notas de rodapé dos relatérios de pesquisa — deve ser estudado como um indice pos- sivel da ocorréncia de revolugoes, A necessidade de uma condensagio répida for- gou-me igualmente a abandonar a discusstio de um 08. period s-paradig. méticos no desenvolvimento da ciéacia é demasiado 1a das escolas, cuja competicéo desses periodos, € guiada por algo muito semelhante a um paradigma; existem cit- 8, embora eu pense que sao raras, dois paradigmas podem coexistir ps “4 riodos pés-paradigmiticos. A simples posse de. um pa radigma néo € um eritério suficieate para a transigio de desenvolvimento discutida no Cap. 1. Mais impor. tante ainda, com excegio de breves.notas leterais; ct nada disse a respeito do papel do avango teenol6gico fou das condigdes sociais, econdmicas ¢intelectuais externas no desenvolvimento das. ciéncias, “Contudo, no € preciso ir além de Copérnico e do calendéio para descobrir que as condigdes externas. podem aju- dora transformar uma simples anomalia uma fonte de crise aguda. O mesmo exemplo a manci= ra pela qual condigbes exteriores as cigncias podem influenciar 0 quadro de alternativas disponiveisaque- le que procura acabar com uma ctise propondo ou outra reforma revolucionéria.* Penso que. a ci deracio explicita de exempios desse caria: as teses principsis desenvolvidas neste ensaio, mas certamente adicionaria uma dimensio 3 mordial para a compreensio do avango ci E por fim o que talvez soja o mais importante: as 82s de espago afetaram drasticamente meu ento das implicagdes flos6ficas da concepeio de icamente orientada que é apresentada nes- implicagGes certamente cxistem ¢ tentei tanto apontar como documentar as principals. Mas, 20 fazer isso, abstive-me em geral da discussao detalhada das varias posigies assumidas por filésofos contempo- neos-no tocante a esses assontos. Onde demonstrel eetiismo, este steve mais freqiientemente dirigido'a uma_atitude.filos6fica do que a qualquer de suas expressées plenamente articuladas, Em conseqiiéncia aissoy alguns dos que conhecem © trabalham a partir dde alguma dessos posigdes articuladas poderdo achat que mio compreendi suas posig6es. Penso que estarao errados, mas este ensaio no foi projetado para con. venoé-los. Uma tentativa dessa ordem teria exigido um livro bem mais extenso ¢ de i Os fragmentos autobiogrificos que abrem reficio servem para dar testemunho daquilo que re- conhego como minha divida principal, tanto para com ‘os trabalhos especializados, como para com as insti- tuigdes que me {Ge pessoais para com muitos individues cujas tentaram e dirigicam meu de- senvolvimento intelectual, numa é to tempo passou desde que as megaram a tomar forma; uma dem, ju 2 ou noutra. Mule estas paginas seria quase to extensa quan- ta de meus amigos e conhe Incias presentes tenho que me restr fluéneias mai meéria falha nunca suprimi . Foi James B. Conant, entio presidente da Uni- versidade de Harvard, quem primeiro me introduziu na Historia da Cigncia e desse modo iniciou a trans- formagio de minha concepgdo da natureza do progres- ientifico. Desde que esse processo comegon, ele tem sido generoso com suas idéias, criticas e tempo — inclu sive © tempo necessirio para let e sugerir mudancas importantes na primeira versio de meu manuscrito, Leonard K. Na: jonei durante cinco 80 historicamente orientado que o Dr. Co- nant iniciara, foi um colaborad Fanie 05 anos em que ‘mar forma. Sus ausénci le_concepebes. ‘contudo, depois de minha partida de Cam- lugar como caixa de ressonincia ex foi assumido por Stanley Cavell, meu colega em keley. Para mim foi uma fonte £ encorajamento o fato de Cavell, um filésofo preo- ipalmente com a Btica e a Bstéticg, ter chegado a conclusOes to absolutamente congrucates com as minhas. Além disso, foi a nica pessoa com 16 i idéias através de Esse modo de comunicagio atesta uma compreensio que capacitou a indicar-me ‘como ultrapassar ou contornar varios obstieulos impor- tantes que encontrei durante a preparagio de meu pric ‘meiro manuser esbocada, muitos outros ram na sua reformulagao, ‘Penso que me Paul K. Feyerabend de Berkeley, Nagel de Columbia, H. Pierre Noyes do Le diation Laboratory e meu aluao, John L. bron, que frabalhou em estreita colaboragio comigo na prepara G0 de uma versio final para a publicagio, Todas as ‘suas sugestées ou reservas pareceram-me extremamen- te titeis, mas nfo tenho razbes para acrt algumas para duvidar) de que nem eles nem os outros, mnados acima aprovem o manuscrito resultante na totalidade, ‘Meus agradecimentos filhos precisam uum deles tam! is a meus pais, esposa & bastante diferente, Cada ‘com ingredientes intelec- através de maneiras que pro- © Giltimo a reconhecer, Mas em graus variados, fizeram algo mais importante. De minha devogao fosse levada adi encorajaram. Qualquer um que projeto como este reconhecera 9 que eventualmente, Néo sei como agradecer: TSK Berkeley, Cal Fevereiro 1962 INTRODUGAO: UM PAPEL PARA A HISTORIA icas acabadas, tat-como estio registradas nos clissicos e, mais r | temente, nos manuais que cada nova geracdo utiliza para aprender seu Contudo, © objetivo de tais livros .é inevitavelmente persuasive © pedagsgico: goneeito de ciéncia deles haurido ter robabi- idades de assemelhar-se a0 empreendimento que os roduziu como a imagem de uma cultura nacional obti- 19 da através de um folheto turistico ow um manual de fnguas. Este ensaio tenta mostrar que esses livros nos im enganado em aspectos fandamentais. Seu objetivo 6 esbogar um conceito de ciéncia bastante diverso que pode emergir dos registros histéricos da propria ativi- dade de pesquisa. Contudo, mesmo se partitmos da Histéria, esse novo conceito no surgird Se continuarmos a procurar ¢ perserutar os dados histSricos sobretudo para respon- der questées postas pelo esteredtipo a-historico extraf- do dos textos clentificos. Por exemplo, esses textos fre- qientemente parecem implicar que o conteido da cién- exemplificado de taneira impar pelas observa- je teorias deseritas em suas paginas. Com qua- Se igual regularidade, os mesmos livros tm sido inter- pretados como se afirmassem que os métodos cient ficos so simplesmente aqueles ilustrados pelas técni- cas de manipulagio empregadas na coleta de dados de , juntamente com as operagbes 1égicas zadas 20 felacionar esses dados as gencralizagbes teo- ricas desses manuais. G resultado tem sido um con- eeito de cigncia com implicagées profundas no que diz respeito & sua natuceza e desenvolvimento, Se a ciéneia é a reuniao de fatos, teorias © méto- dos reunidos nos texios atuais, entio os cientistas 50 homens que, com ou sem sucesso, empenharam-se em contribuir com um ou outro elemento para essa cons- telago especifica. O desenvolvimento torna-se 0 pro- gradativo através do qual esses itens foram adi- dos, isoladamente ow em combinagZo, ao estoque sempre crescente que constitui 0 conhecimento e a tée- cientficos. E a Historia da Ciéncia toma-se a disciplina que registra tanto esses aummentos sucessivos como os obstéculos que inibiram sua acumulagio. Preo- eupado com 0 desenvolvimento cienifico, 0 historia- dor parece entdo ter duas tarefas principais. De um Jado deve determinar quando ¢ por quem cada fato, teoria ov ou inventada. De outro lado, deve descrever e explicar 0s amontosdos de erros, mifos ¢ superstig6es que ini- biram a acumulagio mais ripida dos elementos cons- tituintes do moderno texto cientifico, Muita pesquisa foi dirigida para esses fins € alguma ainda. €. 20 ._ Contudo, nos limos anos, alguns historindores estio encontrando mais ¢ mais dificuldades para preen- cher as funcées que Ihes sao prescritas pelo conceit de desenvolvimento-por-acumulagio. Como eronistas, de um processo de aumento, descobrem que a pesqui- ssa adicional torna mais diffeil (e no mais fécil) res ponder a perguntas como: quando foi descoberto 0 oxigénio? quem foi o primeiro a conceber a conserva- so da energia? Cada vez mais, alguns deles suspei- am de que esses simplesmente’nfio so os tipos de questOes @ sorem levantadas. Talvez a cincia no s¢ desenvolva pela acumulagdo do deseobertas e inv ¢0e5 individuais. Simultaneamente, esses mesmos hi toriadores confrontam-se com: dificuldades erescentes ara distinguir o componente “cieniifico” das observa des © crengas passadas daquilo que seus predecesso- res rotulatam prontamente de Quanto mais erro” & Como umn tl, a concpgbes Se naturenn eats et produto da idiossincresia do que as atualmente cay wo. 8. Se essas crengas obsoletas devem ser chamadas de moreno os mips pues st poked ee mos pos de nciodos's manor aes ee he Ble onde ao cones ne ee iti ny cee eae obsoletas no slo acientificas simples- ‘mente porque foram descartadas. Contudo, esta esco- Tha torna dificil conceber o desenvolvimento cientif £0 como um proceso de acréscimo. A mesma pesq ‘st hist6rica, que mostra as dificuldades para’ isolar invengdes ¢ descobertas individuais, di margem a pro- fundas dividas a respeito do processo cumulative que se empregou como teriam se formado essas contribuicées cia. O resultado duividas © dificuldades foi uma revolugio historiogratica no estudo da cién- embora essa revolucao ainda esteja em seus pri- Meitos estdgios. Os historiadores da ciéneia, gradual 21 a a a - ——l riiente e muitas vezes sem se aperceberem completa- mente de que o estavam fazendo, comegaram a se locar novas espécies de questdes’e a tragar linhas di- ferentes, freqiientemente nio-cumulativas, de desenvol- vimento para as ciéncias. Em vez de procurar as con- tribuigdes perma Fa nossa pela relacio entre as conceppdes de’ Galileu © as da Ci8ncia moderna, mas antes pela relagdo entre as con- eepgses de Galilen © aquelss pertlhadas por sew gru- po, isto é, seus professores, Sores imediatos nas ciéncias. inoes desse grupo ¢ de outros pectiva — usualmente, muito div. quela da eiéncia moderna — que dé © maximo de_coerénc tos de Alexandre Koyré, a eiéncia nao parece em ab: (0 ser 0 mesmo empreendimento que foi pelos escritores da tradiga 603 sugerem a pos cigncia. Este ensaio nar explicitas algumas das riogra Que aspectos da ciéncia revelar-se-Zo como minentes no desenrolar desse esforgo? Em pt jo para exami cos, desconhece essas areas, mas sabe como proceder ificamente, pode quer uma. den nate Entre essas possi 188, as conclusOes par- tuculares a que ele chegar sero provavelmente deter- minadas por sua experiéncia prévia em outras re i de sua investigacio © por sua prépr idual. Par exemplo, que erencas a re jas ele traz para o estudo da Quimica Ser € da eletricidade? Dentre muitas experitneias relevan- tes, quais ele escolhe para exccutar em primeiro lugar? Quais aspectos do fenémeno complexo que dat resulta © impzessionam como particularmente relevanies para ‘uma clucidagio da natureza das. transformacoes qui. i ini icas? Respos G fico. O iferenciou essas varias escolas nio foi um ou insucesso do, método — todas elas erem “cent = mas aguilo que chamaremos a ineomensurabilida- de de suas maneiras de ver o mundo e nele praticar a citncia. A observagdo © a experidneia podem e de- vem sestringir drasticamente a extensio’ das crenyas admissiveis, porque de outro modo ndo haveria eign: cia, Mas nfo podem, por si s6, determinar um conjun- 0 de semelhantes eténgas. Um elemento apa- i lentes pessoais formador das erengas esposadas por uma comunidade cientifica espe- citica_auma determinada época. Contudo, esse elemento de arbitrariedade nao indi- a que algum grupo possa pratiear seu offcio sem ‘Um conjunto dado de crencas recebidas. E nem toroa me- nos cheia de conseqiiéncias a constetacao com a qual 0 grupo esté realmente compro dado momento. A pesquisa eficaz raramente comena i ica pense ter adgui ido respostas seguras para perguntas como: quais 530 as entidades fundamentais que compdem o universo? como interagem essas entidades umas com 2s outras © com os sentidos? que questées podem ser legitimamen. te Feitas a respeito de tais entidades e que téenieas po- dem ser empregedas na busca de solugdes? Ao menos ‘as cigneias plenamente desenvolvidas, res substitutos integrais para as respostas) a qh smo essas esto firmemente engastadas na iniciagdo pro- fissional que prepara e autoriza o estudante para a pré- a. Uma ver que essa educagio é ao mesmo fe rigorosa, essas respostas chegam a exer iuéncia profunda sobre © espirito cientifi- co. O fato de as respostas poderem ter esse papel auxi- liacnos a dar conta tanto da eficiéncia peculiar da ati- vidade de pesquisa normal, como da direcio na qual essa prossegue em qualquer momento considerado. Ao examinar a ciéncia normal nos Caps. 2, 3 e 4, busca- remos descrever essa forma de pesquisa como uma ten- tativa vigorosa e devotada de forcar a natureza a esque- pela educagio profissional. neamente se a pesquisa po- esquemas, qualquer q lade contido nas suas 0 itrariedade esta importante no de- examinado detalhadamente nos ia normal, atividade na qual a maioria dos cientistas emprega ine~ vitavelmente quase todo seu tempo, é bascada no pres- suposto de que a comunidade cientifica sabe como ¢ 0 mundo. Grande parte do sucesso do empreendimento deriva da disposigo da comunidade para defender esse pressuposto — com se necessi- rio. Por exemplo, a normal freqiientemente su- prime novidades’ fundamentais, porque estas. subver~ tem necessariamente seus compromissos basicos. Nfo obstante, na medida em tém um elemento de za da pesquisa normal assegura que a novidade nio seré suprimida por muito tempo. Algumas vezes um problema comum, que deveria ser resolvido por meio de regras © procedimentos conhecidos, grupo em cuja ‘outras ocasioes, uma pecs de equipam: © construida para fins de pesquisa normal, no fun- ciona segundo @ maneira amtecipada, revelando uma que nao pode ser ajustada as expectativas ais, no obstante esforgos repetidos. Desta ¢ de outras maneiras, a es guidamente. E quando isto ocorre — isto membros da profissio no podem mais esqi anomalias que subvertem a tradiso existente da pra tica cientifiea — entio comegam as investigagées extraordindrias que finalmente conduzem a profissio a um novo conjunto de compromissos, a ara a pratiea da ci dos de revolugies cientificas os episédios extraording- ios nos quais ocorre essa alteragio de compromissos rofissionais. As revolugdes cientificas sio os comple- ‘mentos desintegradores da tradigfo & qual a atividade {da cigneia normal esta ligada exibem aquilo que pelo menos no das ci deles forgou a comunidade a rej escrutinio ci los quai a profssto dete considerado como roblema ou como uma solu- sao de problema legitimo, Precisaremos descrever as manciras pelas quais cada um desses episédios trans formou a imaginasio cieatitica, tando-os como ‘uma transformagéo do mundo no interior do qual era realizado 0 trabalho cientifico. Tais mudangas, junta- ‘mente com as controvérsias que quase sempre a acom. ticas dofinidoras das revolugdes ‘© nos padres pe- inava que deveria ser caracteristicas aparecem com particular cla- reaa no estudo das sevolugSes newioniana e quien, Juma tese fundamental deste ensaio ¢ que essas jas podem ser igualmente reeuperadas ates 25 vés do estudo de muitos outros episédios que niio fo- Yam tio obviamente revolucionérios. As equagées de Maxwell, que afetaram um grupo profissional bem mais as de Einstein, foram consideradas I encontra~ © de maneira apropria- da, a invengio de novas teorias evoca a mesma respos- ta por parte de alguns especialstas que véem sua area homens, a nova teori gras que governavam a pi implica uma mudanga nas re- anterior da cifcia nor- 3 isso que uma nova ticular que seja seu Ambito de ay se nunca & um mero ineremento ao que jé € conhecido, Sua assimilagao requer a reconstrugao da teoria pre- cedente ¢ a resvaliago dos fatos anteriores. Esse pro- ceesso intrinsecamente sevolucionério raramente € com- pletado por um tinico homem e nunea de um © outro, Nao é de admirar que os historiad encontrado dificuldades prolongado, a0 véem como’ um slo 0s Gnicos acon- tecimentos eientifieos que tém um impacto revolucio- nétio sobre os especialistas do setor em que ocorrem. ym no apenas as espécies de entidades que 0 verso contém, mas também, implicitamente, aquelas ja uma discus- ‘um item & populacio do mundo do da descoberta — mas somente depois da avaliado os procedimen- ides com as quais estava de ha m no decorrer desse processo, modifi- ategoricamente ez no interior de uma dnica tra- a normal. por isso que uma sperada nfo possui uma importéncia sim- plesmente fatual. O mundo do ci tanto quali- tativamente transformado como qui ramente enci- quecido pelas novidades fundamentais de fatos ou teorias. ada da natureza das revalu- 5 paginas seguintes, Nao ha davida de que esta ampliaglo forga 0 sentido cos. tumeiro da concepeéo. Néo obstante, continuarel falar até mesmo de descoberias como sendo revolucio- nitias, Para mim, 8 questOes centrais que do manual, des. numa teoria da investigagao ci tuir de aigum modo os proced ow confirmago que a nossa imagem usual de tornow fa jo entre segment processo histérico que io de uma teoria ou na ado- rente, o Cap. 12 perguntaré como ravés de revolug6es pode ser com- aparentemente impar do progres- este ensaio no forneceré mais realmente resulta na sao de outra, Fi 0 desenvoivimento do-que questo. Tal resposta depende das carac comunidad cie es ji se tero perguntado 70 poder produzic 0 tipo de trans- 4 ias. esta dispontvel, sugerindo que 30 nfo pode ser adequadamente realizado dessa ma- neira, Dizemos muito fregiientemente que a Histéria uma disciplina puramente dese: ‘mesmo parecer que, violado “a muito iafluente dist contemporanea ‘entre o “contexto da descoberta” ¢ 0 “context da jus- fcagao”. Pode algo mais do que profunda confusd0 estar indieado nesta mescla de diversas areas e inte- esses? ‘Tendo-me formado intelectualmente a partic des- sas e de outras distincOes semelhantes, dificilmente po- deria estar mais consciente de sua importincia e forca. Por muitos anos tomei-as como sendo a prépria natu- reza do conheciment ‘Ainda suponho que, adequada- tenham algo importante a nos di- etodalégicas elementares, anteriores & anélise do conhecimento cien- parecem agora ser partes de um conjunto de respostas substantivas as préprias ques tes a partir das quais clas foram elaboradas. Essa cir- cularidade no as invalida de forma alguma. Mas tor- nnacas parte de uma teoria ¢, ao fazer isso, ras em outros campos, Para que elas tenham como con.etido mais do que puras abstracbes, esse contetido precisa ser descoberto através da obsetvacio. Exami tendem elucidar. Como poderi i da Cigncia deixar de ser uma fonte de fendmenos, aos. quais podemos exigir a aplicago das teorias sobre 0 conhecimento? 28 il 1, A ROTA PARA A CIENCIA NORMAL sientificas passadas, Essas durante algom tempo por fica espec ‘para sua pritica posterior. forma origin i (ou todas) as suas aplicages bem eedidas © comparam essas aplicacdes com observagoes, experigacias exemplares. Uma vez que tais livros se tornaram populares no comeco do século XIX (e mes- convencidos da fecundi ario a nova maneira de praticar a ci gue restem apenas alguns poucos opositores mais yelhos. E mesmo estes no podemos dizer que estejam errados. Embora 0 historiador sempre possa ent trar homens — Priestley, por exemplo'— que 130 foram razodveis ao resistirem por tanto tempo,_nf0 enconte onto onde a x ca ou ack zer que o homem que continua a apes a con- vorsio de toda a sua profissio deixou ipso facto de ser um cientista, 12. 0 PROGRESSO ATRAVES DE REVOLUGOES Nas péginas preceden uma descrigio esquematica do. desenv. ico, de manei- a lo elaborada quanto era possivel neste ensaio. Entretanto, essas péginas nfo. podem proporcionar uma conclusao,'Se essa descrigio captou a estratura essen cial da evolugfo continua da ciéncia, colocou a0 mes- ‘mo tempo um problema especial: por que empreen- imento cientitico progr meios que a Arte, a Teoria uisito reservado quase exclusivamente para a ativi- dade que chamamos cincia? As respostas mai usuais, ara essa questio foram recusadas no corpo deste 201 ensaio, Temos que conc! vel encontrar respos Percebe-se imediatamente que parte da questéo inteiramente semintica, O termo cigncia esta reserve las Areas que progri- perguntando se & possi- mo vexatério. Por exempl alguns argumentam que a Psicologia & uma ciéa Porque possui tais e tais caracteristicas. Outros, 20 Contrério, argumentam que tais caractersticas so’ des- necessérias ou no sio suficientes para converter esse campo de estudos numa cigncia. Muites vezes inves- te-se grande quantidade de energia numa discussio esse gnero, despertam-se grandes paixées, sem que Se € assim, por que os at cias da natureza ndo se preocupam com a defi do termo? Somos inevitavelmente levados a suspeitar de que esti em jogo algo mi velmente estéo sendo colocadas outras pers : por que minha iesmo modo que a Método ou ideologia fariam com que etanto, essas no so perguntas que progredisse? possam ser respondidas através de um acordo sobre definiges. Se vale 0 precedente das cigncias naturais, ‘ais questées no deixariam de ser uma fonte de preo- cupagdes caso fosse encontrada uma. definicio, somente quando os grupos que atualmente duvidam de seu status chegassem a um consenso sobre suas rea de estudo do que de outras freas da cifncia social. Deve-se 4ss0 a0 fato de os economistas saberem o que é ciéncia? Ou serd que esto de acordo a respeito da Economia? 202 Essa afirmagio possui uma reciproca que, em! a ji nfo seja simplesmente semantics, pode ‘auxiliar @ exposiedo das conexSes.inextri fentre nossas nnogdes de ciéncia e progresso. Por muitos séculos, tan- juidade como nos pri 2 Pintura ‘Supunha-se ento que yo do artista cra a representacéo. Criticos © historiadores, registravam com veneragao a série de invengSes que, do escorgo a0 cla- ro-escuro, haviam tornado possivel representagées sem- as artes. Leonardo, e ‘mente de um campo para o tegorica entre a ciéncia e a tarde? Além disso, mesmo apés a intereambio continto, 0 termo “ai aplicado tanto a tecnologia como ao artesanato, que também eram considerados como passiveis de ‘aper~ feigoamento, tal como a pintura e a escultura, Foi s0- mente quando essas duos inas renuncia- ram de ‘imequivoco fazer da representacio seu objetivo ‘itimo ¢ comecaram novamente a aprender com modelos primitives que a separagéo atual.adqui- hu toda sua profundidade. Mesmo hoje em dia, parte das nossas diticuldades reeber as diferengas pro- fundas que separam a cigncia ¢ a tecnologia, devem estar relacionadas com o fato de 0 progresso’ ser um, ute Sbvio dos dois campos. Contudo, reconhecer que tendemos a considerar como cientifiea qualquer Grea de estudos que apresente um progresso marcante, ajuda-nos apenas a esclarecer, mas no a resolver nos- sa dificuldade atual. Permanece ainda 0 problema compreender por que 0 progressa é uma caracterist ca notivel em um empreendimento conduzido com as, téenicas © os objetivos que descrevemas neste ensaio. Tal pergunta possui diversos aspectos © teremos que the 35, op. 3868 examinar cada um deles separadamente. Em todos esses, 0 do diltimo, a solucio depender concepedo normal das relagdes "a © a comunidade que a pra- a reconhecer como causas © que em geral pudermos faze fico” © mesmo cer redundantes. Na real tum aspecto dessa redundant, Um campo de estudos progride porque é uma ciéncia ou ¢ uma cifncia por que progride? Perguntemos agora por que um empreendimento cia normal deve progredir, comesando por ferorderalgumas de sus caactriscas mais saints, tes investigem os mesmos excepcionais, os grup Iham varios dos. princi- , examinando-se a questo iade, de cientistas ou cedido € o progresso. Como poderia ser de outta for- ma? Por exemplo, acabamos de observar que enquanto 05 artistas tiveram como objetivo a representagio, tan- iadores registraram o pro- gresso do grupo, que aparentemente era unido. Outras dreas de eritividade apresentam progressos do mesmo séner0. © te6logo que articula o dogma ou o flésofo que aperfeicoa os imperatives “Kantianos’ contzibuem ara 0 progresso, ainda que apenas para o do grupo que compartitha ‘de suas premissas, Neahuma escola srindora reconhece uma categoria de trabalho que, de um lado, é um éxito cciador, mas que, de out, ado é ‘quais questiona constantemente os fundamentos alheios. Quem, por exemplo, argumenta que a Filosofia ni progrediu, sublinha o fato de que ainda existam aris- 204 totélicos e no que o aristotelismo tenha estagnado. Contudo, tais dividas a respeito do progresso também surgem nas cigncias. Durante o perfodo pré-paradig- mitico, quand em competigio, torna-se n vvas de progresso, a no Cap. 1 descreveu esse perfodo como sendo aqh qual os individuos praticam a ciéncia, mas os res dos de seu empreendimento no se acrescentam A cién- volucionatios, quando mais uma vez os princfpios fun- damentais de uma disciplina so questionados, repe- tem-se as diividas sobre a propria possibilidade de pro- ‘Bresso continuo, caso um ou outro dos paradigmas alheios sejam adotados. Os que 1 ie sua confianga nas forgas ‘Um sentimento sem: inda que express neira mais moderada, parece estar na base da oposi- ‘cdo de Einstein, Bohr ¢ outros contra a demonstracao probabilistica dominante na Mecanica Quéntica. Em suma, © progresso parece Gbvio e asseguradlo somente aqueles perfodos em que predomina a seu trabalho de outra mancira. Assim, no que diz sy te da resposta para 0 probl parte dos casos, de escol questionem mutuament® seus obj na bem mais facil perceber o progresso de uma c munidade cientifiea norm: um a parte mais impor- observamos que 2 comunidade rada da necessidade de rooxa- if constantemente seus fundamentos em vista da 205 membros concentrarem-se exclusivamente nos fenéme- ‘nos mais esotéricos e sutis que Ines interessam. Ine- vitavelmente, isso aumenta tanto 2 competéncia come ‘com as quais o grupo como um todo resol jlemas. Outros aspectos da vida profis- -a aumentam ainda mais essa eficdcia ‘Alguns desses aspectos so conseqiéncia de_um isolamn das comunidades cies amadurecidas, ins. dos. no-esps tas eda pleto — iscutindo questOes de grau, Nao obs- tante, em nenhuma outra comunidade profissional o tra- ‘© mais esotérico dos poctas € 0 mais abstrato dos te6logos esto muito mais preocupa- dos do que o cientista com a aprovagdo de seus tra- balhos criadores por parte dos leigos, embora possam estar menos preocupados com a aprovagdo como tal. Essa diferenga gera uma série de conseqiiéncias. Uma resolver um problema ¢ passar ao seguinte mais rapi- damente do gue os que trabalham para um grupo mais munidade cient a cada que fe para resolver. Ao contré- rio do engenheiro, de muitos médicos e da maioria dos ‘e6logos, o cientista nfo esté obrigado a escolher um problema somente porque este necessita de uma solu- do urgente, Mais: ndo esti obrigado a escolher um Brblema sem levar em oons mos tendem Pa -ntemente nunca — a defender sua escol quisa — por exemplo, os efi cial ou as causas do ciclo econémico — principalmen- 206 te em termos da importincia social de uma solugio. Em vista disso, qual dos dois grupos nos permite espe- rar uma solugdo mais rapida dos problemas? Os efeitos da insulacdo frente A sociedade global -ados por uma outra caracte- ica profissional — a na- a, nas Artes Gri- especialmente Aqueles de pocas ant com exceeio dos compéndios ou manusi fs obras originais, desempenham um papel apenas se- Jina, outras relacionadas com os relat6rios de pes- ‘quisas mais recentes que os profissionais do setor escre- veram para seus coleges. Resulta assim que o estu- dante de cada uma dessas disciplinas é constantemen- te posto a par da imensa variedade de problemas que ‘os membros de seu futuro grupo tentardo resolver com © correr do tempo. Mais importante ainda, cle tem constantemente frente a si numerosas solugSes para fais problemas, ct tes © incomensuriiveis — so- Tugées que, em dltima instincia, ele terd que avaliar por si mesmo. yaglio com a das eiéncias da yatureza contemporineas. Nessas reas o estudante ia-se principalmente nos manuais, até iniciar sua pré- is ano de trabalho graduado. Mui 9s mem sequer fexigem que os alunos de pés-graduacéo leiam livros ‘que io foram escritos especialmente para estudantes. Os poucos que exigem leituras suplementares de mo- nografias © artigos de pesq is aos cursos mais avangados, ¢ as leituras que desenvol- ‘vem 05 assuntos tralados nos manuais. Até os iltimos derivam. ‘Dada a confianga em seus paradigmas, que forna essa técnica educacional possivel, poucos ‘cien- istas gostariam de modificé-la, Por que deveria o estu- 207 dante de Fisica ler, por exemplo, as obras de Newton, Faraday, Einstein ou Sehrédinger, se tudo que ele ne- cessta saber acerca destes trabathos esti reeapitulado de uma forma mais breve, mais precisa © mais sise- ritica em diversos manucis atvallzados? Sem querer defender os excsssos a que levou esse tipo de-edueagao om determinadas ocasibes, no se pode deixar de reconhecer que, em geral, ele fo imen Samente oficaz. Trata-se certamente de wma cducagao rigida e estreita, mais do que qualquer outra, provavel- mente — com & possi Mas para o trabalho i ao de quebra-cabecas a partir de hida pelos manvais, o cienista esté equipado de for ma quase perfita. Além disso, esta bem equipado para uma outta tarefa— a produgdo de exses significa vas por intermédio da ‘ciéneia normal, Qui crises surgem, 0 cietista nfo esta, bem entendido, tio bem preparads, Embora as crises prolongadss prova- velmente déem margem a pritieas educacionais menos Figidas, 0 tweino cienifieo ‘nfo € planejado para. pro- dusir aiguém capaz de descobrir facilmente uma nova abordagem para os problemas existentes. Mas enquan- to houver alguém com um novo candidato a paradig- ma — em geral proposta de um jovem ou de um no- vvato no campo — os inconvenientes da rigid giro somente 0 individuo jsolado. Quando se de uma geragao para realizar a modificagio, a individual pode ser comp: capaz de tocar de paradigima quando 2 si exigir. Mais especificamente, pode ser compativel se essa mesma rigidez for capaz de fornecer & comunida- de um indicador sensivel de que algo vai mal Desse modo, no seu estado normal, a comuni de cientifica € um instrumento imensamente efi jgma. Além do mais, a resolugdo desses problemas deve levar inevitavelmente ao progress. Esse posto 40 € problemitico. Contudo, isso serve apenas para ressaltar 0 segundo aspecto ‘da questio do progresso nas ciéncias, Examinemo-o, perguatando pelo progresso aleancado através da ciéncia extraordi- niria, Aparentemente 0 progresso acompanha, na 10- talidade dos casos, as revolugdes clentifieas. Por qué? 208 Alnda uma ve, podem sprendet, mute prgunten- que o grapo vencedor estava erradg e seus oponentes certos. Pelo menos para a facco vitoriosa, o resulta- do de uma revolugao deve sero progresso. Além dis- 50, esta dispde de uma posigHo excelente para assegu- membros de sua furura comunidade ‘guem a hist6ria passada desde o mesmo ponto O Cap. 10 descreveu detalhadamente as téenicas que asseguram a consecugio desse cl co examinamos um aspecto da Daf decorre, em alguns casos, uma distorcio dristica da percepgio que do passado de sua disciplina. Mi 05 de ouiras dreas criadoras, o tista vé esse passado como linha © progresso. Nao tera outra ‘manecer ligado reescrita pelos poderes consti- tuidos — sugestio alids ndo totalmente inadequada. Um balango das revolugdes cientificas revela a exis- téncia tanto de perdas como de genhos © os cientistas tendem a ser particularmente cegos para as primeiras? Por outro lado, nenhuma explicaglo do progresso ge- rado por revolugées pode ser interrompida neste pon- to, Isso seria subentender que nas cién ito — formulacdo que nio seri ea do progres- so e da autotidade por meio dos quais se escolhe entre paradigmas. Se somente a autoridade (e ej te 2 autoridade ndo-profissional) fosse 0 4 debates sobre paradigmas, dai ainda poder ‘uma revoluedo, mas nfo uma revolucio cié propria ia da citncia depende da del poder de escolha entre paradigmas a membros de um tipo especial de comunidade. Quio especial essa co- munidade precisa ser para que a cigncia possa sobre viver © erescer verifiease pela fragilidade do contro le que a Humanidade possui sobre o empreendimento ciemtfico. Coda uma das civilizagées a respeito das ppor’diante, Em muitos casos, essas facetas da civ Zagio eram tio desenvolvidas como as nossas. Mas apenas as civilizagées que descendem da. Gr lénica possuiram algo mais do que um: mentar. A massa dos conhecimentos ci tentes é um produto europen, Limos qua- ro séculos. Nenhuma outra civlizagio ou época man- | teve essas comunidades muito especiais das quais pro- | vém a produtividade ciem | Quais so as caract 8 co- munidades? Obviamente, elas requerem muito mais, estudo do que o existente, Nesse terreno, somente so possiveis as generalizagOes exploratérias. No obstan- | te, diversos requisitos necessdrios para tornar-se mem- bro de um grupo cientifico profissional devem estar perfeitamente claros a esta altura, Por exemplo, o cien- precisa estar preocupado com a resolugio de pro- bblemas relatives ao comportamento da natureza. Além disso, embora essa sua preocupagio possa ter uma amplitude global, os problemas nos quais trabalha de- vem ser problemas as solugdes que 0 satisfazem nfo podem s te pessoais, mas devem ser actitas por muitos. do, o grupo que as partilha no pode ser extraido a0 acaso da sociedade global. Ele & 20 contrario, a co- detalhe. Mais importante ainda, meramen- munidade bem definida formada pelos colegas profis- sionais do ciemtista, Uma das leis mais fortes, ainda que. nao es fica € a proibicéo de apelar a chefes de Estado ou ao povo em geral, quan- do est em jogo um assunto rel realizagdes profissionais possui_ outras implicagdes. Os membros do grupo, enguanto individuos € em vil de seu treino c experiéncia comuns, devem ser vistos ‘como 0s tinicos conhecedores das regras do jogo ou de algum critério equivalente para julgamentos inequt- de avaliagio. seria at le padroes incompativeis entre si para 2 avaliagdo das realizagoes cientificas, Tal admissdo traria inevitavelmente & ‘a questio de se a verdade alcancada pelas ciéneias pode ser una Essa_pequena pritica da cig cientista & originalmente treinado- pat Thante atividade, Obse to de sua concisio, a lista ‘per Bu munidades de todos os outros grupos pro! Note-se ainda que a desps leas espe- ica durante jente durante debates sobre 0 Ja observamos que um grupo dessa na- necessariamente considerar a mudanga de paradigma como um progresso. Em aspectos impor- tantes, a mancira de perceber contém em si — pode- mos agora admitir — sua autoconfirmagéo. A comu- nidade cientifica € um instrument extremamente efi izar 0 mimero c a preciso dos pro- jos por intermédio da mudanga de pa- 12 o problema da unidade do empreen- proble- mas ja resolvidos. Antes de mais nada é preciso que 2un a natureza solape a seguranga profissional, fazendo com que as explicagées anteriores parecam problemd- ticas. Além 508 Em que isSO Ocor- © ui novo candidate 2 paradigma aparece, os cien- fas relutardo em adoti-lo a menos que sejam con idos que duas condigdes primordiais foram preen- chidas. Em primeiro lugar, 0 novo candidato deve pa- nar aigum problema extraordi- , reconhecido como tal pela comunidade © que rngo possa ser analisado de nenhuma outra maneira. Em segundo, o novo paradigma deve garantir a pre servagio do’ uma parte relativamente grande da ca- jade objetiva de resolver problemas, conguistada neia com 9 auxilio dos paradigmas anteriores. um desiderato das as da cri fo, embora novos paradigmas ra- ramente (ou mesmo munca) possuam todas as potca- lidades de seus predecessores, preservam geralmon- ‘ga medida, 0 que as realizagbes cientificas ossuem de'mais concreto, Além disso, sem- item a solugdo conereta de_prol i base inequivoca para a escolha de peradigmas. J apon- razdes que impossibilitam a existéncla 0 desse tipo. Contudo, sugerimos que uma ‘comunidade de especialistas cientificos fard todo 0 pos- sivel pata assegurar 0 crescim dos coletados que est em cor precisa © detalhada. No decorrer desse pro- Comunidade sofrerd perdas. Com freqliéncia alguns. problemas antigos precisargo ser abandona Além disso, comumenie a revolueio diminui o ambito dos interesses profissionais da comunidade, aumenta seu grau de especializagio © atenua sua comunicagio com outros grupos, 0s. Embo- ermos de le, Quando o faz, essa amplitude ma principalmente através da proliferagtio de especialida- des cientificas e nao através do Ambito de uma tnica especialidade, Todavia, apesar dessas ¢ de outras per 212 das experimentadas pelas comunidades natureza de tais grupos fornece uma gra de que tanto a reiagao dos problemas resolvidos pela, ia, como a preciso das soluges individuals de io de um grupo ci 108 parégrafos indicam em que divegdes creio se deva buscar uma solugdo mais refinada para © problema do. progress é ‘© que acreditévamos que fosse. Mas, 20 mesmo tempo, mos- tram que algum tipo de progresso ricterizara o empreendimento cei atividade sobreviver. Nas ciéncias, ‘ver progresso de outra espécie, Para ser mais preciso, talvez tenhamos que abandonar a nogio, expl implicita, segundo a qual as mudangas de paradigma levam os cientistas ¢ 05 que com eles aprendem a uma proximidade sempre maior da verdade, Ja tempo de indicar que até.as tltimas péginas deste ensaio, 0 termo “verdade” 6 havia aparecido numa Mesmo_nesse cia entre regras incompativeis para o exer cia — exceto durante as revolugoes. Nessas ocasises, incipal da profissio consiste em el juntos de regras, saivo um tinico. O procé 80 de desenvolvimento descrito neste ensaio é cesso de evolucdo @ partir do um inicio processo cujos estgios sucessivos caracterizam-se por uma compreensio sempre mais refinada ¢ detalhada da natureza, Mas nada do que forma-o num processo de evolugao em direcdo a Inevitavelmente, tal Jacuna teri perturbado mui tores. Estamos icostumados a ver a ciéncia co- imento que se aproxima cada ver mais de um objetivo estabelecido de anteméo pela na- tureza io? Nao poderemos téncia da cigncia como seu suces- 0 do estado dos conhecimentos 23 da comunidade em um dado momento? Sera realmen- te til conceber a existéncia de uma explicagdo com- pleta, objetiva e verdadeira da natureza, realizages cientificas de acordo com sua capacidade para nos aproximar daquele obj imo? Se pu- dermos aprend evolucdo-a-partir-do- ‘que-sabemos ine¢o-a0-que-quere- dive itivos podertio desa- parecer nesse plo, © problema da indugio deve estar situado em algum ponto desse In- birinto. ‘Ainda nfo posso esp conseqiiéncias dessa concepeti 40 cientifico. A questo se esclarece melhor s¢ reco- nhecemos que a transposi¢go conceitual aqui recomen- dada aproxima-se muito daquela empreendida pelo Ocidente hé apenas um século, Isto porque, em ambos (5 casos, o principal obsticulo para a transposigio era (© mesmo. Em 1859, quando Darwin publicou pela pri- meira vez sua teoria da ev’ pela sclecio natur & maior preocupagdo de muitos profissionais néo era , Nem a possi far detalhadamente as sativa do progres- parte de muitos grupos ‘ma alguma, a maior das jonistas pré-darwinianas — as Spencer € dos Naturphiloso- phen alemies — consideravam a evolugtio um proces- 50 orientado para um objetivo. A de homem, bem como as da flora e fauna contemporineas, eram sadas como existentes desde a primeira criagdo da Essa idéia ou de Lamarck, Chamber gio do desenvol- rocesso de evolusio. Cada novo cio. mais perfeita vimento da evolucdo era uma 1 de um plano presente desde 0 ini Evolution nl the Men Who Para muitos, a aboligio dessa espécie de evolu- gio teleol6gica foi a mais iva € a menos acei- tavel das sugest6es de Darwin.’ A Origem das Espécies no reconheceu neahum objetivo posto de antemao por Deus ou pela natureza. Ao invés disso, a selegdo na- tural, operando em um meio ambiente dado e com os organismos reais disponiveis, era a responsivel surgimento gradual, mas regul elaborados, spec dos. Mesiio érgfos to maravilhosamente adaptados como a mio ¢ 0 olho humanos — drgios cuja estru- tura fornecera no passado argumentos poderosos em favor da existéncia de um artifice supremo e de tim plano prévio — eram produtos de um proce: avancava com regularidade desde um inicio primitivo, sem contudo dirigir-se a nenhum objetivo. A crenga de que a selegio natural, resultando de simples com- petigio entre organismos que lutam pela sobrevivencia, teria produzido homem com animais © plantas supe riores era o aspecto mais dificil e mais perturbador da teoria de Darwin. © que poderiam significar “evolu io", “desenvolvimento” ¢ “‘progresso” na auséncia de 10 especificado? Para muitas pessoas, tais ter- mos adquiriram subitamente um cardier contradit6rio. ‘A analogia que relaciona a evolugio dos organis- ‘mos com a evolucdo das idéias cientificas pode facil- mente ser levada longe demais. Mas com referéncia aos assuntos tratados neste capitulo final cla € quase perfeita. © processo que o Cap. 11 descreve como a iso das revolugdes corresponde a selecdo pelo ‘0 da maneira mais adequada de praticar a cién- selego realizada no interior da comunidade al de uma seqiiéncia de tais selegdes revolucionérias, separadas por perfodos de pesquisa normal, € 0 conjunto d velmente ajustados que chamamos de eor cientifico moderno, Estigios sucessivos desse proces- so de desenvolvimento so mareados por um atimento de articulagéo e especializagiio do saber cientifico. To do esse processo pode ter ocorrido, como no caso da 5. Fora un rea gsi om crc MiB Conbetes len rein, Duras a Gray Me bor 295306, 39390 215 preestabelecido, sem uma verdade cientifica permanen- temente fixada, da qual cada es ‘mento cientifico seria um exempl Quem quer que tenha seguido a aqui, sentiré, no obstante, a necessidade de pergun- tar por que’o proceso evoluciondrio haveria de ser . Como deve ser a natureza, iéncia seja pe hhaveria de ser capaz de Alcangar um consenso estive, givel em outros dominios? Por que tal consenso ir a uma mudanga de paradigma apés outra? E por que uma mudanga de paradigma haveria de produzir invariae velmente um instrumento mais perfeito do que aque- mnhecidos? Tais questées, com exco- gio da primeira, jé foram respondidas — de um ponto de vista determinado. Mas, vistas de outra perspecti- que deve ser comunidade faz as especiais. Que ca- as devem ser essas? Nesse ponto do ensaio ‘do estamos mais préximos da resposta do que quan- do 0 iniciamos, Esse problema — O que deve ser 0 mundo para que o homem possa conhecé-lo? — no foi, entretanto, criado por este ensaio, Ao contrétio, Spria ciéncia e permanece sem jo aqui, Qual- quer concepgio da natureza compativel com o eresci- que essa nogdo ¢ igualmer vaso rigorosa da vida cien! mentos para empregi-la nas tentativas de resolver a moltidao de problemas que sinda perduram. POSFACIO — 1969 Este livso foi publicado se sete anos. Nesse intervalo, gragas as reagées dos criticos e ao meu trabalho adicional, passei a com- preender melhor numerosas questées que ele coloca. Quanto ao fundamental, meu ponto de vista perma es, mas agora reconheco aspectos de minha formulagdo inicial que criaram di- ficuldades © mal-entendidos gratuites. Ja que sou o responsivel por alguns desses mal-entendidos, sua eli- la primeira vex hé qua-

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