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“Nee OE Temtnt 4 homem A psicologia no tribunal da verdade es Ee Em sua trajet6ria filos6fica, Foucault deixa de lado areflexdo centrada y no “ser do homem” “ para pensar a “morte do homem” on ue cexso FINK AO LONGO DE SUA OBRA, FOUCAULT transita indistintamente por disciplinas como a hist6ria, 2 filosofia e a psicologia CO interesse por esses ts campos de pensamento € uma tendéncia que se faz, notar desde 0s 23 anos, quando, aléin de concluir seus estudos em filosofia, na Sorbonne, : também se forma no Instituto de Psicologia de Paris, 5 obtendo, ainda, nos dois anos soguintes, diplomas de iia isu aimee 3 psicopatologia © psicologia experimental, De 1948 a a i iucaena ete i 1951, Foucault leciona nas seas de filosofia ¢ psicologia saat tren le 5 ; UES) a noe Fl Rul € se toma estagirio de um hospital psiquisitrico, to ote foo UPR UL avur ‘Um marco da tripla cidadania académica dde Foucault ~ histérica flossfica : psico- logiea — dase com a publicagdo, em 1561, das quase 600 piginas de sua tese de doworado: Loucura e desrazio, reediada ‘onze anos depois apenas com 6 substi, Hisiria da louura na epoca clissica Esse escrito tem por objetivo elucicar as ‘haisas ongens” do conhecimento psi- col6gico-psiquiiuice. O autor pretende mostrar que 0 nascimento de saberes que tomam com objeto 0 homer louco nia Fesuler do estorgo de stings un patamar de verdade mais elevado, ou se, a for macio do modemo conceito de loucura nao resulta de um processo de aprimora ‘reno do saber medico, nem sequer de lin aumento do senso humaniasio. Tata se, antes, da radiealizagao de um processo de desqualifcarao da loucura dos postos de vista discursivo (conesponde 2 total impossibilidate de pensar), ontaldgico (Coma-se nio-ser, pura aegatividade), mo- TAL da ordem do defeito, da vemgonk, do escindalo) e insinucional (deve ser mantida enclausurada, afsstada de qual- ‘quer contato com a cidade) Se Foucault adoea uma posicio critica fem relagdo a psicologia e & psiquiatra, ‘sso se deve fundamentalmente 20 con. {200 com 0 Nietzsche de O nascimento da tragedia, cvja principal hipétese € que a historia da civilizagio ocidental estd marcada pelo embate entee uma experidncia tigica e uma consciéness racional, no qual a vitria ~ proviséeia, sem duivida, pois nde houve aniquilagao sim silenciamento ~ coube a esta ult, ma sobre a primeira EXORCIZAR © NATURALISMO ‘Mas © projeto de claborar vena histéria filosefica da psicologis io fica iestito reflex do inicio da década de 60 Alguns anos antes, em 1954, Foucault Publica um breve ensaio que sintetiza © po de preccupagio que nomela suis Pesquisas da pact; Doenca mental e fersonatidacle Dispondlo de pouco mais dle uma centena de paginas, este lito 83 aparentemente pode ser tido como mo esto. Seu objetivo consis em vealizar lum dlagnéstico critica doe dkimos 100 nas do. pensamemto pricoléyico, oman 40 como referéncia 0 momento em que o 16 MENTE, GEREURO & PiLOSoFIA Jovem autor escreve. Mas isso rio € tudo, Foucault vai alem © chega mesmo a indicar as dlireizes ~ de onde teveica & pritica —que a psicologia deve Incorporar para que venta a se renovar de ferina radical, orig ‘nando uma circa do home auténtica & Figores, Geralmemte, © Isso. sem. avida se aplica a década de 50, a busca de rigor ciemtifico implica adotar uma metodo- logia inspirada_ nas ciéncias dda Natureza. No entanto, em Doonga mental e personalida- de, essa discussao abedece 2 critérios interamnente diversos De inicio, « crenga de que hi 0 “primeiro Foucault” indica as diretrizes te6ricas e praticas para que a psicologia possa originar uma ciéncia do homem auténtica e rigorosa ‘um parimetro universal para definir 0 ‘que vem a ser um conhecimento legit m0 ou genuino é considerada totalmente equivocada. Alem disso, paca o autor, 0 Progresso do conhecimento psicobigico Ro se processa através de sucessivas retificagdes epistemolégicas na diego de um maior grau de objetvidade, Ao ccontririo, Foucault sustenta que const derar 0 homem como umn setor objetivo do mundo natural, a ser estudado com precisto quase matemiitica, € justamente © maior entrave a0 surgimento de uma {sicologia rigorosa. Tal ideal de cientificr- dade nao passa de um reducionismo, de tum preconceito resultante da adogio de lum modelo fisico.quimico caracterizedo 408c0 rursoso, Franainge. 55", de Goye, 1826-1828. Una? Imagem peturbadera de deta or realizar anilises de cunho mecani ists, mas quais © que importa € esta belecer leis gerais © reduzir fendmenos complexos a clemersos simples, A rigor, nao h propriamente erros cientficos na Psicologis, mas sim iisaes a exorcizar E nesse sentido que Foucault lhe prescreve a tarefa de empreender urna reflexto Sesmistifeadera, na qual a Wgica natu ralista seia deixada de lado, tendo ea vista que ela € responsivel por instaurar ma compreensao unitina dos estados Imérbidos orpanicas e mentais Eis, entdo, a real vocagio de Doengat mental e personalidade: um amibicioso libelo contra os obstéculos que impe- dem a psicologia de estabelecer um onto de partida rigeroso, ‘lencio em vista que até meados do século XIX enhuma tora médica concebe wma dindmica estriamente psicoligica das doencas, © inicio da histéria Foucault fa da psicologia acorre com os estudos desenvatvidos pelo nevrologisca inglés John Hughlings Jacksor sobre lesdes cerebrais Foucault adota a posigao defendida pelo pionciro da psiquiatia francesa Henry Fy, de quem freqtentou 95 cursos, segundo a qual a tearia evo. hucionista de Jackson pecmite edimen- sionar 0 campo da neuropsicwiatia. © jacksonismo sustenta que 0 sstezna nervoso se organiza de forma evolutiva, tendo passado por niveis crescentes de complexidade. Com essa abordagem & © possivel entender as patologias mentais 2 wow mentecerera com be ‘como win retomo a comportamentos 8 dais primitivos ou 4 condutas infants, de modo que toda perturbacio psicol6xica 5 pode ser devidlamente explicada se for =; levado em conta tanto um futuro quanto 2 um passado:€ preciso situar a doenga er relagio a historia individual do doente. Apesar disso, © facksonismo mosirase inadequado, ¢ duplamente, seis por acre ‘tar que @ pesonalidade simplesmente fdesaparece por completo (Foucault 95 fadmite uma dissolugio definitiva no €2so dda deméncia, seja por conceber a doenca ‘como um estado vial, que aa mantém enhuma relaga0 com 0 presente. "Tal lacuna (erica seri supnida com fo adverto da teoriapsicanalitiea de Sigmund Freud, segundo momento da neve hist6ria da psicologia apresentada fem Doeriga mental e personalidade. ppicandlise explica os mecanismos neuro ticos de defesa n&o como tum rexorn0 40 passado, mas por uma angista originada por uma sitvagao atval. Dai ser possivel sas/9717 Wnts SETHE MUSE, FAN ao a ols Poca Lad (0 REUROLOGISTA toglts John Jackson, estadada por Feveault Foto de 1900 cotender a regressio nto em temas de Fingdes abolidas, mas como uma fuga intencional do presente. Freud também permite um exame mais rigoroso. di realidade humana, 20 evilar um enter ddimerto biologico da doenga mental ‘Mas, ainda assim, Foucault considera que fle inscaura ums etapa que necessita ser uperada, tendo em visti que promove jo entendimento de que existe uma subs- tdncia psicoldgica ao explicar os conflitos ‘com base na libido © 10s instintos De BINSWANGER A PAVLOV Uma nova etapa da histéria foucaul tiana da psicologia se faz aotar com a psiguiatria exisencial do suigo Ludvig Binswanget. Uslizando a inmaigio pa ta esabelecer umm comunicagl0 in tersubjetva, Binswanger pretende atin fr dgciamenre o mondo mérbide do Goente, naqudo que possul de Gnico fe essencial, rompendo com wa abor Gagem tanto do ipo naturlita, (ea «qual © homem io passa de ‘um objeto) quanto histérica que considera a doengs tum evento inerente & tale téria de vida do individ) Foucault exalta 0 método fe rnomendligico, que permite femergir a singularidade do ‘mundo privado da fantasia do delrio através da com preenstio da conscibncia Goente © da reconstitsiga0 de seu universo patot6pico. No entanto, a fatha desse rmétodo feside em encerrar dexitendia subjedva doe Quizofrenico em. si mesma, Genando de levar em cont sev conterto sociocultural ‘© evolucionismo, a psics rise a psiquiatsia Fenome noldgiea representa etapas ‘mum processo de deslocar 2 questto. da dona mental cada vex mais para o homem propramente dio, 08 sti, pura o modo como se & trutura a sta personalidad. Mas a grande ruptira eps Aemokigica do. conbvecimen: to gricolégico exorse com a sbowdagem materialist da psicalogia ex. perimental desenvolvida pelo misso ivan Peteovitch Pavlov. Originalmence interessa- do no esd dos mecanismos fisiolégicos dd estilo e resposta do sistema nervo- 50, Foucault vé na rellexologia de Pavlov tum modo de explicar a putologia mental sem recorrer a absiacGes. Desse modo, 4 doenga € concebida como uma inibigio ide defesa produzida 4 parr do momento fem que nio é mais passivel efctivar a dia Jetica normal da excitagio € da inibiczo. Para sair do estado patoldgico, 0 docnte deve ukrapassar 2 situagio de conflto, fesporxtenco de forma cliferenciada a ccomadiges que vivencia no meio soci O SILENCIO DA LOUCURA No entanto, © papel de destaque atti buido a Pavlov desaparece por com- pleto da segunda edigdo de Doenca menial e personalidade, publicada em 1962. Embora apresente 0s -mesms quatro primeiros capitulos ~ 0 primeito diseute a irvedutibilidade do dominio psicologico em relagio a0 dominio fisiokigico; os tés seguintes se detém, sucessivamente, em Jackson, Freud ¢ Binswanger ~, Doeriga mental @ psi cologia (o novo situlo) envereda por tum caminho no qual seu predecessor io podetia se reconhecet A nova pate final do Iso coresponde a uma specie de resumo de Historia da low cura, ainda que ceproduza algumas breves passagens da primeira versio. [A diferenga entie o§ dois textos € tio profurnda que até na terinobogia co frum verifica se tam contuadente des: rivel. E 0 caso, por cxemplo, da vato- flzagao de uma perspectiva hist6rica © texio de 1954 defende que as condigoes de possibilidade do disttebio meatal devem ser buscadas na realidade PENSADORES DA ALMA E DAS PAIKOES 17 A EXPLOSAO DA PATOLOGIA Segundo Foucault, a a doenga propriamente dita lcotomia corp-alira dba cencepgio de Pavlov destaz ede Seu prduta,0 homem de ser ertinente quando ‘reconceltos metodolGgices _alienado de simesmo.Para__ entra em cena’ 0 conceit de ‘ue proiferavam no campo personalidade, que, como Psicoligico e que param do alenago social é a condigdo faz questo de restr Dressuposto de que deencas_primelra da doenca. Foucault, nada tem a ver com Imentais e doengas orgénicas Em segundo lugar, a os abrbuts sem contaudo devern obedecer a um modelo tendncia clésslca de de iberdade equaled ov de inteligbidade inio.m —distingui a doenga em fungdo com oe direitos abetratos Primeio lugar em vez de daexstincia de dos estados apregoddas pelarevoligaa fear presa no debate entre Iectvels ene si~o normal burguesa.Tata-so antes de Psicoginese e erganogénese, © opatligica -,0 ue implica. uma concepedo qu se aplca (ue pivegia « homem ‘omar conseniéncia 0 que de a0 home lve, em sua ua doenca,a psicologa fata servu de condo, deixa vida real, que ¢reconticido imeteialista considera que 05 de ser pertinent, tanda em como um gual pes outros ‘istirbios mentais decorem vita que a ndlise paviovana _cidados. €nesse sentido do conradgies socks ‘do confitaentence 0s estados que a psicologa materasta lnverte-se assim, a ordenago mértidos de acarde com a considera a deena de estabelecita pela pattogla os mesmos pinipis de am pont de vista puree ‘eléssica, que concebe 0 funcionamento normal do anormal em estado puro, ates sistema nervosa Pr fim, a cconcreta clo doente, isto €, ne nieio social e historico em que ele vive. As primeiras tworiss peicolbgicas verio avaliadas com base nesce paimetra: eal sera o crite dle avaliagio das teorias. pré-psicelogia materialise: © ficksonismo, por exer. ‘0s quadros pai ‘omi0 uma flsacao em formas aresieas de personalidade, No entanto, se © sindividuo doente unifests ants, & por que vive numa Sociedade ean que inetituigdes ped preserva erianga dos cor plo, enters los vivenciados pelos actos, ciara um mundes idealizado qué se revel aindis mais problemats £0, tenco etn visks que acentua a dist da vid A. pricandlise weit entte esses clas fases Fama, por sua vew recone <) explicagbes mole teas pat daw conte de runt, mecanismios de detest © angus Hiss quand, na vercice, esses quathos fetatim 9 deterioragio ecmncontnets. 0, «kt dlispute impenilists, la hits ck ceses. Dai Fouesultaieneis que as ambivalencias. Eales ce ferentes so complexe de Edi epieventam apenas uma ver sie reduzida dessis contadigoes 18 MONTE. CERUAKO © FROSOFIA conjunturais. A fenomenologia existencal do se di conta de que a estrutura si gular da esquizofienia resulta do caricer ‘maquinal das aividades cotidianas. Com isso, as relagdes humanas nao scmente se tornam emibrurecidas, como também ‘islolégico nem defende que assirao, “emia arg “ confit cansiste ra simples cldsiea de patina. © individuo deta Ge expressar uma afetividade espontinea em celagio aos outros & passa a se refugiar num mundo privado, no qual acaba aprisionado. Em Doenica’ mental e psiceloyia, Foucault igualmente evita perder o sentido bists- rico de seu objew. A diferenga é que © fator histérieo passa a rer 4 fungio de desfazex a soliden intemporal tanto daquele que conhece quiato dayuilo que é ‘abjeto de conheciment. ‘Amos os textos defender, ainda, a necessidade de adorar toma postura sigorosa cm re: lacio a historia da_psicologia No entanto, © rigor apregoade has paginas de Deena mental © personatidade diz respeito A necessidade de fundar 0 cone. cimento. psicoligico, repelindo toda wma variedade de pre- conceitos, ikusoes © mitos que impedem que a verdade do ho- mem e da doenga seja atingida 0 texto de 1954 esd norteado pela idea de que, para se tornae rgorosa, a psicologia necess (2 comper com as abstracoes que obscurecem a verdade det ‘4 CURA DA LOUCURA, piatrs de Hlronymes Bosch, 1475-1480, (exercicio de um poder sobre o inane musty 00 400 was! Y IWAN PETROVITCH PAVLOV (c. 1820-1822) esonveet uma abordagor™ imateraata da psleotonla doenga ¢ alicnam a realidade do doen- fe, ou sep, que abstraem simoltanes mente 0 sujeito € 2 sociedade, Em seu projeto inicial, Foucault pretende liar f pecologia de sua heranga poskivita G decerinar em que condighes (episte= toldpieas € politicas) se pode consti tum verdadeirs psicoloria. ‘be forma disinta pensa o Foucault ietaschiano, pois considera que 2 PS Cologia se enconsta impossbiltads de Caunciae alguma verdade em weligao Fvexperiéncia do louco na medida em ique € 2 woucura que detém sua tenivel Jerdade, a psicologia nao apenas € uma forma superficial de conhecimento mas rusce de um mondlogo ds raz30 consigo| fnesnia, no qual a loucura & reduzida 20 Silencio. © rigor de 1954 consistia em ‘condenar 0 que impedia o aprimoramct: edz mcionalidade psicolépica, ov ainda, ‘0 que representava um obseaculo no sx Caminho para a verde; jem 1962 yasanron) ote PARTELLAA Foucault concebeu o projeto de criar uma historia da psicologia que fosse a0 mesmo tempo um diagnéstico filosofico das ciéncias humanas trata-se de levar a propria psicalogin 20 tribunal da verdade para que ela posse Se ar conta ce suas origens inconfessavets © HOMEM, UM ACESSORIO? ‘A mudana no projeto critica de Foucault ath dvetamente ligad 20 modo come tle concebia a nocio de homem. A 3" fgomentagao desenvolvida era Doon ital e personatidacte tia como fi Tonduror 2 tese de que uma teoris as foengas.mentais deve estar centrada fh vila psicologics do individvo © m2 CondigBes que tomaram possives oF d- Seraos aspectos da doenga rental, Est posture fre tanto de ui abordagem de cunha fisiolégico quanto de “psico fonismos", ainda peesenies, em maior Ge menor geau, nas teorias de Jackson, Froud e Binswanger Para Foucault, aS Eondigbes “Teais’ da doenga 980 S80 fem de orden ‘nanural” ou “psiquica’, fas sim de ordew “histrica”. 1580 © teva jusamerte a saentar a necessidade de dar crédito 20 prOprio homem, OW sein, a0 individuo efetivo € concreto. Dat Foucaul santo se coloear em consona Gu com Heidegger, cola ontologia ie fg o plano arsropologico a0 anaisat & ifosadgewtuien Resets, Perot aos rece, er ideteat cee cestrutura transcendental do serno-mun- do, quarto com Hluscerl e @ propesta de intuito de empreender uma desctiglo rigorosa do vivido, isto é, da existncia fumana em ato. A antropotogia fouca- diana almeja atingit © Bomtem concreto fo hemem de “fato", 08 se, 0 contesido, real de uma existéncia que vive © que Se fexperimenta, que s reconhece ou que Seperde num mundo que €, 20 reso tempo, a plenitude de seu projeto © 0 tlemento no qual ele se encont "A rupture entre os livros de 1954 1962 fica patente tendo em viste Gque Foucault abandora 0s prinsipals Mfesenciais te6ricos do inicio de sua formagao académica: © marxismo ¢ fenomenologia. No entunto, 2 profunda mudanga diz respeito go seu otimistn0 hhomarista, Apesar de rer reacgado total mente Doenea mental e personalidace, Foucault peemanece comprometido coms 2 direuiz exca de elaborar uma histirla dda poivologia que seja 30 mesmo tempo fam diagndsico filosético das cléncias hhomanas, A diferenga € que, em funcio da Teitura de Nietasche, ele enconira © upere te6rico necessirio para deixar Ge lado nia tefledo centrada ne do homem’ para dar infcio a0 projeto de pensar a “monte do honsein”. Tratase da eseagem da experanca de estabelecer © hhomiem como base da verdadeira ciencia paicologica, para 0 desafio de demons frar como, de falo, © homem deixou de orando-se apenas 0 ser fardament vetor sesultante ée wma configu Uiscursive historicamente darada. @ EI “Foreword tote Caifomis edn. tert | rey em Michel Four. Meta ness ard | ipoyetology.Unwesty of Caria Press, 1987, «» Maladie mentale et personnait. Miche Foyeaut FUE 1954 «= Doenga mentale psicalogla. Mice! Foust “Tempo Brak, 138. «Hs oigens da ists d oucura No | re seus limites, Pee Mache. | Gm Ponta Janine Retro (ra), Aecartor ‘Foucall~ Os tesdas co cotiquo Foucast ‘rasan, 1985. 1 + ominesoce “en Foucault Sociogénesis. | ddeunflzof. Jone Luis Moreno Pst Montsins, 2008. PENSADORES DA ALMA E DAS PAIKOSS 19 vuarusteae acs mses Foucault: sexo e verdade O confronto politico em torno da vida Enquanto as culturas da indiae do Japao, entre outras, desenvolviam uma arte erotica, nossa civilizagio fez do corpo um objeto do poder do Estado ‘ARs Jose sr deter Fiat ead Fedral do i dene eprtsor ERONESP =F Gio. oR Cantos Jose manTINs No PRMEIRO VoLLME DA SUA Hist6ria da sexualidade (HS), que tem por subtitulo A vontade de saber (1976), Michel Foucault coloca uma tese original € surpreendente. Fle se poe na contracosrente de uma série de teorias em voga ~ com destaque para as ideolo- gas da liberagio, 0 freud-marxismo (Reich ¢ Marcuse), as teo- rias do desejo ~ que, em que pesem suas diferengas, convergem ‘em tomo da hipstese de que a sexualidade moderna foi objeto de uma progressiva sistertica represstio nas sociedades bur- guesas, apés um periodo de razodvel liberalidade. Para 0 fil6so- fo, tal idéia carece de evidéncias historicas. Além disso, no seu entender, 0 modo de funcionamento do poder na modernidade € mais claborado, nao se reduzinda a forma da repressio. Ele postula que essa hipstese tepressiva seria apenas uma pega de uum dispositive mais amplo e complexo de incitagto € colocagio do sexo em discusso pelo poder, 37 mas tomb © mcleo on Tratase, para Foveault, de pes por que n6s somes eprimidos, fox leva a dizer com tanta imsistencia © paidio que somos reprimidos. A suspeita fue o hléxoto fevania contra 8 hiprtese 130 que epressiva tem como objet Iona no interior de una economia pol thea eral dos iscussos sobre o sexo nas fociedices morlerras, € menos provar a Fated de ta hipetese, Em esi, tt fone de cneneciever 0 regime de poder subeepeazer que sustenta 0 funcionasen to e ax eazbes de ser do discurso sobre a eoxuatidade humana e que tem como UM de seus istieos a alegacio tle que somos repeinidos sextailmente, tncentivanekrias @ broscar cea vere Hbenasia, Em outras pabivnss, 0 essencial rnin € estahelecer se esis produgoes Gincursivas & seus conclatos. ceitos cle fpexler nos Kevan & verdade do sex Ot to contri, mectein a fim. de oculté-o, O ewuneial € procurar desvelar a vontade de sober que 0 insivamerta € Ihe serve de Suporte, dio tnto do hiveo Pomtant. liscuno nao fespondeu atm proceso 1 ¢alocagia db sexo em 38 MERIT CEANDRO E FILOSOFLA ouceul, na sociedade conlempordnea, eto devrestigio. Antes, servi a um mecanis mo de incitagto. Loge, de acorn com Foucault, ul vontade de saber nao foi pemada por um tabu diel de remover cla empenhouse em constitir wit cneia da semualidad CONFISSOES SEXUAIS Fan temps historicos, exsiram dois gear tes mdloa pare produni a verdade do Sexo a aes erotica @ a cient sexu. Ne are ere ~ oa eal tems Fats Chemplos em colts da China, Jape fa, ren, ae das mages snagulmanas wt vexdade & oxida do ppt prae ‘etendido como pritiea ¢ recllido come Caperiéacen Por consent, 0 5€80 10 & real por efor a van let abso Op penmiide e db probido, mato menos tenon nee © praaer considera segundo Cénoe de ulidade, AO conten, © Prt tar € tomado em eelacao asi merino, de fveln com sua infensidade, ua qlidade especies, ut ressondincias| no eeapo ena als. Em produaido reine sobte a8 préprias peat (es sexuats, abalbaedo-as na su ian fda de modo a-amplar seus efeitos rage, 5 ste, 0 saber fo sexo ade & apenss algo que PAZ, or oun lado, observa Foucaul, 90s sc civlieagio fos 4 inica 2 praticar Um Cidnca sexual $6 2 nossa civiizacio de: senwolveu processns para revelars vets Ue do sexo, que essencralmente orckrase tea fungi de certa forma de saber poder Gumetzalmente epost 2 arte erica, Tal @ 0 caso exemplar da confisio: “Foi, € ppermanece ainda hoje, a maviz gerat que rege 2 produgio do discurso verdadeit> Sobre o sexo" CHS, pig. 62) Aderais tal Ciizagdo desdobrou sua versio laa por tricia dos indimeros especalistas que cro para extaie a verdade do Sex ‘Vejamos alguns dos principais pro cessos polos unis se dew essa Vanspost G20, segundo filésofo Codificagao clinica do "fazer falar aniculacao da confissio com 0 € parragio de st mesino assoeiada Conjunto de sinais ¢ sintomas deci Jes, anterrogetorie, hipaose, evoraio de lombrangas © regressies © associa ‘ges livres. Exemplos de procedimentos fre reinscrewee os mesos da conbssi0 fo carapo das observagoes ciesficas Pesnulade de wma causatidade poral & fe difusa. wna vex que 0 3680 € dotado i de um poder causat imensusivel e pol ‘morlo, encontra-se justficada o dever de dizer tudo € 0 poder de inrerrogar sobre tudo, A maiotia das doengas e distros, (9 séeulo XIX atribuiu, a0. menos em pane, uma etiologia sexual. Habitos das ‘criangas, tisicas dos adultos, apoplexia dos ethos, doengas nervosas & dege- nerescéncia da raga, todas se encontsam cenredadas em uma causilidade sexual Tais perigos inerentes a sexualidace just Ficavam o regime exiustvo de inquisicao ‘que the era aplicado, Principio de laténcia intrinseca da seruatidade- wa ver que a sexvatidade € algo da ordem do equivoco, do obs. ‘curo, escapar faz. parte de sua natureza © energia. Tal principio permite articular € fundamentar cientficamente a pritiea da coereio a uma confissio dificil, E necessitio extraHta a forsa, uma vez ‘que se esconde, Uso dlp métodto interpretative: aque: le que escuta nao seré mais apenas © Para Foucault, a sexualidade no deve set concebida como uma espécie de dado da natureza, e sim como um dispositivo hist6rico-cultural signatirio do perdie, © juiz que con- dena ou absolve. Ble € 0 elemento que desvela a verdad, sendo-Ihe conferida uma furgao hermenéurica, Medicatizazao dos efeitos da con- fissao- recodificagao da confissio sob a forma de operacoes cerapeuticas, © se- xo nao se Inscrevera mals apenas sob 0 signo da salvagio e da condenasio pelo pecado, ¢ sim no regime do normal e do patolégico. 0 sexo aparece como uum solo de alto risco parol6gico, bem ‘como centro de toda ura nomenclature particular. A confissio toma um lugar BRASILIA, 18 de dezembro 462006; simbolo de combate ‘alas compost por bales ‘vermelhos, no dls nal ie Mita contra a doonga ecessarto junto as intervensies médi- cas, A cura pela verdade se dé quando. esta € dita a tempo, a quem € devido e que ¢, simultancamente, seu portador € responsive. (HS, pgs. 64-6) MECANISMOS DE REPRESSAO. Portanio, © essencial, para Foucault, & idenificae os processos pelos quais essa Vontade de saher modema sobre o sexo colocou em fincionamento os mecanis- ‘ios da confissio nor teemas das moda- fidades cientficas. Em outras palavras, como se chegou a constitu eat imensa, diversfcada @ sistemitica extorsio de confissio sexual em configuragées cien- tificas de saberpode? Para tanto, foi recessério operar tanto uma mudanca fa concepgio de poder como na sta relagio com 0 saber e a verdade. Bo ponto de vista da hipétese re Pressiva, temos uma relagio de excl slo/oposigio, ene sabee poder. Nessa pperspectiva, onde hi poder, nto pode haver saber. Logo, deveriamos tberar toda verdade do sexo para fazer face 20 poder. Para Foucault, 0 contrrio, o que tmarcou a vontade de saber moderna 30- bre o sexo foi ter produzido, em propor Ges nunca antes vst, uma modaliage de alianea entre saber € poder com apelo

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