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MARTIN W. BAUER E GEORGE GASKELL (ED-) PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM UM MANUAL PRATICO Traducao de Pedrinho A. Guareschi . % EDITORA MY vores _ Petropolis 2002 Dados Internacionais de Catalogacao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pesquisa qualitativa com texto: imagem e som : um manual pratico/ Martin W. Bauer, George Gaskell (editores) ; tradugao de Pedrinho A. Guareschi. - Petrépolis , RJ : Vozes, 2002. Titulo original: Qualitative Researching with Text, Image and Sound : a Practical Handbook. ISBN 85.326.2727-7 1. Ciéncias sociais - Metodologia 2. Ciéncias sociais - Pesquisa 3. Ciéncias sociais - Pesquisa - Metodologia 4. Pesquisa avaliativa (Programas de agao social) 5. Pesquisa qualitativa I, Bauer, Martin W., Il. Gaskell, George. 02-2085 CDD-001.42 Indices para catdlogo sistematico: 1. Pesquisa qualitativa : Metodologia 001.42 va BA fobow 10 ANALISE DE DISCURSO Rosalind Gi Palavras-chave: orientagao da agio; organizago retériva; cons- ‘ugéo; leitura cética; discurso; fala/texto como circunstanc, | flexividade Andlise de discurso € o nome dado a uma variedade de diferen- nfoques no estudo de textos, desenvolvida a partir de diferentes racligoes teGricas ¢ diversos watamentos em diferentes disciplinas Estritamente falando, nfo existe uma tinica “andlise de discurs mas muitos estilos diferentes de anélise, € todos reivindicam ¢ home. O que estas perspectivas partilham € uma rejeigao da nogio realista de que a linguagem é simplesmente um meio neutro de re. descrever 9 mundo, € uma convicgio da importincia cen- discurso na construgo da vida social. Este capitulo discutira tum enfoque da anslise de discurso que foi influente em campos tao diversos como a sociologia da ciéncia, os estudos da midia, estudos de tecnologia, psicologia social e andlise de politicas. © capitulo les seges. Na pi do desenvolvimento da ana © seus prineipios centr se de discurso. A do uso desse enfoque para anali de jornal, Ele dé uma indicacio do tipo de material gerado pela and se de discurso ¢ apresenta elementos de compreensao aos leitores, para se fazer uma anilise de discurso. Final capitulo presenta uma avaliagao da andlise de discurso, enfatizando alg mas de suas vantagens e desvantagens, disc aaa 10. ANALSE O& OIScURSO Apresentando a anilise de discurso Contexto intelectual O arescimento extraordinariamente rapido do interesse pela andlise de discurso, nos tiltimos anos, € tanto uma consequéncia, como uma manifestagao da nguistica” que 0 tes, humanidades © nas ciéncias sociais. A precipitada por cr smo, pelo idéias estruturalistas e pés-estru , € pel dernistas a epistemologia (Burman, 1990, G: Potter, 1996a). As origens da andilise de discu:so a par ciéncia social tradicional significam que ela possui urna base molégica bastante diversa de algumas outras, vezes chamado de construcionis: plesmente construcionismo. Nao hé uma definigio tinica concor desses termos, mas as caracteristicas-chave destas perspec 1. A postura critica com respeito ao conhecimente dado aceito sem discusséo ¢ um ceticismo com respeito a v que nossas observagdes do mundo nos revelam, sem prob ‘mas, sua natureza auténtica 2. O reconhecimento de que as maneiras como nés norm: mente compreendemos 0 mundo sao hi mente especificas e relativas. 3. A conviegao de que 0 conhecimento é soci trufdo, isto , que nossas maneiras atuais de mundo sao determinadas nao pela natureza do mundo em si mesmo, mas pelos processos sociais. s maneiras com os conhet menos ou pro- 4. 0 compromisso de exph mentos~a construgio social de pessoas, fe! blemas ~ esto ligados a agbes/praticas (Burt Uma conclusao dessa posigio epistemols como os enfoques tradicionais. Ela sugere, uo invés, novas questOes, ou maneiras, de reformular as antigas (ver abaixo) 57 variedades de andlise de discurso PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEN E SOM aiguém deve necessariamente dizer algo mais; ndo & apenas uma questio de definicéo, mas implica assumir uma posigio dentro de um conjunto de argumentos muito questionado ~ mas importante Embora existam prov: mente ao menos 57 variedades de andlise de discurso, um modo de conseguir dar conta das diferencas entre elas € pensar em tradigées tedricas amplas. Discutirei trés delas Primeiro, ha uma variedade de posigGes conhecidas como lingtifs tica critica, semidtica social ou critica, estudos de linguagem (Fowler ai.. 1979; Kress & Hodge, 1979: Hodge & Kress, 1988; Fairclough, 1989). Comparada a muitos tipos de andlise de discurso, esta tradicio possui uma estreita associagao com a disciplina da lingtstica, mas seu compromisso mais claro € com a semiética ¢ com a anilise estrutura- lista (ver Penn, cap.13 neste volume). A idéia semiol6gica central de que o sentido de um termo provém nao de alguma estrutura inerente da relacao entre significante ¢ significado, mas do sistema de opo: oes em que ele esta inserido, coloca um desafio fundamental as dis- cussdes sobre “palavra-objeto” da linguagem, que era vista como um processo de dar nome a algo. Esta questdo foi desenvolvida em recen- te trabalho lingufstico critico, que tem uma preocupacio explicita com a relagdo entre linguagem e politica. A wadigao est bem repre- sentada nos estudos de midia, particularmente na pesquisa sobre im- prensa, ¢ enfatizou ~ entre outras coisas ~ as maneiras como formas lingiifsticas especificas (tais como a anulacio do sujeito, passivizacio ou nominalizagéo) podem ter efeitos draméticos sobre a maneira como um acontecimento ou fenémeno é compreendido. Uma segunda ¢ ampla tradigao € a que foi influenciada pela teo- tia do ato da fala, etnometodologia e andlise da conversacio (ver Myers, cap. 11 neste volume; Garfinkel, 1967; Sacks et al., 1974; Coulthard e Montgomery, 1981; Heritage, 1984; Atkinson e Herita- ge, 1984). Estas perspectivas acentuam a orientacao funcional, ou a orientagao da agao, que o discurso possui. Em vez de olhar como as narragées se relacionam com o mundo, elas se interessaram naquilo que estas narragées tém como objetivo conseguir, ¢ perscrutam em detathe a organizacao da interagao social. Oterceiro conjunto de trabalho, que As vezes se identifica como analise de discurso, € 0 associado com o p6s-estruturalismo, Pos-es- truturalismo rompeu com as visdes realistas da linguagem e rejeitou Anogio do sujeito unificado coerente, que foi por longo tempo 0 co- Taco da filosofia ocidental. Entre os pés-estruturalistas, Mic! - aaa 10, ANAUSE DE DISCURSO Foucault (1977; 1981) é muito conhecido por caracterizar suas ge logias da disciplina e sexualidade como anélises de contraste com a maioria da anilise de discurso, este tr teressado nao nos detalhes de textos falados escritos, mas emo: historicamente os discursos. Temas da andilise de discurso CO enfoque que sera elaborado aqui se inspira em idé: uma dessas trés tradicbes delineadas acima, bem como ¢ crescente da anilise retérica (ver Leach, cap. 12 neste v lig, 1987; 1988; 1991; ver Potter & Wetherell, 1987. para» cussio mais completa das diferentes influéncias sobre a discurso). Desenvolvido inicialmente em trabalhos da sociniogia d conhecimento cientifico e da psicologia social, ele esta agi iu zindo anélises dentro de um conjunto diverso de campos, e c um enfoque teoricamente coerente com a andlise de fala ¢ textos ede E proveitoso pensar a andlise de discurso como tendo quatro te- mas principais: uma preocupacao com 0 discurso em si mesmo: uma visdo da linguagem como construtiva (criadora) e construida: uma én- fase no discurso como uma forma de aco; e uma conviccao na orga: nizagio retérica do discurso. Em primeiro lugar, entao, ela toma o préprio discurso como seu tpico. O termo “discurso” é empregaco para se referit a todas as formas de fala € textos, seja quand ocorre naturalmente nas conversac6es, como quando € apresentado co material de entrevistas, ou textos escritos de todo tipo. Os de discurso esto interessados nos textos em si mesmos, em ve considerd-los como um meio de “chegar a” alguma realidade que é > pensada como existindo por detras do discurso ~ seja ela social, psi- col6gica ou material. Este enfoque separa claramente ai discurso de alguns outros cientistas sociais, cujo interesse na gem € geralmente limitado a descobrir “o que realmeme aconte- ceu", ot qual é realmente a atitude de um individu com respeito a X, Y ou Z. Ao invés de ver o discurso como um caminho para realidade, os analisas de discurso estdo interessados no cont na organizagio dos textos O segundo tema da andlise de discurso € que a lingtagem & cons- trutiva, Potter & Wetherell (1987) mostram que a metafora “const cao” realga trés facetas do enfoque. Primeizo, ela chama a atengio para o fato de que o discurso é construfdo, ou manufaturado, a par tir de recursos lingifsticos preexistentes: eee: PESQUISA QUALITATVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM Em segundo lugar, a metafora ilustra 0 fato de gem’ de win conjunta implica em excolha, ou sclecson de ener ro diferente de possibilidades. & Possivel descrever até mesmo mais simples dos fendmenos em uma multiplicidade de maneiras, Qualquer descrigio espectfica depender4 da orientacao do Inne ou escritor (Potter & Wetherell, 1987; Potter et al,, 1990). Finalmente, a nogao de construgio enfatiza o fato de que nés li amos com 0 mundo em termos de construgoes, e nao deuma a, yeira mais ou menos “direta", ou imediata; em um sentide verda, deiramente real, diferentes tipos de textos cons ‘oem nosso mun- do. O uso construtivo da linguagem € um aspecto da vida secel aceito sem discussdo, A nogao de construcéo marca, pois, claramente uma ruptura com os modelos de linguagem tradicionais “realistas", onde » lin. ghagem € tomada como sendo um meio transparente - um caminho relativamente direto para as crencas ou acontecimentos “reais”, ou ‘uma reflexao sobre a maneira como as coisas realmente sao, A terceira caracteristica da anélise de discurso que desejo realgar aqui € sua preocupagio com a “orientagao da acao”, ou “orientacdo da funcio” do discurso, Isto é, os analistas de discurso véem todo discur~ so como pratica social. A linguagem, entio, nao é vista como um mero epifenémeno, mas como uma pratica em si mesma. As pessoas pregam o discurso para fazer coisas ~ para acusar, para pedir descul- Pas, para se apresentar de uma maneira aceitavel, etc. Realgar isto & sublinhar o fato de que 0 discurso nao ocorre em um vacuo social Como atores sociais, nds estamos continuamente nos orientando pelo contexte interpretativa em que nos encontramos € construimos nosso liscurso para nos ajustarmos a esse contexto, Isso fica muito claro ent contextos relativamente formas, tais como hospitais ¢ , mas € igualmente verdadeiro também para todos 0s outros contextos Para tomar um exemplo conereto, alguém pode dar uma explicagio diferente do que fez na noite anterior, dependendo do fato de que quem pergunta é sua mac, seu chefe ou seu melhor amigo. Nao se u ade que alguém esta sendo deliberadamente fingido em algum des- ‘eS casos (ao menos ndo necessariamente), mas simplesmente de que estarfamos dizendo 0 que parece “certo”, ou 0 que “vem na 10. ANAUSE DE DIscURSO te” para aquele contexto interpretativo particular, Agées ou fungoes vio devem ser pensadas em termos cognitivos, por exem mo relacionadas as intengdes de alguém; muitas vezes elas podem ser glo- bais ou ideoldgicas, ¢ so melhor pensadas como praticas culturais, do que como confinadas na cabega de alguém. Os analistas de discurso argumentam que todo discurso € circunstancial E importante notar que a nogao de “contexto interpretativo” nao éfechada ou mecanicista. Ele ¢ empregado nao simplesmente para se referir aos amplos parametros de uma interagio, tais como onde e quando ela tem lugar, ea quem a pessoa esta falando ou escrever mas também para atingir caracteristicas mais sutis da interacao, ine cluindo os tipos de aces que estio sendo realizadas, eas orientacoes dos participantes. Como um analista de discurso, a pessoa esta en- volvida sinlianeamente em analisar o discurso ¢ em analisar 0 con- texto interpretativo Até mesmo a descrigao sonora aparentemente mais direta ¢ neu- a pode estar implicada em um conjunto completo de diferentes ati- vidades, dependendo do contexto interpretativo. Tomemos a seg te frase: "Meu carro quebrou”. Isto soa como uma frase diretamente descritiva sobre um objeto mecéinico, Seu sentido, contudo, pode mu- dar dramaticamente em diferentes contextos interpr 1. Quando dito para um amigo na saida de uma v pode ser um pedido implicito para uma caro 2, Quando dito a uma pessoa que The vendeu 0 carro alguns dias pode fazer parte de uma acusacao ou r 3. Quando dito para um professor para ayja aula voce es hora atrasado, pode se constituir em uma desculpa ou ex a como 08 p pistas curso € olhar para a mane’ pondem, e isso pode of uma acusagio ~ mesm feita. Mas 0 contexto int PESGUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM seu namorado/a. O ponto central aqui é que nio existe nada “sim- ples”, ou sem importancia, com respeito a linguagem: fala e textos so praticas sociais, ¢ até mesmo afirmagGes que parecem extremamente jais, estéio implicadas em varios tipos de atividades. Um dos objeti- vos da andlise de discurso é identificar as fungées, ow atividades, da fala e dos textos, e explorar como eles sao realizados. : Isto me leva ao quarto ponto: a andlise de discurso trata a fala € 08 textos como organizados retoricamente (Billig, 1987; 1991). Diteren- temente da anilise da conversagao, a andlise de discurso vé a vida so- cial como sendo caracterizada por conflitos de varios tipos. Como tal, grande parte do discurso esti implicada em estabelecer uma v sao do mundo diante de versdes competitivas. Isto fica claro em al- guns casos - politicos, por exemplo, esto claramente tentando levar as pessoas a aderir a suas visdes de mundo, e publicitérios estao ten- tando nos vender seus produtos, estilos de vida e sonhos ~ mas é também verdade para outros discursos, A énfase na natureza ret6rie ca dos textos dirige nossa atengio para as maneiras como todo dis- curso € organizado a fim de se tornar persuasivo. A pratica da andlise de discurso E muito mais facil discutir os temas centrais da anilise de dis- curso do que explicar como concretamente fazer para analisar tex- tos. Seria muito agradavel se fosse possivel oferecer uma receita, 20 estilo de manuais de cozinha, que os leitores pudessem acompa- nhar, metodicamente; mas isso é impossivel. Em algum lugar entre a “transcrigao” e a “elaboracao do material”, a esséncia do que seja fazer uma anlise de discurso parece escapar: sempre indefinivel, ela nunca pode ser captada por descricdes de esquemas de codifi- cacao, hipéteses e esquemas analiticos. Contudo, exatamente por- que as habilidades dos analistas de discurso nao se prestam a des- crigdes de procedimentos, nao ha necessidade de elas serem deli- beradamente mistificadas e colocadas acima do alcance de todos, com excegao dos entendidos. A anilise de discurso é semelhante a muitas outras tarefas: os jornalistas, por exemplo, nao s4o muito treinados para identifica 0 que faz com que um acontecimento seja noticia, mas depois de um pequeno tempo de experiéncia seu senso de “valor de noticia” se torna bem claro, Nao hd, na verdade, substituto para aprender fazendo. 10. ANAUSE DE DISCURSO Fazendo perguntas diferentes ‘A anilise de discurso nao € um enfoque que pode ser pego sim plesmente da prateleira, como o substituto de uma forma mais adic F gnal de andlise — por exemplo, andlise de contetido ou andlise esta- tistiea de dados de questionarios. A decisio de usar analise de discur- so impée uma mudanca epistemol6gica radical. Como ja indiquei, 08 2 aliceas de discurso nao véem os textos como vefculos para descobrir / 4 aigumna realidade pensada como jazendo além, ou debaixo da lingua ayy gem. Ao invés disso, eles esto interessados no texto em si mesmo, ¢ cadre por isso fazem perguntas diferentes. Diante da transcri¢io de uma, Frecussao entre vegetarianos, por exemplo, 0 analista de discurso nao procuraria descobrir ali por que as pessoas implicadas deixaram dle Comer carne e peixe, mas 20 invés disso, estaria interessado em anali: sar como a decisio de se tornar vegetariano é legitimada pelos por- ta-vozes, ou como eles respondem a criticas potenciais, ou como eles <—~ / formam uma auto-identidade positiva (Gill, 1996b). A possivel listade * perguntas 6 interminavel; mas, como se pode ver, elas sao bem dife- rentes das convencionais perguntas sociocientificas. §—* Transcrigao Ando ser que se esteja analisando um texto de dominio puilico— por exemplo, um artigo de jornal, um relatério de uma companhia ou o registro de um debate parlamentar — a primeira exigéncia é ‘uma transcricao. Uma boa transcrig4o deve ser um registro tao deta- Ihado quanto posstvel do discurso a ser analisado. A transcrigio nao pode sintetizar a fala, nem deve ser “limpada”, ou corrigida: cla deve registrar a fala literalmente, com todas as caracteristicas poss! veis da fala, A produgio de uma transcricao consome uma enormni- dade de tempo. Mesmo que apenas as caracteristicas de maior realce da fala sejam anotadas - tais como a énfase € hesitagao - 0 desenvol- vimento da transcricao pode demorar até 10 horas para cada hora de material gravado. Os analistas da conversacao, ¢ alguns analistas de discurso, afirmam que essas transcrigdes muito detalbadas sio es- senciais, se nao se quiser perder as caracteristicas centrais da fala. Um sistema de transerigéo que anote a entonagio, a fala sobreposta, respiragoes, etc. como’ delineado por Gail Jefferson ~ pode che- gar a.uma proporcao de tempo de 20:1 (ver cap. 11 deste volume) Contudo, como Jonathan Potter mostra, a produgio de uma tans cricao nao deve ser pensada como um tempo “perdido”, antes que a andlise como tal comece: PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM Muitas vezes, algumas das intwigses analiticas mais i aparecem durante a transeriga é 0, porque é necessivio em a Inentoprfindo com o mata pore " (40 (1996b: 136). Por essa razo, é sempre tit se esta fazendo a transcrigao, vos Gas coisas que impressionain mais fortemente a muitos no etait de discurso quando eles ctham para ~ ou melhor, em fj Preduzi- uma wanscrigio, éa total conf da fala Aspectos da fala que imiliares a ponto de nés muitas vezes literalmente 2 nk ‘mos”, se tornam visiveis nas transcrigbes. Isso implica #4 {7 Imiliplos “remendos" na fala, mudangas no andamento ou t6pico, pausas, sobreposigoes, interrupgdes e emprego livre de frases taig ”!”* idoras ngaja- Para produzir wma boa transeri- produzir notas analiticas enquanto Pessoa imagine o quanto nés habitualmente “editamos” a fala que yROS escutamos. A segunda coisa que chama a atencio é (aparente- mente de maneira contraditoria) como a fala esta em ordem. Repa- 70s € mudangas no andamento acontecem quando os locutores se orientam para o contexto interpretativo; sobreposigées e interrup- 5es so devidas ao modo conversacional; ¢ assim por diante (ver Myers, cap. LI neste volume), ¢ 1 wwodnl, af fac eo cs ito da leitura cética _,____Uma vez feita a transcrigio (ou obtidos 0s outros dados), a anéi se pode comecar. O ponto inicial mais titil é a suspensio da crenca naquilo que € tido como algo dado. Isto é semelhante a regra de pro- + cedimento dos antropélogos de “tornar 0 familiar estranho”, Tal pratica implica em mudar a maneira como a linguagem é vista, a fim de enfocar a construcéo, organizacao e fungées do discurso, em vez de olhar para algo atras, ou subjacente a ele. Como Potter & Wethe- rell mostraram, o treinamento académico ensina as pessoas a ler tex- ,_ fos buscando sua esséncia, mas isso é precisamente a maneira errada de nos aproximarmos da andlise: Se alguém 18 um artigo, ow livro, o objetivo usual produzir uma sintese sinsples, unitéria, @ ignorar a nuanga, as contvadigies¢ as diveas de imprecisao. O analiste de discurso, contudo, esd interes- sada no detathe das passagens do discurso, embora fragmentadas ¢

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