You are on page 1of 117
ALBERTO GUERREIRO RAMOS. ANOVA CIENCIA DAS ORGANIZACOES Uma reconceituacao da riqueza das nacdes Tradugao de MARY CARDOSO 2 edicao NL eee | FESAG | WHS [sistioteca] Instituto de Documentagio Editora da Fundacéo Getulio Vargas Rio de Janeiro, RJ ~ 1989 Wunck. Getutic Joeces CRE 5 Goo eo OF fea ige ‘Thilo do original ern inglés: The New science of organizations Direitos reservados desta edigto & Fundacdo Praia de Botafogo, 190 — 22,253 S ae CP 9.052 — 20,000 Janeiro, RJ — Brasil E vedada @ reproducio total ou parcial desta obra Copyright & Fundagao Getulio Vargas 1? ediggo~ 1981, liggo — 1989 1s Eliana e Alberto ¢ aos \drew Victor e Henrique nha esposa Tatiana, Chara, FGV ~ Instituto de Documentagéo Di Coordenacii i: Francisco de Castro Azevedo ‘Supervisio de editoracao: Ercflia Lopes de Souza Supervisio gréfica: Helia Lourenco Netto Capa: Marcos Tupper Ramos, Guerreiro, 1915 ~ 1982, ‘A nova ciéncia das onzanizagses / Alberto Guerreiro Ra- os; tradugio de Mary Cardoso, ~ 2. ed, — Ric de Jancico: Exitora da Fundacio Getulio Vargas, 1989, XXIV, 210, ‘Tradusio de: The new science of organizations. Inclui bibliografiae indice. 4, Sistemas sociais.2. Sociedade de consuimo, I. Fundssao, Getatio Vargas, I, Titulo. cop -301 BBcesycd3s 23 04 ¢¢ S1592 “Nada € mais eensurivel do que deduir as leis que determi- ser feito daquilo que ¢ fe ccunsereve aquilo que & fe Kant, 08 impor 2 tals ‘nam aguilo que det leis os limites a que ca da raz pura SMuitos, dentre nbs, conhecem adolescentes dominados pela compulsso da comids. © comedor compulsive, que se empanturra tanta desatengo que mal repara naquilo que 10 duas sérias penalidades. Fmbora seu corpo tesa Sendo abarrotado de enormes quantidades de coisas realmente boas, 0 comedor vaise tornando, ao mesmo tempo, cada vez menos capaz, fisicamente. E ~ que pena! ~ nem esti apret ‘come; mal se lembra de procurar sentir 0 sabor da c Como adultos do séeulo XX, nbs nos tomamos usuarios com pulsivos — chegando aproximadamente aos mesmos resultad Walter Kerr, Tite Decline of pleasure vi AGRADECIMENTOS ‘a minha gratidio A Escola de Administrago jade do Sul da California, onde encontrei ual e apoio material para empreender a pesquisa antas as pessoas & quais me considero ionar todos os nomes. Devo mencio- far, primeiro, Frank P. 10d, sem cuja assistncia dificilmente te- tha eu podido vencer os obstacalos da minha passagem do Brasil & vida ‘cadémica nos EUA. Ele tem sido um amigo, um critico, severo mas honest jador das mi- rnhas empresas académicas. Tenho uma di em relagio a Henry Reining, David Mars e E. K. Nelson, os quais em sua qualidade de Administracdo Piblica da USC, em periodos Leffiand, que enguant adjunto das maneiras para facilitar meu trabalho de pesquisa. Val bbuicio para maior clareza e para o aperfeigoamento das minhas idéies| igestdes que me ofereceram meus colegas e ou- ‘pessoas que leram partes ou todo o rascunho dest cessas pessoas tenho setisfacgo em mencionar Pei Clayton, Wesley Bjur, Robert Berkov, Alex McEachern, Kazi Schei David L. Schaefer, Daniel Guemtitre, Eis Sandoz, William Dunn, Louis Gavthrop, estudantes de cursos de pésgraduacao da USC, de lum modo geral , particularmente, Francis Cooper, Tom Heency, George Najjar ¢ Levi Reeve Zangsi, os quais me vali, em matéria de cor especial ¢ devido a Charles M. Dennis e B. Terence Harwick, cu) Sfo e apuro do texto completo tanto contribuiram para sua lareza, ‘Agradego, também, a Constance Rodgers. Mary Porter e 2 outros membros da equipe da minha "3 dar ao rscusho deste vo su fa presente Bev tilografou este texto e s un lei , © Cochese, alegres ¢ figis Buardides do meu espaco pessoal e companheiros inhas 10 horas de trabalho. a ee Finalmente, maha peemané Yale Univesity, como pro wvamente, concede pela USC no ano aca fuspcosaoportunade pera qc Prose de tou 20 xb orga oes eke eee Eatora ds Universidade e Toronto contibitemeeeee eet ment pars conlurgioes eh ea an’ TsPonsabilidade pelo que no livro se contém, é claro, cabe PREFACIO Neste livro, apresento 0 arcabougo conceitual de uma nova ‘sfeneia das organizaydes. Mev objetivo & contrapor um modelo de ané is de delineamento organizacional de miltiplos £40 modelo atualcentralizado no mercado, que tem domtinado "a5 empresas privadas ¢-a-administra¢o pablica nos iiltimos 80 anos. Sustento, em termos gerais, que uma teoria da organizagdo centralize dda no mercado nao € aplicdvel a todos, mas apenss a um tipo especial de atividade, A aplicagfo de seus principios a todas as formas de ati vidade esté dificultando 2 atualizacio de possiveis novos sistemas so- chais, necessérios 8 superagdo de dilemas bésicos de nossa sociedade. ainds, que © modelo de alocaclo de miovdeobrae de re- fo na teoria dominante de organizagio, no leva em conta a exigéncias ecolégieas ¢ nifo se vincula, portanto, a0 estégio contemporineo das capecidades de producdo. Afirmo, finalmente, que @ maneira pela qual ¢ ensinado o modelo dominante ¢ ilusbria ¢ desastrosa, porque ndo admite explicitamente sua limitada utilidade funcional Estou usando expressio nova cténcia das organtzagdes em sen: tido amplo, ¢ a mesma inclui essuntos nao apenas pertinentes a setores presentemente rotulados como administragio publica e administrago de empresas privadas, mas também temas especificamente pertencen: tes a0 campo da economia, da ciéncia politica, da citncia da formule gio de politicas © de ciénci social em geral>Assim sendo, da maneira como esté coneebids neste livro, a nova cigncia das organizagbies€ dit Bide a problemas de ordenaro dos negdcios sociais e pessoais numa ricroperspectiva, tanto quanto numa perspectiva macro. De um modo feral, o ensino e o treinamento oferecidos aos estudantes, ndo apenas nas escolas de administracdo piiblica e de adm ristraggo de empresas, mas iguelmente nos departamentos de ciéncia social, ainda sZ0 baseados nos pressupostos da sociedade centrada no mercado, Hoje & necessirio um modelo altemativo de pensamento, ainda no articulado em termos sisteméticos, porque a sociedade cen: ‘ada em mercado, mais de 200 anos depois de seu aparecimento, esté XI mosrando agor suas imltagdes ua influsncia desfigua infudnea desfiguradora da vida humana com un todo. E¢spena tl mina como un foo Empat fonma de oreo au et [No capitulo 1, isto do consi bsico de rode ci 4 rao, A modema etna socal ndb pods set oom cada, ede due ds someon pear care a. Neste sévul, a rica da rardo moderna fol iclada or Me Weber Kat! Manni, qu fdharam, nso obsante, quant ence Consistentemente 2. complenilade dese razao, Mal scontane teatoustaliar a razlo modeme do porto Goad ico do pensamento e, por mais si ie ontlbuieSo poss ser consideads, ter restarador que ndo esta sufciememene ou deixa de prover a nove citncia das organizayes e pela chamz- da Escola de Frankfurt que, mostrarei, fa de moder- ns sbes de cho his O capitulo 2 ume ext do mods contempoiéneo dec social, do ponto de vista de um modelo a ‘s eae raconalidae funcional) ema an Polanyi, da sociedade centrada no mercado. aaa O capitulo 3 conertuala a sindrome pate Gledade centads no mercado e especie te nore ber: aude da indinduaitade, © perspstinens ‘operacionalismo. Fsclarece que enguanto os cided ‘inuarem sucumbindo 3 ipoteses, pouca opt lizadora, No capitulo 4, sustento que a teoria de organizacdo, como cam. 'dendo 0 senso de seus objetivos especificos, ‘modelos ¢ conceitas estrankos 2 seu dom 9, examiino exemplos de “olo- = de conceitos demonstrados mpo da teoria de organizagdo. Concluo o lagdo de alguns topicos basicos permanen- ico de organizaees formal psicologia da sociedade centrads no Munea ating o stuns de um dis xn ia da organizay 4 porque seus pro- ponentes ndo tém a ‘organizargo dominante ¢ pré-anali ‘uma premissa, sem se aperceber da extensdo das possibilidades obj vas, O capitulo trata, com d 10s nio a identificagdo da nature- nerento & sociedade {tulo 6 expOe os pontos cegos ef ‘organizacional existente ¢ conclui com a identificario da necessidade ‘de uma nova ciéncia das organizardes, baseada no conceito da delim: tagdo dos sistemas sociais. Meus principais argumentos tulo, elucidam que a presente teoris organizaci mental, tanto quanto entre o significado substant) formal’ da organizaco: € desprovida de clara compreensfo do papel ‘desempenhado pela interagdo simbélica nas relagGes interpessoais em igetal; ¢ apéia-se numa visio mecanomérfica da atividade produtiva do homem. Os capitulos 4, 5 € 6 ree {que apareceram nes revistas Pu No capitulo 7, apresento um modelo multicéntrico de andlise dos sistemas sociais ¢ do desenho organizacional, que denomino deli ‘mitago dos sistemas sociais. Tal modelo considera 0 mereado como ‘um necessério porém ls dade. 0 capitulo 7 constitut uma apresentagdo chamo de paradigma paraecondmico, ‘A lei dos requisitos adequados ¢ apresentadz no capitulo 8 co- pico fundamental da nova ciéncia das organizagoes, De acordo com essa lei, a variedade de sistemas sociais constitui quaifica- fo essencial de qualquer Sociedade, que deve ter respostas para as ne- Cessidades basicas de atualizagdo de seus membros. Além disso, nesse capitulo sustento que cada um desses sistemas sociais determina 08 rOprios requisitos de seu desenho. A ilustrada por uma analise da tecnologia, do tamanho, da peroepy0, 60 cespago e do tempo dossistemas socias. teato mostrar a impliages diems patsconinico. Aes stn, amo gee sstemas sociis nao 6 apens um feo ctcueeria oo net ssn 20 nivel micro. Sremizaciona, mas gualmente apical a nel macro da toned Eselarego tal ponto discutindo os processes de alocgdo de tafe de-obra ede recuros, vsts de uma penpeciv dsinatont, da pet? It som ni do pnp aden ciéncla des oranzagdes¢indeando © fos a noe es © indcando 0 tuo geal de sun + 10 captuos deste vo constituem uma unidae orgnica ids na sequbniaem que esto apenontade te oon : erderdaspecosfundamentas de seu deenvolinen teérco. lo & pariculammente verdadevo em relagke ae ona capitulo, em que se tomam evdentes a minhar dhetiecs SO filoséficas. O capitulo ni Uiesicas 0 capitulo nfo pode sr compreendio, se for ldo como iéncia das organizarGes vem ocorrendo des- do um esforgo gradativo, empreendide por 08, Este livzo aproveita muito da atividade is, mas comega a moldé-ia mum corpo abran- riadora de tais especi gente de conheciment PREFACIO DA EDICAO BRASILEIRA 0 leitor brasileiro deste livro deve sempre levar em conta que ele {oi originalmente pensado e escrito em inglés, Especificamente, 20 es- flo, tive em mira expressar o meu desconforto com a modema mente na feledo que assume por uma nova ciéncia, entendi rapdo dos sistemas-sociais. nova eiéneia tem S66 nova porque a sia digo ¢ ignorada nos meios académicos tipicamente modemnos, 0 ser humano ‘ial — a razo, No entanto, para viver de acordo com 2 sociedade centrada no mercado, ¢ coagido a reprimir a fungao norma tiva da razdo no desenho de sua existencia social. A sociedade centra- da no mercado ¢ inerente a astacia de induzir 0 ser humano a interna lzar aquela coago como condicdo normal de sua existéncia, e esta circunstincia 6 verdadeiramente legitimeda pela psicologia motivacio- nal implitica na psicanilise ¢ nas cigncias socials de nossos dias. Uma ‘das manifestacdes dessa asticia € 0 fato mesmo de que tal sociedade, ‘em vez de frontalmente declarar a sua incompatibilidade com as pres- ‘erigGes da 1220, conservou a palavra em sua linguagem, mas dewslhe lum sentido consonante com a sindrome psicologica constitutiva do seu ‘cardter. Assim, o que se chama hoje de razdo, na sociedade centrada ‘no mercado, bem como nas ciéncias sociais em geral, é uma comruptela do termo tal como ele mesmo ¢ seus equivalentes sempre foram versalmente entendidos até o limiar dos tempos modemnos. A critica ‘dessa transvalorizacdo do termo permeia toda a tessitura deste livro. No mundo contemporineo, os EUA sfo a mais desenvolvida sociedade centrada no mercado. Por conseguinte ¢ af que o ser huma- no vaise tornando mais consciente do efeito deculturativo do merca- do. Eventos que ndo vem ao caso relatar aqui levaram-me a residir nos BUA desde 1966, Nos altimos trés lustros, a problemética norte-ame sicana, tanto nos seus aspectos académicos como naqueles pertinentes xv dos afazeres cotidianos, tem sido parte central de minke ida. Este livro destila essa intensa experigneta, Em varias de suas pas- sagens, ¢ evide has elaboraedes conceituais slo largemente ipicos da vida norte-americana, Mas 0 modelo iedade que A nove ciéncia presereve jé constitui o desenho existencial de crescente némero de individuos em todo o mundo. Nos. BUA, milhares de pessoas estzo ‘mercado Fosse ‘oviedade centrada no mercado deformou ou, em parte, destruiu: os elementos permanentes da vida humana. A categotizaedo desse modelo emergente na praxis de min em todo 0 mundo tem importincia universal, pois cor ‘cia magna da critica da sociedade moderna, e de sua o disfarce de vo davvida dos chamados socialstas. Nos estudos que realizei no ji eram perceptiveis as linkas mest te articulado neste livro, Ao leitor sGo desse pensamento dirijo as consideracoes finals « seguir. Nos meus estudos publicados no Brasil desde 1951 encon! andlises da ciéncia social européia e da norte-emericana, bem ci -manxismo e do paramarxismo (veja Ineroducdo critica @ sociologia bra- sileira (1957), O Problema nacional do Brasil (1960), A Crise do poder no Brasil (1961), Mito e verdade da revolugéo brasileira (1963)}. Par- ticularmente significante na minh trajetoria intelectual € A Reduedo sociolégica, cuja primeira edigf0 & datada de 1958. No preficio da se- gunda edicdo deste livro (1965) sublinhei o tiplice sentido da reducao. sociologica, a saber: a) atitude imprescindivel & assimilagéo critica da cigncia e da cultura importadas; 6) adestramento cultural sistemético necessério para hebilitar o individuo a resist & massificaggo de sua ‘conduta © as pressées sociais organizadas; c) superacao da ciéncia so cial nos moldes institucionais ¢ universitrios em que se encontra, Na edigdo de 1958, 4 Reducdo socioldgica tratou principalmen- ‘te da mesma em seu primeiro sentido. Posteriormente, a fim de ressal- tar 0 segundo sentido da reducio sociolégica, sugeri a categoria de ive theory, artigo publicado no nlmero de maiojjunho de 1972 da Public Administration Review. XVI 4 resultado de minhes posi ob a edugo soo tees no oem et i apendce de dade 1938, Situago aaa 6 sociolo > $f Redupo socolpled (2. ed. 1963). asim como em Modernization ‘model, capitulo de Developing nations: quest for 70), qual fea Este ¢ pense to Enalmente, em me Mimento (1966) nha ani 8 con Mou tpt de clenci soca dominant ametpavam muito do que encontodn Now cnet das organtapdes 6, ai, prodat de ceca de 30 anos de pesquisa © ie nao artal tudo al pera nove clonea conse, Apents come uma nova sed expen ES Ga proposta de uabaho teorcoe operacioal, que espero cons Shar dante esto de mia vie, Alberto Guerreiro Ramos Los Angeles, 1980 xvil PREFACIO DA 2? EDICAO AMERICANA ‘Alberto Guerreiro Ramos abordou os problemas mais im- portantes deste século, Nascido na Bahia, em 1915, orgulhoso Ge sua ancestralidade africana, ele trabalhou intensamente n0 desenvolvimento brasileiro, proferiu aulas ¢ conferéncias na Eu- ropa e na Asia ¢ alcangou 0 auge de sua capacidade intelectual durante os dezesseis anos que passou nos Estados Unidos, onde momeu em 1982. Trabalhou com energia e persisténcia no senti- do de transformar conhecimentos humanos tradicionais e moder- ‘nos numa forga criativa do processo de desenvolvimento. ‘Guerreiro Ramos entendeu a homogeneizacio e a falta de incentivos das sociedades socialistas © a heterogencidade ¢ anomia das sociedades de mercado. Em sua obra — A Nova Ciéncia das Organizagées: Uma revisio de “A Riqueza das ‘Nacdes’ — ele desenvolveu um modelo de delimitacéo social, ‘com 0 paradigma pars-econ6mico voltado para a identificacdo das distingdes entre as estruturas organizacionais nessas socie~ dades. Concentrando sua teoria na racionalidade substantiva, tomando em conta todo 0 escopo dos valores humanos, 20 invés de deter-se apenas nos valores econdmicos e instrumentais, Guerreiro Ramos amplia a obra de Max Weber. Ao propor 0 uso apropriado de mecanismos de mercado em setores especfficos bem delimitados, Guerreiro Ramos cria uma altermativa funda- ‘mentalmente distinta daquela postulada por Adam Smith. ‘Empenhado em entender € analisar as complexidades das experiéncias do Sul e do Norte, Guerreiro Ramos acha um meio de fundir 0 que de melhor cada uma delas pode oferecer. Essa andlise tem Gbvias ¢ profundas implicagées no processo de de~ ‘senvolvimento do Terceiro Mundo e das sociedades pés-indus- tials. ‘Como professor, Guerreiro Ramos conjugou a constricio te6rica com a constante atenco para a prética da tarefa do de- senvolvimento, Ele inspirou toda uma geragdo de estudantes como professor da Escola de Administragao da Universidade do xx Brasileira de Administragao Pablica”, na Universidade Rural do Rio de Janeiro e foi chef do Departamento de Sociologia do Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Foi professor visitante nas universidades de Yale, Wesleyan, Paris, Universidade Fede- ral de Santa Catarina, bem como nas’ Academias de Ciéncias de Unido Soviética, lugosiavia c da Reptfblica Popular da China, ‘Como um homem de aco, Guerreiro Ramos trabalhou, du- rante toda uma geragéo, no Departamento Administrative. do Servico Pablico, foi membro da Delegacfo do Brasil & Assem- biéia Geral das Nacdes Unidas em 1961, Deputado Federal, Di- retor de Pesquisas do Ministério do Trabalho © Assessor dos Presidentes Vargas, Kubitschek e Goulart, Como ser humano, Alberto Guerreiro Ramos integralizou todas essas facetas numa vida dindimica e multidimensional - ca- tedrético, conselheiro, poeta, tedrico, mestre, amigo - um genio da vida. ‘Sério com os colegas; fervoroso, provocante e zeloso com seus estudantes, Alberto encarnou pienamente seu pensa- mento de que a vida € um processo ativo e deliberado a ser ex- perimentado integralmente. Guerreiro Ramos estd vivo na cont ‘ua expansio © impacto de sua obra, Ele € um desses seres fn ares que soube combinar sua prépria vivéncia com as ligdes de seus antepassados € forjar desse conflito e diversidade a pro- messa de um futuro melhor. Cidadao do mundo, Guerreiro Ra- mos, nessa sua Iuta por wn futuro mais humano, foi também um i muito especial daqueles pafses aos quais tanto deu de si = Brasil ¢ Estados Unidos. Robert P, Biller Professor de Administragao Publica e \Viee-Reitor da Universidade do Sul da Califémia Xxx SUMARIO Agradecimentos IX Pretiicio X7 Prefiicio da edicio brasileira XV Preféicio da 2? edigio americana XX Bibliografia 67 XXI 4, Colocagao desapropriada de conceitos e teoria da organizacio 69 4.1 Tracos fundamentais de formulagio teérica 69 4.2 A deslocagdo transforma-se em colocaglo inapropriada 7! 43 A ilusto da autenticidade corporat 44 A alienaedo mal compreendida 72 45 Sanidade organizacional, uma denominaca0 incorreta 76 4.6 Pessoas e modelos de sistemas 79 47 Conclusio 82 Bibliografia 83 5. Politica cognitiva ~ a psicologia da sociedade centreda no mercado 86 Sa 32 53 54 2 cognitiva, uma digressio historica 87 A politica cognitiva e a sociedade centrada no mercado 90 Uma visio parogulal da natureza humana 93 O alegre detentor de emprego, vitima patologica da sociedade centrada no mercado 98 ‘A psicologia da comunicagdo instrumental: 108 Conclusto 114 Bibliografia 115 6. Uma abordagem substantiva da organizapao 118 Tarefa | ~ a organizagdo como sistema Tarefa 2 — pontos cegos da teoria organizacion corente 120 Reexame da nogio de recionalidade 121 Peculiaridade historica das organizagbes econdmicas 123 Interagdo simbélica e humanidade 125 ‘Trabalho e ocupacio 129 Conceptualizacgo de uma abordagem substantiva da onganizagio 134 Concluséo 136 alégico 116 7. Teoria da delimitacdo dos sistemas sociais: apresentacgo de um aradigma 140 71 72 73 Orientagao individual e comunitiria 140 Prescri¢do contra auséneia de normas 143 Conceituaedo das categorias delimitadoras 146 Bibliografia 153 XXII 8. Alei dos requisitos adequados e 0 desenho de sistemas socials 155 Bibliografia 173 9, Paraeconomia: paradigma e modelo multicéntrico de alocagio 177 liografia 192 10, Visto gerae perspec a nova signa 194 Td Acsénca soil convensional 194 102 A orgunageo restente 198 Bibbogria 207 Indice analitico 203 xx 1. CRITICA DA RAZAO MODERNA E SUA INFLUENCIA SOBRE A TEORIA DA ORGANIZACAO ‘A teora da oranizagso, al como tem prevalesdo,¢ingéou ‘Assume ese cardter porque s"batla na racionadade isteumental nen la socil dominate no Ocident. Na realiade, ae ago fa ese ingenuidade tom sido ofator fundamental de seu suceso prt fo. Todavi,eumpre reconhecer agra que esse sucteo fem sido unid- Imensona e, como serd mostadafexeree um impacto deshguraor so. brea vida humana aiociada, Nao esta a primeica vez em que, em a io de consideragbestebncas, se € lovato a condenar aqui gue fur. Giona na vida social pric, De fato, 40 ans atts Lorde Keynes steervou que o detenvalimento econdmice devoneu da avarezy, du sus, da precaupfo = tudo iso colsas que ele deprezava, Conus tle, todavia, que “por mais algum tempo” precisvam elas continuat ser os nose dtses", porque “omente eas nos podem fae sir do tinel da necesidade ezonomica". No contexto des preciies con Gigdes ques eperova fouem ainda perdurer por gum tempo, Keynes recomendou que se ‘‘fizesse de conta, para.nos mesmos.¢ para. todo mundo, que.o certo €emada so ctrado€ certo porque oetiado Eatileocerionso 6" (Keynes, 1932 p.372) "Tal como Keynes, hoje haverd algumas pessoas que prefiram sus ender a critica i teoria oganzicional corente, porque, embora Sendo pobre em sofsicagfo, ea funcione,Contudo, pars fer so, € presto que se fina qua ingenuiade €o certo, enguant a sofia fo tenes 60 erradoSblas num tempo como o howd, om que a ener ja poitoldgice que um individuo tem que despender, pura poder em es resultantesdesa forma de fraudeautoimposta, € de ‘tal magnitude que ele se recusa a ser convencionalmente bem-sucedido cer is normas pels qua sociedad le tima se. Nes Sas creunstinclasateona da oganicato, tal como € hoje conhecida, menos convincente do que O Tor Tis passado ¢, mais ainda, torna-se pouso pedtic einoperans, na medida em que continua ase apoir em A palavra ingenuidade € usada aqui no sentido em que a empre- ‘g0u Hussed, que reconheceu que a esséncia do sucesso tecnolégico e econdmico das sociedades indu: ais desenvolvidas tem sido ume con: lente por ficam elas ‘no m ¢5 praticos imedi que Husser! quis dizer com a afirmacao: “Toda simplesmente & fo fim de contas, a 0 presente capi mologia inerente na ci iva, que oferepa a b: em geral, € para uma nova ciéncia das organizacées, em veza) ‘HH era peculiar, enquanto refletia um universo semantico sem prece- dente No sentido antigo, como seré mostrado, a azo como forea ativa na psique humana que habil suir entre o bem e o mal, entre 0 conhecimento falso e o verdadei 2 “a paique humana era encarada ‘propria redueao a um fenomeno hist desaparecenDefinin aadquite “pelo esforz0” (Hob 1978. p omativo no dominio da constrigao todria e da Vida humana asso- _iada Nima obra em que tenta levar& cabo 6 Sev propbsito, diz € io mais velha,.. do que meu livro De (Hobbes, 1839, p. 1X), De acordo com Hobbes, parece que o termo racionalidade 6 ago ‘a geralmente empregado por leigos, tanto quanto pelos cientstas so segundo uma feicdo enganadota, que, todavia, nfo mais reflete 0 tipo de indagacio consciente empreendido por Hobbes, e im profun- da desorientagao. As engnnosasimpicapSes de que ora se reveste 0 ter- mo precisam ser identifiadas pelo que realmente so, J4 que, em nos- ime com frequéncia conotagdes antitéticas relativamente 20s propésitos fundamentais da existéncia humana, a anti-racionalidade sem qualificagfo transformou-se m alguns que se encaram, 2 i proprios, como humanis quando se examinam. sua causa errada, Sus, ganosamente mal colocad: realidade, a distoreg0 de associada ‘transavaliago d iedade, Uma vez que a palavra razio dificilmente poderia ser posta de Indo, p ventral na vida humana, a socie- moderna com_ sua estrutura, normativa, na most meread tomovise nérmal, e uma das formas de eserigo de sua cabulaio tebrico que prevale uma nova re de dosti- 3 ciéncia das organizagSes e da sociedade como um todo, gurada linguagem teérica, examino rapidamente, nos parderafos se guintes, a avaliapdo critica da razZo moderna, empreendida por alguns dos mais eminentes estudiosos contemporineos. 1.2 A resignacdo ¢ os pontos de vista de Max Weber sobrea racionalidade Quando Max Webs glo de rario js Por um lado, de Hobbes a Adam Smith e aos modemos cien 108, paixSes, interesses e a simples mi éncia para a compreensio ¢ @ ordenagio ob 2 influéncia do Humi- iu © homem, como porta 40, Max Weber pe figura s lismo dos caracter da gonotaeao polémica da obta académica de Weber e tiva de qualificar a nordo de racionalidade, iago de seu pensamento, a propésito sobre 0 mercado como a mais e configuracdo para o fomento da capacidade produtiva de un 2 escalada de seu processa specifica come constituindo a sindrome de uma a, segundo ele, ndo iria encerrar seu curso com (0 dessa época. Focaliza esses assuntos do ponto de funcional e, na realidade, merece ser considerado o fundador funcional, Autores modemos, como, por exemplo, Adam negligenciam o car io da logica de mercado, enqusn: to Max Weber a interpreta como um requists sinado sistema social epis6dico. Adam Smith procedeu c , visto como exaltou 2 légica do mercado como um eth icia humana em geral. Mex, Weber, porém, descreve es ca (da qual a busocracia é uma das manifestacdes) como um complex heuristico em afinidade com uma forma peculiar pitalismo, ou a modema sociedade de massa. Condens explicitamente ualquer tipo fundamentalista de andlise ect 4 © psicologicamente existente com 0 eticamente valido” (Wel B. 44}, Nessa disposigao e tendo em mente os economis ‘observa: Os defensores extremados do livre-comércio... concebiam ‘nomia pura) como um retrato adequado da realidade ‘natural 6, da realidade ndo perturiada pela estupidez humana ~e prosseguiam vvisando a estabelecé-la como Um imperativo moral, como um valido {deal normative ~ enquanto que ela é apenas um tipo convenient, a ser usado na analise empirica” (Weber, 1969, p. 44). (0 julgamento que Max Weber fez do capitalismo e da moderna sociedade de massa foi essencialmente critico, apesar de parecer lauda- ‘brio. Chocava-se ante a maneira pela qual tal sociedade fazia a reava- liaedo do significado tradicional ds racionalidade, processo que intima- ‘mente Jamentava, embora tenha deixado de diretamente confronticlo, ‘Muito embora Weber se tena recusado a basear sua andlise sobre a in- {ignagio moral, como fizeram outros tebricos, de forma notavel, € um ero atribuirlhe qualquer compromisso dogmitico com a racionalida ta. A distingdo que fez, entre Zweckra- if — e que, € verdade, algumss vezes minimi- jlmente, uma manifestaeao do conflito moral em. tendéncias dominantes da modema sociedade de lientou que.a racionalidade formal einsteumental.( pestativa de resultados, ou “fins cae favionalidade substantia, ou de val ad DP ber descreve a burocracia como empenhada em fungdes racionais, no ‘sontexto peculiar de ums sociedade capi cuja racionalidade € funcional e nfo substantiva ‘uindo um componente intrinseco do ator human. vel considerarse Max Weber jonalidade burguesa, uma vez que ele le desinteresse pessoal Aqueles que im inadvertidamente suas cbservagtes_ad_hoe com sua pi soal, em termos gerais, da ja que deixam de perceber a tensio espiritual que subli esforcos para invest temética de sua empreenéen- a racionalidade substantiva, rodapé em sua obra; ndo desempenha papel sistemético em seus estu- dos. Se o fizesse, a pesquisa de Weber te tamente diferente, Escolheu ele a reslgnsedo (isto é, a ne face dos valores, nfo a confrontago) como posicZ0 m seu estudo da vida social. Contudo, essa resignaso nunca o desovien. tou, transformandoo em um historicista radical. De modo significa, tivo, considerava “auto-enganadora” qualquer posicto que que através da s{ntese de varios pontos de vista partiarios, on segu do uma linha intermedidria aos mesmos, seja possivel mas priticas de validade cientifion” (o grifo € do original) (Weber 1969, p. $8). Seu historicismo foi mantido em equilfbrio pelo forte sen timento pessoal de finitude dos conceitos cientifices, em comparapéo jeder, 1968, p. 92) da O funcionalismo qualificado de Max Weber tem sido mal com pteendido por alguns de seus intérpretes, e mesmo pe proclamam seus seguidores. Um caso a assinalar é Taleot obra, 20 que parece, sofreu a influéncia de Max Weber. Pa Pouca ou nenhuma ambiguidade moral em relacdo & racionalidede lmanente ao sistema de mercado. A tuz de seu modelo dogmatic de andlise estrutural e funcional, do qual extrai sua nocao de “variéveis- padrdo" e “universaisevolutivos”! 0s requisitos especificos da ade capitalista avancada tomam social comparativa, ¢ mesmo para a propria historia 1.3 A visio limitada de racionaltzade de Karl Max fannheim se apoiz em Max Weber para estabe. iiGnilidade substancial e funcional. Define como “um ato de pensamento que revele ps gées de acontecimentos, numa sitvagdo. determinada” (Mannheis sugere que atos dessa natureza tomnam possivel uma vida pessoal rientada por ingependentes” (Mannheim, 1940, p. $8). Essa racion a base_da vida humana ética, responsivel, A racionalidade funcional diz respeto.a quelquer conduta, acontecimento ou objeto, 1a medida em que este ¢ econhecido como sendo apenas atingir uma detemineda meta, A inlugncia imitads da funciona sobre a vida humana solspa sues qualificacbes Tal distingZ0, portanto, ¢ estabelecida pare propositos na verdade, Mannheim sublinhe o fato de que a racionalidad nal “tende a despojar 0 indsviduo me: 6 de exten do individuo, na proporsio do desenvolvimento da indus talzagao, Sugere, também, que embora a racionalidade funcional tenhia existido em sociedades anteriores, estavanelasrestrita.aesferas limitadas. ‘Na sociedade modema, porém, tende.a abranger a totalida- d4e_da vida humana, nao deixando 20 individuo médio outraescolha alm da desisténcia da propria autonomiae “de sua propria interpretae 40 dos eventos, em favor daguilo que os outros ine dio” (Mantheitn, 1940, p. 59). Seu lio Man and society in an ag of reconstruction & a indagagdo sobre « maneira de protege « vida humana contra a cresoente expansfo da racionalidade funcional, Mannheim alega que todo agusle que desej ser coerente com a distingfo entre os dois tipos \dace precisa compreender que um alto grau ée desenvalrt ico ¢ eeondmico pode corresponcer am ba 9 ético, Vale « pena salentar esse po arientagao. pos sem se aperceberem, aparentemente, das consequéncias éticas dessa distingzo. i ‘A distingZo que Mannheim faz nfo sugere que a racionalidadé funcional deva ser abolida do dominio social. Estipuls, antes, que uma entre a racionalidade funcional e a substancial e por completo se rende a exigéncias da primeira, Tal situagdo ¢ agravada quando aqueles que estudam o processo formativo de decisdes descuram da tensfo existente as duas racionalidades, Através da abordage es de um ponto de vista puramen tico, aceitam a racionalidade funcional como 0 padrdo fundamental davida humana Aparentemente, 2 andlise empreendida por Kari Mannheim ado- tou uma posicao confrontativa, no sentido de que reflete a ansia liber. tfria do autor para encontrar meios de modificar 0 estado atual das sociedades industriais, Na realidade, ele ndo tirou, inteiramente, as ‘onsequiencias da distinezo que fez. Seu ecletismo relacionaista, pelo ‘qual pretendeu integrar todas as principals correntes da cigneia social contemporinea, acabou por deixé-lo desnorteado, Nem a preacupaco de Mannheim com a liberdade humane o salvou da perplexidade inte Jectual. © esforgo classficatério que desenvolveu, na avaliagio © ‘omentério de descobertas feitas no campo da ciéncia social conven- ional, nunca the permit, realmente, chegar a um conjunto coerente de diretrizes tedricas. Por exemplo, no livro Man and society in an age of reconstruction, séo apresentadas uma analise aguda e observapdes precisas, mias io fim de contas ele no conseguiu desenvolver um onceito de ciéncia social em consonéncia com sua nocdo de raciona- lidade substancial 1.4 A teoria critica da Escola de Frankfurt A racionalidade tem sido uma das preocupasSes centrais da cha- ‘mada Escola de Frankfurt.” Seus principais representantes, essencial- ‘mente, afirmam que, na sociedade moderna, a racionalidade se trans- formou_num.instrumento_disfergado de perpetuacio da represso social, em vez de ser sindnimo de razdo verdadeira, Esses autores pre- tendem restabelecer 0 papel da razZo como uma categoria ética e, portanto, como elemento de referéncia para uma teoria erftica da Sociedade. Recusam, ao que parece, o pressuposto de Marx de que a racionalidade € inerente & historia, e que o proceso da sociedade mo- dema, através da critica dialética de si mesma, conduzird & fdade da azo, Salientam que Marx no percebeu que, na sociedade modema, as foreas produtoras haviam conquistado seu proprio impulso institu: cional independente, assim subordinando toda a vida humana a metas que nada tém a ver com a emancipacdo humana. tradiggo iluminista. Encaram eles o Tuminismo como 9 momento em, gue 0 conhiecimento da razio foi separado de sua heranga eléssies. De acordo com Horieimer, hi uma teoria de razdo objetiva, oriunda de Platdo e Aristoteles passando através dos escolésticos e mesmo atta: vés do Idealismo alemo (Horkheimer, 1947, p. 41), que enfatiza os fins de preferéncia aos meios ¢ as implicapdes éticas da vida de razdo para a existéncia humana, Esse teoria nifo focaliza a coordenapio de comportamento e propi conceitos — ndo importa o quanto nos parecam hoje mitolégicos = sobre a idéia do bem maior, sobre o problema do destino humane e sobre a maneira de serem atingidos os objetives dltimos” (Horkhei: mer, 1946, p. 5) Horkheimer considera implicitos nesse entendimento da ra2do 0s pte- ceitos de ordenacSo da vida do homem. No entanto, o lluminismo transforma pensamento em mate tice, qualidades em funedes, conceitos em formulas, ¢ a verdade em freqdéncias estatisticas de médias. Em outras p: I nismo, “o pensamento se transforma em mera tautologia” (Horkhei- Sobre a histvia da Escola de Frankfurt, via Jay 73) 8 1947, p. 97)2 Na perspectiva do Tluminismo, © mundo é escrito que parece ser o triunfo da racionalidade, a sujeigdo da realidade 1972, p. 26-7). post ds proclamares “aleas” de ist Mars, qu pret deu tr deipojado'o rationalism do sculo XVI de seus rags mece isin. se coneeto de azo esti profundamenteenraizadona ta Tey Tumimono, na meta em que ele arectva que 0 prosso {iRonco aus forges Ge producto ¢ raciond em si mesmo e, potato, Chancipaoro. iso € una isto, afima a Esools de Frankfurt, © rma. em epi, ocupuse seaticrente dss questo. i “e da razdo “como um fator de compreensdo ética, 1047. p18) fo frat consume. te desatoragto ocontetdo da linguagem comuns. Divorclando palavras e conceitos de seu respe fs fe 2s 1 i dexprovde do te Tole, includ Seas dos ara preseragio de i ni suitado final do procesio, te- tho peta aor, st fnov de um lado a pesion ego abstato despojao de todo a futopresenacio edo 0 de ua pura dominazio jo ser humano” (Horkh ‘Sin outro propésito gus o er. 1987, 9-97) 6 " (one “4'S961) ewRaEH PMY “jilapi anbiod eanesifusis aiusMEDadse 9 aIuDi 3p THOT y wou ep oluiwop ou “Psinbsod ap seyUm-seuEA 2p oESeroueIa;P ¥ BEd S0u9iHD o1WOd “SonltUTOd' sassaiaiuy ap wRojodH ewsn-ap oBSEIOg ja Pu seaagegy nondst an ‘(get ‘ouliogry) , Pane OFFI p ajusiaut onost “eon 9 feos euO=) Hun e “2quoure|noned “zsnlt lun onsanb @ nap axyotg enb ‘opmvoa ‘easesqo sewsieqey “UE 2p ago tu ‘opzes op asso1e2u] win ap onfgot09 0 JeznEpHD ap stodaq ~"oguaunipuayua (ey ayuoUryeruausepury euonsenb seusaqey "eauORST ‘opSnjoaa ep eupssaved erouanbasuoo © owoo uinIpusyua an “oFze =p spepy ewmnu “eID epeo ap BPIA ep wonpid ore! ¥ Wo? euEAUOWI sey 3s vind o27e1 e anb wiexeuparse xieyy 9 OH “OPeHEA Wet Bun “iad esso # szisodsat se 2 tpioos opumus ou “eind opzes e eotitid swiner flog we arssuo9 eUa|go1d Q “sBuorDEr Sa:ds ap opapaioos euinil Bh 1y9jo s0U0} euansp 28 anb “oonpid assazayur wh ulet oRze: “seiARed Em seuaqed) . spaprest tun serei03 emed asprin Osndist tum onsixs oFzer Tu amb ope zip “TRS ap ove ‘esuad op sournsay’snos 2p tif! ity “apepreuoraer 2p opjoanbea opr 0s tuoar Bun Zanjosuasep exed EUENUEY ‘Sunray au as-viode svili8de}y eno ap no eustoy Buin ap “ORAL? O98 -jo}o0s owvawesuad op 71 © 9 Jue “OSIP TATY ‘apepa!oes ep wan yoo; eum ap sojusumpn so ‘Seusagepy eupaide “wxpLucD anb ‘aoumd lopzns up v2qiie) ens ap onaiuT war o IMaHsUOD OpuaWUESUEd 3689.9 reuotoes sasas sow axuaurearsnjoxe Fenap wn enyooaid epia pou owen oqurs “fossed epia ep o1uswuop ou jog win ap opdou # szznput ayepod ‘ezaunieU EME ap ‘9 apepupesneo ap epeiop opuss owos wey rod eprqeou0. 10} OEZE ¥ yelb0s eprA eu SSTEUIEINA PA ap ODLBIG asseiarEt O wel “UPS 9D zigo tu ‘aind opze: ¥ (g6] “d “9961 “seuogeH) ,o2zE ep sea tum ap oursauoo 0 aanuede Bf, wey op jeUapUadsUEN eyoso4y eu en quateg 001240 BISA 9p cxtod win ap apeprEuoper & euIUIExe eed ‘ogUIaTe Owsteap] Op Tedrouud auszi09 eu typndiau sewIegeH arvesBan ronyio ap siagdse win iod ap s¢-eulfouy “eony wapesBarey pede syloa) ziun ap [enluao o1uod ouiog orSeoturuoo ep opdemuoipEd ¥ "y seiuiopoul Sapepaio0s se a1g0s fewuowannsut apepreUorRe! Pp orutuiop op seoiBojoaisd 2 seonriod setouenbasuoa sep opbedsonul “E > ~-opbnposd ap s85t0y sep ovdawragoauasop op ‘auawngiessedou ‘resort yeuoroer opepero0s vin nb ap wssmuaNd ns ap ‘siUauipesadso “2 sey 2p seouoisny SogrurTO Sep sUmERBeY “2 'SogUla{e SestTeapr sop SOotFOsOTE Sew! soe T nowed “oBai¥ oonsjod orwowestad ou oy jet assa1e1Ul Un ap OW29109 Op OEEIMERS2! WT sop jenites at ioquia anb “pe or (CHTHT-E*Up6D) SURO “soured AoA 5 cee'd e180) MESA ‘sajumos sewer sop ven anb wo epipew eu aiueyrodu pwio3 as seueqey 2p oYfeqe ’b aoaxed ‘ojmdeo alsap o1x21u0o ON “sPULApOLE sopepetd0s seu ap -Dpreuojoes ep wulot 0 e3ed eyo as opuenb soar segiped so apuadsns ‘opu seuzaqeyy "209994 2p OUPRUOD OY “TEID0S PpIa ee feUOTDEY BINpUOD tp opeuiud o re92jequise vied oquaumnsu owo9 “apepe!20s ep rant ‘tHios tun ap opdnzsuoo & 9 jeipiowud assoxsnIN nag “sPLNI9q2H 3P sovpeqess sou eumiaqos auawyend 9 epepieuoies ap opSou y (481 4 ‘cp6t “iswpHO) sms spod ogzes t anb osiwas soreus 0 9 opzes ap opeusay> afot| 9 2nb o] sinbep eiouguop y,, cans ayuinasv wos apanu ap adijg O34 0 uur aj ‘ozSez/uzapous ep aqueIp [Rout opSeURIpUY vrs TBINLIEID ag “apepIUO|TE: ap OpEDLILATS 0 sproep Bred aseq OUIOD "eULspOU ape a0 BU pd sad sop o1uauser0dut09, Fpnsn 0 1ena0e ® saullsipiog aeesnoss “vauanbastoo wy “sousodosd wudxe ap ‘syuauaiuarajeud “zedeo 3 sagén2qults morusuen eed 'aesn op apaprondes © napred owapout onpiaipin o ‘(Cz “d W{l0}}) ,sPePIPD! PU OFOROE eana}o ens opuODsIEN, ap “omp van ‘zed vo} stenb sed semuao[anuy sagduny se aesn 2p 28 -opuacanbso‘ouausg a1u98816 win ap oxiaonsud “opyestudd oF8, Gin ‘ouioa ourapour awoy 0 aAaiap ISWIAPHOH , PMO AIEUOT >1LL two soap w urea sopeioosse snes 2 uurusary anb opbep (jouss> © ayo eétooie ‘opera mp asdyag ap seuided seunse wig “oUspOUr fin -snpuy eutisis ov onpsaput of OFSezijotsos eptnyoid ep opeymsr tin cwsoo teSenSui{ ep opSezmaeusap ap ossaaord og 8USIpOH (ced 461 sawnarpyoH) ,.2usous '8 uro wy win rmpnsuod opu apepian P snbrod “" seqadsns warewuoy 96 {9p 02st © sojo urezz09 “oquaurexejar o injouy 2¢ sfenb so ane ‘soonpad sosnafgo sonno zed no ‘saueodun sapepinqaqord syuoworuoer re[noqeo ap atuapine oyspdord 0 woo sepasn ozs opu sezamped se anb ‘ra epipous By “** opsyues zey “opnuas wos sivatueand vouatues bIszIp anh ‘[euojseiado 9 coygqwis aruouind 3 anb ognby enb wopuaue anb ‘soaupiodusaitioa soamugusas sojad epeiapsuos wisse 9 ound ‘opeoyjusis 2p zpinosdsap 081 oo] o2 soared opSesodo vuin e ajexnbS ogu anb ebuauss epo] “wurepow spzperoos eu ‘orSnpoxd ap oyjaz ede oosanuesié ou ojuawnnsu wn syeu pprenpar Joy weBensuy ¥., onotD$9 ZaLsTaNpLOH ‘Tiny]no eraUapesep ¢ nrenpuod anb , “ej ep opddniioo op ossaooid an noapeoussep oursjiquinty’ 0 ‘ovesttan fica a racionalidade como o atributo essencial da conscincia humana esclarecida, isto 6, de uma consciéncis liberada do dogmatismo que de cofdinasio infecciona todas as formas conhecidas de vide cotidiana, ‘A nogdo de interesse cognitivo transforma.se num instramento ‘central para a distingdo entre vérios tipos de citncia. Habermas os di rencia de acordo com os interesses orientadores de suas pesquisas, a saber: a) “cieneias (ciencias naturais) cujo interesse cognitive é 0 contzale téenico sobre processos objetificados”; b) ciéncias cujo inte- resse cognitive & uma “preservagdo ¢ expansio da int dz possivel compreensio mitua onientada para a acdo’ subordinadas 20 interesse cognitive, emancipatorio, isto é, que deve. ser consideradas con ais na_estimulacdo da capacidade Jnumana para a auto-reilexfo e a autonomia ética (Habermas, 1968, . 309-10). © in esse orientador da pesquisa de uma teoria eritica ds sociedade é a emancipag#o do homem, através do desenvolvimento de suas potencialidedes de auto-reflexdo. No entanto, no modelo de tia social estabelecida, o controle téenico da realidade constituio inte- resse bésico, como orientador éa pesquisa, Isso equivale a dizer que a ia social estabelecida tomouse cientistica, mediante « assim eo do método das ciéncias naturais (a este reepeito, hé mais no capi- Além disso, transformoucse ela num meio de jtucionalizado sobre o mundo natural ¢ a conduta ia no controle da realidade toma-se 0 a estende, de modo met 2 ser umn auto-reflexo do obj fem si mesma (Habermas, 1968, 9 rafletivo” e “reivine “da histOria da espéc intelgente p.6153) Habermas vése como um continuador da teorla marxiste ¢ ‘dmite 2 possiilidade de uma teoria social critica incorporadora de ouigdo de Marx e lberada dos seus ers, Na reclidade, a teoria 2 inspitade pelo interesse emencipatsrio. partihade pelo coneeito da teorie sozial critica de Habermas: no ontanto, 6 preciso aM rciondlidade seriam rosultedas inevité forges. de prSducio. Habermas observa ‘humana em gral, Mesmo a subjetividade privada do individuo cai prisioneica da racionalidade instrumental. O desenvolvimento capita: fista impde limites a livre e genuina comunicacZo entre os seres ‘numanos. - IA premissa de Mark provou ser insustentével, pelo simples fato ‘de que, na “sociedade industrial de larga escala, a pesquisa, @ tecnologia ¢ 2 utilizagio industrial fundiram-se num sistema’ ‘mas, 1969, p. 108), levando assim a uma forma repressiva de es institucional, em que as normas de mituo entendimento dos ‘duos estio absorvidas, num “sistema comportamental de agio racional de proposito determinado” (Habermas, 1969, p. 106). Em outras pale- raz, num ambiente desse tipo a diferenga entre a racionalidade subs- Tantiva ea pragmética tomae irrelevante e chega a desaparecer. De fato, a sociedade tecno-industrial legtimasse através da escamoteacdo objetiva dessa diference Tééntico a esta posigdo diante de Marx ¢ 0 enfoque reformula- tivo que Habermas adota quanto a Max Weber. Ele explica 0 conccito ‘webetiano de racionalizaca0 como se segue Sq superioridade da forma capitalista de produgdo sobre as que a precederam tema estas duas raizes: 0 estabelecimento de um mecanis fio esonémico que torna permanente a expansio dos subsistomas de agdo racional de propsito determinado, ¢ a ‘gio econdmica, através da qual o sistema Gos novos requisitos de recionalidade trazidos & luz pelo dese neato desses subsistemas, E esse processo de adaptacio que Weber tentende como “facionalizapao” (Habermas, 1970, p. 97-8). ‘Todavia, Habermas considera necessério desenvolver mais a ané lise da racionelidade, uma vez que a sociedade industrial, em seu atual te daquela que Weber conheceu. Weber posia fu 2, mas hoje a questo acarreta impress iagdes éticas, que 0 esforyo tearico de Habermas realge consideravelmente, ‘Nam comentério sobre Marcuse, Habermas ssinala q presente, “aquilo que Weber chamou de ‘racionalizacdo" realiza facionalidade como tal, mas antes, em nome da racionalidade, uma forma especifica de associaedo pc 1969, p, 82). Mats ainda, tal “racional apologética” (Habermas, 1969. p. 83), interpessoais na esfere privada e as regras sister xdo tomam-se ident G80 distorcida tomou-se uma preo- as. Prope ele uma distingdo entre @ ia Com ropétito, ou agZo instrumental, ¢ a agZo de com ago, ov de interagéo simbolica. A primeira, subor fonstrada como sendo coreta ot 2 interapdo simbélica, ou a¢zo de comunicagto, define expessoait como serdo livtes de. compulséo externa ¢ tendo suas norms. legitimadas snamento como impor dos sémbolos ago simbé- pare usar uma yordinade. 20 imp ‘éenico da natureza e da zceucnulacio de capital Ura consequéncia do dominio. exercido pela racionalidade Habermas sublinhe o efito dos fatores 8 08 padres de comunicaséo,e o estudo atte, que prevaleoem nas sociedades ria da competéncia cominicatva. E poss , mesmo aquels de engano intencio- se no sentido a ideia de verdace”. Se asim. quais 50 os padres adequatos 2 semelhante lingiagem? Essa eapeculaedo ‘conduz a0 conceito da “situaeGo ideal de discurso” e 2 idéia do orador petente, De fato, a “competéncia na comunicagio significa 0 dominio de uma a de discuno” ® Nas stuapdes em que os ientos itersubjetivos S30 concretizados em razio do choque ulsbes soviais agindo sobre es diffe conseguirse 6 orador competente expdese @ malentendides, pra néo mencionar também que pode set considerado excéntrico, Habermas salienta que “A base da competén- ia comunicativa no podemos, de maneica alguma, produzir a situa fo ideal de discurso independentemente das estrutaras empiricas do sistema social a que pertericemos; podemos apenas antecipar essa situap20” (Habermas, 1970, p. 144). A situacio ideal de discurso azo s pode materializar seno dentro de adequado contexto social 1.5 0 trabalho de restauragdo de Eric Voegelin Do ponto de vista dos padrées contempordneos da ciéncia poli- ‘ica © social, 2 obsa de Eric Voogelin parece heterodaxa, obscure & mesmo perturbadors. Em sua opinido, a ciéneia politica, na forma ‘como a conceberam Platdo e Aristoteles, munca perdeu sua validez. Ele fala como um especialista em hermenéutica, nfo como um cronista de {dsias, Do Angulo hermenéutico, 0 que essencialmente importa nos ‘textos clissicos so as experiéncias que os mesmos articulam. A menos que 0 leitor empreenda um esforco para reproduzir em sua psique aguelas experiéncias clissicas, nZo lhes poderd apreender o significado, ‘O-ecquecimento do conteddo desses textos, que se reflete sobre a vida ‘humana, constitui mais do que um exemplo de mé informacdo:¢ um sintoma da deformacgo da psique humans e representa aquilo que Voegelin denomina descarrilamento. Ele considers os séeutos da hist6ria ocidental como um periodo de descarrilamento & de deculturaczo da-espécie humana, a0 ponto de exporem a um processo de “sistematica confusio da razao” (Voogelin, 1961. p. 284) Pode.se falar corretamente da razfo como uma realidade inde: pendente de nossa palavra. Qualquer tentative de abordar 2 razzo {ome se ela fosse apenas um produto convencional da linguagem refle- ‘te um estado deformado da psique. A razdo foi descoberta pelos filo sofos misticos da Grécia, mas esse episédio historico é mais do que um incidente bastante interessante para ser registrado na cronica das idéias; antes, dé ele inicio a um periodo de formapdo da alma humana, Com ‘esa descoberta, 2 alma do homem teve acesso a. um nivel de auto- compreensfo no qual rompeu s da visZo compacta da realida- ¢ articulada no mito. Na verdade, o evento ndo mudou a estrutura da alma humana: representa, antes, um momento culminante, em que a ‘conscigncis do homem quanto & propria alma ganha em luminosidade e diferenciacao. ‘Comparadas com a interpreta¢o que Voegelin dé aos textos clssicas, as afirmacses de Weber e de Mannheim sobre a razdo trans. item ténues indicios quanto & sua natureza e, em conseqiéncia, trabathos desses autores exemplificam uma contida avaliagdo da s0 dade modema, Sem uma inflextvel fidelidade & razdo, como a ex cam Platdo Aristoteles, Voegelin mostra que ndo ha pe luma teoria politics de base cientifica. Sua vieso do procesto de cure ‘nossos males atuais pressupée a validade perene do paradigms clés: 0 da B08 socied: ialquer tipo de’cigncia social sem io de uma “boa foegelin alega que a nogdo ica da boa sociedade ngo ¢, de modo algum, uma is propriamente, de que a compre: teoria, vilida, embora os problemas ligmas" (Voegelin, 1963, p. 38) legitimo, nos limites de det ‘que a vida da razao se tembora esse ponto de Ga mesma f Fichte, Hogel e Marx, af aparece em term Gegradados, esses pensadores concordam em que a qu ficagto de uma soci no racional comesponde a afirmar que la é boa, mas do ponto de vista em que se colocam, é.a hist 2 palque Itumana, a sede de razdo, tuosa ccolocapdo de raato que leva esses pensadores a obliterar 0 tema da boa sociedade, 8 ineidencia de esferas dz realidade nio inclufdes na hist6ria, 2 explicagdo final dessa tenso possa jamais ser encon- a teGrico, ou que possa ser eliminada com 0 advent histOrico de uma boz sociedade, constitui essencialmente aquilo que raria a uso grdstica e imanentista, que impregna a lade moderna. A racionalidade, no sentido substantivo, nunca poderd ser um atti pois & diretamente apreendida pela consciéncia humana, néo pela mediaedo soci impele o individuo na direedo de um esforgo continuo, responsével € 'ar suas paixSes © suas inclinapbes inferiores. Em Platao ¢ Anst6teles hi um indissol6vel dualismo entre razdo e socie- 16 dade, ele proprio constituindo precondigdo da liberdade. Qualquer solugio sociomériea desse dualismo acarretaria, portanto, uma defor- ‘magao da existéncia humana, 12 do que fol dito que uma boa sociedade & fur te capazes de is capazes de supor € boa na medida em que essa minoria penha 23 fung0es importantes. Voe} ‘je pronunciar contra aquilo que considera os ©i © da idade contemporénca. O minora, © 2 so ‘as pessoas tem que ser reconhecida dversidade na capacidade objetiva dc Uma terceita observagdo a ser a de que, de acordo com 0 ponto de nad pel fe iguddate p Sloe: consdracoes de Patio eA mo de nogao cléssica de uma boa sociedade. Tal sociedade nfo pode ser implement ivos. Sua corrupgdo entra nas gndsticas. Voegelin atribui grande valor & opinio de Thomas Reid, de que iste um certo grau de gue “o senso comum constitui € que, portanto, sio possiveis uma possibilidade muito pouco provavel de e' modernas. Nessas sociedades, a psique do indi Jada no modelo de uma personalidade fechads, inteiremente em limites mundanos. Hoje em dia, as capacidades humanas de debate racional esto danificadas pelos padrdes de linguagem predominantes, juntamente pela assimilagz0 do homem no contexto da estrutura ial existente, em que a racionalidade instrumental se transformou racionalidade em geral. Nas sociedades modemas, 0 debate racio- nal s6 € possivel em muito poucos e res faves. Mesmo os chamados meios intelectuais sfo, em geral, incapazes de manter uma conversaeio racional, Voegelin'afirma q 4 fendmeno recente na “perfodo em que o universo da discussio, porque a primeira realidade da existéncia permanecia ni pera P* do que a ivo que ao tempo de Santo Tomas de Aquino 0 ‘debate racional com 0 oponente ainda fosse possivel” (Voe 1967, p. 144), Com base nessa presuncdo, Santo ’ capaz de convencer pages, ¢ especialmente muculmanos, da validez a verdade crist2, apenas com argumentos racionais. Assim & que, na ‘Summa Contra Gentiles, Santo Tomds afima: contra 0: judeus, podemos argumentar usando o Velho Testa: contra os hereges podemos argumentar usando 0 Mas os muculmanos e os pagfos no 2c: 0 outro, Temos, portanto, que recorrer a qual todos os homens sao forgados 3 concordar. que influi sobre todo o dominio da existéncia humana. Quando a via- % apud Sundoz, 19 Apud Vor 18 bilidade e a experiéncia substituem a verdade como 0 eritério de finguagem dominante, hd pouca, se é que hé slguma, oportunidade ‘para a persuasto das pessoas através do debate racional. A racionalida- e desaparece, num mundo em que o céleulo jo de conset cas passa a ser Ginica referdncia para as aces humans, 16 Algwns comientirios criticos Todos esses estudiosos parecem concordar em que, na sociedade ‘moderna, a racionalidade se transformov numa categoria sociomértica, isto 6, € interpretada como um atributo dos processos. histricos © soeiais, ¢ nao como forca ativa na psique humana. Todos eles reconhe- ‘gem que 0 conceito de racionalidade & determinativo da abordagem ‘dos assuntos pertinentes ao desenho social. No entanto, todos eles sfo ‘menos do que suficientemente sistemiticos na apresentagio de suas ‘opinives sobre tais assuntos. Em sua e a da razdo moderna, foram diversas posigdes: resignagdo (Max Weber sineim), inéignagdo moral (Horkhelmes sis) © restarapao (Voegelin) ‘ima vez que foi anterormente epresentada uma avaliacdo de Max Weber ¢ d2 Karl Manheim, cabe agora fazer um répiéojulgt smonto da Escola de Frankfurt © de Voeselin. THA merito tanto nos trabalhos de Hoskheimer, quanto nos ge Habermas, na medida em que se esforcam por demonstrar 0 erro bésico do ponto de vista de Mart sobre a razZo como um aiibuto do proceso Tistorico. Ambos questionariam o pressuposto de que 0 Sesdobrament das forges produtoras, por s 6, conduzica 0 advento dd uma sociedade racional. Horkheimer parece demonstrar que, desde momento em que « razdo € eslocada da psique Insmena, onde deve Gear © € transormida num atributo da sociedad, fice perdida a ponsbidade da cigncia socal Habermas enfatiza a cicunstincie de Uh, nas sociedades industiais wangadas, os, proprias Forgas produto- fos om Ulima andise,sio compulsGes potess modeladoras de toda a 2 Para superar tl condigdo, sugere ele que se abraespaco em sua foneio de orientadores do os das andlses _"processo. Social: Esses ponitos constituem tragos post ‘de Horkheimer e de Habermas. Por outro lado, a obra de Horkheimer no é muito mais do que ‘edade moderna que, conquanto iluminadors, deixa de dizer como e em que direedo caminhar, para que se encon- ‘em altemativas pare os males atuais, teOricos e sociais. Parece que Habermas se preocupa com tais alternativas, mes apresenta-as em cos © bastante sociomérficos. Realmente, 2 por ele exposta (que € me- 19 ‘nos original do que parece, quando se 1é culdadosamente Platéo ¢ 8, assim como Kant), pode servir para identificar a indole jo cientismo. Contudo,, mesmo essa nogio nfo esté inteiramente isenta de cientismo, na medida em que, para Habermas, losofia € absorvida nos tipos triplices de cigncia que propie subjetividade” ¢ de “mitua compreensio”” da realidade que escapam, necessariamente, ao alcance de uma abordagem meramente cientifica Sua “teoria entendids como uma integrapo daquilo encontrados nos trabalhos de Kant, 2, € apresenta-se natureza sociomérfica. Aps iancipaedo humana pode acontecer cor para criar a possbilidade de tal eves marxista de uma esclarecida pritica de mat sobretom sociomérfico no projeto de Habermas, de “uma Habermas, 1973, p. 37), que pro- como uma qualidade coletiva do iando o esclarecimento tem sido sempre i. Nao € por acidente que ‘epenas 20 Goutrina de fo até Embora todos os autores até aqui analisados merecam ser consi dderados eriticos da razio modema, somente Eric Voegelin sustenta gue a razd0 mo ivae mesmo um dade ou da natui condigfo humana, U culados nesses textos como perer 20 nfo esté explicada nesses insights de uma vez por todas, mas a expe- tiéncia da realidade que 0s gerou é paradigmatica. Nenltum esforeo pa. ‘2 compreender # realidade tem o diteito de eliminar os tequisitos ori- tieos de tal tipo de experiéncia, Nao é por acidente que nenhuma defi- figfo de razd0 jamais & apresentada na obra de Voegelin. De modo significativo, 0 trabalho em que mais sistematicamente ele trata desse agsunto intitulase Razdo: a experiéncia clisica,"! e nele Voegelin in- terpreta textos, explora e amplia insights ¢ identifica alguns tragos da fexperiéncia deformada da realidade, através da historia. Todo 0 seu tra- ‘patho constitui uma tentativa de avaliaridéias e acontecimentos do pon ‘to de vista da experiéncia clisica e precisamente nesse sentido, ¢ no ino sentido de Erik Erikson, representa um estudo em psicorhistoria. Pelo fato de que Voegelin parece impor a si mesmo 0 papel de intérprete de textos ¢ de analista de idéias e acontecimentos, 0 contet- 4 prescritivo de seu trabalho €, na realidade, muito amplo, Mesmo seu discurso sobre 2 “nova cigncia da p € desprovido de ‘preocupaedes pragmaticas imediatas. Tem apoio na interpretagdo e na fexpansio de insights cldssicos ¢ no julgamento critico da moderna his- tori intelectual e politica do Ocidente. Parece, porém, dificil de ace tar a nogdo de que a ciéncia politica pode ser exclusivamente formula da apenas em termos assim amplos. Afinal de contas, Plato e Aristé- ‘eles, fontes basicas da busca empreendida por Voegelin, inlusram no tamnpo da cigncia politica aspectos da vide cotidians que eseapam completamente sua atencdo. Nos textos daqueles autores, os crité- fos de agdo para a articulacéo e 0 aperfeigoamento das formas de go- ‘emo existentes sio oferecidos de forms tal que mesmo hoje, com ba: se em seus ensinament | deduzir como se conduziriam ‘para encontrar 0s meios institucionais de superar os problemas dos go- ‘ertios contemporineos. Contudo, as assertvas de Voegelin sobre cién- tia politica deixam o leitor muito bem esclarecido sobre seus funda- entos clissicos, nfo oferecem nenhuma pista para um tratamento ‘operacional de problemas da sociedade contemporanea. ‘Alm disso, a andlise voegeliana da cincia modema carece de ‘uficiente qualificagdo, Por exemplo, nem todas as investigagoes clen- cas de hoje sfo “cientisticas”, isto €, despercebidas do campo part- ular limitado a que pertence a ciéncia natural. Parece que o tipo de nia contido nas investigagées de A. N. Whitehead, Werner Heisen- berg, Arthur Eddington, Michael Polanyi e outros esté extremamente harmonizado com 2 razio no sentido clissico, como seréexplicado no ‘apitulo 2, e talvez mesmo exemplifique um novo grau de diferencia: G0 da consciéncia da realidade, que ocorre atualmente. Com fevers ser dito que, em conversagoes ¢ conferéncias ocasionais, Voege lin demonstrou ter conscigncia desse Fat. FL Veja Voceslin (1974). ‘também, o desprezo de Voegelin pela defi= significado de alguns termos bisicos de seu voca- Duldrio, tals como descarrilamento, kinesis, gnosticismo, texto, teoria, orientagao ¢ psicologia motivacional, compacidade € diferenciagio, Até aqui, termes como estes estdo insuficientemente elaborados nos eseritos de Voegeli, Finalmente, os pontos de vista de Voegelin quanto & citncla po- ica precisam de maior clarificagdo do que as que ele em geral se reocupa em oferecer, uma vez que, da maneira como até aqui esté ar- ‘iculada a materia, algumas vezes aparece prejudicada por um eariter excessivamente restaurador. Nenhum retomo ¢ qualquer forms hist rica de vida humana pode estar contido na idéia de uma restauragdo verdadeiramente criadora dos ensinamentos cléssicos, Tel restauraedo consiste em transformar os pensadores cléssicos, através da apropria. ‘980 daquilo que puderam compreender, em parceiros ativos dos estu- Giosos contemporéneos, em sua busca de conhecimento, A restauragao a heranga conceptual clssica, nesse caso, visa apenas superar 0 esque- cimento dela. Os pensadores cléssicos nzo devem ser considerados at toridades candnicss infaliveis. Afinal de contas, nfo se tem muito a aprender do Aristoteles que justificava a escravidao, mas do Aristote- Jes compativel com a definisio do ser humano como 0 200% pol 1.7 Conckusto Deve ser dito que, a fim de salvar 0 que na moderna cienita so- ial correto, é necessério compreender o cardter precério de seus principais pressupostos, @ saber, que o ser humano ndo é sendo uma criatura capaz do io de conseqiéncias ¢ o mercado 0 ‘modelo de acordo com o qual sua vida associada deveria oxganizar-se. Na verdade, a ciéncia social moderna foi articulada com 0 propéxito erat 0 mercado das peias que, através da historia da humanidade idos. O que agora debilita a validade te sua falta de comproonsio ica da mo- da natureza rico da moderna ciéncis social tem sido a cs sucesso operacionsl e pritico. No entanto, hoje em dia a expansio do ‘mercado atinglu um ponto de rendimentos decreseentes, em termos de beimestar humano. A moderna cigneia social deveri portanto, ser re conheeide pelo que é: um credo, ¢ alo verds 0s resuitados atuais da modernizacfo, tals como a Insegurange logiea, a cesradecfo da qualidade d a exaustio dos limitados recursos do plancta, e assim por di al disfarcam o cardter enganador das sociedades eontemspordness. A autodefinigao das soci pportadoras da razio est tio largamente desacre tals sociedades, exclusivamente & base da tinuard, dentro em pouco, ‘es das organizacSes, Ela prescreve como os seres ‘tdenar sua vida pessoal e social. No decuirso dos ‘ara dominar a natureza, e abmentar& propre copa. ga0. E certo que essa é ume anizacio 4a um cunho normativo geral nna racionalidade funcional. Admitindo como toma de mercado na vida humana, 9 ‘teoricamente incapaz de ofere- BIBLIOGRAFIA i of man. Hudson Review, Winter, 1963/1964 and politics. Burke, K. Definit competence. In: Drietzel. Macmillan, 1970. Massachusetts, Bea- ==. Toward a theory. of communi HP. ed. Recent sociology n@ 2, New Yor Knowledge and human interests. Be con Press, 1971 ory and practice. Boston, Massachusetts, Beacon Press, 23 Hobbes, Thomas, The Englisk works, London, John Bohn, 1839. v1, Ed. Molesworth. — In: Oakshott, Michael, publ. Leviarhan, introd. Peters, RS. Macmillan, 1974, Horkheimer, Max. Eclipse of reason, New York, Oxford University 94 : & Adomo, Theodor W. Dialectic af Enlightenment. New York Herder and Herder, 1972. Husserl, E, Phenomenology and the erisis of philosophy. New York Ko- Jay, Martin. The Dialectical imagination, a history of the Frankfurt School and the Institute of Social Research. Bosion, Massachusetts. Little, Brown, 1973, Keynes, JM. Economic possibilities for our children. In: Essays in persuasion. New York, Harcourt, Brace & World, 1932 Mannheim, Kerl. Ideology and uropy. New York, Harcourt, Brace & World, 1939, Men ont society in an age of reconstruct court, Brace & World, 1940. Parsons, Talcott & Shi, E.A. ed. Toward a general theory of action New York, Harper & Row, 1962. - ae —. Evclutionary universals in society. American Sociological Re- view, June, 1964, i eee Sandoz, Elis. The Foundations of Voegelin’s political theory. The Po- litical Science Reviewer, I; Autumn 1971 7 Voegeli, Eric. The New science of politics, Chicago, Ulinois, Universi ty of Chicago Press, 1952. i —. El Concepto de la “buena sociedad’. Gaasemos det or la Libertad, 1960. Suplemento do n® 40. — On readiness to rational debate. In: Hynold, A., publ. Freedom and serfdom, Dordrecht, Holanda. D. Reidel sy Inds sony in serch of reason zon, R publ, Mord chnology and human destiny. Ann Arbor, Michigan, University of Chicago Press, 1963. ae ee —. On debate and existence, The latercollegiate Reviewer, Mar.) Apr. 1967. spa Reon the cose expetne. The Sothem Review, Spin 1974 Weber, Max. Economy and society. New York, Bedminster Press, 1968. 9.1 New York, Her <= Methodology of social sciences. New York, The Free Press, jogp, Methodology of ‘seit New York, The Free Press, Fy 2. NO RUMO DE UMA TEORIA SUBSTANTIVA DA VIDA HUMANA ASSOCIADA Embora a cigncia social moderns em gerale teora da orgeniza. exo em particular deixem de distinguirsufcientemente entre a raio Sdidade funcional e 2 substartiva, ambas consttuem, no obstante, {atogrias fundamentais de duas concepcdes dstintas da vida humana SSocada E proposto deste capitulo dferencar, analiticamente, essa, diss concepgbes etal exploragdo tomase agore imperative, porgue as, fborles da onanizacio « do desenho de sstomas soins, exclusiva rnente baseadss na conceped0 mocerna de ra2G0, s¥0 de a 6a azo 1906 {ida no eapitale 1, € também necesirio comegar esta Max Weber Poderse-d afirmar que quando Max Weber decdiu carcterizar a rasdo modem estava agingo como um historiados. Em lugar de ado far uma posigfo substitutiva em laeso 2 raedo cissica, como fer Hobbes, Max Weber implicitamente advertia que, nos tempos moder fs um aovo significado estava sendo atcbufdo & palavra taro, No afastov, como um anacronismo, o significado anterior de razdo, Na fedlidade, Weber, como Hobbes, desejave um tipo de eitncia s inteicamente comprometido com uma taefs peculiar ama deter faa Epoca, Mas, 20 fazer a dstingao entre Zweckrationalit (racion Idade formal Wlererationaitat (racionalidade sutstantiva)Sugriaele {que 08 ama, ou a outta, poder sent de rferéncia para aelaborasio ‘Pore. No éntanto, escalbeu desenvolver um tipo de teoria basendo, Sebretudo, na noZo de racionalidade funcional. Embora o respaldo ‘iogrtice« histrico da escolha de Weber pudesse constiturinteres- fanie-¢ importante materie para investigagdo, iso estaria além do pro posto deste capitulo, Ndo obstante,ofereco 8 especulagdo a idea de fue uma teoria substantiva podesa ser formulade com bese naqulle que Weber no disse, mas que provavelmente diria se tivesse vivido tus presents circunstanciashistrias “hrgumenta Max Weber que, embora a ciénca social ej neutra, do ponto de viste de valor, os valores adotados por uma sociedade sfo, es propsos,critérios indicadores daqueles pontos que s4o importan- 3s na associada, durante ado as premissas ‘duo pudesse racional.! recusouse a a. Hoje, Hobbes e de Weber por de cipal categoria de analise. Tal teoria é formal quando a razo, no sentido funcional, é sua * Bric Voegetin ¢ Le neuiralidade de yal (1982, . 26 ‘principal categoria de andlise. Na me fentendida como uma categoria ordenat fer uma teoria normativa ‘especifico. Na medida em que 2 argo funcional £ apenas fo, ou uma elaboracio logica, 2 teoria formal ¢ uma teoria nominalista de tipo especifico. Os concet 108 da teorla substantiva sfo conhecimentos derivados do e no proces. 30 de realidade, enquanto os conceitos da teoria formal sfo apenas instrumentos convencionais de linguagem, que descrevem procedimen- tos operacionais. A pergunta: Que é a racionalidade? que requer aten- ‘40 direta no domfnio da teoria substantiva, ndo tem papel a desem- penhar no dominio da teoria formal. Aqui a pergunta é, de preferén- ia: Que € que chamaremos de racionalidade? A pergunta seria respon- por uma afirmago em que uma combinago de ssencialmente, a referéncia para os objetivos da em que e razio substantiva 6 teoria substantiva passe a Segundo, uma substantiva da vida humana associada € algo que tempo e seus elementos sistemiticos podem ‘set encontrades ns trabalhos dos pensadores de todos os tempos, pas- .dos e presentes, harmonizados 20 significado que 0 senso comum ipregado ‘mental, resultante da 008, € de que é 0 debat fuja esséncia de para o suporte de sen conjunto. ‘A propésito, aquilo que 0 campo ds economia e, camente, 0 campo da antropologia econémica como send ra? € apenas subsidiario atual debate entre economistas que professam de wy Polanyi, fundad conceites formal melhor des hipote formulagao dos regulapdo. politica. Os adeptos da teoria econdmica formais alegam que aqueles conceitos formals. sfo. universalmente vilidos. Polanyi corretamente afirma que, uma vez que 2 economia sempre esteve “ongastada na sociedade"* a sociedade capitalista tem que ser enten- ida como um caso excepcional © ngo.como um padrao pare avaliar a historia sovial e econémice, O fato de que essa observacZo serve para elucidar um tipo de abordagem ¢, ele proprio, indicador de peculiar condigGo hist6rica. Os te6ricos politicos da fase prémodema no » Porque nunca estiveram expostos a semelhante condicSo. Contudo, queria dizer. a mesma coisa que Polanyi, quando estipulavam que a vida gregiria do homem precisava ser politicamente regulada, A terceia ¢ tltima qualificagdo ¢ a de que a teoria substantiva tal como aqui coneebida, envoive uma superordenaco ética da teoria, politica, sobre qualquer eventual disciplina que focalize questées da Vida humana associada, A fim de esclarecer analiticamente a teorias, € necessaria uma explicagdo das assortivas apresentadas no. quadro 1, A discussdo delas encerra o item restante deste capitulo, 2.1 A moderna transavaliaggo do social A ciéncia social modema no poderia ter sido constitu que 0 elemento politico na vida dos povos fosse reformulado e classi- ficado sob 2 égide dos interestes sociais.* Para 0 propésito de ilustra- ‘G0 desse ponto, tem-se que considerar 0 ensinamento dos pensadores cléssicos. Na realidade, eles nunca imagineram a socialidade como uma ‘ondigz0 peculiar ao hiomem, mas sim uma condigdo que ele pertihava com outros animais.® Os pensadores clissicos estavam preocupados com aquela caracteristica do homem que fez dele uma criatura sui generis, que_néo se inclu: completamente no roino natural, ¢ reconhe- cian que essa caracteristica ¢ a percepedo que o homem tem da ativ dade da razdo em sua psique. Pelo exercicio da razo, e vivendo de acordo com os imperativos étiéos dessa razao, o homem transcende a condigdo de um ser puramente natural ¢ socialmente determinado, ¢ se transforma num ator politico. A definiczo que Aristoreles deu do 0 encaite da economia ni Karl Polanyi, Veja Dalton (970), ed fe & uma ds ils mals abrangentos de § Sobre © processo his 19603 © sobre Arndt 8 19 da sublimerdo do elemento patitico. eja Wolin Itansavalicio da socialdade ¢ 0 pensamento politico clésico, 938) inne Quadro L ‘Teoria da vida humana associada Substantive 0s sitios para a otdenagio das associages humanas si0 Formal evidentes por st mesmos ao sense comin individual, indopendentemants de qualquer processo part ‘lar de sociaizagbo taclonais, isto 6 a tegulagio Una condigfo fundamental da orden social politics da economi 1 4, 05 eritsios para ordenagdo. das assciagsies humanas so ‘dos socialmente Uma condigéo fundamental da oxdem social é que a econo ria 36 transforme mum sistema aute-epulodo 1 a Brestudo vientiticn dav asociagSes humane & normative m © estado clentificg das assoeigSes humanas é tive do ‘onccit de lor: hd uma dicotornia entre valores fetos i i entre valores e fates falsa, na pecs, c, em A dicoto WV. AchisiGtla tornase sig ianlise dfectiva ‘ate para © homem atraw’s do ‘tuosinterpeetagio. dx comani pods ser captado polo conhecimento, IV. 0 sentido da hist métado patadigiitico ‘que se revela através de uma sie de determinados estados Empfrco-temporais captado por ‘ve ade orgunizids, Seu sentido associngies humanas é sadequado das tim tipo de investigacio em si mesmo, distinto da c los fendmenasnaturas,e mais abrangetite que esta tategorisssorialstas de pensamento V. 0 estude clsat focalizagao de todos os assuntos ¢ questOes suscitados pela realidad A ciincia natural fornceeo parsigma ts v. khomem como um “animal dese entendimé Aristteles eo pensedores clisscos, em geral, concebiam a socilidade como uma qualidade do bando, indigna do homem pol- tico, No dominio politico, o homem & destinado a agi por si mesmo, como um portador da raefo no sentido subst 0 social, 20 Contririo, « preocupasio com a vide" prevalece, ¢ cle age como uma criatura “que eek 0 6, como umn agente ecor nomico. A razio, no sentido de uma habiidade “calculadora” também ¢ inferida por Aristoteles na Politica e na Erica a Niedmaco, E exigida para a administraZo dolar (otkos), onde o bemeestar ~20n6- rico do grupo determina qual o curso de agdes que devern ou ndo devem ser tomados. Esse tipo de conduta social ¢ limitado a seu pré- prio enclave. Ndo faz parte do dominio politico, em que 0 posse manifestar seu interese pela expansfo do bom cart conjunto,e ndo simplesmente pela sobzevivenci E claro que Arstoteles tinha a pereepedo de que 0 modelo da melhor forma politica de vida, aberto 20 comando integral da razZ0 8 poderia ser conseguide ist por aca. Sabia que nenhuma comunidade politica e da influgneia solapedora dos i ico" (zoom politikon) s6 & compreens hhumanas, ndo existe nenhuma vida p Para muitos, a cigncia social 6, no mode lo. Por ora, & suficiente assinalar que a propria ici ciéneia social afirmada com base na prosungdo de que o ind fundamentalmente um ser social, ¢ que dema pressupde que 2 soviedade, ao desdobrar-se como ume associa ‘edo puramente natural, gera os padrGes da existéncle humana em seu conjunto. Essa transavaliago do soci Social € resultado, ccomeu nos trés iltimos séculos da Ocidente. E Hobbes quem, sistematicamente, prepara o caminho paca essa transavaliag30, a0 atacar 0 ¢o! ‘comumn € a0 propor alternativas para esse conceito. No momento em wumano é reduzido ¢ uma criatura que calcula, é para ele Gistinguir entre vicio e virtude. A sociedade tomase, entGo, o seu tinico mentor e, ndo surpreendentemente, padecimento é ‘equiparado 20 mal, ¢ 0 prazer ao bem, Uma das mais notéveis documentagdes da confusdo do homem. ocidental, no momento culminante da transavaliagdo do social, ¢ The 30 Fable of the bees, de Bemard Mandeville (1714), publicada primeiro sob a denominacdo de The Grumbling hive (1705), Em 1723, ele pudlicou A Search into the nature of soctery, um ensaio que € uma justficagfo tebrica de sua fabula. Mandeville comparou a sociedade ~ fem particular a sociedade britanica de seu tempo ~ com uma colmeia. Podese resumir 0 argumento bisico de seu trabalho da maneira Seguinte: se 0 social se transforma no.critério, que abrange tudo na a ana, ent os vicios, 0 orgulho, 0 egois- ahipoctisiae a injustiga passam virtudes. Embora sugira que a vistude esté além da capacidade humana, Mandeville pode ser considerado um moralista maigré li, se sua fébula for interpretada como retratando as conseqiéncias, para a cexisténcia humana em seu conjunto, da isengZo da sociedade da regu lagdo politica. A ambighidade do pensamento de Mandevile em gran- de parte explica por que, por vias sutis ¢ contreditérias, exerceu cle influgncia sobre eminentes escitores¢ filésofos de seu tempo, incluin do Adam Smith, que, porém, epudiow a influéncia de Mandeville.” Nflo € por acaso que 2 idéia de uma ciéncia social obcecou os {lésofos escoceses na Inglaterra, durante o século XVIII. A nocéo de ciéncia social permeia 2s especulagdes sobre a natureza humana ¢ 0 fendmeno institucional, empreendidas por Adam Ferguson, David Hume, Francis Huicheson, Lorde Kames (Hemy Home), Lorde Monboddo (James Burnet), Adam Smith e Dugald Stewart." Por mais que esses homens fossem diferentes em idéias¢ talento, apesar disso ‘eram Jeais a uma certa comunho de premissas e uma delas era a de que a cincia social poderia ser possivel como o estudo da razio de sociedade. Para a maior parte deles, a razdo era uma caracteristica da sociedade, mais do que do individuo. Consumaram a sublimagao da azo, no sentido de que esta jé no mais precisava ser concebida através da mediacdo do individuo, mas como algo cognato a sociedade @ A natureza, Todos eles concebiam leis racionais governando a sdcie dade e a natureza, apesar do fato de concordarem em que as paix6es, © no a razio, € que conduziam o ser humano 4 acdo. Atribui-se, geral- mente, a idéia da mao invisivel & Adam Smith, mas na verdade foi ela superida nos trabalhos desses homens. A atividade dessa “mo” mani- festase na sociedade e na natureza e papel da cincis & descobrire ‘ordenar a maneira como isso acontece. Por exemplo, Hutcheson, amigo © professor de Adam Smith, escreveu em 1728 sobre uma “mao superior”, como uma forga providencial, que afeta tanto os seres Iumanos quanto os animais, através de seus 52 31

You might also like