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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Saúde - CCS
Curso de Psicologia

AV2 Psicologia Social


Larah Nunes
2115122

Análise do documentário:

O documentário é uma produção que instiga o debate sobre a política de cotas em


universidades públicas. O vídeo é uma montagem com cortes de diferentes eventos.
A direção e roteiro do vídeo são de Dulce Queiroz e a produção é de Pedro
Henrique Sassi e Pedro Caetano. No documentário há basicamente duas posturas
em relação a política de cotas raciais e que são confrontadas em debate: os que se
declaram a favor das cotas e os que se declaram contra. Um e outro tentam
justificar suas opiniões e posturas, mas em torno do acalorado debate há um retorno
às discussões sobre raça (termo já em desuso nos meios científicos).
O processo seletivo da Universidade de Brasília (UnB) aderiu ao sistema de cotas
raciais desde o ano de 2004. Das vagas ofertadas, 20% se destinam aos
afrodescendentes. A medida é polêmica e divide a opinião de várias pessoas. A
questão está longe de ser um consenso e no ano de 2009 o partido político DEM
pediu o fim das cotas raciais, os conflitos se intensificaram e houve interferência do
Supremo Tribunal Federal. No documentário é possível vislumbrar diferentes
posicionamentos sobre a política de cotas nas universidades brasileiras. Desse
modo, reúne o comentário de diferentes especialistas e áreas como, por exemplo,
representantes de direito constitucional, da área de bioquímica médica, co-autor do
projeto de cotas da UnB. O assunto não segue uma única linha de raciocínio, o que
contribui para relativizar os argumentos. Assim, o tema é explorado por estudantes,
professores, reitoria, políticos e representantes de grupos afrodescendentes.
A discussão no vídeo sobre a política de cotas nas universidades traz à luz velhas
questões sobre preconceito, reparação histórica, políticas afirmativas, etc. não
exigindo conhecimento prévio sobre o tema, no entanto fomenta no telespectador
um posicionamento sobre a temática. Embora o debate sobre a abertura de
propostas de educação para a população negra no Brasil, tenha sido o pontapé
inicial para alargar as discussões, não há uma conclusão final sobre o assunto,
ficando a discussão aberta para suscitar novos debates mesmo após a expansão do
sistema de cotas por mais de 90 instituições de ensino desde o ano de 2009.
Mesmo se tratando de um documentário que não apresente uma conclusão
definitiva, no final do trabalho há comemorações dos avanços políticos que são
comemorados pelos grupos defensores das cotas em meio às articulações de ideias
e lutas.
O modelo teórico indicado no documentário faz menção a discussões anteriores
sobre o tema, dentro e fora da universidade. O estado de problemas que o tema
envolve rediscute a racialização e igualdade racial, características fenotípicas,
autonomia das universidades e outros temas que são referenciados no
documentário. No caso específico da UnB, o contexto de discussão foi ambientado
nas reações sobre o caso do estudante Ari, que em 1999 conseguiu ingressar no
programa de doutorado em Antropologia da universidade como o primeiro aluno
negro a alcançar essa faceta nos últimos 20 anos – o caso teve grande repercussão
nacional.
O procedimento encontrado para discutir a questão racial foi a produção audiovisual
de diferentes eventos que perpassa desde as discussões acadêmicas, a publicação
do livro do sociólogo Demétrio Magnoli, as posições políticas de deputados(as) e
aprovação do Estatuto da igualdade racial. O documentário se propõe a ser um
canal de divulgação no contexto das discussões sobre a população negra na
câmara, nas academias, nos movimentos de lutas e resistências, mas também
expõe o grau de envolvimento das pessoas e instituições do país. O mérito desse
tipo de mídia pode ser atribuído ao fato de desvelar o mito da democracia racial
assinalando a mudança de perspectiva e também por levantar questionamentos de
suposta harmonia entre negros e brancos como quer a democracia racial.
Denunciam novas formas de segregação racial focalizando as desigualdades
sociais entre negros e brancos. Desse modo, o documentário procura desnaturalizar
o preconceito ao propor caminhos e soluções no interior das instituições assim
como no cenário político por meio de implementações de leis. A criação do sistema
de cotas é parte de uma política afirmativa com vistas a incluir considerável parcela
da população brasileira que historicamente não tiveram a mesma igualdade de
oportunidades, pois como se sabe a Lei áurea foi um marco sem força. A partir da
revisão radical procura elucidar questionamentos e interpretações sobre o que seja
povo brasileiro.

Apesar das ideias apresentadas no vídeo configurarem problemas já bem


conhecido e amplamente debatido nos meios universitários, sua abordagem se
revela pertinente e inovadora. De maneira abreviada e prática o documentário
discorre sobre o sistema de cotas (um tema omitido por uns e abrangido por outros),
sobretudo relativizando as diferentes formas de pensamento. Há clareza e
compreensão nos debates, sendo possível precisar o valor que cada um confere a
temática. Também há coerência com o que o documentário se propõe a explanar
desde o início do trabalho. Apresenta o conteúdo de forma equilibrada,
desapaixonada e dispondo as partes envolvidas. Utiliza uma linguagem simples de
fácil compreensão contribuindo para seu maior alcance de público, em geral
estudantes e especialistas, mas também leigos e ativistas.

Como se constitui o preconceito:

Evidentemente, toda experiência é medida por conteúdos pré-formulados, mas ela


serve para reformular o conceito previamente formado. Quando isto não ocorre é
porque existem conflitos psíquicos que se beneficiam da manutenção de uma
conceituação rígida e fechada à realidade externa.

A não necessidade de contato com o objeto do preconceito para que este surja
mostra que ele pode se dar sem conexão nenhuma com a realidade, mas assim
lemos de supor que os estereótipos apresentados no preconceito ou são produções
individuais ou são produções culturais; como a sua expressão em geral é coletiva,
ou seja, se repete da mesma forma em diversos indivíduos, podemos deduzir que
os individuos se apropriam de algumas representações culturais para que, junto à
hostilidade dirigida ao objeto, configurem o preconceito.

Assim, o preconceito se caracteriza por um conteúdo específico dirigido ao seu


objeto e por um determinado tipo de reação frente a ele, em geral, de
estranhamento ou de hostilidade. Ao conteúdo podemos chamar de estereótipo,
cujo significado inicial pode ser remetido à máquina de reproduzir tipos utilizada pela
imprensa, que deve portanto reproduzir fielmente as letras, mas que passou a
ganhar o sentido também daquilo que é fixo, imutável. No caso do preconceito, e
neste último sentido que ele deve ser entendido.

O estereótipo compõe-se de uma série de predicados fixos que são atribuídos ao


objeto, mas há um principal, do qual os outros são derivados. Assim, o intelectual é
visto como alheio ao que ocorre com o mundo material, tem pouco interesse por
atividades esportivas, é pedanle, julga-se o dono da verdade etc. O predicado
principal é, no exemplo, ser intelectual, que, no caso, deriva da própria divisão social
do trabalho. Obviamente, aquele que é designado por esse termo tem outras
qualidades não derivadas e não associadas a ele: é homem ou mulher, religioso ou
ateu, esportista ou não, que são eliminadas quando o rótulo aparece.

O estereótipo retira o seu predicado principal e os derivados de distinções


estabelecidas pela cultura entre sexos, ocupações, doenças, raças, povos, religiões,
idade etc. e assim, de alguma maneira, as classificações culturais colaboram com
ele. Mas não é somente com a nomenclatura que a cultura contribui, ela atribui
também juízos de valores às suas distinções. Assim, historicamente o trabalho
inleleclual lem sido mais valorizado do que o trabalho manual; o sexo masculino tem
sido considerado mais adequado ao trabalho na esfera pública e o sexo feminino ao
trabalho doméstico; os deficientes são desvalorizados por não poder participar da
construção e da manutenção da sociedade; as raças e os povos que adentraram
posteriormente na civilização ocidental são discriminados frente à raça branca dos
povos europeus, e assim por diante.

Segundo Allport (1954) o preconceito é o resultado das frustrações das pessoas,


que, em determinadas circunstâncias, podem se transformar em raiva e hostilidade.
As pessoas que se sentem exploradas e oprimidas freqentemente não podem
manifestar sua raiva contra um alvo identificável ou adequado; assim, deslocam sua
hostilidade para aqueles que estão ainda mais “baixo”na escala social. O resultado
é o preconceito e a discriminação.

Já para Adorno (1950), a fonte do preconceito é uma personalidade autoritária ou


intolerante. Pessoas autoritárias tendem a ser rigidamente convencionais.
Partidárias do seguimento às normas e do respeito à tradição, elas são hostis com
aqueles que desafiam as regras sociais. Respeitam a autoridade e submetem-se a
ela, bem como se preocupam com o poder da resistência. Ao olhar para o mundo
através de uma lente de categorias rígidas, elas não acreditam na natureza
humana, temendo e rejeitando todos os grupos sociais aos quais não pertencem,
assim, como suspeitam deles. O preconceito é uma manifestação de sua
desconfiança e suspeita.

Há também fontes cognitivas de preconceito. Os seres humanos são “avarentos


cognitivos” que tentam simplificar e organizar seu pensamento social o máximo
possível. A simplificação exagerada leva a pensamentos equivocados,
estereotipados, preconceito e discriminação.

Além disso, o preconceito e a discriminação podem ter suas origens nas tentativas
que as pessoas fazem para se conformar(conformidade social). Se nos
relacionamos com pessoas que expressam preconceitos, é mais provável que as
aceitemos do que resistamos a elas. As pressões para a conformidade social
ajudam a explicar porque as crianças absorvem de maneira rápida os preconceitos
e seus pais e colegas muito antes de formar suas próprias crenças e opiniões com
base na experiência. A pressão dos colegas muitas vezes torna “legal” ou aceitável
a expressão de determinadas visões tendenciosas – em vez de mostrar tolerância
aos membros de outros grupos sociais.

Como minimizar o preconceito:

O governo vem adotando políticas afirmativas para promover a inclusão social dos
segmentos mais vulneráveis da população: seja por meio de cotas raciais,
benefícios assistenciais, valorização e promoção das diversas culturas existentes no
Brasil, dentre outras ações.

Contudo, é preciso que se desenvolva uma cultura de valorização da diversidade, a


começar pela Educação. A escola deve desde cedo levar os alunos a compreensão
das semelhanças entre os seres humanos e a diversidade existente em cada um
deles, mostrando que todos somos semelhantes e ao mesmo tempo somos únicos e
por isso, temos as nossas diferenças. Ao trabalhar a diversidade em sala de aula, é
preciso desenvolver um olhar empático, em todos os aspectos, do aluno aos
colaboradores, entre os educadores e as famílias.

É preciso, igualmente, fomentar o convívio com a diferença dentro de casa. Afinal,


de nada adiantará a criança ter lições de respeito a diversidade e não viver isso em
seu dia a dia. Leve seu filho para conhecer instituições que realizam trabalho com
pessoas com deficiência ou mesmo orfanatos. Leiam juntos livros sobre inclusão
social e busque debater o assunto sempre de forma positiva. No ambiente de
trabalho, é preciso aceitar e respeitar as diferenças, buscando dar a todos
oportunidades iguais para crescerem.

Todos nós, como cidadãos, precisamos fazer a nossa parte na luta contra o
preconceito. Assim, construiremos um Brasil mais justo e que preze pela igualdade.
Lembrando que a igualdade não significa que as pessoas tenham que possuir as
mesmas características, mas expressa que todos têm o mesmo valor.

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