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A CRIANÇA E A MORTE

A CRIANÇA DIANTE DA MORTE

• Questões relacionadas a vida e a morte estão


presentes para a criança;
• Ela tem uma aguda capacidade de observação e
quando o adulto tenta evitar falar sobre o tema
da morte com ela, a sua reação pode ser a
manifestação de sintomas;
• Elas percebem fatos que lhe são ocultados,
embora possam não expressá-los verbalmente, os
seus conhecimentos aparecem em seus jogos,
desenhos ou outras formas de expressão.
A CRIANÇA DIANTE DA MORTE

• “Ao não falar, o adulto crê estar


protegendo a criança, como se essa
proteção aliviasse a dor e mudasse
magicamente a realidade. O que ocorre é
que a criança se sente confusa e
desamparada sem ter com quem
conversar.” (Kovács, 1992)
A CRIANÇA DIANTE DA MORTE

• “A criança que vivencia uma situação


relacionada à morte, seja a possibilidade
de sua própria morte, ou mesmo a perda
de pessoas queridas, mantém impressa em
seu psiquismo, registros e emoções a esse
respeito. A maneira como ela organiza e
expressa sua compreensão e seus
sentimentos está relacionada ao seu
desenvolvimento afetivo e cognitivo.”
A CRIANÇA DIANTE DA MORTE

A criança vai entender a morte de


acordo com sua cognição.

Crianças com menos de três anos,


não compreendem a morte como
definitiva.

As vivências também vão


influenciar nessa compreensão.

A internação é para ela uma


punição. Sua maior preocupação
são os procedimentos e a dor.
Compreensão cognitiva da morte

três anos as mais curiosas começam a ter outra


percepção da morte.
 Morte na televisão o tempo todo.
 Morte de um animal de estimação.
Porém, a morte é reversível, temporária
Compreensão cognitiva da morte
Entre 03 e 04 anos

Ela acredita que seu pensamento pode influenciar os acontecimentos


externos. Ex. Desejar a morte de alguém e essa pessoa vir a falecer.

Pode causar sentimento de culpa em relação a morte de alguém


como, irmão, pai, mãe e etc.

Nessa fase ela pode esperar pela volta da pessoa morta. Ela conhece
a palavra ‘morte’ mas desconhece suas implicações.

Por não terem ainda habilidade para se comunicar verbalmente


reagem fisicamente ao luto por outros meios: enurese, perda de
apetite, distúrbio de sono e vulnerabilidade a infecções.
Compreensão cognitiva da morte

05, 06 anos começa a emergir o entendimento sobre a morte.


Porém, essa não é considerada como um evento natural e não
é compreendida no seu caráter irrevogável.

Ela própria não morrerá Só morrem os velhos

O aspecto de separação presente na morte é percebido por


volta dos 5 anos preocupa-se com a solidão que as
pessoas sentem com a morte.
Nessa fase a criança percebe a perda da mobilidade da
pessoa morta, mas pode ainda não entender que ela não vê,
sente ou ouve.
Compreensão cognitiva da morte

Por volta dos 07 anos começa a compreender o conceito


real de morte e suas prováveis causas, é comum nessa fase
questionamentos sobre a morte.
Antes dos 7 anos atribuição de vida a coisas inanimadas

Por volta dos 7 anos que ficam claros os conceitos de ‘vida’


e ‘morte’.
Compreensão cognitiva da morte

Por volta de 8 , 9 anos, a criança percebe que a mortalidade se


aplica a ela também.

Eu posso morrer

Entre 5 e 10 anos são comuns os distúrbios emocionais e


comportamentais em relação ao enlutamento:
Recusa em ir à escola;
Roubo;
Comportamento agressivo;
Depressão;
Falta de concentração.

Essas reações podem acontecer até um ano depois da morte


Compreensão cognitiva da morte

10 anos a criança consegue ver a morte como o fim da


experiência na terra e, consequentemente, como um processo
irreversível, tendo condições de compreender o sentimento da
perda de um ente querido.

11, 12 anos compreende a morte como uma condição


humana e não como uma punição.
O pensamento do pré-
adolescente e
adolescente é mais
flexível e capaz de
abstrações, podendo
construir suas próprias
teorias sobre morte e
vida.
Atitudes que contribuem para facilitar o luto da criança

 Investigar as experiências prévias das crianças com morte na


família.

 Se o ente querido estiver doente, e não houver nenhum


impedimento, não afaste a criança.

 Não demore a contar para a criança sobre a morte da pessoas


amada. Quem deve contar???
Prestar informações corretas e responder às perguntas de
forma clara e honesta.
 Usar uma linguagem que facilite a compreensão. Evitar o
uso de linguagem metafórica e conceitos religiosos, mas acolhê-
los se introduzidos pela criança.
Atitudes que contribuem para facilitar o luto da criança

 Cuidado com as palavras: “foi para o céu porque era muito


bom”, “está dormindo”, etc.
Não deixe que ela tenha sentimento de culpa quando
estiver sorrindo, permita que ela continue sua vida.
Permitir que a criança participe dos rituais, não a isole.

 Garantir às crianças o direito de escolha entre irem ou não


ao velório e de nele permanecerem o tempo desejado ou
suportado.
 Oferecer à família a alternativa de utilização de um espaço
físico e psicológico adequado para acolhimento das crianças
e, consequente liberação dos adultos para permanência no
velório sem a incumbência de cuidado das mesmas(Deve ser
combinado antes).
Devemos lembrar que:

Vivenciar o luto é um processo importante para a criança e


pode ser expresso de diversas formas, como o choro, fala ou
produções como o desenho e a escrita.
Dar notícia do falecimento à criança deve ser feito de modo
seguro.
A verdade deve ser contada, expressando o seu próprio
sentimento de dor junto com a criança, pois se trata de um
momento muito difícil para todos.
A morte desorganiza, deprime, mesmo assim, é importante
lembrar que o luto tem começo, meio e fim.
Nesse processo, a dor que se sente por ter perdido algo ou
alguém deve “transformar-se em lembranças saudáveis para que
possamos buscar novos sentidos para continuar a vida.
Crianças destituídas de oportunidades de vivenciarem um
luto de forma saudável podem apresentar comportamentos
compensatórios que irão influenciar toda sua vida, como
queda no rendimento escolar e dificuldade nos
relacionamentos.
(Torres,1999, p. 124)
Ao permitimos que as crianças continuem no
lugar onde ocorreu a morte e participem das
conversas, colocando seus medos e suas
angústias, irá fazer com que essas crianças não
se achem, nem que pensem que é necessário
sofrer no silêncio e na solidão.
É uma preparação gradual, esse comportamento
a ajudará a encarar a morte de forma melhor no
decorrer de sua vida, sendo essa uma
experiência que irá ajudá-las a crescer e
amadurecer.
(Kubler-Ross, 1981, p.10)
Adolescente e morte
Adolescente

Várias possibilidades.

Queremos tudo ao mesmo tempo.

Angústia

É natural na vida desejar muito,


buscar intensamente, querer tudo.

Descobrir que existem limites


Adolescente e morte

Mudaram as estações,
nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa
aconteceu,
Está tudo assim, tão diferente,
Se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber, que o pra sempre,
sempre acaba

Por enquanto (Renato Russo)

Nessa fase, toda energia é voltada de forma muito intensa


para a vida.
Adolescente e morte

Cognitivamente ele Emocionalmente ele não


percebe a morte como está preparado para lidar
irreversível e universal com a morte

Ritual de passagem vivência de luto


Adolescer
Mudanças físicas
Tornar-se pessoa(aquisição da
identidade); A suposição da
imortalidade está
Alteração de humor;
muito mais
Sonhos e ideais; presente no
Ser forte e ter poder; adolescente
Amor e paixão.
“ Todo mundo vai morrer, então o melhor é aproveitar a vida”

Aproveitar a vida ≠ Desafiar a morte


Abuso da velocidade;
Uso de drogas;
Violência
Relações sexuais sem proteção;
Colocar a vida em situações de risco.

Nem todos os limites podem ser vencidos

A morte é o nosso maior limite


Dezesseis (Renato Russo)
80% de todas as
E os motores saíram ligados a mil mortes entre
Prá estrada da morte o maior pega que existiu; adolescentes são
Só deu para ouvir, foi aquela explosão por acidentes,
E os pedaços do Opala azul de Johnny homicídios e
pelo chão
suicídios.
No dia seguinte, falou o diretor:
"- O aluno João Roberto não está mais
entre nós;
Ele só tinha dezesseis,
Que isso sirva de aviso prá vocês"...

Johnny era fera demais


Prá vacilar assim
E o que dizem é que
foi tudo por causa
de um coração partido...
O luto do adolescente

Na adolescência a necessidade de não transparecer qualquer


tipo de afetação provocada pela morte é bastante intensa.

Os adolescentes tendem a viver a morte de forma


introspectiva e denotam maior dificuldade em expressar
emoções, mesmo em situações na qual se sintam protegidos.

Normalmente, os familiares comentam que parece que não


aconteceu nada; dizem não perceber o que ele está sentindo
e insistem com o adolescente no sentido deste falar ou
mostrar o que sente.
O luto do adolescente

 A experiência da morte na infância e na adolescência pode


assumir consequências dramáticas no desenvolvimento de
uma criança ou adolescente por isso deve ser devidamente
acompanhada.

 Além de um suporte social forte e positivo, pode ser


necessário o auxilio de um Psicólogo.

 Deve-se ter como referência todos os comportamentos


considerados normativos, para se perceber a intensidade e
frequência dos mesmos, de modo a que se possa concluir
pela sua função adaptacional ou disfuncional.
Possíveis reações à perda

Raiva contra a pessoa falecida, amigos, professores e até


contra si mesmo;
Confusão mental e desatenção;
Queda da auto-estima;
Desinteresse pelos amigos, pelas atividades escolares e pela
vida;
Pessimismo e sentimento de culpa;
Ansiedade e crises de angústia;
Solidão e fadiga;
Agressividade e uso de drogas e álcool.
CRIANÇA EM EMINÊNCIA DE MORTE

Criança Saúde, alegria, crescimento e futuro.


Verdades
A criança também morre.
Essa morte suscita bastante ansiedade e medo.
Para a criança, a morte representa separação do corpo,
perda dos pais, irmãos, familiares e amigos.
Medo de ser esquecida.
Ela quer que o adulto lhe diga a verdade.
Ela tem compreensão da sua terminalidade.

Acontece um sentimento de culpa


consciente ou inconsciente: pais criança.
Processo de compreensão da condição de mortalidade, e
enfrentamento da própria morte pela criança.

Clunnies-Ross e Landsdowne (1988) descreveram os estágios


que indicariam o grau de consciência sobre morte que tem a
criança doente. Estes estágios, traduzidos na percepção da
própria criança, são:
1- Estou muito doente.
        2- Tenho uma doença que pode matar as pessoas.
        3- Tenho uma doença que pode matar as crianças.
        4- Posso não melhorar.
        5- Estou morrendo.

Estes estágios de percepção da morte estão relacionados à


habilidade verbal da criança. Por volta dos 8 anos 100% das
crianças já acreditam na própria mortalidade, enquanto que
aos 5 anos apenas 50% delas têm essa consciência.
Criança em eminência de morte
Medo da morte desconhecido angústia e sofrimento.
Soma-se ainda o Medo da morte
sofrimento causado
pelo tratamento e Medo do desconhecido
pelas separações Angústia e sofrimento
freqüentes das
pessoas da família,
quando é necessária
a hospitalização.
Câncer
 O momento do diagnóstico é a primeira situação de crise
vivenciada pela criança e pela família;
 A perda da saúde provocada por uma doença grave, gera
angústia, medo de morrer e e estado de confusão mental;
 Demanda algum tempo até que a criança consiga
mobilizar recursos internas e externas para se adaptar a nova
condição e a realidade hospitalar.

Diagnóstico Grandes alterações na família.

Tempo de catástrofe
Incertezas
Angústia diante da possibilidade da morte
Quais as possibilidades de atuação com a criança em
proximidade da morte?

O desejo dos pais deve ser levado em conta quanto ao que


deve ser informado à criança sobre doença, e principalmente
sobre o agravamento dessas condições.

Os profissionais de saúde devem pedir permissão dos pais


para abordar tais questões com a criança;

O mais recomendável é que os próprios pais o façam;

É melhor para a criança doente, ouvir notícias ruins dadas


por uma pessoa que ela conheça, ame e confie.
Esta situação é aterrorizadora para todos os envolvidos e
torna-se ainda mais difícil quando os pais apresentam
dificuldades de ordem emocional para falar com seu filho,
especialmente quando a criança pede informação, direta ou
indiretamente.
Comunicação

Kubler-Ross (1983) afirmou: “Embora todos os pacientes


tenham o direito de saber, nem todos têm a necessidade de
saber".

A criança pode fazer perguntas diretas e repentinas,


surpreendendo os pais que, desprevenidos, ficam sem
saber o que dizer. É importante estar preparado e levar
alguns aspectos em consideração:
O que a criança já sabe;
O que ela suspeita;
O que ela quer realmente saber.

Este último aspecto é crucial, pois é o sinalizador do que,


quanto e como podemos lhe oferecer em informação.
Aspectos importantes a serem observados na comunicação

O papel dos pais como modelos na determinação da


resposta à criança sobre as questões da doença e do morrer,
esse modelo tem papel predominante.

Há crianças que se preocupam muito com o impacto que


sua doença causa nos pais e como sua morte irá afetá-los.

Resistência diante de más notícias: criança é mais forte


que os pais diante do agravamento de seu estado e da
proximidade da morte.

Deve ser respeitado o direito da criança em saber a


verdade sobre seu estado.
Aspectos importantes a serem observados na comunicação
 Ser informado da morte de uma outra criança no hospital
pode causar inquietação e levar a um questionamento amplo.

 Pode ser que as perguntas estejam sendo feitas pela


primeira vez e se a resposta não for satisfatória a criança
poderá apresentá-las novamente.

 Devolver a pergunta à criança muitas vezes é uma maneira


de encorajá-la a expressar seus sentimentos. Por exemplo, se
a criança pergunta: ‘Eu vou morrer? Podemos responder com
a pergunta: ‘O que a faz pensar que vai morrer?’

 Ela pode ter construído toda uma série de explicações para


suas condições de saúde ou pode estar apenas querendo
entender porque os pais sofrem e choram tanto.
Aspectos importantes a serem observados na comunicação

Função do profissional de saúde que cuida de crianças


diante da morte é privilegiar o desejo dessa.

A criança que percebe a existência de um segredo a seu


próprio respeito pode se sentir isolada e abandonada pelas
pessoas de quem depende e em quem confia, num período
em que está mais vulnerável.
Possibilidades para a comunicação
Proposto Herbert, 1996

Buscar ocasiões para conversar com a criança, enquanto


brinca, desenha ou faz outra atividade com ela.
 Perguntar à criança qual é o tipo de apoio que ela gostaria
de receber.
 Deixar claro que ela pode sentir medo, raiva ou alguma
forma de sofrimento, sem que isso acarrete outro problemas.
Estar atento a verbalizações e comportamentos que sejam
indicadores de problemas, como: medo, solidão, depressão.
Abordar os assuntos considerados tabu, ser honesto ao
responder essas perguntas.
Possibilidades para a comunicação

Ter tempo e atenção em abundância e, ao mesmo tempo,


garantir que a criança possa usufruir de alguma privacidade,
para poder expressar suas emoções ou até mesmo ficar
quieta, sem ser perturbada.
Sugerir e apoiar que ela escreva cartas de despedida, ou
que faça desenhos para presentear as pessoas importantes em
sua vida.
A criança e o adolescente precisam ser ajudados a "morrer
bem"
Morrer sem dor, morrer acompanhada das pessoas que
ama, morrer tendo dado um sentido à existência - a
própria e a dos familiares que a rodeiam - até o fim.

Dá-se um sentido positivo à condição


terminal quando a criança ou
adolescente se sente querido nesta
situação.

A equipe de saúde, os amigos e


familiares não podem distanciar-se do
paciente, mas sim, devem acompanhá-lo
até o fim.
Diante da morte de uma criança não podemos
esquecer a família.

Sukie Miller, cita seis diferentes tipos de


culpa entre famílias enlutadas pelo
falecimento de uma criança:

Da impotência.
Da sobrevivência.
Da ambivalência dos sentimentos.
Das más ações percebidas.
Da vergonha.
Da co-dependência.

A mais importante é a auto-acusação corrosiva e a culpa pela


impotência de evitar a morte.
Morte como geradora de estresse para equipe de saúde

criança e adolescente.

A morte da criança e do adolescente é interpretada como


interrupção no seu ciclo biológico e isso provoca na
equipe de saúde sentimentos de impotência, frustração,
tristeza, dor, sofrimento e angústia.

Quando cuidamos de pacientes nessa faixa etária,


corremos o risco de nos envolvermos com eles e
constituirmos o vínculo afetivo.
Ao trabalhar com a criança gravemente enferma, o
profissional vivencia experiências de importância
incomensurável e que o levam a refletir profundamente
sobre o impacto que sua ação tem sobre essa criança e
seus familiares.
A possibilidade de cuidar de si, quanto às suas
respostas emocionais e cognitivas, não deve, portanto, ser
desprezada.
O preparo técnico desse profissional é fundamental, mas
vale a pena considerar o quanto ser profissional de saúde
o expõe a situações cujo enfrentamento requer mais do
que o domínio da técnica.
Maria Helena P. Franco

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