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Escola Superior de Educação

Instituto Politécnico do Porto


Gestão do Património – 1º ano

Antilinguagens e patrimónios marginalizados


ž Existem relações particulares entre
linguagem, pensamento e realidade, de tal
modo que cada língua constitui uma forma
particular de ver o mundo (hipótese de
Sapir-Whorf)

ž Essa forma particular de ver o mundo


decorre também das referências culturais
subjacentes aos usos linguísticos e
presentes no léxico de uma língua.
ž Léxico - Conjunto de todas as palavras portadoras
de significado possíveis numa língua,
independentemente da sua atualização em
registos específicos.
ž O léxico de uma língua inclui não apenas o
conjunto de palavras efetivamente atestada num
determinado contexto, ou seja, o vocabulário,
mas também as que já não são usadas, as
neológicas e todas as que os processos de
construção de palavras da língua permitem criar.

Fonte - https://dt.dge.mec.pt/
ž Todos os itens lexicais fazem parte do património
linguístico a preservar por diferentes gerações.

ž Em alguns casos, contribuem para caracterizar


certos grupos específicos.

ž https://www.youtube.com/watch?v=eTS8gKivX6s
(canção de Gabriel, o Pensador)
ž https://www.youtube.com/watch?v=-7I14mcrUYo
(Gualín do riocontra)
ž A renovação lexical ocorre como forma de dar
resposta às necessidades das comunidades
linguísticas:
› designação de algo novo
› resposta à mudança
› suporte à aprendizagem
› prazer e ludicidade
› pertença a um grupo social - identidade
› forma de inclusão / forma de discriminação
ž A renovação lexical envolve dois tipos de
processos:
› A formação de novas palavras
COVID / covidário
› A mudança de significado das palavras
existentes
rato (animal) > rato (computador)
ž Processos morfológicos regulares
› afixação – com prefixos e sufixos
antirrugas / isolamento / amanhecer
› composição
biblioteca / radiogravador / guarda-chuva / luso-descendente

› conversão
jantar > o jantar
› derivação regressiva
cortar > o corte
ž Processos irregulares
› Amálgama
fidalgo
› Acronímia (acrónimos e siglas)
ONU / PSP
› Empréstimo (empréstimos e estrangeirismos)
rato / stress
› Metátese
gualín
ž Processos semântico-pragmáticos
› Metáfora
rato (animal) > rato (computador)
costas (pessoas) > costas (cadeiras)
› Metonímia
capacetes azuis (forças militares da ONU)
› Especialização ou restrição
solitário > solteiro
› Generalização ou extensão
salário
ž Entre os vários propósitos que cumpre, a
renovação lexical está muito presente nos vários
tipos de desvios linguísticos estudados, em
particular naqueles que envolvem fatores sociais
(pertença a um grupo social ou estrato
sociocultural e económico), faixa etária, contextos
mais ou menos formais, estatuto dos interlocutores,
etc.)
ž Além dos desvios previamente estudos, destacam-
se, ainda, as antilinguagens e outras formas de
património marginalizado.
ž “versões extremas de dialectos sociais” (Halliday e
Montgomery);
ž utilizadas e criadas por grupos com posições
marginais ou precárias na sociedade (anti-
sociedade);
ž “it is the language of rebellion and the symbolic
expression of solidarity among the oppressed.“
(Smitherman, 2000)
ž “is the means of realization of a subjective reality;
not merely expressing it but actively creating and
maintaining it.” (Halliday, 1993)
ž Excluem a comunidade maior (modo de
resistência);

ž São ininteligíveis aos membros exteriores à


comunidade em que são utilizadas è
opacidade dificulta a compreensão;

ž Apresentam curta durabilidade; estão em


constante atualização para assegurar a
ininteligibilidade.
ž Processos de formação:

- Relexicalização

- Sobrelexicalização
Exemplos:

- em português:

Bófia - palavra que surgiu do mundo do crime, estando hoje generalizada nos
meios urbanos e, sobretudo, entre os jovens, em Portugal.
Naifa – faca
Chocolate – porção de haxixe
Sabonete – porção de haxixe maior (do tamanho de uma sabonete)
Branquinha - cocaína
Ir à linha e cruzar – inalar cocaína
Caixa de nívea – carro da PSP
Exemplos:
- em inglês:
CB radio (Citizen’s Band)

Referente Designação (ões)

Police station ‘bear cage’, ‘bear cave’

Police helicopter ‘bear in the air’

Police using the radar ‘smokey with a camera’,


´portrait painter’, ‘kojak with a
kodak’
Police car ‘smokey on rubber’, ‘jam
sandwich, ‘bubble-gum
machine’

(MONTGOMERY: 1986)
ž Black English:

- Negro thief - pessoa que ajudava um escravo a fugir.


- Nigger lover - qualquer simpatizante do abolicionismo.

- Slave driver - feitor de escravos; mais tarde usado para


designar qualquer empregador ríspido e exigente.

- Soul brother - companheiro de cor.

http://www.filologia.org.br/revista/artigo/7(20)01.htm
Os graffiti e a linguagem - “O graffiti,
prática juvenil urbana, funde imagem e
linguagem. Os seus praticantes, os
“writers”, desenvolveram uma
compreensão intuitiva de como usar os
elementos da linguagem escrita para os
seus fins comunicativos específicos.”
http://verao.fcsh.unl.pt/cursos/escrito-nas-paredes-as-novas-
literacias-construcao-de-sentido-nos-graffitis-urbanos
ž Testemunho de um autor de graffiti sobre a linguagem
que utiliza:
*Caos: Eu quando comecei a fazer Graffiti, comecei como
se fosse um hobbie, apenas pelo prazer de pintar. Entretanto
cresci, como é lógico, e comecei a pensar um bocado
sobre a realidade que temos à nossa volta! O que fez com
que eu, a partir de um certo período, começasse a tentar
mandar alguma mensagem a partir daquilo que pintava,
em relação a certas coisas que eu não gostava.[...] Para
mim o Graffiti, como já disse à bocado, é a melhor maneira
que tenho de me expressar. Existe a música, existem outras
maneiras, mas para mim o Graffiti é a melhor! Podemos
pegar as pessoas no meio da rua e fazê-las ler aquilo que
pensamos.

(transcrição de uma mesa-redonda sobre graffiti em


http://www.h2tuga.net/graffiti/artigos/refvol1fnac_mar200
4.php) sublinhado da minha responsabilidade
ž Halliday, M A K. (1993). Language as social semiotic.
London: Edward Arnold.

ž MONTGOMERY, M.(1986) An Introduction to Language


and Society. London: Routledge.

ž PRAÇA, A. (2001)Novo Dicionário de Calão. Lisboa:


Editorial Notícias

ž SMITHERMAN, G. (2000) Talkin That Talk: Language,


Culture, and Education in African America. London:
Routledge.

ž VELARDE, M. (1991). Lenguage Y Cultura. Madrid:


Editorial Sintesis

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