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Análise do Gênio Indomável na visão da Psicoterapia Breve

Na primeira sessão foi possível identificar o núcleo de conflito do terapeuta em


relação a sua esposa, acaba, portanto contratransferindo. Mas podemos sugerir a
hipótese nessa primeira sessão que o quadro no Will fala a respeito de Shaun, na
verdade seria uma projeção dele mesmo. Referindo ao sua angústia de não saber o
que quer e nem para onde ir. Tendo um referencial do conflito de base de Will
relacionado ao abandono.

Segunda sessão Shaun reflete sobre sua contratransferência e decide conversar


com Will fora do setting terapêutico com o objetivo de dizer o que realmente pensa
sobre Will, ativando assim suas funções egoicas como terapeuta e de Will como
paciente. Permitindo assim uma modificação no comportamento de Will, sobre sua
vida.

Na terceira sessão Shaun percebe que Will não se envolve nos relacionamentos e
por isso focaliza no tema, abrindo campo para entender melhor a dinâmica de Will. E
começa a dizer sobre sua vida pessoal para Will. Aqui discordamos da intenção do
terapeuta poderia ter dado exemplo de outra pessoa, não se referindo a ele mesmo,
pois acaba perdendo a postura terapêutica adequada. Tanto que após ele dizer que
Will tem a filosofia de não relacionar com você, no final da sessão volta para o
terapeuta o mesmo discurso pelo fato de não se relacionar com outra mulher após a
morte de sua esposa.

Quarta sessão é possível ver que o foco se estabelece novamente em


relacionamento amoroso, pelo qual Shaun fala de como foi seu primeiro encontro em
que preferiu ficar com a mulher ao invés de assistir o jogo com os amigos. Após ele
dizer isso, Will pergunta o que os amigos disseram, e Shaun responde que eles
entenderam, Will em sua realidade jamais poderia ter uma atitudes dessas.

Já na quinta sessão. Will começa com um longo discurso da entrevista de emprego


que teve com o governo, criticando o fato de governo, políticos, fazerem coisas para
beneficio próprio e prejudicando quem eles quiserem sem se importarem por isso.
Após o discurso Shaun pergunta se ele se sente sozinho, e pergunta quem são os
amigos, e sua alma gêmea e critica o fato de Will ser inteligente e viver como
servente. E Will responde que gostaria ser pastor, e Shaun acaba encerrando a
sessão por sua brincadeira.

Na penúltima sessão Will chega atrasado, e o Shaun fala que precisa escrever uma
relatório dele para juiz e fala sobre o pai alcoolista que teve, Will também comenta
do pai adotivo que teve. Ao começar a fazer perguntas sobre o pai Will desvia o
assunto perguntado sobre o que tinha na ficha, “tem distúrbio de vínculo? Medo do
abandono? Por isso que terminei com a Skylar?” E Shaun, diz que a culpa não é
dele, fica repetindo várias vezes, até atingir seu sentimento de culpa e acaba por
chorar e abraçar o terapeuta.

Nas funções egoicas por parte do paciente Will, é importante destacar e analisar. a)
Funções egoicas básicas: Podemos dizer que Will tem um medo de ser abandonado
seja por amigos, ou por sua namorada. B) nas funções defensivas, ele neutraliza
suas ansiedades através da negação de sua inteligência e responsabilidade,
evitando assim ser uma gênio de matemática, funcionário do governo, . c) Nas
funções integradoras Will demonstra que tem que se reorganizar suas relações com
o mundo, tendo que mudar seus hábitos, emprego e atitudades. Nesse ponto é
nítido observar o quanto o terapeuta Shaun deu suporte para que fortalece o ego.

GÊNIO INDOMÁVEL: A CURA POR MEIO DA EMPATIA


A vida nesta terra é dura. Somos expostos ao sofrimento, a dor, a feridas e a
angústias. Alguns sofrem mais, outro menos, mas todos sofrem.

Como lidar com algo que nos machucou e nos fez sofrer? Qual a importância de ter
alguém disposto a nos ajudar? Alguém que se preocupe de fato conosco e queira
nos entender? Alguém disposto a decifrar um Gênio Indomável?

Essas questões são apresentadas no filme “Good Will Hunting” (Gênio Indomável)
escrito pelos amigos Matt Damon e Ben Affleck, com direção de Gus Van Sant. Na
trama, Will (Damon) é um garoto problemático, que facilmente se envolve em
confusão e com problemas comportamentais.
Além disso, Will tem dificuldade em criar vínculos, na verdade não os cria. Antes que
possa estar ligado a alguém, desfaz a relação, a fim de evitar frustrar-se com o
abandono e, consequentemente, com o fim da relação.

Will tem esse comportamento em função de traumas ocorridos na infância, quando


sofrera maus tratos e fora abandonado por aqueles que deveriam tratá-lo com
carinho e ter estado ao seu lado. No entanto, apesar da infância traumática e
conturbada, além dos problemas de comportamento, Will é um gênio e, assim,
acaba chamando a atenção do renomado professor Gerald Lambeau (Stellan
Skarsgård) que passa a acompanhá-lo, após o jovem se envolver em mais uma
confusão. Nesse acompanhamento, Will deverá ter aulas de matemática, fazer
terapia e arrumar um emprego no campo matemático, obviamente.

A partir de então se inicia o cerne da história, a saber, a análise psicológica de Will,


um jovem extremamente genioso, mas genial, sob duas perspectivas diferentes. A
primeira é a do professor Lambeau que vê Will apenas como um gênio da
matemática, o qual deve aproveitar esse talento para trabalhar em uma grande
empresa e se tornar conhecido pela sua genialidade.

Lambeau não consegue enxergar o jovem como uma pessoa totalmente frágil que
precisa de ajuda. Ele enxerga tão somente um gênio da matemática e para ele não
há outra possibilidade para Will a não ser torna-se esse gênio.

Com uma perspectiva totalmente diferente aparece Sean (Robin Williams), um


terapeuta que está acompanhando Will. Sean enxerga o jovem como um humano,
assim como outro qualquer. Reconhece a sua genialidade, mas também vê as
suas fraquezas. Aliás, percebe que por trás de um sujeito autossuficiente e
arrogante, esconde-se um garoto frágil e com medo, que precisa desesperadamente
de ajuda. E ele é essa ajuda.

Sean é sensível para perceber que o gênio forte do garoto é uma autodefesa, já que
quando criança Will sofrera muito e isso causou traumas psicológicos, como a sua
violência e, acima de tudo, a sua incapacidade de se ligar a alguém, pois na sua
cabeça o abandono é algo iminente, visto que todos aqueles que deveriam cuidar
dele na infância o abandonaram.
Ao assistirmos ao filme podemos achar que qualquer um seria capaz de perceber a
complexidade da vida de Will, mas, a bem da verdade, isso não é tão simples, uma
vez que diante da sua genialidade, poderíamos como fez o professor Lambeau,
desconsiderar o que ele sofrera. Contudo, Sean tinha a sensibilidade necessária
para ir além do gênio, duplamente, e chegar ao homem.

Através da empatia, Sean consegue se colocar no lugar de Will e busca sentir a


sua dor para que possa compreender o que leva o garoto a agir daquele modo tão
agressivo e defensivo. Sean não se esconde atrás de uma capa, mostra quem é de
fato, o que gosta, suas feridas, suas dores, suas realizações e com isso, pouco a
pouco vai conseguindo ganhar a confiança do jovem, bem como, conectar-se a ele.

Essa conexão só é possível por Sean se abrir com Will, por não forçar a barra
querendo ser simpático o tempo todo ou ficar puxando o seu saco pelo fato do
jovem ter um intelecto fantástico.

Tampouco, levou fórmulas prontas, teve paciência para esperar o momento certo em
que Will se sentisse confortável para falar, ou seja, o viu como um indivíduo
autônomo e único que precisava ser olhado dessa forma e não somente com um
futuro Nobel da matemática.

Infelizmente, tanto na vida quanto no filme, faltam pessoas capazes de se


desprender de si para ouvir e olhar o outro, pessoas corajosas para ficarem
vulneráveis com as outras, permitindo ser tocadas, confiando que o outro
corresponderá, ainda que não corresponda. Talvez por isso o personagem de
Williams seja tão cativante e emocionante, pois ao nos depararmos com aquele
indivíduo, percebemos que somos e/ou estamos muito mais parecidos com o
professor Lambeau que com ele.

A relação desenvolvida entre Will e Sean demonstra o quão importante é ter


uma relação de verdade, com alguém que se preocupe conosco, que esteja
disposto a nos ouvir, nos entender e nos ajudar. É demonstrada também a
importância dos sentimentos e de não ser sempre tão racional, de se deixar
levar pelo que faz o coração terno, pois só assim são construídas experiências
de verdade, que podem ser guardadas com carinho na memória.
Como Sean vê Will como um ser humano, também não pressiona o garoto para que
ele aceite os inúmeros empregos em maravilhosas empresas que lhes são
oferecidos. Sean não quer determinar o que o Will deve ser, ele não tem esse poder,
nem quer ter. Ele quer conhecer o garoto e ajudá-lo a descobrir o que de fato quer
fazer. Reconhece o valor por Will não querer ser um babaca, mas não desconsidera
a sua genialidade e a sua capacidade de poder fazer coisas grandiosas, no entanto,
quer que o próprio Will decida o que quer fazer.

Sean sabe o real valor das coisas e quer passar para Will. E passa. Um coração
aberto a Will para que ele se sinta protegido; uma mão que quer ajudá-lo a sair do
quarto escuro onde se esconde; e ouvidos para que quando fale, saiba que não está
sozinho e que por mais dores que sinta e feridas que sofrera, pode confiar nele e
nos outros, mais que isso, precisa confiar se quiser conhecer alguém de verdade e
ter alguma conexão com alguém além de si mesmo.

A beleza do filme não é transmitida por uma grande fotografia ou um belo cenário, e
sim pela forma como ele deixa claro que não há nada que substitua sentimentos
verdadeiros sendo trocados entre duas pessoas, conectadas, em que uma interfere
na vida da outra. Não há ninguém perfeito e não há problema, pois a maior beleza
de uma relação é a vontade de duas pessoas que querem ser perfeitas uma para
outra.

Para isso é preciso estar disposto a ter trabalho, a ouvir, a se colocar no lugar do
outro e ficar vulnerável, assim como Sean fez com Will, ajudando-o a fazer algo com
o que os outros fizeram dele, como disse Sartre. Se não estivermos dispostos a
fazer isso, deixo com que Sean, através do saudoso e irretocável Williams, vos diga
que isso é uma superfilosofia, em que você poderá viver a vida inteira sem conhecer
ninguém profundamente.

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