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Análise Do Gênio Indomável Na Visão Da Psicoterapia Breve
Análise Do Gênio Indomável Na Visão Da Psicoterapia Breve
Na terceira sessão Shaun percebe que Will não se envolve nos relacionamentos e
por isso focaliza no tema, abrindo campo para entender melhor a dinâmica de Will. E
começa a dizer sobre sua vida pessoal para Will. Aqui discordamos da intenção do
terapeuta poderia ter dado exemplo de outra pessoa, não se referindo a ele mesmo,
pois acaba perdendo a postura terapêutica adequada. Tanto que após ele dizer que
Will tem a filosofia de não relacionar com você, no final da sessão volta para o
terapeuta o mesmo discurso pelo fato de não se relacionar com outra mulher após a
morte de sua esposa.
Na penúltima sessão Will chega atrasado, e o Shaun fala que precisa escrever uma
relatório dele para juiz e fala sobre o pai alcoolista que teve, Will também comenta
do pai adotivo que teve. Ao começar a fazer perguntas sobre o pai Will desvia o
assunto perguntado sobre o que tinha na ficha, “tem distúrbio de vínculo? Medo do
abandono? Por isso que terminei com a Skylar?” E Shaun, diz que a culpa não é
dele, fica repetindo várias vezes, até atingir seu sentimento de culpa e acaba por
chorar e abraçar o terapeuta.
Nas funções egoicas por parte do paciente Will, é importante destacar e analisar. a)
Funções egoicas básicas: Podemos dizer que Will tem um medo de ser abandonado
seja por amigos, ou por sua namorada. B) nas funções defensivas, ele neutraliza
suas ansiedades através da negação de sua inteligência e responsabilidade,
evitando assim ser uma gênio de matemática, funcionário do governo, . c) Nas
funções integradoras Will demonstra que tem que se reorganizar suas relações com
o mundo, tendo que mudar seus hábitos, emprego e atitudades. Nesse ponto é
nítido observar o quanto o terapeuta Shaun deu suporte para que fortalece o ego.
Como lidar com algo que nos machucou e nos fez sofrer? Qual a importância de ter
alguém disposto a nos ajudar? Alguém que se preocupe de fato conosco e queira
nos entender? Alguém disposto a decifrar um Gênio Indomável?
Essas questões são apresentadas no filme “Good Will Hunting” (Gênio Indomável)
escrito pelos amigos Matt Damon e Ben Affleck, com direção de Gus Van Sant. Na
trama, Will (Damon) é um garoto problemático, que facilmente se envolve em
confusão e com problemas comportamentais.
Além disso, Will tem dificuldade em criar vínculos, na verdade não os cria. Antes que
possa estar ligado a alguém, desfaz a relação, a fim de evitar frustrar-se com o
abandono e, consequentemente, com o fim da relação.
Lambeau não consegue enxergar o jovem como uma pessoa totalmente frágil que
precisa de ajuda. Ele enxerga tão somente um gênio da matemática e para ele não
há outra possibilidade para Will a não ser torna-se esse gênio.
Sean é sensível para perceber que o gênio forte do garoto é uma autodefesa, já que
quando criança Will sofrera muito e isso causou traumas psicológicos, como a sua
violência e, acima de tudo, a sua incapacidade de se ligar a alguém, pois na sua
cabeça o abandono é algo iminente, visto que todos aqueles que deveriam cuidar
dele na infância o abandonaram.
Ao assistirmos ao filme podemos achar que qualquer um seria capaz de perceber a
complexidade da vida de Will, mas, a bem da verdade, isso não é tão simples, uma
vez que diante da sua genialidade, poderíamos como fez o professor Lambeau,
desconsiderar o que ele sofrera. Contudo, Sean tinha a sensibilidade necessária
para ir além do gênio, duplamente, e chegar ao homem.
Essa conexão só é possível por Sean se abrir com Will, por não forçar a barra
querendo ser simpático o tempo todo ou ficar puxando o seu saco pelo fato do
jovem ter um intelecto fantástico.
Tampouco, levou fórmulas prontas, teve paciência para esperar o momento certo em
que Will se sentisse confortável para falar, ou seja, o viu como um indivíduo
autônomo e único que precisava ser olhado dessa forma e não somente com um
futuro Nobel da matemática.
Sean sabe o real valor das coisas e quer passar para Will. E passa. Um coração
aberto a Will para que ele se sinta protegido; uma mão que quer ajudá-lo a sair do
quarto escuro onde se esconde; e ouvidos para que quando fale, saiba que não está
sozinho e que por mais dores que sinta e feridas que sofrera, pode confiar nele e
nos outros, mais que isso, precisa confiar se quiser conhecer alguém de verdade e
ter alguma conexão com alguém além de si mesmo.
A beleza do filme não é transmitida por uma grande fotografia ou um belo cenário, e
sim pela forma como ele deixa claro que não há nada que substitua sentimentos
verdadeiros sendo trocados entre duas pessoas, conectadas, em que uma interfere
na vida da outra. Não há ninguém perfeito e não há problema, pois a maior beleza
de uma relação é a vontade de duas pessoas que querem ser perfeitas uma para
outra.
Para isso é preciso estar disposto a ter trabalho, a ouvir, a se colocar no lugar do
outro e ficar vulnerável, assim como Sean fez com Will, ajudando-o a fazer algo com
o que os outros fizeram dele, como disse Sartre. Se não estivermos dispostos a
fazer isso, deixo com que Sean, através do saudoso e irretocável Williams, vos diga
que isso é uma superfilosofia, em que você poderá viver a vida inteira sem conhecer
ninguém profundamente.