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Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes: Dia Mundial Dos Materiais 2009 Prémio Ordem Dos Engenheiros
Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes: Dia Mundial Dos Materiais 2009 Prémio Ordem Dos Engenheiros
ABSTRACT: The aim of the present work is to develop latent fingerprints, in order to guarantee the quality required for a
positive identification through the correspondence of characteristic points.
The technique used for the development of fingerprints is magnetron sputtering. To promote the preferential deposition onto
fingerprints ridges, the deposition parameters should be optimised.
In this study, copper and gold thin films were produced using stainless steel substrates. After optimising the deposition
parameters, the influence of the fingerprints’ age and donor were studied. The quality of the developed fingermarks was
evaluated visually and through optical and scanning electronic microscopy observations. The morphology of the copper
and gold thin films was examined by high resolution scanning electron microscopy. Using silicon substrates, a topographic
analysis was carried out by tridimensional profilometry.
The preferential magnetron sputtering deposition of copper and gold thin films, 20-30 nm thick, allows latent fingerprints
to be developed. The gold films are more promising, especially for detecting non-fresh fingerprints and for conserving the
developed prints since, unlikely copper, they do not oxidise with time. In fact, it was possible to detect the contours of the
ridges and the characteristic points in a one-month aged impression developed by gold deposition. These films present
discontinuous surface and columnar cross-section morphology, while copper thin films have a more compact morphology.
RESUMO: Esta dissertação tem como objectivo revelar impressões digitais latentes, que assegurem e não comprometam
a qualidade necessária para posterior identificação dos indivíduos através da correspondência de pontos característicos.
A técnica utilizada para a revelação de impressões digitais é a pulverização catódica magnetrão. Para tal, os parâmetros de
deposição são optimizados de modo a que esta ocorra preferencialmente nas cristas das impressões digitais.
Neste estudo foram produzidos filmes finos de cobre e ouro utilizando substratos de aço inoxidável. Uma vez definidas
as condições óptimas de deposição, foi estudada a influência de alguns factores - “idade” das impressões digitais, dador e
teor sebáceo. A qualidade da revelação das impressões digitais foi avaliada visualmente e recorrendo à microscopia óptica
e electrónica de varrimento. A morfologia dos filmes finos de cobre e ouro foi observada por microscopia electrónica
de varrimento de alta resolução. Utilizando substratos de silício, foi efectuada uma análise topográfica por perfilometria
tridimensional.
A deposição preferencial por pulverização catódica magnetrão de filmes finos de cobre e ouro, com espessuras entre 20
e 30 nm, permite revelar impressões digitais latentes. Os filmes de ouro são mais promissores, sobretudo na revelação de
impressões digitais não “frescas” e na conservação das impressões reveladas pois, ao contrário do cobre, não oxidam com
o tempo. De facto, foi possível detectar os contornos das cristas dermopapilares e pontos característicos numa impressão
com um mês de “idade” revelada através da deposição de ouro. Estes filmes possuem uma superfície descontínua e secção
transversal colunar, enquanto que os filmes finos de cobre apresentam uma morfologia mais compacta.
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Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes A.S. Peixoto, A.S. Ramos
digitais incluindo algumas noções de lofoscopia. Por fim, os 1880 que o médico britânico Henry Faulds apresentou oficial-
principais métodos de detecção e revelação utilizados nos la- mente um método de identificar as pessoas por meio das mar-
boratórios forenses são referenciados. No segundo capítulo cas existentes nos dedos. Publicado na revista científica ingle-
são apresentados os materiais, técnicas, equipamentos e con- sa Nature, o estudo de Faulds é considerado o marco inicial da
dições utilizados ao longo do trabalho. A técnica de pulveri- técnica de dactiloscopia (ramo da lofoscopia que estuda as im-
zação catódica, pouco familiar entre os cientistas forenses, é pressões dos dedos) [4]. Radicado no Japão, Faulds começou
sucintamente descrita. Os resultados e discussão dos mesmos a ter interesse pelas impressões digitais por acaso. Observando
constam do terceiro capítulo. cerâmicas antigas num museu de Tóquio, ele detectou marcas
de dedos que ficaram impressas na superfície do pote durante
milhares de anos. Comparando com as marcas deixadas pelos
1. Breve Revisão sobre Vestígios seus próprios dedos, Faulds percebeu que elas eram diferentes.
Lofoscópicos e sua Revelação Parecidas no conjunto, mas muito particulares nos detalhes.
Assim, enviou as suas conclusões ao famoso biólogo britânico
A Lofoscopia (do grego “lophos” + “scopia” - colina + obser-
Charles Darwin, este enviou-as ao seu primo cientista Francis
vação) tem por objecto o estudo pormenorizado dos desenhos
Galton. Foi ele quem tornou a análise das impressões uma ci-
da pele dos dedos, da palma das mãos e da planta dos pés,
ência, desde que percebeu que os traços das impressões digi-
com o fim de identificar o indivíduo. Lofoscopia é, portanto, a
tais possuíam características únicas em cada indivíduo, jamais
Ciência que estuda a identificação do ser humano através das
se repetiam e eram mantidos inalterados durante toda a vida
suas impressões dermopapilares [1]. Estes desenhos são pere-
[4]. Além disso, Galton classificou as linhas das pontas dos de-
nes e imutáveis, isto é, permanecem invariáveis desde o sexto
dos em três tipos básicos: arcos, laços e espirais; num sistema
mês de gestação até à putrefacção da derme, não podendo ser
cujos princípios perduram até hoje.
modificados voluntariamente. Além disso, são infinitamente
diversiformes, já que são característicos de cada indivíduo. Em 1901, o investigador inglês Edward Henry criou o depar-
Com efeito, as impressões digitais e o ADN (ácido desoxir- tamento de identificação por impressão digital da Scotland
ribonucleico) são as únicas características humanas que são Yard, a polícia inglesa que ficou famosa, entre outras coisas,
únicas para cada indivíduo [2]. por contar com os préstimos do fictício Sherlock Holmes, per-
sonagem de Arthur Conan Doyle que, não por acaso, andava
A análise de impressões digitais continua a ser o método de
sempre com uma lente de aumento. Foi a primeira iniciativa
eleição na identificação de indivíduos para efeitos de inves-
de se fazer um banco de dados com as impressões digitais de
tigação forense e criminal. A identificação pessoal através de
criminosos para serem comparadas com as marcas deixadas
impressões digitais é baseada em 2 critérios [3]:
nos locais do crime. Os investigadores da Scotland Yard per-
i) Os padrões das cristas presentes nas impressões digitais ceberam que era inevitável que os criminosos deixassem as
diferem de indivíduo para indivíduo e ainda de dedo para suas marcas (vestígios lofoscópicos). Foi em 1901 que as im-
dedo; pressões digitais foram pela primeira vez aceites como prova
ii) Estes padrões mantêm-se inalteráveis durante toda a vida em tribunal, tendo sido adoptado o sistema de identificação
do indivíduo. por impressões digitais em Inglaterra e no País de Gales [5].
1.1 Perspectiva Histórica [4-6] Em 1911, o advogado criminalista francês Edmond Locard pro-
pôs que 12 pontos característicos coincidentes bastavam para
Há muito tempo atrás que se suspeitava que a unicidade das identificar uma impressão digital. Hoje, cada país adopta um
impressões digitais poderia servir como método de identifi- número diferente de pontos para a identificação positiva [4].
cação de indivíduos. Na antiguidade, na China e Babilónia,
foram encontradas impressões digitais em placas de argila Em mais de um século de uso, o método obteve sucessos his-
usadas como assinatura nas transacções comerciais. No sécu- tóricos, mas também cometeu erros grotescos. Desde a des-
lo XIV, na Pérsia, os documentos ditos do governo continham coberta, evoluiu muito e, hoje, diversas polícias no mundo
impressões digitais como assinatura [2]. usam um Sistema Automatizado Integrado de Identificação
de Impressão digital (IAFIS(b)). O IAFIS é composto de dois
A partir de metade do século XIX, técnicas alternativas de subsistemas que processam buscas, armazenam e recuperam
identificação pessoal foram ganhando espaço entre os inves- informação das bases de dados: o subsistema de armazena-
tigadores criminais. Entre elas uma ficaria para a história: a mento e recuperação de imagens e o subsistema de proces-
impressão digital. As marcas das mãos e dos dedos já eram samento de buscas. Nos estados unidos, o FBI tem um banco
utilizadas como uma espécie de assinatura, principalmente nas digital com mais de 54 milhões de impressões digitais de pes-
colónias do então vasto império britânico. Em 1858, o admi- soas com cadastro [4,6].
nistrador inglês William Herschel fazia com que os seus em-
pregados “assinassem” contratos com a marca das suas mãos 1.2 Impressões Digitais
molhadas em tinta. Em 1877, o microscopista americano Tho-
mas Taylor, que trabalhava no departamento de agricultura dos Observando os dedos é visível um conjunto de “altos”, de-
Estados Unidos, sugeriu, pela primeira vez, que os traços das signados por cristas dermopapilares (nervuras ou linhas), que
mãos fossem utilizados para identificar criminosos. A sua ideia desenham diferentes padrões. A impressão digital é a repre-
foi publicada no American Journal of Microscopy and Popular
Science, mas não obteve grande repercussão. Foi apenas em b
Do inglês, Integrated Automated Fingerprint Identification System
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sentação gráfica do conjunto de cristas e sulcos observados na Sendo os vestígios lofoscópicos latentes constituídos nor-
última falange. Na figura 1.1 é apresentado o pormenor das malmente por uma mistura de secreções naturais de várias
cristas dermopapilares e a estrutura da pele. Estas cristas fun- glândulas na pele, podem ser também muitas vezes contami-
cionam como antiderrapantes; se as nossas mãos (e também nados por outras substâncias existentes no ambiente e que fi-
os pés) fossem lisos os objectos escorregavam com muito cam agarradas à pele dos indivíduos [9]. Factores tais como a
maior facilidade. temperatura, a exposição à luz e à água e a humidade relativa
alteram a natureza química e física de um vestígio digital [9].
Assim, a qualidade da revelação dos vestígios lofoscópicos
latentes depende de vários factores: quantidade de suor, gor-
dura, secreções presentes, natureza da superfície, temperatu-
ra, humidade, pressão exercida, etc. [10,11].
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tas tem igualmente valor identificativo, mas a resolução das em luz de uma cor diferente de maior comprimento de onda.
imagens dos vestígios lofoscópicos nem sempre é adequada. O tempo que medeia entre a absorção e a emissão é apenas
Entre 20 a 40 poros coincidentes deverão ser suficientes para uma fracção de segundo, de modo que quando a luz ilumi-
determinar a identidade de um indivíduo [7]. No entanto, a nante é retirada, a emissão aparentemente pára [9]. Alguns
informação contida a este nível ainda não é considerada pelo dos constituintes químicos que aparecem nas impressões di-
sistema de identificação IAFIS. gitais, bem como algum tipo de contaminação decorrente do
ambiente e, subsequentemente, depositados nas impressões
Mais de 1 século depois, desde que foi adoptado o sistema digitais, “fluorescerão” com iluminação adequada [9,13].
de identificação legal por impressões digitais, a detecção e Esta fluorescência poderá ser visível à vista ou poderá ocorrer
identificação das impressões digitais ainda continua a ser a nas gamas de infra vermelho (IV) ou ultra violeta (UV) onde
técnica mais usada nas investigações criminais, por serem são necessários outros tipos de detectores. Habitualmente, a
consideradas assinaturas biométricas, únicas e invariáveis, de superfície a ser examinada é iluminada com luz visível de
um indivíduo. baixo comprimento de onda (azul, verde) e/ou ultravioleta.
A superfície é, então vista através de filtros que transmitem
1.3 Detecção e Revelação de Vestígios Lofoscópicos luz apenas de um comprimento de onda. Poderão ser utiliza-
Latentes dos tratamentos que façam com que as impressões digitais
“fluoresçam” de uma forma mais intensa [9].
Apesar de existirem muitos métodos usados pela polícia
para detectar impressões digitais, existe um grande grupo de
1.3.2 Métodos Químicos
superfícies em que nenhum dos métodos é adequado. Para
que sejam desenvolvidas novas técnicas é essencial que as
Ninidrina
propriedades físicas e químicas das impressões digitais se-
jam conhecidas, uma vez que, a detecção das mesmas é ba- A ninidrina é uma substância que é apresentada sob a for-
seada na exploração das diferenças entre a natureza física e ma de cristais branco/esverdeado e reage com o componente
química das impressões digitais e as superfícies subjacentes. dos aminoácidos presentes nos resíduos deixados pelas im-
A preservação dos vestígios lofoscópicos latentes é crucial pressões digitais (secreção écrina), dando um produto de cor
para o exame eficaz de objectos em, e provenientes, dos lo- púrpura conhecido por “púrpura de Ruhemann” [8,9,11]. As
cais do crime. Isto significa que se deve ter especial cuida- reacções químicas envolvidas são complexas e, como resul-
do no manuseamento e empacotamento desses elementos de tado, as condições de revelação precisam de ser controla-
modo a evitar danos nos vestígios lofoscópicos existentes. das. O método é muito eficaz para a revelação de vestígios
lofoscópicos em superfícies porosas, tais como o papel [9].
Para seleccionar qual o melhor método e sequência a adoptar
A revelação com ninidrina pode ser afectada por factores
deve ter-se em conta, em primeiro lugar, a superfície em que vão
como a temperatura, humidade, pressão exercida pelo dedo
ser revelados os vestígios lofoscópicos. Se um método falhar,
na superfície de contacto, tempo de contacto e quantidade de
outro poderá ter êxito. Quando são utilizados vários métodos
suor transferido. Actualmente existem reagentes que actuam
deve ser seguida a sequência correcta uma vez que, se for utili-
de modo idêntico à ninidrina.
zado em primeiro lugar o método errado, este poderá danificar
os vestígios latentes que poderiam ter sido revelados por outro
1.3.3 Métodos Físico-Químicos
método. Os vestígios revelados devem ser fotografados ou co-
bertos, conforme o caso, antes do tratamento seguinte. Sempre Evaporação de cianoacrilato
que possível, devem ser aplicados localmente tratamentos se-
parados. Todos os vestígios úteis devem ser fotografados de- O cianoacrilato líquido forma um vapor que reage com certos
pois de cada processo, uma vez que poderão ser danificados componentes de uma impressão digital. O vapor é polimeri-
ou destruídos por um tratamento posterior [9]. Uma variedade zado selectivamente nas cristas dermopapilares formando um
de técnicas tem sido usada para melhorar a visibilidade das polímero branco [9]. As impressões digitais gordurosas (com
impressões digitais latentes. Para além do recurso a métodos elevado componente sebáceo) parecem ser particularmente
ópticos, existem diversos métodos químicos, físico-químicos sensíveis ao vapor de cianoacrilato. Esta técnica é eficaz na
e físicos que permitem a revelação de vestígios lofoscópicos maioria das superfícies não porosas, em especial as plásticas
latentes. A escolha do(s) método(s) mais adequado(s) depende [9]. O contraste produzido por impressões digitais reveladas
de vários factores, como sejam, a natureza da superfície, a pre- com esta técnica pode ser melhorado pela aplicação de um
sença de contaminantes e factores ambientais. Alguns destes agente corante ou luminescente.
métodos são de seguida sucintamente descritos, pondo em evi-
dência as suas principais vantagens e desvantagens. Deposição Multimetal (MMD(c))
1.3.1 Métodos Ópticos O uso de ouro coloidal no domínio das ciências forenses, no-
meadamente como método de detecção de impressões digi-
Exame por Fluorescência. tais latentes, foi introduzido por G. Saunders em 1989 [14].
Esta técnica, designada deposição multimetal, compreende
A fluorescência é a propriedade que alguns químicos possuem dois estágios: i) imersão do objecto a tratar numa solução
de serem capazes de absorver a luz de uma cor específica e
de, em seguida, converterem alguma desta energia absorvida, c
Do Inglês, Multimetal Deposition
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coloidal de ouro (componente activo); ii) reforço das im- permitido que o leque de aplicação abranja áreas tão diver-
pressões detectadas através do uso de um revelador físico. sificadas como a indústria mecânica, a (micro)electrónica,
Posteriormente este método foi optimizado por P. Margot e biomedicina, e neste caso as ciências forenses. Com efeito,
seus colaboradores [14,15]. A vantagem deste método reside através da deposição em vácuo é possível revelar impressões
na sua sensibilidade, particularmente com impressões digitais digitais latentes. A deposição de um filme sobre a impressão
“antigas”. Acresce ainda o facto de poder ser utilizado em digital permite igualmente fixar vestígios de explosivos ou
diferentes superfícies, porosas e não porosas. No entanto, a estupefacientes que posteriormente poderão ser analisados.
deposição multimetal requer um elevado número de banhos e O uso de técnicas de espectroscopia na análise de vestígios de
reagentes, traduzidos por um trabalho aturado e por um ele- drogas e explosivos nas impressões digitais latentes possibili-
vado custo. Recentemente, impressões digitais reveladas por ta a obtenção de informação inteligente e estilo de vida sobre
este método têm sido observadas por microscopia electroquí- o dador da impressão [19]. A detecção de impressões digi-
mica de varrimento [16,17]. tais com rastreio de explosivos ou estupefacientes constitui
uma vantagem do método de deposição de metais em vácuo
1.3.4 Métodos Físicos relativamente a outros métodos de revelação que destroem
estes vestígios. Quando o objectivo é produzir filmes de redu-
Revelação por Pós zida espessura, sem aquecimento significativo do substrato,
as técnicas de deposição em fase de vapor (PVD(e)) são as
O método dos pós utiliza reagentes sólidos, sob a forma de
mais adequadas [20]. De entre estas técnicas destacam-se a
pós que aderem às substâncias transmitidas por meio das cris-
evaporação e a pulverização catódica de metais puros, cuja
tas dermopapilares, uma vez que estas têm propriedades de
utilização, sobretudo da primeira, na revelação de impressões
aderência superiores às da superfície que suporta os vestígios
digitais tem sido referenciada na literatura [10,21-25].
lofoscópicos [3,18]. O pó considerado ideal para a revelação
de impressões digitais deve aderir unicamente aos resíduos Evaporação
deixados pela impressão, os quais dão informação sobre as
características padrão que a identificam. Desde o início do A técnica de evaporação de metais em vácuo tem sido usa-
século XX, este método tem sido muito usado na revelação de da desde meados da década de 70 nos laboratórios forenses
impressões digitais latentes [3]. Existem vários tipos de pós para revelação de vestígios lofoscópicos latentes em superfí-
(magnéticos, fluorescentes, etc.) para a revelação de vestígios cies não porosas, tais como plásticos [10,21]. Esta técnica é
latentes, dos quais se tem destacado o pó de alumínio aplica- considerada mais sensível que a evaporação de cianoacrilato,
do com uma escova fina de fibra de vidro [3,18]. Com vestí- a qual é frequentemente utilizada na revelação de vestígios
gios recentes, o componente aquoso do vestígio contribui de latentes em superfícies não porosas. A maior sensibilidade
uma forma significativa para adesão dos pós, enquanto que, da técnica de evaporação em vácuo, face à evaporação de
com vestígios mais antigos, os pós aderem, principalmente, cianoacrilato, é especialmente evidente quando os vestígios
aos depósitos gordos do suor sebáceo. A eficácia deste mé- são antigos ou tenham sido expostos a condições ambientais
todo é variável, dependendo da natureza química e física do adversas [22-24]. A evaporação não tem sido largamente usa-
pó, do tipo de aplicador e dos cuidados e perícia do operador. da na detecção e revelação de vestígios lofoscópicos latentes
A maior parte dos dados disponíveis indica que, em muitas devido aos elevados custos do equipamento e manutenção,
circunstâncias os pós em flocos são mais sensíveis do que e à necessidade de técnicos habilitados de modo a garantir o
outro tipo de pós. Inicialmente a escolha dos pós e os modos funcionamento adequado do equipamento e permitir a opti-
de aplicação foram feitos de modo ad hoc. Posteriormente, mização das condições de deposição [22,23].
foram desenvolvidos estudos com o objectivo de estabelecer
o mecanismo de adesão dos pós às cristas dermopapilares, O método de evaporação em vácuo tem por base uma pro-
permitindo o desenvolvimento de modos de aplicação dos priedade invulgar dos elementos metálicos do grupo 12 da
pós menos interactivos do que o uso de escovas convencio- tabela periódica: zinco, cádmio e mercúrio [24]. Em vácuo,
nais [3]. Com efeito, a aplicação dos pós com escova (pincel) os átomos destes metais não se depositam em superfícies não
pode danificar mecanicamente as cristas das impressões di- metálicas, a não ser que uma das seguintes condições ocorra
gitais [8]. [23,24]:
Os vestígios revelados por pós podem ser transplantados com i) a superfície está a temperaturas muito baixas (abaixo de
fita adesiva transparente adequada para lamelas de vidro, para -100ºC);
papel fotográfico contrastante com o pó utilizado ou para fo- ii) a superfície apresenta à partida locais de nucleação de ou-
lhas de “mica” transparente, para posterior triagem e fotogra- tro metal.
fia em instalações adequadas [9]. Assim, o método de revelação por evaporação envolve a de-
Deposição de Metais em Vácuo (VMD(d)) posição de ouro seguida da deposição de zinco (ou cádmio)
sob vácuo [22-24]. Os locais de nucleação do ouro têm a for-
A deposição de revestimentos finos ou filmes sobre um ma- ma de pequenos aglomerados (“clusters”) e são geralmente
terial tem por finalidade alterar as suas propriedades super- considerados os mais adequados para preparação da superfí-
ficiais. O desenvolvimento das técnicas de deposição tem cie, quando é utilizado o zinco na segunda deposição [24].
d
Do inglês, Vacuum Metal Deposition e
Do inglês, Physical Vapour Deposition
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O primeiro estágio desta técnica consiste na deposição de uma Por último, a deposição de filmes de platina foi comparada
fina camada de ouro em toda a superfície à excepção das cris- com um dos métodos mais comuns: evaporação de cianoa-
tas das impressões digitais onde a deposição é inibida devido crilato, para a revelação de impressões digitais com 1 ano de
à presença de gordura e suor [3,8]. O ácido esteárico, um dos idade. Mais uma vez, a revelação através da deposição de um
componentes das impressões digitais, é conhecido por inibir filme fino de platina se revelou mais eficaz. Este resultado
a condensação de ouro [8]. De seguida, é depositada uma ca- foi justificado pelo facto de na pulverização catódica as im-
mada mais espessa de zinco ou cádmio de modo a revelar as
pressões digitais serem reveladas por átomos de platina, ao
impressões digitais pela negativa, já que estes metais apenas
invés da evaporação de cianoacrilato que revela as mesmas
crescem nos locais onde existem núcleos de ouro, ou seja, em
toda a superfície excepto nas cristas das impressões digitais através de moléculas de cianoacrilato. Tendo os átomos de
[22-24]. As cristas ficam transparentes enquanto o fundo da platina dimensões muito inferiores quando comparados com
superfície, incluindo os vales entre elas, ficam cobertos por as moléculas de cianoacrilato é esperado que consigam de-
uma camada de zinco ou cádmio. A camada de ouro que é tectar quantidades inferiores de resíduos e segregações [25].
formada no primeiro estágio do processo é extremamente fina Apesar dos resultados apresentados serem promissores e ao
e descontínua. A estrutura e espessura do filme de ouro (o ta- contrário do que era proposto, até à data este trabalho não
manho, a forma e a densidade dos “clusters” de ouro) são de- teve continuidade.
terminantes para o tipo de ligação do zinco à superfície e con-
sequentemente influenciam a qualidade de revelação [23].
Pulverização Catódica
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2.1.2 Substratos
Neste trabalho foram utilizados 2 tipos de substrato, aço
inoxidável 316L (AISI(f)) e silício. O aço foi utilizado como
substrato na revelação de impressões digitais, já que em su-
Fig. 2.1. Interacções iões/superfície na superfície do alvo [35].
perfícies metálicas os resultados da revelação de vestígios lo-
foscópicos por técnicas mais convencionais nem sempre são Os átomos na fase de vapor são condensados na superfície do
satisfatórios [9]. A composição química do aço 316L em peso substrato formando as chamadas ilhas de átomos, figura 2.2.
é Fe/ Cr 18/ Ni 10/ Mo 3 e este foi fornecido pela Goodfellow, Com a continuação da deposição, as ilhas são desenvolvidas
em lâminas com dimensões de 90 x 210 mm, com uma espes- lateralmente levando a uma distribuição uniforme do material
sura de 0,9 mm. O aço já estava recozido e polido numa das por toda a superfície do substrato.
faces. O silício foi usado como substrato na optimização dos
parâmetros de deposição e de modo a permitir a utilização de
algumas técnicas de caracterização, para as quais a rugosida-
de do aço era demasiado elevada.
2.2 Método de Deposição: Pulverização Catódica No presente trabalho a deposição dos filmes finos foi feita por
pulverização catódica utilizando corrente contínua e recor-
A pulverização catódica é um dos métodos mais comummen- rendo a um campo magnético aplicado ao cátodo (alvo) - pul-
te utilizados para a deposição de filmes finos. Esta popula- verização catódica magnetrão. A função do campo magnético
ridade é devida à simplicidade, versatilidade e flexibilida- é promover o uso eficiente dos electrões, de forma a produzir
de que envolvem este processo físico em fase de vapor. As uma maior ionização. O campo magnético é aplicado em con-
primeiras referências a esta técnica datam de 1852, quando certação com o campo eléctrico de modo a criar trajectórias
Grove observou a deposição de metal pulverizado a partir de obrigatórias para os electrões, promovendo, assim, um maior
um cátodo onde estava aplicada uma descarga incandescente; número de colisões. Neste processo, o plasma está confinado
sendo utilizada pela primeira vez no ano de 1877 no revesti- à região em frente ao alvo e os electrões ficam retidos próxi-
mento de espelhos [31]. Desde então, a pulverização catódica mo da superfície que os emite. A principal desvantagem do
tem sofrido alterações. Esta evolução está relacionada com o modo magnetrão é a desigual erosão do alvo, devido à con-
desenvolvimento do equipamento de vácuo [32]. Esta técnica centração do plasma na zona que engloba a trajectória dos
é ambientalmente benigna, de fraco impacto ambiental, não electrões. O desgaste do alvo decorre, preferencialmente, na
necessitando do uso de reagentes químicos nocivos. zona onde se faz sentir a influência do campo magnético, o
O processo de pulverização catódica compreende três está- que impede a utilização efectiva do alvo, podendo encarecer
gios: significativamente o processo se o alvo não for recuperável
ou reciclável [35].
i) Criação de uma fase gasosa;
A pulverização catódica é uma técnica de deposição em vá-
f
Do inglês, American Iron and Steel Institute cuo que pode ser realizada a pressões relativamente elevadas
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e com átomos termalizados, ao contrário do que sucede na foram depositados filmes finos por pulverização catódica
evaporação. Dependendo das condições de deposição os áto- magnetrão, fazendo variar os seguintes parâmetros: a potên-
mos ejectados do alvo vão sofrer colisões até chegar ao subs- cia (P), a pressão de deposição (Pdep) e o tempo. As condições
trato, podendo ou não ficar termalizados (muito baixa energia de deposição estão reunidas na tabela II.1. Nesta fase foram
e velocidade) na chegada ao substrato [20]. utilizados tempos de deposição mais elevados de modo a per-
mitir a avaliação das espessuras por perfilometria.
Neste estudo, para que ocorresse deposição preferencial dos
elementos metálicos nas cristas das impressões digitais fo- Tabela II.1 Condições de deposição para avaliação de espes-
ram aplicadas condições de vácuo de modo a que os átomos sura.
atingissem o substrato com a mínima energia e velocidade,
vindos de diferentes direcções. Densidade de Tempo
Alvo Pinicial (Pa) Pdep (Pa)
Potência (W.cm-2) (min)
2.2.1 Equipamento Cu 6x10-3 2-6 5,1 – 7,6 10
Au 6x10-3 4-6 5,1 – 7,6 2
Após a selecção dos materiais a utilizar, os filmes foram de-
positados sobre os respectivos substratos por pulverização
Deposições para Revelação de Impressões Digitais
catódica magnetrão. Foi usado um equipamento da marca
Edwards Coating System (figura 2.3). Como já foi dito anteriormente, todos os substratos foram
limpos em banhos de ultra-sons, sucessivamente em acetona
O sistema de deposição utilizado é formado por três partes
fundamentais; o equipamento de vácuo, a câmara de depo- e álcool, e secos em corrente de ar quente. De seguida, foi
sição e o equipamento auxiliar. O equipamento de vácuo é “colocada” intencionalmente uma impressão digital em cada
constituído por uma bomba primária modelo E2M 1,5 da substrato.
Edwards e por uma bomba turbomolecular modelo EXT 70
Foram feitas várias deposições para a optimização do pro-
da Edwards. A câmara de deposição é constituída por um ci-
cesso de deposição. Mais uma vez, foram depositados filmes
lindro de vidro assente numa base de alumínio, em que o topo
finos por pulverização catódica magnetrão, fazendo variar os
é amovível, onde está presente um magnetrão circular que
permite a fixação de um alvo. O magnetrão é arrefecido por seguintes parâmetros: a potência (P), a pressão de deposição
água, garantindo o arrefecimento do alvo durante o processo (Pdep) e o tempo. A todas as amostras foi feita uma observação
de pulverização. A câmara de deposição possui várias entra- visual recorrendo ao microscópio óptico e posteriormente fo-
das de forma a permitir a admissão dos gases durante a depo- ram tiradas fotografias.
sição. O equipamento auxiliar é constituído por uma fonte de
A influência da “idade” e dador das impressões digitais na
alimentação modelo PFG 1500 DC- Generator da Huttinger,
qualidade da revelação foi estudada. É de realçar que exis-
material de controlo de pressão e válvulas reguladoras.
tem algumas condições e factores adversos que são difíceis
de controlar e reproduzir, tais como, a quantidade de gordura
e água, a presença de impurezas, a força imprimida na im-
pressão digital, etc [3]. De modo a perceber a influência da
“idade” foram reveladas impressões digitais “frescas” e com
vários dias, desde 1 até 30 dias; ou seja, alguns substratos
após a limpeza e colocação da impressão digital foram guar-
dados durante o tempo estipulado para posterior deposição
nas condições definidas como ideais para cada um dos alvos.
Quanto ao dador foram escolhidos: dadores I e II do sexo
feminino e dadores III e IV do sexo masculino. Os dedos
escolhidos para a recolha das impressões digitais foram o
indicador e o polegar, dando mais ênfase ao primeiro. Para
posterior efeito comparativo foram recolhidas em papel im-
Fig. 2.3. Equipamento de pulverização catódica. pressões digitais dos vários dadores utilizando tinta para
marcadores. Alguns exemplos destas impressões são apre-
2.2.2 Procedimento sentados na figura 2.4.
Após a limpeza dos alvos, a etapa seguinte deste trabalho Fig. 2.4. Impressão digital do indicador e polegar a) do dador I e b) do dador
consistiu na deposição para avaliação de espessura. Assim, III.
Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 22, n.º 1/2, 2010 37
A.S. Peixoto, A.S. Ramos Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes
Espessura
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Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes A.S. Peixoto, A.S. Ramos
3. Apresentação e Discussão de
Resultados
Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 22, n.º 1/2, 2010 39
A.S. Peixoto, A.S. Ramos Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes
o vestígio digital latente revelado e a impressão digital pa- tonalidade mais “acobreada”, como é o caso das amostras
drão [1]. Todas as revelações que não permitiram visualizar presentes nas figuras 3.1 e 3.2.
convenientemente e com algum detalhe as cristas e pontos
característicos tiveram avaliação negativa em relação à quali-
dade da revelação. Pelo contrário, as revelações cujas amos-
tras tinham uma boa definição e nitidez, foram consideradas
promissoras e com boa qualidade de revelação.
40 Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 22, n.º 1/2, 2010
Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes A.S. Peixoto, A.S. Ramos
Numa primeira fase, para os revestimentos de ouro, foram Tal como nas deposições de filmes finos de cobre, a revelação
fixadas as condições de pressão de deposição e potência apli- de impressões digitais através da deposição de filmes finos
cada ao alvo. De modo a perceber qual o tempo óptimo para de ouro foi possível e, neste caso, com melhores resultados e
essas condições foi alterado o tempo em cada deposição. As- mais promissores. Nos filmes finos de ouro, a alteração dos
sim, para valores de densidade de potência de 5,1 W.cm-2 e parâmetros de deposição influenciou a qualidade das revela-
pressões de deposição de 8 Pa, o tempo variou entre 0,25 e 1 ções, mas de uma maneira mais subtil quando comparados
minutos. As amostras com tempo de deposição igual ou su- com os filmes finos de cobre. Durante as deposições para op-
perior a 1 min revelaram as impressões digitais mas apresen- timização de parâmetros a grande maioria das amostras foi
tavam má definição e nitidez (figura 3.4). Do mesmo modo, revelada sem grandes perdas de nitidez e definição com a va-
no filme depositado durante 0,25 min as cristas da impressão riação das condições de deposição.
digital não são nítidas como no caso dos filmes depositados
com tempos intermédios (0,5 e 0,75 min). Com base na observação visual das amostras revestidas, fo-
ram estabelecidas como condições de deposição ideais para a
revelação de impressões digitais, as condições apresentadas
na tabela III.2.
De acordo com as fotografias da figura 3.4 foi escolhido como Na figura 3.6 são apresentadas duas amostras que foram re-
tempo óptimo 0,75 min, pois a amostra DID-75-I-I revelou veladas com as condições óptimas de deposição. Os pontos
com maior sucesso os vestígios digitais (maior definição e característicos são visíveis em ambas as amostras, mas sem
clareza das cristas). O factor tempo não foi tão determinan- dúvida que a qualidade de revelação é superior no caso da
te como no caso dos filmes de cobre, pois embora as amos- amostra revelada com ouro. De acordo com as espessuras da
tras apresentem aspectos diferentes, em todos os casos com tabela III.1 e tendo em consideração os diferentes tempos de
as condições de deposição definidas (Pdep=8 Pa; Dens.P=5,1 deposição, estes filmes devem ser bastantes finos, com espes-
W.cm-2) as impressões digitais latentes foram reveladas. suras de apenas algumas dezenas de nanómetros
Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 22, n.º 1/2, 2010 41
A.S. Peixoto, A.S. Ramos Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes
vez mais as amostras das figuras 3.7 e 3.8 foi verificado que a
impressão do dador III tinha uma área de nitidez e definição
superior à da impressão do dador I. Este fenómeno pode ter
resultado da perda de vestígios da DID-73-I-I com o decorrer
dos 31 dias.
Além, da qualidade das fotografias, existe outro aspecto a ter Fig. 3.8. Fotografia digital da amostra DID 73-I-I (idade=31 dias).
em conta que influenciou a aparência das amostras: a oxida-
ção dos filmes finos, sobretudo dos de cobre [37]. Ao longo do Da análise destes resultados foi concluído que foi possível a
tempo os filmes de cobre começaram a apresentar vestígios de revelação de impressões digitais com idades até 31 dias atra-
oxidação em toda a superfície, incluindo e preferencialmente vés da deposição preferencial de filmes finos de ouro, sem ser
nas cristas. Este fenómeno parece evidente por se tratar de comprometida a qualidade das revelações. Contrariamente,
uma zona com resíduos sebáceos (gordura, suor) favorecendo os filmes de cobre apenas revelam com qualidade impressões
a ocorrência de oxidação. A tonalidade das amostras variou digitais frescas.
entre os tons de roxo, azul e vermelho. Deste modo, a conser-
vação das impressões reveladas não é tão eficaz como no caso 3.2.3 Deposição Preferencial
dos filmes de ouro que não oxidam com o tempo.
De acordo com o observado previamente por K. Kent e M.
Stoilovic [25], em determinadas condições, filmes metálicos
3.2.2 Influência da “Idade” e Dador
produzidos por pulverização catódica são preferencialmente
Utilizando as condições óptimas de deposição na revelação depositados nas cristas dermopapilares. Para tal, os átomos
de vestígios lofoscópicos latentes, foram analisadas amostras devem estar termalizados, sendo a sua mobilidade reduzida,
com diferentes “idades” e dadores. pelo que tendem a “congelar” na posição em que chegam
ao substrato. Deste modo, e uma vez que para pressões de
A figura 3.7 corresponde a revelações de impressões digitais
deposição elevadas os átomos sofrem inúmeros colisões no
do dador III com diferentes “idades” – 1 dia, 4 dias, 11 dias.
percurso intereléctrodos adquirindo trajectórias aleatórias, os
Na figura 3.8 é apresentada a revelação de uma impressão
átomos atingem numa primeira fase as cristas das impressões
digital do dador I com 1 mês de “idade”. Comparando as fi-
que correspondem a picos de rugosidade e que por isso são
guras 3.7 (a) e (b) não são visíveis grandes diferenças na to-
as primeiras a ser revestidas (figura 3.9). As características
nalidade das amostras e ambas apresentam uma boa definição
únicas da técnica de pulverização catódica em conjunto com
das cristas. A amostra DID-101-I-III (figura 3.7(c)) apresenta
o relevo das cristas dermopapilares tornam então possível a
uma tonalidade diferente e as cristas parecem definidas com
revelação de impressões digitais latentes. Com o aumento do
um “traço” mais heterogéneo, mas sem perder muita qualida-
tempo de deposição os filmes acabam por preencher os espa-
de. Relativamente à figura 3.8, foi considerada uma revelação
ços entre as cristas (sulcos) formando uma camada unifor-
com sucesso, tendo em conta que foi revelada 1 mês depois
de ter sido colocada no substrato. me e impossibilitando a revelação dos vestígios lofoscópicos
(figuras 3.1(b) e 3.2(b)). Ao contrário da técnica de pulve-
Outro aspecto a enfatizar é o dador – a quantidade de teor rização catódica, a técnica de evaporação mais utilizada em
sebáceo (suor, gordura, etc.) presente nos resíduos e a força laboratórios forenses não permite este tipo de revelação, pois
aplicada durante a deposição da impressão digital dependem este processo decorre sob alto vácuo, pelo que a trajectória
do dador. Durante a colocação das impressões digitais foi vi- dos átomos é maioritariamente perpendicular à superfície do
sível que cada dador deixava uma quantidade de vestígios di- substrato não permitindo a deposição preferencial das cristas
ferentes, o dador I apresentou sempre menos vestígios após a e consequentemente a revelação positiva das impressões di-
colocação da impressão do que o dador III. Comparando uma gitais (figura 3.10).
42 Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 22, n.º 1/2, 2010
Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes A.S. Peixoto, A.S. Ramos
Fig. 3.9. Deposição preferencial por pulverização catódica. Fig. 3.13. Fotografias ópticas da amostra DID 33-I-I (alvo cobre).
Fig. 3.12. Fotografias ópticas da amostra DID 13-I-I (alvo cobre). Fig. 3.17. Micrografias SEM da amostra DID 33-I-I (alvo cobre).
Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 22, n.º 1/2, 2010 43
A.S. Peixoto, A.S. Ramos Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes
Na imagem da direita, os pontos escuros nas cristas parecem foram produzidos filmes nas condições óptimas de deposição,
corresponder a poros utilizando substratos de aço e silício.
3.3.1 Morfologia
A morfologia dos filmes de cobre e ouro foi observada por
microscopia electrónica de varrimento de alta resolução após
fractura do conjunto substrato/filme. Nas figuras 3.21 a 3.24
são apresentadas micrografias representativas da morfologia
superficial e transversal dos filmes finos em estudo. Enquanto
que os filmes de cobre apresentam uma morfologia compacta
Fig. 3.18. Micrografias SEM da amostra DID 99-I-III (alvo ouro; 4 dias). sem detalhes (figuras 3.21 e 3.22), os filmes de ouro exibem
uma superfície descontínua e porosa a que corresponde uma
morfologia transversal colunar (figuras 3.23 e 3.24).
Durante a preparação das secções transversais os filmes não
acompanham a deformação do substrato e, junto à zona de
fractura, acabam por se destacar tal como ilustrado nas ima-
gens das figuras 3.22 e 3.24. Contudo, a observação dos fil-
mes, em secção transversal tornou possível avaliar a sua es-
pessura, cujo valor é de cerca de 30 e 25 nm para os filmes
Fig. 3.19. Micrografias SEM da amostra DID 73-I-I (alvo ouro; 31 dias). de cobre e ouro, respectivamente (figuras 3.22 e 3.24). Os
valores de espessura determinados por SEM estão de acordo
As imagens ópticas e SEM apresentadas anteriormente cor-
com os resultados extrapolados a partir das espessuras deter-
respondem a substratos de aço. A título de exemplo, os subs-
minadas pela técnica de perfilometria.
tratos das imagens da figura 3.20 são de silício. Ainda que seja
possível a revelação das impressões digitais, o aspecto das
cristas reveladas é distinto do observado sobre aço. De notar
que estas impressões eram frescas. Aparentemente, a super-
fície sobre a qual é colocada a impressão digital influencia a
transmissão e absorção de gordura e suor. No caso do silício,
parece que as impressões consistem em pequenas gotículas
uniformemente distribuídas ao longo das cristas. Assim, ao
escolher o(s) método(s) mais adequado(s) para a revelação de
impressões digitais deve ser tido em conta o tipo de superfície
em que estas foram, intencionalmente ou não, colocadas. Fig. 3.21. Micrografias SEM de alta resolução (superfície) de um filme de
cobre.
(a)
(b)
Fig. 3.20. Imagens (a) ópticas e (b) SEM da amostra DID 85-I-I (substrato
silício; alvo ouro).
44 Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 22, n.º 1/2, 2010
Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes A.S. Peixoto, A.S. Ramos
CONCLUSÕES
Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 22, n.º 1/2, 2010 45
A.S. Peixoto, A.S. Ramos Filmes Finos & Revelação de Impressões Digitais Latentes
uma superfície descontínua e morfologia transversal co- Ordnance Detection and Mitigation. NATO Science for
lunar. Peace and Security Series B – Physics and Biophysycs
• O relevo das cristas dermopapilares torna-as detectáveis (2009), p. 189-196.
através da análise por perfilometria tridimensional.
[14] B. Schnetz, P. Margot, “Technical note: latent fingerma-
Neste trabalho, pela primeira vez a técnica de pulverização rks, colloidal gold and multimetal deposition deposition
catódica foi utilizada no Centro de Engenharia Mecânica da (MMD) – Optimisation of the method”, Forensic Scien-
Universidade de Coimbra no âmbito das Ciências Forenses e ce International 118 (2001) 21-28.
Criminais. Os resultados promissores alcançados abrem pers-
pectivas no sentido de no futuro prosseguir a investigação [15] E. Stauffer, A. Becue, K.V. Singh, K.R. Thampi,
neste domínio. C. Champod, P. Margot, “Single-metal deposition
(SMD) as latent fingermark enhancement technique: Na
alternative to multimetal deposition (MMD)”, Forensic
REFERÊNCIAS Science International 168 (2007) e5-e9.
[9] F. Calado, A. Simas, “Técnicas de Revelação de Vestí- [23] N. Jones, D. Mansour, M. Stoilovic, C. Lennard,
gios Lofoscópicos”. Instituto Superior de Polícia Judi- C. Roux, “The influence of polymer type, print donor
ciária e Ciências Criminais. Portugal (2002). and age on the quality of fingerprints developed on plas-
tic substrates using vacuum metal deposition”, Forensic
[10] K. Kent, G.L. Thomas, T.E. Reynoldson, H.W. East, Science International 124 (2001) 167-177.
“A vacuum coating technique for the development of
latent fingerprints on polythene”, Journal of Forensic [24] X. Dai, M. Stoilovic, C. Lennard, N. Speers, “Vacuum
Science Society 16 (1976) 93-100. metal deposition: Visualisation of gold agglomerates
using TEM imaging”, Forensic Science International
[11] O.P. Jasuja, M.A. Toofany, G. Singh, G.S. Sodhi, “Dy- 168 (2007) 219-222.
namics of latent fingerprints: of ninhydrin developed
prints – A preliminary study”, Science and Justice 49 [25] K. Kent, M. Stoilovic, “Development of latent finger-
(2009) 8-11. prints using preferential DC sputter deposition”, Foren-
sic Science International 72 (1995) 35-42.
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2009). [26] M.J. Choi, A.M. McDonagh, P. Maynard, C. Roux,
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