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especifica em nosso sistema de raciocinios. Portanto, as relagdes de semelhanca e de contiguidade dependem da relacao de causalidade. Com ‘essa explicagéio Hume deu por encerrado o modelo empirista de conhecimento. ‘Tomando por referencia a exposigao do modelo ‘empirista de conhecimento em sua totalidade, inicio, agora, minha anélise reflexiva sobre 0 conhecimento produzido como modelo (produto) e como método de investigacao da realidade (processo).. Do ponto de vista de sua génese, o modelo empirista de conhecimento tem pressupostos légicos, epistemolégicos e metodolégicos em todas as etapas do processo de produgao do conhecimento como modelo (produto) e método (processo) Tem pressupostos Idgicos por considerar, antecipadamente verdadeiro e evidente por si mesmo, 0 fato de que a légica presente na produgéo do conhecimento ‘como modelo 6 a mesma do conhecimento produzido como método (proceso). Tem pressupostos epistemoldgicos por considerar, antecipadamente verdadeiro e evidente por si mesmo que o papel do sujeito, do conhecimento produzido como modelo ou produto, 6 idéntico ao papel do sujeito, do conhecimento produzido como método ou proceso. Tem pressupostos metodolégicos, por considerar antecipadamente verdadeiro e evidente, por si mesmo, que 0 proceso de produgao do conhecimento como modelo ou processo idéntico do processo de produgao do conhecimento como método ou produto da investigagao cientifica. Do ponto de vista de seus pressupostos basicos, o modelo empirista de conhecimento tem implicagées légicas, epistemologicas e metodolégicas em todas as etapas do processo de produgao do conhecimento como modelo, ou produto, e como método ou proceso. Tem implicagses Iéaicas, por considerar a légica do processo de produgao do conhecimento como modelo idéntica a logica do processo de produgao do conhecimento como produto da investigagao cientifica. Tem implicagdes epistemoldgicas, por considerar 0 papel do sujeito produtor de conhecimento como modelo, ou processo, simitar ao papel do sujeito produtor de conhecimento como produto. Tem implicagdes metodoldgicas, por considerar que o processo de produgao do conhecimento como modelo, ou proceso, é idéntico ao processo de produgo do conhecimento como produto, ou resultado das investigagoes cientificas da realidade. Do ponto de vista de suas implicagées basicas, o modelo empirista de conhecimento faz corresponder o valor das experiéncias do conhecimento ecimento e Suas Relages BB René Descartes Font: mtpsiages google.com timages produzido como modelo, ou processo, ao valor das experiéncias do conhecimento produzido como produto ou resultado. 2.2 MODELO RACIONALISTA DE CONHECIMENTO © modelo racionalista de conhecimento tem sua génese, nas reflexes que o filésofo francés René Descartes (1596- 1650) desenvolveu, para identificar a base epistemolbgica da dedugao empirica, com ela unificar os diversos campos de investigago da Ciéncia e religar 0 conhecimento cientifico a0 filos6fico, para verificar a validade do conhecimento cientifico e da viséo de mundo a ele correspondente. Descartes percebeu, como Bacon, que a dedugao empirica também era sempre utilizada pelos estudiosos dos fenémenos da Natureza para descrever e explicar as etapas do método cientifico de investigagao da realidade. Para dar conta da extensa e complexa tarefa que se havia proposto, 0 pai do modelo racionalista de conhecimento iniciou a construgao de seu modelo de conhecimento com a busca de uma verdade primeira que, existindo por si mesma no conhecimento produzido como modelo, ou produto, pudesse ser a base epistemolégica da deducao empirica Essa base permitiria: unificar os diversos campos de investigagéio da Ciéncia; religar entre si o conhecimento cientifico e filoséfico, para, finalmente, verificar a validade do conhecimento produzido por meio do método cientifico de investigagao da realidade @ da visdo de mundo que the corresponde. Para que a verdade procurada por Descartes 0 ajudasse a resolver os problemas acima mencionados, ela no podia, em hipétese alguma, ser posta - & prova. Tinha que ser evidente por si mesma, Caso contrario, a gigantesca tarefa no poderia ser realizada. O no poder pér a prova a verdade primeira levou o pai do modelo racionalista a buscar ajuda para a procura dessa verdade no modelo matematico de deduco de ideias claras, quanto as suas significagées; distintas, quanto ao papel que desempenham no processo de conhecer; e precisas, quanto ao rigor de seus significados. Orientando-se, pois, por esse modelo matemético, Descartes iniciou a busca da verdade primeira, duvidando de todas as verdades que sua mente podia alcangar: Duvidou das verdades sobre o mundo, o homem, a sociedade, a educagao e 0 conhecimento, que Ihe foram apresentadas pela educagao familiar e escolar. Duvidou das verdades do método escolastico da autoridade, por meio do qual realizou seus estudos universitarios. Duvidou das verdades do conhecimento cientifico e filoséfico. E, por tiltimo, duvidou das verdades das afirmagSes de sua consciéncia sobre as informagdes 34. FLOsoFIA | 0 Conhecimento ¢ Suas Relagbes repassadas por seus érgdos sensoriais a respeito das mundo fisico; ¢ da existéncia de seu proprio corpo fisico. Quando a divida alcangou o proprio trabalho que a razo vinha fazendo de duvidar de todas as verdades, Descartes interrompeu 0 proceso da duvida metédica e afirmou surpreso: “penso, logo existo!”. A frase do filésofo se deveu ao fato de ter encontrado a verdade primeira antes de qualquer contato com a realidade empirica, do seu conhecimento produzido como modelo de conhecimento. A verdade do modelo racionalista de conhecimento, procurada por Descartes no interior do processo de produzir 0 seu modelo de conhecimento como produto das relagées entre sujeito € objeto, se apresentava como de origem biolégica hereditaria, ou inatista Na citagao abaixo, voce pode perceber que o filésofo aponta para a origem “biolégica hereditaria da verdade do modelo racionalista de conhecimento. [1 nao a recebi dos sentidos ¢ nunca ela se ofereceu a mim contra ‘a minha expectativa, como o fazem as idélas das coisas sensiveis, quando essas coisas se apresentam ou parecem apresentar-se 20s 6rgaos exteriores de meus sentidos. Néo é também uma pura produgao ou ficgao de meu espirito; pois ndo esta em meu poder diminuir-lhe ou acrescentar-the coisa alguma. E, por conseguinte, do resta outra coisa a dizer sendo que, como a idéia de mim mesmo, ela nasceu e foi produzida desde o momento em que fui criado (DESCARTES apud SILVA, 1993, p. 130-131). Observe que nao restou qualquer divida a Descartes sobre o que ele proprio havia descoberto: uma verdade primeira que era a propria base epistemolégica da dedugao empirica. Mas, para também nao restar qualquer divida a outros sujeitos, o filésofo precisou validar a origem hereditaria do trabalho da razdo. Para isso, ele se apoiou, outra vez, no modelo matemético de dedugo de ideias claras, distintas e precisas. Veja, na citagao abaixo, como ele apontou para este modelo dedutivo, [J Jamais acoiher alguma coisa como verdadeira que eu néio ‘conhega evidentemente como tal: isto 6, evitar cuidadosamente & precipitagao e a preveng&o, e nada incluir em meus juizos que no se apresente to clara e to distintamente a meu espirito, que eu ndo tenha ocasido de pé-la em duvida (DESCARTES apud SILVA, 1993, p. 111) ‘Ao examinar a origem hereditaria do trabalho da razao, o pal do modelo racionalista de conhecimento constatou que, quando 0 trabalho da razéio se referia a validagao de representagdes mentals de objetos fisicos, a sua origem Jégica hereditéria era facilmente atingida pela incerteza. Por qué? Por que as representacdes mentais de objetos fisicos poderiam estar “contaminadas” com percepgées sensitivas erréneas a respeito do objeto. Mas, quando 0 0 Conhecimmento ¢ Suas Relagses BS ‘exame da origem hereditéria do trabalho da razéio se referia a validagdo de representagdes mentais de objetos ndo fisicos, como o proprio trabalho da razo, a verificagao se apresentava com grande nitidez e estabilidade. Averificagao da origem hereditaria do trabalho da razao, em nivel de certeza, foi examinada por meio de uma reflexao tao radical, rigorosa sistematica e abrangente, que acabou religando entre si os conhecimentos cientificos e filos6ficos e validando, como processo 0 conhecimento produzido pelas diversas ciéncias particulares. Mas, a verificagao do trabalho da razéo, em nivel de verdade foi feita por meio de preceitos metodolégicos complementares, como o preceito da andlise, da sintese e da enumeragao. © preceito da anélise consiste em identificar os caracteres do conhecimento produzido como processo de investigago da realidade e em agrupa-los em classes, por elementos, aspectos e dimensées. - Aclasse dos elementos & a mais simples a mais facil de ser identificada, por ser constituida pelo sujeito e pelo objeto de conhecimento, tendo 0 sujeito papel preponderante no processo do conhecer, em decorréncia do trabalho da razao. - A classe dos aspectos é basicamente formada pelos pontos de vista \6gico, epistemolgico e metodolégico do conhecimento produzido como modelo racionalista, ou produto do trabalho da razo, porque esses pontos de vista so, também, os pontos de partida do conhecimento produzido como proceso de investigagdo da realidade. - A classe das dimensées é fundamentalmente constituida pela ética e pela politica, por serem essas as dimensdes do conhecimento produzido como produto, e do conhecimento produzido como processe. O preceito da sintese consiste em conduzir a andlise dos caracteres do conhecimento como processo por ordem de complexidade, caminhando da classe mais simples para a mais complexa, ou da classe dos elementos para a classe dos aspectos e, dai, para a das dimensdes do conhecimento. O preceito da enumeragao consiste em listar, por ordem de complexidade, os caracteres do conhecimento como processo, reagrupando-os nas diversas classes, de modo a verificar que nada foi omitido a respeito do objeto de conhecimento. Como Descartes saiu do mundo do puro pensamento do conhecimento como produto e como processo e retomnou ao mundo da realidade empirica, onde estava a existéncia de seu préprio corpo e cujas representagdes ele mesmo havia posto em divida? O fildsofo racionalista retornou ao mundo da realidade empirica, aplicando ao seu raciocinio légico, “se duvido: penso!” as mesmas progressées do modelo matematico de dedugao de ideias claras, 3G FLosoria! 0 Conhecimento ¢ Suas Ri distintas e precisas. Foi, pois, de maneira hipotético-dedutiva, que Descartes passou do mundo do pensamento puramente teérico para o mundo da realidade empirica, onde estava a existéncia de seu corpo. Mas, como todo raciocinio hipotético precisa ser posto a prova, para ser validado pelo trabalho da razo, antes de passar da certeza subjetiva da ‘existéncia do mundo fisico para a certeza objetiva da existéncia desse mundo ede sua existéncia como individuo e pessoa, o pal do modelo racionalista de conhecimento precisou demonstrar a génese do trabalho da razo. Por qué? Porque a ideia de “trabalho da raza” 6, para Descartes, a Unica garantia de que os seres humanos se distinguem das demais espécies animais. Por isso, 0 trabalho da razao é a verdade primeira do conhecimento produzido como modelo racionalista de conhecimento, ou como produto, para ser utilizado por outros tipos de conhecimento. Para demonstrar a existéncia do trabalho da razdo sem apelar para a argumentagao metafisica de cunho religioso, téo comum em sua época as tentativas de provar a existéncia do trabalho desta faculdade humana, o pai do modelo racionalista de conhecimento fez, de sua argumentagao, nao a passagem da ideia de trabalho da razo para o efetivo trabalho da raz4o, mas a passagem do efetivo trabalho da razo, no conhecimento produzido como produto, para o efetivo trabalho da raz4o no conhecimento produzido como processo de investigagao da realidade empirica. Asintese da argumentagdo cartesiana pode ser expressa da maneira como segue: porque 0 trabalho da razo existe, de fato, no conhecimento produzido como modelo ou produto, & que a existéncia do trabalho da razéo se justifica em todos os campos de investigagao da realidade. ‘Apés deduzir a existéncia do trabalho da razo no conhecimento produzido como produto e como process, 0 filésofo voltou a se ocupar da validagao da existéncia do mundo fisico. Como as representagdes do mundo fisico se originam de impressoes sensiveis, sujeitas a erros, ele ndo pode aplicar diretamente a elas os preceitos metodoldgicos de andlise, sintese e enumeragao. Elas tiveram que ser dedutivamente demonstradas por meio de etapas sucessivas de ‘argumentago puramente légica, num desenvolvimento crescente de seu ‘grau de certeza. Primeiro, ele demonstrou que a existéncia do mundo fisico era possivel; depois, que era provavel; e, finalmente, que era certa. Para fazer a demonstrago dedutiva desses graus Indutivos de certeza, 0 filésofo se embasou na ideia de onipoténcia da razéio, de um lado; e, de outro, na certeza de que sempre hd a ideia de mundo concebido como “grandeza” € forma”. no pensamento dos sujeltos. Ora, o mundo assim concebido é uma LOSOFIA! 0 Conhecimento ¢ Suas Relacces 37 extenséio da légica formal, que organiza, em sistema de representagées, as informagSes recebidas da realidade. E, pois, a aplicagao dos conceitos de grandeza e de forma ao mundo empirico pensado como produto que torna provavel a existéncia desse mundo como processo. ‘Como Descartes passou da certeza da existéncia da realidade empirica (res extensa = coisa ou substéncia extensa) para a certeza da existéncia da alma (res cogitans = coisa ou substancia pensante)? A passagem de uma certeza para a outra passou pela explicitagao da finalidade da existéncia do trabalho da razo em seu proprio corpo. Por qué? Porque, para fazer a demonstragao da finalidade da existéncia do trabalho da razdo em seu proprio corpo fisico, 0 fildsofo se apoiou o tempo todo, no trabalho da raz&io como finalidade Ultima da existéncia humana. Portanto, a razéo, a quem Descartes denominou res infinita (coisa ou substancia infinita) tomou 0 lugar de Deus, no modelo de conhecimento racionalista e mediou mais duas certezas: a de que a razo é uma substancia pensante e a de que essa substancia tinha realmente um corpo. E como ele estendeu a certeza de ser o trabalho da razéo a finalidade ultima da existéncia humana para os demais individuos? A certeza de haver uma “substancia pensante” no corpo fisico de um dos individuos da espécie, garantiu a extenso dessa certeza para 0 corpo fisico de todos 0s individuos. Foi, pois, como “substancia pensante” e “substancia extensa” que 0 pal do modelo racionalista de conhecimento passou do mundo do puro pensamento para 0 mundo da existéncia humana. No modelo racionalista de conhecimento, “substancia pensante” e "substancia extensa’ coexistem na mente do autor do modelo como duas substancias opostas entre si, assim como as ideias de “sujeito cognoscente” e de “objeto, de conhecimento” coexistem na mente desse mesmo autor, como elementos opostos do processo de conhecer. Com a distingao entre “sujeito cognoscente" e “objeto de conhecimento”, Descartes deu por concluida a tarefa que havia se proposto realizar. Exposto em totalidade o modelo racionalista de conhecimento, passo a analisé-lo.do ponto de vista de sua génese, de seus pressupostos basicos e de suas implicagdes para a sociedade e Educacdo. Do ponto de vista de sua génese, o modelo racionalista de conhecimento tem pressupostos légicos, epistemolégicos e metodologicos. Tem pressupostos I6gicos, por aceitar antecipadamente como verdadeiro, @ evidente, por si mesmo, que a légica do proceso de produgao do BB cLosoria! 0 Conhecimento ¢ Suas Relagdes conhecimento como produto é a mesma do processo de produgao do conhecimento como processo de investigagao. Tem pressupostos epistemolégicos, por aceitar antecipadamente como verdadeiro e evidente, por si mesmo, 0 fato de que o papel do sujelto que produz o conhecimento como modelo, ou produto, é o mesmo do sujeito que produz o conhecimento como processo. Tem pressupostos metodologicos, por aceitar antecipadamente como verdadeiro e evidente, por si mesmo, 0 fato de que a produgao do conhecimento como produto condigao necesséiria, e a produgao do conhecimento como proceso de investigagao é condigéo suficiente para se compreender como os seres humanos produzem conhecimento. Do ponto de vista de seus pressupostos basicos, o modelo racionalista de conhecimento tem implicagdes légicas, epistemologicas e metodologicas em todas as etapas do processo de produgao do conhecimento como produto ‘como processo.. Tem implicacbes logicas, por aceitar passivamente que a logica, que organiza em sistema de representagdes 0 processo de produgao do conhecimento como produto 6 a mesma que organiza, em sistema de representagdes, 0 processo de produgao do conhecimento como processo de investigacao da realidade. Tem implicagSes epistemolégicas, por aceltar passivamente que o papel do sujeito que produz conhecimento como modelo, 6 o mesmo do sujeito que produz conhecimento como processo. Tem implicag5es metodolégicas, por aceitar passivamente que o desenvolvimento das etapas do método de produgao do conhecimento como produto é idéntico a0 desenvolvimento das etapas do método de produgao do conhecimento ‘como processo de investigagao, 2.3 MODELO DIALETICO DE CONHECIMENTO © modelo dialético de conhecimento tem sua génese no sistema de pensamento idealista produzido pelo filésofo alemao Emanuel Kant (1724-1804), para verificar as possibilidades e os limites da razéo produzir conhecimento como modelo de conhecimento da religiao e da fe. O conhecimento produzido por Kant, como modelo, tem por contetido a ideia de liberdade religiosa, concebida como ideal a ser alcangado pelo povo alemao. E60 tomar a idéia de liberdade religiosa como ideal a ser alcangado pelo povo alemdo que configura 0 contetido do pensamento de Kant como idealista. E mais, Ao refletir sobre Emmanuel Kant : F : Fora itp nda Ses wonépees. as possibilidades e os limites da razéo produzir ‘emer iat conhecimento como modelo de conhecimento da religiao e da fé, 0 flésofo alemao emprestou de Aristételes a nogao dialética de “logica das aparéncias’, para afirmar a impossibilidade de conhecer a coisa em si. OSOFIA| 0 Conhecimento e Suas Relagoes BF Kant iniciou a construgao de seu modelo de conhecimento, por uma critica a0 ‘endeusamento da razo, produzido por Descartes, e a elevagao da razio & categoria de julza, promovida pelos filésofos do iluminismo francés. A radicalidade da critica kantiana a esses dois fatos da Historia da Filosofia foi to profunda que seu pensamento ficou conhecido como criticismo kantiano, Acritica de Kant a razo resultou em uma téo detalhada descrigao biologica do conhecimento, que revelou a origem hereditaria da estrutura da mente. Isto é, a mente ndo é, para Kant, uma folha de Papel em branco, como em Locke, em que as sensagdes registram 0 que o sujeito sente a respeito do objeto. Nao 6, também, um nome para designar estados mentais de euforia, de prazer ou de depressao, como Hume havia afirmado. E um 6rgéo do ‘cérebro humano que coordena a cadtica multiplicidade de sensagées, para transforma-las em percepgées, concepgées e ideias. Veja, na citagao abaixo, como um historiador da filosofia registrou o que Kant explicou a respeito do proceso de conhecer a realidade. ‘As sensagtes chegam & nossa mente por meio de miltiplos “nervos aferentes’. Estes passam pela nossa pele, pelos nossos olhos, pelos nossos ouvidos, pelas nossas narinas, pela nossa boca em diregao @ antecémara do nosso cérebro. Deixadas a ropria sorte, as sensagbes continuam sendo um caético e impotente “miltiplo", esperando ordens para se transformar em ideias.[..] Na escura cdmara do cérebro, as sensagdes se transformam em percepgdes. Estas so como alavancas que elevam o conhecimento “perceptual” de objetos ao conhecimento “conceitual” de relagbes, seqléncias e leis. As percepodes so instrumentos que organizam as sensagdes em tomo de objetos no ‘espago € no tempo, a concepeéo arruma percepgdes (de objetos eventos) em tomo das idéias de causa, unidade, relagao reciproca, Necessidade, contingéncia, etc. (DURANT, 1996. p. 258-259). , Adescrigao menciona “nervos aferentes” como canais de mensageiros por meio dos quais as sensagdes desembocam, fragmentada e atabalhoadamente, na antecémara do cérebro, esperando ordens para se transformar em Percepeses, concepgdes e ideias. A consciéncia 6 quem seleciona e coordena 0s fragmentos de sensagdes, de acordo com suas proprias intengdes no momento, ou em fungao de sensagées que trazem mensagem de perigo imediato. Para Kant, a estrutura da mente 6 formada por percepedes, concepgbes, ideias e as categorias de espago e de tempo do sujeito, Definigées para melhor compreender o paragrafo anterior. Sensacao é estimulo desorganizado, percepeo é sensagao organizada, concepeao ¢ percepeao organizada, ciéncia & 40 riosoriat oc conhecimento organizado, sabedoria é vida organizada: cada qual é um grau maior de ordem, sequéncia e unidade Fonte: DURANT, Will Histria da flosofia, Sao Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 260. ‘Segundo Kant, conhecemos a realidade apenas como ideia, endo como ela € ‘em si mesma. Da coisa em si nada sabemos, samente que ela existe. A ciéncia supde conhecer a coisa em sua plena realidade, mas a filosofia percebe que sensagbes, percepgbes, concepgdes e ideias sto a matéria- prima da ciencia e nao a coisa em si mesma (DURANT, 1996, p. 261). Por que Kant afirmou nao podermos conhecer a coisa em si? Porque, 20 tentar transcender as aparéncias dos fenémenos para alcangar a coisa em seu interior, Kant se deparou com antinomias ou com dilemas insoldvets. Dat ‘ele afirmar ser impossivel conhecer a coisa em si. E também pelo fato de nao ser possivel conhecer a coisa em si que, para ele, a religido ndo pode se basear nem na Ciéncia e nem na Filosofia (chamada por ele de Sabedoria), somente na moral. Para que a religido @ a fé se baselem na moral, é necessério que o principio orientador da moral seja absoluto, incondicional e incontestavel. A esse principio Kant denominou “imperative categérico absoluto”. O imper pode ser deduzido de qualquer ideia superior, pode somente ter sua existéncia e incondicionalidade intuidas do eu interior. Ai Kant deu por encerrado a produgao de seu modelo biolégico @ dialético de conhecimento. nao {A produgio do modelo dialético de conhecimento prosseguit com o sistema de pensamento idealista do também filésofo alemao Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). 0 filbsofo se dispds a procurar a base epistemolégica da relagéo de reciprocidade entre indugdo e dedugo empiricas, para superar a oposigo existente entre o modelo empirista e o modelo racionalista de conhecimento e induzir 0 povo alemao a desencadear uma revolugéo de ideias similar a Revolugao que Hegel, GUE sitios 08 teéricos do Movimento lluminista haviam produzido na Franga. hoe Para compreender melhor © porqué da relagdo do pensamento de Hegel com © Movimento lluminista Francés, lela as informagdes do quadro abaixo. Informagao complementar... Na Franca, membros do Movimento lluminista teorizaram sobre a necessidade de reorganizar o Estado e a sociedade francesa em bases DSOFIA| 0 Conhecimento ¢ Suas Relagoes 4A racionais, com a pratica da liberdade econdmica, religiosa e politica defendida e, posteriormente, assegurada pela laicizagao do Estado. Na Alemanha, os fildsofos do movimento idealista alemao pretendiam seguir os mesmos passos de seus colegas franceses. Mas, sabiam 0 quanto era dificil uma revolugao como a Francesa no territorio alemao. A classe média, em processo de formaco, encontrava-se dispersa em ‘numeroses territérios em que se dividia a Alemanha e tinha interesses divergentes dos interesses da maioria da populago; os ‘empreendimentos industriais eram verdadeiras ilhas dentro do sistema de producao; e a economia feudal, em vigor nos diversos territorios alemaes em pleno inicio do século XIX, dificultava o aprofundamento dos antagonismos. Além disso, os préprios intelectuais do movimento idealista tinham consciéncia de seu grande distanclamento do povo alemao. Mesmo assim, eles pretendiam que sua teorizagao desencadeasse uma revolucao de idéias e, quem sabe a partir dela, uma revolugo econémica e politica. Fonte: HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do espiito, Estética: a idéiae o ideal; Esttica: 0 belo artistico e 0 ideal; Intraducao a Historia da Filosofia, 3° ed,, S80 Paulo: Abril Cultural, 1986. p. Vil Hegel desejava que a Alemanha, seguindo 0 exemplo do Estado francés, se reorganizasse em bases racionais, e que 0 povo aleméo alcangasse a maturidade politica ja vivenciada pelos franceses Como bom protestante, ele lutava contra a Igreja Romana pela liberdade de manifestacao religiosa do povo. E, como filésofo do movimento idealista aleméio, esperava que seu sistema de pensamento iluminasse 0 caminho do movimento unificador da Alemanha, a exemplo do que a filosofia das luzes também havia feito na Franga. Para dar conta da imensa tarefa, Hegel desenvolveu um sistema de Pensamento, em que real e racional foram concebidos por ele como idénticos um ao outro, E conhecida a frase de Hegel — “o real é racional e o racional 6 real" -, por meio da qual ele expressou a absoluta incondicionalidade da identidade proposta (MORAES, 2002, p.80). ‘io cee x6 ‘Apés expressar essa incondicionalidade, 0 filésofo concebeu as trocas do sujeito com o meio como base epistemoligica das relagdes de reciprocidade entre indugo e dedugao empiricas, Adescoberta da génese procurada levou Hegel a conceber a idéia de liberdade religiosa e politica ‘como conteudo do movimento gerador da realidade empirica e racional. O Conhecimento ¢ Suas Relag Descoberto 0 contetido do movimento gerador, ainda faltava ao fil6sofo identificar as etapas e a logica desse movimento. Para isso, ele produziu um modelo de conhecimento que, além de expressar a absoluta identidade entre real e racional, explicitou também as etapas e a ldgica do movimento gerador da realidade. (© modelo produzido por Hegel, modelo psicolégico e dialético da realidade e do conhecimento, se desenvolveu por meio de trés etapas basicas, por ele denominadas tese, antitese e sintese, como vocé pode ver no desenho abaixo. Etapas do método dialético Tese fy Antitese © povo alemao precisa ter a © povo alemao néo tem a liberdade religiosa e politica como _liberdade religiosa e politica como ideal a ser alcangado ideal a ser alcangado Sintese © povo alemao luta pelo direito a liberdade religiosa e politica As etapas do modelo psicolégico e dialético de conhecimento de Hegel t8m por contetido a ideia de liberdade religiosa e politica, concebida como ideal a ser alcangado pelo povo alemo. Dai ser chamado idealista 0 seu sistema de pensamento. Al6gica, que aciona o movimento gerador da realidade e do conhecimento, 6 a logica “dialética’. Sdo as leis dessa légica — afirmagao, negagao e negacao da negagdio —, que permitem explicar a passagem de uma etapa para outra no movimento gerador da realidade. Abaixo vocé pode verificar que as leis da légica dialética correspondem as etapas do método dialético. Leis da Logica dialética Tese my Antitese © povo alemao precisa ter a © povo alemao néo tem a liberdade religiosae politica como _liberdade religiosa e politica como ideal a ser alcangado ideal a ser alcangado Lei: afirmagao Lei: negagao Sintese © povo alemdo luta pelo direito & liberdade religiosa e politica Lei: negagao da negagao FILOSOFIA| 0 Conhecimento e Suas Relagaes 43 Karl Marc Fonte: ntpsimages gecae. comdnoges Foi por meio da aplicagao das leis dessa légica ao modo de vida do povo alemao e ao modelo dialético de conhecimento, que Hegel pode expli mudangas ocorridas no interior de cada etapa, e a passagem de uma etapa para a outra no modo de vida do povo alemao e no modelo dialético de conhecimento. Na passagem de uma etapa para a outra: - Atese 6 0 momento de afirmagao da ideia de liberdade, como ideal a ser alcangado pelo povo alemao. - Aantitese é 0 momento de negagao desse ideal. - Asintese é o momento de negagao da negacao desse ideal como ideal, ou o momento da afirmagéo da luta pela liberdade religiosa e politica. Na obra em que Hegel publicou seu modelo de concepgao do conhecimento A Ciéncia da Légica (1° volume 1812 e 2° volume 1816), 0 processo de produg&o deste modelo é descrito em termos de teoria do ser, teoria da essencia e teoria do conceito, e cada teoria passa, também, pelas mesmas etapas do método dialético. 0 fildsofo fez esta descrig&o, porque a logica que esta presente em cada teoria e nas relagdes que se estabelecem entre elas 6 a mesma légica que esta presente no método e no modelo dialético de conhecimento. Com a explicitagao da triplice identidade entre processo e produgao do modelo dialético e teorias, Hegel deu Por encerrado 0 processo de produgao de seu modelo psicoldgico e dialético de conhecimento, e por concluidas as atividades que havia proposto a si mesmo realizar. Partindo do principio que no é a consciéncia dos individuos que determina o modo de vida das sociedades, e sim 0 modo de produgdo dos bens materiais que determina a consciéncia dos individuos, Karl Marx (1818-1883), outro fil6sofo alemao, produziu uma verséo sociolégica do modelo dialético de Hegel, também conhecida como modelo marxista de conhecimento. O modelo marxista € dialético e sociolégico: - E dialético, porque o filosofo emprestou de Hegel o método dialéttco. - E sociolégico, porque Marx expurgou do método a ideia de liberdade , em seu lugar colocou o modo de produgao dos bens materiais da sociedade e as relagées de produgao que o acompanham e se expandem para todos os espacos e esferas da vida em sociedade. Por ter produzido seu modelo de conhecimento por meio do método dialético criado por Hegel, o modelo marxista segue as mesmas etapas do método 4-4 FILOsOFIA! 0 Con hegeliano — tese, antitese e sintese -, e a mesma légica — afirmagao, negagao ‘e negagéo da negagéo. Contudo, 0 método manxista se diferencia do método hegeliano pela troca do contetido idealista pelo contetido materialista, como. ‘yoo’ pode ver no desenho abaixo. Etapas do método sociolégico e leis da légica dialética Tese fy Antitese E preciso que os individuos Nao é preciso que os individuos tomem consciéncia de que o tomem consciéncia de que o modo de producao capitalista modo de produgao capitalista © as relagdes de producao as relagdes de producao determinam a consciéncia de determinam a consciéncia de cada um.. cada um... Lek: afirmagao Lei: negagéo Sintese 0s individuos tomam consciéncia de que o modo de produgao capitalista e as relagbes de produgdo determinam a consciéncia de cada um. Lei: negagao da negagao No modelo dialético e sociolégico de conhecimento, a tese é 0 momento de afirmagdo do modo de producao capitalista e das relagbes de produgao que ‘0 acompanham como modo dominante e determinante da consciéncia dos individuos. A antitese 6 0 momento de negagao do modo de produgao capitalista e de suas relag6es de dominagao. A sintese & o momento da negacao da negagao do modo de produgéo capitalista e de suas relagdes de dominago e, a0 mesmo tempo, é o momento de afirmago do modo de produgo socialista como etapa de transi¢&o para o modo de produgéo comunista, fim das sociedades para Marx. 0 modelo marxista de conhecimento é, também, uma teoria da sociedade e da Historia. E uma teoria da sociedade, porque seu ponto de partida é 0 modo de produgao dos bens materiais da sociedade e das relagdes de produgao que o acompanham. E uma teoria da Historia, porque a transformagao do modo de produgao capitalista em modo de produgdo socialista e deste em modo de produgéo comunista, ocorre somente por meio da luta de classe que, para Marx, é, em todos os tempos, o motor da Histéria. Com a exposic&o da materialidade ¢ da cientificidade de seu modelo dialético e sociolégico de conhecimento, Marx deu por encerrado 0 processo de produgao de seu modelo de conhecimento. FILOSOFIA! 0 Conhecimento ¢ Suas Relages 45° Expostas as trés verses do modelo dialético de conhecimento, passo a analisé-las do ponto de vista de sua génese, de seus pressupostos basicos e das, Sua implicag6es para a sociedade e a Educacao. Do ponto de vista de sua génese, 0 modelo dialético de conhecimento tém pressupostos légicos, epistemologicos e metodolégicos em todas as etapas da produgao do conheclmento como modelo, ou produto Tém pressupostos légicos, por aceitar antecipadamente como verdadeiro e evidente, por si mesmo, que a l6gica dialética presente no conhecimento produzido como ‘modelo, ou produto é a mesma logica presente no conhecimento produzido como processo de conhecimento dialético e sociolégico da realidade. ‘Tem pressupostos epistemoldaicos, por aceltar antecipadamente como Verdadeiro e evidente, por si mesmo, que as trocas ou as interagées entre 0 sujeito @ o meio sao a base epistemolégica das relagbes de correlatividade e de recursividade entre indugaio e dedugao empiricas. Tem pressupostos metodolégicos, por aceitar antecipadamente como verdadeiro e evidente, por si mesmo, que os pressupostos lagicos ¢ epistemolégicos também se fazem presentes em todas as etapas da produgao do conhecimento como produto. Do ponto de vista de seus pressupostos basicos, o modelo dialético de conhecimento tem implicagées légicas, epistemol6gicas e metodolégicas em todas as etapas da produgao do conhecimento como produto e processo de investigago da realidade Tém implicacdes ldgicas por aceitar como verdade que a l6gica dialética, presente na produgao do conhecimento ‘como modelo, ou produto, também se faz presente na produgao do conhecimento como proceso de investigagao da realidade.Tém implicag6es epistemolégicas, por aceitar como verdadeiro que abase , epistemolégica das relagoes de correlatividade e de recursividade entre \dugao e dedugao empiricas na produgao do conhecimento como modelo, ou produto, é a mesma base das relagdes de correlatividade e de recursividade entre indugao e dedugao empiricas na produgao do conhecimento como processo de investigag&o da realidade empirica. Tém Implicagdes_metodoldgicas, por aceitar que as implicagées logica epistemolégica também esto presentes em todas as etapas da produgao do conhecimento como produto das investigagoes da realidade empirica e como proceso de investigacaio da mesma realidade.. Do ponto de vista de suas implicagées basicas, o modelo dialético de conhecimento se faz presente como produto de investigagao da realidade empirica e como processo de investigagéo da mesma realidade na formacao dos profissionais de todos os setores da sociedade, Particularmente na do setor educacional, AG FILOSOFIA! 0 Conhecimento ¢ Suas Relagdes ‘Até aqui, apresentei dois aspectos da relago do conhecimento com a Ciéncia e com a Filosofia. O terceiro aspecto ¢ contextual e com ele encerrarei o segundo capitulo. 3 POSSIBILIDADES E LIMITES DO CONHECIMENTO CIENTIFICO NA ATUALIDADE Apartir do século XIX, a produgao do conhecimento cientifico foi to expressiva que resultou em mudangas no modo de vida dos individuos. Entre as mudangas destacam-se: a faléncia dos modos de vida ligados a fase pré- industrial, ou fase de manufatura, e 0 enorme crescimento da capacidade técnica., ou da gradativa implantagao do modelo fabril. As duas mudangas tornaram o modo de vida dos individuos muito mais intenso e complexo (RUSSELL, 2003, p. 458). Contudo, 0 mesmo século assistiu a novas descobertas cientificas, que implicaram em grande crise em relagéo @ conflanga que os individuos depositavam na razao. A crise, também conhecida como “crise das ciéncias tem como uma de suas causas a descoberta e 0 desenvolvimento de diversas ciéncias, entre elas as geometrias nao euclidianas e a fisica nao newtoniana, ou fisica quantica. Na primeira década do século XX, a geometria ndo euclideana de Bemahrd Riemann foi aplicada pelo matematico alem&o Albert Einstein (1879-1955) a sua teoria geral da relatividade. ‘Ao desenvolver suas pesquisas sobre o tempo das astronémicas distancias entre estrelas, Einstein descobriu, entre outras coisas, a curvatura da luz das estrelas € 0 espago-tempo como conceitos relatives um ao outro e como fenémeno astrofisico, existindo em uma quarta dimensao. AS novas descobertas cientificas, no campo da astrofisica, Ser eel asaco baregee deixaram claro que a capacidade da razo é limitada a0. instrumental te6rico que a prépria razo produz, em fungao da necessidade de investigar a realidade. Antes dessas descobertas, a humanidade atribula a razao capacidade infinita para conhecer a realidade e resolver os problemas da sociedade. As teorias cientificas pareciam estar em harmonia com o que era percebido pelos sentidos e os cientistas gozavam de prestigio e de posigdo social. A fisica newtoniana, apoiada nos pressupostos do mecanicismo e do determinismo, descrevia 0 mundo como uma verdadeira maquina em funcionamento. Nessa LAT OSOFIA | © Conhecimento ¢ Suas Relag Max Planck Forte: htpsimages google.com, baages direc&o, fisicos como Laplace (1749-1827) imaginavam que, se fosse possivel conhecer as posigées e os impulsos das particulas materiais, seria possivel deduzir a evolugao posterior do universo (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 191). Mas, 0 inicio do século XX trouxe uma outra grande surpresa. O fisico Max Planck (1858-1947) apresentou a fisica quantica, demonstrando que, em distancias microfisicas, a energia se movimenta em quanta descontinuos. Afisica quantica foi utilizada por Einstein e, mais tarde, aperfeigoada por diversos fisicos » | matematicos, entre os quais se encontrava 0 fisico alemao Werner Karl Heisenberg (1901- 1976). Ao tentar determinar a posigao e o movimento de uma das particulas elementares, 0 fisico. alemo percebeu que, quanto mais ele procurava —_Wemer Heisenberg conhecer com preciso uma das varidveis, mais {2 htp/images.gouiecom dificil era conhecer com preciséo a outra. Isto 0 levou a formular o principio da incerteza, segundo o qual a localizagaio da posigao absoluta de uma das particulas implica a indeterminagao de seu movimento e vice-versa (HUISMAN, 2001, p. 479). As novas descobertas cientificas exigiram que a Filosofia repensasse 0 Proceso de produgo da verdade do conhecimento e refletisse sobre o valor das reflexdes que cientistas faziam sobre a prética de utilizarem os elementos, de sua metodologia da pesquisa (observagao, hipétese, experimentacao e generalizacao) para a produgao de leis e/ou de teorias. Pensadores do Circulo de Viena, como Rudolph Carnap (1891-1970), Hans Reichenbach (1891-1935), Alfred North Whitehead (1861-1947) e Ludwig Josef Johann Wittgenstein (1889-1951), tentaram expurgar da Ciéncia e dos elementos de sua metodologia os conceitos e os Pressupostos metafisicos ou abstratos. Como representantes do movimento neopositivista, também. Conhecido como positivismo légico ou empirismo légico, os filésofos do Ciroulo de Viena admitiram que somente a prova empirica poderia verificar a verdade ou a falsidade dos enunciados metafisicos. Outras tendéncias também apareceram. A abordagem psicanalitica tomou por objeto de estudo e de investigagao trés faculdades mentais ocultas & Percepgao sensitiva: a consciéncia, a semi consciéncia e a inconsciéncia. 48 6 SOFIA! O Conhecimento e Cada faculdade foi tema de uma teoria produzida pelo fundador da psicandlise, Sigmund Freud (1856-1939). Em oposiggo a Freud, 0 behaviorismo de B. F. Skinner (1904- 1990) negou a existéncia de entidades aparentemente cocultas na psicologia da introspeccao e tomou como objeto de conhecimento e de trabalho 0 condicionamento do comportamento animal. O modelo dessa tendéncia foi transportado para a Educagdo ¢ nela trabalhado, sobretudo ‘como instrugao programada No campo social, a concepedo religiosa do lugar social do individuo, questionada pelos pensadores do Renascimento, Sree a cam foi completamente descartada pelos pensadores do século bases XIX. A competitividade entre os individuos era a concepea que valia, Planos de mudanga de vida eram de responsabilidade exclusiva do interessado Aos sem condig6es restava apelar para a caridade dos generosos. ‘AAlemanha e a Itélia estavam excluidas da competitividade e da caridade, pois continuavam sob o jugo do regime feudal. (RUSSELL, 2003, 479-480). Na segunda metade do século XIX, a Educago se mantinha estatizada em ‘quase todos 0 niveis e em quase toda a Europa ocidental. A educagao técnica e profissional, ainda fortemente ligada a iniciativa privada, foi também pouco a pouco estatizada. Somente a Educagao Infantil permaneceu com a iniciativa privada. Esse quadro sé foi alterado com a emancipagao das mulheres. No Brasil, isto s6 ocorreu em meados do século XX. Hoje, na esteira da globalizaco, vivenciamos a mundializagao da cultura, principalmente por meio do movimento de ir-e-vir das diversas pessoas, da televisdo e da rede mundial de computadores. Vivenclamos, também, a planetarizagao dos valores da cultura das sociedades, por meio do envio de satélites as mais longinquas distancias do espago celeste, com aparatos tecnolégicos capazes de reproduzir, em oddigos, os valores da humanidade. Arevolugao tecnolégica fez avangar em anos luz 0 conhecimento cientifico da realidade. Uma de suas contribuigdes, 0 mapeamento do cédigo do DNA, deu impulso as pesquisas com células- tronco Hoje essas pesquisas estéo gradativamente possibilitando repor orgos e tecidos danificados ou inutilizados, trazendo muita esperanga para as pessoas portadoras de necessidades especiais. FILOSOFIA| 0 Conhecimento ¢ Suas Relagées 44 Um mega-acelerador de particulas rectia a explosdo onde tudo comegou, para que cientistas e filésofos, melhor compreendendo os instantes iniciais da criagdo do Universo, possam explicar como mais consisténcia como, por qué @ para qué nés, seres humanos, produzimos conhecimento. Vivenciamos, também, a globalizacdo da crise financeira. Esta crise decretou a faléncia de bancos, de industrias, de estabelecimentos comerciais de grande porte © o desemprego em massa nos setores primério, secundério e tercidrio da economia globalizada. O temor da faléncia do sistema financeiro capitalista provocou intermitentes intervengdes do Estado na economia. Por outro lado, florestas a perder de vista sdo a esperanga de cura para muitas doengas. Mas, um alerta vermelho esta dado: o verde esta virando cinzal Afumaga da queima da floresta e a fumaga da combustdo nas industrias, principalmente as de material pesado, da outro alerta vermelho: 0 aquecimento global, desencadeado pela poluigao, esta acelerando significativamente 0 desequilibrio ecolégico do planeta © quadro contextual agrada a uns Queima deforesta -«desagrada a outros, mas todos se Sombusti de tbrica POFUNtaM: como fica a questo das Fonte:htpsimeges googie possibilidades e limites do Satie) conhecimento cientifico, na atualidade? Uns dizem ser infinita a possibllidade de desenvolvimento do conhecimento Cientifico. Outros afirmam que as possibilidades de desenvolvimento infinito * do conhecimento cientifico esbarram em limitagdes de natureza tedrico- metodolbgicas, e em limitagées de natureza ética, juridica e politica. As limitag6es de natureza tedrico-metodolagicas so as referentes ao desenvolvimento de instrumentais tedricos e de procedimentos técnicos e tecnolégicos capazes de permitirem 0 avango do conhecimento cientifico, As limitagoes de natureza ética dizem respeito a responsabilidade social dos cientistas com as descobertas cientificas. As limitagdes juridicas sao relativas Anecessidade de regulamentar, em lei, as pesquisas que pdem em risco a Preservago e continuidade da espécie humana. E as limitag6es politicas dizem respeito ao uso de descobertas cientificas somente para fins pacificos. Espero ter apresentado a vooé uma viséio panordmica, capaz de fazé-lae de fazé-lo, construir a sua posig&o. Al 0 Conhecimer No capitulo seguinte, abordarei as relag6es do conhecimento com a Educagao. Antes, porém, uma pausel, Veja a relacdo de filmes que, de modo direto, t@m a ver com um ou outro momento do capitulo. Fica ‘como sugestéo para vocé enriquecer sua bagagem cultural. Finalizando o capitulo, responda as questdes das Atividades Reflexivas. Elas s40 preparadoras de sua sintese do capitulo. a SUGESTAO DE FILMES [AFORMIGUINHA Z’. Diregao de Eric Damell e TIM Hohnson. Produgéo de Brad Lewis, Aron Warmer e Patty Wooton, Género: Animagao computadorizada. Duragéo: 82 minutos. [AREVOLUGAO DA MATRIX. Diregéo de Andy Wachowski Larry Wachowski. Produgao de Joe! Sliver. Género: Fiogéo cientifica, Durago: 136 minutos. CRUZADA. Direcdo de Ridley Scott. Produgao de Ridley Scott. Género: Aventura. Duragao: 145 minutos. JOANA d’Arc. Direg&o de Luc Besson. Produgao de Patrice Ledoux. Género: Drama. Duragdo: 155 minutos. MATRIX. Diregao de Andy Wachowski e Larry Wachowski. Produgdo de Joe! Silver. Género: Fiogao clentifica, Duragao: 136 minutos. (© NOME DA ROSA. Diregao de Jean-Jacques Annaud. Produgao de Bernd Eichinger. Género: Drama. Duragao: 145 minutos. O REINO DO CEU. Diregao de Ridley Scott. Produgao de Ridley Scott. Genero: Aventura, Duragao: 145 minutos. PONTO DE MUTAGAO. Diregao: Bernt Capra. Produgao: Lintschinger/Cohen. Género: Aventura. Duragao: 126 minutos. TEMPOS MODERNOS. Diregdo e Produgao de Charles Chaplin. Género Comédia, Duragao: 87 minutos. FILOSOFIA! 0 Conh to ¢ Suas Relagoes SL Bom trabalho! S2 FILOSOFIA! 0 Conhecimento e Suas Relagdes

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