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2 Comportamento operante le OR A:T RYT On UM alccre ASSUNTOS DO CAPITULO > Definigao de comportamento como relagao. > Comportamento operante como relagao resposta-consequéncia. > Nogao de classe de respostas definida pela relagao com uma classe de estimulos. > Operante discriminado, a triplice contingéncia > Possibilidade de formagio de cadeias comportamentais. “Viva a operante! (Uma nogio tio fecunda como o operante precisa ser feminina.)” (Skinner, 1977, p. 1007). F dessa forma que estudantes de B, F. Skinner homenageiam esse conceit da andlise do comportamento em uma carta escrita ao seu professor. De fato, a formulagio do conceito de operante ajudou, e continua a ajudar muito, no enten- dimento do comportamento humano. O ob- jetivo deste capitulo € apresentar 0 conceito de comportamento operante, relacionando-o com aspectos da atuagio do analista do com- portamento na pratica clinica, > COMPORTAMENTO Ao defini o que é comportamento, Skinner (1938/1991, p. 6) afirma que “comporta~ mento é a parte do funcionamento do orga- nismo que estd engajada em agi sobre ou ter intercimbio com o mundo externo”. Essa forma de tomar o comportamento como ob- jeto de andlise, apesar de aparentemente simples, foi inovadora por uma série de as- pectos, ¢ vale a pena ser mais bem analisada antes de se prosseguir. Primeiramente, Skin- ner apresenta 0 comportamento como ape- nas uma parte do funcionamento do orga- nismo. Esse fato jé indica que, para se ter um entendimento global do ser humano, outtas reas de conhecimento devem ser uti- lizadas. Em textos posteriores (pot exemplo, Skinner, 1989/1995), © autor destaca a im- portincia de outras ciéncias como, por exemplo, as neurociéncias, para o entendi- mento completo do ser humano. Segundo 0 autor, € na cooperasao entre essas Areas de conhecimento que 0 ser humano seré roral- mente entendido. Mas Skinner também dei- xa claro que as descobertas nessas outras dre- as nio mudario os fatos comportamentais estudados pela andlise do comportamento, Na visio de Skinner, provavelmente a anili- se do comportamento ser4 requisitada no es- clarecimento dos efeitos sobre o ser humano verificados por essas outras ciéncias (Skin- ner, 1989/1995). A segunda observacdo que pode ser fei- ta a partir da definicgo de Skinner de com- portamento ¢ 0 fato de que o comportamen- to & ago, um intercimbio com o mundo. Essa forma de se analisar 0 comportamento foi inovadora por mostrar 0 comportamento como uma relagio. Antes de Skinner, era co- mum estudar-se © comportamento nfo como uma rela¢io, mas sim como uma decorréncia do ambiente. Ao e fatizar o intercim- bio, Skinner se preo- Comportamento deve ser entendida como relagao entre orga rismoeambiente,oy Cupa em mostrar como aquilo que que ocoree entre me respostas emitidas individuo fax pelo organismo © respostas~ se relacio- aqueles evertosdo na com uma mudan- ga no ambiente — os estimulos. Por cssa forma de anilise, 0 comportamento engloba o ambiente em uma relacio funcional e nio mais é mecanicamen- te causado por ele. (Cabe ainda dizer que, no caso do ser humano, a nogio de “mundo ex- terno” engloba como estimulos aspectos do mundo que se constituem da prépria fisiolo- gia humana, ou, como Skinner (1974/1998) coloca, 0 mundo dentro da pele.) Acescolha dos termos resposta ¢ estimu- lo como os elementos a serem utilizados na rados a clas. descriggo do comportamento também foi cuidadosamente feita: © ambiente entra na descrigéo de um com: portamento quando pode ser mostrado que uuma dada parte do comportamento pode ser induzida & vontade (ou de acordo com certas Icis) por uma modificagao de parte das forgas afetando o organismo. Tal parte, ou a modifi- cago desta parte, do ambiente € tradicional- ‘mente chamada de estimulo, ¢a parte do com- portamento correlata, uma resposta, Nenhum dos termos pode ser definido nas suas proprie- dades essenciais sem o outro, (Skinner, 1938/1991, p. 9, itélicos no original) Clinica analitico-comportamental = 25 A anélise desse trecho de Skinner (1938/1991) completa 0 entendimento da tarefa de um analista do comportamento a0 desctever um comportamento. importante atentar para o fato de que a deserigio do com- portamento nao envolve apenas a narracio de uma relagio. Skinner destaca que o ambiente aser levado em conta é aquele que, quando se modifica, induz uma resposta. Esta modifica- 40 no ambiente apenas seré um estimulo se for regularmente relacionada a uma resposta. A necessidade de identificar regularidades mostra a preocupagao que o analista do com- portamento deve ter com previsio e controle. Nao adianta descrever o ambiente ou as res- postas. E necessdrio descrever as relages re- gulares envolvendo os estimulos ¢ as respos- tas, Sé assim pode-se prever quando o acon- tecimento de um estimulo controlaré a ocorréncia de uma resposta. A necessidade da descrigao de regulari- dades leva o analista do comportamento a nao trabalhar com acontecimentos tinicos (instincias) de relagées entre estimulos e res- postas. Para o analista do comportamento, é importante considerar que a ocorréncia de uma classe de respostas esté relacionada & ocorréncia de uma classe de estimulos. A de- finigao de uma classe de estimulos se dé entio pela relagdo dessa classe a uma classe de res- postas. Um exemplo pode ser dado, neste ponto, a partir de uma relagio colocada no capitulo anterior. Adiantaria muito pouco di- zer que um cisco no olho eliciow uma respos- ta de piscar. O importante para o analista do comportamento é saber que alguns objetos, quando em contato com o olho, eliciam res- postas de piscar. Os objetos que cumprem essa fungio em relagéo 4 resposta de piscar formam a classe de estimulos eliciadores (da classe) de respostas de piscar. Assim, pode-se prever que, toda vez que um estimulo dessa classe ocorrer, ocorterd também uma resposta da classe de piscar. A nogio de classe, apesar de poder ser utilizada na andlise do compor- 26 borges, Cassas & Cols. tamento respondente, é fundamental para 0 entendimento do préximo tépico, o compor- ramento operante > COMPORTAMENTO OPERANTE Ainda na década de 30 do século XX, Skinner promove outra mudanca importante no modo de se estudar 0 comportamento. A par tir de uma série de experimentos feitos por E. L. Thorndike, na virada do século XIX para 0 século XX, Skinner formula o conceito de comportamento operante, O adjetivo ope- ante, que caracteriza esse comportamento, diferencia este do comportamento respon- dente, estudado no capitulo anterior. No comportamento respondente, as respostas so cliciadas pela apre- sentagio de um est{- mulo, Porém, basta Os comportamen ‘0s, ou as rolagdes ‘organismo-ambiente, podem ser de dife- uma répida observa- gio das ages do ser humano para se veri- ficar que nem todas as repostas emitidas podem ser relaciona- das a estimulos eli- ciadores, Essas outras ages eram interpreta- das como fruto de intengSes ou propésitos do individuo (Skinner, 1938/1991). Porém, com o conceito de classe de respostas ¢ classe de estimulos, essa interpretagio péde ser mu- dada. Foi possivel verificar que a emissio de certas ages estava relacionada & produgio de Neste ‘fundir Respondente ‘com Operante, pois ‘ratam-se do rela- ‘60s distintas, determinadas classes de estimulos. caso, a nogio de classes permitiu o entendi- mento de como um estimulo que ocorre de pois da emissio da resposta pode controlar sua emissao, Nao é aquele estimulo que a res- posta produzi 0 que controlou a resposta Foram instincias passadas dessa relagio que agora controlam a ocorréncia da referida res- posta. Assim, um comportamento operante se define pela relagéo entre uma classe de res- postas ¢ uma classe de estimulos. No com- portamento operante, a classe de estimulos que o define tem a fungio de fortalecer uma classe de respostas. Esta fungio é chamada de funsio reforsadora. Jé a classe de respostas & também chamada de um operante. Assim, 0 paradigma do comportamento operante pode ser inicialmente apresentado da seguinte for- ma ROSR no qual “R” representa uma classe de respos- tas ou operante; “SR”, uma classe de estimu- los reforcadores, ¢ “->” representa a produ- gio de “SR” por “R". E importante atentar para o fato de que R pode produzir outras modificagSes no am- biente, além de SR. Porém, é a relagio entre a emissio de R e a produgio de SR que se defi- re como um comportamento operante. Nes- se sentido, poderia ser dito que a causa de R é a produsio de SR. Como, entio, é posstvel saber qual dente as modificagées no ambien- te produzidas por R foi a causa da sua emissio? Em. outras palavras, como saber qual 0 estimulo re- forcador da resposta? Isso € possivel pela manipulacio contro- lada do ambiente ¢ 0 Comportamento ‘operante é uma relagao organismo- ambiente em {que a emissao de respostas de um individuo ateta/ altera ambionte, e,a depender desta aleragao, respostas, registro da variaggo semelhantes a estas na frequéncia com teré0 sua probabil dade de ocorréncia que a resposta ocor- Futura aumentada ou re. Nesse caso, uma diminuida. forma bastante usada & a seguinte: primeiramente, medem-se as respostas emitidas que se imagina que possam fazer parte do comportamento operante; em seguida, apés a emissio da resposta, adiciona- -se ou retita-se 0 evento ambiental que se imagina estar relacionado a ela. Se houver al- teragio na medida (por exemplo, na frequén- cia ou duragio) das respostas apés a manipu- lacio do evento ambiental, tem-se uma forte indicagao de que a relagao entre as respostas medidas ¢ 0 evento manipulado constitui um comportamento operante. Para se ter uma confirmagio dessa relacio, pode-se suspender a operacio de adigio ou tetirada do evento apés a ocorréncia das respostas. No caso do comportamento ser mesmo operante, espera- -se que, depois de passado algum tempo da suspensio da operagio, a frequéncia ou dura- io das respostas se aproxime da primeira medida realizada. ‘Um exemplo simples do efeito do refor- gador sobre respostas operantes pode ser visto no techo a seguit, fornecido por Matos (1981): uma crianga com I ano ¢ 6 meses de idade estava no inicio da aprendizagem da fala. Em determinado dia, a crianga emitiu pela primeira ver.a palavra “papai”. Imediata- mente apés a emissio, 0 pai, tinica pessoa, além da crianga, presente na ocasiao, fez uma grande festa para a ctianga, dando-lhe muitos beijos e sortisos, Viu-se que, no decorter des- te dia e nos posteriores, a frequéncia da fala “papai” pela ctianga aumentou muito. Ela fa- lava “papai” diante do pai, diante da mae e diante da bab4, e todos lhe faziam elogios, davam-lhe beijos ¢ sorriam sempre que isso ocorria. Porém, rapidamente, mae ¢ bab pa- raram de fazer festa quando a crianga emitia a palavra “papai” diante apenas delas. A crianga recebia os sorrisos ¢ beijinhos apenas quando emitia a palavra diante do pai. Em decorrén- cia disso, as emissées da palavra ficaram mais raras diante da mie e da babd, mas continua- ram quando o pai estava presente. Durante a descrigdo desse exemplo, fo- ram abordados 0 que Skinner (1968/1975) chama de processos comportamentais ou mu- dangas no comportamento devido a determi- nadas operagées. Os dois processos compor- tamentais foram reforcamento € extingio. O processo de reforgamento € 0 aumento na fre- quéncia do comportamento devido & apre- Clinica analitico-comportamental 27 sentagio contingente de um reforsador. Esse processo pode ser verificado no exemplo como o aumento da Reforgamento é 0 provesso em que hao foralecimento de uma classe de respostas em decorrinca das onsaquéncias que sha produz, esses consoquéncias que ‘omam as respostas desta classe m provaveis, da-se f nome de rfor- gador ou estimulo Teforgador frequéncia da respos- ta “papai” emitida pela crianga quando sorrisos © beijos fo- ram contingentes & sua emissio. O pro: cesso de extingao é a diminuigio da fre- quéncia do compor- tamento em razio da suspensio da apre- sentagio contingente de um reforgador. Esse proceso é evidencia- do no exemplo pela diminuisio da frequén- cia com que a crianga emitia a palavra “papai” diante da mac ou da babé, apés estas sus- penderem a apresen- tagio de sorrisos beijos quando a pala- vra era emitida dian- te apenas delas, e no do pai, Esses processos, ou mudansas no comportamento (Skinner, 1968/1975), ocor- reram devido as operagdes de apresentagio de reforgadores contingentes 4 emissio da res- posta. Hé estimulos reforgadores que aumen- tam a frequéncia (ou duragio) de respostas que os antecedem por uma sensibilidade ina~ ta do ser humano a eles. Esses estimulos sio denominados reforgadores incondicionados. Ja alguns outros estimulos adquirem a fungio reforsadora devido & histéria particular de re- lagées entre o ser humano ¢ 0 ambiente em que ele vive. Esses estimulos, que dependem da historia de vida para adquitir a fungio re- forcadora, sio denominados reforgadores con- dicionados. Como cada ser humano tem uma Um comportamento operante 6 enfraque- ido (podendo ser inclusive cessado} através da quebra da relagao resposta- -reforgador. histéria particular de relago com 0 ambien- te, o que funciona como reforsador condicio- nado para respostas de um ser humano pode 2B borges, Cassas & Cols. nfo funcionar para respostas de outro ser hu- mano que tem outra hist6ria de vida (Skin- ner, 1953/2003). Cabe ao analista do com- portamento identificar quais mudansas am- bientais sio reforsadores em cada caso anali- sado, Como seré visto no capitulo sobre ope- ragées motivadoras, serd necessdria, ainda, a verificagéo de se 0 re- forcador, incondicio- nado ou condiciona- Os eventos do uni verso podem afetar uum organismo desde seu nascimento ou ‘ partir de uma his- ‘toria de aprendiz gem deste organi ‘mo. A estes eventos damos os nomes. de incondicionados e condicionados, respectivamente. No caso de estes eventos serem produzidos pelas respostas de um dividuo, tomando- 3s mais fortes (com ‘air probabilidade de ocorréncia futu- ra, dio-se os romes de reforgadores incondicionades ou ccondicionados. do, esté- momenta- neamente estabeleci- do como tal. Guedes (1989) oferece um exemplo, ocorride na clinica, no qual um compor- tamento —_operante esté bem claro para ser analisado, Duran- te um momento de um proceso terapéu- tico em que um casal comparecia as sessbes para analisar a rela- io com os filhos, 0 pai relata: Eu estava lendo o jornal, minha filha menor chegou perto me chamando ¢ puxando o jor nal da minha mao, Falei que naquela hora nio podia e segurei firme o jornal. Ela, percebendo que nao podia puxar, comeyou a rasgar ponti- nha por pontinha do jornal. E eu quieto. Ela quietinha, olhando para mim ¢ rasgando. Ni tidamente, naquela hora ela queria atengio. Felizmente, chegaram a mae ¢ 0 outro filho, ¢ a atengao dela acabou sendo desviada. Nao fosse isto, nio sei como terminaria essa histé- ria (Guedes, 1989, p. 1) Um ponto de destaque neste exemplo € a mudanga nas respostas emitidas pela crian- ga. Primeiro, a crianga emitiu respostas de chamar o pai ¢ puxar o jornal, e depois pas- sou a emitir respostas de rasgar 0 jornal. Como pode ser observado, as formas ou, tec~ nicamente falando, a topografia das respostas mudow ao longo do episddio, mas a fungio das respostas continuow a mesma, ow seja, obter a atengio do pai. Uma relagio operan- te se caracteriza por uma relagio funcional entre a resposta e a produgio do reforgador, ‘Assim, é importante que o analista do com- portamento no se prenda & copografia da resposta, ¢ sim A sua fungdo, ou seja, qual re- forsador essa resposta produziu no pasado, pois é devido a essa histéria de reforgamento que a resposta voltou a ser emitida. Todas es- sas respostas com uma mesma fungio for- mam o que se chama de um operante. Reto- mando, entio, um operante é uma classe de respostas definida pela sua fungao, qual seja, produzir uma determinada classe de reforsa- dores (Skinner, 1969). Entretanto, néo se pode dizer que somente as respostas que pro- duzem o reforcador fazem parte do operante (Catania, 1973). Varias outras respostas po- dem ser geradas ou modificadas pela apre- sentagio de um reforcador contingente a um operante. No exemplo de Guedes (1989), to- das as respostas que tinham por fungdo pro- duzir a atengio fazem parte do operante, € nio apenas aquela que cfetivamente produ- ziu o teforgador esperado. Um segundo fato a ser destacado nesse exemplo éa relacao, identificada corretamen- te pelo pai, entre as respostas da filha, de chamé-lo puxar o jornal, ¢ 0 reforgador que essas respostas parecem produzir, isto & a atengio do pai. Nesse caso, o préprio cliente identificou a relagdo operante. Porém, isso nao é nem comum, nem esperado. Ou seja, 0 ser humano geralmente nao desereve uma si- tuagio nos termos aqui explicitados ¢ nem aponta as relagGes funcionais existentes entre a resposta c stias consequéncias mantenedoras (Skinner, 1969). Cabe ao analista do com- portamento explicitar estas relagées, como, por exemplo, no caso da terapia, dando pistas que permitam ao cliente descrever seus pré- prios comportamentos (Guedes, 1989) > OPERANTE DISCRIMINADO © comportamento operante nao ocorre a despeito do contex- Frequentemente, os operantes tomam- ‘mais provaveis de ocorternaquelas . situagGes/contextos fo em que o indivi- tmaveformretoe duo esté (Skinner, gados. Quando isso 1953/2003). Com o aconiece,dizse we — termpo, 9 operante ‘rata-se de um ope- rante discriminado, ou seja, esta relacao operante ocorre sob influéncia de um Contexto que a evoca tem baixa probabi- lidade de ocorréncia hum eontexto distnt, Esse contexto que passa a evocara resposta recebe 0 nome de estimulo discriminative (SD). passa a ocorrer s6 em determinadas situa goes. Isso ocorre por- que sé cm determi- nadassituagées a emissio da resposta produz o reforsador. Reromando o exem- plo da criansa apren- dendo a falas, a res- posta ‘papai” foi, ini- cialmente, emitida na presenca do pai e foi seguida de sotrisos e beijos. Esse fato levou a ctianga a emitir a mesma tesposta em situa ges parecidas, como a presenga da mac ¢ da baba. A esse aumento da frequéncia de res- postas em sittagdes semelhantes aquela em que a resposta foi inicialmente reforcada d4- se. 0 nome de generalizasio. E como o controle pela situagio antece- dente se estabelece? Novamente, recorrendo- -se a0 exemplo da crianga aprendendo a falar, pode-se ver que, com o processo de extingio da resposta, ou seja, diante da suspensio da apresentagio de reforgadores quando a pala- vra “papai” era emitida na frente da mie ou da babi sem que o pai estivesse presente, falar “papai” deixou de ser emitido nestas situa- ses. Entretanto, diante do pai, o reforgador continuow a ser apresentado contingente & emissio da resposta. O resultado do reforsa- mento em uma situagio ¢ da extingio nas ou tras resultou no que se chama de um operan- te discriminado. A resposta de falar “papai’ tinha grande probabilidade de ocorrer quan- do o pai estava presente e apenas nesta situa- Clinica analitico-comportamental 29 do. A forma mais simples de o ambien- te antecedente evo- Um operante discriminado tende a ocorrer também iante de outros, contextos semelhan- ‘tes aquele inicial- mente condicionado, Aesse processo em que hé a trans- ferdncia da fun¢ao evocativa de um cat 0 reforgo (emis- sio reforgada de uma resposta) é pela ocor- réncia sistematica do reforso. na. presenga de um estimulo (esti- milo discriminative) | Sonesta para outros i" semelhantes a este eanioocorrénciado dase onome de reforgo na auséncia | generaliagic. desse estimulo (esti- miulos delta). Essa sequéncia de eventos é chamada de reforgamento diferencial ou trei- no discriminativo. Vale ressaltar que, por de- pender de uma histéria para ser estabelecido, © estimulo discriminativo é tido como uma sintese da hist6ria de reforcamento de um in- dividuo (Michael, 2004). Retomando o exemplo de Guedes (1989), a presenga do pai foi 0 estimulo discriminative que evocou aquelas respostas que aparentemente funcio- navam para produzir a atengio do pai. Na au- séncia do pai, muito provavelmente, a crianga no o chamaria, Apés o estabelecimento da relagio de controle discriminativo entre a situagio ante- cedente e 0 operante, diz-se que 0 operante tornou-se um ope- rante discriminado, fem-se, entio, a uni- dade basica para a analise do comporta- mento operante, a triplice contingéncia. O comportamento operante & composto, por- tanto, por trés elementos — estimulo discrimi- nativo, operante e reforgador —e por duas rela- Ses: a relagdo entre o operante ¢ a classe de re- forgadores que o mantém ¢ a relagio entre essa situagio (relagio) de reforgamento € 0 estimu- lo discriminativo diante do qual esse reforsa- mento ocorre. O paradigma operante pode ser finalmente apresentado da seguinte forma: Um operante diseri- rminado é composta de duas relagdes: fontre raspasta er forgador, operame @ centre este operante ‘© sou contexto, BO Borges, Cassas & Cols. S3RSR no qual “SD” representa o estimulo discrimi- nativo; “R” representa uma classe de respos- tas ou operante; “SR” representa uma classe de estimulos reforgadores e “>” representa a producéo de “SR” por “R” Um fato importante ocorre quando se estabelece uma discriminagdo operante. Ao adquirir a funcdo de estimulo discriminativo, ‘© mesmo estimulo pode adquirir fungio de reforgador condicionado para outro operante (Skinner, 1938/1991; para a excesao, veja iesuatie sei Fantino, 1977). Isso iscriminatvo para «permite que cadeias tum operante, ele de comportamento fossa outomaticn se estabelegam, ou mane a ter impor tanciapara aquele sea, que varias tripli- individuo.Assim.ele ces _contingéncias se poder auld sucedam. Retornan- para outras res do mais uma vez ao postas, tormando exemplo clinico for- possiveloestabele necido por Guedes comportamentais. (1989), a atengao do pai foi provavelmen- te reforcadora para as respostas de puxar 0 jornal ou rasgé-lo. Além dessa fangio, a mes- ‘ma atengio provavelmente se constitufa em estimulo discriminative para a emissio de outras respostas, tais como brincar ou con- versar com o pai. Essa dupla fungio do esti- mulo — como reforgador para a resposta que © antecede e discriminativo para a resposta que o sucede ~ permite 0 entendimento de como poucas sensibilidades inatas do ser hu- mano podem se transformar em muitos esti- mulos reforgadores das mais variadas formas € que podem nao ter absolutamente nada de inatos. Em sintese, viu-se que o termo compor- tamento operante refere-se, primeiramente, a Quando um evento ‘comega a exercer uma relagéo entre respostas ¢ reforsadores Viu-se também que um operante é uma classe de respostas definida pela relasio com uma classe de estimulos reforsadores, Viu-se ainda que, com o treino discriminativo, 0 compor- tamento operante é colocado sob controle de estimulos. E que, como decorréncia do estabe- lecimento desse controle, é poss{vel a forma- sao de novos estimulos reforgadores ¢ 0 esta- blecimento de longas cadeias comportamen- tais, Finalmente, destacou-se que a unidade basica da anlise do comportamento operante éa triplice contingéncia, formada por trés cle- mentos ¢ duas relagées. A identificaséo dos operantes e das situagSes em que estes operan- tes sio emitidos (estimulos discriminativos) 6 © ponto de partida para uma andlise do com- portamento, E viva a operante! Na clinica Quase a totalidade dos comportamentos humanos séo derivados de relacdes ope- rantes. Assim, conhecer 0 conceito de operante & fundamental para se pensar ‘em predigao e controle de comportamen- to, E a partir dessa nogao de operante que © clinico comega sua investigacao e, pos- teriormente, planoja suas intervengses, buscando identificar quais so 08 reforga- dores ¢ 0s estimulos discriminativos {con- tingéncias) relacionados as queixas do cliente, Muitos exemplos deste tipo de re- lagéo organismo-ambiente seréo dados 20 longo deste livro. Todavia, para ilustrar mos, imagine um menino que bate na mazinha menor toda vez que sua mae esta presente e nao bate em sua auséncia. Ha do se supor (6 0 clinico devera testar esta 'ese) que 0 comportamento de bater desta crianga 6 um operante discriminado, ‘em que a presenga da mae exerce fungao de S? e evoca a resposta de bater do me- nino, produzindo, como consequéncia, a atencao da mae (reforcador), > REFERENCIAS Catania, A.C, (1973).The concepe of operant inthe analy- sis of behavior. Behaviorism, 1, 103-116 Fantino, E. (1977) Conditioned reinforcement: Choice and information. In W. K. Honnig. & J. E. R. Staddon (Orgs), Handbook of operant behavior, (pp. 313-339) Englewood Chit: Prentice-Hall Guedes, ML. (1989). Comideaes sobre a prvicn linc. Manuscito nfo publicado, Poniicia Universidade Caté- lia de So Pao, Sz Paslo Marcos, M.A. (1981). O controle de extimulas sobre 0 com- portamento operant. Bicolgia 7, 1-15. Michach, J (2004). Concepts & principe of bebavor analy ss, Kalamazoo: Association for Behavior Analysis Interna- ‘ional TM. Skinner, B.F. (1969). 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