You are on page 1of 164
JOSE CARLOS AVELLAR A PONTE CLANDESTINA_- Garcia cPaalicies Sanjinés/ Alea / bea TEORIAS DE CINEMA NA flea Latina (pate do fitterc). Epica e didati- oo) Antropotago c dialético. Reflexao e refle- ko, Verdade ¢ imaginagao, Pasién y razon, Vitro a pealidade € a itegagio da realidade. Vinire a fome eo sonho, Entre a idéia ma ca- hove ew climera na mio, Entre a poesia ¢ a politica. Junto al pueblo, Com forga igual a u vl vila, Mo comego dos anos sessenta um grupo” ile jowons fealizadores brasileinos, bolivianos, Hibanos, mexicanas, chilenos, eden o respeito religiosa pelo cinema e, mini pedir liconga para entrar no sagrado uni- VOR), Peyaram nas cimeras para pensar a ' experiingla de vere fazer filmes na América Latino fou pensar a América Latina na ex- ‘Cinema (invengée seme futero?) na Amé- A PONTE CLANDESTINA de fiver filmes. Birri Pensara filme cor FeR Pres que come ! ; | Glauber ' quand © mulicader contempla a realida- Sal Cee ult) espectador — contemplar entra- a a nas " Vi Hihh dlétia actividad, no constituye uma Garcia Espinosa ‘apropriacién pasiva, Sanjinés 6 litino-americane came especta- Alea ' f PAF E]me este sujeito que expectaba dhcional, este no-participan- 4 =. a : : Teorias de Cinema na América Latina AP Ser UM protagonista vivo, un ‘la hhisedrian del film y de la histé- 0 cinema como uma ponte are a realidade, ¢ o cineasta ticular: nao é um enge- de pontes, um econo- i, um construter de 0} los ingenieros son ar- sobre el abismo, bos de un afective puecnte EM Om ensaios, nc dartas, debates, me- 8, € textos para jor- Jores latino-ame- trinta ou quaren- Mitalmente criti- Fate traballio contou com 0 apaio de balea da Foxpagio ViTae José Carlos Avellar A PONTE CLANDESTINA Birri Glauber Solanas Garcia Espinosa Sanjines Alea Teorias de Cinema na América Latina bre editoralli3 4 EDITORA 34 - ASSOCIADA A EDITORA NOVA FRONTEIRA. Distribuigio pela Editora Nova Franteira$.A. R. Bambina, 25 CEP 22215-050. Tel. (021) $37-8770 Rio de Jameire - RJ APONTE CLANDESTINA Dircitos reservados © 34 Literatura SIC Ltda. Edusp - Editora da finn Universidade de Sip Paulo, 1995) Gluber A poate clandestine © Jose Carios Avellar, 1995 2 ean Garcia Espinosa A FOTOCONA DE QUALQUER FOLHA TASTE LIVE T ILDGAL, bf CON HGLIRA UNLA be ites a APROPUAGAO (STDEVEDA IMS DILEMOS INTELECTUMS E PATRIMONTALS DG AUTOR. Teorasde Cinema ta Anpérica Latina Imager da capa: Desenbo de Ferrando Bins (cortesia do autor) 4 Capa, projeto grifice ¢ editoragie cletronica: MNapoledo a cavalo Bracher & Malta Produgdo Grifica Revisio: 41 Lery Cordeiro ; La misma fuerza de la vida Pernande Pieri co laboratono ambulante de potticas ciiematoyniticas 1" Edigdo - 1995 qe A arte antes cla vida 44 Literatura YO Ltda Glauber Rocha: a estética da forme c-a estética do sonho BR. Jardim Botaaico, 635 5,603 CEP 22470050 Rio de Jancins - RJ Tel, (021) 239-3346 Fax (021) 294-7707 4 La descolomzacion del guste Edusp = Eqlitora da Universidade de Sao Paulo Femanio Sokinas, Oetavie Getino ¢ hacia wn teroce cine Ay. Prof. Luciano Gualberto, TravessaJ, 374 6° andar Ed. da Antiga Keitoria Cidade Universitaria CEP 05508-900 Sao Paulo = SP Tel, (O11) 813-3837 / 818-4153 Fax (O11) 211-6988 174 A cara sem tres orethas Julia Garcia Espinoca y el cine imperfecta: CIP = Brasil. Catalogagao-na-fonte Sindicara:- Nacional dos Edirores de Livros, BJ. aio El ciclista viernamita Avellur, fort Gatlioe Jorge Sanjines ¥ el cine jumeer al pucble AB A poate clindewsna: Bieri, Cilbubes, Selaeay, Garin, fharcis Tnplnoas, Saniints, Alka > Tooclan dr cinaria nu Amirica Latin # Post Carles Avdllat, = Rie de foeetre / Sie Fawley Bl Sf Eeteap, 1998 Ihe SBN ES B54 4-822 1 Clemens ~ Atmbrice: Latina ~Mivthela © guinea 1 Teale 267 A patsagem ca negacdo da paisagem Toms Goritrrez Alcala dialéctica del expectador COD. Tia ae s4.0497 CHL - F904 flan NAPOLEAG A CAVALO Glouber comegou aescrever America nuestra logo depoisde Deus ¢ o diabo na terra do sol (194). Julio Garcia Espinosa anoron Instrecciones para hacer in filer en un pats subdesorrollade depois de realizar Tercer Mundo, tercera guerra mundial (1970), Tomis Gutiérrez Alea cscreveu uma adaptagio de A tenipestade de Shakespeare depois de realizar Masta cierto panto (1983), Geraldo Same dedicou-se ao Apocalipse de Solentinante de Cortazar loge depois de Deus ¢ nem fago (1987). Dois principals motives fazemdestes quatre projenms nde filmadas um bom ponto de partida para o exame das teorins de cinema produzidas entre tos: Através deles podemns tentar perceber a teoria comar um texto vizi- nho ae roteiro. Como mode de senhar formas que ainda nao existem além de pensar experiéncias ji vividas; como modo de gerar imagens; de fazer cinema; de ver um filme nao realizado mas ja pressentido; de sugerie mode- los de diramaturgias cinematograficas da mesma forma que um roteiro su- gere um filme, Atrayés deles pademos percebor o roteira nao sé como anotagae utr litairta sem vida propria que désapanece quando a filme fica pronto, mas come expressao independence, Come instante de reflexao que prepara Os momentos em que o trabalho do filme é dominado pelo sentimento — a filmagem, a Montage, a projegdo, Come instante parecide comaquele outro em que, depois da emogie na tela, recomeames a trabatharo filme com 8 razaa, O cinema realizado nas teorias é um roteiro ainda nao transforma- do em filme, © cinema pensado nestes roteiras nae filmados se transtormou en filmes do mesmo ou de outros dirctores. ‘© que em principio se propde anotagae ligeira, pessoal, instantanea, esquennitica, para desaparccer ¢ nunca mais ser ida depois de realizado o filme, se apresents algumas veres come eserita especialmente saborosa de ler. Eo que em principio se propéc texto mesmo, como o que exige a pre cisio da palavea para se expressar, s¢ mostra algumas vezes eserita naoor- ganizadat comega aser pensada num ensaio, é ampliada numa entrevista, écorrigida num debate, prossegue num depoimento, toma um desvio num A Ponte Clandestina 7 Outre ensaio, reaparcee numa conversa informal, vail se rearramar acliamn= te, Uma primeira frase parece um esbogo, anotagie que precede a idéia, pensamento bem naquele instante em que comega a ser pensade, rabisco para o que passou pela cabeca mas ainda ndo ganhou forma rio se perea. Uma segunda, expressio clara ¢ em boa ordem da que jd foi pensado por inteiro, Uma terceira, a transengao de uma falacenstcuida mais pela emo- Gao que pela razao, coisa que se dix sem pensar, E a que vem depois, ca seguinte, ¢ outra mais, todas reunidas, o discurso acabado parece idléia que mal comecou a ser pensadae se fragmento. A fragmentagaa se deve a montagem de trechos escritos com outros falados numa entrevista ou debate, & descontinuidade do trabalho de re- flexdo. A descontinuidade é talvez a marca principal de toda a atividade cinematografica na América Latina. Ou a um modo de pensar que se dei- sou fragmentar no enfrentamento de nossas realidades, a se quebrar en- tre a necessidade de pensar a agdo ¢ a urgencia de agit. Este entrentamen- to levaria a um conflito entre a rario (que analisa 0 subdesenvolvimento) co semtimente (a indignagic.que resulta da analise), ¢ este econflito a um discurso feito de dois dialeros superpostos: um que se assemelha a uma lin- gua jé organizada, outro que parece fala automitica ou expressao de uma cultura ainda-sem ¢scrita; UM que se serve dla palavra quase assim como nds nos servimos dela.necia-a-dia, outro que procura transformd-fa numa imagem (assim camo faziam os poctas futuristas ¢-os formalistas russos). Um bom.exemplo sio os textos de Glauber, 05 que trazem frases inteiras em mamnisculas ¢ og que se utilizam das letras. Y. Ae 2em lugar def, Ces (com freqiéncia acrescentadas a mio sobre 0 texto datilografada) para desenhar a palavea diferentemente, para grafar também o que a voz, a dicedio-e a imagem da-pessoa que fala acrescentam 4 palavra, O texte, aqui, pretende mais suc ser apenas um texto: se fragmenta para revelar a ima- gem que existe dentro dele, [Que pretendo como texto?, perguata-se Glauber no poema Letra fera. E responide: nao me de texte nao te de texte mio te con texto iio te pro texto detexto fetexto comiexto protexto: proxenetal]! Seguira linha de pensamento significa percorcertm texto na aparen- cia partido, indisciplinado, impericito, que muda de rom a texlo instante. a José Carkoa Avellar © subdesenvolvimento & mesmo uma forga autodevoradora que dilacera as possibilidades dos individuos ¢ paralisa a criatividade, © cinema que comegamos @ fazer na-metade dos anos 50 partiu exatamente da desconti- nuidade, insrrumento arrancado de dentro do subdlesenvolvimento, para voltar-se contra ela, para transformar em agao o que se Impoe como inm= possibilidade de invengao livre. Os filmes parecer inconclusos, As teorias criadas em torneo deles também. Uma coisa ¢ outra tim um idéntico tom de roteare, primeiro pedaco de uma imagem que esta nascenile naguele exate instante, ow esboge imperteite de uma imagem que s6 vai niscer adiante. As palayras parecem imagens, 08 roteiros peoria, as teorias roteiras, Uma coisa ocupa o lugar da outra, O texte que pensa.o cinema como un todo de quando em quando se mantem inconcluso como as anoragoes que guardam a idéia de um filme, Eo texte que pensa um unico filme se organiza com o rigor de uma teoria — env lugar do roteiro de um traba- Iho a ser feito, uma reflexdo sobre o cinema que o diretor ja vit inteire em sua imaginagde. © que parece inacabado, ¢ € mesma assim, inalis parte que todo, na verdade se propde proieto cuja finalizagio supoe a partici- pagao de'todos. Na primeira pagina do original, metade do titulo datilogralade esta rabiscade, Glauber escrevera America nmesira (A terra en transe}. Depois, entre as Carregdes ¢ acréscimos feitos. a mao, riscou o pedago do titulo-que estuva entre PArénteses. Na tiltima pagina duas datas acrescentadas a mao indicam que esta primeira versiode Aniériea omestra foi escrita entre janeiro de 1965 ¢ abril de 1966, entre Roma eo Rio de Janciro, Quase ao mesma tempo Glauber desdobreu esta idéia num outro rotcire, que comegau a amotar ainda-em Roma entre fevereiro « marco de 1965, Terra emt transe. Um personagem comurn esta no centro dos dois filmes entao sonhados: um pocta dividido entre.o jornalismo ea politica, entre a poesia ¢-a luta armada, Ele se cha- ma Juan Morales no primeiro, Paulo Martins no segundo. Um ponte de partida comum para este sonho duplo: Deus ¢ 0 diabe na terra do- sol. “Senti a necessidade de prosseauir a estoria de Manuel e Rosa correndy para wm mar libectador, Este mar banhava uma nova ter- ra, esta terra cstava em crise, dividida, estragalhada — era uma terra pos- suida pelas paixdes politicas ¢ arermentada pelos problemas sociais” de luz tropical e “mau gosto operistica nas mansdes milionanas”; um “pais ou ilha interior” onde os partidos “ofercciam ideologias fechadas, os ca= pitalistas cstavam 4% portas da faléncia, os escritares muds, 6 povo ts quecido de sua prépria condigio”.* O filme que Glauber comega a filmar ainda.em 1966, Terra ent transe, é na realidade uma fusdo dos dois roteiros, A Ponte Clandestina 9 Do primeira, toma aideiade situar a agao nun pais imaginario, Eldo- rado, “uma tentative de sintetizar o chamado terceiro nuendo sibdesenvolei- doe discunralguns de sus problemas mats importantes”. E toma tambem duas.ou trés cenas, trechas do didloge ¢ alguns personagens — Diaz (que entao se chamava Manuel ¢ nao Portine), Julio Fuentes, Silvia ¢ Jeronimo. Do segundo, que deveria se passar no Brasil, entre a mar do Rio eo sertio do Nordeste, toma alguns personagens— Paulo, Sara, Alvaroe Vieira (que entao se chamava Silveira) —, duas ou tréscenase trechos do dialogo. Terminado Terra em transe, Glauber cetoma a idéia de Armérica mtes- tra, como-conta em depoimento a revista Patios & Fotos emabnilde 1967, pouco-antes de seguir para o Festival de Cannes: “Para realizar o proxi- mo filme (que ja esta escrito), enfrentareia mesma baralha. Sem fazer eon- cesses, sem me render a imposigées de produtores sem sensibilidade”. Depois de Cannes o.roteire ¢ retrabalhada, “em junho de 1967, em Paris, retomando uma versio de 1966, escrita no Rio™.’ Dots meses mais tarde a fova yersao estava pronta — “ahora tengo una idea desarrollada sobre la pelicula”. Acerrada a venda de Deus eo diabo e de Terra eur transe para os Estados Unidos, “con ello tendré mis o menos unos 30 mil délares para poder comenzar”, pensa em uma co-producho: “Es un film muy ambicio- so, donde quiero demostrar el proceso de destruccidn y de liberacion de América Larina, desde Ia destruceiin de los Incas por los conquistadores, la influcncia de la ighesia, la aparicién de Ios larifundios ¥ la explotacin; e| chantaje de la politica civil, hasta las guerrillas-como camino de libe- racion. Debe'ser una pelicula épica y violenta”, filmada “en Pend, Chile, Argentina ¢ Uruguay”, diz-em carta a Alfredo Guevara, entao diretor do Institute Cubano del Arte y Industria Cinematagraticos, para perguanmr sobre a possibilidade de participagao de ICAIG — “me gustaria saber cuniles son las posibilidades de que usted pueda-colaborar conmigo”, Na carta diz come pensa a produgdo: © negative, 30 mil metros, viria do Uruguai, a revelacio seria feira om laborardrio argentine, “el doblaje, cl montaje ¥ el sonido en el IGAIC, Haria esto en secreto. Después la cinta seria langada como pelicula uru- guaya, pues URUGUAY NO TIENE CENSURA, jesta es la gran ventaja!”, E diz como pensa a realizaggo: “Perdéneme la pretensidn, pero trato de hacer una estructura épica al estilo de Qctbre, con mucha fuerza postica ¥ emocicn revoelucionaria, Creo que una cinta politica debe ser también, estimuly cultural y artistica, Y para nosotros, latinos, que somos calo- nizados culrural y econdmicamente, nuestro cine debe ser revolucionario desde el punto de vista politica y poético, 0 sea, tenemos. que presentar IDEAS NUEVAS CON UN LENGUAJE NUEVO, America mrestra no pre- tende.ser una cinta DIDAGTICA, perc si una MANIFESTACION, UNA PELICULA DE AGITACION, UN DISCURSO VIOLENTO y también una 10 Jost Carlow Avellar prucha de que en el terreno de la cultura el hombre latina, libre de la ex- plotacidn colonialista, ¢s capaz de crear” Mais trés meses, novembrode 1967, enova carta a Alfredo Guevara: “Decidfdedicarle abiertamente ta pelicula a laamemoria del Che. La pelicula serd una Plistoria Practica Ideologica Revalucionaria de América Latina. Comenzara con un dogumental sobre los indios, la decadencia hits- térica impuesta por la ciuilizacién, explicard los fendmenos de las revalu- ciones de Bolivar, la contradicién de la revoluciin Mexicana, el fenomeno del imperialismo y las dictaduras, la verdadera revolucidn eubana y las contradicciones actuales para el desarrollo y la victoria de Jas guerrillas. Tados los fendmenos dé la lucha, como la tecnologia americana, lavevar lucténde a iglesia, el conflicts entre el romanticismo, coraje, estratepia comunista teadicional, En fin todos estes temas se tocaran en lacinta. Ya tedije que lv estructura se parecera, por ejemplo, a la de Qetubre, es decir, con documentos y personajes. Pero los personajes historicos, de Bolivar a Che, se conservarina la distancia legendaria necesaria y solo abordaré tas contradicciones entre los personajes menores”. E conclui;"hare una cinta radical, violenta, divulgando abiertamente (y justificande) la creacion de diferentes Viernams”* Uma outra ver Glauber se desvia do projeto. No ano seguinte eattt- da “a quase climinagio da montagem quando existe uma ago verbal psicobigica constante dentro da mesma: tomada” em GO cdmcer (1968) ¢, “preocupado-com o cinema popular”, fax O dragao da mtaldade contra a santo guerreira (1969), Vern com este ultimo a Cannes, e depois de festi- val, junho de 1969, de novo em Fans, volta a pensar em Amtdrica nesta, Preenche um cadena com anotagdes: “Temo que no possa faxer este filme, mas pclo menos vou esereve- lo, As varias verses ficarao guardadas na medida de possivel, aque po- derd permitir uma andlise mais profunda de todo o filme”, Imagens: um “travelling do presidente dangande tanga”, Brasilia “nao dd pra esta cena c entio me lembro do Palicio do Governo no Maranhao”, Rastos para'a elenco: Geraldo del Rey, Alfredo Aledn, Silvia Pinal, Francisco Rabal, Acmendariz. Idéias para a-encenagio: “a inocéneia de Lumiére, a.cenogratia de Méliés, a dialética de Eisenstein, a irreveréneia de Buivel, ¢ alguma coist de Straub, o misticismo de Kazan + cinema americano, Bresson, 0 ports: louquismo do cinema ea paixao de Glauber Rocha”. . Lembra que a versdo escnta deis anos antes “era narrativa, Toma: nesca ¢ bastante influenciada pelas memorias revoluctondrias de Che Guc- vara e pelo livro de Regis Debray™. A estrurara “ainda fio tora encentra- da”. *O conflita idealégicn prejudicava o desenvolvimento”, nao perme ta que o filme explodisse. A Ponte Clandestina nW “Arnaldo Carrilho me disse uma ver diante das ruinas de Pompéia (cra um domingo entre janeiro ¢ margode 1965) que Simon Bolivar subin no Vestivio ¢ de la meditou sobre a América Latina: dai partio para sua agao politica, Verdade ou mentira, quero partir do yuleao,” Acha que “América deve ser um filme que multiplique Esenstem por ele mesmo", Acha que ¢ preciso refazer tudo. F se desvia de novo para filmar, na Africa, Der leone have sept cabepas (1969/70), ¢ na Espanha, ‘Cabezas cortadas (1870)." Eainds uma vex, terminados estes filmes, a ideia de “hacer una pe- licula sobre la politica latinoamericana” retorna como “la dimension mas popular de: Terra en: transe”, ¢ como um filme a sec feito em Cuba por- que “este seria el lugar donde mi acto polities de cineasta contra La dicta dura en Brasil tendria mas significado”.” Retrabalha a idéia, desenvolve novas seqligncias ¢ aerescenta ag material eserite unia série de desenhios, um quase story board, A vontade que surgia em 1965, pouco depois da Estética da forme, reaparece em 1971, pouce depois da Estética do sole, pouce antes de now desvio, para fazer Histéria do Brasil (1972/74) com Marcos Medeiros. imposible ordenar el caos social ¢va el cimeasta brasilefio ins- raurar elorden podica?” Sim, responde Glauher ne n® 7172, “cuando instauramos ef orden poéticn avanzabamos todavia mas en La creacton de un nueva: lenguaje cincmatognitic larine- americane. No adoptamos wn-camino para buir de lacenstira. No somes cretinos- ni conciliadores, No somos partidarins de- simplificaciones cinematograficas en nombre de una falsa poli- tizactén™. E, depois de dizer que nto se sente culpade por ser cineasta, diz que “el cine no hace la revoluciin. El'cine es uno de los instrumentos revolucionarias y para ello debe crear un lenguaje latinaameri¢ano, libertaria y revelador. Debe ser épi- co, diddctico, marerialista y magico. Para mila revalucion sig- nifica la vida y la plenitud dela existencia es Ia liberacidin men- tal: esta transforma la fantasia del inconsciente en nuevas rea- lidades revolucionarias. Los artistas revolucionarios son tan necesariog al nuevo mondo come fos ingenieros™.*] Planos aéreos dos Andes, [Para que este relara-das seguidos envalvimentos © dis- tanciamentos de America nucstra ndo-déa sensagdo de uma per- manente indecisdo, iseguranga ow intoeréncia de Glauber; o roitire nie filmado funciona todo este tempo como um texto tednico, como uma reflexiio que impulsiona a pritica, Muttas vexes apanhado, trabalhade'e detxado para adiante — mais por falta de condighes de produgio que por umdeseje de retrabalhar © projeto —, este rotgiro nao filmado € que estimula Glauber a filmar. E como se ali estivesse o essencial: na historia do poeta de Eldorado-que sai da poesia para a politica, que faz politica COMO porsia ou poesia come politica: Depois de Derwse 0 dia- boo cinema dé Glauber se encontra marcado pelo desejo de filmar Aveérica nuestra, como seos filmes acabados fessem uma preparagao para chegar a esse outro'que nao se concluin, fos= sem tentativas de uma dramaturgia revelucionaria (“desde el punto de vista politico y poética”) que 99)s¢ realizana por in- teiro na historia de Juan Morales, o porta que daa vida pela pocsia — ou. que se realizou por inteiro nesta acao deixada cm aberto, neste qesto que parouno ar, A questi se encontrava noxcentra das discussocs cinematogrificas bem neste cspago de Slauber tenta filmar a hissdria de Juan Morales: a Esrifion da forme, ¢ 71, 0 Estéticn do sonho. Poesia his Cre Cubano non? 68: “ya que parece Joat Carlos Avellar (Entre os desenhos mais tarde acrescemtados.ae texto, a boca de um vuledo. ©-filme sairia dai.) Depois, desertos, mares, a Amazonia, imagens de fundo para os ere ditos iniciais. America nirestra comega apresentande Eldorada. Sobre es- fas imagens a informagio de que o pais foi descoberto e colanizada por portuguescs © espanhois e tormou-se independente no século NUK. En se- suida um conjunto de “pkinos ripidos, expressivos —um canhao dispa- ray vides no any movimentos de tanques; deslocamento de trapas”. E-en- tio o lereira que da inicio A histéria propriamente dita: “Depois dasiltima revolugdo, Manuel Diaz, lider civil, assured pre sidéncia™. Virias das 77 seqiléncias que compocm a narrativa possuem um le- Treino que apresenta ou coments a agaa. A festa de posse intreduz. um dos protagonistas da historia, Manuel Diaz, que “tem osalhos incendiads de misticisma, de fanarismo”, que “fecha os olhos olhando para. céu como agradecendo a Deus 0 fato de terchega- doae poder”. Um general discursa “através da televisiin, queéoinsirumento moderno” para anunciaro ato institucional que fecha a universidade, bane os radicals de esquerda, “reara oa lagos de amizade com nosses fraternos inmaos do Norte”, proihe eleigdes ¢ proclama o nove presidente. Depo, a banda de nmisica na rua, o desfile em carro aberto, 0 camaval popular, a cru no palanque,o coral religioso, a missa-celebrada por um -cardeal,a hostia, a faixa presidencial, o povo em silencio. A fala de Manuel Diaz é semelhante ao sermao da montanha de Porfiria Diaz em Terra ent frame: “O que eu A Ponie Clanlestina 13 nao posso ex plicaraos meus inimigos so a3 raves que me levarama aban- donar o exercicio da solidag pelo exercicio piblicn. Mas também nem Cristo pode explicar, a nao ser com a propria vida.” ‘Outra festa, ¢ mais um protagonista, Julio Fuentes, “playboy de qua= renta anos aproximadamente, cabelos brancos « compridos, ligeiramente homossexual, fala entrecortada de termos ingleses”. Umi “funeral das ¢s- perancas”, “uma verdadeira orgia” onde “o capital que tude domima la- menta a perda do poder”, festa reine “a esséncia dos que foram depos- fos: radicais histericos, aventurciros, esridantes ¢ sacerdotes inclusive — representados pelos provétipes, emban os prottipos desmintam o esque- matismo. & desta dialética dé uma estrutura esquemiatica versus 0 anti- quematismo des personagens que vivers.o drama.” Também nesta festa.o personagem principal, “Juan Morales, o poe- ta. Este representa a dualidade intelectual latina entre o romantismo ¢ 0 racionalismo;-o retardamento romantica ¢ a impossibilidade racional o | levam a um treca-passe continua, cujo resultado € um neo-surrealismo. Eis a ténica cetilistica da fibula.” [Neo-surrealismo: a palavra, espectalmente se lida em par- tuibol, especialmente se vista como imagem, representa com exandio o cinema que Glauber sonhow para a América Lati- , na: neo-sur-realiama, neo-sub-realisme, neo surrealisme do sul,} Mais tarde Juan) nos leva: ag quarto protagonist, Bolivar, o lider tuernlheiro. No comege cantade por um menino como um santo gierret rode “olhos duras, testa de urso, cabelos grandes, barba de Deus, sozi- nhe coma metralhadora amunciando o dia da libereagao”, Bolivar sé apa rece quando a historia ja estd pela metade, na floresta, “debrugade sobre um mapa, metralhadora ae lade, moreno, india, com bharba de dois dias, elegante, seguro, firme, em siléncio”, Ao lado de Juan trés coadjuvantes: Amor, 1 namorada que ele dei- xouna montanha ¢ que mais tarde se reunird aos gucrrilheiros de Bolivar; Silvia, a namorada que ele deixou na cidade ¢ que mais tarde se tornard ] amante de Diaz; ¢ Alto, que se opde a Diaz mas, contrario a luta armada, deéfende a tomada do poder pela conscientizagao, clo voto, pelas cleigdes diretas, pela: agitagao através da imprensa. Achistarta: | Diaz no poder, Juanabancdonao jamal ea televisio de Julio Fuentes (O poeta parte pard a montanta emar para amar emeditar, dix um le- } treiro,) Volta a poesia, volta-a sux aldei natal, reencontra Amor, reencontra camps), paisa pela violencia dos soldados contra os campo- enn que anuncia Bolivar, “o lobe das montanhas”. Joi? Carlos Avellar Uma carta-convite para “uma guerra pela imprensa, uma campanha de esclarecimento popular”, traz Juan de nove para a cidade (novo letrei- ro: Juan volta.a Eldorade para conspirar contra Diaz). Ena cidade.aa lao de Julio, Silvia ¢ Alto, Juan trama uma alianga entre um militar refonma- do, o General Lyra, ¢ uma multinacional, a First Company, para forgar eleigaes ¢ derrubar Diaz, ¢ propée apoio aos guerrilhieiros. Alto recusa (*Bolivaré um bandoleiro, um aventureira, levara Diaz-aradicalizagao”), insiste no velho general ¢ pede a colaboragio de Juan (“voce € um anar- quista mas pode ainda prestar algum servigo a Eldorado”). No encentra.com o General Lyra se-definem as comtradighes que alirmentam a luta contra a ditadura: Julio quer “um desenvolvimento capitalisea sadio™. Alto, um acordo com ogencrale a “conscientizagao daz massas populares pela imprensa para que apoyo chegue ao poder”. O general (na jardim, paleto de pijama, bu- qué de flores na mao, um grande cachorro manso: a0 lado) defende a de- mocracia mas nao acredita no povo, “uns harbaros que minguém consegue educar”. Juan defende o apoio A guerrilha para “virartude dé cabega para buinc”, A conversa antecipa o contlite que explode na final entre o projeto burgues, o dos partidos de esquerda, o dis esquerda armada ¢.o do poeta, Q que o roteiro anora em seguida serviu de base para o trecho em que Paulo Martins rompecom Porfirio Diaz em Terra enciranse: o documentano na televisiio eo reencontro entre o peeta eo ditador, onde, antecipa. a le- treiro, Pius, ferme ent sia bonra, pensa em vinganga, mas antes tenta se reconciliar com fran. O que esta no filme terminado reproduy até mesmo os didlogos esbocades no primeira tratamento do roreiro nao Filmado. Mas aconclusio do epistilio é diferente em America mnestrana cliscussao entre Juan e Diaz termina com uma troca de tivos “no estilo decapa-e-tspada, O mocinho foge do castelo, De noite, nas taas de Eldorado, A perseguigae. Carros da policia. Tiroteio”. © poeta, ferido, escapa part as montanhas, Na cidade Manuel Diaz reprime a oposigao, prende Alta, acaba com a liberdade de imprensa, pressiona Julio Fuentes (que cede e passa a de- fender o dirador} ¢ faz o.discurso mais tarde emprestado ao Porfirio Diaz naconclusio de Terra et transe: “Aprendemo! Dominarei esta terra, bo- tarei estas histéricas tradighes em ardem! Pela farea, pelo amor da forga, pela harmonia universal dos infernas chegaremos a uma etvilizagao”. Na montanha, Juan se encontra com Bolivar e recehe “uma casa na clareira, uma arma carregada ¢ uma oferta de morte”. No letreiro que apresenta as agdes sepuintes uma palayra so; “A re- volugio”, Imagens des enfrentamentos entre guerrilheiros ¢ soldados ¢ da ami- zade cnire guerrilheiros e camponeses; Bolivar, Juan, Amore a luta armada. Comentando as agdes, novos cantos.do mening que aparecera antes para A Ponte Clandesina Ls anunciar o guerreire soziniio coma metralhadora: “So rrinta, lage ses- senta, os pilerreiros da montanha™, diz cprimeiro, “Sao cen, logo duzen- tos”, diz o canto seguinte. “Sao mil, logo um milhdo”, prossegue a anun- ciagio quando a guerrilha invade a-capital. Enquanro Julio tira Alto da prisao, Diax tenta uma resistencia jd impossivel, Alto se adianta aos guer- rilheiros, mara Diaz ¢ monta um governo provisorio. A guerrilha vitorio- sa, Julio tenta “um entendimento nacional”, reunir os generais, a First Company, a igreja, os partidos de esquerda, a burguesia, os guerrilheiros de Bolivar ¢ o governe provisdrio formado por Alto. 10 trecho final do roteiro, doze sequéncias, treze paginas datilogra- fadas, se passa toda dentro do palicio do gowerno onde Julia, Alta, Juan e Bolivar, padres, militares — ¢ a certa altura também o representante da First Company, Mr, Morgan — discutem a quem entregaro poder. Cam Bolivar indiferente 2% discussdes (“deixe que cles se mordam comocacs”), Alto manda fuzilar Julio (*negocista corrupte” que “mudou mil vezes de posigdo”) ¢ também os generais contrarios & posse de Bolivar ("os cons- piradores estao por todos os lados"), Em nome do governo provisdrio exige ainda, “ances de dar posse a Bolivar, 0 sangue do intelectual pequeno-bur- gués Juan Morales": Juan concorda em ser fuzilado, Bolivar assume 0 poder eda janela do palacio falaao pove: “de onde, se nao do proprio sofrimento, poderemos extrair os principios de nossa vida?” No meio do discurse “dois planos intercalados, violentos ¢ ripidos: o marine avanga.att prinveiro plano, boca uberra, feroz, em camera lenia. O camponts salta, feroz, em Gamera lenta, boca aberta, com um machade ou faca na mao. Estas duas brutais € lentas imagens, embora em corte nipido, se, ceuzam para fechar o filme sob a yor inflamada de Bolivar”. Grande pata-uma sinopse, pequeno para sugerir o filme que se en- contrava nacabega de Glauber, o resume acima pode ser melhor compre= endido se a leitura se complementa com a lembranga de imagens de Terra am transe e do Drago da mualdade, que contam historias proximas desea, cde Der leone have sept cabezas, que tem um tom operisties proxime do ' qu se propde aqui. Otexto que prepara um filme ¢ um genero (literaria?) especial. E os rotciros de Glauber, textos muis especiais ainda. Nem elaboradas como os textos que cle escreveu para se mostrarent de fato come textos, mem éla- borados come um roteiro tradicional, Quase sempre oa roteire é palayra qué sugere uma imagem aseraplicada sobre o que esta escrito come lente de aumente ¢ torna possivel seguir a idém anotada em terra minicla, Em Glauber o roteire é un mecanismo mais complicade: 0 primeire impul- bce nin proceso de eriagaio que comea de nove na filmagem ¢ de novo José Carles Avellar fa montagem. Nao € propriamente o texto que orienta a filmagem ea mon- tagem, mas, bem ao contrdrio, o que desoriunta, desafia, descontrola. Cada fase do processo de inveng’s parece mais ou menos autGnoma, come s¢ 0 file estivesse comegande ali, naquele instante, ¢sende desafiado pelo ins- ‘lunte anterior. As trés fases independentes se ligam por senrimentos afins, pio trés diferentes formas de expressar a id¢ia que estava na origém do pro- jeto. Mais de que qualquer onrre-roteire de Glauber, América avestra— primeiro tratamento, nem sequer terminado enquanto roteiro, escrita quase jitomatica, registra de uma idéia que chegava 4 cabega naquele instante em que ia sende anetada — depende mesmo do encontro da imagem que “ahi o justo tom de leitura, o verdadeiro signifieads da palavra. Por isso 0 resume longo, tentativa de sugerir os conflitos que este rateiro poderia pro- Vocar no instante de filmagem. Algumas-abservagoes (“a ténica estilistica da fabular nas corpos a _oxpressio transida do subdesenvolvimento”). si um. Convite para ver a histéria através de “um estilo explosive, barbara, radical, antinaturalista, polémico, pottica”, Os poemasde Juan Morales (o roteiro prevé: eles seriam recitaces, oo- “mo osde Paulo Marting em Terra enetranse, ou cantadas, como es de Anta _¢ Coirana no Dragdy da Maldade} mais os versos do mening aise antuner | Bolivar antes dele entrar em cena preparam uma leitura poéuica da ago. [Alguns poemas do Jui Morales de Aprerica miesira fo- ram aproveitados em Terra ent transe come versos dé Paulo Martins. Exemplo: Nao anmncio. cantos de pag / ment me inte~ ressam ag flores do estilo. | Come por dia nnil notfelas amuargas ( qne define G nundo ent gee cia, Ou; Nido mie career 0s crepisculog | a mesma dor daadolescéneia, | Devolbo trangiti- lod paisagent! og vonritos da ¢xperiéncia, Ui terceiro pocma, cantado pelos guenniheiros, lembra.o diilope entre Antdnio das Mortes ¢ © Professor pouco antes da batalha com o bando de Mata Vaca no final do. Dragao da mialdade contra o santo gwer- reine: Bolivar conras-arnias | juan comras palavnrs | 9 pore cont paixde | pelts seluas adiantant los passes da liherdade f para a proxinna estagio.] Em particular, uma leitura poética da conclusao do filme. O instante que Juan comanda o proprio fazilamente para-garantir a continuidade & (ue comecou coma guerrilha de Bolivar nao é una aio igual a uma qualquer que podemos ver do lado de fora de uma sala de projegio, Opes se passa numa realidade-outra que pensa o real: ¢ uma imagem) pottica. Pomae Clanclestina 17 Duas conversas entre Juan ¢ Bolivar encaminham o didlogo que se di antes do fuzilamento, A primeira, a guerrilha.ainda na montanha. Juan diz que nao sat Se teria coragem “nio para morrer, mas coragem para matar™, Bal responds que, crianga, chorava quando um passaro ferido morria; que na universidade, diante do assassinate de seus colegas pela policia, se pergun- tiVa sc O Sangue era mesmo mecessirio; mas que ao fugic da prisio sua compreensan fol maior que ador: for obrigado a matar um puarda por- que sua liberdade para lutar pela liberdade de ourras cra mais.importante quea vida daquele guarda, A-segunda, a guerrilha ji na cidade, no palicio do governo. Depois do fuzilamento de Julia Fuentes, depers de um comentario de Bolivar (“nao podemos parar diante de dramas individuais”), Juan, confessa que 46 sc in- teressa por dramas individuats © se despede do guerrilheire: “Eu sou frace, cameo homem quecompéea massa, eu sabia disto mas nie queria acre- ditar... Bolivar, voce esta livre de minha sombra. Demito-me da junta...” Um breve encontro com Silvia (Juan diz o que Paulo dird a Sara em Terra em transe: que “€ preciso vencer, vencer a intolerincia, a egoisma, vencer a Morte mesmo gue seja.com minha vida"; © que sua morte & “o triunfo da bolegs € da justiga”)}. Eentio o discurso em que © poeta se candena 4 morte, Alto pede o fusilaments, Bolivar se opoe a condenagio, comeya a defender o amigo maséinterrompide pelo proprio Juan: “Bolivar, companheiro! Nao abra sua boca de homem honrade para fazer minha defesa, Suas maos manejaram as armas como se elas fossem objetos sagrados. Sua boca fez os dliscursos que incendiaram os coragdes dos oprimigos. O pave de Eldorade caper am novo discurso, quer ouvir o seu destino, o seu futuro. Por isto, simon Bolivar, poupe sua lingua ¢ sua inteligencia; nag as use para me defender”, “Ha unia perplexidade na sala”. Juan se volta entao para Alto.e para os Outros conselhetnns: *Senhores do Gonselho, que combareram. Bolivar quando ele solita- niamente lutava. Senhores que induzicam homens ng0 Gie honrados mas certamente ousades, como Julio Fuentes, a participar deste combate, e que também me levaram a assim proceder: Nao.sois somente vos os detentores da verdade e da consciéncia humanas, Em todas as revolugdes ha os Gene- ras, os Poetase o# Politiens. Ha também os crdipulase os moralistas: os herdis de todas as horas © os tiranos dos dltimos momentos. Vis defendeis uma causa pela qual milhoes de homens morreramye continuam morrendo em todas as partes do mundo, Mas vos esqueceis de que esta causa ainda nia tem todas as suas leis definidas ¢ que a essencia desta causa repousa nas suis Proprias contradigdes: esdc-cstas comtradicoes que a movem. Eu posso ser 8 Jost GhrlewAndlar uma destas contradi¢hes superadas. Admita mesmo a minha morte, Ma- tem-me mas nao pensem que sobre uma sangrenta intolerineia se pode coms- true tim verdadeire humanism. Por isto matem-ine, mis seeretamenté, como s¢ mata um bandido. Mio matem em publico um pocta porque eu, poeta desea revalugdo, faria o pove chorar a minha morte, E esta revolugao tri- unfou nio para as lagrimas mas para a alegria do povo™. Muda detom, ¢ conclu: “Marem-me porque eu duvidarci sempre da verdade™. Depois do discurse, o fozilamento: “Dols guardas se aproximame levam Juan. Bolivar oolhae vai se dirigindo para a janela. O povo danga nas pragas, Um carnaval. Monta- gem de carnavais ¢ delirios festivos da América, Plino fixe. Um. pelotio de fuzilamento dispara em Juan, Close fixe de Bolivar.” Depois do furilamente, a conclusao: O discurso onde Bolivar fala dos que morreram “com os alhos vol- tados para a manha que nascera desta noite”. Um plana no patio varia do palicia do governe; “Amor anda para'o corpo marta, de Juanne o aca- ricia’’. Nove trecho do discurso de Bolivar, sobre a fome comoa tragédia maior, a“ pove: vizinho da morte passiva pela fome”, o deseyo de viver tempos de paz ea disposigdo de retomar a luta para a deiesa de Eldorado, E, cortanda o discursa, as imagens do marine « do camponés, No final de 67, pensandoa morte de Paulo Martinsem Terriem fraps, 0 tratamento sonore desta cena onde “o rufdo das. metralhadoras se 50- hrepée a misica” Glauber afirrmou: “Musica ¢ metralhadoras, ¢ ém segui- da ruidos de puerr, Mic é uma cangio ao estilo realisuso socialista, allo ¢ o sentimento da revolucdo, @algo mais duro ¢ mais grave: Fiquei feliz em ter colocado iste no filme, porque um més mais tarde, quando li weomuni- cacao do Che na Tricontinental, ele dizia: Ponce importa o lugar onde ent- contrare amorte. Que ela seja bem-vinda desde que nosso apelo sea ott vido, e que no repicar das metralhadoras outros homens se levantem pare vetoar eanios fimebres ¢lancar nouns gritos de guerra ede vitdria.” E pros segue: “Alias s6 pela morte Paula Martins poderia se salvar: se escolhe a revollugda, ow seja, se ele se Torna unt revoluctonario, tera escolhide tam- bém a morte, cesta escolha é que lhe da possibilidade de vitoria. Ele deve portanta se preparar para a morte. Trara-se de uma decisio para a qual devernos romper comrtodas as amanras. Nao estou pronto para isso. Euma comingencia trigica que todo homem do Terceira Mundo deve entrentar. Pode ser encarada, se quiserem, como uma posigie neo-romntica, mas muita didatica também. O que Guevara valoriza é que a guerrilha no é uma aven- {ura romantica, mas uma epapeia didatica.” Na contradicao entre sua construcdo podtica co fuzilamento de pocta (“a esséncia desta causa repousa nas-sias proprias contradigdes”) Amert A Ponte Clandestiaa 19 ca nwestra traduz uma questao longamente examinada nas discussoes sep, bre cinema na América Latina: & morte do Poeta, Beste podticn ¢ Hao a morte da poesia, como uma livre escolha endo. comouma condenagao, 0 que morre cm Juan Morales é um certo modo de pensar a arte. Um ritual de passagem semelhante ao que Glauber realizaria mais tarde com Di Ca- bulcanii, A more de Juan é ummodo de “tirar a cultura da-cultura, ce suacasca” defendida “pelos que ainda vivem recolhidos em um elitisme mental que lhes parece inseparavel de toda poesia” — para usar as pala- vras de Cortdzar mais adiante apanhadas por Geraldo Sarno, Oritulo aparece na montagem de depoimentos de Julio Garcia Fspinosa, incluida no terceiro volume da colesanea Alojas de Cine: Insirucciones para hacer ris fal co son pais subdesarratlado, Discutia-se numa Mmesa-redonda como constriir aina cultura capaz de superar o subdesenvolvimento, Tal- Ver por isso, no meio. da conversa, a lembranga do propeno, Julia vinha dizendo: nll “Tercer Mundo y América Latina, hay que estar claro, acmitimos estos hrminos come una convencidn, Es decir, ¢cuales son cl primero y el segunda mundos? Es un paco raraesa nomenctatura. ¥ efcetivamente, cuando noso- tros hablamos de América Latina no hablamos porque vamosa simpatizar Primero con un oligarca latinoameéricano que con un abrero francés”! Em “Ahora, ¢s cierto que en medio de todo, nosomras podenios hablar de que hay un enfrentamient del mundo colonial vel mundo no ecolont- al. Es in enfrentamiento decisive paraun cambio en la humanidad ¥ ese en frentamiento descansa eneste mundo colonial y meocolonial, De ahi que en Nuestro casa comereto de Eatineamérica piense yo que existe UN iargen de posibilidad de hablar de una cultura latinoamericana, una cultura farine- americana que no pucde al misma tiempo hacer abstracciin de una Optica Glasiota de la cultura, de la realidad, dela histaria, de todo, E ronces nos plinteamos hacer esta aperacion descolonizadora, desalienadora, en una palabra. ¥ planteamos hacerla nosotros, Que estamos alienados; es decir, que la dificulrad consiste un pocoen come hacer una funcion desabenadora poralienadas. ¥ no digo simplemente porque seamos la pequena burguesia, creo que toda nuestra sociedad esti alienada, ley misma la clase obbrera que los campesinos, quc todo el muncto, Entonceses Muy simpatico que a veces fos panteamos esa posibilidad haciendo abstraccidn de que estamos ali- enados. {Como hacerla2”, E ainda: “Que quiere decir esto? Que para salir dela alienacion hay que pagar una cuotade alienactén, ;Coma plantear entonces este problema de Ia 20 José Carlos Avellar idenridad/ cultural, sabiendo que laidentidad cultural hay que buscarla dentro de este marco? Esto es bastante complicade. Podemos ver que existe unt herencia que hay que inirar con espiritu critice, porque hay muchas cosas latinOamericinas que no nes intercsan que sigan, parque en defini- tiva son bastante resccionarias, aun a nivel de auestros costumbres: Si vamos en busca de una identidad, pienso que no st puede ir si no es a tra- vés de todo este contexte, es decir, de un contexto que va de la necesidad de plantearse La realidad con una viston de lucha de clases y al mismo tiempo de ung realidad que ticné un panto combina pesar de esa lucha de clases. Es que hay varias prepuntas que estan interrelacionadas, Porque gque cosa seria partir de esa idennidad cultural de este rescate de una identidad cul- tural? ;Cémo perseguimos un objetive de cultura popular?” Far entao a referenciad idéia de um filme cond instrugoes para fazer um filme, projero pensace nao como ima tentativa de responder as ques toes formuladas acima, mas sim como um meio de amphia-las, E idéia puardada quase so come idéia, roteino pars alimentar wii Comportamen- to diante do cinema endo propriamente para gerar um filme, Diz: “Tengo un proyecto del quevoy a decir un capitulo pucs como no bo hare ya jams me queda-cl consucho dea cada rato contarlo”, E presse gue: “La pelicula dnsteyceiones para hacer we filet en wn pats sulaesar- roffade tiene muchos capitulas y uno es la foragenia, donde se explica que es fa fotogenia, Entonces el problema que tiene la gente con la forogenia: es gure si, soy bonito o no, no-sov bonito. Yo rome un tratade aleman de fotografia donde se explica lo que es la cara perfecta: tiene de largo el equi- valente a tres erejascel perfildebe tener un angulo recto que vaya desde el lobule inferior de la-oreja ala base de la narixy después en angulo recto a la frente, Si estd para fuera, malo: siesta para adentre, poor: persamicntas muy lisos, Y se explica como toda la iluminacién y todo-el maquillaje-en el cine estan en funcion de avercarse Io mas posible a esa cara perfecta. $i tene lu nari un poco ancha, un poco de tres cuartos de ilaminaciin, y asi. Enronces, mientras da toda la explicacton uno se da cuenta de pronto que todos los defectos de ¢sa cara perfecta son todos los raspes nucstras, de los asidtivos, de los negros, de los indies. Es facil disimular un defecto pequefo, pero quitarse un rasgo,,, a menos que acudan a lacirargia phis- tica.. Y se hace un recuento: suponiendo un precig modico de cien déla- res por la cirurgia plistica, somas tres mil y pice de millones de subdlesar- ralladosen el mundo, la cifra cs extraordinaria. Entonces cl capitulo de la pelicula Mega ala conclusiin de que es mits ficil que se borren-la carade los ofros-Es una operacién en que trato de que nosotros nos sintames re- afinmades siendo come somos; sonios asi y tenemos que asumirls y si se es feo, que le vamos a hacer”. A Ponte Clandostina a [“Hay que romper del tode com ef cine dé los trajes recién planchados, de las mujeres bien peinadas”, ¢ buscar “un desaliie provocado”, reclamava Fernando Birri contra o cinema agen: ting dus anos 40,"° E Nelson Pereira dos Santos, comentande os filmes feitos neste mesmo periodo pela Companhia Cinema- togrifica Vera Cruz, de Sao Paulo, observava: que o “tipo dos atores era amenicanizade, as mocinhas maquiladas A america- fa, montes dé atares com os cabelos tingidos em tons mais cla- ros, o tipo de comportamento tae polico nosso, artificial para nds, mesmo que fosse — eu acho que ¢ra — natural em filmes amencanos. Ere. O proprio uso da lingua portuguesa no cine ma paulista nao fazia sentido, era cotalmente falsoy havia um preconceito de botar nos filmes alingua falada corrente, erra= da, que é a nossa mesmo. A gente fala errade 4 beea, ev falo errido, vocé fala errado, ¢ nds dois temios instrugio superior... Mas, se assim. quea gente fala, porque é que tierrado?”!? E ainda, também-sobre o cinema que fizemos até ox anos 50), Octa- vio Genio observa que além de climinar “todo el modismo de lenguaje local”, todas as “fermas de-comunicacion de la realicad inmediata” este cinema fez da maquiagem “un recurso de price titania importancia.Era necesarig esconder los rasgos mestizos no suficientemente coincidentes con los modelos del star-systenn, para hacer creer alespectador queestaba frente a un actor occi- dental y blanco, y no ante uno proveniente del espacio nacio- nal, salvo que se intentase introducir algan matiz exdrien,”!4] Instragao mimero um: mostrarnos assim come somos, Tornar visi- vel nao d mide, mas é precise partir dai: encontrar um tnaque eficaz para mostrar o homem invisivel da América Latina, “En esa pelicula que nunca hare, hay también un capitulo que se lama Elirecoy es sobre como se hacen los trucos en el cine, Me ha Ilegade a ta Menke an Teco que impesiona mucho de nifia, que es el del hombre invi- sible. Yo me planteaba como hacer visible el hombre invisible del subde- sarrollo, Y cualquier cosa que nosetres hagamos, en buena ley, es impor- tine dentro del mareo que estamos Kablando, porque hay que hacer visible este continente, hay que hacer, de alguna manera que s¢ yea”, Tornar vi- sivel, denunciar, testemunhar, nao é tudo, “De wna manera mas obviase me evidencié esto en Tircer stunda, tercera guerra siendial, donde i sive de una manera explicita une pone que no basta. con la denuncia, La pelicula, en un mementocado, pone los nombres de las fibricas que hacen el napalm en Estados Unides, con su direccién y todo, Pero constanteniente sale un letrero que dive: fr demuneia wa es suficiente. Porque la denuncia a2 José Carles Avellar os para denunciaresta siMMClOn aquien efectivamente no esta panticipan= Jo en la lucha para que tome conciencia del asunto. Entonces decimos: 10 os suficiente la denurtcia. Es comoun reclamo a los propios cincastas a hacer Un cine gue no se limute.a la. denuncia, que nose limite al testimonio, que trite en verdad de dar mas lucidez al que esta luchande, que lo pueda uti- jizar mas alli de fa denuncia, porque él no saca nada con denunciarse a si mismo, puesto que él es el que esti en el asunto.” Instrucciones para hacer wn filet en ver pars svbdesarrollade conti (ud a pensar o que-se esbocou no instante em que cinema documentirie conmwo-realisme italiano chegaram aos nesses olhos falando quase a mes- ina lingua que tentavamos inwentar para * ponerse frente a la realidad oon una cimara y documentarla”,. como recomendava Fernande Birr), Para “hacer off nuestra vor y ver nuestra imagen dendequicra que las cirewins- tancias san propicias, tratando de ocupar un lugar cada ver mas signifi- cative", como observau mais adiante Tomas Gutiérrez, Alea ao propor Caliban como uma imagem da cara perfeita do colonizado, ¢ Ariel como imagem do poeta do subdesenvalyimento a caminhada escolha fetta por Juan Morales. “Desde cl principio nos vieron éegiin el alcanee de su fantasia y sepiin cuadraba'a sus imtereses™, lembrow Alea em marco de 1989 num seminirio na Indilia, ag apresentarsun idéia de ume adaptagio cinematopnifica de A ftempestade de Shakespeare.’ “No habian-pasado muchos dias desde que Colén piso por primera vex terra de lo que denominarian oportunamente Nuevo Mundo cuando anota en su diario que lejos de alli habia hambres de un ojo y otros con hocicos de perros, que comian hombres. Despues vucive 1 hablar de gente que teniaun.ojo en la frente y ores que se llamaban cani- halesa quiches mostraban tener gran miedo, Laalusiénesaloscaribes, ha- bitantes de Iaisla de Haiti, que Colén lama Isla de Quarives. ¥ este canbe mal llamado canibal Megara a ser Calibanen la fantasia del hardo inglés,” Alea lembra que vem desta parte do mundi que “hace quinientos anos llamaron Nwtno ¥ mas recientemente jerarquizacon como Tercera, siempre en relaciin con el Vielo Printer Manto, que es cl que se ha sentido con derecho, por ser cl mas vieja ¥ el primera en nivel de desarrollo, de nombrar todas las cosas”, Diz que vem desta parte del mundo “que nosotres he- mos denominado Nuestra America, la que esti alsurde! Rio Grande” para falar *de un film-que no he filmado”, uma versio latino-americana de A fempestade que utiliza “el praprio texto de Shakespeare, pero manipula- do convenientemente para cambiar su significad, para invertir sus valo- res”, Ao original se semaii apenas dois dialégos entre Caliban-e Aricl ¢ uima-cenaem que cate ultima, para divertir Prospero, conveca “me los be i A. Pante Clandestina personajes de la mitologia griega”, mas “espirinas y deidades de la mito- logia aftocubana”™. © roteiro foi escrito com 4 colaboracae do critica inglés Michael Chanan apoiado “en las reflexiones que sobre este tema ha hecho el poe- freubano Roberto Fernande: Retamar"'c em dois textos escritos entre o final dos'anos 50 o final dos 60: 0 de Aimé Cesaire, da Martinica, unas adaptagio da pega onde Caliban ¢ um escravo-negroa, ¢ ode Edward Brath- waite, de Barbados, um pocma dedicade a Caliban em seu livro Islands. “Simbolo nuestro pues aunque de fuera — de laotra orilla — nos viene el nombre junto con el desprecio, dela misma manera que Propero enseio eHenguaje a Caliban yeste lo utilize para maldecirlo, asi nosotros utiliza- mos el mismo nombre para oponernuestea imagen a la que han presentado de nosotros los mismos que ven a Caliban come un monstruo”, © personagem ¢ apresentado por Préspero como “pequeiio manstruo rojoy horrible”, “criatura atrasada”, “esclavo impostor, a quien pueden conmover los latigazos, no la bondad", “esclavo aborrecida, que nunca abrigara un buen sentimiento, sien inclinado a todo mal”, “monrdn de inmundicia”, “cachonro samoso” “salvaje”, “objeto de tinieblas”, “un diablo por su nacimiento, sobre cuya naturaleva nada puede obrarlaeducacion”, On seja, conclui Alea, Caliban na pega é 0 colonizado. “La imagen que de él nos afrece cl genio de Shakespeare no es otra que la que tiene cl colonizador del colonizade. Caliban encarna el mundo csclavizado, oprimido, saqueade, esquilmadoy denigeado. ¥ para que los Saqueadores puedan mantener su cabeza erguida y su concier limpia tienen que representar a-ese- mundo como un munde eorrupto, salvage, irracional, violento, cruel, impotente, incapaz de oma cosa que no sea ser- viFcomoesdayaa cae otro mundo que se erige comoel verdadero, el limpio, el sabio, e! justo, el elegido — por Dios seguramente para regir los desti- nos del universe. Es decir, el mundo eacarnado por Prospero”, Montana de imunilicies, Caliban's6 s¢ mantém vivo porque escravo de Prospero. "Asi este Je advierte a su hija Miranda: No podemos pasarnos sin él: nos hace el fuego, sale a buscarnos lefia y nos presta servicios dtiles”. Servigos tteis Prescr também o autre escrave de Prdspero, Ariel. “Tanto Caliban como Aric son esclavos de Prospero, pero mientras Caliban tiene que realizar Jos trabajos mits duros, Ariel se ocupa de las cosas del espiritu, :Quién es Ariel entonces? Ariel es el espiritu alado, sim ataduras, que pone su capa cidad creadora y su fantasia al servicio de Préspero. Es facil ver en él al intelectual. El intelectual al servicio de Ia clase dominante. En nuestra version cuando el intelecnial cobra conciencia del lugar que ocupa y del sentido en que avanza [a historia, tiene la posibilidad de elegir entre se- guir sirviendo al amo o unirse a Caliban en la rebelion que este imexara- blemente ha de desatar™, = Jest Corlos Avellar No confronta dos dais escravos timaourra questa longamenre de- hatida hos textos que st volraram pata pensar o-eLnenna em particular ou a ane de um modo geral na América Latina: a iesponeetnlidade do a ta. A relagdo entre o wabalhador intelectual, Ariel, “que hee mado en unarbol sobre pantano”, ¢ o wabalhador comum, Caliban, cas- lo colonizador, preso na | Baa se “Yo ae la violencia, Dehes ganar el respecto aes otros con acciones respetables”. Contesta Caliban: “Enionees afi ae Oye, oye bien: la violencia no es algo-en que fii puedes creer a ear : creer, La vidlengia es un frepo que-te quema por dentro, ta rabia que e tirane enciendle en nuestra Sangre Con sus amenavas, sus insultos ¥ Oo sin. @No la sientes ardiendo dentro de ul Progpera siempre te esta pre a libertad, pero siempre es miafiam. Ne ; es eal bee rencionade”, insiste: “la rebelion $s ate o camino equivocado", é a tempestade “soplanda en el ‘irbol equivocado”; para derrotar Prospero é preciso “aprender sh magta, su erencia, = arte”, ¢ sonharcom um future “en el que estaremos todos unidos: Prospero, a y yo, dando cada uno lo mejor desi y trabajands juntos”. Saliben pape tade nove: “2A donde crees que te vita llevar todo ese aprendizaje? Ne convertirte en un profeser? Lo primero que aysaitie entender oS Spee ro: él no siente nada por la gente como nosotros”. E quando Ariel pune: que “el mago esti atormentado yen sus Suenos solo ve una salig a8 au problemas: perdonara todos de una yer", Caliban reagecom paiva i quiere decir-con eso que me va.a perdonar? Calihan no quicce supercon, io eel Jan que yo pido”. Me “A Peake emiaberto. Perseguide pelos cathorros de fo pero, Anel “se encarama en un arbol que se inclina sobre el panrane i galho da arvore em que ele “seagarra noes sulicientemente Fesptonte ¥5e parte. Ariel cae junto a Caliban en el pantano”, A camera ¢ntio ee de lentamente, Sucesivas alcjamientosy disolvencins nos Hevana ve isla desde cl mar”. Ariel, © intelectual, safre “Ia misma suerte de Cali ee ve forzado a unirse.a.él. Quizds Ariel hubiera podido huir a tempo, pero es justo pensar que, una vez que ha romado conciencia de su smal y de la de los ros, ana vez que ha sentido la injusticia en si mismo ¥ Ei ne otros explotados, tratard de encontrar solucianes idealistas, pe formistas, impraticables, que poco a poco lo iran acercando ala realty . , mas cruda. En. esas circunseancias, tratando de tenderle una mana a los que eatin en el pantane, es previsible que al final se vea atrapado en una situacién que lo obliga a unirse a Caliban”. [* Estamos tadossujando as maos nes panta nos de mings solo ¢ no vacuo terrivel de nosso cérebro. Todo espectador € A Ponte Clandestina win covande ou uni ¢raidor” — pricou Frant: Fanon num five, Os Condenados da terra (1961), repetiu Fernando Solanas num filme, La bora dedas hornex (19684) imagem que encerra este filme nao filmado trabalha para a emo: §40-0 que as teorias encaminharam para a razéo: “la solucién definitiva silo puede venir de la union de Ariel y Caliban, una reunidn que sea paz de producir un. cambin radical en las estructura sociales", Mais adiante quande Geraldo Sarno se volta para o Julio Cortazar da Nicaragna a tiolentamente dulce, & coma se estivesse partinde do ultime plano de A tempestade de Alea ¢ realizande o movimento inverso: suceesivas aproxi- magoes ¢ fusdes para se aproximar de Ariel « Caliban no pantane. : “O'que fazer além do que fazemos, como incrementar nossa partici- Pigio no verreng geqpolitice a partir do nosso setor particular de traba- lhadores intelectuais, como inventare aplicar novas modalidades de con- fato que diminuam cada vex mais o chorme hiato que separa o escritor daqueles que ainda nao podem ser-seus leitores?”"!7 A pergunta, proposta por Julio Cortizar num seminirio sobre cul- tara latino-americana na Espanha, dew a fespasta para a construgao de roteira de Apacalipsr de Sofentiname, que Geraldo Sarno trabalhou com a colaborayaa de Orlando Senna e Eric Nepomuceno.!* Na Pergunita esta a histGria que o filme quer contar. Quer diver, a histdria desse filme nao fimade Emesmoa de relaco que abre Nicandewa tdo efolentamente doce =a viagem clandestina de Gortaar a Nicarigua em abril de 1976, G modo de sentir e de compreender o que se passa, o ponto de vista da camera, é at vem deste ourra texto, da COMUMICAGHO SsCrita para o seminirio na Espanha, onde, depois da pergunta, Cortazar anota: “Par poucodoradis que sejamos muitos de nos ny terreno pratico — eacho que Somos MuLoTia ec que nao cabe envergonhar-se, dado que massa pratica € otra —, a ninguém pode escapar a importincia desta etapa cm qué as anilises tedricas parecem ter sido suficientemente esgotadas e abrem caminho as formas de agio, as intervengoes dirctas, Como engenhetros da chiagdo literaria, como projetistas e arquiteros da palawra, tivemos tempo de sobra para imaginar e calcilar a arco das pomres-cada vex mais impres- clindiveis entre @ produte intelectual ¢ seusdestinatirios: agora é0 mHOMGHiG de construir essas pontes na realidade ¢ por-se a andar nesse espacoa fim de que ele S¢ Converta cm senda, em comunicagdo tangivel, em literatura de Vivencias para nds ¢ em vivéncia da literatura para nossos povos."!? 0 projete comecou a Tomar cons quand Sarno-esteve na Nicara- 8a para o documentario Dens é wn fogo, « mistura documentario e fic 26 José Carlos Avellar io, Em parte pela experiencia do diretor.? Em parte porque, die Corazar, tratando-se da Nicanigua, a fronteira entre fiegao-¢ realidade nia esth muito-elara™ 4! |i no livro a fronteina nao se encontra muito clara. Cortazar fala de uma experiéncia vivida mas nao como quem escreve um fragmente auro- biografico, Monta uma ficgio, faz de si proprio um personagem de sua fiecio, Conti o que se passou em Paris quando ainda esta em Guba, vindo de Costa Riea, antes da viagem de volia para a Europa, Nao docu- menta: representa o que sentiu.* Tudo é verdade, masa articulagio das fragmentos de realidade selecionados para relatar o que se passoucom- poe uma fiogdo, tal come num filme, mesmo quando se-trata de um do- cumentari, '& enquadramente, a lux sobre a cena, o som sobre a lute a relasdo entre os planos narram uma outra coisa que corre simultinea, em paralelo e-com freqitencia na frente das situagdes vividas pelas pessoas diane da camera, O texto se refere a imagens ¢ desenha imagens com palayras; salta de uma situagio para outra dentro de uma mesma frase tal como um fil- me pula de um plano para outro; é uma conversa tio cinematografica que parece até ter sido escrita para ser filmada. A adaptagao, por isso, nid se afasta do original, Acrescenta apenas, nas entrelinhas, nos espagos inten- cionalmente deixados em abervo, informagées apanhadas em outras rela- ros de Cortazar ¢ na historia recente da Nicunigua. Este filme, que s6 existe como texto, na realidade j4 meio se encon- trava no texto que o inspirou. No comeca, enquanto-contasua chegada a Siio fosé da Costa Rica —o calor que fazia, “o jeito mais para caladinhos dos ficos™, a “conferéncia de imprensa como mesmo de sempre”, a du- cha ne horcl Europa, asaida para caminhar por So Jose, a mao de Ernesto Cardenal agarrando-o pelo palerd, ¢ aquele abrage no pocta, o convite © a partida para Solentiname — no comego, os pequenos incidentes narra - dos ja revelam a questio que de verdade importa. © leitor percebe ai de modo difuso a que aparece bem definide no final. No relate temos nis os fates fotografados pela prosa de Cortazar, mas tambéma que. o texto revela através de seu modo de se estraturar. O “mesmo de sempre” na conferéncia de imprensa da o primera sinal: "Porque vece mio vive na sua patria, o.que acontecen que Blowip era to diferente do teu conto, voce acha que o escritor deve ser compro- metide? A esta altura ja sei que me fardo a tilima entrevista nas portas do infemno-e certamente as perguntas scrao.as meamas, © se por acaso ¢ chez S$a0 Pedro as coisas nfo vo mudar: nao the parece que la embaixe voce escrevia de forma excessivamente hermética para o povo?"=! A referencia ao filme que Michelangelo Antonioni realizou cm 1966 a partir de Las basbas del drablo, embora ligeira, ¢ fundamental: Li ‘AcPowte Cchamsdestina 7 Cortizar, tal come se narra em Afrocelipse de Soleutiname, vive uma experiéncia semelhante 4.do fotdgrafa de Bloto-np: 36 nas fotos «ue re vela em Paris, a imagem ampliada, os diapositives projetados na purede, descobre a real idade pintica nes quadros: dos ca Mponeses de Solengina a que futografou. © filme de-Antonioni [“el trance mas bello a colores de la cinematogeafia moderna, chisica, brillantey vacia*, escreveu Glauber depois. de vé-lo em Cannes*] discute o olhar, O Cortdzarde Solentiname tambéns, Diseute como um dererminada instrumental sensivel, a arte, a fotografia como exemple, pode tornar visivel o que nao percebemos a olhe nan, : O que 0 esertor ¥é quando olha os quadros pintades pelos campo- neses de Solentiname é “a visdo primeira do Mindo, oolhar limpe de quem ilescreve o que © cerca como um canto de louvor: vaquinhas amis em pridos de papoulas, a cabana de agucar de-onde as pessoas vio sain- do certo. formigas, o cavalo de olhos verdes contra um finde de camavi-= al, o batizado em-uma igreja que nao ceé na perspective ¢ sobe ou cai sobre si mesma”. A arte antes da vida. As pinturas, em Solentiname, siio.o bem: estar que vern.da obra de arte, ¢ por isso. o escritor nao eee desviar os olhtos da “mae com duas criangas nos joelbos, uma de branco c cure de vermelhin, sob um céu tio cheio de estrelay que a Gnica nuvem ficava ine hunithada em um angus, apertanda-se contra um canto da ale dura do quadro, ja sainde da tela de medo”, Ve ax pinturas, nia ve mais nada, Decide fotografi-las, todas, transtormarse num “ladrie de qua- dros, contrabandista de imagens” 2! ‘ Em casao que cle ve nas fotografia é outra coisa: “O.Canco prete com os quarry caras apontands para.a caleada onde alguém corria: com uma camuisa branea ¢ um ténis, duas mulheres querendo cefugiar-se arris.de um saminhao estacionado, alguém olhando de frente, uma expresso horrori- zada, UI eAtro que Yoav em pedagos em pleng centro de uma cidade que podia ser Buenos Aires ow Sao Paulo*. As fotos dics: pinturas, em Paris, so omalestar que vem d4 realidade,.Q escritor descobre o que forografou sem saber que fotografava: ¢ javerm ali, “em um sesunde plano clarissimo, um rosto largo-e liso.como que cheio de incrédula S0rpresa enquanto seu cor pose inchinava paraa frente, o buraco nitidono meioda testi, a pistola do oficial marcando ainda a trajetéria da bala, os: outros dos dale lados Pn as metralhadoras, um funcdo confuse de casas ¢ de drvores” 24 : Uma outra referencia ligeira, que define a fotogralia mio sé.como meio sensivel capaz de tornar yisivel o que nao aparece aos olhos nas também como expressio quase dotad de vontade propria e capaz dealterar.o que DEES aos olhas, prepara este momento em que Cortazar descobre em Paris o apocalipse cm Solentiname, 24 Jost Carles: Awellar E oarecho em quese fala de “fotos de recordagao com uma dessas clmaras que deixam sair simplesmente um papeleinho celeste que pouco 4 pouco ¢ maravilhiosamente ¢ polaroid se vai enchendo de-imagens pau- latinas, primeiro ecroplasmas inquietantes ¢ pouce a pouco um marir, 4m cabclo.crespo, o sorriso de Ernesto com sua fit nagarena ma cabega, dona Maria e dom José sob'o fundo da varanda: A todos isso |hes pareeta mui- to normal porque, claro, estavam habituados a usar essa cimara mas eu rio, para mim, sair do nada, do-quadradinho celeste do nada esis caras cesses sornisos de despedida me enchia de assombrove eu thes disse, me lembro-de ter perguntado.a Oscar o que aconteceria se alguma ver depois de uma foto de familia o papelzinhe celeste do mada comegasse a se en- cher com Napoledo a cavalo, ¢a gargalhada de dom José Coronel que esewtava tudo come sempre, 0 jipe, vamos ja para o lago”.2? Depois da viagem, em casa,a vontade de ver as fotos dos quadros antes das outras, “por deformagdo profissional a arte antes da vida", a deseoberta de *pedagas de corpose correrias de mulheres ¢ de eriangas por uma ladeira boliviana ow guatemalreca”, for como se os quadradinhas celestes do nada se enchessem de Napoledes a cavalo: “eu me disse estu- pidamente que teriam se equivocado na ética, queme haviam dado as foros ide outro chente, mas entaa-a missa, as criangas brincando no prada, ens Hie como.” 24 As perguntas dos jornalistas ao escritor argentino hospedado ne hotel Europa, mais aquela que com toda certeza iria-se repetir cher S10 Pedra, preparam tambern o final do relate. A patria, o comprometimente, @ for- ma hermetica para o povo, questées que a realidade propor ao escribor, explicam a surpresa ¢ o sofrimento diante da América Latina em Paris nas fotos deSolentiname, “Aarte antes da vida,¢ por que mao, sea arte tam- hem é vida, se tude & a mesma coisa”. A arte como ama ponte entre a re alidade-outra em que se dia ficgio e aquela em que vivemos, ponte que Fos permite ver ecompreender ali, na realidade-outra, o que os olhes nie saber ver na outra realidade em que vivermos. *A ponte, como imagen como realicade, ¢ quase tie velha come o homer. Um poema foi sempre uma ponte, como uma nndsica ou tm, novela ou uma pintura”, O que ha de nove éa preocupagan de fazer des- ta ponte um-caminho popular, “é a negao de uma ponte que partinds de um lugar habitade por essas novelas, por essas pinturas € esis miisieas, se estenda aré a outra margem onde. nada disso chegou ou chega verda- deiramente”,.a margem em que se encontra o povo trabalhadar. Vivemnos num “continence de culturas escamoteadas, de cultiras subjugadas, de cul- turasaculturadas, de culreras ridiculamente minoritirias c elitistas, de cul- turas. para homens cu leas” 2? A Fonte Clandesmma

You might also like