You are on page 1of 17
‘Aldrin Moura de Figueiredo TT " Figaeed Aisin Moura de Acide dos excanidos oj, fai € relges frei oa Amadis / Aldcin Moar de Figueida Belém: EDUFPA, 2008 1870 - 1950 (CDD- 22 ed 30109811 ‘ 4 Copyriht © by Alden Moura de Figured publicou em 1934, exatamente no mesmo ano em que, como juz, analiava os autos de diligéncia acerca da pajelanca, um artigo criticando as andlises de ‘José Carvalho, ém sus obra de 1930. O artigo apareceu com um titulo lorigo © pomposo — Folklore do Pani. Yaribes da Amazonia. Em torn do lisro “O matuts Cearense € 0 Cable do Pard’, do poeta carense José Carvalho”. Hurley pretendia contestar vitios aspectos do eolega folclorista', (© ‘que interessa aqui, no entanto, é demonstrat que, Ao tocante {ssunfo pajelanca, havia uma oposigdo ferrenha entre Hurley e Carval O ponto a ser enfatizado aqui € que Carvalho continuaval batendo na yelha tecla da indoléncia do caboclo amazinico, como sendo um cariter herdado do indio’ ancestral. Para esse autor isso ficava bem marcante quando se comparava 0 nativo com o imigrante cearense, sobre o qual Carvalho repetia as formulagdes de Euclides da Cunha a propésito da figira do sertanejo' (© exemplo extremado aparece quando Maria Brasilina, longamente referida além de mostrar-se neéfité das regras bisicas de pesquisa folel6rica, visto que, , José Carvalho munca chegou a conviver com os nativos da divisa unilateral da realidade. O resultado foi um No interior dessa celeua:literdria, o interessante é perceber a s simbolos étnicos ¢ culturais 18 Conceitos € a manipulacio tds. Nesse co o escravo afticano € 0 bolos da integridade racial durante as dltimas décadas do,século X! a atrofia e a razao da sobre dle 1930 reaparecem evocando 0 atavismo, \cia cultural do. sm primitivo. Aqui, mais "uma vez, estio juntos Raimundo Morais, José Carvalho e Jorge Hurley. | Aldrin VIII. Militares 8 modernistas: Jarbas Passarinho guerreia com Ogum: ° Se, por um lado, os movimentados anos de 1930 provocaram a inquietagio dos intelectuais com a chaniada cultura brasileira, levando-os & pesquisa dos chamados valores nacionais, especialmente em seu contexto fegional, por outro lado trouxe como um sildo muito evidente no interior do modernismo paraense um patente conservadorismo da juventude Jectual formada nos modernos anos da revolucio militar, Na sedagio de algumas revistas de Belém apareciam jovens ansiosos por mostrar.seu valor Jectual. Desde o inicio do século ptssado, os literatos mais experientes chamavam a atengio dos “novos” para ingressar nas letras — na primeira década era Eustichio de Azevedo que clamava pela juventude; anos depois nesmo pedido era renovado por Raimando Morais € Bruno de Menedes. cotter dos anos de 1930, um desses jovens, hoje famoso em todo o pais e siderado uma das maiores expresses da diteita brasileira, ui rapazola no ia adolescéncia interessado na vida literiria e em cursar a academia militar capital da Replica. Jarbas Passarinho, com apenas 17 anos, jé integrava 1 redagio da tevista Gugiarina quando publicou o texto Carin — tm ensaio 4 presenga negra na Amazonia, especialmente sobfe sua influéncia igiosa. O texto aparecia com um linguajar impecivel, pokém pouco tinha’ ver com o aprendizado '0 que muitos criticos costumam atribuit aos telectuais ps-1930 em relagio ags “experimentalistas” da semana de 1922. ‘Vejamos se eu me fago entender. Muitos tendem a aliemar ‘quea geragio de 1930 perceben qué o movimento tenentista, juntamente com © getulismo, acabaram: por articular-se com as figuras da Replica Velha & suas oligarquias regionais. Diz-se também que os iitelectuais compreenderam que o populismo de Vargas havia sido um atraso em termos politicos e socials. Em seq rcitera-se que os literatos passaram a ver na sociedade up, ‘Renuino objeto de reflexio e que eles tinham o dever de discutir a realidade do 23 povo brasileiro, Com esta percepcio, a intelectualidade de 1930 teria exiticado 4 contiliagio do velho com o novo, a falta de participagio popular nas decisdes governamentais¢, enfimn, as relagdes sociais brasil jente capitalismo i isto em parte éverdade,o esquema formulado acima esti longe de representar a postura de uma parte considerivel da juventude formada no convivio com os tais modernis s dos anos 20, Antes de publiear seu texto, Jatbas Passarinho, juntamente com Luiz Ribeiro e Milton Motta, publicaram jor de Gugjarina uma entrevista com Jorge Amado, romandista ligado a0 regionalismo modernista, sendo uma figura que deveria compor, de feitio exemplar, modelo apresentado-acima’®, Nesseano de 1937, Jorge Amadoestavapublicando Capities ‘da areia e, mesmo a (05, jf mostrava o que os erificos vi ‘Mas, aqui por Belém, publicara um texto pelo texto piblicado, qualquer pessoa teria uma dagquela alimentada pelos criticos literitios acres essas ¢ uteas, 6, importante relativizar esses chat A postura politica do jovem Passa contrapo is formulagdes generalizantes artigo, procura cle enveredar pelo batido tema cultura bra ira, Mas veja-se de que modo. preto: de santo imploravam a vinganga das divindade brigando com outro guerstiro — Ogtin", 224 | Aldsin Mi a de Fig seu texto lobrigar o horror da mistura das tradigdes afsicanas e indigenas na ‘Amazénia, 0 que poderia ser exemplifcado pelo Garimbé™. Passarinho afirma que a escravidio tinha produzido essa prtica religiosa, ‘ptenbe de rancor ¢ angusti, [de uma] raga a procura de urn deus”. Bra o resultado dos castigos softidos pelo’ negros, massacrados pot seus senhotes “‘contrafeitos [a limpar] rapidamente as manchas do sangue aficano”, wm sangue que bem ao contrario do que “supunham, [no era] negregoso como a pele”, tendo tido mesmo “a audicia, aié, de misturar-se com outros tipos”. © resultado’ da mixérdia foi, segundo Passarinho, uin “cataclismo de tagas”, marcado pela “esorganizagio de costumes (..),infiuéncia vital do elemesito afro na plasmagio da mesticagem “brasileira”. Evocando novamente a imagem do otixd da guerra, Jhbas Passadinho ressente-seém dizer qué “Ogim no morreu”. E conclu postulando que, na época, bastaria visiar os terreiros syburbanos para se “acordando 0 Curupira”. Passarinho explica, ver ¢ ouvje 0 som do choca 1 seu modo, 0 que anos antes ja alertava o.ctndlogo Curt Nimuendajé sob tum ponto de vista oposto, quer dizer, por Angulos completamerite distintos ambos acreditavam na vivicidade da pajelanga nas capitaisamazénicds, Assim declatava Passarinho: “8 agora é mais solene o situa Fez-se 0 carimbé: um tambor dco imitando sons dolentes que penetram a alma je cor. A batucada atrayessa os terreiros ). Vozes débeis de erendices, que por rigida ondeando sob paroxismo da fé. Homens que bebem cachae, que gozam os momentos agra do it, Rsadas Superando qualquer previsio de um Jorge Hurley, Passarinho termina por apresentar sncélica’” dos terreiros como, jade Dos Encantados $225 -quener de inteligéncia” dos negros — no dizer do autor, uma suga”. A seguir comeca a del ar imagens eivadas dle preconceito racismo, “Borda o luar, no tetseiro, figuras exéticas, carapinhas abundantes, faces. afog dos deuses pretos. V Os cantos. iam-Se € pouco a pouco, até se ouvir legante que a gente preta faz a seus deuses fim do texto acompanha o fi d ritual, Atestava 0 ”. O raiar do dia autor que “Oy de dormir os fidis de repousare levava dlkimos sons a, a redagi 10 vapor Itapé, da Co ‘que 0 exacerba pouco tema ver com a sua tens: 30, Nao custa al jovens intelectuais. Numa delas primeira vez, 0 meu nome, assinando uma cr6ni motivo dle orgulho, pois andava pelos 16 anos de idade, € em 0 tinico gi 4 ter acolhido os seus artigos, 20 lado de autores, consagrados. Eu me enchatcara ‘me empolgara o estilo de Plinib Salgado, em Ho os via como comunista, um, e chefe outro, Eu lia vorazmente tado o que me pol O Estrangero, integra vinha is Hi que pensar, também, na experiencia politica e de classe desses no, Passarinho grupo mais conservador. intre as influéncias de Bruno inielectuais. Embora com virios mestres dentro do modet tende a se juntar de Menezes Jorge Hi jovem literato parece ter preferido a segunda —mesmo que de forma nio muito direta, um fato que Hurley era sempre convidado a publicar seus textos na Gugiarind incluindo ai sua obra poética’” ‘Toda, essa t6ria revela 0 largo campo de atuacio politica dos jteratos araens genericamente enguadrados dentro do modernismo. Vale notar, dil is © de classe entre os intelectusis, existiam propostas ‘no entanto, que ‘mesmo tendo claro que inone modernista na pentes nas quais se agri im autotes com posturas politicas diferenciadas, ‘ Essa tentativa de desvendar o| africano da AmazSnia, porexemplo, vai atrair intelectuais da regio e de fora del Essa atragio foi forjada, & certo, las primeira décadas do século XX. A visita de Mitio de Andrade ao Pari, em 1927, abriu, nestes termos, uma “nova” dos aspectos africanos no campo religioso amazdnica Além Pensar que também foi importante a “vulgarizacio” > nos jornais d maior cireulagio, como nas ws literarias. Rin 1938, por exemplo, a Gagjarina, saldou ym entusiasmo ison Carn 0, Redes Negras, em 1936, numa nota A Cidade Dos Eneantados |. 225 critica do romancista paraense Dalcidio Jurandit™. Nesse periodo em que se ‘multiplicou o niimero de trabalhos que buscavam investigar as relagées ente relacdes entre langa indigena os cultos’afticanos, chega a Belém, em 19 Pesquisa Folclorica, organizada pelo Departamento de de Sio Paulo, Por tris de tudo a Missi Cultun Prefeitura stava Mario de Ar estivera na ditecio desse empreendiment por esss rade, que até a le ano viagem “mission: ‘oa postura modernista de tentear © que seria 0 “verdadeiro turista aprendiz”, Mério acalenta 1a sobre o folelore local tente Oneyda Alvarenga, est sob sua orientagio, TX. Finalmente uma Amazénia original: Oneyda Alvarenga “inventa” o babassué. expres 38, no entanto, a coleta de uma série de Aovainente, Mirid de Andrade. endo contate ‘pelént. Por meio’dessa correspondéncia, Mirio péde_ter uma idéia melhor [A viagem teve muito mais objetivo politico do do que viu por essas bandas. fi no curto espago de tempo que 0 poeta que proptiamente’ de pesquisa, pois passou cm Belém, grande parte foi lectuais ¢ com a imprensa local. Em termos de registros “perdida”” em ‘encontros oficiais com sutoridades, intel fo interesse do literato ficou dividido entre as apresentagdes de da pajelanga. Mesmo assim, os pajés de tardiamente publicados"”. ide-se saber que ele folcloricos, folgoedos populares eas sessdes de cura Belém acabarari sobressaindo-se em seus escritos, ‘Quando, enfim, 8 anotagdes de Mario vieram a piblico, pd favia coligido, ainda em 1927, algum material oriundo da pajetanca de Belém. (0 que primeiro the chamou atencio foi a presenga de referéncias africanas fio que cle pensava estar sob a hegemonia da rior da pajelanca, reli fo inte infiuéncia indigena. J cant, bebe! Rei Nagé, Rei Nad, Quem jd canto ji morren! Rei, rei, re, real! Rei, ra ‘Quem, afnal, seria ‘esse tal Rei Nag® cantado pelos paiés ide Belém?. ‘A pergunta de Mirio de Andrade, apesar de elementar, no teve esposta porpartede seus colegasliterstos do Pari, Gastio Vieira deu-the alguns ““niformes vagos, vagufssimos”"™ sobre o assunto. O poeta retrucava consigo essa gente niio se interessa!"™", Mesmo assim, Mario conseguit realizar alguns registtos da pajclanga, como a famosa Orajio da Cabra Prete, _que serviu de repositério para muitos pesquisadores"™’, Num estudo sobre publicado preliminarmente em 1933, Mario a imiisica de feiticatia no Bs de Andrade tenta primeira vez a questio da influéncia negra na A Cidade Dos Encantados | 229 Dutra zona em imuito na f dominante é para os africana’ sua prime ‘© homem prometeu, — mas aio cumpriu. Ninguém foi “atuodo |entrou em transc] e nao assistisenio a cantos batbaros, icanos. A casa do pajé deu-ine boa impressio. ono sentam-se 2 homens que batem um ‘Um molecote toca um ‘cheque? Jos batuques em ren crsas mulheres, umas ia outras de saias € uma camisa, que varia de cor e de .¢ muito limpa e cheia de bordados™*, o,meu caro Mario que observeie anoiei. Como vé isso digno (..), tenho intengio, quando for possivel sqquciro!™, onde hd, segundo informagdes ive, um pajé que traballa com trés correntes. Pore, em A Cidade Dos Eneantados | 231 2, Para-fortalecer seu argumento, Mitio de Andrade tivo nosso velho coaheéido José Carvalho procurindo evidenciar as intima TgigBes entre a “pajelanga nortsta € 0 catimbé nordestino””, tentando scharar, dessa maneira, sobre o trinsito religioso entre a Amazdnia ¢ 0 nordeste tpasileiro, O outro angumncato, baseado ha feitigara antilhana, foi desenvolvido x das referéncias de Nina Rodrigues, para quer, por Mirio de Andrade a p tina Bahia, o culto do vodu no existe”, tese stil para descartar qualquer possibilidade de infiuéncia dos candomblés de Salvador sobré os pajés de Beléin, Alm disso, para Mitio de Andrade, Gastio Vieira havia coligido uma prova “extraordinariamente conveicedora” da presenca do culto hatiano na pajelanca afro-paraense — éra canto de Temanjé, uma das deusas,aquéticas 1a iorubana, muito identifcada em todo 0 Brasil com a figura da Sereia. bei bei e Amaia ‘Odoiga omic cmsingnrurt™™ le que, Aquela altura, Mario de Andrade jé sabia que reverenciava a serpente™, e portante’ podria muito com o mito da serpente aquética da Amazénia [bottina, tradigio de evidente origem amerindia, Além disto, imificou-se pelos Estados Unid © que podria sugerit'g mesmo caminho referéncias 20 culto da divindade Godu, indicada por Nina, serpente ciltuada no Haiti®, Seja como for, Mario de Andrade, sem falsa da sobrevivéncia, por minima que seja, do vod no Beasl”™. oxéstia, acreditou “estar produzindo o tnico documento |ACidade Dos Encantados | 233 gumas questies de Andrade nas ques 0 fol rico, com a io mourisea de Portugal ¢ deste liv se, por exemplo, a “Cantiga do Mouro”. ifro-americano, apresentado pela cantiga Hi, evidentemente, teve que esperar por mais 4 a tempo em que Mério de Andrade passou a tab de Cultura da Prefeitura de Sio Paulo, 19 que poderia dar suporte gh Je ano de 1935, ma verdadcira proeza-pelo bor de Mina no Maranhio, ia 27 de junho de 1938. A equipe c anwieser, B no conta amigos de Mario de Andrade™. procurado’ ¢, sem grandes delongas, Andrade liga comegatam a set feitos no hotel onde-a missio esteve hospedada ¢ também, no proprio terrcito, Participaram 15 membros da cast, além do préprio Satiro — agora referido como pai-de-testeiro (aio mais como pajé). Entre 0s participantes, 3 homens e 12 mulheres; 8 negros, 6 mulatos ¢ 2 brancos; 9 paraerises, 4 maranhenses, 2 cearenses ¢ 1 amizonense™, E 05 pajés?, os indios?, os caboclos? Seri que depois de Mario de Andsadea Amazénia afticanizou-se? Com base no relato deiaado pela . missio sobre 0 terteiro de Satiro, muito pouco alinhavada para o século XIX. O que, téria mudado?. Qual o sentido dessa mudanga? Sera que 0 babassué foi uma invencio intelectual? A pactit do' texto de Oneyda Alvatenga, vou tentar seguir essa trilha que “tansformod’ como’ Satiro no mais legitimo pai-de-terreiro do candomblé amazénico; um caminko que também mesmo que “mestign”. O resultado da Missio divalgado por Oneysa Alvarenga sob o titulo de Babasté, apesar de niio ser 4 primeira a tratar da religiosidade afticana na AmazSnia, é aquela que, de modo mais explicto, procurou discutit 0 “modelo” de culto afzo existente na regio. E fundamental que se observe * 4 maneira-pela qual o livzo de Alvarénga criou uma nova tipologia dentro dos ~ cultos afios existentes no Brasil”. Tado isso-na observagio de uma sinica cast esistente em Belém, O leitor que até agora estava acostumado com referéncias + 4 pajés, indios, penas e maracés, no deve se assustar com a “brusea” mudanga , pois essa repegtina alteragio & mais ‘e Oneydla Alvarenga iniciaram, pelo texteiro de Satizo, uma nova genealogi cestudos sobre as religides amazénicas, procuratei familiarizar 0 leitor com o tal babasn sea mais iustee personagem, seguindo a descrigio de Alvarenge | Quando a Missio Folelérica aportou em Belém, Sato Feereita de Barros, o pai-de-terreiro,tinha 43 anos, Nastido eta Belém do Pari, ro ano de 1895, era negro e filho de Joto Batista de Oliveira ¢ Maria Teodora de Barros, ambos parzenses da ca S va, vivia do) 236 | Aklsin Moura de Figusicedo ong pada © que.eta chefe do terreiro “Babéu Mataiti”™. Entrou no calto 20s Ty anos de dade, esinado pelos pase avs Satzo no se lembravao “nome *pedadeic, antigo, primitivo” desea elipii, Dia, no entanto, que em Belem woo se vsava a palavacandomblé,apesar de no passado er sido cotrents terrciro chariavam sua casa de Batugue de ‘essa expressio, Os filhos-de sex “sta Barbara e que someste 2s pessoas de fora da casa seferiam a designagio _ aban. Segundo Saco, “a origem do nome candomblé (ie) ere africana”. © seus pis pertenciam a0 candomblé,sendo que sua me ta “nag” € seu Dab por iso afitmava que “candomblé € o mesmo batuque”. Com so alegava no exists diferenca entre barugue, candomblé e babassu sso, Satin 2 mes para uma mesma modalidade de estas setiam apenas designasées diferer . eulto, pelo menos em termos de Pari," mesmo sendo seus pais € avs ldo candomblé, ensinarar- Ihe o bataque. J 0 termo Babassué era, pars Satiro, um nopie », apesar de somente ser eferido pelos “de fora” do culto, A origem estar em “Barba Cuéra”(sic) que, segundo cle, era o nome de ‘Santa Barbara “cm africano”, Dizia ainda que: “conforme as linhas, conforme as tribos afticanas Santa Bitbara apresenta outros nomies. Por exemplo Iassam (sic) [lansan] e Nanan Burvii (sc) Tassam € em umbanda, Nanan Buruca em gége (sic) € Barba Guéra em nag. O nome de Barba Guésa foi transformado em portugues pelos proprios nnagés em babassué™®. : Satico acreditava que tal diversidade estava na origem das ““inhas” cultuadas no terreito, ou seja, a diferenga existia de acordo com origem dacasa, fosse clajeje ounag6. Apesar dos visios problemas apresentados za coleta das informages no terreito de Satiro, com dados incompletos, até mesmo contraditérios entre 0s integrantes da equipe, um ponto se destaca na descticio —a tentativa de acenar pata os pesquisadores que existiam grandes dliferengas entte 0: .ngs", Satizo tentou apontar, bem a seu modo, que + cada “trib Africa tinha sua maneira de homenageat seus deuses, dando “ACidade Dos Eneantados | 237 rnomes especificos a cada um deles ¢ seguindo uma determinada “linha” de culto. Em vista disso, Sato confirmava que sua casa era cchamada de Babasrué porque a patrona era Santa Barbara. Afitmava igualmente que em Belém existiam trés linhas afticanas de culto: s eambinida, trazida pelos primeitos que,chegaram & cidade © que era “o nome mesmo da trib a nag6, que veio depois” ¢ a jeje que chamava o batugpe, pelo nome de “tamb6 di Mina’*°, Pura Satiro, os jeje que vieram para o Pata praticavam jo, era chamada Tembor de Mina. A. designacio seria origindsia da Case das Minas, principal reduto dessa tradicio, ‘uma modalidade de culto que, no M Depois desses esclarecimentos preliminases, Satiro passa a deserever alguns situais importantes do tambor de mina, especialmente 0 tambor de choro— ceriménia de “despacho"” para o © pai-de-terreiro comenta a respeito de vitias dancas nio religiosas como o tambor de crioula, terreiro, 2 primeira, tipica do Maranhlo, ¢ as outras duas, mais conhecidas no Pasi. Satiro também descreveu, com detalhes, as “obrigagSes” zealizadas no terteiro, comoa miatanga de animais, ritual dtigidoe por lesa preparacio doavambirt", das comidas (como oacacé*"* e oacarajé™) ebebidas (como o caiguma™”,o afuri"*¢ 0 mocorard). Mais adiante, aparece a exposigio sobre os instrumentos musicais utilizaclos na casa: trés tambores, (abatis), 0 xequéré, 0 apég6 & 0 xéque oa ganzé™, No obstante, o ponto alto do relatério da missio é 0 conjunto de referéncias As entidades cultuadas na casa de Satiro — orixis, voduns, santos, mestres exbotlos™. Oneyda Alvarenga, contudo, deu maior atengio A descrigio dos orixas, eisto, por certo, tem a ver com sua leitura de Nina Rodrigues ¢ Manoel Quinino sobte os candomblés da Bahia, o que the faciitow as tentativas de compatacao. Isto fica claro quando se leva em consideracio os depoimentos de Satiro, onde aparece enfatizada a profunda infiuéncia do culto dos voduns jeje, em sta casa. Ainda 238 | Aldrin Moura de Figueiredo" ' filho da casa. Além-do rito fiinebre, algunas comparagdes'com 0 tambor de Mina do Nunes Pereira Cata dar Minas, que era & época o mais importante estudo acutca das “sobrevivéncias” daomeanas ¢ do cxlto dos voduns em Sto Luts ‘A autora, no entanto, se, dizia uma nio especialista em seligides afto-brasileiras. Se pér um lado perdeu-se muito em profundidade ‘no exame das informacées colhidas pela Missio, por outro o livfo escapou de mits anilises recorrentes sobre o campo afro. Um exemplo esti numa de suas observagées, feita em selagio & presenga dos santos catélicos no Batuque, ‘onde niio aparece neahuma grande formulagio sobre sincretismo, evitando 1 alguns equivocos como os cometides por Mario de Andrade, ao examinar a mesma questio, Por outro lado, Oneyda Alvarenga mesmo tendo muitas pstas para discitir as ligagdes entre © catimbé nordestino ¢ © batuque de Belém, nfo faz qualquer consideragio sobre 0 assunto, deixando todavia tum campo aberto para fuitaros pesquisadores™. Essa postura de Alvarenga, aparentemente sem grande importincia, é fundamental para discutis o problema central deste trabalho. Primeiramente porque seu livro sempre esteve associado & imagem precursora das anilises sobre as religides afro-brasileiras ‘ba Amazénia; segundo, porque depois dele constituiu-se, evidentemente, toda uma gericalogia tributdria desse sentido pioneiro de “descoberta” de uma vertente afro-amazénica; terceito, porque o livro parcce “inventat” umm modelo de culto— o Babasié, apesar do pai-de-terreiro falat sempre em tambor mina € bamque. Esses trés pontos, absolutamente ligados entre si, servem para retomar a nosdo de cristalizacio cla producio intelectual no que se tefere is observagdes sobre as manifestacdes religiosas na Amazdnia. : Quero dizer, afinal, que Oneyda Alvarenga parece ter Conseguido “quebrar” uma sdlida “tradigio” de estudos que pensava a regiio amazénica como uma tetta de mestigos, que" tinha por tris de si apenas a figura hegeménica e indestrutivel do indio © do pajé. Satito, © pajé visitado Pela missio folcl6rica no usa mais a pena ¢ 0 marci. Mesmo invocando ACilatk Dos Enesntados | 239 “spiritos como o de Japtequan?, um encantado cuja imagem é a de um y {ndio que mota nos matos da Tha do Ma voiluns jeje, entidades trax 16, 0 “novo” pajé agora cl Belos escravos africanos do antigo reino da Daomé®. Alvarenga é de fato a primeira a publicar as linhas melédicas de wing toada de um vodum cantada em terras do Pari, ‘mesmo tempo em que, ag “egistrar em detathes o desentolar do ritual de mozte num terreiro de Ming ‘© tambor de choro—, também regi iamudang: titude do intelectual em ‘laglo ds pritia’ “fetchistas” do psé,redinccionando alguas dos caminhox ercotridos por José Carvalho, Raimundo Morais, Coutil 8 Taegu estipe dos “precursores". O interessante & que no maior problema do liveo deve residit também a sua melhor virtudé: 0 sentido relatotial da ‘obra, 0 que por certo contribuiw pata torné-la um manat ‘s ra o,ano-de 1950 ¢ Oneyda Alvarenga de Satiro Ferscira de Barros, um pajé de Beléni, como foram citados neste trabalho, mas que para 0 desespeto d racial e cultura, possufa utma mae “nage” e um pai dono do “Babassué”, 240°| Aldsin Moura de Figueiredo Pa poste fa time z Bes: a” Dis ‘Aaténio de Piciaa Carvalho (Sgenarlt),"Lendase Supecsticbes: Mayandens 3 H.de novembro de 1885, p.2 Janeiro: Secretaria Mnicipal de Cultara, 1994, 5 ‘Vide, a respite, Bric Hobsbawm e'Terence Ranger (orgs), inp ds radi Rio de Jancico: Pra e Terra, 1984, 6 José Bustachio de Azevedo, “Siva de Pi ania (ota paras) 2d, Bean: Liveasia Ci “a dem ido A Cidade Ros Fncantados | 241 rmembro da Aeaderia Brasileira iss", a tres do imentirio poten, ete. CE Cattos Abel, Op it ps3. tom. Jars Passio, sas". Garin 16), 1937 166 em, idem. Ogu & 4 jotubano considerado 0 “dono do fero”, senhor vs aqules que utiliza este metal, No Bras, segundo Pierre Verges, deus dos gverrirus'- Sobre 0 resenca nas primeiras décadas do seul, especialmente no or Satico Ferteirs de Barto. Vide sobre o eulto de Ogun us yrs ua fra ew no terteizo de Sao, vide Levi Hall boisbaros da. planicie” ot Jjaibas Passainho, &usado em seu significado mais a stad do século XIX —“Arabaque, ‘um toc, internamente excavado, de ioe de 30 centmettos de diimetro; sobre uma das bere sudo, Sena-se 0 tocador sobre © twonca, ‘or vaqueta a prpeas mos. Lsase 0 nda, Gini parson Bele: Universidade Federal do Pari je se refereo dicionaisa ndo € 0 9(28): 257-282, 1969, 68 8 Jachas Passarinho, Op a 169 Tons, iden, 170° eo, biden, 7 fem 1943, seguindo a carrera milita, Fos ‘Senador pelo. Pari, Fstado do qual foi ean por mais de wa vez 172 Jatbas Passatinho, Um Cejup, 1996, 35.36, 1936, Edusp, 19% ‘Mirio de Andrade, rfere ai CE Guarine.1(8),1937Jcbas Passtinho, no entate,entron ‘wb ft ed. Rio de ncn: Expresso e Cita; Belén 938, Vide, cambém, Ealson Carneito, Reger Nepus. Rio de talvez ainda Aged slemento bisic, par eto sea Peps cave no gle de 1961 an nes ne bem rove depo mes te Oe FM 28B a 38; Babson, v4, 1950, discos FM 39 a 51; Chgane der Mars, 5, 1955, discos EM. | 71673, 82B 1 86,97 2 104. Os documentos originais da Missio de Pesquisas Follicas, onde cadernetis de campo manaserta por Luis Sia, Antonio Ladeira, Benedito Pacheco arta de apreventaio, instrugdes © noticias em " encontram-se arquivados na Diseoteca Piblica Sho Paulo. - A pajclanga esti melhor livro organizado por Oneyd ‘cattas ¢demais paps do acervo pessoal de Maso. CE. Maio, 0 material de pesq ivr no Brasil 2 ed. Belo Horizonte ¢ Sio Paulo: Taian © Edusp, de Andeade, Matis 1983. 178 Métio de Andrade, Op i, ps101 179 Miso de Ande, 0 it pred, 180 dw, iden cu (Pajelangs, Par): Minha Santa Catasina wou debaixo daquele um pedhago de cords pra prender a Cabra Peta, tar tres litos de et, faze és quero que o eoragio dagueladesgrarad ao omig e nem possa dormie com outo home que no co peta dizendo} Ist um né no eabelo el, (Se rex sxe Quer der esta oragio peu aluém tem que data mas ito sh Cutla Poba Gira de Unban So asl: Duas Caaes, 1994, p26 182 Lem, 9.26, 183. _ Carta de Gastio Viel a Mirio de Andrade, Belém, 31,de julho de 1931, publicada mn Micio de Andrade, Matis de Fite n Brasil, p24 184 dom, 225, ssi: Bara-bat mungebi “Cantiga de Oxoxi” (sc): 185 “A tReanga que ouvi,chatnada “antiga de Ogu" 1/ Sade keks | 0 cot responte: Eng’ Bagh! // 2R exe |A Cidade Dos Encantados +| 263 que Daléua // coro: Beque Béla! // 3R caniga ie na mh Dit Wed ee Al it // Odoiga ominga omingurué.// 4 Mul ara agg, agar lengos: Ola o Meu cavalo € marisa // Grande € 0 banzcise dom SR Cantga de Ubidua (ic). Sehasio) Canta e 1/ coro: Famoné // Pat Ubalaé ubuluneim Cane : Fepete até que a dangarna que est etada acerte 9 186 Oneyds Alvarenga do consegia en ieecnicee ea insrtos. Disse apenas se devia de Mosqueito, balneltio prdximo a 193 Idem, .29. Ver José Carvalho, 0 mato caren, 1950. 194 Ido, idem. 195 Idem, 7225, grifo meu, O termo “vodurn” anotado por Gastio Viera € utlizado por Misio de Andrade no mesmo sentido de vou Depois de de Andeade, muitos teabalhos procursram iavestigar as jkjedaomenaos no Brasil, esabelecendo conerd dd culo da serpente Dinh G ‘Mace 26, 1952 e Waldemar Valente, Sobreiéadas daomeanas mer grapos de alo af-nordetines. 1964. Sobre a crenga aa serpeate rssu en Amazon”. Remed Ethugraphie. smarajara). 2 ed, Giguntes™ Blain o Paulo: Nacional, 1955; Napoledo Fagueizedo, "Los bichos que curan, 197 Sobre.os Estados Unidos, Minio de Andrade apoia-se, especialmente em Newman vey White, Ameren Nag Pole Soay. Cambridge, Harvard University Press, 1928 Ortie, Ler ners brs, Mads, Posi ‘Americas Além dest obm, irmprecisamente, 208 iimeros tmabalhos de Fernando Ort, publeados nos Arhior di! Flkore Cubans, sob a diregSo do esprio au 199 As noticias sobre os quilombolas da Mivio de Andeade reticn de Nina Rodtigues, Or aous no Bras Sio Paulo: Nacions palmente, Alberto Frieden, Mik tomes ecb bel on Kroes Amerar. Beri: H. Schsippel, 1913, 0,8 presenga de imigrante na construgio dessa hipétese por parte do literata. Em sua viager de 1927, ign” inialada Mada do alee pete, onde aparece 0 reftio “Oh! CE Op at, 186 scans Seth e Rath Leacock, que pesquisow o bargue rmesmas rferincias de Mirio de Andrade, chegou & * no batague do Patt ets indugocia das fos CE Seth e Rath A Cidade Dos Eneantados | 265 Ferret, “Rei da Tarquin, “Tambor de Mina” bE, Idem 1549. R 207 Fabassu® seguindo as in 208 Quanto aos nomes da Casa de Satc, existem das teferéncias: “Barugue de Santa | Bisbara” "Terreizo Ba 209 em p2i 219 Cambiadaé0 nome de uma repo «de wm povo da Aa, loads primos totos escwos para o Par e Maran. CE. naira 1992, Cambinda também & uma “tadicio” dos fFundida na tego de Cod, ‘que no bataque as enidades espirnais de fala orubi, procedentes 10 englobados grupos éticos diversfcados como de Oid, Kets, quod Sergio Ferret a plavea provavelmente se origina de “Anagonu”, 266 | Aldrin Moura de Figuetredo [A Cidade Dos Encantados | 267 neanos para d ne oF powos que file fora. Vy sie gros ¢ wisn cham ag Dagrse de pasagen ee 9. Digna de passage gue do responsives, desst forma, mista cra desmanchada nlite de coe re CE, Idem, pat como um ango, preparado Zom milo werde€ epos adowad 320 Os abutis » ss de Mina, em srés tamanos 2 ex Oven eas coer pO cats «um Pe SEE nun dos lados. O as expedialmente, fcadas s| 2 Afr Aria Salva 12: 65-90, 1976 osafieanos, pata ser sen etre CE Seg ide com seferéncia & Amaz6nin 378): 344-354, que” jambia Unive nalts in Manan, and he parada a partic de ues bolo de atoz ‘house ie Janeto, 1975, mimeo 268 | Aldrin Moura de Figueiredo \ Cidade Dos Encantados | 269 apa iu Pins in mio Bagi’ Sesh sh Pg eo _ Be aay ncaa he ta norte ‘Sao Paulo: Hucitee, 1979. fare Peat 270 | Aldrin Moura de Figueiredo" Reencontrando o tema, recriando problemas

You might also like