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International Journal of Advanced Engineering Research

and Science (IJAERS)


Peer-Reviewed Journal
ISSN: 2349-6495(P) | 2456-1908(O)
Vol-9, Issue-10; Oct, 2022
Journal Home Page Available: https://ijaers.com/
Article DOI: https://dx.doi.org/10.22161/ijaers.910.33

Civil Liability of Doctors in Times of Covid-19


Responsabilidade Civil dos Médicos em Tempos de Covid-
19
Lucas dos Santos Barreto1, Raquel Rosan Christino Gitahy2
1Bacharelando em Direito.
2Doutora em Educação. Bacharel em Direito. Pedagoga. Docente da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul e da Universidade do
Oeste Paulista, Brasil

Received: 20 Sep 2022, Abstract— The consumer protection code provides that physicians'
Received in revised form: 11 Oct 2022, responsibility is, as a rule, subjective. In view of the pandemic context
experienced since 2020, the present research started from the following
Accepted: 18 Oct 2022,
problem: How to understand the subjective responsibility of the doctor,
Available online: 23 Oct 2022 highlighting the element of guilt, in times of Covid-19? In order to answer
©2022 The Author(s). Published by AI this question, the general objective was to discuss how the doctor's guilt is
Publication. This is an open access article configured in relation to a damage caused by him in the face of a patient in
times of Covid-19 and consequently the hypotheses of indemnity. carried
under the CC BY license
out with a search of books, articles from qualified journals, accessible on
(https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
Scielo, dissertations and theses available in the digital library of theses and
Keywords— Covid-19, Direito, Medicina, dissertations. The documentary research was carried out from the analysis
Médicos, Responsabilidade civil. of decisions involving the civil liability of doctors in times of covid-19. As a
Palavras-chave— Covid-19, Direito, result, it was observed that if the doctor, in the exercise of his professional
Medicina, Médicos, Responsabilidade civil. activity, does not act with all the necessary technical means and due
caution, he will commit an illicit act and may be called to indemnify.
However, guilt, an essential assumption for the characterization of
subjective responsibility, must be studied considering the context, as well
highlighted by the three-dimensional theory of law, given that the pandemic
context must be considered in order to understand the norm and value it in
the social time.
Resumo— O código de defesa do consumidor dispõe que a
responsabilidade dos médicos em regra, é subjetiva. Diante do contexto
pandêmico vivenciado desde o ano de 2020, a presente pesquisa partiu da
seguinte problemática: Como compreender a responsabilidade subjetiva do
médico, destacando-se o elemento culpa, em tempos de Covid-19? A fim de
responder tal questionamento, o objetivo geral foi discutir como se
configura a culpa do médico em relação a um dano gerado por este em
face de um paciente em tempos de Covid-19 e consequentemente as
hipóteses de indenização.. A pesquisa bibliográfica foi realizada com uma
busca de livros, artigos de periódicos qualificados, acessíveis no Scielo,
dissertações e teses disponíveis na biblioteca digital de teses e dissertações.
A pesquisa documental realizou-se a partir da análise de decisões
envolvendo a responsabilidade civil dos médicos em tempos de covid-19.
Como resultados observou-se que se o médico, no exercício da atividade

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profissional, não atuar com todos os meios técnicos necessários e a devida


cautela cometerá ato ilícito e poderá ser chamado a indenizar. Contudo, a
culpa, pressuposto imprescindível para a caracterização da
responsabilidade subjetiva, deve ser estudada considerando o contexto,
como bem salienta a teoria tridimensional do Direito, tendo em vista que se
deve considerar o contexto pandêmico para se compreender a norma e
valorá-la no tempo social.

I. INTRODUCTION Tabela. 1: Busca na biblioteca digital de teses e


Dispõe o artigo 951 do código civil e artigo 14, §4º, do dissertações sobre a temática
código de defesa do consumidor, que a responsabilidade DESCRITORES TESES E
dos médicos em regra, é subjetiva, ou seja, somente DISSERTAÇÕES
existindo quando comprovada a existência do elemento “responsabilidade civil” 63
culpa, dessa forma há a problemática sobre como
AND “médico”
comprovar a existência de tal elemento.
“responsabilidade civil” 0
Acrescenta-se ainda ao tema, o momento vivenciado,
AND “médico” AND
ou seja, um momento atípico de pandemia. A hipótese é
"covid-19"
que o elemento culpa deve ser interpretado considerando
esta época de exceção. Diante deste contexto, o problema “responsabilidade civil” 0
de pesquisa é como compreender a responsabilidade AND “covid-19"
subjetiva do médico, destacando-se o elemento culpa, em "covid-19" AND 18
tempos de Covid-19? "médico"
Para responder tal questionamento, o presente
artigo tem como objetivo geral discutir como se configura
Pelos resultados evidenciados observa-se que
a culpa do médico em relação a um dano gerado por este
há produção envolvendo a temática da responsabilidade
em face de um paciente em tempos de Covid-19 e
civil dos médicos, mas quando entra o contexto pandêmico
consequentemente as hipóteses de indenização. Já os
o resultado é nulo. Já ao cruzar os descritores "covid-19"
objetivos específicos são: apresentar a base teórica da
AND "médico", o resultado são 18 teses e dissertações
responsabilidade civil subjetiva; compreender o elemento
publicadas, mas frisa-se que nenhuma envolve questões
culpa em tempos de Covid-19 e discutir jurisprudências
jurídicas como responsabilidade civil dos médicos. Tais
sobre o tema.
resultados evidenciam a importância da temática da
A fim de atingir tais objetivos, o estudo foi presente monografia.
desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica e
Com a intenção de entendermos o tema, o presente
documental. A pesquisa bibliográfica realizou-se com uma
artigo inicia-se com uma descrição de referencial teórico
busca de livros, artigos de periódicos qualificados,
discutindo a responsabilidade civil e a base da mesma no
acessíveis no Scielo, dissertações e teses disponíveis na
que se refere a responsabilidade subjetiva, a saber: a culpa
biblioteca digital de teses e dissertações. A pesquisa
ou dolo. Em seguida distingue a responsabilidade objetivo
documental foi realizada a partir da análise documental de
e subjetiva a fim de evidenciar que a responsabilidade do
decisões envolvendo a responsabilidade civil dos médicos
médico é subjetiva, sendo necessário a prova dos seguintes
em tempos de covid-19. Tais dados coletados foram
pressupostos: ação/omissão; culpa/dolo; nexo de
interpretados e analisados partindo do raciocínio lógico do
causalidade e dano. Finalizamos com a discussão da
geral para o particular, portanto a partir do método
responsabilidade civil em tempos de pandemia,
hipotético dedutivo.
reafirmando a questão de que para nascer a
A fim de entender o que há publicado sobre o responsabilidade deve ficar provada a culpa ou dolo.
assunto, fizemos um levantamento na biblioteca digital de
teses e dissertações, no endereço
https://bdtd.ibict.br/vufind/, com os descritores II. RESPONSABILIDADE CIVIL
“responsabilidade civil”, “médico” e “covid-19”. Não 2.1. Responsabilidade civil e Culpa
fizemos um recorte temporal. Os resultados apresentamos A responsabilidade civil trata-se de um dever jurídico
na tabela 1. derivado (consequência) de uma violação. Tal violação
decorre de duas razões, sendo a primeira a violação a uma

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norma jurídica, que se classifica em responsabilidade poderia ter previsto o resultado se assim não agisse. A
contratual e extracontratual. E a segunda violação se dá em imperícia em síntese, trata-se de uma culpa profissional, ou
razão da culpa, sendo está o objeto de estudo aprofundado seja, a inaptidão técnica para a prática de um ato.
do presente trabalho. Agora nas palavras do professor Sérgio Cavalieri Filho
Portanto, para uma melhor compreensão do estudo se (2020, p.36), que com clareza nos explica, de maneira
faz necessário incialmente compreendermos a ideia e o objetiva, a definição de cada modalidade e exemplos a
conceito de culpa, uma vez que esta é um dos pressupostos cada caso, vejamos:
necessários para a configuração da responsabilidade A falta de cautela exterioriza-
(subjetiva). Vejamos. se através da imprudência, da
Parte da doutrina conceitua a culpa a partir de uma negligência e da imperícia.
Não são, como se vê, espécies
concepção moral de culpabilidade, considerando apenas o
de culpa, nem elementos
critério subjetivo, qual seja, ao agente que livremente desta, mas formas de
pudesse prever e agir para evitar o dano. Savatier dá a exteriorização da conduta
seguinte definição de culpa - “inexecução de um dever que culposa. A imprudência é falta
o agente podia conhecer e observar” - (apud Gonçalves, de cautela ou cuidado por
2021, p. 23). Entretanto, há autores que definem a culpa conduta comissiva, positiva,
por um critério objetivo, que se dá através de uma por ação. Age com
imprudência o motorista que
comparação da conduta do agente com a de um tipo
dirige em excesso de
abstrato denominado “homem médio”, ou seja, um padrão velocidade, ou que avança o
que seria considerado normal. Dessa forma, se comparado sinal. Negligência é a mesma
a conduta do agente com a do “homem médio” e tiver por falta de cuidado por conduta
resultado que tal dano derivou de uma imprudência, omissiva. Haverá negligência
negligência ou imperícia que a este “homem-padrão” não se o veículo não estiver em
incorreria, ficará demonstrado a culpa (Gonçalves, 2021). condições de trafegar, por
deficiência de freios, pneus
Ademais, o Código Civil Brasileiro nos traz o conceito etc. O médico que não toma os
de ato ilícito em seu art. 186, que transcreve da seguinte cuidados devidos ao fazer uma
maneira, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, cirurgia, ensejando a infecção
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a do paciente, ou que lhe
esquece uma pinça no
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
abdômen, é negligente. A
ilícito”. Portanto, age com culpa o agente que causa um imperícia, por sua vez, decorre
dano mediante uma ação ou omissão voluntária, de falta de habilidade no
negligência ou imprudência. exercício de atividade técnica,
caso em que se exige, de
O professor Carlos Robertos Gonçalves (2021, p. 23)
regra, maior cuidado ou
nos explica quais as formas de descuido (culpa stricto cautela do agente. Haverá
sensu) do agente que acarreta dano, vejamos: imperícia do motorista que
A imprevidência do agente, provoca acidente por falta de
que dá origem ao resultado habilitação. O erro médico
lesivo, pode apresentar--se sob grosseiro também exemplifica
as seguintes formas: a imperícia. (Cavalieri Filho,
imprudência, negligência ou 2020)
imperícia. O termo Como visto há diversas balizas para se chegar até a
“negligência”, usado no art. demonstração da culpa, mas de modo geral conclui-se que,
186, é amplo e abrange a ideia aquele que livremente mediante uma conduta comissiva ou
de imperícia, pois possui um omissiva produz um resultado lesivo através de sua
sentido lato de omissão ao
imprudência, negligência ou imperícia, que comparado ao
cumprimento de um dever.
(Gonçalves, 2021) homem-médio pudesse ter evitado age com culpa.
Dessa forma, ainda segundo Gonçalves (2021), 2.2. Responsabilidade Objetiva e Responsabilidade
entende-se por imprudência o agente que age sem a devida Subjetiva
cautela necessária e com certo desdenho aos interesses Para a configuração da responsabilidade, tem como
alheios. Negligência é falta de atenção do agente ao qual pressupostos a existência de um dano, o nexo causal entre

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este dano e a conduta do agente e a culpa, ao qual, poderá independentemente de culpa.


ou não integrar como um dos requisitos necessários. A (Gonçalves, 2021)
partir disso, é que se diferencia a responsabilidade objetiva Portanto, a responsabilidade objetiva é alicerçada em
da subjetiva. face a teoria do risco, que diz que todo agente que pratica
O professor Carlos Roberto Gonçalves (2021, p.28) nos uma atividade ao qual desta tira proveito e porventura gera
apresenta o entendimento das duas responsabilidades. Em um risco a terceiros, é obrigado a indenizar independente
relação a responsabilidade subjetiva, nos explica o da configuração da culpa.
professor, da seguinte forma: A teoria do risco recepciona algumas modalidades,
Diz--se, pois, ser “subjetiva” a como o “risco-proveito” que tem pôr a base a ideia do
responsabilidade quando se agente que causa danos a outem em razão de uma
esteia na ideia de culpa. A atividade que lhe tira proveito ou benefício (ubi
prova da culpa do agente emolumentum, ibi onus). O “risco profissional” que é
passa a ser pressuposto aquele perigo inerente a atividade laboral ou profissão que
necessário do dano
o próprio lesado desempenha. Já o “risco criado” é aquele
indenizável. Dentro desta
concepção, a responsabilidade que em razão da atividade ou profissão gera um risco de
do causador do dano somente perigo a terceiros, estando responsável a indenizar
se configura se agiu com dolo possíveis danos que vir a ser acometidos por tais
ou culpa. (Gonçalves, 2021) atividades, exceto se tiver atendido a todos os meios
Portanto, em relação a responsabilidade subjetiva, a necessários para evitá-lo. Miguel Reale (apud, Gonçalves,
culpa é um de seus elementos, sendo exigido assim a prova 2021, p. 29) disserta sobre o assunto com clareza, vejamos:
desta, ou seja, a comprovação de que houve negligência,
Pois bem, quando a estrutura
imprudência ou imperícia por parte do agente, para que ou natureza de um negócio
assim, este seja chamado a responder pela respectiva lesão, jurídico – como o de
ao qual não havendo a configuração da culpa não haverá transporte, ou de trabalho, só
responsabilidade. para lembrar os exemplos
mais conhecidos – implica a
É importante destacar que a responsabilidade subjetiva
existência de riscos inerentes à
é a recepcionada pelo código civil brasileiro, adotando a atividade desenvolvida,
teoria da culpa (ou subjetiva), que traz a culpa como impõe--se a responsabilidade
elemento necessário para a configuração da objetiva de quem dela tira
responsabilidade, como se vê perante o já mencionado art. proveito, haja ou não culpa.
186, (“aquele que, por ação ou omissão voluntária, Ao reconhecê--lo, todavia,
leva--se em conta a
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
participação culposa da
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato vítima, a natureza gratuita ou
ilícito”). não de sua participação no
Já em relação a responsabilidade objetiva, esta evento, bem como o fato de
independe da configuração da culpa, impondo a lei a terem sido tomadas as
necessárias cautelas, fundadas
determinadas pessoas ou situações que venha a indenizar,
em critérios de ordem técnica.
sendo exigido para tal responsabilidade apenas o dano e o Eis aí como o problema é
nexo causal, como nos explica o já citado professor Carlos posto, com a devida cautela, o
Roberto Gonçalves (2021, p. 28): que quer dizer, com a
preocupação de considerar a
(...) responsabilidade é legal
totalidade dos fatores
ou “objetiva”, porque
operantes, numa visão integral
prescinde da culpa e se
e orgânica, num
satisfaz apenas com o dano e o
balanceamento prudente de
nexo de causalidade. Esta
motivos e valores. (Gonçalves,
teoria, dita objetiva, ou do
2021)
risco, tem como postulado que
Por fim, vejamos um julgado do Supremo Tribunal
todo dano é indenizável, e
deve ser reparado por quem a Federal a acerca da responsabilidade subjetiva e a teoria do
ele se liga por um nexo de risco da responsabilidade objetiva, vejamos:
causalidade, DIREITO
CONSTITUCIONAL.

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DIREITO DO TRABALHO. pelo autor implicar, por sua


RECURSO natureza, outros riscos,
EXTRAORDINÁRIO. extraordinários e especiais.
REPERCUSSÃO GERAL Possibilidade de aplicação
RECONHECIDA. TEMA pela Justiça do Trabalho. 4.
932. EFETIVA PROTEÇÃO Recurso Extraordinário
AOS DIREITOS SOCIAIS. desprovido. TEMA 932. Tese
POSSIBILIDADE DE de repercussão geral: "O
RESPONSABILIZAÇÃO artigo 927, parágrafo único, do
OBJETIVA DO Código Civil é compatível
EMPREGADOR POR com o artigo 7º, XXVIII, da
DANOS DECORRENTES Constituição Federal, sendo
DE ACIDENTES DE constitucional a
TRABALHO. responsabilização objetiva do
COMPATIBILIDADE DO empregador por danos
ART. 7, XXVIII DA decorrentes de acidentes de
CONSTITUIÇÃO FEDERAL trabalho, nos casos
COM O ART. 927, especificados em lei, ou
PARÁGRAFO ÚNICO, DO quando a atividade
CÓDIGO CIVIL. normalmente desenvolvida,
APLICABILIDADE PELA por sua natureza, apresentar
JUSTIÇA DO TRABALHO. exposição habitual a risco
1. A responsabilidade civil especial, com potencialidade
subjetiva é a regra no Direito lesiva e implicar ao
brasileiro, exigindo-se a trabalhador ônus maior do que
comprovação de dolo ou aos demais membros da
culpa. Possibilidade, coletividade". (Moraes, 2020)
entretanto, de previsões
excepcionais de III. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS
responsabilidade objetiva pelo
A responsabilidade civil do médico é subjetiva,
legislador ordinário em face
da necessidade de justiça conforme previsão do art. 14, §4º, do Código de Defesa do
plena de se indenizar as Consumidor que define que “a responsabilidade pessoal
vítimas em situações perigosas dos profissionais liberais será apurada mediante a
e de risco como acidentes verificação de culpa”. Portanto, em caso de suposto erro
nucleares e desastres médico a responsabilidade deste será auferida por meio
ambientais. 2. O legislador dos pressupostos subjetivos, quais sejam a existência de
constituinte estabeleceu um
dano, o nexo causal e a configuração da culpa, conforme já
mínimo protetivo ao
trabalhador no art. 7º, XXVIII, visto anteriormente.
do texto constitucional, que Com isso, é importante destacar que o instituto da
não impede sua ampliação responsabilidade civil dos médicos apresenta-se como de
razoável por meio de
natureza contratual, como descreve a professora Maria
legislação ordinária. Rol
exemplificativo de direitos Helena Diniz (2019, p.333):
sociais nos artigos 6º e 7º da Embora nosso Código Civil
Constituição Federal. 3. Plena tenha regulado a
compatibilidade do art. 927, responsabilidade médica no
parágrafo único, do Código capítulo atinente aos atos
Civil com o art. 7º, XXVIII, ilícitos, tal responsabilidade, a
da Constituição Federal, ao nosso ver, é contratual.
permitir hipótese excepcional Realmente nítido é o caráter
de responsabilização objetiva contratual do exercício da
do empregador por danos medicina, pois apenas
decorrentes de acidentes de excepcionalmente terá
trabalho, nos casos natureza delitual, quando o
especificados em lei ou médico cometer um ilícito
quando a atividade penal ou violar normas
normalmente desenvolvida

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regulamentares da profissão. dolo ou culpa estrita


(Diniz, 2019) (imprudência, negligência ou
Acrescenta ainda o professor Sérgio Cavalieri Filho imperícia). Por conseguinte,
em tese, haverá
(2020, p. 411), que tal contrato seria de natureza sui
responsabilidade civil
generis e não de uma mera locação para prestação de subjetiva daquele que assumiu
serviços, vejamos: tal obrigação, o que tem
Divergem, ainda, os fundamento nos últimos
doutrinadores sobre a natureza dispositivos citados. (Tartuce,
da avença celebrada entre o 2021)
médico e o paciente, sendo No mesmo sentido da doutrina, é o entendimento que
para alguns um contrato de Superior Tribunal de Justiça já vem a tempos aplicando,
prestação de serviços, e para conforme vejamos nos julgados abaixo:
outros um contrato sui
RECURSO ESPECIAL -
generis. Tendo em vista que o
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -
médico não se limita a prestar
DANOS MORAIS - ERRO
serviços estritamente técnicos,
MÉDICO - MORTE DE
acabando por se colocar numa
PACIENTE DECORRENTE
posição de conselheiro, de
DE COMPLICAÇÃO
guarda e protetor do enfermo
CIRÚRGICA - OBRIGAÇÃO
e de seus familiares, parece-
DE MEIO -
nos mais correto o
RESPONSABILIDADE
entendimento (pelo menos em
SUBJETIVA DO MÉDICO -
muitos casos) daqueles que
ACÓRDÃO RECORRIDO
sustentam ter a assistência
CONCLUSIVO NO
médica a natureza de contrato
SENTIDO DA AUSÊNCIA
sui generis, e não de mera
DE CULPA E DE NEXO DE
locação de serviços, consoante
CAUSALIDADE -
orientação adotada pelos
FUNDAMENTO
Códigos da Suíça e da
SUFICIENTE PARA
Alemanha. (Cavalieri Filho,
AFASTAR A
2020)
CONDENAÇÃO DO
Dessa forma, a partir do momento em que o médico PROFISSIONAL DA SAÚDE
atende a um chamado, desde logo, é determinado o - TEORIA DA PERDA DA
nascimento de um contrato com o seu paciente ou com a CHANCE - APLICAÇÃO
pessoa que o chamou em benefício do enfermo. NOS CASOS DE
PROBABILIDADE DE
Contudo, há de ressaltar que o objeto deste contrato DANO REAL, ATUAL E
não é em si a própria cura do enfermo, visto que em regra, CERTO, INOCORRENTE
a obrigação do médico é de meio e não de resultado. NO CASO DOS AUTOS,
Entretanto, excepcionalmente, poderá vir a ser por PAUTADO EM MERO
obrigação de resultado, como nos casos de procedimentos JUÍZO DE POSSIBILIDADE
- RECURSO ESPECIAL
estéticos. É o que nos ensina o professor Flavio Tartuce
PROVIDO. I - A relação entre
(2021, p. 1345), vejamos: médico e paciente é contratual
Vale repetir que a obrigação e encerra, de modo geral
de meio ou de diligência é (salvo cirurgias plásticas
aquela em que o devedor só é embelezadoras), obrigação de
obrigado a empenhar-se para meio, sendo imprescindível
perseguir um resultado, para a responsabilização do
mesmo que este não seja referido profissional a
alcançado. De acordo com a demonstração de culpa e de
construção de Demogue, na nexo de causalidade entre a
sua leitura feita no Brasil, sua conduta e o dano causado,
aqueles que assumem tratando-se de
obrigação de meio só responsabilidade subjetiva; II -
respondem se provada a sua O Tribunal de origem
culpa genérica, ou seja, o seu reconheceu a inexistência de

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culpa e de nexo de causalidade do aresto embargado, acerca


entre a conduta do médico e a da especificação da
morte da paciente, o que modalidade culposa imputada
constitui fundamento ao demandado, porquanto
suficiente para o afastamento assentado na tese de que
da condenação do profissional presumida a culpa do cirurgião
da saúde; III - A chamada plástico em decorrência do
"teoria da perda da chance", insucesso de cirurgia plástica
de inspiração francesa e citada meramente estética. 2. A
em matéria de obrigação assumida pelo
responsabilidade civil, aplica- médico, normalmente, é
se aos casos em que o dano obrigação de meios, posto que
seja real, atual e certo, dentro objeto do contrato
de um juízo de probabilidade, estabelecido com o paciente
e não de mera possibilidade, não é a cura assegurada, mas
porquanto o dano potencial ou sim o compromisso do
incerto, no âmbito da profissional no sentido de uma
responsabilidade civil, em prestação de cuidados precisos
regra, não é indenizável; IV - e em consonância com a
In casu, o v. acórdão recorrido ciência médica na busca pela
concluiu haver mera cura. 3. Apesar de abalizada
possibilidade de o resultado doutrina em sentido contrário,
morte ter sido evitado caso a este Superior Tribunal de
paciente tivesse Justiça tem entendido que a
acompanhamento prévio e situação é distinta, todavia,
contínuo do médico no quando o médico se
período pós-operatório, sendo compromete com o paciente a
inadmissível, pois, a alcançar um determinado
responsabilização do médico resultado, o que ocorre no
com base na aplicação da caso da cirurgia plástica
"teoria da perda da chance"; V meramente estética. Nesta
- Recurso especial provido. hipótese, segundo o
(Uyeda, 2009) entendimento nesta Corte
Superior, o que se tem é uma
ADMINISTRATIVO. obrigação de resultados e não
OMISSÃO INEXISTENT de meios. 4. No caso das
CIVIL. PROCESSUAL obrigações de meio, à vítima
CIVIL. RECURSO incumbe, mais do que
ESPECIAL. demonstrar o dano, provar que
RESPONSABILIDADE este decorreu de culpa por
CIVIL. NULIDADE DOS parte do médico. Já nas
ACÓRDÃOS PROFERIDOS obrigações de resultado, como
EM SEDE DE EMBARGOS a que serviu de origem à
DE DECLARAÇÃO NÃO controvérsia, basta que a
CONFIGURADA. vítima demonstre, como fez, o
CIRURGIA PLÁSTICA dano (que o médico não
ESTÉTICA. OBRIGAÇÃO alcançou o resultado
DE RESULTADO. DANO prometido e contratado) para
COMPROVADO. que a culpa se presuma,
PRESUNÇÃO DE CULPA havendo, destarte, a inversão
DO MÉDICO NÃO do ônus da prova. 5. Não se
AFASTADA. priva, assim, o médico da
PRECEDENTES. 1. Não há possibilidade de demonstrar,
falar em nulidade de acórdão pelos meios de prova
exarado em sede de embargos admissíveis, que o evento
de declaração que, nos danoso tenha decorrido, por
estreitos limites em que exemplo, de motivo de força
proposta a controvérsia, maior, caso fortuito ou mesmo
assevera inexistente omissão de culpa exclusiva da "vítima"

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(paciente). 6. Recurso especial elementos existentes nos


a que se nega provimento autos. Rever a decisão
(Mathias, 2009) recorrida importaria
necessariamente no reexame
de provas, o que é defeso
RESPONSABILIDADE
nesta fase recursal, nos termos
CIVIL. OBRIGAÇÃO DE
da Súmula 07/STJ. 5.
MEIO, E NÃO DE
Alegações de violação de
RESULTADO. ERRO
dispositivos e princípios
MÉDICO. NEXO
constitucionais não podem ser
DECAUSALIDADE.
analisadas em recurso
REEXAME DE PROVAS.
especial, por serem de
SUMULA 07/STJ.
competência exclusiva do
MATÉRIACONSTITUCION
Supremo Tribunal Federal,
AL. COMPETÊNCIA DO
nos termos do art. 102 da
STF. 1. O acórdão recorrido
Carta Magna. 6. Recurso
não está eivado de omissão,
especial conhecido em parte e
pois resolveu a matéria de
não provido. (Meira, 2012).
direito valendo-se dos
Portanto, a obrigação de meio que será objeto do
elementos que julgou
aplicáveis e suficientes para a contrato compreende a adoção de todos os meios técnicos
solução da lide. 2. O Superior necessários e recursos adequados, bem como a devida
Tribunal de Justiça vem prestação de cuidados conscienciosos indicados na prática
decidindo que a relação entre da medicina.
médico e paciente é de meio, e
não de fim (exceto nas Dessa forma, o médico operador que tiver usado de
cirurgias plásticas todos os meios técnicos indicados e não havendo
embelezadoras), o que torna explicação a origem de eventual sequela, não haverá
imprescindível para a obrigação por risco profissional. Sendo assim, se não
responsabilização do houver nenhuma modalidade de culpa (imprudência,
profissional a demonstração negligência e imperícia) demonstrada, deixará de haver
de ele ter agido com culpa e
base para fixação da responsabilidade civil, isso porque,
existir o nexo de causalidade
entre a sua conduta e o dano não há risco profissional independente de culpa – exceto
causado - responsabilidade nas obrigações de resultado (Diniz, 2019).
subjetiva, portanto. 3. O Estudado o pressuposto da culpa e os e cuidados e
Tribunal a quo, amparado no
deveres que devem ser adotados pelos médicos para evitar
acervo fático-probatório do
processo, afastou a culpa do a configuração desta, passamos a estudar outro pressuposto
cirurgião-dentista, e, da responsabilidade civil subjetiva, qual seja o Dano.
consequentemente, erro De modo geral, o dano é entendido como uma lesão a
médico a ensejar a obrigação determinado bem jurídico tutelado, como por exemplo a
de indenizar, ao assentar que
vida, a honra, o patrimônio etc. Segundo Agostinho Alvim
não houve equívocos por parte
da equipe médica na primeira (Apud, GONÇALVES, 2021, p. 150):
fase do tratamento e que as Dano, em sentido amplo,
complicações sofridas pela vem a ser a lesão de qualquer
requerente não decorreram da bem jurídico, e aí se inclui o
placa de sustentação escolhida dano moral. Mas, em sentido
pelo profissional de saúde. estrito, dano é, para nós, a
Assim, concluiu que a conduta lesão do patrimônio; e
se mostra incoerente com o patrimônio é o conjunto das
dever profissional de agir, relações jurídicas de uma
inexistindo nexo de pessoa, apreciáveis em
causalidade entre os atos do dinheiro. Aprecia-se o dano
preposto da União e os danos tendo em vista a diminuição
experimentados pela autora. 4. sofrida no patrimônio. Logo, a
Fica nítido que a convicção matéria do dano prende-se à
formada pelo Tribunal de da indenização, de modo que
origem decorreu dos

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só interessa o estudo do dano DANOS MORAIS E


indenizável. Gonçalves, 2021) MATERIAIS.
Entretanto, em relação aos danos provocados por RESPONSABILIDADE
médicos o próprio Código Civil nos traz a definição em CIVIL MÉDICA. CIRURGIA
seu art. 951 que tem a seguinte redação: MAMÁRIA REPARADORA
(MAMOPLASTIA).
Art. 951. disposto nos arts. HOSPITAL.
948, 949 e 950 aplica-se ainda RESPONSABILIDADE
no caso de indenização devida SUBJETIVA. OBRIGAÇÃO
por aquele que, no exercício DE MEIO E NÃO DE
de atividade profissional, por RESULTADO. ERRO
negligência, imprudência ou MÉDICO. NÃO
imperícia, causar a morte do CONFIGURAÇÃO.
paciente, agravar-lhe o mal, INEXISTÊNCIA DE ATO
causar-lhe lesão, ou inabilitá- ILÍCITO. DEVER DE
lo para o trabalho. (Brasil, INDENIZAR AFASTADO.
2002) APELO IMPROVIDO.
Portanto, o dispositivo deixa claro o que seria SENTENÇA MANTIDA. -
classificado como dano, ou seja, a prática de um ato ilícito Profissionais liberais,
culposo, seja por negligência, imprudência ou imperícia, categoria em que se incluem
que tem por consequência eventual lesão, agravamento do os médicos, são regidos pela
mal, inabilitação para o trabalho ou a morte. Ocorridos tais responsabilidade subjetiva
quanto ao desempenho de seus
circunstâncias e comprovado através da culpa e do nexo
ofícios, a teor do disposto no
causal fica caracterizado através dos pressupostos art. 14, § 4º, do CDC -
subjetivos a responsabilidade civil do médico, que será Discutida a responsabilidade
chamado a indenizar para que assim reestabeleça o status civil por erro supostamente
quo, conforme as palavras do professor Flávio Tartuce ocorrido em cirurgia, aplicável
(2021, p. 1307): o regime de responsabilidade
subjetiva tanto ao médico,
Nos termos do art. 951 do quanto ao hospital.
Código Civil brasileiro, “o Entendimento consolidado do
disposto nos arts. 948, 949 e Superior Tribunal de Justiça e
950 aplica-se ainda no caso de adotado por parte relevante da
indenização devida por aquele doutrina - A obrigação de
que, no exercício de atividade meio impõe ao contratante o
profissional, por negligência, dever de empreender sua
imprudência ou imperícia, atividade, sem, contudo,
causar a morte do paciente, garantir o desfecho esperado.
agravar-lhe o mal, causar-lhe Por sua vez, a obrigação de
lesão, ou inabilitá-lo para o resultado impõe tanto o
trabalho”. Novamente, afirma- exercício da atividade quanto
se a culpa em sentido amplo o resultado esperado pelo
como elemento essencial para credor - Em regra, a
a responsabilização de responsabilidade do médico é
profissionais liberais que de meio ou de diligência.
atuam nesse campo, o que Incumbe-lhe empregar a
conduz à regra da melhor técnica possível no
responsabilidade subjetiva. tratamento do paciente, zeloso
(Tartuce, 2021) e atento aos sintomas
Por fim, em síntese esses são os principais pontos que apresentados. Inexistente
se extrai da doutrina e da jurisprudência sobre a dever de cura, isto, em razão
responsabilidade civil dos médicos, desse modo, vejamos da infinitude de sintomas e
então um julgado do Tribunal de Justiça que elucida muito diagnósticos, da limitação
bem o assunto: humana e tecnológica, bem
como da imprevisibilidade -
EMENTA: APELAÇÃO dadas as peculiaridades de
CÍVEL. AÇÃO DE cada organismo - da reação
INDENIZAÇÃO POR aos procedimentos e

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medicamentos necessários à ao fim, sendo assim difícil compreendermos os casos que


higidez do paciente - No terá a incidência ou a exclusão do instituto.
tocante às cirurgias de cunho
estético, distingue-se o Dessa forma, para poder imputar a responsabilidade
procedimento meramente civil do médico, as adversidades da pandemia devem ser
estético e o corretivo (ou levadas em consideração em relação a conduta adota pelo
cosmético) a fim de fixar o médico, como por exemplo a falta de pessoal,
regime de responsabilidade. O equipamentos, leitos e materiais, como salientou a autora
primeiro tem por único Wesendonck (2020).
objetivo o aperfeiçoamento e
embelezamento do que já é Sendo assim, um dos principais problemas que a
normal, impondo-se ao pandemia trouxe para o campo da medicina, seria o de
médico obrigação de como proceder na escolha de pacientes que receberá
resultado. O segundo visa a tratamento quando houver unidades ou leitos com
corrigir uma deformidade
capacidade insuficiente para o atendimento de todos. Na
física congênita ou traumática,
a fim de mitigar a má- escolha deve ser evitado critério raso e simplista, como por
formação na medida das exemplo, apenas a idade do paciente, pois, apesar de tratar-
possibilidades da técnica se de um critério objetivo, ocasionaria em um juízo prévio
médica. Em casos tais, a e sem balizas consistentes. Dessa forma, devem ser
obrigação é de meio - A adotados critérios mais minuciosos para tal escolha, como
cirurgia mamária reparadora é aqueles recomendados pelas entidades profissionais da
procedimento corretivo (ou
área da saúde, os denominados escores clínicos.
cosmético), e não meramente
estético. Por corolário, ao Desta maneira, se cumprido todos os critérios
médico se impõe obrigação de recomendados para a escolha do paciente que terá a
meio e o dever de empreender prioridade para receber o atendimento, não haverá em que
a melhor técnica e máxima
se falar em reponsabilidade civil do médico caso o
diligência para atingir o
objetivo almejado pela paciente não escolhido vier a lhe agravar o mal ou até
paciente - Uma vez provado mesmo ocasionar a morte, uma vez que tal dano não
que a médica cumpriu seu decorreu propriamente do ato do médico, mas sim do
dever de informação e agiu na contexto em que se encontra, tendo agido o médico apenas
conformidade dos preceitos com a intenção de evitar um mal maior.
ordinários da prática médica,
não se lhe impõe dever de Conclui-se que dentro do contexto da pandemia o
indenizar pelo fato de a instituto da responsabilidade civil dos médicos é
cirurgia não ter gerado o relativizado, como bem salienta
resultado esperado. (Vieira,
Ao que nos parece, em que
2020).
pesem os agentes de saúde,
3.2. Responsabilidade Civil dos Médicos em Tempos de
incluindo os médicos, por
Covid-19 óbvio, continuarem a ser
Ademais, entendido o contexto geral, surge assim a responsabilizados por suas
dúvida sobre como recairá o instituto da responsabilidade ações e omissões como
civil dos médicos e demais profissionais da saúde em sempre previu o sistema
normativo brasileiro,
tempos de pandemia.
entendemos que as condições
O instituto da responsabilidade civil acompanha a para a imputação de tais
evolução da sociedade ao longo dos tempos, estando, responsabilizações devem ser
portanto, sempre em constante mudança, dessa forma, sim relativizadas,
consideradas na exata medida
considerando ainda o contexto atual de uma pandemia, as
das deficiências apresentadas
mudanças e efeitos são ainda mais consideráveis, além de pelo sistema de saúde do país
necessárias. diante desta pandemia que já
Entretanto, ressalta-se, que os reflexos jurídicos que a está de maneira lamentável
inserida na história da
pandemia traz para o campo da responsabilidade civil
humanidade. (Tavares, 2021)
ainda são considerados como incertos, visto que a
pandemia do Covid-19 ainda não chegou completamente

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Sobre o tema da responsabilidade civil do médico em devida em uma ação comissiva ou omissiva, ou tal ação
tempos de covid a jurisprudência evidencia que na falta de seja praticada sem devida habilidade exigida para a
culpa ou dolo do profissional, não há que se ocorrer a atividade, de modo que assim resulte em dano, ou seja,
indenização, como bem evidencia a decisão abaixo agravamento do mal, inabilitação para o trabalho, lesão
relatada: corporal ou morte, cometerá ato ilícito, nos moldes do art.
RESPONSABILIDADE 186 do código civil, no qual dispõe “aquele que, por ação
CIVIL DO ESTADO. ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
Pretensão à indenização por direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
danos morais em razão de erro moral, comete ato ilícito”, ficando assim caracterizado a
de diagnóstico e tratamento culpa deste e consequentemente o dever de indenizar.
médico inadequado. Paciente
idoso, marido da autora, Contudo, a comprovação da culpa, pressuposto
internado em hospital da rede imprescindível para a caracterização da responsabilidade
municipal de saúde com subjetiva, deve ser estudada considerando o contexto,
suspeita de Covid-19. Óbito como bem salientava Reale (1994) em sua teoria
antes do resultado do exame tridimensional, tendo em vista que se deve considerar o
PCR, que excluiu o
contexto pandêmico para se compreender a norma e
diagnóstico. Velório e enterro
realizados com restrições. valorá-la no tempo social.
Adoção de protocolos
divulgados pelo Ministério da
Saúde a fim de evitar a REFERENCES
proliferação da doença em [1] Angrisani, V. (2022). TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO
cenário de pandemia. São Paulo TJ-SP. Apelação Cível. n.º 10119139320208260637
pressupostos da SP 1011913-93.2020.8.26.0637.
responsabilidade civil https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-
subjetiva, a conduta culposa sp/1409217694
do agente, o nexo causal e o [2] Brasil. (2002). Lei n.º 10.406, 10 de janeiro de 2002. Código
dano, e a ausência de Civil.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406
quaisquer destes elementos compilada.htm.
afasta o dever de indenizar. [3] Brasil. (2015). Lei n.º 13.105, 16 de março de 2015. Código
Inexistência de prova a De Processo Civil.
concluir pela imprudência, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
negligência e imperícia. Nexo
2018/2015/lei/l13105.htm.
causal entre o dano e o
[4] Cavalieri Filho, S. (2020). Programa de Responsabilidade
atendimento médico não
Civil. Grupo GEN.
demonstrado. Precedentes.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885970
Sentença de improcedência
25422/
mantida. Recurso conhecido e
não provido. [5] Diniz, M. H. (2019). Curso de direito civil brasileiro,
(Angrisani, 2022) volume 7 : responsabilidade civil. Saraiva Educação.
[6] Gonçalves, C. R. Responsabilidade Civil. Editora Saraiva.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97865555
IV. CONCLUSÃO 92931/
De acordo com todo o exposto e voltando ao objetivo [7] Mathias, C. F. (20009). SUPERIOR TRIBUNAL DE
geral da pesquisa, conclui-se que, dentro a JUSTIÇA. STJ. RECURSO ESPECIAL. n.º 236708 MG
1999/0099099-4.
responsabilidade civil do médico é subjetiva, havendo a
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4173668/recurso-
necessidade de estarem presentes os quatro pressupostos
especial-resp-236708-mg-1999-0099099-4
da mesma, ou seja: ação/omissão; culpa/dolo; nexo de [8] Meira, C. (2012). SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
causalidade e dano. Porém, o contexto de pandemia deverá STJ. RECURSO ESPECIAL. n.º 1184932 PR
ser considerado e a depender do caso concreto poderá 2010/0043325-8.
inclusive haver a exclusão do nexo de culpabilidade. A https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21273614/recurso-
responsabilidade civil do médico só irá existir se ficar especial-resp-1184932-pr-2010-0043325-8-stj/inteiro-teor-
provado que o profissional, no exercício do seu labor, não 21273615?ref=serp
atuando com todos os meios técnicos necessários e a [9] Moraes, A. (2020). SUPERIOR TRIBUNAL FEDERAL.
STF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. n.º 828040 DF.
devida cautela, bem como, havendo a falta de cuidado

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https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1105639994/recur
so-extraordinario-re-828040-df
[10] Reale, M. (1994). Teoria tridimensional do Direito. Saraiva
Educação.
[11] Tartuce, F. (2021). Responsabilidade Civil. Grupo GEN.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97865596
40959/
[12] Tavares, F. R. A. (2021). Limites da Responsabilidade Civil
dos Médicos em tempos de Pandemia da COVID-19.
Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo.
https://saesp.org.br/limites-da-responsabilidade-civil-dos-
medicos-em-tempos-de-pandemia-da-covid-19/
[13] Uyeda, M. (2009). SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
STJ. RECURSO ESPECIAL. n.º 1104665 RS 2008/0251457-
1.https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6062245/recurso
-especial-resp-1104665-rs-2008-0251457-1
[14] Vieira, J. M. (2020). TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE
MINAS GERAIS. TJ-MG. Apelação Cível. n.º
10024082782103004 MG. https://tj-
mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/879492099/apelacao-
civel-ac-10024082782103004-mg
[15] Wesendonck, T. (2020) A Responsabilidade Civil Na Esfera
Médica Em Razão Da Covid-19.
https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-
responsabilidade-civil/326237/a-responsabilidade-civil-na-
esfera-medica-em-razao-da-covid-19

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